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Afinando

um violão no tempero ideal

Samuel Huh

violoteca
Afinando
um violão no tempero ideal

Samuel Huh
1ª edição
Setembro de 2008

violoteca
Afinando um violão no tempero ideal

Q uando crianças, todos aprendemos


a cantar as sete notas musicais. É
claro, repetindo o Dó ao final:
Assim, ao se tornar quantificável o que era
infinito, certas adaptações e distorções à
verdadeira forma de comportamento dos
sons foram realizada. E tudo isso resultou
Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dóóó. nessa arte sintética que é a música.

Esse ritual lúdico incutiu na nossa mente Isso pode ser um choque para quem imagi-
infantil alguns conceitos pétreos. Dentre nava que a música fosse uma arte pura-
eles, o de que a música tem um conjunto de mente intuitiva, mas, já na Grécia Antiga,
notas perfeitamente cíclico, pois tudo ela era considerada um dos quatro ramos
acaba onde começou, e o de que cada nota da matemática, juntamente com aritmé-
tem um único som exato. tica, geometria e astronomia. A música era
definida como o estudo dos números em
Bem, para o seu desencanto, lamento movimento.
informar que nada disso é verdade. Ou pelo
menos, não completamente. Portanto, em música, lidamos com uma
série de princípios bastante lógicos e racio-
A produção sonora é um fenômeno muito nais.
complexo e cheio de nuances. Tanto que,
sem algum tipo de síntese e aproximação, Iremos, juntos, construir e desconstruir
seria impossível lidar com os sons na prá- esses princípios para perceber que afinar
tica. Pra alcançar o que hoje é trivial a uma um instrumento musical é como temperar
criança, a humanidade acabou criando sua comida: você escolhe o ponto ideal. E
maneiras de ordenar, nomear, classificar e veremos que, no violão, isso não é tão tri-
regulamentar as infinitas freqüências exis- vial como possa parecer.
tentes na natureza, que geram infinitos
sons. Pois bem, tudo começa com o som.

Índice
O som.........................................................................................................................3
A escala cromática......................................................................................................4
Os intervalos e as escalas diatônicas...........................................................................6
Os modos....................................................................................................................9
A tonalidade..............................................................................................................11
O problema da sonoridade.........................................................................................12
A série harmônica e o ciclo das quintas.....................................................................13
As afinações e temperamentos...................................................................................17
O violão.....................................................................................................................20
Considerações finais..................................................................................................26

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Samuel Huh

O Som

O s sons são originados por oscila-


ções de alguma fonte, como uma
corda vibrando, que se propagam
em ondas e chegam aos nossos ouvidos. De
basicamente deixada lado.

Neste ponto, com base nessas informa-


ções, você pode chegar à conclusão de que,
acordo com freqüência com que essa mesmo segmentando o som desse jeito,
oscilação acontece, o nosso cérebro deco- ainda podem existir infinitas notas musi-
difica essa informação e transforma isso cais, e que seria impossível dar nome a
em um som mais agudo ou mais grave. cada uma delas. Boa tentativa, mas, na
verdade, não é bem assim.
É importante esclarecer que o som tem
muitos outros aspectos como volume, Uma peculiaridade do som é que ele tem
alcance, duração, timbre, que não são um comportamento cíclico: cada vez que a
relacionados propriamente à freqüência de freqüência que gera determinado som
oscilação. Porém, vamos aqui abordar dobra de valor, o som resultante é muito
especificamente a questão das freqüên- parecido com o original, só que mais
cias, que é o que define a “altura” do som. agudo. É tão parecido que passou a ser
chamado pelo mesmo nome. Assim, se
O termo “altura” não se refere a som forte começarmos a partir de uma nota qual-
ou fraco, como muitos podem pensar (isso quer, Dó, por exemplo, e formos aumen-
seria “volume”). Altura é o quão agudo ou tando a freqüência do som, ele vai ficando
grave o som é. Quanto mais alta uma mais agudo até que, ao chegar ao dobro da
freqüência, mais agudo o som percebido. freqüência, encontra-se uma nota que
também foi chamada de Dó.
Um dos primeiros passos dados para que
se pudesse fazer música foram as tenta- Essa característica é comum nas diversas
tivas de se criar uma escala, uma forma de escalas musicais que foram desenvolvidas.
se subdividir os sons de acordo com sua Mas cada escala tinha uma forma diferente
altura. E assim, várias diferentes escalas de lidar com o intervalo entre esses dois
musicais foram inventadas. sons parecidos. Dentre essas escalas, uma
serve como uma espécie de “régua” uni-
As escalas musicais criam graduações no versal no sistema vigente da música oci-
som e permitem dar nomes a determinadas dental: assim como para distâncias temos
freqüências em detrimento de outras. É a escala métrica e para temperaturas a
um processo de escolha. Uma freqüência escala Celsius, para os sons, utiliza-se hoje
sonora que tem um nome é chamada de uma escala musical chamada escala
nota musical. A que não tem nome, é cromática.

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Afinando um violão no tempero ideal

A Escala Cromática

A tualmente, no Ocidente, o intervalo


entre os dois sons semelhantes é
dividido em doze unidades denomi-
nadas semitons, formando a citada escala
cromática. E aquelas sete notas musicais
Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si são sete delas.

As outras cinco se encontram entre o Dó e o


Ré, entre o Ré e o Mi, entre o Fá e o Sol,
entre o Sol e o Lá, e entre o Lá e o Si.
cantadas na nossa infância estão pre-
sentes nessa escala. Agora, repare em outro ponto interessante:
os intervalos entre as sete notas principais
Perceba que, seguindo o raciocínio não são iguais entre si. Aliás, se fossem,
exposto, na escala cromática, entre qual- não seria possível encaixar essas sete
quer uma das notas e o seu par mais notas numa escala de doze, pura matemá-
agudo, existem sempre doze graduações. tica.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

...Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si...


12 semitons 12 semitons

Ou seja, de Dó a Dó existem doze semitons Entre o Mi e o Fá, e entre o Si e o Dó, temos


(ou seis tons inteiros). De Lá a Lá, idem. E somente um semitom de diferença, não
assim por diante. O que nos leva a concluir havendo espaço para mais nenhuma nota
que somente existem doze notas musicais entre elas. Ao contrário dos demais casos,
realmente diferentes nessa escala, que vão que possuem um tom inteiro de diferença
se repetindo ciclicamente. E quais seriam (ou seja, dois semitons), abrindo espaço
essas doze notas? para notas intermediárias.

Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si Dó

½ ½
1 1 1 1 1

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Para dar nome às outras cinco notas que exatamente o mesmo som do Fá, o Fá
faltam, aplicamos os sinais # e b (lêem-se bemol que equivaleria ao Mi, e assim por
sustenido e bemol - também chamados de diante. Diferentes notas que representam
acidentes) às sete notas principais. o mesmo som, são chamadas de notas enar-
mônicas.
O sustenido, quando aplicado a uma nota,
eleva o seu som em um semitom (ou meio Comumente, os nomes utilizados para os
tom). O bemol reduz em um semitom. doze semitons são os da ilustração apre-
sentada.
Assim, entre o Dó e o Ré, temos o Dó suste-
nido, que é o Dó normal (chamado natural) Reparem que algumas notas enarmônicas
aumentado de meio tom. Mas, veja que estão indicadas.

