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Análise do Episódio de Inês de Castro (Estrofes 118 a 1 35)

A história vem sendo narrada na voz de Vasco da Gama, que apresenta os fatos mais marcantes
de Portugal para o rei de Melinde. Além disso, a linguagem eloquente e trabalhada, característica do
Classicismo pode ser aqui também notada por meio dos frequentes hipérbatos (frases invertidas). Veja-se
por exemplo os versos 5 e 6 da estrofe abaixo: O caso triste e digno de memória / que do sepulcro os
homens desenterra no lugar da ordem directa: O caso triste e digno de memória que desenterra os
homens do sepulcro.

Passada esta tão próspera vitória,


Tornado Afonso à lusitana terra,
A se lograr da paz com tanta glória,
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e digno de memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que depois de ser morta foi rainha.

Vasco da Gama, que vinha contando as aventuras portuguesas ao rei de Melinde, começa a
narrar o episódio de Inês de Castro acontecido logo depois de vitórias gloriosas de D. Afonso IV. O
episódio daquela que foi coroada rainha depois de ser morta é tão marcante que teria poder de
desenterrar os homens.

Na estrofe seguinte, o eu-lírico volta-se para o deus Amor, como mostra o vocativo no primeiro
verso. E a presença da mitologia pagã, caracterizando a presença do maravilhoso na epopeia. É possível
perceber também a procura de uma justificativa para o episódio e, com isso, uma garantia de isenção da
culpa para os portugueses:

Tu, só tu puro Amor, com força crua,


Que os corações humanos tanto obriga
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano
Tuas aras banhar em sangue humano.

Numa espécie de devaneio, o poeta dirige-se ao deus Amor, responsável pelo sofrimento
daqueles que lhe são prisioneiros. Somente ele poderia justificar a atrocidade feita a Inês.

O vocativo agora traz a presença da própria Inês, como se as imagens dela e do Amor
misturassem-se diante do narrador. Talvez, com essa aproximação, o poeta quisesse dar à mulher amada,
ares da própria materialização do Deus. Afinal, será ela o instrumento usado por ele para provocar o
desvario de D. Pedro:

Estavas, linda Inês, posta em sossego,


De teus anos colhendo o doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito;
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.

O relato agora passa a ser feito para Inês. Os presságios da desgraça já são anunciados pelo
poeta nos dias em que a moça ainda viveria na ilusão da felicidade, nos belos campos da região do
Mondego. O destino não deixaria essa situação durar muito.

As lembranças dos amores nos vales do Mondego são ressaltadas na estrofe abaixo por meio da
prosopopeia — atribuição de características animadas a seres inanimados, como podemos ver em
lembranças que respondiam, sonhos que mentiam, pensamentos que voavam.
Do teu príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fermosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam,
E quando enfim cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.

A região era marcada pelas lembranças dos amantes, o que servia de consolo para quando D.
Pedro não estava por perto.

O vocativo que aparece abaixo volta a se referir ao amor. Uma distinção, porém, cabe ser feita
em relação ao Amor citado na segunda estrofe. Como foi visto, lá, o Amor — com a maiúsculo — referia-
se ao deus da mitologia pagã. Aqui, o amor — com a minúsculo — refere-se ao sentimento humano,
universal. Enquanto o deus Amor, que aprisiona, parecia estar encarnado na figura de Inês, o amor,
sentimento do prisioneiro, parece estar agora encarnado na figura do Infante:

De outras belas senhoras e princesas


Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor [desprezas,
Quando por um gesto suave te sujeita.

O príncipe recusava outras mulheres em casamento, por já ser prisioneiro do amor de Inês.

Vendo estas namoradas estranhezas,


O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,

O rei, pai de D. Pedro, percebendo o comportamento do filho e os comentários do povo,

A estrofe seguinte — que virá completar a frase da anterior num típico caso de enjambement,
isto é, continuação de um verso no verso seguinte — já revela a ingenuidade do rei que acreditava livrar
seu filho deste amor apenas provocando a ausência de Inês. Aqui o narrador desabafa, expondo o seu
espanto com a atitude do povo português.

Tirar Inês ao mundo determina,


Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co‟o sangue só da morte indina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor mauro, fosse alevantada
Contra uma fraca dama delicada?

Resolve que Inês deve morrer, acreditando com isso libertar seu filho.

Inconformado, o poeta questiona: como pode um povo tão corajoso contra os inimigos mouros
levantar a espada para uma dama indefesa?

