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Samuel Huh
violoteca
Afinando
um violão no tempero ideal
Samuel Huh
1ª edição
Setembro de 2008
violoteca
Afinando um violão no tempero ideal
Esse ritual lúdico incutiu na nossa mente Isso pode ser um choque para quem imagi-
infantil alguns conceitos pétreos. Dentre nava que a música fosse uma arte pura-
eles, o de que a música tem um conjunto de mente intuitiva, mas, já na Grécia Antiga,
notas perfeitamente cíclico, pois tudo ela era considerada um dos quatro ramos
acaba onde começou, e o de que cada nota da matemática, juntamente com aritmé-
tem um único som exato. tica, geometria e astronomia. A música era
definida como o estudo dos números em
Bem, para o seu desencanto, lamento movimento.
informar que nada disso é verdade. Ou pelo
menos, não completamente. Portanto, em música, lidamos com uma
série de princípios bastante lógicos e racio-
A produção sonora é um fenômeno muito nais.
complexo e cheio de nuances. Tanto que,
sem algum tipo de síntese e aproximação, Iremos, juntos, construir e desconstruir
seria impossível lidar com os sons na prá- esses princípios para perceber que afinar
tica. Pra alcançar o que hoje é trivial a uma um instrumento musical é como temperar
criança, a humanidade acabou criando sua comida: você escolhe o ponto ideal. E
maneiras de ordenar, nomear, classificar e veremos que, no violão, isso não é tão tri-
regulamentar as infinitas freqüências exis- vial como possa parecer.
tentes na natureza, que geram infinitos
sons. Pois bem, tudo começa com o som.
Índice
O som.........................................................................................................................3
A escala cromática......................................................................................................4
Os intervalos e as escalas diatônicas...........................................................................6
Os modos....................................................................................................................9
A tonalidade..............................................................................................................11
O problema da sonoridade.........................................................................................12
A série harmônica e o ciclo das quintas.....................................................................13
As afinações e temperamentos...................................................................................17
O violão.....................................................................................................................20
Considerações finais..................................................................................................26
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Samuel Huh
O Som
3
Afinando um violão no tempero ideal
A Escala Cromática
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si Dó
½ ½
1 1 1 1 1
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Samuel Huh
Para dar nome às outras cinco notas que exatamente o mesmo som do Fá, o Fá
faltam, aplicamos os sinais # e b (lêem-se bemol que equivaleria ao Mi, e assim por
sustenido e bemol - também chamados de diante. Diferentes notas que representam
acidentes) às sete notas principais. o mesmo som, são chamadas de notas enar-
mônicas.
O sustenido, quando aplicado a uma nota,
eleva o seu som em um semitom (ou meio Comumente, os nomes utilizados para os
tom). O bemol reduz em um semitom. doze semitons são os da ilustração apre-
sentada.
Assim, entre o Dó e o Ré, temos o Dó suste-
nido, que é o Dó normal (chamado natural) Reparem que algumas notas enarmônicas
aumentado de meio tom. Mas, veja que estão indicadas.
Ré b Mi b Sol b Lá b Si b
Dó Dó # Ré Ré # Mi Fá Fá # Sol Sol # Lá Lá # Si Dó
½ ½ ½ ½ ½ ½ ½ ½ ½ ½ ½ ½
Dessa forma, usando os acidentes, Por exemplo, o piano possui teclas divi-
podemos dar nome a todos os doze sons, e didas em semitons, sendo que as brancas
cada som acaba tendo dois ou mais nomes representam as sete notas naturais (sem
de notas para o representar. O Dó suste- acidentes), e as pretas, as notas com aci-
nido e o Ré bemol, que vimos, o Ré suste- dentes. O violão possui, entre cada traste,
nido e o Mi bemol, o Mi sustenido que seria uma diferença de semitom.
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Afinando um violão no tempero ideal
Os Intervalos
As Escalas Diatônicas
1 2 3 4 5 6 7 8
Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si Dó
Exemplo 1:
Dó Dó # Ré Ré # Mi Fá Fá # Sol Sol # Lá Lá # Si Dó
As sete notas musicais acabam, então, Além disso, intervalos de notas oitavadas
ganhando relevância. Dependendo da são equivalentes entre si. Por exemplo: o
situação, ao invés de Dó utiliza-se Dó intervalo de segunda entre o Dó e o Ré é
sustenido, ou substitui-se o Si pelo Si equivalente ao intervalo de nona entre o
bemol, e assim por diante. Mas, digamos mesmo Dó e o Ré uma oitava mais aguda.
