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A lenda revela-nos que tão inusitada união dera-se quando do retorno do então
Soberano do Egito ao seu magnífico país. Extenuando de uma viagem que o
mantivera longe da sua pátria por uma eternidade, Osíris ardia em desejo de
sentir o Sol que raiava no olhar de Ísis despir a mortalha de nuvens, tecida
pela saudade, que vestia e sufocava os céus de sua alma. Ao vislumbrar Néftis,
o deus enlaça-a então em seus braços, tomando-a pela sua esposa. E os seus
sentidos, cegos pela paixão, revelam-se impotentes para lhe desvendar a
traição que ele cometia, antes desta encontrar-se consumada. Graças a uma
coroa de meliloto abandonada por Osíris no leito de Néftis, Ísis abraça a
percepção de que o seu amado esposo havia-lhe sido infiel e, desesperada,
confronta a sua irmã, que lhe revela que de tão ilídimas núpcias nascera um
filho, Anúbis, o qual, temendo a cólera do seu esposo legítimo, Seth, ela havia
ocultado algures nos pântanos. Ísis, a quem não fora concedido o apanágio de
conceber um filho de Osíris, enleia então a resolução de resgatá-lo ao seu
esconderijo, percorrendo assim todo o país até encontrar a criança. Acto
contínuo, e numa notória demonstração da benevolência que lhe era
característica, a deusa amamenta Anúbis, criando-o para tornar-se o seu
protetor e mais fiel companheiro.
Mas afinal que arte era esta que Anúbis protegia e representava?
Originalmente, antes de haverem alcançado o seu meticuloso método de
mumificação, os Egípcios envolviam os seus defuntos numa esteira ou pele de
animal, visando que o calor e o vento dissecassem os cadáveres. Após um
moroso processo evolutivo, os embalsamadores conseguiram enfim obter de
forma artificial tal conservação natural, mediante um prolixo tratamento, que
se prolongava por setenta dias. Uma vez ser necessário quantidades
abundantes de água para lavrar os corpos, este ritual era realizado na margem
Ocidental do rio Nilo (a considerável distância das habitações), onde os
embalsamadores trabalhavam numa tenda arejada. Ultimado o referido
período de tempo, os defuntos seguiam para as designadas “Casas de
Purificação”, meras salas reservadas para as práticas de mumificação, onde
cada gesto dos embalsamadores era talhado no olhar vigilante dos sacerdotes.
Segundo inúmeros baixos-relevos e pinturas, estes primeiros ostentavam
máscaras com a efígie do deus- chacal Anúbis, a deidade protetora dos mortos,
talvez num desejo de atrair a sua benevolência.
Djed- eternidade;
Keres- caixão;
out- embalsamadores