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Do Projeto Moradia ao programa

Minha Casa,
A
enorme repercussão que “pacote” agora lançado exige uma
A crise econômica
teve o lançamento do pro- recuperação desse processo, iniciado
e a disposição do grama Minha Casa, Mi- em 1999 com a elaboração do Projeto
governo em dinamizar nha Vida, com sua meta Moradia, que se desdobrou nas ações
cabalística de 1 milhão de do governo destes últimos seis anos.
a construção civil unidades habitacionais para enfrentar Nesse sentido, é necessário mos-
atropelaram o Plano o impacto da crise econômica, tende a trar os principais elementos da nova
obscurecer o longo, difícil e relevan- Política Nacional de Habitação e as es-
Nacional de Habitação, te processo promovido pelo governo, tratégias previstas no recém-concluído
pactuado como uma com o apoio (crítico e militante) da Plano Nacional de Habitação, identi-
estratégia de longo sociedade, representada pelo Conse- ficando em que medida o programa
lho Nacional das Cidades, para dotar o Minha Casa, Minha Vida se articula
prazo para atacar um país de uma política abrangente e es- ou não com os princípios e propostas
problema crônico. truturada que equacione o dramático neles contidos.
problema habitacional brasileiro. O “pacote” habitacional não deve
O programa anunciado Ao publicizar o novo programa an- ser visto nem com exagerado entu-
não resolve o déficit tes de apresentar o Plano Nacional de siasmo nem como um desastre, como
de 7 milhões de Habitação (PlanHab) – uma estratégia algumas críticas têm enfatizado. Por
de longo prazo para equacionar o pro- um lado, 1 milhão de casas não sig-
unidades, mas as críticas blema habitacional, formulada e deba- nificam muito para um país com um
pessimistas não levam tida por ano e meio, sob a coordenação déficit de mais de 7 milhões de uni-
da Secretaria Nacional de Habitação, dades e com uma demanda de 27 mi-
em consideração que que estava pronta para ser publicada lhões nos próximos quinze anos, além
o patamar de recursos em janeiro de 2009 –, o governo per- de ser evidente o risco de produzir
foi elevado, exigência deu uma excelente oportunidade para moradias precárias, em localizações
mostrar como uma ação anticíclica po- inadequadas e com baixa aderência
antiga dos movimentos deria se articular com uma estratégia ao perfil do déficit. Mas, por outro, as
de moradia estrutural para atacar um problema avaliações pessimistas são excessiva-
brasileiro crônico, no âmbito de um mente ácidas ao não observar que o
Nabil Bonduki projeto nacional de desenvolvimento programa elevou a um patamar ótimo
com inclusão social. os recursos orçamentários em habi-
Com avanços e recuos, o governo tação, como há décadas os que lutam
Lula marca um ponto de inflexão nas por moradia digna reivindicam. Resta
políticas de habitação do país. Uma saber se esses investimentos chegarão
reflexão crítica consistente sobre o a quem mais precisa e se serão pe-

