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Tradução da Entrevista de Ricardo Seitenfus para o Le Temps Sobre o Haiti

Published 27 de dezembro de 2010 | By Política Externa.com

Tradução do francês por Daniel Cardoso Tavares


Fonte: http://www.letemps.ch/

Le Temps: Dez mil capacetes azuis no Haiti. Para o senhor, uma presença contra-
produtiva…

Ricardo Seitenfus: O sistema de prevenção de litígios dentro do sistema onusiano não está
adaptado para o contexto haitiano. O Haiti não é uma ameaça internacional. Não existe uma
situação de guerra civil. O Haiti não é o Iraque ou o Afeganistão. E ainda assim o Conselho de
Segurança, por menos alternativas que tivesse, impôs os capacetes azuis em 2004, depois da
saída do Presidente Aristide. Desde 1990, estamos aqui em nossa oitava missão da ONU. O
Haiti vive o que chamo de um conflito de baixa intensidade desde 1986, com a saída de Jean-
Claude Duvalier.

Somos confrontados pela luta entre atores políticos que não respeitam a democracia. Parece-me
que o Haiti, no cenário internacional, paga pela sua grande proximidade com os EUA. O Haiti é
objeto de uma atenção negativa de parte do sistema internacional. A ONU acaba transformando
os haitianos em prisioneiros em sua própria ilha. A angústia do povo explica muitas das
decisões internacionais em relação ao Haiti. Querem mantê-los, a todo preço, limitados.

O que impede a normalização do caso haitiano?

Durante duzentos anos, a presença de tropas estrangeiras alternou-se com a dos ditadores. É a
força que define as relações internacionais com o Haiti, jamais o diálogo. O pecado original
haitiano em relação ao cenário mundial foi sua libertação. Os haitianos fizeram o inaceitável em
1804: um crime de lesa-majestade em um mundo inquieto. O Ocidente era um mundo
colonialista, escravagista e racista, que baseava sua riqueza na exploração das terras
conquistadas. Assim, o modelo revolucionário haitiano trouxe o medo às grandes potências. Os
EUA não reconheceram a independência haitiana até 1865 e a França exige o pagamento de
uma indenização para que aceitasse a libertação. Desde a revolta, a independência está
comprometida e o desenvolvimento do país está paralisado. Como o mundo nunca soube lidar
com o Haiti, acabou por ignorá-lo.

Iniciaram-se os 200 anos de solidão no cenário internacional. Hoje, a ONU aplica cegamente o
capítulo 7 da sua Carta, enviando tropas para impor sua operação de paz. Nós não resolvemos a
situação de ninguém, mas sim criamos um império. Todos querem fazer do Haiti um país
capitalista, uma plataforma perfeita de exploração para o mercado americano, isso é um
absurdo. O Haiti deve retornar ao que é, ou seja, um país essencialmente agrícola ainda
fundamentalmente impregnado pelo direito consuetudinário. O país é sempre retratado em
termos de violência, mas, sem o Estado, o nível de violência é apenas uma fração daquele dos
países da América Latina. Existem elementos dentro dessa sociedade que têm impedido que a
violência espalhe-se de forma descontrolada.

Esta não seria uma forma de ver no Haiti uma nação sem capacidade de assimilação, onde
o único horizonte seria o retorno aos valores tradicionais?
Existe uma parte do Haiti que é moderna, urbana e voltada ao estrangeiro. Estima-se que 4
milhões de haitianos vivam fora de suas fronteiras. Este é um país aberto ao mundo. Eu não
sonho com o retorno ao século XVI, à uma sociedade agrária. Porém, o Haiti vive sob influência
internacional, das ONGs, da caridade universal. Mais de 90% do sistema educacional e de saúde
são privados. O país não dispõe de recursos públicos para poder fazer funcionar de uma maneira
mínima um sistema estatal. A ONU não se deu conta dos traços culturais. Resumir o Haiti a
apenas uma operação de paz é economizar na capacidade de entender os verdadeiros desafios
que o país enfrenta. O problema é sócio-econômico. Quando a taxa de desemprego chega a
80%, é insuportável manter uma missão de estabilização. Não há ninguém para estabilizar e
tudo a construir.

O Haiti é um dos países mais ajudados do mundo e a situação apenas piorou nos últimos
25 anos. Por quê?

A ajuda de urgência é ineficaz. Quando ela substitui o Estado de forma estrutural em todas as
suas obrigações, chega-se a uma desresponsabilização coletiva. Se existe uma prova do fracasso
da ajuda internacional, esta é o Haiti. O país tornou-se a Meca. O terremoto de 12 de janeiro e
depois a epidemia de cólera apenas acentuaram o fenômeno. A comunidade internacional tem a
sensação de ficar repetindo os esforços que havia completado no dia anterior. A fadiga do Haiti
começa a aflorar. Esta pequena nação surpreende a consciência mundial com suas catástrofes
cada vez maiores. Eu tinha a esperança de que, depois do terremoto de 12 de janeiro, o mundo
compreenderia que havia tomado o caminho errado no Haiti. Infelizmente, ele apenas reforçou a
mesma política. Ao invés de fazer um balanço, enviou mais soldados. Deveria ter construído
estradas, criado barragens, participado da organização do Estado, do sistema judiciário. A ONU
disse que não tinha o poder para isso. Sua tarefa no Haiti é a de manter a paz dos cemitérios.

