Os questionamentos feitos pelo autor, no início do texto, em relação ao trabalho do
historiador, são no mínimo interessantes, visto que, busca entender a misteriosa relação que afirma manter com a morte e a sociedade, através do seu trabalho, (atividades técnicas) que media de fato essa relação. O homem ao refletir, tem maior chance de melhor resolver seus problemas e inquietações, assim como, a compreensão de determinadas situações e respostas para as indagações que por vezes, acontece após os conflitos internos. A particularidade do lugar de onde fala, e do domínio em que realiza uma investigação, é de fato, um lugar peculiar onde somente ele que o conhece de forma mais aprofundada, mais intrínseca, tem o conhecimento e autoridade sobre o mesmo.Não se pode destruir de forma alguma, a sua “marca”, ou seja, a sua presença, as suas impressões ali impregnadas. O lugar dessa forma assume o papel de protetor, o “patuá”, que o diferencia de quando está discursando e encenando as questões globais. É o historiador, através do seu gesto, que faz as ligações das idéias e os lugares.Isto baseado, evidentemente, em análises de materiais, etc. Fica evidente, que o historiador é na verdade, um instrumento de vital importância para o fazer histórico, possui a capacidade de delinear e direcionar as investigações.Partindo dessa afirmação, o cuidado também com a postura do historiador, também se faz necessária; tendo ele tanto poder de decisão, poderá sofrer influências de outrem, e servir aos interesses de uma ideologia dominante.Aliás, era justamente isso que acontecia, com os historiadores quando não conseguiam compreender, a verdadeira função da história para a sociedade. E suas experiências acabaram tornando-se dogmáticas. Foi de fato uma crise, que se agravou de forma substancial, quando as ciências sociais foram de certa forma se distanciando da realidade, e algo de muito sério ficou evidenciado, o afastamento, digamos assim, da teoria quanto à prática. Nesse sentido, o autor faz uma pergunta importante: “Quando a história se torna para o prático, o próprio objeto de sua reflexão, pode ele inverter o processo de compreensão que refere um produto a um lugar?”E responde de forma categórica que, em caso afirmativo,seria ele, o historiador um fujão;pois acabaria por ceder a um pretexto ideológico.Sendo a história formada por um dado conjunto de pensamentos sistematizados, cujas referencias se remetem a lugares, quer seja econômico, social, cultural etc, a dicotomia entre o que faz e o que diria do que faz, só serviria de verdade à ideologia vigente e|ou reinante.Assim a história seria protegida da prática efetiva. E uma prática sem teoria, na visão do autor, acabaria fatalmente, num determinado dia no “dogmatismo de valores eternos ou na apologia de um intemporal”. Considero realmente de suma importância, o pensamento do autor, em relação à teoria e a prática, visto que elas são no meu ponto de vista, desassociáveis, podendo conviver de forma harmoniosa, uma não devendo sobrepor à outra. O autor cita alguns autores, como Michel Foucault, Paul Veyne e Serge Moscovici,como atestadores de um despertar epistemológico, que naturalmente,na tentativa de organizar o produto do trabalho a um lugar, um discurso a uma prática,e esta conseqüentemente a uma escrita, se caracterizou de fato,um discurso sobre a ciência. O historiador pode assim, obter respostas para as suas indagações, pelo fato de passar a conhecer para que realmente serve o seu produto, para onde vai e principalmente o porquê dele.Isto naturalmente foram os procedimentos da epistemologia que proporcionou esse conhecimento. O silêncio também era desejado por ela, no entanto, a epistemologia, sem referência, possibilitaria a teoria do conhecimento, toda ela, somente uma mediação sobre algo vazio, sobre o vácuo, por assim dizer; seria trabalhar com o mito, e não com a história em si.O historiador, nesse caso específico, teria o papel de desmistificar o mito, ou seja, de desfazer-lo e ao mesmo tempo, de percebe-lo como sendo um produto do senso-comum, das idéias que proliferam. Portanto, a operação histórica, se refere a um tripé essencial que estabelece relações entre as práticas científicas e a escrita; isto tudo combinado a um lugar social.Este último, sempre