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Mas, expandindo o raciocínio, imagine que Basta identificar quantos tons de diferença
substituíssemos a nota Sol pela nota Sol existem entre as notas, e quantas notas o
sustenido, mantendo a ordem apresentada intervalo compreende, e aplicar universal-
no exemplo 1. mente.
1 2 3 4 5 6 7 8
Dó Ré Mi Fá Sol # Lá Si Dó
Exemplo 2:
Dó Dó # Ré Ré # Mi Fá Fá # Sol Sol # Lá Lá # Si Dó
Nessa nova escala, o intervalo entre o Dó e Explicando: pela definição, vemos que uma
o Sol sustenido continuaria sendo de segunda maior possui exatamente um tom
quinta, pois englobaria cinco notas (Dó, de extensão, e compreende duas notas.
Ré, Mi, Fá e Sol sustenido), mas seria uma Assim, todo intervalo entre quaisquer duas
quinta diferente da anterior, com um notas que possua essas características é
semitom a mais. Como diferenciá-las? classificado como segunda maior. Como
entre Fá e Sol, ou entre Lá e Si.
Pra poder fazer essa discriminação, se
utilizam subcategorias que funcionam Uma terça maior possui dois tons de exten-
como uma espécie de sobrenome do inter- são, e compreende três notas. O intervalo
valo. Elas são chamadas de qualidade do entre Sol e Si, ou entre Ré e Fá sustenido, e
intervalo, que pode ser: justo, maior, todos os outros que possuam essas carac-
menor, aumentado ou diminuto. terísticas são terças maiores.
2½ 3½ 6
1 2M 3M 4J 5J 6M 7M 8J
Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si Dó
1 tom 2 4½ 5½
Resumindo como isso se aplica: come- Uma quarta justa possui dois tons e meio
cemos dizendo que, por definição, em de extensão e compreende quatro notas.
relação à nota Dó, os intervalos formados Exemplo de quartas justas são os inter-
pelas notas naturais são qualificados como valos entre Fá e Si bemol, ou entre Sol e Dó.
maiores ou justos. Os intervalos de
segunda, terça, sexta e sétima são os Uma quinta justa possui três tons e meio
maiores, e os intervalos de quarta, quinta e de extensão e engloba cinco notas. Como
oitava são os justos. Daí, essa nomencla- entre Lá bemol e Mi bemol, ou Fá e Dó.
tura vale mesmo para casos onde a nota
base não seja Dó. E assim por diante.
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Afinando um violão no tempero ideal
E, a partir disso, de acordo com quantos de quarta, quinta e oitava são os intervalos
semitons se aumente ou diminua esses que a humanidade teve mais facilidade em
intervalos, a nomenclatura da qualidade descobrir, e que não é à toa que estão
irá variar conforme a ilustração apresen- presentes na música de todas as culturas,
tada abaixo. tanto do Ocidente como do Oriente.
½ ½ ½ ½ ½
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Os Modos
1 2M 3M 4J 5J 6M 7M 8J
Lá Si Dó # Ré Mi Fá # #
Sol Lá
Exemplo 3:
Lá Lá # Si Dó Dó # Ré Ré # Mi Fá Fá # Sol Sol # Lá
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Afinando um violão no tempero ideal
1 2M 3m 4J 5J 6m 7m 8J
Lá Si Dó Ré Mi Fá Sol Lá
Exemplo 4:
Lá Lá # Si Dó Dó # Ré Ré # Mi Fá Fá # Sol Sol # Lá
1 2M 3m 4J 5J 6m 7M 8J
Lá Si Dó Ré Mi Fá #
Sol Lá
Exemplo 5:
Lá Lá # Si Dó Dó # Ré Ré # Mi Fá Fá # Sol Sol # Lá
1 2M 3m 4J 5J 6M 7M 8J
Lá Si Dó Ré Mi Fá # #
Sol Lá
Exemplo 6:
Lá Lá # Si Dó Dó # Ré Ré # Mi Fá Fá # Sol Sol # Lá
O exemplo 4 descreve a escala de Lá Menor Esse salto, como se descobriu, era muito
Natural. Reparem que nesta escala todas difícil de se cantar, e as pessoas desafi-
as notas são naturais, sem acidentes, navam com facilidade. Então, no exemplo
assim como eram na escala de Dó Maior do 6, temos a escala de Lá Menor Melódica,
exemplo 1. Ou seja, a escala de Lá Menor e criada justamente para eliminar esse salto
a escala de Dó Maior se utilizam das e facilitar o canto de melodias. Nela, temos
mesmas notas, porém ordenadas de forma a sétima maior e a sexta maior, ou seja,
diferente. Como isso gera um tipo de relaci- aproximou-se a sexta da sétima, e os
onamento de proximidade, a escala de Lá cantores ficaram aliviados.
