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Esta análise procura mostrar uma situação “O vídeo pode ser um elemento importante na
global da tarefa, abrangendo, dentre outros análise do trabalho, mas os registros devem
fatores: o posto de trabalho, as pressões, a carga poder ser sempre explicados pelos resultados da
cognitiva, a densidade e a organização do observação paralela dos pesquisadores. [...] Essa
trabalho, o modo operatório, os ritmos e as técnica, entretanto, está relacionada a uma etapa
posturas. Assim, ela não se limita tão só ao importante de tratamento de dados, assim como
posto, mas verifica, também, “as características de toda preparação inicial para a coleta de dados
do ambiente (principalmente quanto ao conforto (ambientação dos operadores), e uma filtragem
térmico, conforto acústico e iluminação), [...] do dos períodos observáveis e dos operadores que
método de trabalho, [...] do sistema de trabalho participarão dos registros” (SANTOS & ZAM-
e análise cognitiva do trabalho” (Couto 1995, BERLAN, s.d., p.16).
p.374).
A técnica subjetiva (ou indireta) é composta por
“É o diagnóstico dos problemas e suas questionários, check-lists e entrevistas.
conseqüências tanto para o funcionário como O questionário requer um maior tempo do
para a empresa. É condição primordial para que pesquisador, ou então um maior número de
se possa então proceder aos projetos de pesquisadores, no entanto, é uma aplicação
modificações, visando o bem estar do ser bastante oportuna em um grupo restrito de
humano e a produtividade com qualidade” pesquisados.
(VOLPI, s.d., p.1).
É importante considerar que o questionário
A Análise Ergonômica está tradicionalmente levanta tão só as opiniões dos entrevistados, não
ligada à Ergonomia Corretiva - ou de permitindo o acesso ao comportamento real -
Manutenção - onde o trabalho é analisado objetivo.
conforme a tarefa que já é executada, podendo
ser dividido em duas técnicas de análise, a O check-list é um instrumento de tabulação
saber: técnicas objetivas e técnicas subjetivas. similar ao questionário, preenchido pelo próprio
pesquisador e permitindo que ele mesmo avalie
A técnica objetiva (ou direta) se dá por meio do o sistema, apontando os seus pontos fortes e
registro das atividades ao longo de um período fracos.
pré-determinado de tempo, através de
observações – “a olho nu” e/ou assistida por A entrevista pode ser consecutiva à realização
meio audiovisual. da tarefa, solicitando-se, por exemplo, que o
operador “explique” o que ele faz, como ele faz
A observação é o método mais utilizado numa e por que, em determinada atividade. Sua
Análise Ergonômica, uma vez que permite uma realização pode ser dada em simultaneidade à
abordagem de maneira global da atividade no observação e tanto em situação real ou como em
trabalho, na qual o pesquisador, partindo da simulação laboratorial.
Couto (1995, p.370-371) destrincha as duas manual e ao método de trabalho, com foco em
técnicas acima em três modalidades: análises detalhes “mínimos” como, por exemplo, o
por check-lists, quantitativas e qualitativas. movimento dos olhos.
Segundo o autor, os check-lists - aos quais Os fatores ocultos abrangem dados intangíveis,
reputam os questionários - têm, como principal como o número de horas-extras ou o de
vantagem, o fato de exigirem que o observador erros/falhas presentes no processo, sendo
pesquise efetivamente todos os itens bastante útil na identificação dos aspectos
previamente propostos, minimizando a chance ergonômicos dos sistemas de trabalho.
de algum destes ser esquecido.
Na inserção ambiental, para finalizar, se faz
À análise quantitativa, atribui-se conceitos uma espécie de “radiografia” da “empresa” da
análogos aos vistos com a definição da “técnica qual o posto de trabalho analisado pertence,
objetiva”. pormenorizando suas características
demográficas e de sua força de trabalho, o
“A análise qualitativa [por fim] apresenta a processo tecnológico existente, as características
vantagem de poder explorar as diversas facetas sócio-econômico-culturais da região em que
da questão sem uma limitação a qualquer esta se encontra etc..
