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PARA SER JUIZ DE DIREITO

Damásio de Jesus
Julho/98

Nos tempos de Faculdade, queria ser Juiz de Direito. Tanto que na porta interna do
guarda-roupa do quarto 31 do antigo Hotel Tapajós, hoje Terra Branca, em Bauru,
onde morei por alguns anos, escrevi um pensamento sobre o meu ideal de ser juiz,
que esperava um dia transformar-se em realidade. Esse guarda-roupa ainda existe
e foi adquirido, juntamente com todas as velhas mobílias do quarto (até a pia), pela
minha filha Rosângela: pretende, no Complexo Jurídico Damásio de Jesus, montar
uma sala de recordações. Apagada pelo tempo, lá ainda está a velha mensagem do
meu sonho de estudante: "Serei Juiz".

Em Bauru, morei em outros lugares: Pensão Excelsior, casa de aluguel, residência


do Tiburcio de Matos etc. Sempre estudei muito. Não havia diferença entre
sábados, domingos e feriados. Quem passasse pelo hotel, de sábado para domingo,
às 2 horas da madrugada, veria uma luz de quarto acesa. Era eu estudando as
Instituições de Direito Penal, de Basileu Garcia (não havia ainda escrito meu
manual). Os colegas, que chegavam de madrugada de suas aventuras, diziam que
eu estava desperdiçando a vida: só um louco, de sábado para domingo, fica
estudando preso no quarto. Mas eu sabia que para tornar-me alguém na vida era
preciso, naquelas madrugadas, ser um humilde e desconhecido estudante.

Há muitas histórias e lendas a respeito, algumas verdadeiras; outras, não. Contou-


me um colega do Ministério Público mais estas: que, na pensão, eu ia ao banheiro
com a Revista dos Tribunais; trabalhando de dia e estudando à noite, nas
madrugadas de frio, para não dormir, punha os pés numa bacia de água gelada.
Consta que peguei algumas pneumonias…

No segundo ano da faculdade, meu pai me comprou parte da coleção da Revista


dos Tribunais. No começo, não entendia nada. Com o estudo, pouco a pouco fui
entendendo a parte processual e de mérito dos acórdãos. No quinto ano, já
entendia tudo. Morava em Marília, para onde ia nas férias da faculdade. Lá, conheci
um grande advogado, Dr. Carlos Mastrofrancisco. Emprestou-me livros e revistas,
que eu devorava com avidez. Sou-lhe grato.

Estudava mais as matérias importantes no Concurso da Magistratura. Pela ordem:


Processo Civil, Civil, Processo Penal, Penal, Constitucional e Administrativo. As
outras, estudava para passar. Com média 7, passava-se de ano sem exames finais.
Por isso, cuidava de obter 7 em todas as matérias. Não fazendo exames finais
(última prova e orais), sobrava-me mais tempo para estudar as matérias de
relevância.

Um dia, passando pelo Foto Cabreúva, conheci uma morena muito bonita chamada
Neuza. Ela, disfarçando arrumar coisas no ateliê – eu soube depois –, gostou
daquele estudante de Direito que era a favor do casamento e discutia a respeito de
divórcio e desquite. Eu a vi como a morena mais bonita que já tinha encontrado em
minha vida. Marcamos um encontro para a mesma noite. Foi o começo de uma
longa história, calcada nas sólidas bases morais da bela família que construímos.

Formei-me e fiquei aguardando o edital do concurso no Diário Oficial. Ia todos os