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A Tonalidade
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O Problema da Sonoridade
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A Série Harmônica
O Ciclo das Quintas
Si #
Dó
Mi # Sol
Fá
Lá #
Ré
Si b
Ré # Lá
Mi b
Sol #
Lá b Mi
Ré b
Dó # Sol b Si
Fá #
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Afinando um violão no tempero ideal
Todas essas vibrações da figura ocorrem Supondo que a nota base, correspondente
numa mesma corda, simultaneamente, à vibração total do monocórdio, fosse
gerando na prática um desenho bastante definida como Dó, os sons gerados e os
complexo. É admirável Pitágoras ter conse- intervalos que eles representam seriam:
guido enxergar e separar isso sem possuir
todas as ferramentas que possuímos hoje, (1) Dó (base)
diga-se de passagem! (2) Dó (oitava justa)
(3) Sol (quinta justa)
A vibração que corresponde ao compri- (4) Dó (oitava justa)
mento total da corda gera um som. (5) Mi (terça maior)
(6) Sol (quinta justa)
A vibração que corresponde à metade do (7) Si bemol (sétima menor)
comprimento resulta em outro som, que é (8) Dó (oitava justa)
a oitava do primeiro. (9) Ré (segunda maior)
(10) Mi (terça maior)
A vibração que corresponde a um terço do (11) Fá sustenido (quarta aumentada)
comprimento gera mais um som, que é o etc.
intervalo de quinta em relação ao segundo
(que como é a oitava do primeiro, podemos Esses sons são chamados de harmônicos.
dizer que essa terceira nota é uma quinta O primeiro harmônico de Dó é ele mesmo, o
oitavada em relação ao primeiro). segundo é a sua oitava, o terceiro é o Sol, e
assim por diante. Essas notas, contidas
E assim sucessivamente, gerando diversos dentro do próprio som, acabam por formar
sons simultâneos com diversos intervalos uma escala, chamada escala natural. Nela,
a partir do som base. todas as notas soam bem entre si.
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Mas qual dessas notas ouvimos, na prá- Assim, uma flauta de madeira soa dife-
tica, quando a corda vibra? rente de uma flauta de plástico.
A nota que ouvimos com mais clareza é a Assim também, diferentes marcas de corda
primeira, equivalente ao comprimento de violão soam diferentes, mesmo estando
total. Os outros harmônicos vão soando na mesma afinação. Ou dois violões soam
cada vez mais fracos e mais agudos, e têm a diferentes, mesmo com as mesmas marcas
função de complementar o som, dando a de corda.
ele uma característica especial.
Quando alguém toca a corda de um violão
Dependendo do material da corda e da mais perto da boca do instrumento, produz
forma como se toca essa corda, alguns um som diferente do som da mesma corda
harmônicos aparecem mais que os outros e tocada mais próxima do cavalete (a peça
resultam num som peculiar. onde se amarram as cordas no tampo). O
timbre muda.
Por isso é que conseguimos reconhecer
diferenças entre as vozes de duas pessoas É que diferentes harmônicos são evidenci-
cantando a mesma música: apesar de ados de acordo com o material da corda,
cantarem as mesmas notas base, os har- suas dimensões e com o ângulo e posição
mônicos de cada voz se comportam de em que se toca a corda de um violão.
forma diferente. Em determinados casos,
alguns harmônicos mais agudos aparecem Bem, retornando ao problema inicial, como
mais, tornando a voz mais estridente. Ou usar essa série harmônica para descobrir
aparecem menos, deixando a voz mais as outras notas?
aveludada.
Da seguinte forma:
A essa característica marcante de um som,
dá-se o nome de timbre. Se você tocar uma corda, e ela vibrar pro-
duzindo um Dó (nota base), você sabe que
paralelamente existem todas as notas da
série harmônica soando ao fundo. Mas isso
é difícil de distinguir com o ouvido.
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Afinando um violão no tempero ideal
Essa força das quintas explica porque esse de quinta de uma nota base. Se usarmos o
intervalo era muito utilizado na música Dó como base, conseguiremos achar o Sol.
antiga, medieval e até os dias de hoje. E Daí, podemos afinar por comparação uma
também explica porque as quintas, junta- segunda corda, para que soe exatamente
mente com as oitavas, são intervalos igual ao Sol produzido pela primeira.
usados universalmente, na música de Colocando o dedo em um terço dessa nova
todas as culturas. corda, achamos a quinta do Sol, que é o Ré.