instrumento. Tem valor, porém sua aplicação
deve estar limitada a pessoas que tenham um 3. Roteiro para Análise Ergonômica:
profundo conhecimento de ergonomia [grifo Exemplo
nosso] e, assim, sejam capazes da perceber bem
além das aparências”. Roteiros para execução de uma Análise
Ergonômica já vêm sendo desenvolvidos desde
Essa ênfase ao conhecimento especializado do a década de 70, alguns dos quais, por sua
pesquisador - acima grifado - apesar de simplicidade e eficácia, se converteram em
questionável do ponto de vista acadêmico, é modelos e serviram de base para outras
corroborada por Volpi (s.d., p.1), quando diz: propostas metodológicas, como é o caso do
“A avaliação é um trabalho minucioso que modelo LEST, desenvolvido na França pelo
requer extrema paciência, dedicação, além de Laboratório de Economia e Sociologia do
profundo conhecimento técnico [...] Mencionar Trabalho da C.N.R.S. (Centre National de la
apenas se uma situação é satisfatória ou Recherche Scientifique). Velázques et al (1994)
insatisfatória não leva a nada; tais conclusões citam pelo menos mais 11 métodos, a saber:
independem de conhecimento ergonômico, são Método INSHT; Método R.N.U.R.; Método
apenas uma questão de bom senso. Conseguir MAPFRE; Método AET; Método
‘enxergar’ o que não é óbvio é tarefa para POLITECNIC; Método ERGOS; Método
especialistas”. ERGONOMICS WORKPLACE; Método
ANSI; Método IBV; Método RULA; e Método
Outra classificação dada à Análise Ergonômica, OWAS.
também proposta por Couto (1995), é a que a
divide em: macroscópica; microscópica; dos Autores nacionais, como Fialho & Santos
fatores ocultos; e da inserção ambiental. (1997), também expõem roteiros de análise em
suas obras. Para esses autores, os três aspectos
A análise macroscópica é a visão geral (ou fundamentais de uma Análise Ergonômica são:
global) do posto de trabalho, sendo facilmente um “metaconhecimento”, especificado com base
percebível pelo observador, como posturas na situação de trabalho a ser abordada pela
inadequadas, móveis desproporcionais etc.. Na pesquisa proposta; dados coletados, que visam a
análise microscópica, por outro lado, validação, ou não, das hipóteses previamente
encontramos os pormenores envolvidos, formuladas; e o processamento e análise desses
abrangendo questões relacionadas ao trabalho dados.
Neste trabalho, toma-se como exemplo de realizado tenha sido a “radiografia” da etapa
roteiro para Análise Ergonômica um modelo anterior. Aqui, as primeiras hipóteses já
baseado numa proposta dada pelo Ministério do começam a ser formuladas pelo pesquisador,
Trabalho e Emprego (s.d.), que, por advir de um que define quais situações de trabalho
órgão oficial do Executivo, traz maior apresentam problemas e devem ser estudadas,
correlação às exigências normativas expostas na uma vez que, como já mencionado, não é toda a
NR 17. empresa que deve ser analisada, mas setores
específicos, identificados como problemáticos.
Sua seqüência pode ser resumida nas seguintes
ações: análise da demanda; definição das 3.3 Observações gerais e preliminares
situações de trabalho a serem estudadas;
observações gerais e preliminares; pré- Definida a situação de trabalho a ser estudada,
diagnóstico; levantamento de hipóteses; plano passa-se à realização das primeiras observações
de observação; observações detalhadas e em campo, ditas gerais e preliminares. Nessa
sistemáticas; avaliação das exigências do etapa as atividades e o processo técnico são
trabalho; análise da atividade; diagnóstico analisados, descrevendo-se os itens observados
(global e local) e recomendações. a ocorrência de incidentes e/ou acidentes.
3.2 Definição das situações a seres estudadas 3.7 Observações detalhadas e sistemáticas
Esta fase é o resultado imediato da feitura da Nas observações detalhadas e sistemáticas dá-se
análise da demanda, sendo, obviamente, tão a fase “científica”, propriamente dita, da
bem ou mal estruturada quão bem ou mal pesquisa de campo, na qual “todas” as ações (ao
menos em teoria) devem estar previamente norteando a empresa sobre quais ações podem
elencadas e o plano de observação passa a ser ser realizadas para sua correção, propondo
executado. Aqui, são computados dados melhorias tanto nos métodos como nos postos
referentes ao homem, à(s) máquina(s), às ações de trabalho.
e ao ambiente de trabalho.