submetido de certa forma a particularidades (nesse caso não me refiro especificamente, ao historiador, como anteriormente, mas as pessoas outras de ideologia dominante, por exemplo,) a privilégios e imposições que infelizmente, ao longo da história, registraram o que acharam que seria importante, ou seja, os feitos dos “grandes homens, os heróis, estadistas e eclesiásticos”, deixando de fora, a história da população coadjuvante, que só foi relatada com o advento da Nova História. A verdade objetiva (positivismo), foi substituída pela subjetividade do autor, pois a suposição de que toda a interpretação histórica depende de referências, fez a subjetividade surgir paulatinamente e se infiltrar no trabalho de análise, organizando-se à revelia.É evidente e plausível que o pensamento, impressões, energia, vontades...Do historiador de uma forma ou de outra, se manifesta durante a execução do seu trabalho, pois ele não é um objeto inanimado, sem emoções, mas um ser com direito a erros e acertos, complexo e com inúmeras indagações... A multiplicidade de filosofias individuais em nome de uma história total, na ótica do autor, nada mais é do que um fragmentado quadro demonstrativo que possibilita a análise de que a relatividade histórica está calçada na fragmentação, caracterizando assim, o não-dito.E o fato, de que os enunciados, na linguagem de análise, são previamente e|ou anteriormente escolhidos, sem ao menos passarem pela simples observação, reforça o pensamento do autor no que se refere especificamente a facilidade de falsificações. A pesquisa histórica é movimentada pela localização sócio-cultural de quem a realiza, portanto é praticamente impossível examinar um discurso sob a ótica independente da instituição.Os filósofos divergiam entre si, mas ainda assim, através de suas poderosas instituições, formava um grupo isolável, particular da sociedade.Foi R. Aron, que acabou substituindo o privilégio silencioso de um lugar, por um outro, poderoso e discutível de um produto.E foi a instituição do saber (relação de um sujeito com o objeto), que marcou a origem das ciências modernas. Portanto, a relação intrínseca entre uma instituição social e a definição do saber, proporcionou a especialização de instituições políticas, eclesiásticas etc. O que ocasionou a redistribuição do espaço social, também chamado de fundação de “corpos”. Um lugar científico foi constituído, após o endurecimento das universidades ao se fecharem, num momento bastante crítico. E, a relativa retirada dos assuntos religiosos e públicos, possibilitou a instauração de uma instituição de saber indissociável. Segundo as pesquisa de Habernas, uma “repolitização das ciências humanas se impõe: não se poderia dar conta dela, ou permitir-lhe o progresso sem uma teoria crítica de sua situação atual na sociedade”.Concordo plenamente com o autor, pois na verdade é de total leviandade toda e qualquer mudança, que não seja antes discutida, avaliada, principalmente no papel que exerce de positivo na sociedade. Uma mudança de sociedade, no entanto, permite ao historiador, conforme o texto, um distanciamento com relação aquilo que se torna globalmente um passado. De acordo ainda com o seu pensamento, o historiador ao trabalhar nas margens, a vagar nas sombras, distante do paraíso de uma história global, transita no lado oposto das racionalizações adquiridas, caminha por desvios, cercados por regiões exploradas, como: o mundo esquecido dos camponeses, a loucura, a feitiçaria, etc. Transita, portanto, pelas zonas silenciosas.Considero o trabalho realizado nas margens de relativa importância para a história, pois proporciona conhecimento específico em determinadas áreas antes difícil de serem conhecidas e pela oportunidade de se fazer jus aos que construíram e constroem a história, dando oportunidade para que todos os seguimentos da sociedade possam ser explorados, sem, contudo, se perder o sentido global. A incapacidade do historiador de construir um império citado pelo autor, e que torna o motivo básico do seu peregrinar pelas margens, é um ótimo sinal de que o mundo vivendo em mudanças constantes, sem cristalizações, permite reflexões e aparecimentos de “novidades” que mudam de certa forma o curso da história. Não perpetuando pensamentos de alguns pensadores, mas