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PEDIATRIA (SÃO PAULO) 2009;31(3):186-97

186 n Artigo ORIGINAL

Negligência e abandono de crianças e adolescentes: análise


dos casos notificados em município do Paraná, Brasil
Neglect and abandonment of children and teenagers: analysis
of notified cases in a county in Paraná, Brazil

Negligencia y abandono de la niños y adolescentes: análisis


de los casos comunicados en un municipio del Paraná, Brasil

Christine Baccarat de Godoy Martins1, Maria Helena Prado de Mello Jorge2


1
Doutora em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Docente
da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) – Cuiabá, Departamento de Enfermagem, Área Saúde da
Criança e do Adolescente.
2
Livre-Docente da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Departamento de
Epidemiologia.

Resumo É preciso que os órgãos competentes trabalhem


para a detecção precoce, a fim de possibilitar trata-
Introdução: A negligência e abandono consti- mento e acompanhamento adequados que possam
tuem-se uma das formas mais frequentes de maus reduzir as importantes sequelas decorrentes.
tratos. No entanto, seu conhecimento ainda está em
processo de construção. Objetivo: Analisar as carac- Descritores: Negligência. Abandono. Maus-tratos.
terísticas da negligência/abandono contra menores Criança. Causas externas.
de 15 anos residentes em Londrina, PR, cujo evento
foi notificado aos Conselhos Tutelares e serviços de Abstract
atendimento, em 2006. Método: Estudo transversal
e descritivo, cujos dados foram processados pelo Introduction: Neglect and abandonment are the
programa Epi Info. Resultados: Foram obtidos 308 most frequent forms of maltreatment. However, the
casos, cuja notificação se deu, principalmente, por knowledge of such is still being established. Objective:
profissionais de saúde (67,2%). As vítimas do sexo To analyze the characteristics of neglect/abandonment
feminino predominaram (72,7%) e maiores coefi- against minors under age 15 resident in Londrina,
cientes foram aos 4 anos (13,8 e 5,0 por 1.000 no PR, the occurrence of which was notified to Tutelary
sexo feminino e masculino, respectivamente). Os Councils and attendance services, in 2006. Method:
agressores foram mãe (69,5%) e madrasta (22,2%). This study, transversal and descriptive, Data were
As questões da maternidade, ou seja, presença processed by means of the Epi Info software. Results:
de filho não natural (32,8%) e a pouca idade da 308 cases were obtained, which were mainly noti-
mãe (20,8%) foram as características mais asso- fied by health professionals (67.2%). Female victims
ciadas. As vítimas sofreram o abuso por 1 a 2 anos prevailed (72.7%) and highest coefficients were for
antes da notificação (62,7%). Conclusões: O estudo the age of 4 (13.8 and 5.0 per 1,000 for female and
contribui para ampliar o conhecimento acerca da male gender respectively). The aggressors were the
negligência e abandono praticada contra menores. mother (69.5%) and the stepmother (63.1%). Issues
Negligência e abandono de crianças e adolescentes: análise dos casos notificados em município do Paraná