dias, religiosamente, ao Cartório do Sílvio Telles Nunes. Mas, eis que tive uma
surpresa: a Lei do Interstício, exigindo, para concurso de juiz, dois anos de
exercício como advogado. Não os tinha. Procurei o Dr. Sílvio Marques Júnior,
Promotor de Justiça e meu Professor de Introdução à Ciência do Direito, narrando-
lhe meu infortúnio. Aconselhou-me a ingressar no Ministério Público, que não exigia
o biênio, e, passados dois anos, tentar o meu sonho: a Magistratura. Eu, que sabia
mais Civil e Processo Civil, tive que estudar a fundo Penal e Processo Penal.
Disseram-me, então, que havia uma obra nova com matérias que os autores
clássicos, como Nélson Hungria, Magalhães Noronha e Basileu Garcia, não
tratavam: Curso de Direito Penal, de José Frederico Marques. Estudei, pela primeira
vez, tipicidade e tipo, especialmente a classificação dos elementos do tipo:
objetivos, normativos e subjetivos. Enfrentei os elementos subjetivos do injusto. No
Processo Penal, emprestei uma revista de um advogado, a Revista de Processo, que
trazia um artigo sobre a correlação entre a acusação e a sentença criminal.

Editais do concurso do Ministério Público: vinte vagas. Havia dez interinos.


Sobravam dez. Inscrevi-me e fui à luta. Prova escrita. Dissertação: "Da correlação
entre a acusação e a sentença"! Uma das perguntas de Direito Penal: "Conceito de
elementos subjetivos e normativos do tipo"! Nem era preciso fazer a prova. Já era
Promotor de Justiça! Vontade de me levantar e perguntar ao fiscal da prova: "Qual
é a minha comarca?".

Fui aprovado e gostei do Ministério Público, onde fiquei por 26 anos: Itu,
Igarapava, Lençóis Paulista, Bariri, Pirajuí, Bauru e São Paulo. Havia sido seduzido
pela Magistratura e acabei me casando com a Promotoria. Quando estava em
Lençóis Paulista, fui convidado para ser assistente de Direito Penal de José
Frederico Marques. Um grande orgulho para os meus 27 anos de idade. Aprofundei-
me no Direito Penal. Um motivo a mais para ficar no Ministério Público. Não realizei
meu antigo sonho de ser juiz, mas tenho participado do ingresso de muitos
candidatos na Magistratura.

Quer ser aprovado no concurso? Quer ser Juiz de Direito? Então faça neste instante
uma opção de vida. A partir de agora, não há mais diferença entre dias comuns,
sábados, domingos, feriados, Semana Santa, Carnaval, Semana da Pátria, Natal,
1.º de Ano, festinhas de sextas-feiras à noite, praia etc. Reduza o tempo de
namoro, noivado, esporte, visitas, passeios etc. Em Bauru, nos meus tempos de
estudo, noivo da Neuza, nosso namoro de sábado à noite era das 19h às 21h00.
Terminado o tempo regulamentar, era "beijinho, beijinho, tchau, tchau". E lá ia o
Damásio, da Av. Rodrigues Alves, n. 5-29, até o quarto 31 do Hotel Tapajós
estudar o Basileu Garcia.