Ré b Mi b Sol b Lá b Si b
Dó Dó # Ré Ré # Mi Fá Fá # Sol Sol # Lá Lá # Si Dó

½ ½ ½ ½ ½ ½ ½ ½ ½ ½ ½ ½

curioso: se diminuirmos o Ré para Ré Os instrumentos ocidentais foram, então,


bemol, chegamos ao mesmo resultado construídos para usarem essa escala de
sonoro. semitons.

Dessa forma, usando os acidentes, Por exemplo, o piano possui teclas divi-
podemos dar nome a todos os doze sons, e didas em semitons, sendo que as brancas
cada som acaba tendo dois ou mais nomes representam as sete notas naturais (sem
de notas para o representar. O Dó suste- acidentes), e as pretas, as notas com aci-
nido e o Ré bemol, que vimos, o Ré suste- dentes. O violão possui, entre cada traste,
nido e o Mi bemol, o Mi sustenido que seria uma diferença de semitom.

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Afinando um violão no tempero ideal

Os Intervalos
As Escalas Diatônicas

M as por que não se dar logo doze


nomes, ao invés de somente sete,
evitando o uso complexo desses
acidentes? Bem, não foi por acidente.
que, apesar de mudar de sobrenome, só se
usa uma nota chamada Dó, ou Si, ou Lá,
etc., em cada música (com as suas devidas
exceções). Assim, essas sete notas, dis-
postas numa determinada ordem, formam
Há somente sete nomes principais, pois na diferentes escalas diatônicas, cada uma
cultura ocidental se convencionou separar delas sendo uma espécie de segunda
sete das notas musicais e formar com elas escala musical encaixada dentro da escala
diversas outras escalas, chamadas de cromática.
diatônicas, usando-as para compor
música. Com base nisso, costumamos chamar o
intervalo entre uma nota e a sua corres-
Essas diferentes escalas foram sendo pondente mais aguda de oitava. Afinal, nas
intuídas pelo fato de suas notas se relacio- escalas diatônicas, essa nota mais aguda é
narem de forma harmoniosa, soando bem a oitava nota na seqüência.
umas com as outras. Os nomes das notas
foram dados na Idade Média, pelo monge No exemplo 1, vemos uma escala de sete
Guido D'Arezzo, que foi um dos maiores notas, iniciando em Dó e finalizando em Si
personagens da história da música. (o último Dó, que seria a oitava nota, é o
começo de um novo ciclo) . O intervalo
Porém, essa é uma convenção ocidental. entre o primeiro Dó e o segundo é de oito
Em outras culturas, escalas com dife- notas, ou intervalo de oitava. Seguindo o
rentes quantidades de notas também são mesmo raciocínio, podemos chamar o
usadas para compor. Mesmo na música intervalo entre o Dó inicial e o Sol de inter-
ocidental, existem muitos casos que são valo de quinta, entre o Dó e o Mi de terça, e
exceções a esses princípios. assim por diante.

1 2 3 4 5 6 7 8
Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si Dó
Exemplo 1:
Dó Dó # Ré Ré # Mi Fá Fá # Sol Sol # Lá Lá # Si Dó

As sete notas musicais acabam, então, Além disso, intervalos de notas oitavadas
ganhando relevância. Dependendo da são equivalentes entre si. Por exemplo: o
situação, ao invés de Dó utiliza-se Dó intervalo de segunda entre o Dó e o Ré é
sustenido, ou substitui-se o Si pelo Si equivalente ao intervalo de nona entre o
bemol, e assim por diante. Mas, digamos mesmo Dó e o Ré uma oitava mais aguda.

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Samuel Huh

Mas, expandindo o raciocínio, imagine que Basta identificar quantos tons de diferença
substituíssemos a nota Sol pela nota Sol existem entre as notas, e quantas notas o
sustenido, mantendo a ordem apresentada intervalo compreende, e aplicar universal-
no exemplo 1. mente.

1 2 3 4 5 6 7 8
Dó Ré Mi Fá Sol # Lá Si Dó
Exemplo 2:
Dó Dó # Ré Ré # Mi Fá Fá # Sol Sol # Lá Lá # Si Dó

Nessa nova escala, o intervalo entre o Dó e Explicando: pela definição, vemos que uma
o Sol sustenido continuaria sendo de segunda maior possui exatamente um tom
quinta, pois englobaria cinco notas (Dó, de extensão, e compreende duas notas.
Ré, Mi, Fá e Sol sustenido), mas seria uma Assim, todo intervalo entre quaisquer duas
quinta diferente da anterior, com um notas que possua essas características é
semitom a mais. Como diferenciá-las? classificado como segunda maior. Como
entre Fá e Sol, ou entre Lá e Si.
Pra poder fazer essa discriminação, se
utilizam subcategorias que funcionam Uma terça maior possui dois tons de exten-
como uma espécie de sobrenome do inter- são, e compreende três notas. O intervalo
valo. Elas são chamadas de qualidade do entre Sol e Si, ou entre Ré e Fá sustenido, e
intervalo, que pode ser: justo, maior, todos os outros que possuam essas carac-
menor, aumentado ou diminuto. terísticas são terças maiores.

2½ 3½ 6
1 2M 3M 4J 5J 6M 7M 8J
Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si Dó
1 tom 2 4½ 5½

Resumindo como isso se aplica: come- Uma quarta justa possui dois tons e meio
cemos dizendo que, por definição, em de extensão e compreende quatro notas.
relação à nota Dó, os intervalos formados Exemplo de quartas justas são os inter-
pelas notas naturais são qualificados como valos entre Fá e Si bemol, ou entre Sol e Dó.
maiores ou justos. Os intervalos de
segunda, terça, sexta e sétima são os Uma quinta justa possui três tons e meio
maiores, e os intervalos de quarta, quinta e de extensão e engloba cinco notas. Como
oitava são os justos. Daí, essa nomencla- entre Lá bemol e Mi bemol, ou Fá e Dó.
tura vale mesmo para casos onde a nota
base não seja Dó. E assim por diante.

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Afinando um violão no tempero ideal

E, a partir disso, de acordo com quantos de quarta, quinta e oitava são os intervalos
semitons se aumente ou diminua esses que a humanidade teve mais facilidade em
intervalos, a nomenclatura da qualidade descobrir, e que não é à toa que estão
irá variar conforme a ilustração apresen- presentes na música de todas as culturas,
tada abaixo. tanto do Ocidente como do Oriente.

Segunda, Terça, Sexta, Sétima Quarta, Quinta, Oitava


Nona, Décima, Décima-Terceira Décima-Primeira, Décima-Segunda

dim m M aum dim J aum

½ ½ ½ ½ ½

No grupo da esquerda, um intervalo maior Pela força da sua sonoridade, a identifi-


se torna um intervalo aumentado se acres- cação desses intervalos é exata, justa.
centarmos um semitom a ele. Já se dimi-
nuirmos um semitom, o intervalo maior se Mais especificamente, oitavas e quintas
torna menor. E se diminuirmos mais um possuem sonoridade forte (as quartas se
semitom, ele se torna diminuto. descobrem por meio de inverter a ordem
das duas notas de um intervalo de quinta).
No grupo da direita, um intervalo justo se Veremos isso quando falarmos da série
torna aumentado quando se aumenta um harmônica.
semitom, e diminuto quando se diminui
um semitom Já os intervalos de segunda, terça, sexta e
sétima possuem identificação menos
Isso vale para os intervalos oitavados óbvia, e podem ser atribuidos a uma nota
igualmente. Ou seja, um intervalo de nona, mais aguda, maior, ou mais grave, menor,
que é o intervalo de segunda acrescido de dependendo do caso.
uma oitava, é do grupo da esquerda. Um
intervalo de décima-primeira, que é uma Mas, retomando e respondendo o questio-
quarta oitavada, é do grupo da direita, e namento anterior, concluímos que entre
assim por diante. Dó e Sol temos uma quinta justa, e entre
Dó e Sol sustenido, uma quinta aumen-
Você deve estar se perguntando por que tada.
foram definidos esses dois grupos, não é?
Bem, é uma resposta complexa. E agora, será que dá pra complicar mais?