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nacional

Minha Vida
Rivaldo Gomes/Folha Imagem

renes, para garantir a continuidade recolhendo propostas e debatendo aprovação do projeto de lei de inicia-
de uma política realmente social de alternativas. tiva popular de instituição do Fundo
habitação. Lançado em 2000, o projeto tinha Nacional de Habitação, bandeira do
três dimensões – gestão e controle movimento de moradia que tramitava
O Projeto Moradia social, projeto financeiro e urbano- desde 1991 no Congresso Nacional.
Há exatos dez anos, fui procu- fundiário – e o enfrentamento da ques- A política de subsídios previa um
rado pelo Instituto Cidadania, para tão não apenas no âmbito do governo mix de recursos não onerosos – do
elaborar um projeto para equacio- federal, mas considerando o conjunto Orçamento Geral da União (OGU) e
nar o problema habitacional no país. dos agentes que têm alguma respon- do Fundo de Garantia do Tempo de
A proposta fazia parte de um conjunto sabilidade no problema da habitação, Serviço (FGTS) – com recursos retor-
de iniciativas do instituto, coordenado público e privado. náveis, para viabilizar o crédito e o
por Luiz Inácio Lula da Silva, tendo O projeto propôs a criação do Sis- acesso à moradia digna para a popu-
em vista a construção de projetos de tema Nacional de Habitação, formado lação de baixa renda.
desenvolvimento que associassem pelos três entes da Federação, que Para concentrar o FGTS na baixa
o enfrentamento da questão social atuariam de forma estruturada sob renda, seria indispensável a retoma-
a crescimento econômico e geração a coordenação de um novo ministé- da da produção habitacional pelo
de empregos. rio (Cidades). O controle social seria mercado, para atender a classe mé-
Para levar adiante essa ideia, cha- exercido pelo Conselho Nacional das
mada Projeto Moradia, durante um Cidades e órgãos nos estados e muni- 1 Sob a supervisão de Lula e a coordenação geral
ano uma equipe1 promoveu inúmeras cípios, aos quais caberia gerir fundos de Clara Ant, a coordenação foi formada por
reuniões técnicas e seminários com de habitação, que deviam concentrar André de Souza, Ermínia Maricato, Evaniza
Rodrigues, Iara Bernardi, Lúcio Kowarick,
todos os segmentos da sociedade recursos para subsidiar a baixa ren- Nabil Bonduki e Pedro Paulo Martoni Branco,
envolvidos com o tema da moradia, da. Nesse aspecto, seria prioritária a com a gerência executiva de Tomás Moreira.

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dia, reativando o crédito imobiliário, A política do governo Lula FGTS do governo anterior, apesar dos
particularmente do SPBE (recursos da Em 2003, as propostas de gestão esforços do Ministério das Cidades em
poupança), que não vinha cumprindo avançaram mais rapidamente que o priorizar a população de baixa renda,
os dispositivos legais que exigem a apli- projeto financeiro. O Ministério das onde está concentrado o déficit.
cação dos seus fundos em habitação, Cidades foi criado buscando, com qua- A nova Política Nacional de Habi-
pois o governo FHC, baseado no rigor tro secretarias nacionais (Habitação, tação (PNH)2 incorporou as propostas