O inconformismo do poeta na estrofe anterior dá lugar ao casuísmo na estrofe seguinte. Por


vontade do destino — e não por responsabilidade do rei — Inês tem que morrer:

Traziam-na os horríficos algozes


Ante o rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,

Os carrascos trazem Inês até o rei, que já está com piedade. Mas o povo, por razões falsas,
insiste na sua morte.

Inês, triste e já com saudades do seu príncipe e dos seus filhos,

Para o céu cristalino alevantando


Com lágrimas os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
um dos duros ministros rigorosos),
E depois nos meninos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfandade como mãe temia,
Para o avô cruel assim dizia:

Olha para os céus, com lágrimas nos olhos, enquanto um dos carrascos lhe segura as mãos.
Depois, olhando para os filhos, dizia para D. Afonso, o avô:

Tem início o famoso discurso criado por Camões para que Inês tente conseguir a piedade e o
perdão do rei. Os seus argumentos, respeitando uma regra estética do Classicismo, mas não a veracidade
dos fatos, é carregado de alusões à mitologia pagã como podemos observar pelas presenças da deusa
Natura e os personagens Semíramis, Rómulo e Remo:

- Se já nas brutas feras, cuja mente


Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedosos sentimento,
Como co‟a mãe de Nino já mostraram
E co‟os irmão que Roma edificaram,

- “Se até nas feras mais brutas, cruéis desde o nascimento pela própria natureza, e nas aves
agrestes que vivem das rapinas, mesmo elas já tiveram piedade de crianças, como aconteceu com a mãe
de Nino e os irmãos que construíram Roma,

Chamando atenção do rei para a piedade que é possível encontrar até entre feras, Inês procura
comover o avô com a imagem de seus netos, que ficariam órfãos com sua morte:

Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito


(Se de humano é matar uma donzela
fraca e sem força, só por ter sujeito
o coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.

Tu que és humano (se é humano matar uma frágil dama por ser escrava de quem ama),

Tem piedade destas criancinhas já que tens da minha inocência

E se, vencendo a maura resistência,


A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida com demência
A quem para perdê-la não fez erro;
Mas, se to assi merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente.

E se sabes dar a morte aos inimigos mouros, sabes também dar vida por meio do perdão a quem
o merece.

Manda-me para o exílio em lugares gelados ou em desertos, onde eu viva chorando,

Põe-me onde se use toda a feridade,


Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, co‟o amor intrínseco e vontade
Naquele por quem morro, criarei
Estas relíquias suas, que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.

Coloca-me entre feras, e verei se encontro neles a piedade que não encontrei entre humanos. Ali,
pelo meu amor por quem morro, criarei estas relíquias, que serão meu consolo.”

Após o discurso, mais uma vez o narrador isenta o líder português da barbárie que está por
acontecer. O inconformismo volta-se para os carrascos que se deixaram levar pela insensatez:

Queria perdoar-lhe o rei benigno,


Movido das palavras que o magoam,
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra ua dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais e cavaleiros?!

O rei queria perdoar-lhe, emocionado com as palavras de Inês, mas o povo e seu destino não lhe
perdoam. Aqueles que desejavam sua morte, desembainham suas espadas.

Novamente o poeta questiona: ó peitos carniceiros, mostrai-vos ferozes e guerreiros contra uma
dama?!

A morte de Inês é apresentada por eufemismos e comparações com passagens da mitologia


antiga, como a história de Policena:

Qual contra a linda moça Policena,


Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co‟o ferro o duro Pirro se aparelha;
Mas ela, os olhos com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha)
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:

Assim como aconteceu com Policena contra quem Pirro ataca com sua espada por ter sido
companheiro de Aquiles; mas ela, com serenidade, olhando para a mãe, que enlouquece, oferece-se ao
sacrifício.

Camões, como outros artistas que retrataram a morte de Inês de Castro, prefere a imagem da
espada encravada no peito, sem dúvida, mais lírica, à do degolamento:

Tais contra Inês os brutos matadores,


No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que depois a fez rainha,
As espadas banhando e as brancas flores
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.

Os matadores investem suas espadas contra o peito de Inês, usado pelo deus Amor para matar
de amores d. Pedro, que depois de morta faria de Inês rainha. Os carrascos, porém, não pensaram na
vingança do futuro rei.

A mitologia pagã volta ao discurso do narrador por meio da referência a história de Tiestes, com
a intenção de realçar a barbárie cometida no episódio português:

Bem puderas, á Sol, da vista destes,


Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia!
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes!

O poeta agora dirige seu horror ao Sol: Melhor seria se te afastasse da terra neste dia, como
fizeste quando Atreu fez Tiestes comer a carne de seus próprios filhos!

Em seguida aos vales do Mondego, dizendo que o nome de Pedro tão ouvida da boca de Inês
naquela região foi por eles espalhado.