Pra simplificar, digamos que os intervalos Na verdade, dá.

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Os Modos

D iferentes combinações de quali-


dades de intervalos de uma escala
geram diferentes tipos de escala
diatônica ou, como se costuma chamar,
escalas em diferentes modos.
Se, você contar quantos tons existem entre
a primeira nota e a terceira, perceberá que
são dois, caracterizando um intervalo de
terça maior. E assim igualmente para
todos os intervalos em relação às notas
base, que são sempre justos ou maiores
Uma escala que tenha um intervalo de nos exemplos 1 e 3.
terça maior é diferente de uma escala que
tenha a terça menor, por exemplo. Por Por isso, ambas as escalas são maiores,
outro lado, escalas com notas diferentes, mesmo possuindo notas diferentes.
mas com as mesmas qualidades em todos
os intervalos, são escalas do mesmo modo. Como você já deve estar ciente, as escalas
diatônicas de sete notas são escalas não-
A esses modos, também se dá nomes e, uniformes, pois nelas as distâncias (inter-
dentre os diversos modos existentes, valos) entre uma nota e outra não são
atualmente dois são os mais comumente sempre as mesmas.
utilizados: o Maior e o Menor. Cada um
desses modos possui uma relação de Por esse motivo, dependendo da nota que
intervalos característica. se tome como base de referência, os modos
podem requerer algumas notas sustenidas
Escalas que seguem a seqüência de inter- ou bemóis, a fim de se manter a relação de
valos: 2M, 3M, 4J, 5J, 6M, 7M e 8J, carac- proporcionalidade dos intervalos.
terizam o modo Maior. Nele, os intervalos
em relação à nota base são todos maiores Reparem no exemplo 3, que , na escala de
ou justos, e seguem a ordem apresentada. Lá Maior, o Fá, o Dó e o Sol são sustenidos.

Como no caso da escala do exemplo 1, que Usando os sustenidos e bemóis desta


tem o nome de escala de Dó Maior. maneira, consegue-se manter os intervalos
(terças, quartas, quintas, etc.) sempre
E se a nota base fosse outra? Se começás- coerentes, independentemente da nota
semos pela nota Lá, e aplicássemos os inicial. E esse princípio se relaciona com o
intervalos do modo Maior, a escala ficaria conceito de tonalidade, que abordaremos
como no exemplo 3. daqui a pouco.

1 2M 3M 4J 5J 6M 7M 8J
Lá Si Dó # Ré Mi Fá # #
Sol Lá
Exemplo 3:
Lá Lá # Si Dó Dó # Ré Ré # Mi Fá Fá # Sol Sol # Lá

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Afinando um violão no tempero ideal

Já o modo Menor, é caracterizado pelos Menor é chamada de escala relativa menor


intervalos: 2M, 3m, 4J, 5J, 6m, 7m, 8J. da escala de Dó Maior. E a de Dó Maior de
Porém, este modo possui algumas varian- relativa maior da escala de Lá Menor.
tes, e muitas vezes aparece com intervalos
um pouco diferentes destes. As escalas relativas também existem para
outras notas base. Por exemplo, a escala de
Se mantivermos a relação de intervalos Si Menor é a relativa menor da escala de Ré
descrita acima, o modo é chamado de Maior (ambas possuem Fá e Dó susteni-
Menor Natural. Nas variantes, a sétima dos).
pode ser maior ao invés de menor, caracte-
rizando o modo Menor Harmônico, ou a No exemplo 5, temos a escala de Lá Menor
sexta pode ser maior junto com a sétima Harmônica. A única diferença é a sétima
maior, caracterizando o modo Menor maior ao invés da sétima menor. Esta
Melódico. E as três são usadas hoje em dia. escala propicia diferentes possibilidades
na composição de músicas, e foi criada
Complexo, né? Bem, pra ilustrar, tomando justamente para isso. Mas vejam que daí,
uma nota qualquer como base, Lá, por se criou um intervalo muito grande entre a
exemplo, montemos as escalas menores: sexta e a sétima.

1 2M 3m 4J 5J 6m 7m 8J
Lá Si Dó Ré Mi Fá Sol Lá
Exemplo 4:
Lá Lá # Si Dó Dó # Ré Ré # Mi Fá Fá # Sol Sol # Lá

1 2M 3m 4J 5J 6m 7M 8J
Lá Si Dó Ré Mi Fá #
Sol Lá
Exemplo 5:
Lá Lá # Si Dó Dó # Ré Ré # Mi Fá Fá # Sol Sol # Lá

1 2M 3m 4J 5J 6M 7M 8J
Lá Si Dó Ré Mi Fá # #
Sol Lá
Exemplo 6:
Lá Lá # Si Dó Dó # Ré Ré # Mi Fá Fá # Sol Sol # Lá

O exemplo 4 descreve a escala de Lá Menor Esse salto, como se descobriu, era muito
Natural. Reparem que nesta escala todas difícil de se cantar, e as pessoas desafi-
as notas são naturais, sem acidentes, navam com facilidade. Então, no exemplo
assim como eram na escala de Dó Maior do 6, temos a escala de Lá Menor Melódica,
exemplo 1. Ou seja, a escala de Lá Menor e criada justamente para eliminar esse salto
a escala de Dó Maior se utilizam das e facilitar o canto de melodias. Nela, temos
mesmas notas, porém ordenadas de forma a sétima maior e a sexta maior, ou seja,
diferente. Como isso gera um tipo de relaci- aproximou-se a sexta da sétima, e os
onamento de proximidade, a escala de Lá cantores ficaram aliviados.

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Samuel Huh

A Tonalidade

C om o passar do tempo, foi percebido


que as notas de uma escala têm
diferentes importâncias para dife-
rentes propósitos. E se resolveu fixar uma
É um conceito muito útil, pois um músico
que tem intimidade com essas regras tem
mais facilidade de “tirar de ouvido” os
acordes e notas de uma música. Quer seja
forma de orientar essa hierarquia. por estarem dentro das regras da tonali-
dade, ou por saber reconhecer situações
Definir tonalidade seria definir uma nota específicas onde essas regras são quebra-
base à qual as outras são subordinadas, e das. Ele pode também usar a relação de
estabelecer os intervalos entre elas. Assim, proporcionalidade dos intervalos e ir
uma tonalidade é caracterizada pela sua alterando a nota base a fim de fazer a
nota base (chamada de tônica) e pelos canção ser mais confortável à voz. É isso
intervalos que as outras notas formam com que as pessoas chamam de “mudar de
ela (definindo os modos Maior ou Menor). tom”. Às vezes, uma canção na tonalidade
de Lá Maior fica aguda demais para se
No exemplo 1, teríamos as notas usadas na cantar. Então, o músico toca essa canção
tonalidade de Dó Maior, ou seja, a nota na tonalidade de Sol Maior, abaixando
base é Dó e os intervalos se relacionam no todas as notas da música na mesma pro-
modo Maior. No exemplo 3, na tonalidade porção, permitindo assim que a voz cante
de Lá Maior. Nos exemplos 4, 5 e 6, na num registro mais grave.
tonalidade de Lá Menor.
Conhecendo as escalas diatônicas, os
Parece muito semelhante ao conceito de modos, e sabendo aplicar as regras da
Escala Maior e Menor, não é? tonalidade, você perceberá que existe uma
boa dose de razão na criação musical, e
E é. que realmente os gregos tinham argu-
mentos consideráveis pra classificar a
Na verdade, a escala é a seqüência de música como um dos ramos da matemá-
notas, e a tonalidade é a definição de um tica.
ambiente onde essas notas são usadas.
Esse ambiente é regido por determinadas Ué? Mas até agora só se confirmou tudo o
regras e hierarquias entre os sons, as quais que se disse nos primeiros parágrafos: que
orientam a composição de uma música. a música é cíclica e que cada nota corres-
Uma música composta numa tonalidade, ponde a um som exato, não é?
em linhas gerais, deve seguir essas diretri-
zes, e usar basicamente as sete notas E onde está a grande distorção alardeada
pertencentes a essa tonalidade, que por no início do texto?
sua vez formam a escala naquela tonali-
dade. Ufa! Bem, vamos a ela.

