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Manual do Orgasmo

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2005 - agosto

16.8.05

apresentando Dina Z
"Dina Z, a deusa do sexo, é baixinha. Na casa dos 50, bordejando a menopausa, Dina olha no espelho e tenta
controlar seu problema de distorção de imagem: às vezes, o que ela vê é o corpo gostoso, harmonioso, macio, que
deixa Edward louco. Mas às vezes ela vê o monstro, o estomago saliente, dobras inexistentes de gordura, reflexos
insanos de sua juvenil tendencia a engordar."
Cyberjournals of Dina "Z"- by Noga Sklar/ work in progress 2005

20.8.05

porque hoje é sábado ou de como talvez 700 não chegue tão cedo a mil
finalmente uma manhã tranquila e eu posso cumprir a promessa que fiz a mim mesma de começar este blog. não
exatamente no dia em que eu queria e foi ontem, e era uma oportunidade de recuperar o mágico em minha vida, de
citar a energia da lua cheia de aquário e a ênfase no diálogo entre a individualidade e a comunicação com a
sociedade, etc, etc. porque hoje é sábado e agora, depois de um inicio de manhã bem barulhento, cachorro latindo
esganiçado, criança chorando no andar de cima, faxineiros batendo papo num tom de voz bem alto e eu preocupada
com o Alan dormindo no quarto ao lado e tentando segurar todo este barulho para proporcionar um dormir tranquilo
embora tardio a este meu amado polêmico da maturidade... neste apartamento de primeiro andar com jeito de
cobertura que a gente achou para alugar, segundo o Alan, "porque a gente tem uma quimica, um karma bom juntos"
o Alan é este marido americano que eu encontrei na internet aos 53 anos de idade e que me fez encarar de frente esta
vontade da qual este blog será testemunha de abrir ao publico a verdadeira vida de uma mulher madura que pela
maior parte de sua vida foi sozinha, sem sexo, (embora ardente por dentro), baixinha, meio gordinha e se
acreditando feinha mas muito inteligente. e que ainda se sente inteligente qdo pega este template pronto de blog e
fica fuçando sem saber bem o q está fazendo no código html e depois de uma semana de tentativa e erro consegue
impor seu visual na página e bem, ficar assim pronta para se apresentar do jeito que acha bom e bonito. mas,
voltando um pouco, a vida de uma garota de familia bem careta por fora (mas bem doida por dentro) e de como ela
se virou e virou esta mulher que surpreende a familia e todo mundo em volta fazendo parte desta materia da Nova
sobre orgasmo com os produtos que desenha. bem, os meus produtos não são pornográficos mas com certeza
eróticos. a minha vida não é pornográfica mas com certeza erótica, e eu estou escrevendo este livro em inglês que
não termino nunca e que reproduz a correspondencia erótica pela internet de um casal maduro. e comecei também
este novo livro desta vez em português (minha literatura atual tem sido bilingue, assim como a minha vida
cotidiana), que resolvi chamar de Manual do Orgasmo, porque aos 53 eu descobri o Orgasmo e achei que é uma

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coisa simples, assim parte da vida e não esta utopia que só as mulheres perfeitas da midia alcançam, esta gincana de
pontos G e A e não sei mais que ângulo especial e técnica maluca, eletrochocante ou quimica... mas uma questão de
intimidade permitida... ( e talvez uma ajudinha magnética) e por algum pudor que ainda me reprime criei a Dina Z,
esta personagem que apresentei na pré-entrada que inicia este blog (paradoxalmente vem depois na ordem do blog
que vai pondo as novidades por cima).
ontem, o sexo foi assim: gostoso, depois de quase uma semana sem, porque em casamento a gente tem que trabalhar,
cozinhar, cuidar da casa, do marido, da mãe, e não dá pra se entregar todo dia, ou 3 vezes por dia como antes, não
que o tesão seja menor, apenas agora tem concorrencia, mas é bom saber que está lá. ah, sem orgasmax, depois do
almoço com vinho e pão com o qual a gente consagra a véspera do sábado toda semana - porque o Alan gosta e eu tb
gosto de fazer o pão e da poderosa voz dele quando abençoa o vinho (desde que não seja demais) e o pão, e a vida, e
de certa forma também o amor - e tendo que ir na casa da minha mãe antes que ela resolva só ficar repetindo que
quer ir dormir embora sejam apenas 5 da tarde - a minha mãe, como muitas mães de mulheres como eu hoje em dia,
tem alzheimer, e a minha um pouco mais jovem que a maioria faz com que o quadro seja um pouco mais triste -
bem, sexo bom, carinhoso, íntimo, e sem o tal do orgasmo. porque, mesmo depois que a gente aprende e fica
achando que ter orgasmos é como andar de bicicleta ( a gente aprende uma vez e não esquece nunca mais) às vezes
falha. o Alan acordou, já não preciso segurar o barulho e sim as ansiedades dele, a preocupação com os filhos que
estão longe nos Estados Unidos, a eventual acusação de pouco caso que nós, mulheres casadas com homens que tem
filhos de outras mulheres enfrentamos, principalmente quando nós por opção pessoal - e por um pouco de falta de
oportunidade também - não demos cria. ah, antes que eu me esqueça, o título deste post cita Vinicius e tb a
frequencia sexual espantosa que eu e Alan experimentamos em nosso encontro físico depois de um mês de prazer
pela internet.

2 Comments:
Pri disse...
Uau! muito interessante a tua história! Vc me pareceu uma pessoa muito forte. Admiro tanto isso... =]

Claudia disse...

Adorei sua história, sua franqueza e principalmente seu texto.


É ótimo perceber que não limite de tempo para descobrirmos coisas novas e a maturidade nos faz saborear ainda
mais cada conquista.
Muita saúde e paz para você e para o Alan.

23.8.05

não sei porque esta corrosiva necessidade


interna de se superar sempre, apesar dos 50, ter esta vida de atleta, correr, nadar, pedalar, lesar... vivo com estas
dores, 3 estouros de joelho por ano, todo o lado esquerdo dói, começando no pescoço, indo pela coxa e chegando na
lateral do joelho, parece que se não malhar, malhar, malhar, o corpo vai explodir feito um balão e vou virar aquela
monstra gorda que me ameaça mentalmente desde a infancia. li no domingo um artigo legal da Marta Medeiros na
revista do Globo sobre maturidade. bem, às vezes tenho estes lampejos de maturidade também, espero que se tornem
mais e mais frequentes, que o conforto se faça ouvir e o prazer se torne realmente uma prioridade indiscutível. sinto
isso no corpo agora, toda vez que eu transo; os hormonios acordam, circulam, e não tem nada de psicológico, é
fisiológico mesmo. quanto maior o prazer, mais vem depois, bem depois, nos dias seguintes, aquela vontade de
cantalorar no chuveiro, de rir dos ataques do Alan, será que eu estou aprendendo a ser casada? a não ser mais só? a
dedicar parte da minha energia a outra pessoa, a fazer feliz outra pessoa, a tolerar outra pessoa, a deixar de ser tão
rígida, tão capricorniana para dar espaço a outra pessoa e seus hábitos diferentes? e tanta crise? tanta crise moral,
intelectual, emocional... será que eu tenho que falar destas crises, dos assuntos sérios - muitas vezes dolorosos,
vergonhosos mesmo - que fazem as páginas dos jornais? será que a busca da felicidade é mesmo ridicula e inútil,
como ouvi ontem naquela entrevista do Gerald Thomas na Gabi (estou meses atrasada, pq estava morando nos EUA
nesta época e meu sobrinho gravou pra mim)o que é a felicidade? o Gerald acha impossivel, um homem como ele,
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agraciado de tantos dons, fazendo questão de se mostrar deprimido, suicida, tomando remédio, para não deixar de
ser aquele artista maldito, incompreendido, atormentado, quando na verdade agora vem sendo sucesso de bilheteria?
não encontramos a tal felicidade por 2 motivos, eu acho. um é pq a gente não sabe o que é e mesmo que a tenha não
a reconhece. o outro é a inundação da energia de infelicidade que nos invade por todas as midias, pq se a gente
estiver feliz e satisfeito como é que a gente vai ser controlado? quem vai nos segurar? e qual é a medida de a gente
se dedicar ao próprio prazer e alegria sem se tornar alienado? com toda esta miséria no mundo? e se eu resolver
curtir minha vida atual, achar que tá tudo ótimo e o que tá ruim vai melhorar em breve, é só ter paciencia, confiança,
quem sabe a energia que eu vou por no mundo vai contribuir pra melhorar alguma coisa? a gente aprende que tem
que ser triste, problematico. se está sozinha, a sociedade condena, se tem marido, o marido às vezes bebe, pode ser
que seja alcoolatra, não tem dinheiro e não é aquela perfeição que a gente esperava... pra sobreviver, só ralando,
trabalhar com prazer, imagina, utopia. então de um jeito ou de outro a gente vai jogando infelicidade na alma do
mundo e toda a infelicidade do mundo não consegue vencer os momentos de felicidade que todo mundo tem, mesmo
que more na África ou na favela ou esteja doente... até mesmo a minha mãe com alzheimer e sempre com raiva e
querendo fugir, dormir, sumir, às vezes sorri... então quero pegar estes pedacinhos de alegria e jogar lá na conta
energética humana e tudo que for crise eu escuto, analiso, espero passar, respiro fundo, dou minha opinião mas
seguro neste plano aqui mesmo que é pra não dar força ao moto perpetuo do problema, da tristeza mundial. quem
sabe um dia, muda alguma coisa, quem sabe...

24.8.05

meditação do orgasmo
em meditação, o momento entre 2 respirações consecutivas é considerado sagrado. o pulmão vazio, a ausencia do ar,
é neste momento que a iluminação acontece. de acordo com os mestres orientais, neste momento a "coisa" acontece,
e se vc consegue perceber a oportunidade, estar consciente deste intervalo mínimo de tempo, no entanto eterno, vc
saberá que foi abençoado: a coisa aconteceu
foi este nada, este intervalo de silencio e de não movimento que abriu para mim uma das portas para o orgasmo aos
53 anos. toda uma vida e esta ideia de orgasmo multiplo não passava de ficção. nunca li em lugar nenhum esta ideia
de que o orgasmo acontece quando vc para, mas depois que descobri... a formula funciona, funciona, funciona
sempre. o sexo é sempre imaginado como uma loucura, um movimento frenético, incessante, e é desta cultura que
fazemos parte. o movimento masculino, principalmente, é da ação, dificilmente da doçura, do abraço que contém
todo o corpo, da espera. mas a mulher é de outra natureza... experimente. peça a seu amante para parar por minutos
depois de um intervalo de movimento intenso e veja o que acontece... é o espaço da intimidade, da entrega, da
contemplação, do calor que invade e toma o corpo todo... o espaço do nada, o espaço quando tudo acontece, onde o
nada é tudo... e o prazer uma benção, uma prova da energia divina que possuimos... STOP. Pare AGOORA!

Dina Horny
para quem lê ingles, um trecho do livro que estou terminando, The Cyberjournals of Dina Z, sobre um encontro de
amantes na internet via MSN e troca de emails, um encontro que até agora tem dado certo. sempre que releio os
textos ( estou em fase de edição final) sinto de novo todas as sensações do evento original... comentários e sensações
são benvindos... pois meu desejo é que quem leia sinta o mesmo... ainda não sei como vou traduzir para o português.
minha literatura erótica em inglês é tão mais livre, livre de amarras e pre-conceitos, de limites nada mais que
culturais e repressores... o som das palavras mais suave... e a cada coisa posso dar o nome certo, sem pudor.

Dec 10 Dina horny

Edward, how can you do this


leave me like this
throbbing for you
so while you are away
fuck me Edward, kiss me passionately
let me feel your body on top of me
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while you stroll by yourself in St Augustine
i love you so much
long for you
for your large, smooth, loving hands
and your curly hair
i take your glasses off
kiss your eyelids
your nose
your mouth slightly
bite gently your ear murmuring i love you in a blow
so that only you can hear
i suck your neck, lick you ear
feel your breath your smell
your skin
play with my tongue on your chest hair
silvery
kiss your nipples
lick them
suck them
make them rise
i trace your chest with my tongue
arriving to your groin
you close your eyes and i take your risen cock in my hands to my hungry mouth
and kiss him sweetly
sucking lightly
then i seat on your groin
take your cock with my hand and guide him to my cunt
as you feel the weight of my butt on your groin
you hold my butt with your both hands
as i ride you
in and out
in and out
in and out
smiling at you
as you touch my clit
i lean down a moment toward your face and kiss you
as you hold my breast like a fruit
squeezing
teasing
as i ride you
waiting
for you to come
come on line...
come on me...

25.8.05

fingir ou não fingir, eis a...


às oito da manhã de hoje eu já estava ao telefone, na varanda do apartamento, falando sobre orgasmos. durante anos
eu sentia esta energia para lidar com assuntos de amor e sexo, mas a mineirice, a educação tradicional, o pudor
agiam como um escudo, uma blindagem, a energia ficava fervendo por dentro sem nunca expressar-se. eu
costumava explicar, brincando, porque eu deveria ser a deusa do amor. meu nome, Noga, em hebraico, é o nome de
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Vênus, a deusa do amor, e meu sobrenome Lubicz, do polonês, significa amor também, mas, na vida real, nada. só
tristeza, solidão, frustração, sexo raro e mesmo assim sem gozo. perdi a virgindade já bem tarde até para os padrões
da época, pateticamente dentro de um fusca, bem, pelo menos com um cara lindo. lindo e imbecil, machista, egoista.
contei logo pra minha mãe - o que para mim era uma grande conquista - mas o comentário dela foi "porque vc fez
algo que não vai praticar?" - e eu: ???????? não vou??? e por muitos anos não fui. não me dei permissão. ao telefone
minha interlocutora vai se abrindo, expressando seus temores, sua insatisfação, sobre como fingir orgasmos para não
frustrar o parceiro. sua propria frustração, uma mulher adulta e percebe-se que sabe sobre orgasmos na teoria mas
nada na prática. fingir como? meia duzia de fake gemidos? eu digo a ela que esta prática feminina tão comentada de
fingir orgasmos só existe porque os homens não sabem o que é o orgasmo da mulher: aquela cascata involuntaria de
latejos vaginais pressionando o pênis por vários minutos, depois um latejo mais forte (como se o quisesse engolir: na
verdade a mulher é que come, abocanha o homem, pensem bem) e mais outro... fingir como? o Alan compartilha
comigo esta impressão de que temos uma espécie de missão, esta vontade grande de melhorar a vida das pessoas, de
usar a nossa propria experiencia para transmitir descobertas e fazer disso um objetivo. e se meu primeiro orgasmo de
verdade foi com ele, se através da intimidade que conseguimos eu me dei permissão para ter prazer, foi também
comigo que ele se tornou consciente dos sintomas do orgasmo feminino. 2 adultos de meia idade, com experiencia
sexual considerável (o Alan então!) descobrindo agora como uma relação sexual deve realmente ser!
conversamos hoje de manhã sobre, como o orgasmax pode ser um passaporte para o prazer. além da explicação
cientifica, da pressão magnética no ponto de shiatsu, etc, etc, se você compra um, usa um, está dizendo a si propria:
eu posso, eu quero. e comunicando isso, e se abrindo para a intimidade com o outro, exibindo um código
inconfundivel. a maioria das estratégias que a gente ouve e lê para conseguir o orgasmo são tão complicadas,
esdrúxulas mesmo. andei visitando algumas sex shops para ver se oferecia o orgasmax, mas sinceramente fiquei
desanimada com o que vi. se o sexo vem sendo exposto, se o assunto sai em capa de revista, e se mulher moderna
agora frequenta sex shop e fala sobre o assunto em reuniões de familia, o espaço da expressão pessoal, de se estar à
vontade com a sexualidade vem, sim, sendo ampliado. mas sinceramente, acho tudo tão mecanicista e frio. não me
vejo usando um daqueles horriveis vibradores, aquelas patéticas lingeries... gente! sexo bom é sem roupa! de luz
acesa! ( ou de dia!) e o penis é tão macio, quentinho, sedoso, pra gente brincar, beijar, lamber, fazer crescer... e a
gente investe naquela grotesca coisa dura de plástico????? quando eu namorava o Alan no msn comecei a gozar com
poesia, com palavras sensuais, com descrições instigantes, com inteligencia, beleza... muita vezes, na maior parte
das vezes, eu nem me tocava... amor é poesia, doçura, entrega. nada a ver com um pedaço duro de plástico tremendo
e machucando. bem, é como eu imagino estes sextrecos porque nunca usei, no máximo o dedo ou o chuveirinho do
bidê... sinceramente, melhor ler literatura erótica bem escrita, usar a imaginação, cuidar do corpo, da saude e da
alma, abrir a guarda, permitir-se ter prazer, não acham?

