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6 - Microestrutura
6-1. Fases
Um cubo de gelo flutuando na água e a atmosfera que os envolve são exemplos dos três
estados da matéria, sem dúvida, mas também são exemplos de fases (Figura 6-1). Uma fase apresenta
(i) uma interface física definida com as outras fases do sistema (não confundir com as fronteiras que os
grãos metálicos, por exemplo, fazem uns com os outros) e (ii) uma homogeneidade – muitas vezes até
a um nível microscópico.
Se adicionarmos óleo ao sistema, teremos duas fases líquidas em equilíbrio. Nem todo o
mundo sabe, no entanto, que existem vários ‘tipos’ de gelo – ou seja, que a água possui diversas fases
no estado sólido!
a b
Figura 6-1: Fases e estados: (a) fases da água; (b) exemplo de duas fases líquidas
Enquanto que o sal, e o óxido de cálcio são fases do tipo compostos, outras são do tipo
misturas – como, por exemplo, a atmosfera. O que distingue um composto de uma mistura? Enquanto
que num composto a proporção entre os seus constituintes é fixa, nas misturas ela pode variar: a
solução 1 de água com açúcar pode ter diferentes proporções de um e de outro. Na natureza, a maior
parte das fases pertencem à classe das misturas!
Como o gelo, o ferro pode ter diferentes fases no estado sólido – e todas são do tipo mistura.
Até 910 [°C] a fase é chamada de ferrita, ou ferro alfa – conforme pode ser visto na Figura 6-2– e à
medida que a temperatura aumenta, outras fases podem se tornar estáveis.
Figura 6-2. Fases do ferro desde a temperatura ambiente até o ponto de fusão
1 Solução é um caso especial de mistura, onde um constituinte está em maior proporção e é chamado de solvente
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Nestor Cezar Heck / UFRGS – DEMET
Muitos metais são solúveis uns nos outros, formando ligas. Quando misturamos água e
açúcar, obtemos uma solução ao nível molecular (moléculas de água e de açúcar misturadas, sem a
possibilidade de separação dos constituintes por meios mecânicos); já uma liga metálica pode ser
imaginada como uma solução (no estado sólido ou líquido) ao nível atômico.
Figura 6-3: Idealização de uma liga metálica, em três momentos (composições) diferentes, pela
substituição dos átomos verde-claros pelos azuis; tipicamente, neste caso, os átomos
verde-claros e os azuis cristalizam no mesmo tipo de rede cristalina
Como, ao nível atômico, os átomos dos metais no estado sólido estão organizados em redes
cristalinas, na sua forma mais simples, podemos imaginar a liga entre eles como um processo de
substituição contínua dos átomos de um tipo por átomos do outro 2. Em alguns casos – como, por
exemplo, o caso da liga entre o Cu e o Ni – essa substituição pode variar de zero a cem porcento
(Figura 6-3). Na maioria das ligas, há, contudo, um valor máximo para a solubilidade dos átomos azuis
nos cristais preenchidos inicialmente por átomos verde-claros e, também para os átomos verde-claros
nos cristais preenchidos inicialmente por átomos azuis. Para uma composição global do sistema entre
estes valores limites, pode-se imaginar que o metal está formado pela mistura mecânica de duas ligas
diferentes, cada uma delas com uma composição fixa (máxima) e diferente da composição global
(Figura 6-4). Um exemplo concreto pode ser dado: uma liga chumbo-estanho, na temperatura de
100°C, é formada pela mistura mecânica das ligas Pb-5%Sn (a solubilidade máxima do Sn no Pb é 5%
nessa temperatura) e Sn-1%Pb (a solubilidade máxima do Pb no Sn é aproximadamente 1% nessa
temperatura), muito embora a composição global da liga seja, por exemplo, 80% Pb e 20% Sn.
Figura 6-4: Em alguns casos um metal (liga) pode ser imaginado como uma mistura de
duas ligas com composições fixas e diferentes da composição global
2 A liga é, normalmente, produzida no estado líquido, pela mistura dos dois metais; o que estamos representando aqui é o
resultado final, no estado sólido.
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Nestor Cezar Heck / UFRGS – DEMET
Cada grão (ou cristal) do metal apresentará apenas uma das duas composições máximas
(não obstante, a composição global continuará será aquela definida no momento da produção da liga,
no forno da usina, de – neste exemplo – 80%Pb e 20%Sn). Por causa disso, pode acontecer que
existam apenas uns poucos grãos de uma das duas composições – dependendo das composições
individuais e total.
Por qual motivo – em muitos casos – existe uma solubilidade máxima? Os metais: Cu, Ni, Al,
Ag e Pb cristalizam, à temperatura ambiente, no mesmo sistema CFC. Contudo, apenas o Ni apresenta
100% de solubilidade no cobre, Tabela 6-I. Nesse caso, a solubilidade foi limitada pelo tamanho relativo
entre os átomos: se a diferença de tamanho entre eles for maior do que 15% a solubilidade é
praticamente zero 3.
6-3. Intermetálicos
Nem todas as combinações entre metais são chamadas ligas. Quando eles estão
combinados em uma proporção fixa, como num composto químico, são chamados de intermetálicos.
Os intermetálicos são, em geral, duros e frágeis. As suas redes atômicas frequentemente são
diferentes dos metais que os compõem. São exemplos de intermetálicos: Mg3Bi2, TiNi, Al2Cu e Fe3C.
Assim como nas ligas, existem intermetálicos formados pela combinação entre metais e metalóides. Na
metalurgia do ferro, o Fe3C – ou cementita – é um intermetálico da maior importância.
As fases da liga Fe-C – que chamamos ‘aço ao carbono’ 4, quando o teor de C é baixo menor
que aproximadamente 1% em massa 5 – são as mesmas já vistas para o ferro puro – à exceção da
cementita, Fe3C.
A ferrita dissolve, no máximo, apenas 0,004% C (em massa) à temperatura ambiente, mas
sabemos que há aços com o teor de 1% em massa de carbono! Desse ponto em diante, a única
maneira de se aumentar o teor de carbono é pelo aparecimento de uma mistura mecânica entre a
ferrita (saturada com carbono) e uma fase de maior teor de carbono: (normalmente) a cementita! 6
Para outras temperaturas, as proporções (e mesmo as fases) poderão ser diferentes, Do
mapeamento geral (no ‘canto’ rico em ferro) das fases que se apresentam em função da temperatura e
função dessa relação. Em caso de insucesso – quando possível – deve-se reprocessar o material, com
parâmetros diferentes (e os custos associados), para que o objetivo seja atingido.
Figura 6-7: Microestrutura mostrando a perlita; (a) na composição x-x’ (0,76%C, dita eutetóide) temos
100% da microestrutura formada por perlita – caso a temperatura seja menor que 727°C
(b) senão será outra fase (a) ; (b) micrografia da perlita: lamelas de cementita em uma
matriz ferrítica
Fonte: Callister