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Introdução
para os movimentos sociais e para o campo interdisciplinar dos Estudos Gays e Lésbicos
para progressivamente se transformar, no Brasil de nossos dias, de uma categoria política
e de políticas públicas em um conceito teórico?”.
! Como disse, a Homofobia como uma categoria no Brasil tem ocupado um lugar
central em três distintos campos que dialogam entre si na contemporaneidade (anos
2000): movimentos sociais, políticas publicas e pesquisas acadêmicas. São múltiplos
seus usos e os Estudos de Gênero e Estudos Gays Lésbicos e Trans brasileiros, bem
como as áreas disciplinares que nela investiram nos últimos anos (Educação, Psicologia,
Antropologia e História), ainda não foram capazes de sistematizar as teorias e campos
científicos que a circunscrevem enquanto categoria analítica ou politica. Uma breve
análise dos trabalhos acadêmicos de mestrado e doutorado em que o conceito de
homofobia aparece como central (FERNANDES; PEDRO; GROSSI, 2008) observamos
que não se investe na contextualizaçao historica do conceito, mas principalmente em
alguns “eixos” onde a homofobia é localizada como (1) as políticas públicas e os
movimentos sociais, (2) a escola e materiais didáticos, (3) as representações sociais
sobre a homofobia, (4) aspectos jurídidos relacionados a legislação protetiva para
homossexuais e sobre (5) violências e crimes de ódio.
! Em minha pesquisa de doutorado analiso, a partir das reflexões feministas
(SCOTT, 1991), a homofobia como uma categoria polifônica, que é ao mesmo tempo
usada política e teóricamente, através de diferentes sujeitos (ativistas, gestores e
acadêmicos). Fala-se no combate à homofobia, nomeia-se sujeitos como homofóbicos,
definem-se práticas como homofóbicas e assim por diante. Trata-se de uma categoria
ambivalente pois ela articula muito seguidamente os campos da luta política e da
produção teórica, seu uso estando ligado à diferentes movimentos sociais que, em suas
diferentes correntes fazem usos diferenciados do termo. Como uma categoria que tem
produzido sentido em nosso campo é nosso dever, como universitários interessados no
tema, densificarmos nossas reflexões para produzirmos teorias e práticas mais eficazes
teórico-politicamente.
! Conforme aponta Byrne Phone (2000), historiador norte-americano, não há
homofobia, mas homofobias, sempre no plural. A homofobia deve ser associada a uma
explanação do que entendemos por homofobia naquele determinado contexto teórico e/ou
político, ou seja, a homofobia é, como a categoria de “experiência” estudada por Joan
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Historicizando a Homofobia
como uma categoria teórica no início dos anos 1970 na Psicologia. Falando de uma
“personalidade violenta” a categoria estava imbuída no “clima” da Revolução Sexual e
posteriormente pela produção de uma nova homossexualidade, marcada pela opressão e
pela resistência a sua colagem ao pecado e a doença. Os anos 1980 e 1990 se viram
marcados pela aids e nas respostas coletivas a esta epidemia. Entretanto em meados dos
anos 1990 novas reflexões sobre o lugar da homofobia como conceito que explica a
situação de violência vivenciadas por homossexuais e representações negativas em
relação a homossexualidade atuam na produção de um campo interdisciplinar que pensa
essas questões. O final dos anos 1990-início dos anos 2000 a homofobia é uma categoria
teorizada nas Ciências Humanas, mas também uma categoria de políticas públicas
integrando agendas globais de combate à violência. Estas agendas são marcadas pela
pauta dos direitos humanos, tidos como universais. O campo dos direitos humanos é o
campo da cidadania e de produção de legislação protetiva, ou seja, atuam neste universo
as práticas do advocacy e defesa de legislação, bem como se expande a série de sujeitos
políticos envolvidos na agenda. Por fim, nos dias de hoje, vemos a homofobia como uma
categoria híbrida, teórico-política, que é usada no campo interdisciplinar dos Estudos de
Gênero e Estudos Gays e Lésbicos compostos por uma coalizão movimentos sociais-
Estado-universidades, cada segmento com papéis definidos.
Referências
DUBERMAN, Martin. Stonewall. New York: A Plume Book, 1994.
SCOTT, Joan. The evidence of Experience. Critical Inquiry, v. 17, n. 4, 1991, pp.
773-797.
University Press.