monetarista, enxergava o financiamen- Saneamento, Mobilidade Urbana e do Projeto Moradia (com exceção do
to habitacional como inflacionário. A Programas Urbanos), articular as po- Fundo de Aval), mas aspectos impor-
criação de um fundo de aval era con- líticas setoriais e enfrentar a questão tantes não puderam ser implantados de
siderado estratégico para reduzir os urbana. Em outubro de 2003 foi rea- imediato. Sem subsídios significativos,
riscos de crédito e os juros. lizada a 1ª Conferência Nacional das prevalecia a visão bancária da Caixa
O Projeto Moradia enfatizava a ne- Cidades, com 2.500 delegados eleitos Econômica Federal, sem alterações na
cessidade de aprovação do Estatuto num processo de mobilização social concessão do crédito.
da Cidade para facilitar e baratear o em mais de 3 mil municípios, que con- O Fundo Nacional de Habitação,
acesso à terra, combatendo a especu- solidou as bases da atuação do governo um compromisso histórico de Lula,
lação com imóveis ociosos. A noção e propôs a criação do Conselho Nacio- reiterado na 1ª Conferência Nacional
de que a questão da habitação não nal de Habitação, instalado em 2004. das Cidades, encontrou forte oposi-
podia ser enfrentada sem uma forte O ministro Olívio ção na equipe eco-
intervenção no mercado fundiário e Dutra e sua equipe nômica e apenas foi
de modo articulado com a questão encontraram enor- O problema da aprovado em 2005 e
urbana consolidou-se depois de um
voo de helicóptero sobre São Paulo.
mes dificuldades
na área de finan-
moradia não instalado em julho
de 2006. Em vez
Tivemos a oportunidade de mostrar ciamento, diante de se resolve com de ser institucio-
a Lula o caótico processo de expansão uma rígida política construção de nalizado como um
urbana, e ele ratificou a concepção
de que o problema da moradia não
monetária, sob o
comando ortodoxo casinhas, mas fundo financeiro,
foi i nst it u ído
se resolvia apenas com a construção do Ministério da Fa- enfrentando como um fundo
de casinhas, mas era necessário en-
frentar também a questão urbana e
zenda. Durante 2003
e 2004, escassearam
a questão orçamentário, li-
mitado a cumprir
fundiária, aspecto que tem grande os recursos, conti- urbana e seu papel. O go-
atualidade no programa Minha Casa, nuando a prevale- fundiária verno, entretanto,
Minha Vida. cer os programas do comprometeu-se a
aportar R$ 1 bilhão
por ano para subsidiar os programas
habitacionais, valor nunca alcançado
Gráfico 1 Atendimento habitacional por faixa de renda
anteriormente. A mesma lei instituiu
com recursos do FGTS (2002-2007)
o Sistema Nacional de Habitação de
Acima de 5 SM Interesse Social e exigiu de estados e
43% 33% 30% 29% 26% 22%
Entre 3 e 5 SM
municípios a criação de uma estrutura
13% institucional, com fundo, conselho e
19% Até 3 SM
26% 25% plano de habitação, para que tivessem
25% 41% acesso aos recursos federais.
Aos poucos, elementos-chave para
32% 26% 44% 46% 56% 65% a implementação da nova política ha-
bitacional foram sendo incorporados,
2002 2003 2004 2005 2006 2007 com o apoio e luta dos segmentos re-
Fonte: Ministério das Cidades. Apresentação aos Seminários Regionais do PlanHab, 2007
presentados no ConCidades. A Reso-