E assim, repetindo esse procedimento,
E agora conseguimos perceber a impor- conseguimos descobrir todas as notas ao
tância do ciclo das quintas: completar o ciclo das quintas. Genial, não?
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As Afinações e Temperamentos
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Afinando um violão no tempero ideal
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Uníssono - - perfeito
2m - +1,7% agudo
2M - -0,2% grave
3m - -0,9% grave
3M - +0,8% agudo
4J - +0,1% agudo
5dim - +0,6% agudo
5J - -0,1% grave
6m - -0,8% grave
6M - +0,9% agudo
7m - -1,0% grave
7M - +0,7% agudo
8J - - perfeito
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Afinando um violão no tempero ideal
O Violão
1 Mi
2 Si Sol
3
4 Ré Lá
5
6 Mi
½ ½ ½ ½
Essa disposição das notas-base das cordas Afinar o violão significa ajustar as freqüên-
é resultado de um longo processo histórico cias com que vibram as suas cordas de
de evolução do instrumento. Nele, se forma a fazê-las soar de acordo com a
buscou conseguir uma configuração que maneira para a qual o instrumento foi
propiciasse equilíbrio entre graves e agu- concebido. Para tanto, é preciso fazer algo
dos, boa sonoridade, facilidade de tocar e parecido com o que Pitágoras fez com o
que fosse possível de ser atingida num monocórdio: usar uma corda como base de
instrumento com as dimensões do violão. comparação para afinar as outras.
Assim, atualmente, a configuração mais
utilizada é a seguinte: O princípio básico é tomar uma referência
externa, afinar uma das cordas, e depois
(1) Mi, (2) Si, (3) Sol, (4) Ré, (5) Lá, (6) Mi afinar as demais cordas por comparação
com esta primeira.
Essa seqüência é uma seqüência consa-
grada e estabilizada há mais de dois sécu- Mas, existem muitos equívocos que podem
los, e, conforme dissemos, fruto de muitos ser cometidos ao se tentar afinar um
séculos anteriores de experimentação. violão. Algumas observações importantes:
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Afinando um violão no tempero ideal
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Usar apenas uma corda de referência Apesar de muito comum e teoricamente
correto, esse método é altamente desacon-
selhado. Ao afinar cada corda com base na
anterior, você corre o risco de propagar
A próxima consideração é que é necessário qualquer erro cometido de uma corda para
usar sempre uma mesma corda base para outra. E mesmo acumular erros a ponto de
afinar as demais. Por um motivo simples: gerar uma grande desafinação no final.
não propagar o erro.
O ideal é usar uma única corda de referên-
Digamos que você tome como base a sexta cia, e comparar todas as demais a ela. No
corda, e resolva afinar as outras. Para isso, quadro abaixo, apresentamos duas formas
usa aquele método famoso e muito difun- possíveis de se fazer isso.
dido:
Dessa forma, temos uma afinação teorica-
Apertar a 6ª corda na casa 5, produzindo mente correta, usando uma única corda de
assim a nota Lá, e comparar com a 5ª corda referência. Além disso, são respeitados
solta. Depois, apertar a 5ª corda na casa 5, outros princípios importantes: utilizar
produzindo a nota Ré, e comparar com a 4ª somente harmônicos de oitava e nunca
corda solta. E assim por diante, com uma comparar duas cordas presas. Mas talvez
corda sempre sendo apertada pra produzir ainda seja necessário fazer ajustes, devido
a nota da corda seguinte. à deformação das cordas.
»
.
Afinar a 5ª corda solta, Lá, através de
alguma referência externa confiável. » Afinar a 1ª corda, presa na casa 5, com
um Lá obtido de referência externa.
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4 5 6
1 2 3
braço
Repare que, quando soltas, as cordas afinação da corda Sol. De certa forma, pra
possuem comprimentos iguais, delimi- alguns acordes como o Mi Maior na pri-
tados pela pestana e pelo rastilho do violão. meira posição, isso também vai aliviar a
Porém, ao apertarmos uma delas, a diferença da terça Mi-Sol#, que é aguda
estamos esticando, tornando-a um pou- demais na escala temperada. Mas pode
quinho mais comprida. Algumas cordas, prejudicar outros intervalos que precisem
como a sexta, ficam a uma distância maior da corda Sol solta.
do braço do violão do que outras e, quando
apertadas, esticam mais. Assim, esse ajuste pela deformação das
cordas deve ser pensado caso a caso,
A primeira corda sofre menos deformação considerando que sempre vão haver
que a sexta, por esse mesmo motivo. Mas, algumas posições que irão ficar piores do
cada corda pode se comportar diferente- que as outras. Cabe a você decidir onde é
mente na sua deformação também pelo mais importante soar bem e onde soar mal
fato de terem espessuras, afinações e é menos prejudicial.