4. Considerações Finais
3.8 Avaliação das exigências do trabalho
Diante do conteúdo brevemente esboçado nesse
Feita em concomitância e através das artigo, percebe-se facilmente o quão minuciosa
observações detalhadas e sistemáticas, a pode se tornar uma Análise Ergonômica,
avaliação das exigências de trabalho pode ser de qualquer que seja a sua fonte motivadora, da
diferentes ordens, por exemplo: referente à academia - nos trabalhos de conclusão de cursos
tarefa e à situação, ao organismo humano, às de graduação ou em trabalhos teórico-práticos
fontes de informação, aos órgãos sensoriais, aos de especialização - à rotina trabalhista - nas
dispositivos de sinais e comandos e/ou ao indústrias, no comércio e nos serviços.
operador.
Assim como qualquer dado pode ser viciado e
3.9 Análise da atividade manipulado, pesquisas, mesmo que coerentes e
factíveis, podem ser completamente inverídicas
Da mesma forma que a avaliação das exigências em virtude tão só da ausência ou aplicabilidade
do trabalho, a análise da atividade (ou análise da inadequada do método científico requerido pela
tarefa) também é feita em concomitância e situação.
através das observações detalhadas e
sistemáticas, trazendo elementos que Não basta entrar numa fábrica ou loja e sair
identifiquem o conteúdo e o processo de “olhando”, procurando “defeitos”; há de se
trabalho e estudos de tempos e movimentos, investigar, de forma prescrita e sistematizada, o
incluindo, se necessário, cronometragens. entorno de cada problema, não apenas
identificando-o, mas tendo o discernimento de
3.10 Diagnóstico (global e local) propor as reais e possíveis soluções que este
possa vir a ter e, ainda, apontar e “provar” -
É composto pelo conjunto de conclusões finais cientificamente - o seu fenômeno causador.
advindas da pesquisa, corroborando ou não a
hipótese levantada, que não deve se limitar a É isso que se propõe uma Metodologia Análise
confirmar ou não o cumprimento da NR 17 pela Ergonômica, investigar, por meio de regras
empresa, mas quantificar e qualificar as reais científicas, as condições de trabalho, tanto no
condições de trabalho identificadas, abrangendo que tange ao conforto e à segurança, mas à
tanto um diagnóstico local (de uma situação ou usabilidade, à percepção sensorial, à
posto de trabalho pesquisado) como também um comunicação, ao relacionamento interpessoal
diagnóstico global (relacionado à atividade e etc..
funcionamento da empresa como um todo, ou
do grupo a que ela pertence, ou das Assim, o objetivo desse trabalho não foi
características sócio-econômicas em que ela está estruturar, nem tampouco criar, qualquer
inserida). Metodologia. Foi sim, se “apropriar” do
conhecimento científico já bastante
3.11 Recomendações desenvolvido e, apenas, ordená-lo, “lembrando”
que “ela” - a Metodologia - está aí não só para
Aqui o pesquisador desfecha a análise, ser usada, detalhada, criticada e “reinventada”,
propondo melhorias e continuidades de mas, acima de tudo, para ser conhecida. Quis-se
procedimentos no trabalho, não bastando aqui, apenas “apresentá-la”.
apontar incompatibilidades ou deficiências, mas
5. Referências Bibliográficas MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO.
Manual de aplicação da norma
ABRANTES, Antônio Francisco. A importância regulamentadora nº 17. 2.ed. Brasília:
da análise ergonômica. s.l.: s.e., 2001. MTE/SIR, 2002.
Disponível em www.guiadelogistica.com.br.
Acesso em 12 de julho de 2003. OLIVEIRA, Natã Morais. Ergonomia & design;
Ergonomia & projeto. Campina Grande:
ALENCAR FILHO, João Galdino de. UFCG/CCT/DDI, 2002 (Apostila – Curso de
Ergonomia. Recife: FESP/UPE, 1993 (Apostila Graduação em Desenho Industrial).
– Curso de Especialização em Engenharia de
Segurança do Trabalho). SANTOS, Venétia; ZAMBERLAN, Maria
Cristina. Projeto ergonômico de salas de
COUTO, Hudson de Araújo. Ergonomia controle. s.l.: Fundación MAPFRE, Sucursal
aplicada ao trabalho; o manual técnico da Brasil, s.d. Disponível em http://www.
máquina humana. 2v. Belo Horizonte: Ergo, ergonomia.com.br. Acesso em 11 de março de
1995. 2003.