Qual o papel das ONGs nesse fracasso?

Desde o terremoto, o Haiti tornou-se uma encruzilhada incontornável. Para as ONGs


transnacionais, o Haiti transformou-se em um lugar de passagem forçada. Eu diria mesmo que
pior que isso: de formação profissional. A idade dos agentes que chegam depois do terremoto é
muito baixa; eles chegam ao Haiti sem qualquer experiência. O Haiti, o povo lhe dirá, não é
lugar para amadores. Depois de 12 de janeiro, por conta do recrutamento em massa, a qualidade
profissional caiu muito. Existe uma relação maléfica ou perversa entre a força da ONU e a
fraqueza do Estado Haitiano. Algumas ONGs só sobrevivem às custas do infortúnio haitiano.

Quais erros foram cometidos depois do terremoto?

Diante da importação maciça de bens de consumo para nutrir os desabrigados, a situação da


agricultura haitiana piorou. O país oferece um campo livre para todas as experiências
humanitárias. É inaceitável do ponto de vista moral considerar o Haiti como um laboratório. A
reconstrução do Haiti e a promessa que fizemos de 11 bilhões de dólares inflamaram as paixões.
Parece que uma multidão de pessoas vive no Haiti, não pelo país, mas para fazer negócios. Por
mim, que sou americano, é uma ofensa à nossa consciência. Um exemplo: é em Cuba que se
formam os médicos haitianos. Mais de 500 receberam educação em Havana. Mais da metade
deles, apesar de deverem estar no Haiti, trabalham hoje nos EUA, no Canadá e na França. A
revolução cubana é uma forma de financiar a formação de recursos humanos para nossos
vizinhos capitalistas.

O Haiti é constantemente descrito como às margens do mundo, o senhor, pelo contrário vê


o país como um concentrado do mundo contemporâneo…

É o concentrado de nossos dramas e dos fracassos da solidariedade internacional. Não estamos à


altura do desafio. A imprensa mundial vem no Haiti e descreve o caos. A reação da opinião
pública não espera: para ela o Haiti é um dos piores países do mundo. Deve-se, contudo, ir à
cultura haitiana e ao local. Eu acredito que existem muitos médicos ao redor do doente e a
maioria desses médicos são economistas. No Haiti precisamos de antropólogos, sociólogos,
historiadores, politólogos e mesmo teólogos. O Haiti é muito complexo para os apressados; os
que cooperam são apressados. Ninguém perde tempo nem há vontade de tentar compreender
aquilo que pode-se chamar de alma haitiana. Eles bem sabem que nós, a comunidade
internacional, somos como vacas a sermos ordenhadas. Eles querem lucrar com essa presença e
o fazem com maestria extraordinária. Se eles nos consideram apenas pelo dinheiro que lhes
levamos, isso acontece porque os acostumamos com isso.

Apesar dos fracassos constatados, quais soluções você apresenta?

Em dois meses, terei terminado uma missão de dois anos no Haiti. Para ficar aqui e não ser
dominado pelo que vejo, tive que criar uma série de defesas psicológicas. Eu quis permanecer
independente a despeito do peso da organização que represento. Eu continuei por querer
exprimir minhas profundas dúvidas e dizer ao mundo que basta. Basta de manipular o Haiti. O
12 de janeiro mostrou-me que existe um potencial de solidariedade extraordinário no mundo.
Não esquecendo que nos primeiros dias foram os haitianos sozinhos quem, de mãos nuas,
tentaram salvar seus próximos. A compaixão é extremamente importante em meio à urgência.
Porém, a caridade não pode ser o motor das relações internacionais. Eles são a autonomia, a
soberania, o comércio justo e o respeito pelos outros. Devemos pensar simultaneamente em
oferecer oportunidades de exportação para o Haiti, mas também proteger sua agricultura
familiar que é essencial para o país. O Haiti é o último paraíso do Caribe ainda inexplorado pelo
turismo, com 1700 km de costas virgens; nós devemos favorecer um turismo cultural e evitar
pavimentar o caminho para um novo eldorado do turismo de massas. As lições que damos são
ineficazes no longo prazo. A reconstrução e o acompanhamento de uma sociedade tão rica são
as últimas grandes aventuras humanas. Há 200 anos, o Haiti iluminou a história da humanidade
e os direitos humanos. Devemos agora deixar aos haitianos uma chance de confirmarem sua
visão.

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