oportunizando o transito por várias correntes de pensamento, que possibilita ao estudante vagar consciente pelas margens ou se deleitar com as histórias dos que ambicionam a construção de impérios... Apesar da história ter sido fragmentada numa pluralidade de histórias, havia evolução e o conhecimento histórico restabelecia o mesmo pela relação comum.Atualmente, (para o autor), o conhecimento histórico é julgado melhor por sua capacidade de medir exatamente os desvios, não só quantitativos, mas também qualitativos.A operação histórica tem efeito duplo; por um lado, historiza o atual e por outro lado, a imagem do passado mantém o valor de primeiro representar aquilo que falta. A operação que faz passar da prática da investigação à escrita, causa estranheza ao autor, devido naturalmente ao processo de investigação, por exemplo, poder ser interminável, enquanto que um texto, obrigatoriamente tem que possuir um final estruturado.E ainda sob o olhar de suas observações, conclui que a escrita história ainda hoje permanece controlada pelas práticas, sendo ela própria uma prática social. Confere ao leitor, portanto, um lugar pré-estabelecido, distribuindo o espaço; ela é didática e magistral, mas ao mesmo tempo, tem o regulamento ambivalente “de fazer história”.E, como disse Jean-Pierre Faye, de impor violências de um poder e de fornecer escapatórias. A escrita dispensa na cronologia de todo o relato, a um não dito que é o seu apostolado. “A lei sempre tira partido daquilo que escreve”.A cronologia tem o papel de indicar um segundo aspecto do serviço que o tempo presta a história; ela na verdade, contradiz a possibilidade do recorte em períodos, e a historiografia trabalha para encontrar um presente que é o fim de um percurso longo, na história cronológica. Onde se estabelece o lugar do morto e o lugar do leitor? Segundo o texto, marcar um passado é dar um lugar a morte, mas ao mesmo tempo, é também redistribuir o espaço das possibilidades, ditar de forma negativa aquilo que está por fazer e por conseqüência, utilizar a narratividade que enterra os mortos, como um caminho de estabelecer um lugar próprio para os vivos. “O que é que o historiador fabrica quando se torna escritor? Seu próprio discurso deve revela-lo”. O texto, em se é muito complexo, com citações de vários autores e um tanto repetitivo.No entanto, foi importante estuda-lo, pois fortificou ainda mais a minha crença, na complexidade de opiniões entre os autores historiadores e que cada um possui diferenciados pontos de vista, por vezes, sobre vários assuntos; que divergem entre se, deixando evidente que não existe verdade absoluta e que a interferência do homem na natureza e em tudo que ele se propõe a fazer é histórica. O autor se mostra por vezes, confuso em relação à história total e a pluralidade de histórias, visto que ao mesmo tempo, em que dá um enfoque supostamente negativo, a fragmentação da história, fala da evolução que ocorreu com esse fato, se referindo às relações comuns. A dialética do corpo social com a história possibilita a compreensão com a prática historiográfica contemporânea, que não visa mais uma história total e|ou global, mas trabalha nas zonas silenciosas, nas margens...Liga ao mesmo tempo, o real à morte, pois o presente e pretérito estão interligados, no momento em que, mesmo no presente, o historiador através de objetos, artefatos diversos, história oral, etc, convive com o passado.Portanto, a força histórica deve ser buscada através da realidade, organizado pela epistemologia. Contudo, a história como disciplina, ou ciência, deve ter sempre um poder crítico, assim como também possuir finalidade de cunho social. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA-UNEB DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS-CAMPUS IV LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA DISCIPLINA-TEORIA DA HISTÓRIA III DOCENTE-LUÍS HENRIQUE BLUME DISCENTE-MARIA DE LURDES M. D. BARBOSA
COMENTÁRIO CRÍTICO
Jacobina 30 de junho de 2003 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
1. CERTEAU, MICHEL DE. A ESCRITA DA HISTÓRIA. p. 65-109. Rio de Janeiro:
Uma História Acerca Da Constituição Do Curso de Graduação em Matemática Da Universidade para o Desenvolvimento Do Estado e Da Região Do Pantanal (Uniderp/cesup)