Gênesis
"Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à
mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu a mulher à serpente: Do fruto
das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não
comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. Disse a serpente à mulher: Certamente não morrereis.
Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus,
conhecendo o bem e o mal. Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos,
e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu.
Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; pelo que coseram folhas de figueira, e
fizeram para si aventais."
Gênesis – 3: 1

"Há 6 mil anos atrás, na Palestina"- começa Edward, preguiçosamente estirado na cama, conformado com a luz da
manhã que penetra pelo janelão do quarto no sótão alugado. "Há 6 mil anos, na Palestina, a maçã era um fruto
desconhecido, você sabia?"
"Não"- responde Dina – a voz interrompida por um soluço curto, reagindo delicadamente ao polegar competente de
Edward, que massageia o botão intumescente, animado em sua cama de pelos pelo toque leve mas constante,
excitante, único.
"Esta versão do Genesis que a gente conhece é uma leitura falsa, moralista, escondendo dos não iniciados o
verdadeiro sentido da descoberta do conhecimento."- Edward prossegue, flutuando no calor intenso de seu
penúltimo dia de verão na Florida, cercado de caixas, lembranças e dúvidas. "Na verdade não se trata de uma maçã,
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mas de um figo – explica – "e Eva viu a serpente se aproximar, e tocou a serpente, fazendo a serpente crescer,
sugerindo o ato, Lilith oferecendo a Adão o fruto exposto, suculento." Edward acaricia os cabelos de Dina e
pressiona levemente sua cabeça em direção aos pés da cama. Ela responde ao gesto já cotidiano com uma caricia
rápida, beijando carinhosamente a ponta do pênis, deixando a lingua deslizar para cima e para baixo, estabelecendo
um diálogo mudo com a serpente bíblica, como Eva, sua ancestral, há seis mil anos atrás, repetindo o ritual úmido,
sua lingua, outra versão de serpente, lambendo sabiamente o falo, a coxa, os pelos, o ventre, entrando ousada pela
orelha de Edward, abrindo com a mão esquerda os portais do gozo e com a direita puxando contra si a cobra ereta de
Edward, vem, saboreia meu figo doce, vem, sente meu gosto, meu cheiro, me ensina, Mestre, me mostra o caminho
da verdade divina.

27.8.05

Doppleganger
do you think you’re ugly
you don’t know how beautiful you are
when rested, relaxed
smiling, open
when your heart shines through your lips
as blossoming magnolias
in the morning freshness

still, the ugly you exists


and you know it
he has been spying on you
hunting you
jeopardizing you
sabotaging
consistently
trying his best to smash the good in you
all beauty gone

don’t let him.


kill him first
merciless
stab him clean
with sharp, precisely Japanese sword
no bloodshed intended

let beauty win.


let lightning sprout from you
erasing memories
remotest records
ruthless enemy gone

as your splendid body rules


raising love in you
shedding wisdom
as the tzadik reigns in you
seeding life forever through you

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sábado de manhã,
mais um, não sei porque esta semana o índice de amor esteve com viés de alta, com Alan começando a encontrar seu
caminho no Brasil, talvez... muito trabalho, mais um sábado e eu tenho que lavar um monte de roupa, limpar a casa
(faxineira só de 15 em 15), trabalhar um pouco mesmo que o Senhor tenha descansado (e aquele outro senhor esteja
descansando) e vou fazendo tudo como uma dança porque hoje esta mão grande, macia e quente fica espalmando a
minha pele nos cantos mais supreendentes e rindo e tocando e me atrapalhando eu tão séria com isso e aquilo pra
render-me no final o quarto fuck laundry deixo o desejo falar , o riso, a graça, a ausencia de limites, o toque ubíquo
(quantas mãos, e línguas, e olhos e lábios tem este homem) a cama um ringue uma pista um palco uma dança de
corpo de alma que vontade de estar dentro, de ser este outro corpo. o Alan diz que nossas peles se amam - o que é
raro - e faz com que a troca de energia entre nós seja especialmente intensa, uma pele macia, no ponto, nem seca,
nem oleosa, nem fria, nem quente, a minha, a dele, a mesma.

estudando a tradução dos Cyberjournals,


procurando palavras da lingua portuguesa que descrevam o cotidiano erótico feminino com delicadeza, sem
violencia ou ofensa, encontrei estas:

A Vagina Erudita
Mas não nos desencantemos. Pois é exatamente no jogo das pressuposições e das figurações que está a magia desse
universo verbal – que ninguém ao vivo domina em sua totalidade, pois são termos e expressões generalizados, com
a marca da particular psicologia social com que é vivida a matéria erótica. Rigorosamente falando, para designar
o que eruditamente é dito pelo complexo vulva x vagina, só há uma palavra, que tem raízes populares remotas: é
cono (que só quer dizer isso e não quer dizer outra coisa, exatamente como em latim cunnus, que também só
significava isso); seu uso se atesta, também, nas origens do francês, con, masculino como em português (ambas as
línguas farão, depois, que coexistam masculino e feminino, francês con/conne, português cono-cona). É a palavra
própria também em espanhol, coño, em catalão, cony, em italiano, conno. Essa palavra, evitada em literatura
"séria" e em conversação "decente", vive vida viva sem solução de continuidade, há cerca de 2500 anos e acha-se
documentada com baixa freqüência em textos satíricos e obscenos de todas as épocas.
Tudo isso para traduzir "cunt", das inumeras vezes em que escrevemos "cock in cunt" nos Cyberjournals, vejam a
lindissima explicação do Alan ao meu questionamento sobre se eram termos ofensivos ou poéticos estes que,
somente eles, descreviam o nosso encontro amoroso online.
(trecho do ainda inédito "Cyberjournals of Dina Z", em inglês no original)

Dina: is cunt a dirty word? for me its so cute


Dina: vagina is so solemnly ugly
Edward: dirty
Edward: cunt is literary
Dina: yes, you know Edward, i feel exactly the same way with you
Dina: completely understood and understanding
Dina: are you sure about literary, cause you know, being a foreigner i have to trust you, you taught me this word
Dina: and the true meaning of it
Dina: in all levels
Edward: in erotic literature the word cunt has no replacement all the otherwords becoming corny...it literally means
furrow it is an saxon word...and the image of cunt and cock is certainly shakesperean
Edward: in contemporary parlence in america if you call some one a cunt it is the worst thing you can call a
woman...it is a powerful word...
Dina: well, nice... resounding
Edward: in england the word cunt means a stupid woman...an ass a woman that is nothing but a problem
Dina: so are we contemporary here or shakesperean there
Dina: and if we were to publish
Dina: for example
Edward: but in erotic literature there is no other word to express the fundamental nature of the conjugal
relationship of seeding of furrow...it is rural imagery
Edward: basic, ancestral
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Edward: it would be erotic...it would be considered high eroticism...linguistically lovely...contemporary...real
...without contrivance or artifice
Dina: fine, then, a beautiful word, why use it to express bad thinking,
Edward: no not basic...idyllic...of the woods of the field...innocent...out of the corruption of mechanistic
predeterminism
Dina: so strong and unique sound to a word
Dina: two words i mean, cunt and cock
Dina: cock in cunt
Edward: oh i see what you mean
Edward: so we are out of any predeterminism
Edward: most anglo saxon words are germanic in nature...when france conquered england in 1066 the language of
power was french and the language of power conquered the native language
Dina: but where is french in eng lang
Edward: and anglo and saxon words were forgotten associated with the common
Dina: and recovered later?
Edward: yes we are trying to find a point in a river you cannot...though quantum physics is more of what we are
about 21st century physics...mechanistic predeterminism is the physics of the 19th and 20th centuries
Edward: but in 21st reality is what you can observe with your senses, sensitivity
Edward: the history of the english language is interesting...if you read Chaucer he speaks with a palate of french
angle saxon and jute...cunt and cock are most certainly found in Canterbury Tales

29.8.05

Recato
muito, muito quente esta manhã, dor no joelho, desisti do treino, deixei o forno ligado - um perigo - chego em casa
irritada, de mau humor, sem saber bem porque - TPM? Menopausa? há + de 3 meses que não menstruo , orgasmax
nelas - carregando compras, depois de uma breve passada pela casa de minha mãe para ter o desgosto de vê-la
almoçar com colher, precisando de ajuda para comer... Alan me recebe carinhosamente, com aquela pergunta que, já
sei, significa um intervalo de pelo menos meia hora na rotina diária, recarga energética, antidepressivo, um pouco de
cor para dias cinzentos (ou ensolarados demais, como hoje): "do you have a minute?"
um cotidiano de casal como todos deveriam ser - talvez sejam, com frequencia maior que nosso pessimismo
endêmico permite supor - deixar fluir essa energia amorosa, regeneradora. desde que comecei a escrever este blog a
sensualidade aumentou por aqui. espero que por aí também. já demos boas, deliciosas risadas ao rever minha
descrição acurada de fatos, corpos, toques... ao mesmo tempo me pego preocupada com a reação da familia, de
alguns amigos, de gente conhecida a esta abertura total, a esta conversa franca sobre assuntos nunca dantes ousados
por mulheres comportadas como nós. hesito... me visto para sair e compartilho com o Alan minha preocupação.
muito recato, eu digo, cuidado na escolha da roupa... e faço humor, agora que escrevo como uma mulher da vida
devo tomar cuidado para não me vestir como uma... mais risadas. mulher da vida? ou mulher vivida? ou mulher
vivendo? mulher que finalmente, aos 53, conseguiu estar com vida? como pesa a cultura, a educação, a repressão
social... experimentando ser franca, aberta, real, mergulho em conflitos, serei poética? serei banal? comments,
comments, comments, please...

30.8.05

Neuras, neuras, neuras


Acordo de manhã bem cedo e da cama posso vislumbrar meu reflexo preguiçoso no espelho do closet. Mas não
olho: não quero me ver assim, desprotegida, marcas do tempo à mostra, angulo desfavorável, pernas, alguma
barriga, seios já não tão firmes... me levanto, banheiro, cozinha, café, jornal, me visto para a academia e aí sim, me
olho no espelho, postura esbelta, colant preto, coque de bailarina no alto da cabeça. saio de casa, no espelho do
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elevador, novo exame, nariz? estomago? pescoço? sou capaz de me olhar assim, de muitos ângulos procurando o
melhor a cada possivel reflexo em meu caminho diário, Alan reclama, e como. "what are you looking" - ele, crítico -
"don't you like your body?" é, amor, um pouco isso, às vezes raramente o contrario disso, posso acordar magra ou
acordar gorda, à noite, in-va-ria-vel-men-te, estou gorda. mas o Alan diz, e repete, que vê beleza em mim... que me
olhando assim um pouco obsessiva tentando gostar de mim me desmereço, reflito em mim o olhar de outras pessoas
que nunca me viram como sou, muito menos me amaram. Alan se diz exigente, longa vida, muitas mulheres, todas
lindas, bela também eu. quisera eu acreditar, quero, vou. em breve. não me acostumei ainda a ser amada, apreciada,
observada sob a ótica do desejo, tudo tão novo. meu corpo começa, lentamente, a expressar aquela outra, aquela
mulher que dorme dentro de mim, a gorda tentando expulsá-la há anos, sem sucesso, cada dia mais fraca esta gorda
que nunca de fato existiu, ou pouco passou de recorrente pesadelo, esta gorda fracassada e neurótica refletindo meu
medo de dar certo na vida.

Abortei a gorda que me habitava


Não sei se sonho ou viagem
de mim o sangue jorrava
livrou-se-me o corpo da estranha
informe, forma inerte de vida
me apagando na mente e na alma

Abortei a gorda, que me sufocava


me pisava, reprimia
me embaçava do espelho a imagem
gritando em mim deslocada (tresloucada)
com sua voz rouca - engasgada

Abortando a gorda me vejo nascer


(dentre as águas eliminada)
as algemas da dor? arrombadas...

Abortei bravamente a gorda


com seus delírios doídos (como ela)
agora sou clara, leve, perfumada
Sou mesmo esta flor, amado
que você não via, mas buscava
quando ela - cruel - me aprisionava...

( de Mulher Inversa, poemas escolhidos, 1996/2001)

10
2005 - setembro
3.9.05

Casa de Ferreiro...
Set 02 7:27 am
de Noga para Alan
alan, my life is like this amazing, impossible soccer game, where i was loosing from 5 to 0 until the last 5 minutes
and then a miracle player came in and made 6 goals, the last in the 92th minute of the game, which means, the judge
was benevolent and i won my victory in a spectacular turn of events i'm not responsible for mom anymore, not alone
anymore, have a man whom i love dearly, a splendid lover among other traits... now i'm here after the party
digesting the amazing performance, sometimes my soul flies back to past moments in time but the FACT is
irreversible and now i am this unexpected woman, finally love goddess to her fullness, acting and expressing like
one, capable of helping millions and millions and millions of lonely women, injecting hope to their system... be
patient with my insecurities... help me when i feel things coming apart for i have the impression that 'tis hormonal...
i slept with orgasmax... see if i can feel any better... it's raining outside...cool...heat wave gone...
shabat shalom my love/ N

pois é. ela me pegou feio esta semana. 4 meses sem menstruar e de repente comecei a perder o controle, ficar
nervosa, nervosa, as coisas sumindo da minha mão, eu perdendo o controle... ontem até chorei porque não consegui
instalar um bendito software, uma bobagem que foi a gota e meus seios inchados e as pernas fracas, e eu me
sentindo exausta... quando me dei conta de que apesar da menopausa ameaçando ainda poderia ser TPM e há dias eu
deixava meu orgasmax esquecido na gaveta, porque, vocês sabem, mesmo a gente tendo solução pras coisas se os
sintomas tiram férias a gente deixa qualquer preventivo pra lá... mas me lembrei e coloquei meu orgasmax e fui
dormir.
e vocês pensam, Alan, com todo seu amor, atenção, mãos macias e tal, pensam que foi compreensivo comigo? que
homem entende TPM? intelectualmente até pode ser, mas na hora que a coisa pega, a gente esquece de tudo... a
gente se esquece que o descontrole vem da TPM, eles que a TPM pode existir, e fica só aquela mulher de reações
desproporcionadas e aquele homem impaciente que não aguenta excessos emocionais...

set 01 6:50 pm de Alan para Noga


so now you are absorbed with your headset. . .cannot be bothered to look up to answer. . .There is nothing so
irksome so bothering so intolerable than to see you without control. . .

bem, ontem de manhã acordei outra. fui pro clube correr, malhar, e enquanto estava na esteira tive a impressão que
tinha descido, tal o alivio que eu sentia de estar normal de novo... mas pra minha surpresa, já é sábado hoje e até
agora nada, só alarme falso, mas a TPM se foi, santo orgasmax!