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Afinando um violão no tempero ideal

O Problema da Sonoridade

O que ainda não lembramos de


comentar nessa matemática toda é
que na música existe uma exi-
gência especial: o resultado soar bem. E aí
justamente o de alterar um pouquinho a
freqüência de alguma das notas para que
passem a soar bem em conjunto.

é que a coisa complica. Um grande problema é que o raciocínio


descrito anteriormente, de dividir os sons
Contrariando a lógica que temos apresen- em uma escala de 12 semitons com cada
tado, os sons não se originam de divisões nota se relacionando ciclicamente, é mara-
racionais, como numa escala métrica, mas vilhoso no papel, mas na prática resulta
de fenômenos complexos de ressonância. em sons desafinados!
Dentro de um som há dezenas de outros
sons, produzidos em intervalos variados, Maior problema que este, é que não há jeito
todos soando ao mesmo tempo. E a per- de alterar as notas da escala de forma que
cepção desses intervalos foi a real base elas fiquem afinadas em todas as situa-
para a definição das escalas musicais. Ou ções. Ou seja, pra algumas situações, é
seja, o processo que vimos anteriormente é possível afinar as notas de forma satisfató-
uma simplificação. ria, mas para outras, essa afinação vai ser
um desastre.
Bem, uma característica especial do som é
que ele consegue se harmonizar com Desde a Grécia Antiga, os músicos têm
outros sons. Ou seja, soar de forma agra- tentado encontrar uma forma ideal de
dável em conjunto. Se tocarmos simulta- afinar, dispondo as notas da escala de
neamente dois sons diferentes, pode haver forma a se relacionarem sempre harmoni-
um resultado agradável ou um resultado camente. Mas também já era sabido desde
incompatível, desagradável. E daí, neste aquela época que isso é impossível.
último caso, acabamos dizendo que o som
está desafinado. O ato de afinar seria Por quê?

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Samuel Huh

A Série Harmônica
O Ciclo das Quintas

I magine uma corda vibrando e produ-


zindo um som. A esse som, dê um nome
qualquer.

Vamos, por facilidade, chamar de Dó. Pois


Dó - Sol - Ré - Lá - Mi - Si - Fá# - Dó# - Sol# -
Ré# - Lá# - Mi# (Fá) - Si# (Dó)

Ou seja, quando se completar o ciclo e


voltar ao Dó (só que mais agudo), teremos
bem, e agora? Como encontrar as outras descoberto todas as 12 graduações da
notas? Pense em como você iria conseguir escala musical cromática. Basta conferir.
descobrir o Ré, o Mi, o Fá, o Sol, etc., na
Antiguidade, sem as ferramentas que Mas ainda não deu pra entender. Como
possuímos hoje em dia. usar isso na vida real?

Difícil, né? E por que falar nesse ciclo de quintas?


Pode-se obter o mesmo resultado com um
Bem, tinha um jeito: o ciclo das quintas. ciclo de segundas ou de quartas.

Vamos raciocinar da seguinte forma: Bem, por causa de uma constatação de


começando do Dó, se formos acrescen- ordem prática: depois das oitavas, as
tando intervalos de quinta, um após o quintas são os intervalos mais facilmente
outro, o que acontece? Utilizando os aci- produzíveis a partir de uma nota base. Isso
dentes, conforme foi explicado anterior- se origina de algo chamado série harmô-
mente, teremos: nica.

Si #

Mi # Sol

Lá #

Si b

Ré # Lá
Mi b

Sol #
Lá b Mi
Ré b
Dó # Sol b Si
Fá #

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Afinando um violão no tempero ideal

A série harmônica provém de um fenômeno 1


físico, onde um corpo vibrante (como uma
corda) produz vários sons simultâneos em
diferentes freqüências, e não somente um ½
único som como se poderia pensar.

Pitágoras já fazia experimentos há mais de


dois mil anos, com uma corda comprida
que chamou de monocórdio. Ele colocava a
corda pra oscilar, e observava o seu com-
¼
portamento. Dessa forma, ele percebeu
que essa corda formava pequenos nós na
sua vibração, como se fosse subdividida
em pedaços menores. Pedaços equiva-
lentes à metade, um terço, um quarto, etc.,
do seu comprimento total. É como se no
comportamento vibratório da corda, esti-
vessem ocorrendo vários tipos de vibração,
como na figura ao lado.

Todas essas vibrações da figura ocorrem Supondo que a nota base, correspondente
numa mesma corda, simultaneamente, à vibração total do monocórdio, fosse
gerando na prática um desenho bastante definida como Dó, os sons gerados e os
complexo. É admirável Pitágoras ter conse- intervalos que eles representam seriam:
guido enxergar e separar isso sem possuir
todas as ferramentas que possuímos hoje, (1) Dó (base)
diga-se de passagem! (2) Dó (oitava justa)
(3) Sol (quinta justa)
A vibração que corresponde ao compri- (4) Dó (oitava justa)
mento total da corda gera um som. (5) Mi (terça maior)
(6) Sol (quinta justa)
A vibração que corresponde à metade do (7) Si bemol (sétima menor)
comprimento resulta em outro som, que é (8) Dó (oitava justa)
a oitava do primeiro. (9) Ré (segunda maior)
(10) Mi (terça maior)
A vibração que corresponde a um terço do (11) Fá sustenido (quarta aumentada)
comprimento gera mais um som, que é o etc.
intervalo de quinta em relação ao segundo
(que como é a oitava do primeiro, podemos Esses sons são chamados de harmônicos.
dizer que essa terceira nota é uma quinta O primeiro harmônico de Dó é ele mesmo, o
oitavada em relação ao primeiro). segundo é a sua oitava, o terceiro é o Sol, e
assim por diante. Essas notas, contidas
E assim sucessivamente, gerando diversos dentro do próprio som, acabam por formar
sons simultâneos com diversos intervalos uma escala, chamada escala natural. Nela,
a partir do som base. todas as notas soam bem entre si.

14
Samuel Huh

Mas qual dessas notas ouvimos, na prá- Assim, uma flauta de madeira soa dife-
tica, quando a corda vibra? rente de uma flauta de plástico.