involving maternity (32.8%) and motherhood at com outros maus-tratos, vêm alarmando diversos 187
young age (20.8%) were risk situations. Most of the setores da sociedade por seus crescentes índices e
victims had suffered abuse for 1-2 years prior to noti- pelas lesões e traumas decorrentes4, tanto na esfera
fication (62.7%). Conclusions: The outcomes add to the física (desde pequenas cicatrizes até danos cere-
knowledge of neglect and abandonment of children brais permanentes, inclusive a morte), como nas
and teenagers. The competent authorities need work esferas psicológica (baixa auto-estima, desordens
towards precocious detection in order to enable proper psíquicas graves), cognitiva (deficiência de atenção,
treatment and attendance of the victims as to reduce distúrbios de aprendizado, distúrbios orgânicos
the devastating sequelae. cerebrais graves), emocional e comportamental
(dificuldade de estabelecer relações interpessoais,
Keywords: Neglect. Abandonment. Maltreatment. comportamentos suicidas e criminosos)5-7, que
Child. External causes. podem se manifestar a curto, médio e longo prazo8.
Neste sentido, é preciso destacar não somente as
Resumen consequências físicas da negligência e do abandono,
mas sua importante repercussão biopsicossocial9.
Introducción: La negligencia y abandono consti- Há que se considerar, ainda neste contexto, não
tuyen una de las formas más frecuentes de malos apenas a negligência praticada no âmbito fami-
tratos. Sin embargo, su conocimiento está en proceso liar, mas também a negligência estrutural e social,
de construcción. Objetivo: Estudiar las características representada pela pobreza, violação dos direitos
de negligencia y abandono contra menores de 15 años, humanos, fatores raciais, desigualdade social, dimi-
residentes en el municipio de Londrina - Pr, comuni- nuição do nível de educação, impunidade, inexis-
cados a los Consejos Tutelares y a programas de aten- tência de leis de proteção, presença de armas,
ción, en 2006. Métodos: Diseño metodológico cuanti- acesso a drogas e álcool, trabalho infantil, presença
tativo, cuyos datos fueron procesados electrónicamente de crianças e adolescentes em situação de rua ou
a través del programa Epi Info. Resultados: Fueron de institucionalização, ausência ou precariedade de
estudiados 308 casos, cuya notificación ocurrió, con políticas públicas e de serviços de atenção para as
mayor frecuencia, por profesionales del salud (67,2%). crianças/famílias, desvalorização da criança7, 10-14.
Las víctimas del sexo femenino predominaron (72,7%) Alguns autores apontam que a negligência se
y la faja etaria de mayor riesgo fue la de 4 años posiciona entre os limites da pobreza e dos maus-
(13,8por 1.000 en lo sexo femenino y 5,0 por 1.000 tratos, pois a miséria impossibilita a família de
en lo sexo masculino). Los agresores más frecuentes prover os requisitos básicos para os cuidados com
fueron la madre (69,5%) y la madrastra (22,2%). a criança1-3. Há que se considerar, neste aspecto,
Los conflictos maternales en decurrencia de hijos no que a falta de recursos para moradia e alimen-
naturales (32,8%) y la edad reducida de la madre tação, aliada à baixa escolaridade, ao subemprego, à
(20,8%) fueron las características más frecuente. Las baixa renda e ao saneamento precário, dificultam a
víctimas amargaran el abuso por 1 a 2 años antes de atenção digna à infância. Desta forma, a dificuldade
la notificación (62,7%). Conclusiones: Los resultados em determinar os limites entre falta de condições
contribuyen para ampliar el conocimiento epidemi- e prática abusiva prejudica a real estimativa deste
ológico de negligencia e abandono contra menores de tipo de violência2. Neste sentido, seu conhecimento
15 años. Ha exigido que los órganos competentes desar- ainda está em processo de construção em função de
rollo de estrategias y políticas para su detección, para sua complexidade15, da relativa inconsistência dos
que posan romper las cadenas de determinación, con dados, da ausência de registros e do pouco conhe-
tratamiento y profilaxis de las consecuencias. cimento sobre estes agravos16.
Apesar da negligência e o abandono consti-
Palavras-clave: Negligencia. Abandono. Malos tratos. tuírem uma das formas mais frequentes de maus
Niño. Causas externas. tratos, alia-se, aos fatores descritos acima, a dificul-
dade dos profissionais de saúde em identificar estes
Introdução casos, cujos sinais podem ser mais subjetivos do que
a agressão física que produz lesões visíveis17. Apesar
A negligência e o abandono, definidos pela dos maus-tratos contra a criança constituírem um
omissão de cuidados e de atendimento às necessi- agravo de notificação compulsória em todo o terri-
dades físicas e emocionais da criança1-3, juntamente tório nacional desde 200116,18, estudos demonstram
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188 o desconforto, despreparo e dúvidas dos profissio- Serviço Disque-Denúncia da Sub-Secretaria de