Miquinhos no Federal, Bangladesh in USA


esta amanhã, no Clube, show da natureza: uma familia de uns 9 macacos veio tomar café da manhã no telhado da
nossa sala de ginástica! nosso trainer, já sabendo, colocou fatias de pão de forma ali e fez a farra dos micos; e nossa,
claro, ficamos lá rindo das expressões quase humanas, da gula dos bichos, seu humor - um deles bebê, tão bonitinho,
olhando pra gente e pulando de alegria com o pão na mão, outro egoista olha pros lados, corre e, ôpa, pega dois, um

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com cada mão e foge, o povo delira e compara aos deputados do mensalão. me delicio com a boa vontade de deus
conosco nesta cidade gostosa de se viver, apesar da campanha em contrário, violencia, midia, etc. e penso no Alan
aqui nesta boa vida, curtindo a tranquilidade da nossa casa, a vista do Cristo na varanda, um contraste absoluto com
as imagens chocantes do katrina (passou por perto de nós, de nossa casa na Florida), e da pouca civilidade
demonstrada nos estados unidos pelas vitimas do furacão, que tristeza... todos viram enfim pela tv o que eu senti na
carne em meus 6 meses de EUA vivendo com o Alan, como a qualidade humana ali está em franca decadência, a
moral combalida, a depressão em alta, os obesos que mal podem se mover contaminando a comunidade com
indolencia, desrespeito por si próprios (há anos eram raros, agora numerosos, quase regra), pra não falar dos
homeless, dos drogados assustadores dormindo no parque em St Augustine, do comércio em queda, coisas que
ninguém acredita possam estar acontecendo ali, no primeiro mundo, meninas, eu vi...

Venus

estou criando o novo anuncio do orgasmax e Alan me deu esta idéia de usar a imagem
da Venus de Willendorf, esta deusa paleolítica, símbolo eterno de feminilidade, de
sensualidade e fertilidade conservado e apreciado através dos séculos. eu tenho uma
venus destas, ditas esteatopígias, o que quer dizer cheia de gorduras. a idéia de gordura
no corpo hoje em dia nos é totalmente repulsiva, mas na natureza é o índice de gordura
corporal que permite ao organismo fabricar hormônios. vocês sabiam que atletas de
elite, com o indice de gordura baixíssimo, não menstruam? enfim, tenho esta vênus
pequenininha e é uma escultura que eu adoro, da minha amiga Celeida Tostes, que já
morreu. a Celeida criou estas esculturinhas e as distribuiu no sítio arqueológico que
criou na Fundição Progresso, sua instalação na expo que organizei ali há anos atrás. as
figurinhas foram enterradas no sítio e o público deveria cavar a terra para encontrá-las.
guardei a minha e tenho por ela um carinho especial, sábia Celeida, quem sabe
antevendo o retorno do verdadeiro feminino, atualmente meio enterrado feito fóssil,
bloqueado pelo excesso de exposição de seios e bundas, silicones e botox. daí procuro
no google imagens da venus famosa, esta aí ao lado, e ao vê-la me dou conta de como
seria impossível usá-la num anuncio contemporâneo pretendendo transmitir, significar
sensualidade feminina. estamos hoje no outro extremo, no mundo das mulheres cabide, secas, ossudas, quando foi
que perdemos o link com tudo que historicamente representou a qualidade, a atratividade feminina? nossa qualidade
de fêmeas, de mães? como foi que chegamos tão longe de nós mesmas? conversando com o Alan hoje repensei todo
o conceito de sexualidade, de toque, de carne, de energia. como foi que nos deixamos enganar, levar por esta
imagem inatingivel que a midia transmite? como foi que nos deixamos arrastar para esta situação onde a satisfação
com o corpo, condição básica para o prazer, é impossível? tá certo, a Willendorf é um pouco demais, ninguém há de
querer a barriga, os seios caídos, mas vejam como ela é sensual, a boca receptiva, a cona exibida, as curvas macias...
precisamos reencontrar o bom senso na auto imagem, a possibilidade de nos amarmos mais, de cuidarmos da saude,
da forma, sim, mas dentro de um limite possível, atingível... quando o Alan me toca não tem gordura, nem velhice,
nem rugas, só o amor, dois corpos em um, a maciez da pele... e mesmo assim eu às vezes ainda me torturo e me
ameaço com sacrificios impossiveis na busca de uma impossivel magreza (meu tipo é assim, pequena, mignon,
curvilinea, pra ser gentil comigo mesma, mas não, estou normal, não estou gorda, poderia bem perder uns 5
quilinhos... risos)
gosto daquela campanha da Dove pela normalidade das mulheres, mas acho ainda fraca pra mudar a tendência,
pouco material no website, muito centrada no aspecto comercial mas, enfim, algum começo de reação aparece na
midia. Alan diz que cheira a mudança chegando, pois ninguém aguenta mais viver neste stress imposto pela
necessidade de consumo mundial. a gente chega à conclusão que esta imagem anoréxica criada pelos fashion
designers foi um tiro no pé, pois mulher infeliz com o corpo não compra roupa, se acha um monstro dentro de
qualquer modelo, quem de nós, mulheres normais, não teve esta sensação frustrante no provador da loja? quem hoje
em dia deveria andar na corda bamba temendo a falência são os fabricantes de diets e lights, estes sim, vendendo um
conceito fake de saude e enganando a freguesia, sabe-se lá quanta química pra chegar neste resultado de baixa
caloria... saude é natureza, é equilibrio, é comida fresca...
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voltando à vênus... bem, nada de esteatopigia no meu anuncio, não tive coragem, né? acabei na sensualidade do
beijo de Rodin, na mulher com curvas mas harmoniosa para nossos padrões. ai, posso falar deste assunto por horas
mas a gente volta depois. é sábado, estou cansada, o dia já vai terminando e acabei trabalhando o tempo todo,
aprovei um display lindo pra clipfit.com, uma coisa que eu já queria há tempos, fiz o anuncio, atualizei o blog... ufa,
tempo de dar um tempo, tomar um banho, relaxar e cair nos braços do maridinho, um filminho na tv que energia pra
sair à noite não há mais... um chazinho verde que o dia já deu chope... see you.

10.9.05

Tabúuuuuuuu
Sábado passado, no Globo, uma nota breve falava sobre Toni Bentley, esta bailarina australiana que agora faz o
maior sucesso publicando um livro confessional sobre sexo anal (que horror, rimou). a semana toda o assunto ficou
se revolvendo na minha cabeça, tenho que escrever sobre isso no blog, tenho que... e a semana transcorrendo e eu
ocupada, milhões de coisas pra fazer, publicidade para o Orgasmax, um novo site para o Alan que começa segunda
feira a dar aulas de ingles online, mais um anuncio para ele, e colocar cortinas novas na casa da mamãe e feriado, e
dar atenção a tudo... um décimo da aflição que me dá este meu livro inacabado no folder do computador
(antigamente, na gaveta...) e hoje a nota do Globo deu cria, virou entrevista de primeira página no Caderno Ela,
definitivamente "o" assunto. Agora eu não escapo. A Toni reclamando das mulheres, que não se identificam com ela
como ela esperava mas sim criticam, acusando-a de ter dado um passo atrás na trajetória do feminismo... e de como
ela quer mostrar que é escritora, sofisticada, intelectual, e ainda assim tem este ataque de confessionalismo, bem,
está na moda... e eu surfando na moda apesar de minha intenção passar longe disso enquanto escrevo este blog
sempre que posso e me aflijo com minhas proprias confissões sexuais de meia idade criando mofo na gaveta do
computador. Me identifico com a Toni quanto a se mostrar sexual, entre outras caracteristicas; é assim que somos,
nós mulheres, passionais, emocionais, inteligentes, atuantes... e sexuais. acho que somos todas assim e algumas de
nós se expressam mais facilmente que outras... como a Toni fui tímida, educacionalmente reprimida, culturalmente
treinada no recato ou no dar-se pouco ao prazer... como a Toni encontrei o parceiro certo pra me livrar de tudo isso e
me tornar um ser humana íntegra, exibindo todas as facetas com igual brilho como uma gema bem lapidada. só não
concordo com esta coisa de submissão. não sei pq certas coisas são tabu... porque sexo anal seria, nas palavras d'O
Globo um tabu? pra mim é apenas parte do sexo na vida que a gente leva: se é bom, gostoso, fazemos, se dói ou
incomoda, não. pra mim, nada a ver com submissão... nem especialmente divino... divino é o encontro de alma, de
corpo, de pele, de energia com o companheiro, não uma ou outra posição sexual - variar a posição, aliás, não
acrescenta nada ao prazer, prazer que vem da abertura, do encontro, não da reprodução forçada de idéias falsas sobre
como chegar ao orgasmo, de malabarismos ridiculos em busca de um alfabeto genital misterioso que eu não sei ler.
durante uma época da minha vida encontrei homens que valorizavam especialmente este sexo traseiro, oculto, talvez
por terem implantado fundo na psiquê esta ideia de que é uma forma de submeter, escravizar a mulher, este ser
incômodo que ninguém entende... um de meus amantes estúpidos, que por carência mantive por algum tempo,
chegou ao ponto de, depois de eu ter cedido minha bunda a ele uma única vez, me ligar o tempo todo pra falar disso,
e dizer que queria mais, e mais... até que deixei claro meu desgosto com ele, fiz o óbvio aparecer, ele apenas vivia
numa autoilusão de poder ridícula que eliminou com eficiencia a pouca atração que eu pudesse sentir... pareço
submissa? depois deste imbecil passei a evitar a "tribo dos comedores de cú" e sua atividade preferida, ou melhor,
passei a evitar os imbecis, vazios e iludidos, na medida do possivel, já que às vezes, sem querer, a gente cai, se
engana, mente pra si propria por um pouco de falsa alegria... outras vezes, poucas, pratiquei de novo, pra conferir,
porque eu pensava ter prazer. lembro-me de meu primeiro amante tântrico, um espanhol que se chamava, acreditem,
Garcia Lorca, de verdade. vivi com ele em Pirenópolis, cultivei com ele uma fantasia de alma gêmea logo depois do
doloroso fim de meu primeiro casamento internauta em Brasilia. pois Garcia Lorca tinha aquela capacidade tântrica
de manter a ereção por horas, e horas, e horas... uma revelação para mim, até o dia em que ele disse que o emprego
dele era me fazer feliz. bem, mas muito antes do fim, aquela tarde no meu chalé mínimo de Pirenópolis, quando eu
resolvi medir no pêndulo a energia gerada por nossa atividade sexual... a energia era enorme, fazia o pêndulo girar,
girar, não sei de onde vinha, se da minha mente, da nossa genitália, se era real... o fato é que tentamos por trás pra
medir a energia, senti que me fazia mal e nunca mais. o tabúuuuu tomou conta e se re-instalou em mim por muitos
anos. mas agora tudo isso perdeu o sentido. estou nesta vida de intimidade total com um parceiro onde todas as
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restrições se desfazem como fiapos de uma colcha velha e remendada que não aquece mais; tabu é só uma palavra
que pretende assustar, e assusta: criada para fazer as criancinhas se comportarem, do ponto de vista dos pais. quando
vc se torna adulto, dono de si, uma pessoa inteira, consciente, madura, não existe tabú, vive-se em plenitude, em
contato com o melhor de nós. bem, se ainda não estou lá, estou a caminho e pelo menos vejo clara a estrada. sexo
anal então é assim: às vezes eu quero. estou escrevendo e o Alan chega por trás e põe a mão em meus seios, e ele
tem uma mão quente e ampla, uma mão que cura qualquer dor (às vezes também causa algumas, falamos de abertura
total, de confiança, intimidade, mas não de pessoas perfeitas, apenas humanas). então quando eu quero, e o Alan
quer também, tentamos fazer, porque às vezes incomoda e paramos. na primeira vez que fizemos, confesso,
orgasmei. esta semana doeu, desistimos... como tudo na cama, então, às vezes rola e não me sinto reprimida ou
culpada, ou pecadora... só normal. às vezes penso que a gente não sabe bem o que é ser normal, uma mulher normal,
aberta, experimentando a vida. é dificil abrir-se assim, mas, para mim, é este o único caminho para qualquer tipo de
felicidade. ainda me preocupo às vezes com estereótipos, quem sustenta a casa, quem ganha dinheiro, quem faz este
papel no casal, aquele... mas o fato é que pela primeira vez na vida estou no amor, em estado de amor, nada mais
que esta energia espontânea, compartilhada em cada momento, quando no café da manhã de sábado o Alan diz que
lê a minha mente. "Que bom, então, meu amor, vc é meu sonho realizado: um amante com quem eu não preciso
falar, que me entende no silêncio, me vê, me sabe como sou." e ele agradece porque eu não me escondo, me revelo,
uma mente sem véu, sem jogo. é sábado, faz sol lá fora, e eu tenho um bocado de trabalho hoje...

13.9.05

Jabor, não seja tão triste


terça feira, chove muito no Rio, não vejo nada da janela além desta espessa névoa que cobre tudo, como a tristeza de
hoje - vasto véu - cobre nosso futuro. acordei fazendo amor, em vão. me sinto triste, sem esperança. se eu pudesse
voltaria pra cama e ficaria lá escondida até a tristeza passar. mas é terça, preciso achar uma saída que leve a semana
em frente. abro o Globo e encontro o Jabor das terças lá, triste como sempre. este homem charmoso, brilhante... e
triste. deprimido. sem esperança alguma. leio sempre o Jabor, mesmo quando estava nos Estados Unidos lia, na
esperança de uma alegria inteligente, mas parece que tal alivio tem sido impossivel no rio, no brasil, no mundo.
sempre tenho vontade de escrever pra ele, mas o email dele não é publicado como o de outros colunistas. uma vez o
vi de longe, no cinema da Conde Bernadotte, e fiquei ali pensando como seria bom conversar com ele, desde que
algum otimismo pudesse iluminar o encontro. ou pelo menos que ele me abraçasse com seu corpo enorme, semita,
seus olhos claros, e que de dentro deste abraço pudesse surgir a solução do futuro, um mundo melhor. e ele hoje cita,
entre outras lágrimas pendentes, enumerando os males do mundo, "sexo em vez de amor". pois é, Jabor, este mundo
arrombado em que vivemos tenta eliminar o bem maior, a intimidade, com nosso proprio eu, com o outro, com o ser
amado. a informação nos invade, ocupa tanto o nosso tempo que a gente se esquece de conversar com nossa
essencia. o que queremos na verdade? para onde queremos ir? precisamos de mais tempo, pra criar um novo tempo.
o tempo do prazer, de não fazer nada, sem tv, sem barulho, sem internet também ainda que por alguns poucos
minutos. talvez deste silencio interior, compartilhado na mente coletiva universal, brote uma sensação nos mostre a
saida, a esperança de uma alegria inteligente, duradoura. uma alegria que tenha força suficiente pra levar a tristeza
embora, pra acordar o Jabor do pesadelo em que ele - nós - vive - vivemos. bom dia pra vc Jabor, apesar da chuva.
chuva que também lava, leva a lama na enxurrada.