A nota que ouvimos com mais clareza é a Assim também, diferentes marcas de corda
primeira, equivalente ao comprimento de violão soam diferentes, mesmo estando
total. Os outros harmônicos vão soando na mesma afinação. Ou dois violões soam
cada vez mais fracos e mais agudos, e têm a diferentes, mesmo com as mesmas marcas
função de complementar o som, dando a de corda.
ele uma característica especial.
Quando alguém toca a corda de um violão
Dependendo do material da corda e da mais perto da boca do instrumento, produz
forma como se toca essa corda, alguns um som diferente do som da mesma corda
harmônicos aparecem mais que os outros e tocada mais próxima do cavalete (a peça
resultam num som peculiar. onde se amarram as cordas no tampo). O
timbre muda.
Por isso é que conseguimos reconhecer
diferenças entre as vozes de duas pessoas É que diferentes harmônicos são evidenci-
cantando a mesma música: apesar de ados de acordo com o material da corda,
cantarem as mesmas notas base, os har- suas dimensões e com o ângulo e posição
mônicos de cada voz se comportam de em que se toca a corda de um violão.
forma diferente. Em determinados casos,
alguns harmônicos mais agudos aparecem Bem, retornando ao problema inicial, como
mais, tornando a voz mais estridente. Ou usar essa série harmônica para descobrir
aparecem menos, deixando a voz mais as outras notas?
aveludada.
Da seguinte forma:
A essa característica marcante de um som,
dá-se o nome de timbre. Se você tocar uma corda, e ela vibrar pro-
duzindo um Dó (nota base), você sabe que
paralelamente existem todas as notas da
série harmônica soando ao fundo. Mas isso
é difícil de distinguir com o ouvido.

Porém, se encostarmos o dedo exatamente


no meio da corda vibrante, estaríamos
abafando todas as vibrações que ocorrem
Nesse princípio é que o som de uma gra- nessa corda, exceto as que têm o nó
vação se altera quando se mexe na equali- naquele exato ponto.
zação do aparelho de som. É que o timbre
muda, apesar da nota base continuar a Se pararmos um pouco pra refletir sobre
mesma. Ressaltando as freqüências dos essa afirmação, descobriremos qual seria o
harmônicos graves, obtém-se um som resultado sonoro:
mais pesado, ajustando melhor os harmô-
nicos agudos obtém-se mais definição, e Os sons que não tivessem o nó de vibração
assim por diante. bem no meio da corda iriam cessar.

15
Afinando um violão no tempero ideal

Ou seja, o Dó base pararia, o terceiro 1


harmônico (Sol-quinta) pararia, o quinto
harmônico (Mi-terça) pararia, e assim por ½ 8J
diante. O que sobraria?
5J
O segundo harmônico (Dó-oitava), o quarto
harmônico (Dó-oitava) e outros em que
colocar o dedo bem no meio da corda não
¼ 8J
afeta a vibração por já terem um ponto
imóvel naquele lugar em seu comporta- 3M
mento vibratório. E a partir daí, qual seria
o som mais nítido? O do segundo harmô- 5J
nico, que é o Dó oitavado.
7m
Nesse mesmo raciocínio, se colocássemos
o dedo exatamente no ponto que divide a
corda em três, o que teríamos?
1
O primeiro harmônico, que é a nota base
cessaria de soar. Assim como o segundo. O ½ 8J
terceiro, que vibra dividindo a corda em
três, continuaria, o quarto cessaria, e
5J
assim por diante. E qual seria o som que
sobrou que soaria mais evidente?
¼ 8J
O do terceiro harmônico, que é a nota Sol
(quinta). Ou seja, colocando o dedo em 3M
algum dos pontos que dividem a corda em
três, ouviremos a quinta da nota base 5J
soando, neste caso, o Sol. A quinta é o
harmônico mais forte, depois da própria 7m
nota base e da sua oitava.

Essa força das quintas explica porque esse de quinta de uma nota base. Se usarmos o
intervalo era muito utilizado na música Dó como base, conseguiremos achar o Sol.
antiga, medieval e até os dias de hoje. E Daí, podemos afinar por comparação uma
também explica porque as quintas, junta- segunda corda, para que soe exatamente
mente com as oitavas, são intervalos igual ao Sol produzido pela primeira.
usados universalmente, na música de Colocando o dedo em um terço dessa nova
todas as culturas. corda, achamos a quinta do Sol, que é o Ré.
E assim, repetindo esse procedimento,
E agora conseguimos perceber a impor- conseguimos descobrir todas as notas ao
tância do ciclo das quintas: completar o ciclo das quintas. Genial, não?

Utilizando-nos desse fenômeno da série Mas, ao fazer exatamente assim, houve


harmônica, conseguimos achar o intervalo uma grande surpresa.

16
Samuel Huh

As Afinações e Temperamentos

A o se percorrer todo o ciclo de quin-


tas, chegando ao final na nota que
deveria ser novamente um Dó, o
resultado foi um som que era mais agudo
que o Dó. Não chegava a ser um Dó suste-
temperamentos. Mas observe que cada um
desses sistemas ainda teria que abrir mão
da afinação perfeita de algum intervalo.

Um dos sistemas de afinação mais antigos


nido, mas era nitidamente mais agudo. mantinha as quintas exatamente iguais às
Essa diferença, menor que a de um semi- dos harmônicos. Mas uma delas era encur-
tom, foi chamada de coma pitagórica (coma tada, entre o Lá bemol e o Mi bemol, afi-
é o nome que se dá a intervalos menores nando o Mi bemol um pouco mais grave, a
que um semitom). Pra diferenciar essa fim de fechar o ciclo.
nota, usa-se o nome Si sustenido. Ou seja, #
Si
na realidade, esse Si sustenido não é igual Dó
ao Dó, como deveria ser pela teoria.
#
Mi Sol

Lá #
Tinha-se então um problema: a escala Si b Ré
pitagórica, gerada pelo ciclo das quintas,
não se fechava num ciclo perfeito. Isso Ré # Lá
porque a corda afinada através da corda Mib Quinta
do Lobo
anterior, produzia uma nova nota base Sol #
com uma nova série harmônica. E as notas Lá b Mi
de ambas as séries não coincidiam. O Sol Ré b# Sol b
Dó Si
(quinta) da série harmônica de Dó não era Fá #
igual ao Sol (terça) da série harmônica de
Mi. O primeiro Sol não harmonizava com Esse sistema mantinha todas as oitavas
esse Mi, e vice-e-versa. Ou seja a escala afinadas e também as quintas, exceto
ficava com uma utilidade muito restrita. uma. Esta ficava bastante desafinada,
parecendo uivar como um lobo quando
Para tentar minimizar esse problema, seria tocada. Por isso essa quinta foi chamada
preciso “desafinar” uma ou mais notas da de “Quinta do Lobo”.
escala, diminuindo os intervalos de forma
a fazer com que a nota final coincidisse Fora as oitavas e quase todas as quintas,
com o Dó e fechasse o ciclo. Várias opções as quartas ficavam afinadas também. Mas
são possíveis para fazer essa aproximação. as terças e sextas ficavam com certa desafi-
nação, e a quinta do lobo era um grande
Pode-se mudar a afinação de apenas uma problema caso fosse tocada. Era um sis-
ou outra nota da escala, originando vários tema que se adequava somente a um
diferentes sistemas de afinação, ou mudar determinado tipo de música, em que os
várias notas um pouquinho, dando a elas intervalos de terça e sexta não tivessem
um “tempero” especial, originando dife- tanta relevância, e não se precisasse usar o
rentes formas de ajuste, chamados de intervalo entre o Lá bemol e o Mi bemol.