nais de saúde quanto ao manejo do problema15,19, Desenvolvimento Humano – Secretaria Geral
cuja grande dificuldade ainda diz respeito ao diag- da Presidência da República. A maior parte
nóstico20, tendo em vista que a criança pode apre- dos casos foi de violência física e negligência32.
sentar apenas alterações sutis do comportamento21, Em Curitiba, um estudo baseado nas notifica-
e pela própria dificuldade em definir este tipo de ções de violência contra crianças e adolescentes,
maus-tratos contra a criança, principalmente em emitidas pelos serviços que compõem a Rede de
países em desenvolvimento, onde se torna difícil Proteção à Criança e ao Adolescente em Situação
diferenciar a negligência ocasionada pela falta de de Risco para a Violência, revelou a negligência
políticas públicas da praticada pelos responsáveis como a violência mais frequente contra crianças e
pela criança22,23. adolescentes33.
Caracterizada como uma violência intrafami- Frente a este contexto, torna-se primordial
liar24, a negligência praticada pelos responsáveis conhecer as características e circunstâncias que
pela criança pode ser percebida, nos serviços de envolvem este tipo de evento, a fim de direcionar
saúde e nos diferentes segmentos sociais, nos casos medidas específicas de prevenção e controle.
de desnutrição, atraso vacinal, infecções repetidas, Neste sentido, a presente investigação teve o
falta de cuidados essenciais e com a saúde, falta de objetivo de estudar as características da negli-
cuidados escolares, falta de suporte emocional e gência e abandono contra menores de 15 anos no
afetivo à criança, não proteção da criança e expo- município de Londrina, PR, contribuindo para
sição da mesma a qualquer tipo de perigo. Também ampliar o conhecimento das circunstâncias que
por uso de vestimenta inadequada à estação, cresci- envolvem este tipo de maus-tratos na população
mento e desenvolvimento abaixo dos padrões espe-
infanto-juvenil.
rados para a idade, ausência dos pais, falta de diálogo
e afeto em relação aos filhos, exposição da mesma à
violência doméstica, aos acidentes, ao uso de drogas Método
e álcool (sem intervenção), bem como permissão e
A pesquisa se constituiu em um estudo trans-
encorajamento para atos delinquentes3,15,25-28, além
versal e descritivo a partir das notificações por
dos aspectos emocionais, psicológicos, cognitivos e
negligência e abandono, cujo evento foi notificado
comportamentais, descritos anteriormente.
aos Conselhos Tutelares e serviços de atendimento
Mundialmente, quase 3.500 crianças menores
do município no período de 1 de janeiro a 31 de
de 15 anos morrem anualmente por maus-tratos
(físico ou negligência)12. Pesquisa do LACRI dezembro de 2006, cujas vítimas foram menores
(Laboratório de Estudos da Criança) do Insti- de 15 anos de idade residentes no município de
tuto de Psicologia da Universidade de São Paulo Londrina, PR.
(IP/USP), realizada em 16 estados brasileiros e Para identificação dos casos, foi realizada busca
no Distrito Federal, constatou em 2005 que a manual nos prontuários e fichas de todos os Conse-
negligência ocupou o primeiro lugar (40,2%) na lhos Tutelares do município (Conselho Tutelar
violência contra crianças e adolescentes de 0 a 19 Centro, Conselho Tutelar Norte e Conselho Tutelar
anos de idade29. No Rio de Janeiro, pesquisa com Sul) e serviços de atendimento a crianças e adoles-
crianças e adolescentes vítimas de maus-tratos, centes vitimizados (Programa Sentinela da Prefei-
atendidos em um hospital público, num período tura Municipal de Londrina e Projeto De Olho No
de dez anos, observou que a maioria foi por negli- Futuro da Universidade Estadual de Londrina),
gência/abandono (43,4%)30. cuja notificação de violência contra menores de 15
Estudo de prevalência e incidência de abuso anos havia sido realizada em 2006. Foram, então,
infantil, ao comparar dados nos diferentes países, separados e transcritos, para formulário específico,
aponta a negligência, o abuso físico e o sexual entre todos os casos referentes à negligência e abandono
os mais frequentes na população infantil31. Docu- de menores de 15 anos residentes na cidade. Foi
mento Preliminar do Comitê Nacional de Enfren- considerado caso positivo para negligência e aban-
tamento à Violência Sexual Contra Criança e dono aqueles assinalados como tal pelo profissional
Adolescente revela que, de fevereiro a setembro de que fez a notificação, assim como os casos em que,
2005, 1.942 denúncias de violência contra criança após leitura das notificações, identificou-se tratar
de até 6 anos de idade foram feitas por meio do de negligência ou abandono.
Negligência e abandono de crianças e adolescentes: análise dos casos notificados em município do Paraná