24.9.05

Um certo fusca laranja


subo a Timoteo no microônibus e vejo um anacrônico fusca laranja estacionado na curva. instantaneamente me
lembro de Ricardo, o designer dos ventos que amei pouco depois do meu divorcio. separada de meu primeiro
marido, eu me sentia novamente virgem, achava que nunca, nunca mais... nunca mais curto este, nem 3 meses e
encontrei o Ricardo, único abdomen de tanque que realmente conheci, toquei. convidei-o pra jantar em meu
apartamento de solteira recente: ninguem comeu naquela noite... e ficamos juntos por um bom tempo. o Ricardo era
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bem estranho e fazia questão de que nosso relacionamento fosse completamente discreto, secreto, mesmo... sua
presença no apartamento, embora benvinda, era bem rara. subitamente me vejo comparando este caso à minha vida
com Alan, tão diferente o toque, a intimidade, o amor, embora o sexo tenha a mesma intensidade. anos mais tarde
encontro o Ricardo, e nos amamos de novo no segundo andar da cobertura de São Conrado, antes das balas perdidas,
embora um dia eu tenha encontrado uma detonada dentro da piscina. a camisinha estourou, a menstruação atrasou e
eu pensei estar grávida, minha única vez, e eu quis tanto... mas não foi desta vez, não nesta vida e agora já pré-
menopausica deixo o desejo de filhos para trás. Alan diz que não posso entendê-lo completamente porque não tive
filhos; talvez ele esteja certo. talvez parte de mim se mantenha imatura, infantil, não deixo de ser filha para me
tornar mãe... por outro lado minha falta de descendentes me deixa livre, solta no mundo, sem compromissos com o
futuro, mantendo-me fiel aos meus instintos e fazendo de mim mesma um laboratório de sensações, experimentando
de tudo pra ver onde vou dar. às vezes, confesso, muitas vezes dou em nada e me forço a confrontar meu proprio
vazio. sábado de manhã, ar lavado e uma certa ressaca depois que o furacão Rita se acalmou e revolucionou a cena
americana bem menos do que a midia gostaria. vi ontem um filme italiano no dvd, "Não se Mova", com Penelope
Cruz, um estoria de amor emocionante, Alan adormeceu de lado e eu olho o corpo dele calmo e relaxado, tão perto,
e sinto uma ternura enorme me invadir, minha mão não resiste e toca de leve a bunda redonda, lisa, firme, sinto que
o medo do futuro por momentos se esvai, dissolvendo-se no verdadeiro significado de sucesso, talvez pouco
reconhecido: sucesso é encontrar o amor na maturidade (ou antes, ou depois, mas encontrar um dia...), depois de
anos desistindo, desviando o foco da felicidade, tentando várias dietas, ser mulher de negocios e nada de fazer
familia. sucesso é amar e ser amada, uma sorte rara hoje em dia.

Vegetariana, eu?
dentro de mais ou menos duas horas deixarei de ser vegetariana. 20 anos sem carne e de repente uma promoção do
Zona Sul provoca em mim um desejo profundo de carne vermelha, ouso destruir em momentos o edificio teórico
que cultivei tão longa e insistentemente, uma forma que escolhi de me sentir diferente, melhor, mais humana.
ultimamente tenho sentido uma dor no corpo que não passa, uma fadiga que não descansa, uma lesão na coxa que
não cura, uma flexibilidade afetada que não se recupera. corro regularmente há mais de 3 anos, mas neste último
meu corpo parece reclamar uma falta que venho buscando entender. 20 anos criando sabor em receitas
habitualmente insossas, justificando meu vazio de amor com regras de saude. escrevi artigos sobre a abstinencia de
café, de laticinios, de açucar, de carne, de álcool. experimentei tudo isso pra ver se entendia melhor meu corpo e a
cada momento minha lei parecia válida. mas agora não sei, estou em crise. meu corpo ama e goza e mais ou menos
se mantém no peso pouco acima do que seria ideal pelos padrões atuais de exigencia dificilmente atendidos. minha
passagem pela pre menopausa vai se dando com algum desconforto, intercalando momentos de bem estar com cistite
crônica, calores esporádicos, algum controle com a ajuda do orgasmax, e este cansaço, de onde vem? o
vegetarianismo e as teorias de saude, antes rejeitados, são agora regra, é o que percebo em minha busca de algum
apoio científico para minha súbita mudança. fui uma das domadoras de opinião, em busca de adeptos do cardápio
verde, e comi muito bem nestes 20 anos, cozinhando sempre pois restaurantes nesta linha eram raros, hoje não mais,
mas ando pensando na cadeia alimentar, no ritmo da natureza, em animais que se alimentam de outros, na energia
que as restrições eletivas nos roubam... de como é fácil adaptar o texto às nossas convicções do momento. a verdade
é que ando cansada de ter convicções e quero ser livre, mutante, sem rotina. minha mãe habitualmente recolhida à
ausencia do alzheimer abriu um largo sorriso quando eu contei pra ela que não era mais vegetariana. porque será que
ela detestava tanto a minha opção dietética, ou será que detestava minhas opções, simplesmente, por sentir-se
afastada de mim? será que através de minhas escolhas o que eu queria mesmo era ser única, original, dona de meus
atos? será que eu ando muito mansa, muito etérea? e pra estar neste mundo em crise ando precisando de alguma
energia animal? gente, eu confesso que algo está se revolvendo dentro de mim e eu ainda não sei o que é e esta tarde
EU VOU COMER CARNE.

29.9.05

Manhã no Rio,
parou de chover, sol ainda tímido, lista de compras, preciso sair AGORA pra malhar senão perco a hora, só um post
rápido porque esta manhã foi, ah..., tão especial, gostosa, carinhosa, venho usando meu orgasmax há dois dias direto
15
por causa de novo da bendita cistite e então acordo Alan toca minha perna com a ponta do joelho e eu sinto um
desejo enorme, suficiente para despertá-lo, ele nunca acorda tão cedo mas hoje sim e me envolve e eu me viro e
abraço o rosto dele com meus seios e a mão macia e grande percorre meu corpo e o mundo, a pressa, a hora
empalidecem e só fica este amor, este desejo, esta fome de toque, uma vez, duas, eu preciso mesmo ir agora e penso
como eu quero me dedicar às mulheres e compartilhar o que sinto e experimento e invento, tantas coisas me passam
pela cabeça e pelo corpo que acabam esquecidas, obliteradas pela rotina, prometo que hoje, sem falta, escrevo sobre
aquela lista de assuntos, plebiscito, viagra, dieta, amor, sucesso, desejo, desejo, desejo... e aquela feira de sexo em
Budapest e o novo viagra para os homens, e para nós? não vai nada? sex toys? falar nisso pesquisei e descobri que o
vibrador foi mesmo inventado por um homem em 1800 e muitos para acalmar a histeria das mulheres, provocando
um espasmo uterino para acalmá-las... e a gente confia NISSO para ser mais feliz??? a industria de drogas não acerta
quem sabe a do comportamento... e esta demanda por prazer insatisfeita? e o amor? o amor? o amor?

"The Vibrator's Illustrious History

We can thank the Industrial Revolution for the means of producing mechanical vibrators: in 1869 and 1872, George
Taylor patented the first steam powered "massage and vibratory apparatii." These were promptly introduced as a
medical apparatus for the treatment of "hysteria": was the lady of the house feeling blue, or depressed, or a little
light on equal cultural privileges? What could make her feel better than a bit of "uterine manipulation" by a medical
doctor, until her stress dissipated in a series of muscle spasms? O QUÊ?????????

The obvious popularity of this treatment drove the vibrator to become a household appliance by 1905, advertised in
women's magazines and catalogs in extremely vague terms that refered to women's health and increased vitality.
Unfortunately, vibrators' brief moment in the sun of legitimacy clouded over when they started showing up in the
early stag films of the twenties. They lingered in the twilight world of novelty devices, or disguised as massagers,
until the seventies when the first vibrator was actually marketed as a sexual accessory.

This boomed into a huge, albeit aesthetically-questionable business of unattractive sex toys, that was partly
remedied by the entry into the fray of women-owned sex stores, and more informed and demanding customers. You
wanted your toys to be better made and more attractive, and you got it. Vibrators now come in every color and
design imaginable, so you can get off with a rubber Ducky, a ball-point pen, or a brightly-colored sea creature if
you so choose. It's easier than ever to buy a vibrator and take it for a spin. Even if you're not feeling blue, those
resultant "muscle spasms" will, at the very least, relieve tension and put a smile on your face!"

QUE ABSURDO!!!!!!!!

30.9.05

Conjugalidade
Alan está sentado no computador, de manhã cedo, bloqueando o mundo exterior que desperta em ruidos variados,
ouvindo as noticias com fone no ouvido. eu me aproximo por trás e dou um abraço, sinto esta energia me invadir e
um desejo de toque, de pelos se eriçando, de corpos se abrindo ao encontro. ele desfaz o nó do meu quimono e me
despe, se despe, e ficamos ali, por um indefinido lapso de tempo, nossos corpos nus, muito proximos, quase
misturados e as mãos percorrendo caricias e o cheiro, cabelos sedosos, corações sincronizados. Alan vai me levando
pra cama e ficamos ali, mais proximos ainda, apertados num abraço infinito enquanto a energia cresce, cresce, eu me
abro, ele vem, e ficamos assim mais uma eternidade, um dentro do outro, ouvindo a essencia, misturando a aura,
criando esta tinta única, original, pra pintar o amor que nossos corpos sentem um pelo outro. depois é como um
escorrer de corpos, derretidos pelo calor do amor, se espalhando líquidos pelo lençol. é assim que sinto meu corpo
depois do amor, como se se desmanchasse, derretesse, eu sou água, da água venho e pra água voltarei. pergunto ao
Alan, se ele acha que química entre casais existe, ou se forma ao longo do tempo. existe, ele afirma. então somos
sortudos, comento, tiramos o grande premio. ele diz que sou um animal tão raro, "avis rara", ele diz, que tive que
voar para a America do Norte pra encontrar alguém da mesma espécie. o que temos, segundo ele, é "conjugalidade",
uma palavra nova, acrescentada esta manhã, just this morning, ao léxico: uma química, eivada de intimidade, de
16
amor, muito mais que sexo, muito mais que junto, mais ainda que amor, um encontro total, como seria uma palavra
gigantesca daquelas em alemão que une tudo, gesamtlieberbesserunggestalt ou algo assim. bom dia!

17
2005 – outubro
2.10.05

Armas não
pareço emergir agora da confusão mental em que me meti a respeito desta questão do desarmamento, sim ou não? à
primeira vista, uma pessoa consciente, pacifista, humanista, (em julgamento apressado) parece não ter opção, a não
ser, sim, sim, vamos nos desarmar. mas aí a gente pensa, pensa, pensa. porque o estado tem que interferir nas
liberdades pessoais? porque as pessoas não podem ter direto à escolha? quem se sente melhor com arma em casa,
que tenha. uma boa campanha educativa faria melhor, e uma policia eficiente, então, diminuindo o crime, isso sim. e
melhores condições de vida, erradicação da miseria, oportunidades para os pobres, urbanização das favelas, etc, etc,
isso sim, diminuiria o crime e a violencia. enquanto não se atinge isso, quem se sente melhor possuindo armas, e
seja cidadão responsavel e consciente, que as tenha. ilegalidade deu em máfia. aliás, tudo que é proibido torna-se
infinitamente mais interessante e atraente para a mente humana. menos pessoas almejam possuir uma arma se basta
ir a uma loja, com algum dinheiro, para comprá-la. já proibidas, passam a ser objetos de desejo, contrabandeadas
além do que já são, produzindo o efeito oposto do que se pretende, isto é, aumentando a violencia e a transgressão.
ser pacifista à vezes significa contrariar a lógica aparente dos fatos. o Alan, ex-hippie paz e amor, um dos
fundadores do movimento nos idos de São Francisco, vem me ensinando isso com um discurso que às vezes pode
soar radical de direita (e me assustar bastante, o que estou fazendo ao lado deste homem louco), mas é na verdade
uma fuga às ilusões, às falsas verdades propagadas com liberalidade hoje em dia pela midia e pelo excesso de
informação, um encarar da racionalidade aplicada à realidade sem romantismo dos fatos. e graças a deus tenho lido
muita gente boa, que admiro, contra o sim, contra a demagogia de quem fatura alto em nome de causas
reconhecidamente boas. é melhor pensar direito, refletir, descondicionar a mente e ver por trás das aparencias... pelo
menos hoje, como resultado de longa reflexão, 2 semanas antes do plebiscito e me reservando o direito de mudar de
ideia mil vezes de novo nos proximos dias, pelo menos hoje estou votando não.

Vegetarianismo, follow up
comi carne ontem pela segunda vez (não mais que uma vez por semana). pode ser que esteja me sentindo um pouco
menos cansada, talvez meu problema seja, sim, falta de ferro, uma leve anemia, pode ser, mas gente, estou me
sentindo muito mal. sinto uma coisa muito estranha depois de comer carne. menos de 2 horas depois estou faminta,
começo a comer, comer, pra preencher o vazio no estomago, e acabo enjoada, com uma ressaca horrorosa, minha
digestão piorou e minhas lindas e saudaveis fezes (desculpem) tratadas a linhaça estão ficando duras. parece que vou
desistir e acabar no suplemento... to be continued

Novos produtos
alguns novos produtos aqui em casa neste fim de semana. o orgasmax em nova versão quase invisivel com pulseira
de silicone deu muito certo. ficou lindo e muito mais discreto, firme no lugar, fácil de por e tirar e agora sim, a cor
de pele fica quase nada, um leve toque de prata no ponto. os Skinny Rings do Alan ficaram prontos. Gente, estão
lindos, são delicados, criativos, a gente coleciona, compõe como quiser e tem cada dia um anel diferente, e é muito,
muiiiittto mais confortavel que aqueles aneiszões pesados que a gente vem usando (eu mesma desenhando) há
décadas. eu gostei. bem, eu sou suspeita, né, o amor colore tudo de rosa. mas em breve vocês vão ver no site e na
18
midia e decidir se está na hora de mudar de visual. um toque sutil de ouro, sem despertar a cobiça de ladrões e
fazendo de cada uma de nós uma designer original. aguardem!

4.10.05

Do jeito que as coisas são

A charge aí em cima é do Ariel foi publicada no Megazine do Globo de hoje. Gosto de ler estas publicações para
teens, onde posso sentir o rumo que as coisas vão tomar num futuro próximo, ditadas pelo que a garotada vem
sentindo e querendo. claro que a intenção do Ariel era satírica e crítica, mas prefiro encarar como um jeito
alternativo de ver as coisas. ontem, por exemplo, o maravilhoso e raro eclipse anular do sol, pode ser comentado por
extremistas como um sinal de alah, o crescente muçulmano em pleno dia abençoando os atos radicais e loucos desta
gente; ou como um sinal de deus abençoando o ano novo judaico, que também começou ontem. a questão aqui é
outra: vivemos neste lindo planeta, estar vivo é uma benção e o cotidiano é cheio de bons momentos. o plebiscito
das armas pode ser analisado do mesmo jeito. a proibição parece boa, vem sendo intensamente divulgada como boa,
única opção possivel para quem é consciente. (o pessoal do sim tem muito mais dinheiro para a midia, não?)por
outro lado, podemos pensar que os bandidos vão se sentir mais à vontade para atacar, ou vão precisar de mais grana
para comprar as armas ilegais. a questão aqui é outra, como a ineficiencia policial, a corrupção, o vazamento das
fronteiras. ou a limitação das liberdades individuais, do direito de escolha. o Jabor acha que a gente vai virar coisa;
eu já acho que as coisas tendem a virar gente... acho a tecnologia uma coisa maravilhosa; por um lado, tem gente
que acha que a humanidade está ficando ignorante, viciada em tv, alienada. por outro, graças à internet, a
informação nunca foi tão democrática, a garotada já nasce sabendo de tudo e vai ficando cada vez mais dificil
ocultar esquemas escusos e más intenções. a questão aqui é outra: é o foco de interesse que vem mudando, a cultura
está mudando de foco e quem sabe o que tem melhor valor? o livro impresso? as vastas e gratuitas bibliotecas
online? dificil mesmo é ficar consciente e saber optar por que caminhos seguir nesta selva de informação, pra não
ficar perdendo um tempo precioso lendo um monte de coisas que não interessam. agora, que a gente tem que
preservar a qualquer custo o ritmo da vida, isso tem. a vida tem tendido a um frenesi incômodo,um trilhão de coisas
pra fazer, deadlines cada vez mais justos. porque? o tempo está se apressando ou é o input que está ficando fora de
controle? acho que certos espaços do lazer, do ocio, do nada tem que ser preservados a qualquer custo, ensinados
nas escolas, praticados pelos paises, firmados em acordos internacionais. eu já estou pensando num jeito de
encontrar um ritmo mais calmo, pra curtir mais vida e as coisas novas que aparecem.