17
Afinando um violão no tempero ideal

No século XV, as terças começaram a Os cravos (antecessores dos pianos), e os


entrar no gosto dos compositores, e pas- alaúdes e guitarras barrocas (antecessores
sou-se a ter que fazer ajustes para que os do violão) são bons exemplos de instru-
intervalos de terça coincidissem com as mentos que exigiam constante alteração do
terças naturais, pra soar bem. Aí, começou sistema de afinação. Os trastes do alaúde e
a ser adotado o sistema ptolomaico, que da guitarra barroca, diferentemente dos
privilegiava as terças, mas abria mão da trastes de um violão moderno, não eram
afinação perfeita de outros intervalos. pedaços de metal fixos. Eram cordas de
tripa amarradas ao braço do instrumento,
O problema dessas afinações, e de outras que podiam ser ajustadas para frente ou
que seguiam o conceito de uma afinação para trás, de acordo com o temperamento
natural (manter o máximo possível de que se queria dar.
notas fiéis aos harmônicos), é que, como na
realidade o ciclo não fecha, perde-se Então, posteriormente, começaram a
aquela coerência matemática perfeita. E surgir temperamentos que enfatizavam a
daí o resultado sonoro podia ficar muito utilidade em detrimento da perfeição
bom em alguns casos, mas muito ruim em sonora dos intervalos. Ou seja, que vari-
outros. Ou seja, apesar de conseguir avam a afinação das notas de tal forma que
beleza sonora pela perfeição em alguns nenhum intervalo ficasse desafinado
intervalos, a utilidade desses sistemas era demais em nenhuma tonalidade, e as
restringida só a algumas tonalidades. notas pudessem ser usadas de forma mais
ampla.
Pra tentar amenizar um pouco as diferen-
ças, no final do século XVI, começaram a Esses sistemas de afinação, que podem ser
surgir os sistemas temperados. O objetivo descritos como de temperamento circular,
era desafinar deliberadamente várias permitiam ao músico tocar em qualquer
notas, mas só um pouco, a fim de distribuir tonalidade, como demonstrou Johann
a diferença da coma pitagórica mais uni- Sebastian Bach ao publicar o “Cravo Bem
formemente. Assim, as notas soavam só Temperado” em 1722. Este livro continha
um pouquinho diferentes do ideal, como se peças em todas as tonalidades possíveis,
tivessem um tempero a mais. que deviam ser tocadas num cravo afinado
num dos temperamentos propostos pelo
Alguns sistemas temperados conseguiam alemão Werckmeister. Neles, apesar de
excelentes resultados em músicas de praticamente todos os intervalos estarem
determinadas tonalidades, mas também desafinados em relação aos intervalos
ficavam completamente desajustados em naturais, nenhum uivava com um lobo ou
outras. Esse era o caso dos temperamentos era insuportável aos ouvidos.
mesotônicos, que privilegiavam as terças e
sextas em detrimento das quintas. E Daí, os sistemas de temperamento circular
então, muitos dos instrumentistas da se popularizaram pela maior comodidade e
época Renascentista e Barroca acabavam fluência que proporcionavam, permitindo
tendo que constantemente ajustar os seus ao intérprete mais tempo com a música e
instrumentos de acordo com a tonalidade menos tempo com constantes mudanças
que pretendiam tocar. no temperamento do instrumento.

18
Samuel Huh

Aprimorando isso ainda mais, hoje, o deixar de ajustar a afinação de um piano


sistema de temperamento utilizado é o constantemente. Em prol da utilidade,
temperamento igual, que divide geometri- essa escala temperada altera as notas,
camente por igual todos os semitons exis- afastando-as da sua sonoridade perfeita,
tentes, e resulta em intervalos todos um mas fazendo com que o ciclo possa se
pouco diferentes dos naturais. Na verdade, fechar e ter perfeita coerência matemática.
somente as oitavas são perfeitas nesse
sistema moderno, e todos os demais inter- Com séculos ouvindo o temperamento
valos têm algum desvio suportável aos igual, os nossos ouvidos já nem sentem
nossos ouvidos. essas diferenças de forma tão gritante
como sentiria o nosso querido Pitágoras.
Pianos, violões, afinadores eletrônicos, Até mesmo aprendemos a cantar as notas
utilizam a escala no sistema de tempera- temperadas desde crianças:
mento igual. Como nesse sistema os semi-
tons são todos eqüidistantes geometrica- Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dóóó.
mente, o comportamento das notas fica
perfeitamente cíclico. Assim, foi possível Mas agora você sabe que, desde pequeno,
fixar os trastes de um violão ou guitarra, ou já era uma criança desafinada.

Temperamento Igual x Escala Natural

Intervalos Escala Natural Temperamento Igual

Uníssono - - perfeito
2m - +1,7% agudo
2M - -0,2% grave
3m - -0,9% grave
3M - +0,8% agudo
4J - +0,1% agudo
5dim - +0,6% agudo
5J - -0,1% grave
6m - -0,8% grave
6M - +0,9% agudo
7m - -1,0% grave
7M - +0,7% agudo
8J - - perfeito

19
Afinando um violão no tempero ideal

O Violão

C hegamos finalmente ao violão.


Como aplicarmos tudo isso na
afinação desse instrumento?
Além disso, o violão possui um braço onde
estão fixados diversos trastes de metal,
posicionados para variar o som de cada
uma dessas cordas de semitom em semi-
O violão possui seis cordas, numeradas da tom, ou seja, dentro da escala cromática.
mais aguda para a mais grave. Cada corda Mas, como sabemos, deve-se definir que
possui uma nota na qual é afinada, e que é tipo de “ajuste” essa escala possui. E, no
uma herança provinda dos instrumentos violão, esse ajuste é o do temperamento
antecessores do violão, como o Alaúde igual. Ou seja, é um instrumento prepa-
Renascentista e a Guitarra Barroca. rado para todas as tonalidades.

1 Mi
2 Si Sol
3
4 Ré Lá
5
6 Mi

½ ½ ½ ½

Essa disposição das notas-base das cordas Afinar o violão significa ajustar as freqüên-
é resultado de um longo processo histórico cias com que vibram as suas cordas de
de evolução do instrumento. Nele, se forma a fazê-las soar de acordo com a
buscou conseguir uma configuração que maneira para a qual o instrumento foi
propiciasse equilíbrio entre graves e agu- concebido. Para tanto, é preciso fazer algo
dos, boa sonoridade, facilidade de tocar e parecido com o que Pitágoras fez com o
que fosse possível de ser atingida num monocórdio: usar uma corda como base de
instrumento com as dimensões do violão. comparação para afinar as outras.
Assim, atualmente, a configuração mais
utilizada é a seguinte: O princípio básico é tomar uma referência
externa, afinar uma das cordas, e depois
(1) Mi, (2) Si, (3) Sol, (4) Ré, (5) Lá, (6) Mi afinar as demais cordas por comparação
com esta primeira.
Essa seqüência é uma seqüência consa-
grada e estabilizada há mais de dois sécu- Mas, existem muitos equívocos que podem
los, e, conforme dissemos, fruto de muitos ser cometidos ao se tentar afinar um
séculos anteriores de experimentação. violão. Algumas observações importantes:

20
Samuel Huh

1 Não afinar o que não deve ser afinado

A escala do instrumento, a posição dos


2
Usar uma referência externa segura

Pra começar a afinar o violão, você precisa


trastes no braço, foi dimensionada para obter alguma referência externa que lhe
ser uma escala temperada, num sistema forneça uma nota inicial confiável. A partir
de temperamento igual. Ou seja, exceto as dela, você irá afinar alguma das cordas do
oitavas, todos os demais intervalos devem seu instrumento. Existem muitos apare-
ficar desafinados. Se você afinar perfeita- lhos e objetos que cumprem esse papel:
mente uma terça, por exemplo, de acordo diapasão de garfo, afinadores eletrônicos,
com os intervalos naturais, alguns dos outros instrumentos, etc...
outros intervalos vão ficar insuportáveis. É
como um cobertor curto. O diapasão de garfo é um objeto metálico
construído de forma a vibrar emitindo a
Ao tocar um acorde de Mi Maior, e tentar nota Lá (freqüência 440 Hertz). Com base
afinar a terceira corda para o Sol sustenido nesta nota, você pode afinar a corda Lá do
soar perfeitamente, isso vai geral maiores violão, por exemplo. Isso se faz apertando
desafinações em outros acordes. A terça ou afrouxando a corda, até que o som dela
natural é 0,8% mais grave que a tempe- chegue na mesma nota do som do diapa-
rada. Ou seja, a terceira corda vai ficar são. Mas cuidado, o som da corda não é
mais grave do que deveria. necessariamente na mesma oitava do som
do diapasão. Geralmente a corda deve ficar
Saiba diferenciar o que é uma desafinação algumas oitavas mais grave.
excessiva com o que é o temperamento da
escala usada pelo instrumento. Já o afinador eletrônico indica, ao ser
tocada uma corda, em que afinação ela
está. Dessa forma, é possível apertar ou
afrouxar a corda até que ela chegue na
nota adequada.

Quando se vai tocar em conjunto, é preciso


tomar o cuidado especial de afinar um
instrumento em relação ao outro. Pra isso,
basta escolher um instrumento que esteja
afinado como referência. Em orquestras,
por exemplo, o primeiro violino geralmente
se responsabiliza por dar a nota de refe-
rência a todos os outros instrumentos.

Existem diversas outras formas de se obter


uma referência externa. Só cuidado pra
não usar uma referência desafinada.

Ao afinar uma corda assim, pode-se afinar


as demais tomando esta corda como base.

21
Afinando um violão no tempero ideal

3
Usar apenas uma corda de referência Apesar de muito comum e teoricamente
correto, esse método é altamente desacon-
selhado. Ao afinar cada corda com base na
anterior, você corre o risco de propagar
A próxima consideração é que é necessário qualquer erro cometido de uma corda para
usar sempre uma mesma corda base para outra. E mesmo acumular erros a ponto de
afinar as demais. Por um motivo simples: gerar uma grande desafinação no final.
não propagar o erro.
O ideal é usar uma única corda de referên-
Digamos que você tome como base a sexta cia, e comparar todas as demais a ela. No
corda, e resolva afinar as outras. Para isso, quadro abaixo, apresentamos duas formas
usa aquele método famoso e muito difun- possíveis de se fazer isso.
dido:
Dessa forma, temos uma afinação teorica-
Apertar a 6ª corda na casa 5, produzindo mente correta, usando uma única corda de
assim a nota Lá, e comparar com a 5ª corda referência. Além disso, são respeitados
solta. Depois, apertar a 5ª corda na casa 5, outros princípios importantes: utilizar
produzindo a nota Ré, e comparar com a 4ª somente harmônicos de oitava e nunca
corda solta. E assim por diante, com uma comparar duas cordas presas. Mas talvez
corda sempre sendo apertada pra produzir ainda seja necessário fazer ajustes, devido
a nota da corda seguinte. à deformação das cordas.

»
.
Afinar a 5ª corda solta, Lá, através de
alguma referência externa confiável. » Afinar a 1ª corda, presa na casa 5, com
um Lá obtido de referência externa.

Corda 6: presa na casa 5 (obtendo a nota Corda 2: produzir harmônico na casa 12


Lá), afinar comparando com a 5ª corda (Si) e afinar comparando com a 1ª corda
solta (Lá). presa na casa 7 (Si).
Corda 4: solta (Ré), comparando com a 5ª Corda 3: produzir harmônico na casa 12
corda presa na casa 5 (Ré). (Sol) e afinar comparando com a 1ª corda
Corda 3: presa na casa 2 (Lá), comparando presa na casa 3 (Sol).
com a 5ª corda solta, ou com o seu harmô- Corda 4: produzir harmônico na casa 5 (Ré)
nico oitavado (ver item 6) da casa 12 (Lá). e afinar comparando com a 1ª corda presa
Corda 2: solta (Si), comparando com a 5ª na casa 10 (Ré).
corda presa na casa 2, ou com o harmônico Corda 5: produzir harmônico na casa 5 (Lá)
oitavado produzido na casa 14 mantendo a e afinar comparando com a 1ª corda presa
casa 2 apertada (Si). na casa 5 (Lá).
Corda 1: presa na casa 5 (Lá), comparando Corda 6: produzir harmônico na casa 5 (Mi)
com a 5ª corda solta ou com o seu harmô- e afinar comparando com a 1ª corda solta
nico oitavado na casa 5 (Lá). (Mi).

22
Samuel Huh

4 Fazer ajustes devido à deformação


das cordas (se necessário)

Teoricamente, afinando como explicado


composições diferentes.

As cordas do violão são de espessuras e


materiais diferentes. Algumas têm cobre,
outras somente nylon. Isso quando não se
acima, teríamos os intervalos da escala de usa cordas de aço, carbono ou tripa.
temperamento igual, todos imperfeitos em Mesmo os nylons podem ter composições
relação aos naturais (mas suportáveis), químicas um pouco diferentes. E isso faz
exceto o intervalo de oitava que é perfeito. com que cada corda tenha um comporta-
Porém, mesmo usando todos esses conhe- mento diferente ao ser apertada e conse-
cimentos, existe um fator de complicação a qüentemente deformada.
mais que pode nos obrigar a fazer
pequenos ajustes: a deformação que as A terceira corda (Sol), de nylon, é famosa
cordas sofrem ao serem apertadas. por ser difícil de afinar. Se afinarmos a
corda solta exatamente no Sol temperado,
Essa deformação gera desvios muitas as notas em posições mais agudas nessa
vezes imprevisíveis, e exige que sejam corda costumam soar com afinação alta
analisados caso a caso de acordo com a demais devido à deformação. Daí, pode-se
corda e o instrumento que se possui. solucionar isso abaixando um pouco a

4 5 6
1 2 3

braço

Repare que, quando soltas, as cordas afinação da corda Sol. De certa forma, pra
possuem comprimentos iguais, delimi- alguns acordes como o Mi Maior na pri-
tados pela pestana e pelo rastilho do violão. meira posição, isso também vai aliviar a
Porém, ao apertarmos uma delas, a diferença da terça Mi-Sol#, que é aguda
estamos esticando, tornando-a um pou- demais na escala temperada. Mas pode
quinho mais comprida. Algumas cordas, prejudicar outros intervalos que precisem
como a sexta, ficam a uma distância maior da corda Sol solta.
do braço do violão do que outras e, quando
apertadas, esticam mais. Assim, esse ajuste pela deformação das
cordas deve ser pensado caso a caso,
A primeira corda sofre menos deformação considerando que sempre vão haver
que a sexta, por esse mesmo motivo. Mas, algumas posições que irão ficar piores do
cada corda pode se comportar diferente- que as outras. Cabe a você decidir onde é
mente na sua deformação também pelo mais importante soar bem e onde soar mal
fato de terem espessuras, afinações e é menos prejudicial.