Para a coleta de dados nos prontuários selecio- número de notificações (situações de negligência) 189
nados, foi utilizado um formulário contendo ques- e não ao número de crianças, considerando que a
tões fechadas, composto por 7 (sete) partes: dados mesma criança/adolescente possa ter sido vítima
da denúncia (data, denunciante), dados da vítima em diferentes ocasiões (circunstâncias), com noti-
(nome, filiação, data de nascimento, sexo, idade), ficações em diferentes momentos.
dados da violência (data e local em que ocorreu, A análise, quantitativa e descritiva, procedeu-se
frequência e tempo de abuso antes da notificação), por meio de tabelas e gráficos, em números abso-
dados do agressor (sexo, idade, vínculo com a lutos e relativos, construídos a partir do cruzamento
vítima, situações envolvidas), consequências dos das variáveis de interesse, pelo Programa EpiInfo.
maus-tratos (lesão decorrente, internação, óbito, Foi obtida dos responsáveis de cada instituição
sequelas). Foram consideradas apenas as sequelas a autorização para acesso aos prontuários e infor-
registradas em prontuário, com base na avaliação mações. O projeto de pesquisa foi apreciado e
do conselheiro tutelar que acompanhou o caso. aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Para as situações envolvidas no evento (alcoo- Universidade de São Paulo (COEP 315 de 2006).
lismo, crise conjugal, desemprego, entre outras),
foi considerada a anotação do conselheiro tutelar
Resultados
que preencheu a notificação, com base no relato do
denunciante. Foram motivo de notificação, no município de
O instrumento foi previamente testado com Londrina, 308 casos de negligência e abandono
dados dos atendimentos referentes ao ano anterior, contra menores de 15 anos, em 2006. Grande parte
no Conselho Tutelar Centro de Londrina. Os dados dos casos foi notificada por profissionais de saúde
foram coletados por uma equipe de 30 (trinta) (67,2%), seguidos por vizinhos (10,7%), familiares
alunos do Curso de Enfermagem da Universidade
(14,8%), escola (2,6%) e anônimos (4,5%).
Estadual de Londrina, rigorosamente treinados e
As vítimas do sexo feminino (72,7%) predo-
supervisionados pelas autoras do estudo.
minaram em relação ao sexo masculino (27,3%),
Todos os formulários foram codificados manu-
numa razão de 2,7 meninas para cada menino.
almente pela pesquisadora, a fim de classificar a
A idade mais frequente das vítimas foi de 4
violência e o tipo de lesão segundo a Classificação
anos para os meninos (26,1%) e de 2 anos para
Internacional de Doenças, 10ª revisão (CID-10)34.
as meninas (23,2%). A faixa etária de 2 a 4 anos
Os dados obtidos foram processados eletronica-
concentrou maior número de casos e houve
mente e tabulados por meio do programa compu-
tacional Epi Info – versão 6.04d. Foi realizada redução de casos a partir dos 8 anos de idade
exaustiva verificação de inconsistências por meio (Tabela 1).
do cruzamento de várias variáveis, à procura de Calculando-se os coeficientes de incidência
divergências ou inconsistências de dados. com base populacional (considerando no denomi-
Foi realizada uma criteriosa verificação (pelo nador a população infantil residente em Londrina,
nome, filiação, data de nascimento, idade e sexo da em cada faixa etária, segundo o sexo), observou-se
vítima, data da violência, data da denúncia, denun- maior risco na faixa etária de 2 a 4 anos, com coefi-
ciante, lesão decorrente e agressor) com o objetivo cientes de 13,8 (por 1.000) e de 5,0 (por 1.000) aos
de identificar os casos que tiveram atendimento 4 anos, no sexo feminino e masculino, respectiva-
em mais de um serviço em decorrência da mesma mente (Figura 1). Observou-se, ainda, que o risco
notificação. Nestes casos, as informações dos dife- de sofrer este evento é quase três vezes maior no
rentes serviços (referentes à mesma vítima e à sexo feminino (13,8 por 1.000) em relação ao sexo
mesma ocasião de notificação) foram complemen- masculino (5,0 por 1.000).
tadas em um único registro (uma única ficha no Quase todos os casos de negligência e aban-
banco de dados), excluindo-se as fichas excedentes dono se deram na residência da vítima (96,4%). Os
(anteriores à complementação dos dados em uma demais ocorreram na via pública (3,6%) e referem-
única ficha), a fim de evitar a duplicidade de dados. se a crianças deixadas na rua por longos períodos
Desta forma, as informações dos diferentes serviços do dia.
se complementaram em uma única ficha e, durante As vítimas de negligência e abandono sofreram
todo o processo de tratamento e análise dos dados, o abuso por períodos que variam de 1 a 2 anos
os registros no banco de dados corresponderam ao (62,7%), 3 a 4 anos (20,5%), 6 a 12 meses (7,8%),
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190 mais de 4 anos (6,2%) e menos de 6 meses (2,9%) As questões da maternidade, ou seja, quando
antes da notificação. a criança vítima não é filho biológico (32,8%) e a
Entre os agressores, o predomínio do sexo femi- idade muito jovem da mãe (20,8%), seguidas pelo
nino foi de 96,7% (Tabela 2). Entre as mulheres, alcoolismo (18,8%), foram descritas como as situ-
a faixa etária predominante foi de 20 a 24 anos ações mais frequentes que envolveram os casos de
(48,3%). Entre os homens, a faixa etária mais negligência e abandono (Tabela 3). Observou-se,
comum foi de 35 a 39 anos (40,0%). ainda, a presença de crise conjugal (processo de
Os atos de negligência e abandono foram separação entre os pais da vítima, sendo um deles o
praticados, em sua grande maioria, pela própria agressor), prostituição e emprego noturno entre as
mãe (69,5%) e pela madrasta (22,2%), seguidas circunstâncias deste tipo de violência.
por outros parentes (4,1%), pai (3,6%) e padrasto Quanto às consequências dos maus-tratos,
(0,6%). apesar de não se tratar de violência física, foram

Tabela 1. Distribuição dos casos de NEGLIGÊNCIA E ABANDONO contra menores de 15 anos segundo o
sexo e a idade das vítimas. Londrina, 2006.
Idade da vítima de negligência e SEXO
abandono Masculino Feminino TOTAL
Nº % Nº % No %
< 1 ano - - 4 1,8 4 1,3
1 ano 6 7,1 11 4,9 17 5,5
2 anos 13 15,4 52 23,2 65 21,1
3 anos 18 21,4 20 8,9 38 12,3
4 anos 22 26,1 27 12,0 49 15,9
5 anos 8 9,5 15 6,9 23 0,7
6 anos - - 19 8,5 19 0,1
7 anos 2 2,4 6 2,7 8 2,6
8 anos 3 3,6 3 1,4 6 1,9
9 anos - - - - - -
10 anos - - 2 0,9 2 0,6
11 anos 2 2,4 1 0,5 3 1,0
12 anos - - 4 1,8 2 0,6
TOTAL 84 100,0 224 100,0 308 100,0

