Oazinguito Ferreira da Silveira Filho – Considerar como Revolução?
nacional, desfecharam seu
Considerar como
Revolução?
Oazinguito Ferreira da Silveira
Filho, professor, especialista com
pós-graduação em História do
Século XX pela Universidade
Candido Mendes.
Hoje, passados mais de 20
anos de sua ocorrência
podemos afirmar que a Queda
do Muro de Berlim constituiu
um processo revolucionário no
‘modus vivendis’ dos
europeus. Desde suas
instituições políticas até sua
estrutura social.
Utilizar o termo revolução para
fatos e acontecimentos, em si
constitui um grande risco, já
que muitos fatores e
estruturas devem ser
avaliados na concepção
histórica que constituem os
mesmos.
Durante muito tempo
acreditamos haver se
configurado como se
revolução fosse o desmonte da
sociedade democrática
brasileira que ocorria desde
1950, no conhecido
movimento militar de 1964, e
como se pudesse ser
considerado como uma
revolução. Atualmente
observamos com propriedade
que não passou de um contra-
golpe, considerando-se que os
movimentos sociais se
articulavam objetivando
transformar o cenário político
presente na sociedade
brasileira, mas suas lideranças
encontravam-se distantes de
um movimento unificado.
Assim, os militares brasileiros
auxiliados pelos grupos
americanos e com o
‘patrocínio’ da burguesia
falta de oportunidades de um
contra-golpe.
A presença norte-americana
no período se processou como
uma ação integrada que
buscava evitar o avanço dos
movimentos socialistas na
America latina, configurando
uma área de ‘segurança
nacional’ no Cone Sul do
continente.
Este cenário de mudanças
políticas e de transformação
das instituições possuiu seu
ícone no processo
revolucionário frances, quando
uma burguesia articulada,
utilizou como ninguém, o povo
em seu objetivo.
Portanto pensar e avaliar um
movimento revolucionário
constitui-se em um dos
maiores anátemas para os
historiadores e cientistas
sociais.
Quando ao final dos anos 70
observávamos que alguns
companheiros enviavam para
amigos alemães fitas de rock,
mescladas aos discursos
críticos ocidentais sobre o
processo político, não
poderíamos mensurar as
consequências que este
processo conduziria no seio da
sociedade. Para muitos de nós,
a sociedade comunista era
uma sociedade perfeita, assim
sendo, estranhávamos o
procedimento dos demais
grupos universitários.
Assim como procedeu com a
Berlim Oriental, hoje
observamos a presença com
que o Facebook notabilizou o
protesto de Mohamed
Bouazizi, que com pouco mais
de 20 anos, sonhava com uma
carreira no mundo das novas
tecnologias, mas seu sonho
teria sido interrompido pela
país como a Tunísia
comandada pelo ditador Ben
Ali.
Mesmo com um diploma,
Bouazizi viu-se forçado a
vender frutas e legumes nas
ruas da sua cidade natal. Sem
licença para tal, em dezembro
teve sua mercadoria
confiscada pela polícia. Com o
pouco dinheiro que tinha,
comprou gasolina e ateou fogo
ao próprio corpo.
Milhares de estudantes
tunisianos se uniram pelo
Facebook, o Twitter e o
YouTube, uma vez que a
imprensa local, censurada, foi
impedida de falar sobre o
assunto. Milhares de jovens
desempregados saíram às ruas
e também cometeram a
imolação. Em pouco uma
revolta popular conduziu a
fuga do ditador e a uma
sensação de vitória, ainda mal
saboreada pela população em
seu processo político.
O processo de insatisfação
com as condições de
sobrevivência que explodiu e
encontra-se presente nos
países do norte africano, cujo
componente populacional é
majoritariamente jovem
resultou em processos de
reinvidicações tomados pelos
meios de comunicação
mundial como uma
'revolução'.
Precoce? Talvez possamos
concordar se considerarmos
que o conceito prioritário
desenvolvido desde Aristóteles
considera uma mudança
generalizada na estrutura da
sociedade que tenha sido
atingida por um movimento.
Mas, as avaliações de
inúmeros estudiosos
conduziram a dois pontos de
vista diferenciados e hoje
considerados apropriados para
a classificação.
Porém, sem ainda
conseguirmos configurar os
diversos movimentos como
uma revolução, podemos sim
considerar que estes
movimentos constituem-se em
um processo sem volta.
Processo que pode conduzir o
mundo árabe a uma nova era,
onde o desenvolvimento passe
a ser uma marca, como a que
ocorreu há séculos passados,
ou então a um nefasto período
de trevas onde o radicalismo
seja o marco desprezível
presente.