19
Helicobacter pylori
bacana este premio nobel de medicina. e olhem que o cara teve um insight incrivel, contrariando todo o saber
vigente, e até hoje muita gente acredita que a ulcera é causada por stress. sem falar da dedicação à ciencia, à
verdade, a ponto de arriscar a propria vida para provar um ponto de vista, uma ideia. a ciencia é uma coisa
maravilhosa, mas ultimamente ando meio cansada de tantas idas e vindas no que diz respeito ao conhecimento, à
pratica da boa saude. a gente acredita, se convence, investe num cardápio de hábitos... e pouco depois descobre-se
que não é por aí, que a verdade é bem o oposto do que se propagou. este caso da HRT - reposição hormonal - por
exemplo. gente, eu experimentei estes hormonios uma vez e passei malíssimo; desde aquela época decidi que não ia
mais tomar e iria procurar caminhos alternativos e mais seguros no trajeto da menopausa, pensamento e pesquisa
que deram no Orgasmax, por exemplo. um controle não quimico, não invasivo de sintomas de menopausa, de tpm,
de inchaço e outros males hormonais femininos, com o bonus de um sistema sexual ativado. há pouco tempo se
demonstrou que a HRT poderia causar cancer, derrame, etc, males que se propunha a evitar, acendendo a primeira
luz vermelha. agora, descobre-se que a HRT não só pode ser nociva, como NÃO AJUDA EM NADA NOS
SINTOMAS E NEM MELHORA A QUALIDADE DE VIDA????!!!!??? e a gente que já tomou, se envenenou por
anos, gerações de mulheres??? não vai nada? fico pensando no sucesso do efeito placebo em testes de drogas e
chego à conclusão de que placebo devia ser embalado e vendido em farmácias, pois quem sabe de curas é nosso
cérebro, no final das contas... ser vegetariano é bom? batata frita mata? carne vermelha é duro de engolir (e de
digerir), mas será que o ser humano, afinal, precisa dela ou não? como toda boa capricorniana sou disciplinada,
posso passar sem qualquer coisa e implementar qualquer hábito, como passei, mais de 10 anos sem laticinios, sem
carnes, sem café, sem açucar, sem afeto. será que foi mesmo bom? ou o corpo aguenta tudo até que cansa? como eu
estou cansada o tempo todo e agora procuro a causa, uma eventual falta de ferro, ou outros nutrientes? como eu vivi
muito bem sozinha, obrigada, e agora vejo tudo diferente porque estou avec e faço sexo todo dia? bom para a mulher
ser independente, consciente de si, dona de seu tempo e espaço. melhor para a mulher ser amada, abraçada,
acariciada todo dia. se vc está sozinha, acho mesmo é que deveria tentar mudar isso de algum jeito, cair num site da
internet, qualquer coisa pra se dar uma chance de ter um companheiro e ser mais feliz. não faça como eu, fazendo
teoria pra tirar de um cotidiano insatisfatório uma receita de vida, até que o corpo gritou: CHEGA! DÁ UM
TEMPO! DÁ UM JEITO E SAI DESTA LAMA! Gente, eu dei. Não que esteja no paraiso, não que seja fácil viver a
dois e ter homem em casa. Mas que ter amor é bom, ah, como é. Amor à vida, amor ao prazer, amor ao trabalho.
Como o australiano do nobel. Entregar-se à vida plenamente e não ter medo de errar, arriscar tudo pelo que a gente
acredita, sem ter vergonha de deixar de acreditar. caso no final tudo o que a gente pensou, e defendeu, e
experimentou, acabe não tendo nada a ver.

9 canções
afinal, o filme, é pornô? não é pornô? nunca vi filme pornô e detesto a ideia. mas este 9 Canções eu quis ver,
curiosa, quis ver o que fazem de especial, e como fazem, as pessoas que vivem sexo de forma intensa. conclusão:
não há nada ali que eu não faça, com exceção destas bobagens de vendar e amarrar que eu não sou disso não. gosto é
de um olho no olho, de uma mão ativa e esperta e de um abraço bom. não aprendi nada. o Alan ficou reclamando
que este negocio de ser voyeur mesmo que em dvd não está com nada. mas na minha nova vida amorosa de mulher
madura com energia sexual de teen eu quis saber porque se falava tanto, do que se falava tanto. sexo é assim mesmo,
a gente faz o que dá vontade e a vontade que dá, quando a gente encontra alguem com a mesma pele, é igual pra
todo mundo. não fiquei chocada nem maravilhada e acho que é melhor fazer do que espiar. e já que hoje estou pra
desistir do Jabor acho que a superexposição da sexualidade não vai dar em frigidez e tédio, mas em liberdade, e
depois de liberar e exorcizar os milenios de repressão e bobagens morais, depois de provar que tabu só faz mal, a
gente vai ficar muito melhor e mais pleno, muito mais capaz de curtir ser humano em todos os niveis. coisa era o
que a mulher podia ser, no seu mundinho limitado e controlado onde tudo era proibido e vergonhoso, o tempo da
"mulher falada". gente, eu vivi isso ao máximo na minha adolescencia em Minas, que bobagem! que absurdos! a
mulher não está virando coisa, superexposto objeto de desejo, bundas e peitos em capa de revista. a mulher está
aprendendo a deixar de ser coisa. e num futuro proximo, a gente vai aprender a ser gente, e viver a delicia de ser
livre, gostosa, poderosa.

20
18.10.05

Sou contra
Sou contra crianças que matam outras na escola. sou contra guerras. sou contra a violencia. e também sou contra
este plebiscito e sua mensagem dúbia. voto a favor da opção livre, mas deus me livre de armas de fogo. este blog
deveria ser só de prazer, mas às vezes a coisa pega e como é que a gente fica? estou em crise hoje. não sei se o Alan
vai, ou se fica, se usa a passagem que vence amanhã ou compra de vez este nosso amor, se amor é tudo ou se
dinheiro também conta... estou na duvida de tudo e todos só não há duvida quando nossos corpos se tocam, mas hoje
nem isso porque eu estou tão tensa com estas escolhas que não sou eu quem faço, mas cruciais que são e alteram o
curso de uma vida, amor, armas, entrega, liberdade, compromisso... e esta postura da midia que faz nossa vida
cotidiana parecer um inferno, um poço cheio até a borda de corrupção, violência, furacões, terrorismo, falta de
ética... será que nossa vida é isso mesmo? uma fúria generalizada do homem à natureza? tudo resultando em uma
possivel morte, no mínimo um desastre? só tristeza e tragédia é que vendem jornal? ou programa de tv? ou sexo
explicito, barato, resfriado? gente, estou mal. se eu pudesse, eu me matava hoje, só um pouquinho. mas de duas
uma: sou covarde, ou sou saudavel e tenho uma enorme pulsão pela vida... respiro fundo e digo pra mim mesma:
pelo menos quanto à presença do Alan nesta casa, só mais 24 horas de tensão. porque ele, em pânico, em dúvida, e
em desterro voluntario, não se decide, até o ultimo momento, e arrasta em sua crise o toque de felicidade que me
faria ultrapassar incólume este momento crítico. só mais 24 horas, e ficarei sabendo pra onde a minha vida vai. só
mais uma semana e pelo menos uma crise de consciencia a midia não vai explorar mais. só mais um pouquinho e
este desejo suicida vai adormecer de novo, quem sabe pra nunca mais. estou cansada, esgotada, overwhelmed, adoro
esta palavra, ainda bem que pelo menos uma palavra eu tenho pra adorar nesta passagem dificil. quando deixo assim
que esta depressão me invada deixo que a duvida contamine tudo. quase desisti desta minha cruzada pela joia
terapeutica, tenho este trabalho tão bom mas às vezes desanimo de convencer a todo mundo que sem remedio e com
estas peças legais a gente vive bem melhor, quase destrui tudo num ímpeto mas me segurei a tempo. é dificil viver
na contramão e é o que venho fazendo desde que me dou por gente, perseguindo o novo, o inusitado, usando energia
pra convencer que o que ofereço é bom, boas ideias, boas intenções, generosidade. meu livro Fases da Lua está em
destaque na editora esta semana. bom. pouca gente leu mas algumas pessoas me escreveram depoimentos
emocionantes: "o seu livro mudou a minha vida". quem sabe mais gente agora. quem sabe um dia de repente tudo
vai dar certo como de repente há quase um ano encontrei o Alan na internet e pensei que nunca mais sexo com amor
e de repente este gozo, gozo, gozo infinito que há um ano não esmorece, quem sabe amanhã termina, quem sabe
continua, e tudo se encaixa no lugar onde tudo deveria estar desde o começo. afinal como dizia aquela professora de
cantoterapia, eu não estou aqui pra sofrer... apesar da torcida em contrario.

19.10.05

Paternalismo x responsabilidade
Carta enviada ao Globo em 19/10/2005

Lendo esta manhã o sempre maravilhoso Zuenir Ventura, quase mudei meu voto no referendo. Sou da paz, abomino
qualquer tipo de violencia e armas, me dói ler no jornal sobre crianças mortas na escola, seja por disparo acidental
ou bala perdida. Meu voto, no entanto, está há muito definido: voto não. A discussão sobre este referendo acabou
provocando na sociedade o que eu realmente considero prioritário: um extenso debate sobre a questão da paz e da
não violência. Confundida pela excelente argumentação do Zuenir, levei algum tempo para finalmente atingir o
âmago da questão; trata-se aqui de uma escolha entre o paternalismo e a responsabilidade pessoal, e é esta escolha
que o Brasil deve fazer para evoluir como pais, como sociedade. Cabe a cada um de nós responsabilizar-se por si
mesmo, por nossa própria consciência, optando por não possuir armas, por não contribuir para a violência. Deixar ao
estado a tarefa de nos dizer o que podemos e o que não podemos fazer é manter a mentalidade adolescente,
dependente de uma autoridade maior que não devemos contestar, num incentivo natural à transgressão. Já a
responsabilidade pessoal é a caracteristica básica de uma personalidade madura e equilibrada, e é isso que devemos

21
buscar, não é? Mantenho portanto o meu voto: voto não à proibição, não à ingerencia do estado na vida pessoal dos
cidadãos; e voto sim à vida, sim à liberdade, à não-violência e à responsabilidade total por cada um de nossos atos.

Dieta Rastafari
Materia hoje no Globo sobre o Tim Festival e as exigencias dos artistas chama a atenção para a dieta Rastafari: nada
de carne, ovos ou derivados do leite. Fico pensando (logo eu, uma ex-vegetariana convicta, pior que rastafari) no
porque desta necessidade de restringir que o ser humano tem. Uma questão de controle? Se eu acreditasse nas teorias
conspiratórias que circulam por aí, poderia dizer que existe algum grupo especialmente interessado em tornar o ser
humano mais fraco, dependente de do's and dont's, controlando o prazer e a força do organismo.O que tem religião a
ver com dieta? Bem, já dizia Aldous Huxley que a falta de açucar afeta o cérebro, o jejum altera a quimica e
predispõe a experiencias místicas...
Hoje em dia acredito mesmo num corpo saudável, equilibrado, em escolhas sensatas. Muitos anos militei no
vegetarianismo, mas na verdade nos ultimos meses vinha me sentindo fraca, o sono alterado, e acreditem ou não,
parei de sonhar. Agora, já me acostumando com o consumo moderado de carne, voltei a dormir a noite inteira e a
sonhar... E ontem à noite, depois de muitos anos, tive de novo aquela sensação indescritivel de pertencer a um todo,
de conhecer o meu destino, de estar perfeitamente consciente do rumo das coisas e da alma do mundo... Sei não.
Sinto-me tentada a negar todo o edificio de convicções que passei anos construindo, a adotar a velha máxima "de
tudo um pouco" como mamãe ensinou. Afinal de contas, é esta e não outra a receita de vida zen, o caminho do meio.
Experimente, erre, escolha, volte atrás; seja como for, ache a sua propria verdade e não adote leis impostas por este
ou aquele guru, esta ou aquela religião. Vá com calma até mesmo com as descobertas da ciencia até que seu proprio
corpo lhe dê um feedback...

19, o Karma
acordei esta manhã e vi no chão meu amuleto xamânico de poder, um amuleto antigo, feito com uma pena bicolor de
pássaro nos tempos em que eu fazia objetos mágicos. peguei meu amuleto e o mudei de lugar, colocando-o em meu
escritório, proximo ao meu computador onde passo a maior parte do dia, quem sabe retomando um pouquinho
minha conexão com o mágico, ensaiando uma volta ao maravilhamento espiritual que me serviu por tantos anos de
guia. curiosamente, hoje é dia 19, e 19, aprendi há muito tempo, é o numero do karma. foi assim: eu estava num
workshop com um xamã peruano, os participantes sentados em circulo. o xamã disse que estava mentalizando um
numero e pediu a todos que dissessem qual era, e só eu acertei, captei. era 19, o número do karma, ou o número de
vencer o karma. há muitos anos eu vinha fazendo dos dias 19 uma data mística; num exercício de transcender o
karma eu passava o dia todo só fazendo o que me agradava. depois que encontrei o Alan deixei este hábito, talvez
por que toda esta teoria de karma e culpa e castigo tenha perdido o sentido para mim quando me encontrei em real
estado de amor. curiosamente, hoje foi o dia da decisão do Alan quanto ao Brasil e nosso relacionamento, e ele
decidiu ficar... terminam bem então as 24 horas de suspense, com champagne no almoço e sexo depois... fiquei
menstruada... desinchei, destravei, desestressei... sinto meu corpo, minha mente, todo o organismo se limpando...
chove lá fora, derretendo o calor, limpando a rua, limpando a tarde e o Cristo nesta tarde do 19 no Leblon.