Tabela 2. Distribuição dos casos de NEGLIGÊNCIA E ABANDONO contra menores de 15 anos segundo a
idade e o sexo do agressor, Londrina, 2006.
Idade do agressor de SEXO DO AGRESSOR
negligência e abandono Masculino Feminino TOTAL
Nº % Nº % N o
%
< 15 anos - - 2 0,7 2 0,6
15 a 19 anos - - 18 6,0 18 5,8
20 a 24 anos - - 144 48,3 144 46,7
25 a 29 anos 2 20,0 79 26,5 81 26,3
30 a 34 anos 3 30,0 43 14,4 46 14,9
35 a 39 anos 4 40,0 6 2,0 10 3,2
40 e mais anos 1 10,0 6 2,0 7 2,3
TOTAL 10 100,0 298 100,0 308 100,0
Negligência e abandono de crianças e adolescentes: análise dos casos notificados em município do Paraná

Tabela 3. Distribuição dos casos de NEGLIGÊNCIA E ABANDONO contra menores de 15 anos segundo a 191
situação envolvida, Londrina, 2006.
Situação envolvida na negligência e abandono Nº %
Condições do agressor
Alcoolismo 58 18,8
Drogadição 16 5,2
Condições sociais
Desemprego 2 1,0
Emprego noturno 8 2,6
Prostituição 2 0,7
Condições familiares
Crise conjugal 21 6,8
Mãe muito jovem 64 20,8
Companheiro(a) preso(a) 2 0,6
Não tem quem cuide da criança 1 0,3
Mãe solteira 1 0,3
Maternidade (filho não natural) 101 32,8
Doença ou perda do cônjuge 2 0,7
Condições da criança
Criança especial 1 0,3
Não informado 28 9,1
TOTAL 308 100,0

relatadas lesões corporais (83,8%), decorrentes da atenção médica que as vítimas apresentam em
falta de cuidados com a criança ou exposição da decorrência das lesões de pele por má higiene
mesma a riscos de acidente, ocasionando doenças corporal, desnutrição, calendário vacinal desatua-
e traumas. As lesões registradas foram de abdome lizado, reincidência de internações por tratamentos
(12,8%), membros superiores (26,0%), membros inadequados, acidentes domésticos frequentes,
inferiores (12,0%), tórax (9,3%), cabeça (0,8%) e entre outros3. Alguns autores apontam que estas
múltiplas regiões (9,7%). Ainda, 29,5% dos pron- crianças frequentemente necessitam de serviço
tuários não especificavam o segmento corpóreo médico ou de saúde1, o que pode justificar um
afetado. número maior de notificações pelos profissionais
Foi relatada a necessidade de internação em desta área, uma vez que, no presente estudo, as
65,6% dos casos, sendo que 28,2% dos prontuários notificações por profissionais de saúde foram todas
não traziam esta informação. provenientes dos serviços de saúde, o que coincide
Quase a totalidade das vítimas de negligência com a literatura, que aponta os serviços de saúde
e abandono apresentou sequela (98,7%). Entre como os principais responsáveis pelas notificações
as sequelas, a física foi a mais comum (98,7%), de maus-tratos contra a criança e o adolescente.
seguida pela psicológica (1,3%). Houve, ainda, a Quanto ao sexo das vítimas, o predomínio
presença de mais de uma sequela (96,4%), sendo a do sexo feminino também foi observado por
psicológica a segunda sequela em todos estes casos. outros estudos acerca da violência contra crianças
e adolescentes13,30,33,35-37. Especificamente em
Discussão relação à negligência, outro estudo observou
maior frequência de negligência no sexo masculino37,
A maior frequência de profissionais de saúde porém a faixa etária foi similar à da presente casu-
como notificadores da negligência e abandono ística (1 a 4 anos). O predomínio do sexo femi-
pode estar relacionada com a necessidade de nino entre as vítimas de negligência e abandono
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192 16,0

Coeficientes de incidência de 14,0


violência por negligência e
abandono (por 1000)
12,0
10,0
8,0
6,0
4,0
2,0
0,0
Menor 1 2 3 4 anos 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
1 ano anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos
ano

– l– – Coef. Masc. 0,0 1,5 3,0 4,2 5,0 1,8 0,0 0,5 0,7 0,0 0,0 0,4 0,0 0,0 0,0

---n--- Coef. Fem. 1,0 2,8 12.8 12,5 13,8 3,4 4,6 1,5 0,7 0,0 0,5 0,2 0,5 0,0 0,4