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Afinando um violão no tempero ideal
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Não comparar duas cordas presas tempo em que a toca com um dos outros
dedos. Este último procedimento faz soar a
oitava daquela nota presa. Em geral, o
dedo deve ser encostado bem acima, ou
Pelo problema da deformação, não é indi- perto, de algum dos trastes.
cado comparar duas cordas presas. Ao
prendermos uma corda ela já se deforma Afinar por harmônicos é extremamente
de forma imprevisível. Ao prendermos perigoso. Os sons produzidos por esse
duas, temos um problema ainda maior. procedimento são da escala natural. Aí,
estariam sendo utilizadas notas do sistema
O ideal é usar sempre uma corda solta e natural de uma corda para afinar um
uma presa. instrumento no sistema de temperamento
igual, causando uma grande mistura.
Se usarmos duas cordas soltas e afinar
pelo ouvido, a nossa tendência vai ser sair Cada corda gera uma série harmônica
dos intervalos temperados. diferente, e esses harmônicos não servem
de base de comparação pra afinar. A única
Se usarmos duas cordas presas, temos o exceção seria a dos harmônicos que pro-
problema descrito acima. duzem uma oitava, pois as oitavas natu-
rais são exatamente iguais às oitavas do
Ao usar uma corda solta e uma presa, sistema temperado, podendo ser utilizadas
restringimos o problema da deformação, e sem problema. Já o harmônico da casa 7,
utilizamos as notas do sistema temperado gera uma quinta natural que é 0,1% mais
do violão. Assim, essa é uma solução mais aguda que a quinta temperada. Assim, se
segura. afinarmos comparando os harmônicos das
casas 5 e 7, o que é uma prática comum,
teremos um resultado impreciso.
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Não tentar eliminar todos os bati-
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Saber usar afinadores eletrônicos
mentos
Quando dois sons operam em freqüências Usar um afinador eletrônico para afinar as
iguais, ou múltiplas, eles soam muito bem seis cordas soltas seria teoricamente ideal.
juntos. Porém, se existir algum pequeno O afinador já está regulado pela escala
desvio na afinação, você poderá ouvir uma temperada, e garantiria uma afinação
espécie de oscilação no som ao tocar as precisa. Porém, existem três problemas:
duas notas juntas. Como se fosse uma
sirene bem suave (em alguns casos, nem - Se uma música tem uma característica
tão suave assim). Essa oscilação é cha- especial de exigir certos intervalos, e não
mada de batimento. exigir outros, pode ser teoricamente pos-
sível ajustar a afinação de alguns inter-
Quando se ouvem batimentos, é sinal de valos em determinadas posições do braço
que as notas estão desafinadas entre si. do violão para soarem mais naturais. Aí, o
afinador não ajuda e é necessário usar
Os batimentos podem ser muito úteis, pois somente o ouvido.
é mais fácil ouvi-los, em alguns casos, do
que perceber a desafinação entre duas - A deformação das cordas pode exigir que
notas. Aí, eliminando o batimento, elimi- um pequeno ajuste seja feito a fim de
namos a desafinação. alinhar a afinação de forma geral. Aí, o
afinador pode servir de base, mas será
No caso do violão, devido à escala tempe- necessário fazer esse ajuste pelo ouvido.
rada, só se deve usar os batimentos para
afinar quando se está comparando duas - Os afinadores eletrônicos não são 100%
notas iguais, ou oitavadas. precisos. Eles trabalham dentro de uma
margem de variação. Ou seja, muitas vezes
Se quisermos eliminar os batimentos de o que o afinador indica como sendo afi-
um intervalo de quinta ou de terça, por nado, pode estar ligeiramente acima ou
exemplo, estaremos desafinando os outros abaixo do correto, e isso pode resultar que
intervalos. as cordas fiquem nitidamente fora da
afinação ideal. Assim, um ajuste final pelo
Ou seja, em todos os intervalos, menos nos ouvido será necessário.
uníssonos e nas oitavas, vão, e devem,
haver batimentos. Mas contente-se que É preciso saber usar o afinador dentro das
pelo menos nenhum vai uivar como um limitações que ele possui. E tenha cons-
lobo! ciência de que será necessário um ocasi-
onal ajuste de acordo com o que se deseja
na afinação. O ouvido bem treinado tem
um grau de precisão invejável, e o afinador
ajuda, mas não o substitui.
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Afinando um violão no tempero ideal
Considerações Finais
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