31.10.05

Salada Mista
Hoje é dia das bruxas mas eu ainda estou na entrada da primavera, já que nem todos os posts que me passam pela
cabeça eu tenho tempo de realmente sentar e escrever... Fico pondo tudo numa lista interminavel e alguns acabam
nunca acontecendo, mas este da primavera é essencial num Manual de Orgasmo que se preze. Pois se primavera é de
todas estações a mais gostosa, bonita e romântica, este ano eu, privilegiada, tive duas... Na primeira, em março, na
Florida, surgiu a ideia, a urgencia de escrever este Manual, numa época em que eu via o gozo se espalhar por todos
os lados e metáforas, incrivel foi ver pela primeira vez o acasalamento das libélulas, centenas, milhares de libélulas
povoando o ar, aos pares... a velha expressão "pombinhos" para casais apaixonados deveria ser substituida por
libélulas, dançando juntas, fazendo amor no vôo, que lindo... e depois, no Rio, meados de setembro, dizem que

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primavera nesta cidade não há, que engano, pois no equinócio vi o mesmo festival de sexo se repetir pela janela,
zumbindo ao redor da árvore coberta de brotos que deveria estar emitindo um aroma muito, muito doce para atrair
tantos insetos ao mesmo tempo que se coloria de verde claro... que linda, amorosa, a natureza, que universal é o
gozo, que urgente e essencial o contato do prazer.
e sobre amor e prazer falam os adolescentes no megazine do globo da semana passada que eu guardei a semana toda,
porque sabia que era um assunto importante, que dava post. meu amigo C acha que tudo está sem graça, que a nova
geração é vazia, boring, nada original e pouco criativa. eu discordo. acho os jovens de hoje legais demais,
informados, ativos, espertos e por dentro de tudo que acontece. e mesmo o modo como encaram a sexualidade acho
bom. numa sociedade onde a familia se esgarça, os casamentos são efêmeros e o sexo exige proteção fisica, mas não
moral, (ou emocional) pode-se transar muito, mas não falta a sensibilidade de perceber a importancia do amor,
mesmo que não seja muito fácil encontrá-lo... o Alan, ex-hippie e ex-amor livre, vive me falando da importancia da
familia e me emociona como para ele os filhos são primordiais, e a abertura que ele tem para falar com os jovens de
qualquer assunto, de sexualidade, e da importancia do amor. apesar da efemeridade dos encontros tenho certeza de
que esta nova geração vai resgatar o amor e desprezar a superficialidade com que nossa sociedade reagiu num
primeiro momento à rigidez de nossa educação. tudo era tão tabu, tão proibido, tão desconhecido, tantas barreiras
pra derrubar que acabamos no extremo oposto escancarando tudo. Mas o equilibrio vem aí, e eu confio demais no
futuro, sendo forjado pela geração 80/90. Faço questão de já ir vivendo o renascimento do amor, a intimidade de se
abrir para o outro, e a oportunidade que a internet traz, multiplicando exponencialmente a chance da gente encontrar
o par que realmente nos serve.
Porque às vezes a gente faz de tudo pra se enrolar na vida... fiquei pensando na minha e nos nós que criei nos
últimos meses e preciso desatar, enquanto enrolava num novelo os fios de silicone do orgasmax. Alan veio me
ajudar e com uma paciencia enorme foi desfazendo a confusão, a profusão de fios embaralhados, com aquelas mãos
de acariciar, de curar qualquer dor, e enquanto vou vendo a meada se resolver vou resolvendo aceitar tudo de bom
que a gente tem, e deixando de dar tanta ênfase ao que a gente não tem. Culturalmente desde a infancia, educada pra
ser esposa, sustentada por marido me vejo estranhando uma situação diferente desta, mas como? Logo eu que
detesto dependencia, sempre quis ser dona do meu nariz mas não fui educada pra isso... Nossa geração sofre,
passando por tantas mudanças e revoluções, tendo que cotidianamente nos descondicionar e criar do nada a nova
mulher. Amor não tem nada a ver com dinheiro e entre os valores desta vida o dinheiro é o mais dispensavel embora
a gente não possa viver sem. Tomara que eu encontre o caminho de viver este amor e manter esta alegria diaria,
estes despertares mágicos cercados de carinho. Tomara que eu possa superar as diferenças de nacionalidade, as
dificuldades de adaptação e a escassez material que nos ameaça, a minha insegurança... Tomara que tudo dê certo e
que o amor prevaleça. Porque no final é o amor que conta, mais raro e muito mais dificil de conseguir do que
sucesso no trabalho e dinheiro no banco... embora seja contabilizado hoje em dia como algo trivial e ilusório, na
conta do lazer e não da sobrevivencia. Sem amor, nem as libelulas, nem os brotos das árvores no inicio da
primavera... Porque é mesmo o amor que energiza tudo e faz tudo acontecer e recomeçar o ciclo da vida a cada
primavera.

23
2005 – novembro

2.11.05

Metáfora do dia
""See? É só esperar o momento certo"
Falo comigo mesma, sentada no vaso de manhã com o espelho de
aumento à frente do rosto, finalmente conseguindo tirar com a
pinça um pelo encravado que até ontem não conseguia pegar.
Imagem nada poética, mas significativa, pois sinaliza a retomada
da sensibilidade que cultivei por anos de ver os sinais de
sabedoria everywhere. Uma metáfora simples para coisas que
gente ansiosa quer colher quando ainda estão em gestação. Como
o pêlo. Pode-se sentir, mas não capturar enquanto não há uma
porção razoável para fora da pele, do casulo. Toda mulher já
nasce com esta consciencia do casulo, não? Com esta paciencia
genética de esperar meses e confiar no resultado, que o bebê saia
perfeito, saudável e já se manifestando como gente.
Estive lendo ontem na bike estacionária um artigo sobre o ponto
de acupuntura Zu San Li, ponto que o Helio, terapeuta da Clipfit,
insiste em ser o ponto chave para os homens, tanto quanto o San
Yin Jao é para as mulheres no uso do Orgasmax. Descobri 2
coisas interessantes: uma, que o San também serve para homens e
casos de impotencia, isto é, afeta as gônadas humanas e pronto.
Outra, que o Zu (que intimidade é essa com a cultura chinesa???)é realmente o ponto chave da acupuntura. Que
todas as pesquisas médicas sobre os resultados da acupuntura começam com o Zu, e ele pode ser em vários casos o
único ponto a ser picado. Que as pesquisas usam vários tipos de estímulo e todos resultam, portanto podemos aí
incluir a pressão magnética. Que o Zu trata os estômagos agitados, as dores emocionais, hipocondríacas, e também
as dores crônicas dos membros inferiores. Eu já tinha recomendado o Zu a um cliente paraplégico no outro dia,
vamos ver se ele me dá feedback. Mas o Alan também sofre de dores crônicas e talvez um pouquinho
psicossomáticas (ainda bem que ele não lê portugues!!!) mas bem reais na perna e tome de analgésicos. Pois noite
passada ele usou o Orgasmax no Zu e acordou sem dor!
Gente, numa prévia do que vou colocar no site, vejam aí em cima uma foto do mais novo membro da família, o Zu:
Ah, já ia esquecendo. Alziee!!! Grita o Alan lá de dentro (me ameaçando com o esquecimento que o Alzheimer
traz). A tradução literal do Zu San Li é "Pé 3 milhas" quer dizer, aumenta a resistencia, faz você ser capaz de
percorrer 3 milhas extras... E ainda adverte que você tem que tomar cuidado com o estimulo pois se sente um
superhomem, pra não correr demais e acabar se machucando. Ah, e também fortalece o sistema imunológico. Bom
Zu pra vocês que eu vou aproveitar o feriado pra correr minhas 7 milhazinhas.

24
8.11.05

Vegetariana, eu? Update


Bem, aqui estou, desmontando o edificio das minhas convicções e ainda comendo carne. Confesso que não acho
graça, mas como, como se fosse remedio. Mas na vida diária, quanta diferença! Sério, passado o impacto inicial já
digiro melhor o animal, durmo melhor, não me sinto mais cansada... E aumentei de 8 para 11 km a média de um
treino de corrida. Os ambientalmente corretos, protetores dos animais, defensores da paz e amor, velhos hippies e
ocidentais metidos a zen que me perdoem. Sou tudo isso, mas agora como carne uma vez por semana. Minha saude
agradece.

Não sou cretina


não sou cretina fundamental, como quer me convencer o Jabor. acho que existe uma conspiração na midia pra fazer
com que a gente se sinta infeliz, deprimida, incapaz de qualquer sucesso ou alegria. tudo o que interessa é o que dá
errado, e não falta no mundo munição pra esta arma, que é fogo. os escandalos existem, quem sabe pra limpar o
brasil de uma mentalidade doente arraigada; mas o escandalo não sou eu e minha vida não é esta, uma sucessão de
fracassos dando em lugar nenhum. os imigrantes tentam incendiar paris, mas garanto que paris não é o incendio, o
protesto, e sim continua sendo paris, nosso sonho de beleza e charme. ou israel, que não é o confronto palestino ou
corpos explodidos no mercado, mas um lugar onde gente normal tem uma vida, trabalha, produz e se respeita. acho
que o que a gente precisa mesmo fazer é começar a atitude contrária, exaltar um pouco o que há de bom, bonito e
barato. eu tento. acho que faço a minha parte. ontem terminei o livro que estava escrevendo, O Cyberdiário de Dina
Z. agora, toca a fazer a ronda dos editores, ver se algum se interessa por erotismo maduro online com final familiar
feliz. felicidade vende? literatura erótica excita, emociona? tenho muitas outras dúvidas. Marta Medeiros no ultimo
fim de semana diz que sexo é da esfera da intimidade. concordo. ninguem mais do que eu se beneficiou por ter
finalmente descoberto a intimidade. a intimidade, digo, e não o gozo desvairado, obsessivo, mecanicista. mas em
vez de concordar com ela quanto a manter esta estoria secreta, na esfera do mistério, decidi compartilhar este
caminho que trilhei nos últimos 12 meses. porque é emoção pura, e amor verdadeiro, e um canto de esperança para
mulheres que, como eu, aos cinquenta já se consideravam perdidas para a vida.
confesso que depois de 1 ano meu relacionamento com o sexo mudou. lendo os relatos dos orgasmos doidos, cada
um de um lado da tela, cada um de um lado do planeta, não sinto mais nada daquilo, no corpo, eu digo. acho que fui
gastando minha cota de sexo ansioso, minha conta acumulada de carencia. e já não sinto desejo algum de me tocar,
de gritar alto, gemer muito, esfregar o clit até inchar, endurecer, e desembocar em tremores reflexos. transo agora
tão familia e tão quietinha que poderia ter filhos dormindo no quarto ao lado. quero um penis quentinho, sedoso e
amoroso (mas grosso e rígido, é claro) dentro de mim e não dedos, pepinos cenouras e outras coisas esquisitas
movidas a pilha. quero o toque da pele, o olho no olho, o beijo de lingua longo, úmido e quente, a mão deslizando
pelos seios, pela curva da bunda, o abraço mútuo, o festival de cheiros e energia... que desemboca em inevitaveis e
infaliveis tremores reflexos percorrendo o corpo e aquecendo a alma. gente, vou fazer 54 anos e gozo todo dia há
mais de 1 ano. minha estoria no final saiu melhor que a encomenda: apesar de eu me imaginar capaz disso em teoria,
e ter sido casada outras 2 vezes por até 7 anos, nunca o prazer do sexo a dois durou mais de 3 meses. e o melhor, não
vejo porque esta festa deva terminar um dia. estou na menopausa, calorenta, às vezes irritada, mas o clima na minha
cona é de pura maresia, úmido, cheiroso e quente. sexo é bom, amor é melhor, intimidade é tudo, e se a ousadia for
encorajadora, é pra ser compartilhada, pra aumentar o ifde mundial, índice feminino de esperança.

9.11.05

25
Chance imperdível
O Presidente Lula tem agora sua chance imperdível de entrar pra história, abrindo mão de concorrer à reeleição.
Como ex-operário, ator de uma ascenção social quase inacreditável num país que oferece poucas chances como esta,
Lula já fez o seu milagre brasileiro. Infelizmente, nossa esperança de provar ao mundo que alguém como ele,
humilde, sem estudo e com reduzido capital cultural, pode se provar altamente capaz e chegar ao cargo máximo de
um grande país, não passou do que sempre foi: um sonho impossível. Pois na presidencia Lula provou que é isso
mesmo: um sonho impossivel, uma ilusão das massas. Há que ter preparo, uma vida inteira de cultura, aprendizado,
conhecimento, para ser capaz de ocupar cargo tão complexo. Neste Brasil de hoje qualquer mínima parcela de
sucesso é bem dificil, a não ser para os corruptos e espertos da vez, que parecem ter gozado de inédita liberdade de
ação neste governo que em aparência brotou dos desfavorecidos. Renunciando à reeleição Lula se mostrará generoso
e evitará o possivel fiasco de ser rejeitado pelo povo que antes o exaltou. Povo calejado, queimado pelo fogo onde
pôs sua mão. Acima de tudo, protegerá seu papel histórico de ter provado ao mundo que no Brasil existe uma
democracia madura, onde vence na vida quem tem mérito. Deixa, Lula, a gente acreditar pelo menos nisso, deixe
viva pelo menos esta ilusão no coração do povo que te permitiu realizar teu sonho de grandeza. Aquele abraço, pra
quem já vai tarde.

13.11.05

Nego tudo
como ex-vegetariana tenho pensado muito neste hábito que cultivamos de identificar qualquer politica de restrição
voluntaria como a salvação para problemas ou caracteristicas que nos incomodam. durante anos fui adepta de tais
ferramentas, escrevi sobre elas e devo ter convencido muita gente sobre as vantagens de tais opções ou disciplinas.
ser vegetariana, não tomar café, não beber, não consumir laticinios era, no mínimo, uma boa maneira de manter o
peso, coisa que sempre beirou o impossivel para mim. beber muita água. é saudável? é mesmo verdade que beber
muita água, minimo de 3 lts por dia, evita a retenção, faz emagrecer, etc, etc? até hoje meu site ainda fala das
vantagens de beber muita água. mas como ultimamente ando indulgente, e querendo viver à vontade, bebo quando
tenho sede e ando descobrindo que estou inchando menos. cansei de ir ao banheiro toda hora, e pelo menos 4 vezes
por noite. cansei de não pode, e ando negando tudo que advoguei um dia. deve ser o sexo grátis e fácil que anda
fazendo isto comigo. estou confusa e penso se será justo compartilhar minha confusão com quem me lê. bem, pode
até não ser justo, mas honesto certamente é. a informação cientifica a que a gente tem acesso pela mídia anda cada
vez mais contraditória. cheguei a ler artigos que na mesma página advogam e condenam a mesma coisa, citando
pesquisas diferentes. será que vegetarianos são mesmo mais tranquilos por causa da dieta? ou porque tendem a
meditar, praticar ioga e respirar mais? eu certamente estou mais saudavel desde que comecei a tomar minhas pilulas
de carne vermelha todos os sábados. (brincadeirinha, é que considero comer carne um remedio, for medical
purposes). acabei de ler sobre uma médica israelense que acaba de inventar a dieta do pão, enquanto muitos
nutricionistas advogam a total falta de pão para quem quer emagrecer. meu conselho? no momento, nenhum. a não
ser observar, observar sempre e ver no que vai dar, ser flexível, e na medida do possivel moderado em tudo como
mamãe já dizia, menos na alegria de viver e no otimismo. bem, estes ultimos venho exercitando por mim mesma já
que mamãe é da época em que fazer o que dá prazer não podia jamais dar certo, no pain no gain. confesso que
quando eu vivia sem amor, quase sem esperança e sem motivos para curtir o dia a dia evitar isso e aquilo foi uma
salvação. cultivar a disciplina deu sentido a uma existencia onde de outra forma não haveria sentido algum. então, se
sua vida está dificil, você não tem namorado, cuida da mãe doente, tem pouco dinheiro e poucos amigos, mude a sua
dieta, comece a correr, pare de tomar café. um jeito como qualquer outro de concentrar-se em você mesma e
conseguir se sentir realizada. ao menos um pouquinho. acho que práticas deste tipo por muitos anos me salvaram a
vida. me levaram em frente, fui capaz de engolir sapos, enfrentar obstáculos, evitar o suicidio. mantive a esperança.
e dei sorte... encontrei um amor, pude mudar tudo de repente... talvez não precise mais de controle, restrições... não
sei. talvez daqui a alguns anos tenha que negar tudo outra vez... achar absurda a forma como me entreguei ao
desconhecido indo encontrar o Alan nos Estados Unidos deixando tudo pra trás... enfim, acho que vida é isto. é ter
coragem de tentar tudo, não ter vergonha de errar, de voltar atrás, de mudar de idéia. vida é não se arrepender e
seguir em frente no matter what. deve ser. a minha vida é assim e acho que vale a pena. com a maturidade venho
perdendo o pudor, a noção de compromisso com verdades pré estabelecidas. tenho compromisso com o momento,
26
de preferencia enfatizando a felicidade do presente. me preocupo, sim, com o futuro. guardei dinheiro para a velhice
mas gastei o tudo que tinha pra mudar de vida no último ano. e acho que valeu... portanto se me cobrarem algo hoje
em dia eu nego. só não nego o amor, a verdade, a transparencia e a pureza de intenções, mesmo que tudo dê errado,
porque ainda não está no final. já que no final, um dia, fatalmente tudo vai dar certo.