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a exigir que os bancos utilizassem os
Gráfico 2 Evolução e tendências dos recursos não onerosos para a
recursos da poupança para financiar
produção habitacional e urbanização de assentamentos precários
a habitação. Num quadro favorável
– recursos do OGU e do FGTS (desconto) 2002-2008
da economia, essas medidas geraram
4000
uma elevação de R$ 2,2 bilhões para
OGU
3500
R$ 27 bilhões, entre 2002 e 2008, no
FGTS
investimento em habitação do SBPE
3000 (ver Gráfico 3).
Com a abertura de capital de
2500
24 empresas do setor imobiliário
e uma forte inversão de capital ex-
2000
terno, iniciou-se uma avassaladora
1500 procura por terrenos, num processo
especulativo que chegou a ser cha-
1000 mado, entre 2007 e 2008, de boom
imobiliário. Frente à necessidade de
500
ampliar seu mercado, muitas empre-
0 sas tradicionalmente voltadas para a
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 classe alta e média alta criaram sub-
Fonte: Consórcio PlanHab, com dados do Ministério das Cidades, 2008-2011, previsão PPA sidiárias especializadas em produ-
tos mais baratos, dirigidos à baixa
classe média, segmento que cresceu
lução 460 do Conselho Curador do Apesar das dificuldades internas fortemente com a política econômi-
FGTS, que começou a gerar efeitos ao ministério, as condições econômi- ca e salarial do governo Lula, mas
em 2005, possibilitou a expansão sig- cas tornaram-se muito mais favorá- com renda ainda insuficiente para
nificativa dos subsídios habitacionais veis para implementar as propostas adquirir uma moradia do mercado
com recursos desse fundo. Com isso, da PNH. Em 2007, o governo lançou privado. A viabilização do crédito
ampliou-se o atendimento à popula- o Programa de Aceleração do Cresci- imobiliário privado, sem subsídio,
ção de renda mais baixa, embora as mento (PAC), objetivando implantar para esse segmento é decisiva para
regras não tenham conseguido viabi- grandes obras de infraestrutura, mas a questão habitacional.
lizar soluções nas Regiões Metropoli- incluiu entre seus componentes um A crise econômica internacional
tanas. O Gráfico 1 mostra o aumento programa de caráter social, a Urba- – que teve início no setor imobiliário
do atendimento à população de baixa nização de Assentamentos Precários, americano – chegou ao Brasil, geran-
renda ocorrido durante o primeiro prevendo-se recursos inusitados para do incertezas e uma paralisia no se-
governo Lula. o setor da habitação. O Gráfico 2 apre- tor, pego no contrafluxo, pois estava
Em julho de 2005, Olívio Dutra foi senta a evolução de recursos não one- em pleno processo de aceleração da
substituído por Márcio Fortes, indica- rosos de 2002 a 2008, mostrando que produção. A situação pareceu fugir
do pelo Partido Popular. A mudança os investimentos multiplicaram-se por ao controle, com baixa acentuada das
representou o início do processo de vinte nesse período. ações das empresas na bolsa de valo-
desarticulação de um órgão que ainda res, com impactos nas atividades do
buscava se estruturar para exercer seu Habitação de mercado setor, que sofreu forte queda.
papel de formulador da política urbana No âmbito da habitação de mer-
para o país. Em 2007, com a substitui- cado, o governo Lula tomou medidas 2 A Política Nacional de Habitação foi elabo-
ção de todos os secretários nacionais para ampliar a produção para a classe rada pela Secretaria Nacional da Habitação
indicados por Dutra, com exceção da média. A Lei nº 10.931/2004 deu se- do Ministério das Cidades entre 2003 e 2004,
com a consultoria do Instituto Via Pública.
Secretaria Nacional de Habitação, esse gurança jurídica ao mercado e uma Foi aprovada em dezembro de 2004 pelo
processo trágico se completou. resolução do Banco Central passou ConCidades.