 Coef. Total 0,5 2,1 7,8 8,2 9,3 2,6 2,3 0,9 0,7 0,0 0,2 0,3 0,2 0,0 0,2

Idade
Figura 1. Coeficientes de incidência da negligência e abandono contra menores de 15 anos segundo o
sexo e a idade das vítimas, Londrina, 2006.

pode estar relacionado com as questões de gênero, notificações de negligência (941 casos num período
que ainda colocam a figura feminina numa posição de dois anos), o que representou 12,9% de todas as
submissa1, fazendo com que crianças e adolescentes notificações envolvendo crianças e adolescentes. O
meninas sofram mais determinados tipos de maus- Conselho Tutelar de Caruaru, PE, também regis-
tratos38. Alguns autores relacionam a maior inci- trou 393 casos de negligência de crianças e adoles-
dência de violência no sexo feminino com fatores centes (49,2% de todos os casos de violência noti-
culturais, que historicamente sempre impuseram a ficados, num período de dois anos)40. A negligência
este sexo condições de abuso, exploração e discri- como um dos tipos mais comuns de violência
minação socialmente aceitas39. contra menores também foi registrada por outros
O maior risco observado na faixa etária de 2 a estudos13, 30, 35-37, 41,42.
4 anos de idade coincide com estudo da área37 e Pesquisa realizada no município do Rio de
talvez se justifique pela total dependência que as Janeiro, RJ43, verificou taxa de incidência de 3,8 (por
crianças nestas idades têm dos adultos para seus 100.000 habitantes) de negligência e abandono, na
cuidados básicos. Associa-se a isto, o fato das mães faixa etária de 0 a 19 anos. Porém, trata-se de ocor-
trabalhadoras que não têm onde deixar seus filhos rências registradas em delegacias do município,
pequenos, ainda sem idade escolar. Neste sentido, o que pode ter diferido um pouco dos presentes
é preciso destacar que o governo, muitas vezes, não resultados, uma vez que, geralmente, trata-se de
disponibiliza vagas suficientes em creches munici- casos mais graves. Dentre as notificações feitas
pais37. Outro fator a ser considerado é o próprio aos CRAMIs (Centros Regionais de Atenção aos
desconhecimento dos pais acerca das necessidades Maus-Tratos na Infância), no Estado de São Paulo,
e cuidados a serem dispensados à criança em cada as negligências representaram 23,5% dos maus-
faixa etária. Desta forma, a ampliação de creches tratos contra crianças e adolescentes44. Entre os
municipais e o acompanhamento da criança pelos menores atendidos no SOS Criança de Curitiba, a
serviços de saúde, principalmente pelo Programa negligência ocupou a segunda colocação, com um
de Saúde da Família, com ações de orientação e porcentual de 41,7%37. Já em estudo realizado em
cuidados de saúde, podem contribuir para dimi- Curitiba, PR33, a negligência ocupou o primeiro
nuir, pelo menos em parte, a negligência e o aban- lugar entre os maus-tratos infantis, com 51,8% de
dono sofridos pelas crianças. 2.326 notificações, em 2004. Somente de fevereiro
Estudo realizado no Conselho Tutelar de a setembro de 2005, 1.942 denúncias de violência
Ribeirão Preto, SP14, verificou frequência similar contra criança de até 6 anos de idade foram feitas
ao do presente estudo quanto ao número de pelo Serviço Disque-Denúncia da Sub-Secretaria
Negligência e abandono de crianças e adolescentes: análise dos casos notificados em município do Paraná

