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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS – FFLCH


Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas – DLCV
Disciplina: Literaturas Africanas de Língua Portuguesa I
Profª. Drª. Tania Celestino de Macêdo

As marcas da oralidade em Luuanda

Aluno: José Luiz Freitas Aléo, nº USP 5933712

SÃO PAULO, MAIO DE 2009


Uma das principais características do livro Luuanda1 escrito por José Luandino
Vieira, são as marcas do discurso oral que ficam evidenciadas nas três estórias que
compõem a obra. Dessa forma, pode-se perceber que a proposta do autor foi usar a
língua portuguesa, que já tem uma tradição literária, para contar sobre os casos dos
musseques de Luanda, valendo-se, para isso, de expressões tradicionais, da sintaxe, de
provérbios e de fórmulas da linguagem local, o quimbundo.
Levando-se em conta o fato de a oralidade ser a característica principal de povos
nativos africanos, cuja cultura, histórias, ensinamentos e sabedoria popular, são
passados de geração para geração sem que haja a necessidade do registro escrito, a
maneira como Luuanda trata os usos da língua foi um novo modo de mostrar ao leitor
uma aproximação da língua falada nos musseques. Assim, o autor oferece uma maneira
favorável para que a narração seja feita pela visão dos colonizados, e não do ponto de
vista dos colonizadores. Já que, como mostra o trecho “por isso não aceitava falar um
português de toda gente, só queria falar um mais superior” 2, Luandino deixa clara a
diferença social que existe entre o português padrão e o português popular típico das
personagens centrais das estórias.
O bilinguismo gerado pela mistura de uma língua escrita com uma linguagem
essencialmente oral é percebido não somente nas falas das personagens, mas também
nas palavras do próprio narrador, levando à conclusão de que ele também está inserido
naquele meio, de forma a comportar-se não como um narrador da tradição escrita, mas
como um contador de histórias do universo da oralidade, assemelhando-se a um griot.

O uso da língua portuguesa passa a ser muito influenciado pela língua dos
musseques, permitindo que Luandino trabalhe em diferentes níveis da linguagem. Um
dos primeiros aspectos a serem evidenciados é a presença de períodos longos e a
ausência de pontuações que seriam normativamente necessárias, o que faz passar a
impressão da fluidez e da continuidade do discurso falado, livre das marcas da escrita.
Outra característica forte em textos de narração oral é a repetição, seja de sons, de
palavras, de construções sintáticas ou de estruturas narrativas, pois todos esses aspectos
facilitam a memorização do discurso.
No nível fonético, a repetição dos sons se dá pelo recurso da aliteração. A
sonoridade da reprodução consonantal pode ser percebida diversas vezes em Luuanda,

1
VIEIRA, José Luandino. Luuanda. São Paulo, Cia das Letras, 2006
2
VIEIRA (2006), p. 50
como no trecho seguinte, em que o som [s] é frequentemente reproduzido: “Assim, ali
sozinho, de todos os lados as grandes casas de muitas janelas olhavam-lhe, rodeavam-
lhe, parecia era feitiço” 3. Também se pode citar a aliteração do fonema [ʃ] em: ”A porta,
inchada com a chuva, não entrou no caixilho dela” 4. E de [v]: “Mas vavó não sente esse
barulho da vida à volta dela” 5.
A questão lexical é outra marca importante na linguagem de Luuanda também
no que diz respeito a variações fonéticas. O autor procura, do ponto de vista fonético,
representar como as palavras são pronunciadas, muitas vezes rompendo com a
ortografia padrão, como nos casos de ”fidamãe” 6 , ”sô Ruas” 7
e ”sung’o pé” 8

e ”cobarde” 9. Todos os quatro exemplos anteriores são palavras da língua portuguesa


que foram reescritas para representar a pronúncia idealizada pelo autor, que usa de
aglutinação nos casos de ‘fidamãe’ e ‘sung’o pé’. Em relação à repetição do léxico,
destaca- se o trecho em que se repete a palavra ‘braço’ por três vezes: “[...] começa a
ficar grande, a estender os braços para todos os lados, esses braços a ficarem outros
braços [...]”10.
Pode-se perceber também um padrão na estrutura da narrativa. É a ‘Estória da
galinha e do ovo’ a que mais evidencia esse tipo de disposição textual. A estória fala
sobre duas vizinhas que acreditam ter o direito de posse de um ovo, mas não conseguem
chegar sozinhas a um acordo, por isso elas recorrem a alguém que é considerado capaz
de encontrar uma solução, no entanto, essa pessoa tenta tirar proveito da situação,
fazendo com que ambas as vizinhas e toda a comunidade presente na cena se revolte
contra ela. Essa construção se repete cinco vezes ao longo de toda a estória, com cinco
diferentes personagens (Sô Zé, Azulinho, Sô Vitalino, Sô Lemos e o Sargento).