Estabeleça dois planos, de vida e de estudo, conjugados num só. Planifique seus
dias, semanas e meses. Coloque no papel as matérias que já estudou e as que
ainda falta estudar. Não perca tempo. Dê maior carga horária de estudo às
matérias que sabe menos. Estude mais Processo Civil, Civil, Processo Penal, Penal,
Constitucional e Administrativo. Não descure das demais disciplinas. O plano de
estudo depende de sua disponibilidade: estabeleça-o de acordo com as suas
condições de tempo, trabalho etc. Se você só estuda, o plano é um; se trabalha e
estuda, é outro. O seu plano pode ser para seis meses, um ano, dois anos...
depende. Atente para o Português. O que mais reprova não é Processo Civil ou
Civil. É o Português. Quantos bons alunos já tive que não superavam o escrito,
tendo eu descoberto que era por causa da redação. No Ministério Público, quantas
vezes examinadores já me disseram: "Damásio, tecnicamente a prova dele é
excelente. Mas veja a redação. Como podemos mandar esse rapaz para uma
comarca? Já imaginou como serão suas denúncias, petições e alegações?". Seja
organizado. Arrume a sala ou quarto onde estuda: a mesa, a cadeira, a direção da
luz, o lápis e a caneta, o livro, os códigos e a régua. Tudo é importante. A cadeira,
por exemplo. Se não for confortável, meses de estudo o levarão a ter problemas na
coluna vertebral. Não fume. Perde-se muito tempo tomando conta da "bituca".
Avise a família e os amigos: "Estou mudando o ritmo de minha vida. Quero que me
compreendam e me ajudem". Se não avisar e alterar repentinamente o seu modo
de vida, vão dizer que ficou louco. Seja humilde. Vou lhe contar duas pequenas
histórias. Há algum tempo, da fila para conseguir vaga em um curso preparatório
saiu um advogado e procurou o coordenador: "Esta fila é humilhante. Sou
advogado conhecido em São Paulo e não vou me sujeitar a ficar nela. Ou me
arranja uma vaga ou vou embora". Ele foi embora. Naquela época, ficar na fila era
o primeiro ato de humildade dos vitoriosos. Um aluno me contou o seguinte fato:
"Professor, um dia, procurei alguém e lhe pedi conselho e orientação. 'Que devo
fazer para ser Promotor de Justiça?' E aquela pessoa me respondeu: 'Vá para casa.
Você está condenado à cadeirinha, com muita humildade, por dois anos'. Pedi-lhe
explicação. 'Condenado à cadeirinha? Que é isso?' E veio a resposta: 'Você não
estuda num quarto ou numa sala? Não tem uma cadeira? Se quer ser Promotor, vá
já para casa e, com muita humildade, estude. Daqui a dois anos será Promotor'". E
o aluno prosseguiu: "Aquela pessoa era o Senhor, Prof. Damásio, e o fato ocorreu
há dois anos e meio. Cumpri a 'condenação'. Na próxima semana sairá o resultado
do concurso do Ministério Público de São Paulo. Eis o meu nome", disse-me ele,
entregando-me um papel com seu nome. "Estarei na lista dos aprovados". E
estava. Estudar é "andar de caranguejo". Não é só para frente. É para frente e para
trás: estudar matérias novas e recordar as já estudadas. Faça um mapa das
matérias que já viu e das que falta ver. Se você estuda "posse" hoje, daqui a seis
meses já esqueceu tudo. É necessário recordação constante.

Estudar quantas horas por dia? Certa vez, perguntei a um velho professor dos
meus tempos de faculdade: "Que devo dizer aos meus alunos para que sejam
aprovados nos concursos?". "O que nós dois fizemos, Damásio, estudar, pelo
menos durante seis meses, 24 horas por dia", respondeu-me. "vinte e quatro horas
de estudo por dia" é maneira de dizer. Ele pretendia sugerir: durante pelo menos
seis meses "dê tudo de si", "estude o máximo que puder". Como estudar? Prefiro
perguntas e respostas. Use régua e caneta ou lápis. Leia e sublinhe só o mais
importante. Alguns autores colocam a questão e passam páginas e páginas
demonstrando a sua posição quanto à resposta. Leia tudo isso apenas uma vez,
meditando e guardando na memória. Depois, anote um número ao lado da questão.
No rodapé da página, coloque o mesmo número e faça a pergunta. Quando for
recordar a matéria, não será preciso ler o livro inteiro. Procure responder às
perguntas numeradas. Não sabendo alguma, veja a resposta no número superior
respectivo. Em que livros estudar? Aqui, você precisa de auxílio: alguém que
conheça os concursos e saiba quais os autores preferidos. Em cada disciplina, há
um autor (ou dois) que geralmente é o preferido de todas as comissões
examinadoras. Certa vez, um aluno me consultou sobre uma coleção que havia
comprado para estudar. Naquela altura, a coleção já tinha 55 volumes. Eu lhe
disse: "Ninguém faz pergunta abrindo esses livros. Com eles, você poderá estudar
20 anos sem passar nos concursos". Não se espante com a quantidade de pontos
que são publicados nos editais dos concursos. Daquilo, só caem 30%. Quer dizer
que não é preciso estudar páginas e páginas da relação de matéria? Isso mesmo,
só 30%. Mas como saber quais são os 30%? Em primeiro lugar, estude os temas
que estão em evidência em determinado momento. Em cada época, sempre
existem matérias que estão sendo mais discutidas: divórcio, união estável, reforma
do Código de Processo Civil, Código de Trânsito etc. Esses temas são de preferência
do examinador, especialmente no oral. Depois, pesquise a própria "preferência do
examinador". Procure saber se leciona, qual a matéria, do que ele mais gosta, se
indica livro, se tem apostilas. Converse com os alunos dele: prefere a teoria
clássica ou a finalista? É Barros Monteiro ou Sílvio Rodrigues? Certa vez, o
examinador de Direito Civil do concurso da Magistratura de São Paulo, ilustre
Desembargador, lecionava em Sorocaba. Mandei alguém investigá-lo na Faculdade.
Descobrimos que tinha preferência por certos temas, inclusive divórcio e
concubinato. Pedi ao meu professor que, disfarçadamente, três dias antes da prova
escrita, revisasse esses temas. Domingo, dia da prova, dissertação: Do
concubinato. Veja como a preferência funciona. Leciono Direito Penal. Há alguns
temas de minha preferência: tipicidade, erro de tipo e de proibição, dolo, elementos
normativos do tipo, prescrição etc. E há pontos que não motivam as aulas, embora
importantes: medidas de segurança, reabilitação, efeitos da condenação etc.
Suponha que eu fosse examinador: pediria medidas de segurança na dissertação?
Claro que não. Se houvesse 300 candidatos, teria de corrigir 300 provas sobre
medidas de segurança! Se você fosse candidato e eu examinador, deveria estudar
erro de tipo, prescrição etc.