de Desenvolvimento Humano – Secretaria Geral estudados junto ao SOS Criança de Curitiba37, a 193
da Presidência da República, sendo a maior parte criança morava somente com a mãe, o que caracte-
dos casos de violência física e negligência32. As riza uma das situações mais comuns de negligência,
significativas proporções e incidências da negli- na qual a mãe é separada49 e, portanto, necessita
gência chamam a atenção para a necessidade de trabalhar e cuidar sozinha da criança. A presença
enfrentamento desta importante causa na popu- da mãe e madrasta como as principais agressoras
lação infanto-juvenil. desperta para a necessidade de se trabalhar as rela-
Tendo em vista que as maiores autoras da negli- ções familiares. Alguns autores ainda destacam que
gência foram a madrasta e a mãe, é coerente que nem sempre os pais ou responsáveis têm consci-
estes abusos tenham ocorrido em grande parte no ência desta forma de maus-tratos, que se dá por
lar. Muitos são os estudos que trazem resultados meio da pouca valorização, da menor importância,
semelhantes aos da presente investigação45,46. Mas da falta de tempo, da atenção que nunca aparece,
é preciso lembrar que a prática da negligência não do carinho que nunca chega, da indiferença, da
se resume na ausência do cuidador. O fato de ela rejeição, da não oferta do necessário ao pleno
ser exercida na residência da vítima não a simpli- desenvolvimento físico e emocional da criança ou
fica deste modo. Ao contrário, denota o que muitos do adolescente50. Há que se destacar, desta forma,
autores discutem, de que a família, atualmente, é que a negligência proveniente da falta de recursos
vista como lugar de muitas contradições, configu- para o sustento da família e a advinda da intencio-
rando maus-tratos aos seus componentes47. Estu- nalidade da desproteção e desafeto merecem abor-
diosos27,30 destacam o lar como o local privilegiado dagens diferenciadas.
para a prática da violência contra a criança, o que Diferentemente das agressões físicas, em que
para alguns autores38,39 tem íntima ligação com
o alcoolismo é apontado como a principal situ-
os limites impostos pela privacidade que acabam
ação envolvida por parte do agressor13,35,46,51,52, na
por isolar a família da visão social, propiciando
negligência e abandono outras situações predomi-
um ambiente sem testemunhas e encoberto pela
naram e são referentes às características maternas.
cumplicidade familiar. É preciso lembrar, ainda, a
A pouca idade das mães, bem como as questões
discussão acerca das mães que trabalham e deixam
da maternidade (presença de filho não natural),
seus filhos sozinhos em casa ou até mesmo na rua.
também são descritas por outros trabalhos como
Neste sentido, destaca-se que as medidas de
condições associadas à ocorrência de negligência49.
prevenção, enfrentamento e intervenção precisam,
Neste sentido, acrescenta-se a necessidade de
acima de tudo, contemplar o âmbito familiar27,48, no
sentido de fortalecer e estruturar as famílias, pois acompanhamento efetivo das mães jovens durante
são elas que desempenham o papel de proteger as o pré-natal, parto e puerpério, além do acompa-
crianças. nhamento da criança por meio da puericultura e
O longo período com que a negligência veio programas de saúde.
sendo praticada antes da notificação denota o O alcoolismo, por sua vez, é apontado pelos
aspecto silencioso e crônico que caracteriza a autores28 como fator associado à negligência dos
maioria dos atos violentos praticados contra a filhos, além do uso de drogas, famílias numerosas,
criança, os quais são mantidos dentro dos lares sob desemprego e desestruturação familiar. Alguns
o medo e o constrangimento47. autores discutem que a violência doméstica pode
Os achados coincidem com estudos que iden- estar associada a variáveis do ambiente familiar,
tificaram a mãe como a principal autora da negli- como psicopatologia dos pais, discórdia conjugal,
gência37,49, envolvendo, na maioria das vezes, mães baixa renda familiar, pobreza e outros eventos de
jovens, sem maturidade para a maternidade, cuja vida, como a experiência de separação e perda53. Já
gestação não era desejada ou que encontram- a prostituição e o trabalho noturno que aparecem
se separadas do parceiro. Há que se considerar entre as condições levantadas, apesar de sua pouca
também a função de cuidadora culturalmente atri- proporção, chamam a atenção pelos aspectos
buída à mulher, pela sua própria condição natural sociais que envolvem tais situações e que não se
e social, além da responsabilidade de criação dos restringem aos limites do lar. Neste sentido, torna-
filhos em caso de separação ou ausência do compa- se fundamental analisar as circunstâncias geradoras
nheiro, o que a responsabiliza pela negligência desta negligência, a fim de determinar as condições
dos filhos. Em 35,7% dos casos de negligência que contribuíram para este evento.
PEDIATRIA (SÃO PAULO) 2009;31(3):186-97