Deve-se também notar o uso do discurso indireto livre e, muitas vezes, a


sobreposição de falas de algumas personagens ao discurso do narrador, sem que esta
mudança seja estabelecida por alguma marca introdutória. De maneira que é necessária
uma atenção especial do leitor para perceber quando é o autor ou a personagem que está

3
VIEIRA (2006), p. 30
4
VIEIRA (2006), p. 19
5
VIEIRA (2006), p. 22
6
VIEIRA (2006), p. 74
7
VIEIRA (2006), p. 76
8
VIEIRA (2006), p. 78
9
VIEIRA (2006), p. 87
10
VIEIRA (2006), p. 107
falando. No entanto, tal diferenciação poderia ser facilmente percebida caso a estória
estivesse sendo narrada oralmente.
Em relação à sintaxe, percebem-se mudanças que rompem com as estruturas
principais do português padrão. Tal movimento deve-se ao fato de o português angolano
ser uma língua de substrato, e isso permitiu que Luandino pudesse usar o idioma
português muitas vezes sobre uma estrutura sintática que pode ser do quimbundo. Como
se pode perceber em “mulher dele nasceu uma menina” 11, o verbo nascer é tratado
como se fosse um verbo transitivo, tendo, portanto o sentido de ‘fazer nascer’,
diferentemente do português, onde esse é um verbo intransitivo. Outro desvio da sintaxe
normativa que pode ser notado é em ”[...] o rapaz trabalha, tem seu carro dele [...]” 12,
onde o substantivo ‘carro’ é definido duas vezes com a mesma idéia de posse tanto pelo
pronome ‘seu’, quanto pelo adjunto adnominal ‘dele’.
Ainda quanto à sintaxe, ao analisar o trecho ”O caminho conhecia-lhe bem, não
13
precisava lua [...]” , pode-se notar, primeiramente, uma diferença em relação ao
português padrão quanto à regência verbal, já que o autor usa o verbo ‘conhecer’ como
transitivo indireto, ao mesmo tempo em que não emprega preposição junto ao verbo
‘precisar’. E no que diz respeito à ordem sintática, houve uma preferência de que o
verbo ‘conhecia’ fosse deslocado para depois do objeto ‘o caminho’. Um deslocamento
verbal semelhante também é percebido na sentença ”Nada, nem uma palavra para lhe
responder sabia”14.
No entanto, dos desvios do português padrão para a proximidade da fala dos
musseques, a mudança que talvez seja mais percebida pelos leitores é a ausência
frequente do conectivo ‘que’ entre duas orações subordinadas substantivas. No texto de
Luuanda, a maior parte dessas subordinações é feitas com o verbo ‘parecer’: ”Ri os
dentes brancos dela, parece são conchas [...]”15; mas há outros casos com outros verbos,
como em: “Eu só juro não falei mentira”16 e ”Gostava muito de Delfina, queria mesmo
ela sabia todas as coisas da vida dele [...]”17. E desse último fragmento, também se pode
destacar a ausência de verbos no modo subjuntivo, já que o português padrão prefere, no
caso anterior, a forma ‘soubesse’ invés de ‘sabia’. Novamente, pode-se apontar esse

11
VIEIRA (2006), p. 23
12
VIEIRA (2006), p. 34
13
VIEIRA (2006), p. 96
14
VIEIRA (2006), p. 65
15
VIEIRA (2006), p. 20
16
VIEIRA (2006), p. 132
17
VIEIRA (2006), p. 34
mesmo tipo de alteração em ”Zuzé mandou-lhes entrar e todo o pão [...] que estava a
sobrar e falava eles podiam comer ou mesmo levar na cela, se queriam” 18.
Outro traço que sugere a oralidade do texto é o emprego da preposição ‘em’. O
autor parece imitar muito da fala popular ao usar essa preposição para expressar uma
idéia de movimento cujo sentido é determinado apenas pelo verbo, como se pode
perceber nos seguintes exemplos: ”Mas na sopa de Maneco saía um cheiro bom [...]”19 e
“[..] podiam comer ou mesmo levar na cela [...]”20, nos dois casos, foram usadas as
mesmas preposições uma para expressar origem e outra para expressar destino, ambas
em desacordo com o português padrão, mas que parece refletirem a influencia do
idioma local de Luanda na língua portuguesa recriada por Luandino.
Quanto à questão semântica, o autor também faz uso de neologismos como o
utilizado no trecho ”O riso cabobo de Lomelino barulhou no meio do escuro [...]”21, no
qual o autor cuia o verbo ‘barulhar’ derivado do substantivo ‘barulho’. Há também
expressões que parece serem gírias de uso popular, como é o caso do verbo ‘ligar’
em ”Me liga só um bocado!” 22, dessa forma, ‘ligar’ toma o sentido de ‘dar atenção a’.
Por fim, durante todo o texto, podem-se notar as diversas palavras típicas da
variação do português falado em angola e que, provavelmente, vêm como uma
influência da linguagem original daquele lugar, como ‘cubata’, ‘nga’, ‘jinguba’ e
‘mona’, por exemplo.

Ao finalizar a ‘Estória do ladrão e do papagaio’ e a ‘Estória da galinha e do ovo’


o narrador se apresenta em primeira pessoa comentando a estória terminada, dessa
forma, ele se coloca como um contador tradicional de histórias, um griot. Ele é,
portanto o portador de todo conhecimento de uma cultura que deverá ser passada de
uma geração para a outra, essa idéia, portanto, dialoga com todo texto, onde há sempre a
transmissão de conhecimento das personagens mais velhas para as mais jovens,
especialmente na terceira estória, cujo final se simbólico se dá pela Vavó Bebeca, a
personagem mais velha, entregando um ovo para Nga Bina, personagem que está
grávida, figurando, dessa forma, a propagação da cultura oral.

18
VIEIRA (2006), p. 51
19
VIEIRA (2006), p. 25
20
VIEIRA (2006), p. 51
21
VIEIRA (2006), p. 49
22
VIEIRA (2006), p. 66

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