Não faça o primeiro concurso que aparecer. Alguns dizem que sabem que não vão
ser aprovados; querem fazer o exame "só para ver como é". Não aconselho. Não
acredito que alguém goste de colecionar derrotas. É possível que objetivamente
esteja dizendo "não faz mal, eu sabia que não ia passar" e seu subconsciente anote
a derrota. Recomendo aos meus alunos que aguardem o seu "momento histórico":
dia em que, abrindo a prova, você encontre a dissertação que estudou, a pergunta
que viu, o tema que o professor deu em aula… É quando surge aquela vontade de
perguntar para o fiscal da prova: "Qual é a minha comarca?". Não já. Agora você
precisa estudar para o concurso. Mas, quando ingressar na carreira, não se esqueça
de duas coisas: Inglês e Informática. São imprescindíveis para quem quer crescer.
E, podendo, faça pós-graduação.

Nunca desista. Quem bate à porta da Magistratura e ela não se abre, e continua
batendo, "quer ser Juiz". Quem bate uma vez, ela não se abre, e desiste: nunca
quis ser Juiz. Nos concursos, "não há antecedentes". A circunstância de prestar
vários concursos não pesa contra o candidato. Ao contrário, revela seu ideal. Às
vezes, a vitória está próxima, e o candidato não sabe. Vou lhe contar duas outras
histórias. Um aluno de Rondônia, há alguns anos, no final de novembro, veio
despedir-se de mim. "Fiz dois concursos este ano, Professor, e não passei. Estou
voltando para casa. Vou desistir". "Quero vê-lo novamente aqui em fevereiro do
próximo ano. É uma ordem", disse. Voltou. No final de novembro, novamente:
"Professor, não deu. Fiz provas em três concursos e não passei. Estou desistindo".
"Não senhor. Prossiga. Quero vê-lo no próximo ano, em fevereiro, no começo das
aulas", insisti. Em outubro, procurou-me. "Professor, sou Juiz de Direito em
Rondônia! Se não fosse a sua insistência, teria desistido no primeiro fracasso."
Certa vez, um nadador se pôs a atravessar o Canal da Mancha. Saindo de Calais,
na França, na direção de Dover, na Inglaterra, faltavam-lhe apenas algumas
centenas de metros para chegar à praia quando, sentindo-se cansado, voltou para
a França… nadando. Não desista. É possível que lhe estejam faltando apenas
algumas poucas centenas de metros para alcançar a sua aprovação.

Como citar este artigo:

JESUS, Damásio de, Para ser Juiz de Direito, in www.damasio.com.br, jul.1998

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