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Mirela Hoeltz∗
2001
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Design Gráfico - dos espelhos às janelas de papel 3
side no alfabeto em si - suas formas ge- gráfico, conforme Rafael Souza Silva, tem
néricas e usos convencionais - mas sim como objetivo ordenar nossa percepção. É
no contexto visual e formas gráficas es- ele que nos dá o fio da leitura". (Silva, 1985,
pecíficas que materializam o sistema da p.39)
escrita. Design e tipografia operam nos O discurso gráfico difere do discurso verbal
limites da escrita, determinando as for- por operar basicamente com o nível visual
mas e estilos das letras, os espaços en- dos elementos na página impressa. Como
tre elas, e sua disposição (E. Lupton e A. discurso, ele possui a qualidade de signifi-
Miller, 1996, p.14) cação. Existem pelo menos duas leituras
possíveis de uma página: uma gráfica e ou-
Nem sempre a legibilidade do texto cor- tra textual. A significação gráfica tem sido
responde à leiturabilidade do mesmo, ou vista em linhas gerais, merecendo portanto
seja, à capacidade de entendê-lo e interpretá- uma reflexão sobre as possíveis implicações
lo. do cruzamento de sua leitura com a do texto.
Araújo salienta que a orientação visual sem- As letras, os números e os sinais de pontu-
pre residirá no princípio da legibilidade ação são chamados de caracteres e cada um
onde, deles representa o que nós conhecemos por
em sentido restrito, essa legibilidade de- tipo, palavra que deu origem ao termo tipo-
pende da maneira como se dispõem os grafia. A tipografia tem como objetivo bá-
caracteres(em palavras, frases, perío- sico comunicar uma informação por meio da
dos) nas linhas, tornando a leitura cô- letra impressa. O termo foi empregado pe-
moda ou, ao contrário, às vezes que im- los chineses desde o século XI, até a inven-
praticável; em amplo sentido, porém, ção da imprensa propriamente dita no século
tal disposição deve combinar-se à pró- XV quando Gutenberg substituiu as tábuas
pria organização da página, vale dizer, o xilográficas por tipos móveis com caracte-
modo como se articulam nesse espaço os res gravados em metal. As letras maiúscu-
elementos que o conformam em um todo, las são chamadas de caixa alta e as minús-
em uma unidade. (Araújo, 1986 p. 402) culas de caixa baixa. As duas terminologias,
caixa alta e caixa baixa, foram instituídas por
Discernir legibilidade de leiturabilidade convenção, porque antigamente os tipógra-
ajuda a refletir sobre a atenção que a mídia fos tinham como hábito guardar as matrizes
impressa deve ter no momento de adequar os dos tipos em compartimentos de madeira ou
elementos que configuram o design. ferro, num cavalete. Nas partes superiores
eram colocados os tipos de letra maiúscula e
nas inferiores, os tipos de letra minúscula. É
2 O discurso gráfico
importante salientar que a terminologia utili-
Dificilmente olhamos um jornal sem ler as zada em todas as formas de composição grá-
palavras. Mas se não conhecemos a língua, é fica tem origem nesse tipo metal. Com o
a única possibilidade. Se não lemos palavras, desenvolvimento das artes gráficas e a des-
uma folha de papel ou de jornal, transforma- coberta dos novos sistemas de composição,
se em espaço ocupado por tinta. "O discurso muitos termos foram modificados, embora
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grande parte ainda seja usada, independen- produtos gráficos considerados não como
temente dos vários sistemas hoje desenvol- produtos únicos, mas ligados a um conjunto,
vidos. a uma série ou família de produtos. É o caso
O termo fonte é empregado num alfabeto de prospectos, embalagens e anúncios pu-
completo com letras maiúsculas e minúscu- blicitários, que são concebidos formando o
las, números e sinais de pontuação, todos conjunto da publicidade de determinada em-
com baseados em um mesmo tipo de dese- presa. É o caso de livros com o mesmo for-
nho. O agrupamento de todos os tamanhos mato e as mesmas características visuais, fa-
dos caracteres, reunindo a variação de esti- zendo parte de uma série ou de uma cole-
los de um desenho de tipo (romanos, itáli- ção. É o caso dos documentos comerciais
cos, negritos, largos, condensados e outros), de empresas - papel timbrado para corres-
recebe o nome de família de tipos. pondência, envelopes, cartão de visitas e ou-
Os tipos podem ser apresentados em tama- tros - projetados, diagramados e impressos
nhos diferentes. É o chamado corpo de letra, para diferenciar-se do fluxo de outros sinais
ou seja, sua dimensão. A altura do retângulo distintivos, como emblemas, marcas, logoti-
onde está inscrito o olho da letra chama-se pos, cores, semelhanças de estilos ou tipos
corpo, que representa o seu tamanho, sem- de composição.
pre identificado por um número que engloba A composição visual tradicional desenvolve
a quantidade de pontos gráficos que ele con- o que chamamos de ’projeto vertical’ em que
tém. O seu tamanho é que vai determinar o as matérias são dispostas no sentido verti-
espacejamento natural entre uma linha e ou- cal, de cima para baixo, ocupando somente
tra composição gráfica. É fundamental que o uma coluna, disposta sempre em seqüência.