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Essa conjuntura foi determinante as necessidades habitacionais do país para uma atuação em larga escala, os
para a decisão do governo de investir no prazo de quinze anos. constrangimentos da cadeia produti-
com vigor no setor habitacional. Esse Foi concebido como um plano es- va, cujos produtos, em geral, não estão
“pacote”, maturado inicialmente no tratégico de longo prazo coordenado adequados para atender à demanda
Ministério da Fazenda, tem origem com propostas a serem implementadas prioritária, a dificuldade de acesso e
nesse quadro como uma ação emer- a curto e médio prazo, tendo como o custo da terra urbanizada e regula-
gencial anticíclica de apoio ao setor horizonte 2023. Suas propostas e eta- rizada para a produção da Habitação
privado para evitar o desemprego, pas se articulam com a elaboração dos de Interesse Social (HIS), em condições
ameaça concreta na virada de 2009. PPAs, prevendo-se monitoramento, urbanas e ambientais adequadas, são
A intervenção da Secretaria Nacional avaliações e revisões a cada quatro obstáculos para a aplicação dos recur-
de Habitação, lastreada no processo anos (2011, 2015, 2019). sos, com foco na população prioritá-
de elaboração do Plano Nacional de O PlanHab resultou de um amplo ria. Por isso, o PlanHab propõe ações
Habitação (PlanHab) 3, possibilitou processo participativo, que envolveu simultâneas nos quatro eixos.
que essa ação anticíclica ganhasse al- todos os segmentos da sociedade du- O plano apresentou três cenários,
gum conteúdo social, muito aquém do rante dezoito meses. Suas propostas, dos quais o único considerado capaz
que seria possível se a estratégia do estratégias de ação e metas conside- de enfrentar satisfatoriamente o déficit
­PlanHab fosse a referência para as me- raram a diversidade da questão ha- seria o que garantisse, durante todo
didas emergenciais a serem tomadas. bitacional, as variadas categorias de o horizonte temporal (quinze anos),
municípios, as especificidades regio- uma dotação estável de 2% do OGU
O Plano Nacional de Habitação nais e os diferentes olhares de cada e de 1% dos orçamentos estaduais e
Um dos componentes centrais da segmento social. municipais, uma porcentagem três
nova PNH, o PlanHab, objetiva pla- A estratégia exige ações simultâ- vezes maior do que se previa no PPA
nejar as ações públicas e privadas, em neas em quatro eixos indispensáveis: 2008-2011, já incorporando a elevação
médio e longo prazo, para equacionar financiamentos e subsídios; arranjos dos recursos propiciada pelo PAC. En-
institucionais; cadeia produtiva da tidades empresariais e movimentos
construção civil; estratégias urbano- de moradia atuaram no Congresso
Gráfico 3 E volução dos recursos do fundiárias. Esses eixos estão intrin- Nacional e propuseram uma emenda
SBPE para habitação – renda secamente articulados. Não haverá de vinculação de receita à habitação,
média e alta (2002-2008) alterações substanciais no quadro com esses mesmos porcentuais.
30
da política habitacional se não forem
realizadas ações concomitantes nas Minha Casa, Minha Vida
28
26
quatro frentes. A crise econômica e a disposição
24
A ampliação dos recursos para ha- do governo em dinamizar a constru-
22
bitação é central no PlanHab, de modo ção civil atropelaram a construção do
20
a criar uma nova política de subsídio ­PlanHab, pactuado como uma estraté-
18
baseada em grupos de atendimento gia de longo prazo. Mas, por outro lado,
16 por capacidade de retorno ao finan- aceleraram a decisão governamen-
14 ciamento, em que os mais pobres são tal sobre as propostas lançadas pelo
12 beneficiados e os que têm alguma ca- ­PlanHab, sobretudo no eixo financeiro,
10 pacidade de pagar, mas representam que seriam muito mais demoradas.
8 risco para os agentes financeiros, po- Ao aplicar R$ 26 bilhões em subsí-
6 dem utilizar um Fundo Garantidor. dio, além do que já estava previsto pelo
4 No entanto, as ações mencionadas PAC, o “pacote” habitacional acabou
2 são insuficientes para equacionar o por adotar, na prática, o cenário mais
0 problema habitacional. A falta de ca- otimista proposto pelo plano. Se esse
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 pacidade das prefeituras, estados e patamar for mantido por quinze anos,
Fonte: Abecip
do próprio agente financeiro (Caixa) conforme a estratégia do Plan­Hab (o