15.11.05
abençoada
sempre amém. um monumento às leis misteriosas da sincronicidade. Alan observa as linhas das palmas em nossas
mãos e se espanta: são iguais, ele diz. entre muitos outros fatos que nos unem, a nivel profundo, numa esfera onde as
coisas que não se explicam, não se entendem, basta vivê-las. lua cheia clareando o céu do Rio acompanhada de uma
estrela brilhante, que espantosa e belamente vai acompanhando o trajeto da lua pela noite mantendo distancia igual.
vejo todas estas coisas talvez comuns com um olhar novo. chego neste aniversário sentindo-me segura na relação,
me sentindo amada e com o fogo sexual entre nós inalterado. um récorde.
pela segunda vez em menos de um mês Alan perdeu a passagem que o levaria de volta aos EUA. vamos reconhecer:
ele não quer mesmo ir. só que agora esta decisão o leva a outro nivel, porque a gente tem que casar, pra que ele
tenha visto de residente. como todo homem ( o que se passa com estes caras?) ele finge abominar o casamento, mas
o sorriso constante no rosto dele nega, nega,
nega. muitas coisas aqui em casa estão em crise,
temos enfrentado obstaculos no trabalho, em
nossas tentativas de ganhar dinheiro. mas este
casamento parece ter sido escrito nas estrelas,
nos anais do universo, que anda claramente
conspirando a favor fazendo tudo correr fácil,
fluente. tres dias antes da data limite para dar
entrada nos papéis conhecemos numa festa um
advogado especializado em casamentos de
estrangeiros. acreditem, ele nos passa
informações que não sabemos e por um preço
mais do que razoável resolve todas as pendencias
(que a gente nem sabia que existiam) em menos
de 24 hs. assim ontem, pontualmente às 15 hs,
nos encontramos no cartório com a
documentação completa, providenciada em
tempo inédito no país da burrocracia (assim
mesmo, com trocadilho por favor). fico pensando
em como estou feliz e decido transformar este
casamento - antes um mero recurso legal - numa
cerimonia simples, mas bacana, compartilhada
por familia e amigos, porque não? celebrar o amor nunca é demais. quero alugar copos e pratos e não sei onde... mas
quando nosso ônibus para no sinal, depois do cartório, a caminho de casa, para do lado o carro de uma empresa que
aluga material para festas, acreditem! sinais, sinais, sinais, a empresa é ótima e tudo fica resolvido...
no céu de dezembro um quadradão domina o mapa astrológico, do tipo que eu conheço bem, pois vivo com um
desde que nasci: quatro planetas em quadratura, muito poder, mas muitos obstáculos também. no entanto,
precisamente no dia 10 de dezembro, um sábado, uma janela de luz ilumina este mapa, acrescentando ao quadrado
as pipas que Alan tem no mapa dele, um aspecto de fluencia, elevação espiritual, somado ao poder... hummm, tudo
de bom, pensa em mim a astróloga adormecida, reprimida, calada a forceps. acho que vou acordá-la, fala sério,
recuperar um pouco de magia em minha vida que esta filosofia careta-racional já está me sufocando. como tudo vai
dar certo agora e sempre daqui em diante, porque estou abençoada por um amor verdadeiro, e deus lá em cima gosta
muito deste tipo de energia, nossos papeis ficarão prontos e vamos comer bolo sob a luz deste festival de karma
bom.

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Inventário
Segue lista de tudo que conseguimos neste primeiro ano de vida em comum
- revolucionar nossas vidas, sair de uma situação de dor e penuria emocional para viver plenamente um encontro de
almas gêmeas
- viver juntos por 12 meses, compartilhando 24 horas por dia, já que nenhum de nós trabalha fora: um grau de
intimidade absurdo, sem lugar pra se esconder
- atingir a relação sexual numero 1000, mantendo a mesma paixão
- montar casa no Rio, Alto Leblon, vista pro Cristo como nossa correspondencia online já previa
- publicar Tzadik, o livro de charges e aforismos do Alan
- terminar o Cyberjournals, 700 paginas de puro amor online pronto pra publicar
- terminar a nova coleção de berloques de St Augustine, uma possivel fonte de renda em dolar
- terminar e lançar no Brasil os SkinnyRings, com loja online no ar, uma boa ideia em jóias
- encontrar uma agente que nos representa, literária, marchand, tudo
- decidir e providenciar o casamento

pra 365 dias, está de bom tamanho. uma boa base, não acham? daqui pra frente, construir, produzir, crescer e amar
muito, sempre...

19.11.05

Cartas de amor para adultos


afinal decidi mesmo traduzir os Cyberjournals e estou esquentando as turbinas. cheguei à conclusão de que ninguém
melhor do eu para traduzir meu próprio relato de trocas amorosas. afinal sou escritora, falo português, porque não?
medo. paura. fico pensando nos termos que vou usar na hora de traduzir os termos eróticos. sim, porque escrever em
inglês, uma lingua que domino mas não é a minha, aquela, na qual fui educada, condicionada, reprimida... é uma
coisa. agora, falar de sexo em bom português, como é que vai ser. pesquiso horas na internet e todos os termos que
encontro acho chulos, vulgares, agressivos. nossa. nesta época de encontros online, bem, adultos quando se
encontram amorosamente fazem sexo, não? e encontros online se baseiam na palavra escrita, há que caprichar na
descrição, ser fiel ao ato em si, excitar o outro através de um inexpressivo conjunto de letras... alan diz, palavras são
palavras e nada mais. mas eu tenho medo de empacar. no calor do ato tudo fica poético, suor, cheiro, aperto, fricção,
nada mais poético que aquele calor súbito percorrendo a espinha, kundalini ou whatever, barrigas, seios, e... cunt in
cock? em inglês, soa até bem. mas como descrever em português, dar nome aos bois, sendo ainda poética,
transmitindo a beleza do amor realizado? pra emocionar o leitor, e não chocar? excitar pela pura beleza do encontro?
deus. nunca tive um desafio como este. vai ser uma briga boa, a deusa coroa do sexo contra a mineirinha enrustida
de Belô. vamos ver como é que elas vão se virar.
e já falando de cartas de amor, tenho em casa este tesouro, esta peça única, a carta de meu pai para minha mãe que
sobreviveu à sanha destruidora do alzheimer, quando ela rasgou todas as outras antes que eu pudesse salvá-las. o que
será que tinha de errado nesta estória de amor que me gerou? de onde veio esta raiva da minha mãe, sim, porque eu
sei que a doença descontrola, desliga os controles, mas não consigo acreditar que uma raiva destas não existiu antes,
quando o cérebro funcionava a contento. o meu pai daquela época era um maravilhoso romântico, capaz de amor
arrebatado, lindas palavras, belas idéias. o pai que conheci já não era esse, talvez reprimido e limitado pela realidade
da vida. mas é no jovem idealista, poético e apaixonado que eu gosto de me reconhecer, naqueles genes que eu gosto
de banhar os meus. vai ficando amarelinha e já meio rasgada, tadinha. vou transcrevê-la abaixo e assim preservar
sua memória, eternizada na tela. meu ato mágico neste 19 de novembro, eternizar a memória do amor que me gerou,
fazer dele o gerador, inspirador do amor que eu vivo hoje.

Ein Dorot, 20 de abril de 1950


Querida Eva
Recebi ontem a tua carta que me trouxe uma alegria indescritível não só pelo fato de receber noticias tuas que já
estavam atrasadas, como pelo seu conteudo, que compensou plenamente a longa espera.
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A falta que sentes é correspondida e não sei se em maior gráu, mas posso te afirmar que é incalculável, tanto mais
quanto vão se arrastando os dias.
De acôrdo com o que dizes entrarás no kibutz no dia 15 de junho e se não posso dizer que isso me faz feliz pois
ainda faltam quasi dois meses, pelo menos entrarás um pouco antes do que nós pensávamos...
...Por meu lado considero a nossa situação resolvida embora ainda te restem dúvidas mas não posso te dizer se
fazes bem ou mal em não dizer aos teus pais, pois não os conheço e não sei como reagiriam, em todo caso creio que
não haveria mal; eu pelo menos já dei a entender algo aos meus.
É sempre dificil, para quem passou tôda a vida ao lado dos pais separar-se, mas da forma como nós o fizemos não é
tão brusco pois não é uma decisão repentina mas o fruto de uma idéia amadurecida à qual nos vamos nos
acostumando pouco a pouco. Teus pais sentirão a tua falta mas não lamentarão a tua partida se souberem que tu te
sentes feliz e que encontraste alguém que se encarregue de fazê-lo.
As coisas bôas na vida não se conseguem sem dificuldade, e nós precisamos ser suficientemente fortes para
transpor todos os obstáculos sem esmorecer, quando nós estamos certos de que o que nós procuramos é justo e que
é aquilo que nós realmente desejamos. Eu estou certo disso.
Não posso dizer exatamente como cheguei a essa conclusão mas quando eu me propus a fazer hachshará* e entrei
no kibutz disposto a mudar radicalmente de vida estava convencido de que estava no caminho certo, mas sentia
ainda a falta de algo que não podia definir. Essa duvida desapareceu quando te conheci e agora estou convencido
que nada mais me faltará quando nós estivermos juntos. E se tu por acaso te sentires sem fôrças para dar tal passo,
lembra-te que eu aqui estou à tua espera. Os pais e irmãos são insubstituíveis mas recorda que eu e todos tivemos
que dar êsse passo e não me arrependo em absoluto. Além disso a separação não é definitiva pois em Eretz* sempre
haverá lugar para mais alguns judeus.
As novidades que a Pola* manda são bem poucas. Além de decrever a viagem ela diz que estão fazendo um curso
de ivrit* em Jerusalém, que agora já deve ter terminado e que depois farão um tiul* pelo país inteiro. Sôbre a
hachshará em Eretz êles resolveram não fazê-la agora para esperar o segundo grupo e também devido às
necessidades de Mefalsim*
Chegou hoje uma carta oficial do garin* comunicando isso e dizendo também que casaram ontem em Mefalsim a
Chana e o Benjamim. Diz também que o Simon* vai fazer um curso de pintura, a convite do kibutz Hamenchad.
Creio que êle deve estar bem contente com isso e também a Pola. Quando lhe mandei a resposta da carta lhe falei
sôbre ti e sôbre o que penso de nós.
A data para a saída do primeiro garin está marcada para o dia 18 de Santos isso quer dizer que na próxima semana
êles sairão do kibutz. Amanhã haverá um jantar de despedida e comemoraremos também a proclamação do Estado
de Israel. Para este jantar será sacrificado o perú que coitado não tem culpa alguma na história
O kibutz está sendo muito modificado e está melhorando sensivelmente, pelo menos no aspecto, pois cortamos todo
mato da frente e em frente ao refeitório, onde vamos fazer jardins e plantar árvores frutíferas. O trabalho no campo
e nas uvas também está correndo normalmente. A Nagariá está fabricando os baús para a aliá* e por sinal estão
saíndo muito bons.
... Anteontem chegaram do Rio o Armando e o Cytryn e também o casal Roterman... O que eu admiro é que todos
êles já te conheçam do Rio, e parece que eu fui o último, e no entanto você esperou por mim.
...Na semana passada houve eleições no kibutz para escôlha da nova maskirut*. Começou às nove e terminou às
4,30 da manhã... e para menahel hameshek* eu creio que êles não tiveram muita sorte pois escolheram um chaver*
que geralmente tem os pensamentos longe do kibutz, esperando por alguem que deve entrar brevemente, para que
êle possa sossegar; já sabes que foi a mim. Calcula agora a importância da tua chegada pois não posso, por mais
que me esforce, dedicar todas as horas livres para o kibutz; por isso em nome de todo o kibutz estás convocada
para o quanto antes
...Em fins de abril ou princípio de maio devemos receber o caminhão o que será uma grande coisa. Devemos
receber agora um rádio. Os elementos do Rio trouxeram bastante discos e muito bons; é pena que a vitrola esteja
quebrada e não ouçamos música há tanto tempo. No dia 28 irei a S. Paulo para fazer compras e verei se compro a
peça que falta.
Aceito a sugestão da devolução pessoal dos beijos, contanto que seja em breve e aqui vai mais um vale.
Como vai o teu estômago, melhor? Tome os remédios sem reclamar e sem fazer caretas.
Um saudoso abraço do
Abrahão

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notas da transcrição
Hachshará - granja de preparação para a vida no kibutz
Eretz - pátria, Israel
Pola - irmã de meu pai que emigrou para Israel antes dele
Ivrit - hebraico
Tiul - passeio
Mefalsim - kibutz de imigrantes brasileiros e argentinos em Israel em 1950
Garin - grupo de emigrantes para Israel
Simon - marido de Pola que se tornou pintor famoso em Israel onde vive e pinta até hoje
Aliá - subida; emigração de judeus para Israel
Maskirut - secretaria
Menahel hameshek - responsável pelas finanças, tesoureiro
Chaver - companheiro, camarada

obs - grafia de português da época

22.11.05

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Ode aos cabelos de Alan
Prossigo a tradução dos Cyberjournals enfretando os desafios como uma surfista cavalgando as ondas em Maui.
Arriscando, mas curtindo muito. Acho que vou indo bem, as musas me mandando boas soluções e quem sabe até
agora sendo capaz de equilibrar o erótico com o vulgar. Não resisti a este pequeno "trailer", meu desafio desta
manhã:

Ode aos cabelos de Alan

Reste ta tête, cheri


solta no meu colo

se mergulho em teu pensar


atravesso o múltiplo, revolto mar
de teus prateados caracóis...
como a névoa da manhã a cortejar o vale

Por dentre nuvens vou seguindo


com meus dedos, nus, te percorrendo
pela curva deslizante em teu pescoço
destilando mel em teu ouvido

Sobre o peito a unha te arranhando


e descendo - vela fria - navegando
outras ondas de prata emoldurando
tua ilha plena de promessas

E de volta ao lábio sonolento


aventuro o dedo ainda despido
pela língua lúbrica, lasciva
brinco ali, esperando que despertes
pra selar tão doce amor com um só beijo.