designer saiba dispor eficientemente da téc- Essa forma de diagramar tende à monotonia
nica de compor e entrelinhar um arranjo grá- e a dificultar a leitura. Um exemplo bastante
fico, fazendo com que ele tenha legibilidade claro e conhecido seria a paginação tradicio-
adequada. Um espacejamento muito grande nal dos livros. Nos livros o texto ou a man-
entre as letras ou um entrelinhamento exa- cha é tipicamente ocupada por uma única co-
gerado entre as linhas compostas pode tor- luna obrigando que os olhos do leitor façam
nar impraticável a leitura do arranjo gráfico, um caminho muito longo. Este exercício dos
além de torná-lo esteticamente desagradável. olhos é cansativo e faz com que o leitor mui-
Da mesma forma deve-se evitar o espaceja- tas vezes se perca quando muda de linha. Já
mento demasiado das letras ou o seu entre- nos jornais são utilizadas mais várias colu-
linhamento apertado, o que causará descon- nas, separadas e todas elas divididas por ca-
forto na leitura. O espacejamento e o entre- lhas que fazem com que o fluxo de leitura
linhamento de um determinado arranjo grá- seja mais ágil. O espacejamento entre as co-
fico formam o processo fundamental em que lunas e sua relação com a margem da página
os designers se baseiam para a produção fi- também são fatores determinantes da legibi-
nal de um texto. lidade do impresso.
Não se limitando a aspectos meramente ti-
pográficos, a diagramação implica, hoje, um
processo criativo, incorporado a projetos de
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enxertam-se em meio aos textos, quebram- ano, com a descoberta de novos sistemas,
lhe a monotonia, imprimem movimento ao que procuram basicamente reduzir o tempo
todo. Eis o grande arranjo estético, a orques- da produção industrial e tornar economica-
tração gráfica do meio impresso. mente viável o resultado final de uma publi-
cação.
O sistema de fotocomposição teve início co-
4 A tecnologia gráfica
mercial a partir da década de 50, e conti-
Desde meados do século XV quando Gu- nua se desenvolvendo a partir do uso de ma-
tenberg implantou a tipografia pouco mudou trizes planas gravadas em fitas magnéticas,
no processo de composição manual, que tem filme, fita perfurada, discos e com o auxílio
como base a reunião de tipos formando li- de computadores. Novos complexos gráficos
nhas e a reunião das várias linhas resultando foram montados pelas grandes empresas edi-
em arranjos gráficos, formando páginas. O toriais, aposentando definitivamente as ve-
processo é bastante rudimentar e artesanal: o lhas linotipos.
operador, munido de um aparelho chamado Na segunda metade do século XX entramos
’componedor’, em que é fixada a medida numa nova etapa da produção gráfica atra-
da composição, posiciona os vários tipos le- vés da composição eletrônica. Terminais
tra por letra, espaço por espaço compondo o de vídeo foram instalados, nas redações dos
grafismo da página. Atualmente, pela moro- grandes jornais e editoras mudando comple-
sidade do sistema, sua utilização está restrita tamente o hábito desses profissionais. A
a impressos comerciais de pequena tiragem. grande novidade desse sistema é a ausência
Somente quatro séculos depois da invenção de laudas, pois o redator redige o seu texto
dos tipos móveis por Gutenberg, no final do diretamente no terminal, que lhe dá condi-
século XIX, a composição mecânica passou ções técnicas de correção instantânea, a me-
a ser utilizada em escala industrial. O pro- dida gráfica em paicas e o tamanho do corpo
cesso se baseia na fundição de tipos a par- de letra, programado com a quantidade de li-
tir de ligas metálicas, onde o operador senta- nhas compostas, para ser utilizado no mo-
se à frente de um teclado, ajusta a medida mento da diagramação. Uma vez o texto
ou largura da linha e o entrelinhamento de- pronto, e armazenado no computador, o di-
sejado. Quando o operador aperta as teclas agramador se encarregará de resgatar os ar-
as matrizes caem em seqüência para formar quivos de textos com medidas e tamanhos
uma linha de composição. exatos em módulos, para criar o layout da
Houve um grande hiato entre a tipografia de página a ser impressa.
Gutenberg no século XV e a descoberta e Cabe ao diagramador utilizar uma série de
desenvolvimento da composição mecânica a recursos gráficos aumentando ou diminuindo
partir do final do século XIX; depois dessa através de teclas de comando, o tamanho dos
época, as técnicas vêm evoluindo de forma corpos programados, alternado os módulos
acelerada e encurtando as distâncias no aper- para colunas mais largas ou mais estreitas,
feiçoamento técnico das artes gráficas. ou até mesmo enxertando nesses módulos os
Durante o século XX o avanço tecnológico artifícios gráficos que desejar, de acordo com
nas artes gráficas se acelera de ano para a sua criatividade e a disposição do planeja-
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ção, tornando-a mais clara e suave, fazendo MUNARI, B. Design e Comunicação Visual.
com que leitores passem a encarar uma lei- SP: Martins Fontes, 1997. 350 p
tura mais confortavelmente.
ONG, W., Cultura e escrita e oralidade. SP:
Ática, 1995
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