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Tabela 1 D
 éficit acumulado e as metas do programa Minha Casa, xos que não se relacionavam com os
Minha Vida – distribuição do déficit por faixa de renda aspectos financeiros; em consequên-
Metas do Déficit acumulado cia, aborda-o de maneira incompleta,
Renda Déficit acumulado Minha Casa, Minha Vida atendido incorrendo em grandes riscos, ainda
(em R$) (em %) (valor absoluto, em mil) (em %) (valor absoluto, em mil) (em %)

Até 1.395 91 6.550 40 400 6


mais porque precisa gerar obras rapi-
1. 395 a 2.790 6 430 40 400 93
damente sem que se tenha preparado
2.790 a 4.600 3 210 20 200 95
para isso.
100 7.200 100 1.000 14
A localização dos empreendimen-
Fonte: Elaboração própria, com base na Fundação João Pinheiro e no programa Minha Casa, Minha Vida, folheto de divulgação.
tos poderá ser inadequada, em áreas
carentes de emprego, infraestrutura
e equipamentos, correndo o risco,
que não está acontecendo no “paco- para viabilizar o acesso das famílias de ainda, de gerar impactos negativos
te”), será possível produzir um impacto baixa renda à moradia. Ao contrário, o como a elevação do preço da terra,
real no déficit habitacional. Essa é, sem Minha Casa, Minha Vida esticou exa- que representaria a transferência do
dúvida, a principal novidade positiva geradamente as faixas de renda a serem subsídio para a especulação imobiliá­
do Minha Casa, Minha Vida. atendidas, beneficiando segmentos de ria, desvirtuando os propósitos do
Outras medidas do PlanHab para classe média e gerando mercado para o programa.
reduzir o custo da habitação, como setor privado, com risco reduzido. Várias estratégias do PlanHab, se
a desoneração tributária para HIS, o O PlanHab previu um leque de incorporadas ao Minha Casa, Minha
barateamento do seguro e o fundo ga- alternativas habitacionais a custos Vida, poderiam ser positivas, como o
rantidor (que retomou a ideia do fundo unitários mais reduzidos (como lotes “subsídio localização”, valor adicional
de aval proposto no Projeto Moradia), urbanizados e/ou material de cons- a ser concedido aos empreendimentos
foram adotadas, gerando um impacto trução com assistência técnica), com de áreas mais centrais e consolida-
positivo no acesso à habitação tanto de potencial de atender um número maior das. É importante ressaltar que são
interesse social como de mercado. de famílias; já o Minha Casa, Minha limitadas as possibilidades do governo
Por outro lado, Vida fixou-se na pro- federal quanto a garantir uma loca-
o programa tam-
bém adotou a ló-
Garantir uma dução de unidades
prontas, mais ao gosto
lização adequada dos projetos se os
municípios não estiverem dispostos
gica proposta pelo localização do setor da construção a isso. Cabe a eles, por meio de seus
plano para a alo- adequada aos civil4. Dessa forma, as planos diretores e habitacionais, de-
cação do subsídio:
a população com projetos só metas quantitativas do
programa, malgrado a
finir os locais onde é permitida e deve
ser estimulada a implantação de novos
renda intermediá­ será viável se enorme disponibi- empreendimentos.
ria (de R$ 1.395 a
R$ 2.790, ou seja,
os municípios lidade de recursos
para subsídio, são
O PlanHab propôs incentivar, com
prioridade no acesso aos recursos, os
de 3 a 6 salários estiverem tímidas nas faixas municípios que adotassem políticas
mínimos em 2009) dispostos de renda mais baixas fundiárias e urbanas corretas, como

a isso
terá um subsídio (ver Tabela 1), pois o
para complemen- valor unitário médio 3 O PlanHab foi elaborado entre julho de
tar o financiamen- do subsídio é mais ele- 2007 e janeiro de 2009, sob a coordenação
to, enquanto os com renda inferior a vado do que seria necessário numa da Secretaria Nacional de Habitação do Mi-
nistério das Cidades, com a consultoria do
R$ 1.395 (3 salários mínimos em 2009) estratégia que objetivasse garantir o Consórcio PlanHab, formado pelo Instituto
terão subsídio quase total. No entan- direito à moradia para todos. Via Pública, FUPAM (Lab-Hab/FAU-USP) e
to, o programa tem limites superiores O programa não adota o conjunto Logos Engenharia.
4 O relator da Medida Provisória 459/2009, que
aos propostos pelo PlanHab, que por das estratégias que o PlanHab julgou
tramita no Congresso, introduziu a possibili-
meio de complexas simulações definiu indispensável para equacionar o pro- dade de financiamento de lotes urbanizados,
o subsídio no limite mínimo necessário blema habitacional, sobretudo nos ei- o que atende parcialmente a essa questão.

