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João Policarpo
jprlima@ufpe.br
RESUMO
A desigualdade no Brasil apresenta uma trajetória de suave queda desde 1993.
Este artigo mostra que o país apresentou uma redução considerável na pobreza,
especialmente nos últimos anos. Percebe-se nesta avaliação que a força para esta redução
está na redução da desigualdade de renda e não no crescimento econômico do país.
Conclui-se que os programas de transferência de renda que se intensificaram a partir de
2003 certamente desempenharam um papel bastante relevante para a redução da pobreza
no Brasil.
De uma forma mais detalhada, foi observado pelo o autor que o crescimento
econômico era acompanhado por uma tendência de menor participação do setor agrícola
e uma expansão da industrialização e urbanização. A distribuição de renda da população
total, na sua forma mais simples, poderia ser vista como uma combinação da distribuição
de renda da população do setor rural e urbano com as seguintes características: (1) a
renda per capita média da população rural é usualmente menor que a da população
urbana; (2) a desigualdade nas participações percentuais dentro da distribuição da
população rural é menor que a da população urbana. Assim, tudo mais mantido constante,
um aumento da ponderação da população urbana significa um acréscimo da participação
dos mais desiguais nos dois componentes da distribuição. Por outro lado, a diferença na
renda per capita entre a população rural e a urbana não se reduz necessariamente no
processo de crescimento econômico; pelo contrário, ela tende a aumentar.
onde:
G = coeficiente de Gini
X = proporção acumulada da variável "população"
Y = proporção acumulada da variável "renda"
Coeficiente de gini no período de 1990 a 2009
0.7
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0
90
92
96
02
06
08
94
98
00
04
19
19
20
20
19
19
19
20
20
20
Período
Gráfico 3: Taxa de Crescimento da Renda por Centésimo entre 2008 e 2004, 2005, 2006, e
2007
A curva azul mostra que de 2004 a 2008 o ganho de renda dos centésimos
superiores foi em torno de 20%. Nada desprezível, mas bem inferior aos 40% para os
dois décimos inferiores na distribuição de renda.
Em 2008, as mudanças foram ainda mais intensas e equalizantes (veja gráfico 5).
De fato, no período 2001-08, enquanto a renda familiar per capita da população como
um todo cresceu 2,8% ao ano, entre os 10% mais pobres cresceu quase três vezes mais
rápido (8,1% ao ano) e entre os 10% mais ricos cresceu à metade (1,4% ao ano). A taxa
de crescimento da renda dos 10% mais pobres foi mais de cinco vezes a dos 10% mais
ricos.
Gráfico 5 : Taxa de Crescimento médio da renda domiciliar per capita por décimos da
distribuição no último ano: Brasil, 2007 e 2008
a) 52% dos beneficiários dos programas de transferência de renda estão entre os 20%
mais pobres da população, isto é, em famílias de renda per capita abaixo de um terço
de salário mínimo;
b) cerca de 70% dos beneficiários pertencem a famílias cuja renda per capita é inferior
a 25% do salário mínimo;
c) 91% dos beneficiários estão na metade mais pobre da população (abaixo de R$ 208 em
2004);
d) 95% dos beneficiários estão em famílias de renda per capita abaixo de um salário
mínimo.
Percebe-se que estas relações são relevantes para um país como o Brasil, que
vem apresentando um nível de crescimento baixo nas últimas duas décadas. O
crescimento na renda per capita no período 2001-2005 foi muito lento. O PIB cresceu
cerca de 3,5%, ou 0,9% ao ano. Portanto, isso significa que a pobreza não teria diminuído
de forma expressiva se a desigualdade tivesse permanecido inalterada.
Este estudo teve como objetivo avaliar a evolução dos índices de desigualdade e
pobreza no Brasil em seis regiões metropolitanas: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio
de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. A expectativa de que a queda na produção e no
emprego se repetiria em variáveis sociais, como ocorreu em outros períodos de crise, no
entanto, não se confirmou.
Após ter aumentado entre agosto de 2002 e abril de 2003, a taxa de pobreza do
Brasil metropolitano apresentou tendência de queda. Em março de 2002, 18,5 milhões de
brasileiros estavam em situação de pobreza. Em junho de 2009 esse número havia
baixado para 14,4 milhões. A diferença, de 4 milhões de pessoas, configura queda de
26,8% da taxa de pobreza, que passou de 42,5% para 31,1% no período.
Em junho de 2009, o índice de Gini ficou em 0,493, com o menor patamar nas seis
regiões metropolitanas. Entre janeiro (0,514) e junho de 2009, o índice de Gini caiu
4,1%, a mais alta queda registrada desde o ano de 2002. Se o período analisado for de
março de 2002 (0,534) até junho de 2009, a queda foi de 7,6%. Se for considerado o mês
de mais alta medida de desigualdade, que foi dezembro de 2002 (0,545), a queda do
índice até junho de 2009 foi de 9,5%.
6. Considerações finais
Referências:
MANKIW, N.; ROMER, D.; WEIL, D.; A Contribution to the Empirics of Economic
Growth. Quarterly Journal of Economics, v.107, p.407-437, May 1992.
ROMER, Paul M. Increasing returns and long run growth. Journal of Political
Economy,94, p. 1002-1037, oct. 1986.