194 Frente a este complexo contexto e às impor- pois se estendem por longos anos e, talvez, por toda
tantes consequências que a negligência e o aban- a vida. Os efeitos perversos da violência podem
dono trazem para a saúde física e psicológica de comprometer permanentemente as crianças e os
suas vítimas, torna-se indiscutível a necessidade de adolescentes, prejudicando o aprendizado, as rela-
enfrentamento deste agravo por meio de atenção ções sociais e o pleno desenvolvimento48.
intersetorial e multiprofissional, além de melhoras Pensando especificamente em relação à negli-
nas condições de vida. gência, agressão de difícil diagnóstico pela subjeti-
Quanto à presença de lesão corporal como vidade dos sintomas, a presença de sequela psicoló-
consequência, Marmo1 refere que, nos casos de gica adquire dimensão importante em decorrência
negligência, é comum estas crianças chegarem ao do tempo de exposição, resultado já apresentado
serviço de saúde apresentando desnutrição, infec- anteriormente. Portanto, refletir sobre formas
ções repetidas ou vítimas de acidentes como quei- de prevenção, detecção e tratamento adequados
maduras e fraturas decorrentes da indiferença e torna-se essencial.
omissão dos pais.
Neste sentido, os profissionais de saúde neces- Conclusão
sitam estar atentos e capacitados para identi-
ficar situações de negligência, cujos sinais podem Este estudo pretendeu trazer algumas carac-
ser mais subjetivos do que a agressão física. Para terísticas sobre a negligência e abandono prati-
Minayo27, a negligência se expressa na falta de cados contra menores de 15 anos no município de
alimentação, de vestimenta adequada à estação, de Londrina. Por se tratar de um estudo transversal,
cuidados escolares e com a saúde. Pires & Miya- as características aqui apresentadas se referem a um
zaki28 ampliam este conceito acrescentando, entre momento específico, podendo sofrer modificações
os sinais, a falta de suporte emocional, afetivo e de na medida em que intervenções vão sendo implan-
atenção à criança, além da exposição da mesma à tadas. Portanto, há que se destacar a importância
violência doméstica, aos acidentes, ao uso de drogas do monitoramento destes eventos e de novos
e álcool (sem intervenção), bem como permissão e estudos que aprofundem o conhecimento do tema
encorajamento para atos delinquentes. Portanto, e contribuam para a sua prevenção e tratamento.
a negligência inclui tanto a física (pela falta de Faz-se oportuno ressaltar que, pelo estudo ter
cuidados), como também a emocional e a educa- se restringido aos casos de negligência notificados
cional para as quais os profissionais que lidam dire- aos Conselhos Tutelares e programas e projetos
tamente com crianças devem estar alertas. de atendimento, certamente os resultados subes-
Não foram encontrados estudos que analisassem timam a real incidência destes eventos na popu-
o segmento corpóreo afetado pela negligência, lação. Entretanto, acredita-se que esta limitação
impossibilitando a comparação de resultados. não seja suficientemente importante para compro-
Todavia, observa-se que, praticamente, todas as meter a interpretação dos resultados apresentados.
regiões corpóreas foram afetadas pela negligência, A negligência contra menores de 15 anos cons-
demonstrando que não é somente a violência física titui causa importante de notificações aos Conse-
que gera lesões. A importância da negligência lhos Tutelares e serviços afins no município de
neste aspecto mostra-se crucial, trazendo sofri- Londrina.
mento físico, além do sofrimento imposto pela Considerando que este tipo de maus-tratos
indiferença e omissão de seus responsáveis. ocorre, predominantemente, no ambiente domés-
Apesar das internações referidas, dados oficiais54 tico e que os principais agressores são os próprios
não mostram internações por negligência em 2006, pais, pode-se compreender que a atuação junto
no município de Londrina. Talvez isto se deva à às famílias constitui uma forma importante de
codificação baseada na lesão ou, até mesmo, como tratamento e prevenção. Medidas de orientação
causa acidental. Outra questão a considerar é que, em espaços como escolas, comunidades, grupos e
normalmente, os casos de negligência são enco- sociedade, em geral, são essenciais para debater a
bertos por uma patologia orgânica47, dificultando o questão da negligência, promovendo sua prevenção
seu real registro. a partir da conscientização e da melhora nas rela-
Além das sequelas físicas, quando não ocasionam ções interpessoais. O engajamento de programas
a morte, as sequelas psicológicas se revelam como que tenham a família como alvo de intervenção nas
as mais perigosas para as vítimas de maus-tratos, estratégias de ação também deve ser considerado.
Negligência e abandono de crianças e adolescentes: análise dos casos notificados em município do Paraná

O longo período de exposição verificado no Sugerem-se, ainda, novos estudos que venham 195
presente estudo, assim como as relevantes conse- contribuir para o conhecimento da negligência e
quências físicas e psicológicas para a criança, abandono praticados contra crianças e adoles-
revelam a necessidade urgente da implementação centes, subsidiando ações preventivas e de controle.
de redes de atendimento que integrem os serviços Há ainda que se pensar na articulação das infor-
existentes, priorizem políticas para enfrentamento mações geradas pelas pesquisas com a ação polí-
e redução do evento, viabilizem recursos e possi- tica e com a prática do setor saúde na atenção e
bilitem melhorar a qualidade do atendimento e prevenção deste importante agravo.
tratamento, proporcionando meios e estratégias
que realmente sejam capazes de identificar e inter- Agradecimentos
romper os maus-tratos praticados contra a criança
e o adolescente, além de oferecer tratamento digno Agradecemos à CAPES (Coordenação de
e eficaz. Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)
Considerando que o desenvolvimento cogni- e ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvi-
tivo, social e emocional da criança depende dos mento Científico e Tecnológico), pela concessão
cuidados e estímulos que recebe, e considerando,
de bolsas de estudo.
ainda, os aspectos multifatoriais da negligência,
é preciso que os investimentos na atenção a este
agravo englobem os diversos setores sociais e
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Trabalho realizado na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

Endereço para correspondência:


Christine B G Martins
Rua Fortaleza, 70, Jardim Paulista, Cuiabá (MT),
CEP 78065-350. Submissão: 27/6/2009
E-mail: leocris2001@terra.com.br Aceito para publicação: 28/8/2009

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