23
Afinando um violão no tempero ideal

5
Não comparar duas cordas presas tempo em que a toca com um dos outros
dedos. Este último procedimento faz soar a
oitava daquela nota presa. Em geral, o
dedo deve ser encostado bem acima, ou
Pelo problema da deformação, não é indi- perto, de algum dos trastes.
cado comparar duas cordas presas. Ao
prendermos uma corda ela já se deforma Afinar por harmônicos é extremamente
de forma imprevisível. Ao prendermos perigoso. Os sons produzidos por esse
duas, temos um problema ainda maior. procedimento são da escala natural. Aí,
estariam sendo utilizadas notas do sistema
O ideal é usar sempre uma corda solta e natural de uma corda para afinar um
uma presa. instrumento no sistema de temperamento
igual, causando uma grande mistura.
Se usarmos duas cordas soltas e afinar
pelo ouvido, a nossa tendência vai ser sair Cada corda gera uma série harmônica
dos intervalos temperados. diferente, e esses harmônicos não servem
de base de comparação pra afinar. A única
Se usarmos duas cordas presas, temos o exceção seria a dos harmônicos que pro-
problema descrito acima. duzem uma oitava, pois as oitavas natu-
rais são exatamente iguais às oitavas do
Ao usar uma corda solta e uma presa, sistema temperado, podendo ser utilizadas
restringimos o problema da deformação, e sem problema. Já o harmônico da casa 7,
utilizamos as notas do sistema temperado gera uma quinta natural que é 0,1% mais
do violão. Assim, essa é uma solução mais aguda que a quinta temperada. Assim, se
segura. afinarmos comparando os harmônicos das
casas 5 e 7, o que é uma prática comum,
teremos um resultado impreciso.

6 Tomar cuidado com harmônicos Mas, é necessário observar que alguns


músicos, mesmo cientes desse fato, ainda
utilizam essa afinação por harmônicos de
sétima casa. Comparam duas cordas, uma
No violão, harmônico é o nome que se dá a delas solta (ou com harmônico oitavado) e
um som produzido ao encostar de leve o outra com o harmônico da casa 7 (que gera
dedo em determinadas regiões da corda, uma quinta natural). Daí, afinam, e depois
sem apertar, e tocar a corda em questão. ajustam o intervalo entre essas cordas a
Isso faz soar notas da sua série harmônica. fim de compensar os 0,1% e voltar à afi-
nação temperada. Esse ajuste é feito afrou-
Dependendo do harmônico que queira xando ou apertando (dependendo do caso)
produzir, encoste o dedo bem na metade da um pouquinho a corda que está sendo
corda (fazendo soar a oitava), ou em um afinada, e mantendo a corda base inalte-
terço dela (fazendo soar a quinta), ou em rada. Seria uma forma de usar só cordas
outras posições. Ou então, aperte a corda soltas, evitando o problema da deforma-
em uma casa, com a mão esquerda, e, com ção. Porém, é preciso um ouvido refinado,
a mão direita, encoste o indicador na corda já que o ajuste é de apenas 0,1%, sendo um
12 casas acima da casa presa, ao mesmo procedimento muito delicado.

24
Samuel Huh

7
Não tentar eliminar todos os bati-

8
Saber usar afinadores eletrônicos
mentos

Quando dois sons operam em freqüências Usar um afinador eletrônico para afinar as
iguais, ou múltiplas, eles soam muito bem seis cordas soltas seria teoricamente ideal.
juntos. Porém, se existir algum pequeno O afinador já está regulado pela escala
desvio na afinação, você poderá ouvir uma temperada, e garantiria uma afinação
espécie de oscilação no som ao tocar as precisa. Porém, existem três problemas:
duas notas juntas. Como se fosse uma
sirene bem suave (em alguns casos, nem - Se uma música tem uma característica
tão suave assim). Essa oscilação é cha- especial de exigir certos intervalos, e não
mada de batimento. exigir outros, pode ser teoricamente pos-
sível ajustar a afinação de alguns inter-
Quando se ouvem batimentos, é sinal de valos em determinadas posições do braço
que as notas estão desafinadas entre si. do violão para soarem mais naturais. Aí, o
afinador não ajuda e é necessário usar
Os batimentos podem ser muito úteis, pois somente o ouvido.
é mais fácil ouvi-los, em alguns casos, do
que perceber a desafinação entre duas - A deformação das cordas pode exigir que
notas. Aí, eliminando o batimento, elimi- um pequeno ajuste seja feito a fim de
namos a desafinação. alinhar a afinação de forma geral. Aí, o
afinador pode servir de base, mas será
No caso do violão, devido à escala tempe- necessário fazer esse ajuste pelo ouvido.
rada, só se deve usar os batimentos para
afinar quando se está comparando duas - Os afinadores eletrônicos não são 100%
notas iguais, ou oitavadas. precisos. Eles trabalham dentro de uma
margem de variação. Ou seja, muitas vezes
Se quisermos eliminar os batimentos de o que o afinador indica como sendo afi-
um intervalo de quinta ou de terça, por nado, pode estar ligeiramente acima ou
exemplo, estaremos desafinando os outros abaixo do correto, e isso pode resultar que
intervalos. as cordas fiquem nitidamente fora da
afinação ideal. Assim, um ajuste final pelo
Ou seja, em todos os intervalos, menos nos ouvido será necessário.
uníssonos e nas oitavas, vão, e devem,
haver batimentos. Mas contente-se que É preciso saber usar o afinador dentro das
pelo menos nenhum vai uivar como um limitações que ele possui. E tenha cons-
lobo! ciência de que será necessário um ocasi-
onal ajuste de acordo com o que se deseja
na afinação. O ouvido bem treinado tem
um grau de precisão invejável, e o afinador
ajuda, mas não o substitui.

25
Afinando um violão no tempero ideal

Considerações Finais

C hegamos à conclusão de que é


impossível afinar perfeitamente um
violão.
Afinar é saber pesar beleza e utilidade.
Muitas vezes, temos que abrir mão de um
pouco da primeira em prol da última. Ou
seja, concordar em desafinar e tornar
Em primeiro lugar, porque a escala de menos belos alguns intervalos a fim de
temperamento igual é uma escala com poder utilizar o instrumento em determi-
diversas desafinações na sua própria nadas situações
concepção.
É uma solução de compromisso que exige
Em segundo lugar, porque a deformação mais do que máquinas para se resolver,
das cordas vai acabar fazendo algumas mas necessita de ponderação, maturidade
notas saírem do ajuste ideal, mesmo tem- musical, um bom ouvido e saber o que se
perado. Alguns instrumentos são constru- quer buscar como resultado sonoro em
ídos com trastes, rastilhos e pestanas cada situação.
posicionados de forma a tentar compensar
essa deformação, o que é uma grande A pequena coma pitagórica, que impossibi-
ajuda, mas não conseguem eliminar com- lita o ciclo das quintas de se fechar, vem
pletamente esse problema. sendo um motivo de luta ao longo de toda a
história da música, e é um legado com que
Em terceiro lugar, o próprio instrumento todos temos de aprender a conviver. Achar
pode ter problema de afinação. Para con- o ponto desse tempero é uma decisão
ferir se existe esse problema, compare os difícil, mas obrigatória.
harmônicos da casa 12 com as notas
presas nessa mesma casa. Se existir uma Como diz o ditado, o violonista passa
diferença consistentemente presente em metade da vida afinando e metade da vida
todas as cordas, é sinal de que a cons- tocando desafinado. Mas não desista, nem
trução do instrumento não foi precisa, ou todo mundo que te escutar terá um ouvido
que o braço está empenado, torto. bom.

26

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