Mais uma vez, a comparação é usada para apresentar Inês morta:

Assi como a bonina, que cortada


Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lascivas maltratada
Da menina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas, e perdida
A branca e viva cor co‟a doce vida.

Assim como a flor arrancada pela menina perde o cheiro e a cor, tal está Inês, sem cor e sem
vida.

A abordagem lírica do episódio termina com a criação de uma fonte mágica, dando ares ainda
mais lendários ao episódio:

As filhas do Mondego a morte escura


Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram;
O nome lhe puseram, que inda dura,
„Dos amores de Inês‟, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água, e o nome Amores!

As filhas daquela região choraram a morte de Inês por longo tempo e suas lágrimas
transformaram-se em fonte; o nome dado, que até hoje dura, foi “Dos amores de Inês”, ali acontecidos. O
poeta termina concluindo com uma contradição: Vede que fresca é a fonte regando as flores, mas feita
com lágrimas e cujo nome é Amores!
A verdadeira história de Inês de Castro

Filha bastarda de um fidalgo galego, Inês de Castro veio para Portugal como companhia de D.
Constança, que vinha para se casar com o infante d. Pedro, futuro rei de Portugal. Logo surgem os
rumores de um romance entre o príncipe e a moça. Para abafar o caso, o rei e sua nora decidem fazer de
Inês madrinha do primeiro filho do casal. Isso significava criar laços de parentesco intransponíveis entre
os amantes. Porém, D. Constança morre durante o parto do único filho que sobreviveria, o infante D.
Fernando.

Com isso, o casal de amantes une-se ainda mais. Chegam a ter quatro filhos, um dos quais
morre.

O escândalo amoroso ganha mais forma com as preocupações políticas. Os irmãos de Inês eram
inimigos do rei de Castela. O povo temia que D. Pedro, por amizade a eles, entrasse numa guerra
aventureira contra Castela e submetesse Portugal ao jugo castelhano.

O terror político, mais do que os valores morais, levam o Conselho Real a decidir pela morte de
Inês de Castro, o que acontece em 7 de Janeiro de 1355, quando D. Pedro havia saído para caçar. Inês foi
degolada e enterrada na igreja de Santa Clara.

A vingança não tardaria. O infante provoca praticamente uma guerra civil contra seu pai e os três
conselheiros responsáveis pelo assassinato. Com o tempo, D. Pedro se contém e assina um “pacto de
concórdia com o Rei.

A situação, porém, não se manteria assim. Dois anos depois, morre D. Afonso. D. Pedro, agora
senhor da situação, persegue os assassinos de Inês refugiados em Castela. Dos três um conseguiria fugir.
Os outros dois foram assassinados com requintes de crueldade: tiveram o coração arrancado, um, pelo
peito, o outro, pelas costas. Esse era um ritual de vingança comum na Idade Média: os culpados eram
punidos com a amputação da parte do corpo sobre o qual fora praticado o crime. Ferido no coração, esse
fora o órgão escolhido por D. Pedro para se vingar.

A segunda parte da vingança incluía a exaltação de Inês. Passados sete anos de sua morte, o rei
decide fazer um traslado do corpo em noite triunfal, com o povo iluminando as dezassete léguas de
distância entre Coimbra e Alcobaça, onde fora preparado o túmulo real daquela que seria rainha depois de
morta. Lá, uma estátua da moça foi coroada com todos os rituais de celebração.

A lenda de Inês de Castro

O mito do amor que vence a morte foi sempre algo que provocou a imaginação dos homens. Não
é à toa, portanto, que a história de Inês de Castro ganhasse tamanha repercussão. A posição dos corpos
dos amantes nos túmulos — pés contra pés — reforçou ainda mais a crença no amor eterno jurado na
legenda do túmulo de D. Pedro: “Até ao fim do mundo”. Ao toque da trombeta do Juízo Final, quando os
corpos se levantassem, a primeira visão dos amantes seria um ao outro antes de qualquer coisa.

A coroação da estátua de Inês também serviu como inspiração para a imaginação dos poetas. O
símbolo toma-se realidade fazendo com que d. Pedro tenha coroado o corpo degolado de Inês. Alguns
chegam mesmo a dizer que o rei teria obrigado a corte a beija a mão da morta.

Para os artistas portugueses, a cena preferida para retratar o sofrimento de Inês foi o encontro
com o rei D. Afonso IV, pela sua força emotiva. Esse é o caso de Camões que, em Os Lusíadas,
praticamente não aborda o final vingador e fúnebre da história, dando total enfoque à emotividade da
cena protagonizada por Inês e D. Afonso IV.

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