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a instituição do imposto progressivo partir de 2007, à qual cabe implemen- demográfica ou, até mesmo, financiar
para combater os imóveis ociosos e tar políticas fundiárias e urbanas, têm uma segunda moradia.
subutilizados, lembrando que quase um custo, a ser creditado na “política A elevação do patamar de subsí-
2 mil municípios formularam planos de governabilidade”. dios que se obteve com o programa
diretores e, na sua grande maioria, não Finalmente, ressalta-se que a dis- é um avanço importantíssimo, que
puseram em prática instrumentos para tribuição das unidades por faixa de precisa ser perenizado, assim como
combater a especulação imobiliária. renda adotadas no programa não obe- os incentivos fiscais, o Fundo Garan-
Felizmente, a redação final do dece ao perfil do déficit habitacional. tidor e outros mecanismos capazes de
programa apresentada no Congresso A análise leva em conta que o governo dar maior agilidade ao atendimento
introduziu, em parte, essa proposta do Lula promoveu uma forte recuperação habitacional.
PlanHab, ao priorizar no atendimento do salário mínimo, o que distorce for- No entanto, as regras para a dis-
aos municípios os que, além de adota- temente a utilização desse indicador tribuição dos subsídios precisam ser
rem a desoneração tributária (critério para fixar as faixas de atendimento. alteradas, pois estão injustas do pon-
que já constava na proposta original), Por essa razão, o PlanHab eliminou to de vista social. Embora se possa
doarem terrenos localizados em área o salário mínimo e adotou os valores admitir, no contexto do combate à
urbana consolidada e utilizarem os nominais nas propostas. crise econômica, alguma distorção
instrumentos do Estatuto da Cidade Assim, a faixa até R$ 1.395 (3 sa- na concessão de subsídio, em termos
voltados para combater a retenção es- lários mínimos em 2009), que recebe de faixa de renda isso não pode se pe-
peculativa de terrenos urbanos. subsídio integral no novo programa, renizar. É fundamental que se retome
Também me- corresponde, em va- o Plano Nacional de Habitação para
rece destaque a
inclusão de um A elevação do lor real, a aproxima-
damente 5 salários
implementar, de modo articulado, as
estratégias previstas, enfrentando o
capít u lo sobre patamar de mínimos no ano de desafio de focar na população de baixa

subsídios obtida
a regularização 2000, último em que renda o subsídio habitacional. Não se
fundiária no “pa- se dispõe de dados so- pode reproduzir num governo que
cote”, viabilizan- com o programa bre o déficit por faixa herda as lutas históricas pelo direito
do a aprovação de renda. Nessa fai- à moradia a distorção que faz com que
de d isposit ivo é um avanço xa, concentram-se recursos públicos acabem por privile-
lega l debat ido
pela sociedade
importantíssimo, 91% do déficit habi-
tacional acumulado,
giar os que menos necessitam.
Pode-se concluir que, apesar das
na revisão da Lei que precisa ou seja, cerca de 6,5 distorções e lacunas, o programa dá
nº 6.766/79. Além
de ser um dos as-
ser perenizado milhões de famílias
(ver Tabela 1).
mais um passo no sentido de construir
políticas públicas para garantir o di-
pectos mais im- A meta de 1 mi- reito à habitação, que é o que se per-
portantes do “pacote”, mostra que o lhão de unidades, atende 14% do segue desde o Projeto Moradia. Mas é
governo poderia ter aproveitado para déficit acumulado. No entanto, na necessário avançar mais e retomar o
incorporar a essa ação anticíclica o faixa prioritária (até R$ 1.395), que, debate e a implementação do PlanHab
conjunto de estratégias previstas para de acordo com as diretrizes da PNH, é urgente. ✪
ser implementadas na primeira eta- deveria ser o foco do subsídio, com
Nabil Bonduki é professor de Planejamento
pa do Plano Nacional de Habitação 400 mil unidades, apenas 6% do dé-
Urbano da FAU-USP. Foi superintendente
(2009-2011), em particular nos eixos ficit deverá ser atendido, isso se essa de Habitação Popular na Prefeitura de
institucional e urbano-fundiário. meta for cumprida, o que parece ser São Paulo e vereador pelo PT, membro da
Se mais não foi feito nessa área, é um dos grandes desafios do programa. equipe que elaborou a Política Nacional de
Habitação (2003-2004) e coordenador técnico
forçoso lembrar que o enfraquecimen- Já o déficit nas demais faixas (acima
da consultoria contratada para elaborar
to e a desarticulação do Ministério das de R$ 1.395) é reduzido e a meta do o PlanHab (2007-2008). Foi conselheiro
Cidades, particularmente da Secreta- novo programa pode não só zerar as do Conselho Nacional de Habitação e do
ria Nacional de Programas Urbanos a necessidades como atender à demanda Conselho Gestor do FNHIS

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