- Após a saída do Inferno, Dante e Virgílio chegam ao monte do Purgatório,
local em que as almas são purificadas de seus pecados antes de chegarem finalmente ao Céu. Virgílio purifica Dante das sujeiras do Inferno, lavando-o com orvalho e eles avistam um anjo celestial conduzindo almas que chegam para a expiação de seus pecados. Antes da entrada guardada por um anjo com chaves de ouro e prata, passam por dois círculos e encontram as almas de homens célebres que se arrependeram de seus pecados pouco antes da morte.
- Primeiro círculo: nesse local as almas expiam o pecado da soberba. Andam
curvadas sob enormes pesos e olhando para esculturas que simbolizam a humildade, como a da Puríssima Virgem diante do anjo Gabriel. Ouvem durante as provações cantos que glorificam os pobres de espírito. Dante também expia seus pecados a cada círculo pelo qual passa, aqui ele declara que os exemplos ali vistos o enchem de humildade e abatem a sua presunção;
- Segundo círculo: aqui encontramos os invejosos arrependidos que tem seus
olhos costurados com fios de ferro e são castigados com o uso de cilício enquanto ouvem vozes que os incentivam a amar seus inimigos;
- Terceiro círculo: envolvido por uma densa fumaça, Dante entra no círculo de julgamento da ira, ouve-se nitidamente pedidos de perdão e misericórdia;
- Quarto círculo: encontra correndo os pecadores que expiam por preguiça,
melancolia e indiferença e ouve de Virgílio que esses são defeitos causados pela falta de amor;
- Quinto círculo: as almas da avareza celebram a pobreza, choram e suspiram
enquanto glorificam os poucos meios. Sente-se um grande tremor na montanha e ouve-se por toda a parte o canto: “Gloria in excelsis”, sinal de que uma alma ali detida se purificara o suficiente para passar às próximas provas ou a felicidade do Céu. A alma liberta é o poeta latino Estácio que acompanha Dante e Virgílio até o próximo círculo; - Sexto círculo: os gulosos expiam seus pecados e sofrem fome e sede reduzidos a uma magreza esquelética e aspirando a fragrância de deliciosos frutos.
- Sétimo círculo: neste local ardem em chamas os luxuriosos de acordo com a
natureza e os lascivos contra a mesma. Virgílio apela a lembrança de Beatriz para que Dante se convença a também passar por essa prova. Ouvem-se vozes que enaltecem a castidade.
Dante é então conduzido ao Paraíso, envolto por uma paisagem maravilhosa e
rios de águas límpidas se depara com um maravilhoso cortejo em que encontra Beatriz. Confessa então suas culpas, o banham no rio do esquecimento dos pecados e o fazem beber a água que rememora os bons feitos passados.
Em uma análise mais minuciosa, percebemos a expiação dos pecados do
poeta em cada círculo pelo qual ele passa, essa atitude dele confessar seus pecados na obra é louvável ao mesmo tempo em que é paradoxal, visto que ele se colocou na posição de julgar tanto seus contemporâneos, quanto outros personagens famosos da história mundial. É uma crítica severa, mas acima de tudo uma história de amor. Dante suporta todas as provações do Purgatório e anteriormente as do Inferno, por amor e esperança de rever Beatriz. Interessante pensar que se aquele menino, ainda aos nove anos, não tivesse se apaixonado de maneira tão profunda por uma mulher bem mais velha que ele, não teríamos nos nossos dias boa parte da estrutura do cristianismo como o conhecemos.