...e a resposta:

Por baixo de tua saia

por baixo de tua saia lúdicas promessas brincando em tufos a vulva te tocando a boca pousa as dobras desbravando
lingua aventureira sigo te provando doce memória sonhos provocando... sinto-te crescer pressiono ali o rosto a
lingua traça a curva do teu ventre e entre os seios beijo tua taça e mordo e sorvo os bicos de teus peitos traço a
lingua e sigo pela nuca e queixo e lábio e boca e lingua e face e olhos beijo os cílios e escorrego e pelas dobras te
penetro e dois unidos teso e junto e horas dentro e gruta úmida de amor...Edward

23.11.05

Iniciação pelo fogo


Às vezes me sinto no inferno, ultimamente. Não há mais orgasmax que dê jeito, os hormonios me incendeiam, não
me deixam mais dormir. Esta noite Alan comentou que tocou em mim enquanto eu dormia e meu corpo parecia uma
fornalha. Coitado do Alan, obrigado agora a tentar dormir dentro da geladeira pois o único jeito de eu conseguir
algum conforto é com o ar condicionado no máximo. Ontem entrei no meu inferno astral. Não acredito muito nisso,
mas quando já se está em estado de inferno tudo soma. E esta manhã, gente, ando muito desastrada (esta não sou
eu), tive um acidente na cozinha e o forno explodiu na minha cara. Tive tanta sorte... Apenas uma parte do cabelo
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ficou chamuscada... Nasci de novo. Deve ser meu complexo de culpa me rondando. Ontem de manhã encontrei
minha ex-sogra no Lidador e achei que minha reação quando ela perguntou o que tinha acontecido com a minha mãe
foi totalmente inadequada; só pude dizer: pifou. Bem, não deixa de ser verdade, a mente dela pifou, ou vem
progressivamente rapidamente pifando, mas a palavra, politicamente incorreta. O comércio está fraaacco. E eu
decidi criar coragem pra me dedicar totalmente à literatura, um insight que tive assim que cheguei aos Estados
Unidos no fim do ano passado. Não dei importancia, insisti, investi em outras atividades, to no avail. Esta passagem
tem que ser enfrentada, acho que deve ser meu segundo retorno de saturno adiantado, uma guinada radical na
maturidade.
Enquanto tudo parece desmontar ao meu redor, a literatura só me dá alegrias. Sento pra trabalhar na tradução e
pareço estar possuida, psicografando, canalizando as palavras, o clima, o tom. Estou me divertindo muito e olha que
eu tinha pânico de enfrentar o desafio. Pra vocês verem como a gente pode se enganar na vida quando nos deixamos
paralizar pelo medo.
O trabalho vai indo tão bem que decidi disponibilizar um link pra que vocês possam conferir online, e quem sabe me
dar um feedback. Eu adoraria, confiram aí ao lado o novo link, que deverá ser regularmente atualizado. Vou também
disponibilizar o link para editores, quem sabe alguem se encanta... Apesar de eu ter esta pequena editora nos EUA
estou querendo uma editora aqui do Brasil, que queira investir em divulgação e distribuição. Pois me acreditem, o
material, modéstia à parte, é bom. Divirtam-se.

25.11.05

Aluguel
Acordei meio deprê (money issues) e começo o dia lendo no globo uma resenha sobre Rent (aluguel), sucesso dos
90 (cujo assunto são os 80) na Broadway que agora virou filme. E uma dúvida: será que o mote do paz e amor, ou a
ideia de que o que tem valor na vida é o prazer, amar e ser amado, fazer o que se quer e vencer na vida fazendo arte
pode sobreviver numa Nova York do sec 21 onde só a especulação imobiliária e a conta bancária tem valor? Gente,
deve ser por isso que ando tão iludida com esta estória de amar, etc... porque sou da época de "Rent". Sou daquela
geração romântica de artistas que se achavam. Quando lindo era ser "duro", sofrer pra ser reconhecido, revolucionar
o status quo uma vez por mes e nunca ter pro aluguel. E cá estou, aos 50 e quase quatro, nossa, ainda na mesma.
Lutando pra ser reconhecida como artista, trepando como se não houvesse amanhã (ou aids), vivendo o mito da alma
gêmea e sem um puto pro aluguel do mês que vem. Será que o mundo é mesmo como diz a minha velha tia
"dinheiro é o que interessa"? Bem, se assim fosse, eu ainda teria meu rico fundinho de investimentos e estaria
mofadinha, tomando conta da minha mãe doente 24 horas por dia. Nada de apê com vista pro cristo, meu amor
dormindo no quarto ao lado e eu aqui escrevendo neste blog sobre as alegrias do sexo na maturidade. Aliás, se assim
fosse, como eu fui educada pra ter marido e nada mais, o dito deveria ser um abonado ser de terno e gravata, sisudo
e meio entediado. Eu não teria contas acumuladas pra pagar, nem uma mão gostosa pra me pegar, esta carne já meio
passada no forno da menopausa.
Bem, que venha "Rent". Quem sabe agora com a distância e a sabedoria da idade a gente consegue ver onde foi que
deu errado. E achar um jeito de valorizar o amor, o talento, o tesão, etc, etc e ainda faturar pelo menos algum pro
aluguel...

28.11.05

Mestre cuca
Gente! Alan cozinhou pra mim hoje. E sabem que estava uma delícia? Apesar de eu me considerar chef, reconheço
que o homem tem algo que me falta: charme no fogão. Charme pra cortar os legumes, pra passá-los na levemente
frigideira, pra elaborar o "au jus". Tá contratado. O melhor de tudo foi ter alguém cozinhando pra mim depois de

32
anos, aannooss...
Estou progredindo na tradução e me divertindo muito com as soluções que encontro. Hoje tomei coragem e mandei
emails pra várias editoras. Arriscando a sorte. E no mínimo em busca de um selo de qualidade. Vou ser breve hoje, o
expediente me aguarda e não quero furar o deadline. Até depois!

33
2005 - dezembro
1.12.05

Lua nova, vida nova


lua nova hoje dizem os astros prevendo o tom do próximo ano um espetáculo de quadraturas e todos nós a mostrar a
verdade a abandonar o velho, a deixar de lado as hipocrisias, que crise! eu aqui de minha parte ensaiando meu salto
quântico, treinando pra ver como sinto na pele de escritora. talvez (eu sinto, eu especulo) a minha vida até hoje tenha
sido baseada na escolha errada, isso de ser designer, artista... será que me serve? será que tenho mesmo talento? às
vezes fico tão cansada de insistir e não ter os resultados que desejo, o que me leva à dúvida, à falta de energia, como
agora, cansada... esgotada...
meia hora sim meia hora não eu resvalo na dúvida também sobre os diários. gente! deve ser a menopausa, não é
possível. no começo fiquei empolgada, gratificada, me divertindo, certa de tudo. mas sempre com medo do futuro,
vocês sabem. da parte sexual, da parte "quente". já pesquisei de joyce a henry miller, originais, traduções, sites
eróticos e até a bruna surfistinha, que pra minha decepção não dá acesso ao material hot do blog, alega acessos
demais no momento, será que é mesmo? e tudo isso é o que? hipocrisia? porque não podemos falar abertamente na
questão mais básica da humanidade? afinal pra que é que a gente quer ser linda, magra, se vestir bem, ter grana... se
não for pra ter parceiro... toda a sociedade de consumo gira em torno disso e todo mundo sabe... e se eu quero falar
de sexo mas sob a ótica do amor e não do pornô, fazer erotismo e não vulgaridade mesmo assim sendo explicita
porque a ocasião exige, como é que eu faço? comecei com pinto, já fui pra pau, falo e ainda não sei com que palavra
transar. transar? trepar? foder? esse é um dos maiores desafios que já enfrentei. alan anda nervoso comigo porque
acha que eu devo ter todas as respostas. mas eu não tenho. quero continuar o texto, franquear a leitura, transmitir a
energia poderosa e maravilhosa que os diários tem. mas, como na vida não hipócrita, não disfarçada, o sexo é o
centro da estoria...
enquanto me debato pra não me afogar aceito qualquer prancha, qualquer pedacinho de comentário pra me dar
suporte, cliquem no link ao lado para conferir a tradução in progress !

4.12.05

Pesadelo
Tive um sonho terrivel esta manhã. Eu estava com o Alan em LA, conversando sobre como a irmã dele sabia se
vestir para valorizar o tipo físico e outras amenidades. Entramos então num ônibus, Alan, eu e o filho dele David. Eu
assoberbada sobrecarregada com uma bolsa vintage da minha avó, casaco, livros e Alan me dando um prato de
comida que eu não tinha como carregar. Enquanto eu lutava pra me sentar, cheguei à parte da frente do ônibus pra
descobrir que Alan e David já não estavam lá, tinham descido do ônibus e "esquecido de mim". Desesperada desço
do ônibus e vejo que junto com o prato Alan me passou uma nota de 2 dolares que é todo o meu dinheiro. Estou
perdida em LA, não sei como voltar pra casa no norte da Florida ou como chegar na estação pra pegar o trem. Está
anoitecendo, entro num café e pra minha surpresa todos lá são brasileiros. Conto meu drama e pergunto se eles não
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podem descontar algum dinheiro na conta do meu mastercard. Comento com eles sobre o próximo casamento e
dolorida afirmo não saber se o Alan se distraiu e me perdeu ou quis mesmo ir embora pra evitar o compromisso. O
gerente me dá um papel com um tipo de senha que permite tirar dinheiro num caixa automático, mas não diz onde
posso encontrar um. Está amanhecendo e eu acordo em prantos. Conto pro Alan que tive um sonho ruim mas ele não
parece muito receptivo... Neste domingo ele tem seus próprios problemas. A mãe dele está doente terminal num
hospital em Los Angeles e ele precisa decidir se embarca esta tarde para vê-la ou não. Toda a carga da infância, de
antigas cobranças da familia e de inusitadas opções de vida recai sobre ele agora e ele não tem energia pra mim, eu
sei. E eu querendo ser abraçada, consolada da minha propria dor. Mas ora, não quero ser egoista ou infantil,
chamando a atenção para a minha pessoa num momento de crise como qualquer criança mimada. Levanto, vou pra
varanda e fico vendo em lágrimas o dia amanhecer em volta do Corcovado. Vou pro chuveiro e deixo as lágrimas se
misturarem à água quente que cai sobre os cabelos, a pele, o mármore do piso, até que eu me acalme e vista de novo
a pele da mulher equilibrada, razoável e amorosa dando apoio ao marido na hora dificil.
O caso é que este sonho resume 89% de minhas velhas aflições e me atingiu de verdade. Tudo começou ontem à
noite, vendo um filme com a Glenn Close. A filha dela estava a poucas semanas do casamento e descobre que o
noivo é gay. Aliás, a mãe descobre. E vem dar apoio a ela, carinho, amor, um abraço quente. Coisas que eu nunca
tive de verdade e sempre que as vejo no cinema me fazem chorar, sem abrir exceção pra ontem. Agravado, porque
vou me casar em uma semana. Não acho que como a protagonista do filme eu precise de uma desculpa pra cair fora
antes do ato. Amo o Alan e realmente estou em busca de condições pra viver com ele, teoricamente pro resto da
vida. Mas sei que se algo me acontecer não terei ninguém pra me consolar e me emprestar um ombro. Porque desde
que meu pai morreu de repente há 34 anos atrás é assim que eu realmente me sinto: sozinha. Abandonada, ou prestes
a ser. Talvez como o personagem do filme Alan ainda guarde de mim algum segredo, depois de uma vida pouco
convencional e aventureira, mas gay certamente ele não é, como a reação do pau dele à minha cona parece
repetidamente provar (ensaiando pra assumir minha porção Henry Miller ultrapósmoderna)
O sonho também elucida um de meus padrões básicos de comportamento: distrair a dor com comida. Verdade que
hoje em dia já ando bem menos faminta de alimento. Deve ser porque finalmente estou bem comida. E a aflição com
falta de dinheiro... Esta bem atual, uma constante pra mim e em volta de mim. Enquanto isso na vida real Alan se
preocupa e vem me abraçar, se dispõe a me ouvir contar o sonho. E me diz que a nota de 2 dólares é uma raridade
pela qual ele tem grande apreço desde a infância. Bem, ele me dá uma raridade destas, pela qual também tenho
grande apreço: me faz sentir amada. Neste ultimos dias no entanto este amor tem valido algo por aí em torno de 2
dolares pela tensão que atravessamos e pela alegada hesitação dele quanto ao casamento. Vício cultural de homem.
Aos 61 anos Alan é legalmente solteiro e nunca se deixou enlaçar. Pela corda no pescoço ou pelo abraço amoroso?
O juiz quem sabe esclarecerá na próxima sexta. Desde que de minha parte eu consiga lidar com a herança da avó e
meu excesso de bagagem.
E não devo esquecer: o tema recorrente do sonho é a minha sensação de abandono... que se repete insistentemente
na vida real... Quem sabe este sonho veio pra me curar desta obsessão, desta piração, desta fobia. Sou adulta, dona
do meu nariz e de minha escolhas, não mais vitima potencial do desprezo alheio. Estou lutando um pouco agora
comigo mesma pra vencer meus medos e prosseguir com o projeto Dina Z, desafiando a falsa moral, a hipocrisia e
os maus costumes da sociedade contemporanea. Se a minha familia pouco apoio me deu e sempre me criticou,
fazendo com que eu me sentisse inadequada, até um pouco ridícula ao longo da vida, quem sabe agora vou dar a eles
um real motivo de desgosto, com minha persona pornô.
Mas leio e releio o texto e só consigo ver ali um retrato fiel, honesto, romantico, forte e doce da vida real de
qualquer um. Onde o sexo é uma espécie de núcleo atômico controlando o nível randômico das demais particulas. E
onde tento dar a cada coisa o nome real que tem.
Talvez as lágrimas depois do sonho sejam as últimas que derramo por estas velhas obsessões. Talvez este proximo
casamento seja realmente o parto de uma nova vida, mais livre, mais plena, mais honesta com meus verdadeiros
impulsos, os vitais. Talvez desta doença finalmente eu fique curada. Pelo menos desta.
Está um sol lindo lá fora e uma temperatura ótima, mas eu pretendo trabalhar e por no ar o dia 1 de dezembro ainda
hoje, com novas revelações e emoções de Dina, minha alterega. Confiram. Mandei email pras editoras, com poucas
respostas. Mas não me deixo abater e se meus poucos leitores deste blog baixarem o arquivo já me sinto alimentada
para o momento. As traduções parciais são a farinha e os ovos deste bolo explosivo que estou batendo, pra levar ao
forno em breve... E depois de esfriar um pouco espero que muitos venham deliciar-se com meus pedaços de gozo,
minha receita ousada de vida. Bom domingo!

35
2 Comments:
Anonymous disse...
Noga, nao seja tao chorosa, ta otimo assim! Tenho acompanhado a sua saga e devo dizer que tem me agradado
muito. Pelo menos é sincero, verdadeiro! Vc toca em um ponto (sexo, sexualidade, intimidade) que acredito, eu,
agora (tempos atual e vindouro) vai se fazer cada vez mais evidente, isto é vai sair da banalizaçao, do porno, do
escondido, do pecado,dessa baboseira toda q acompanha o tema permitindo-nos um olhar mais tranquilo, nao menos
quente, prazeroso e consciente daquilo q nos gerou e nos nutre.
Parabéns por voce, sucesso na caminhada.
Rosalia

Rosalia disse...

Esse desconhecimento no mundo internautico é embaraçoso!!! veja vc.um anonimo assinado. A intençao era apenas
nao ter q me cadastrar.
Acontece!
R.

6.12.05

Recaída
Em busca de apoio para a transformação profissional que venho enfrentando resolvi baixar a edição deste mes da
Planet Lightworkwer, revista americana dos "trabalhadores da luz". Durante muito tempo, no começo da minha
carreira literária, era esta a minha praia, eu era bem esô, e já bebi ihh, muito, nesta fonte. De acordo com esta turma
estamos passando por um período de profundas transformações que deve chegar a uma conclusão em janeiro, tendo
se iniciado em junho de 2004. Neste período fizemos nossas opções de "ascensão" de tal modo definitivas que tentar
voltar ao velho modelo de alma se revela impossível. Coincidência ou não, junho de 2004 foi quando eu, uma
cinquentona solitária, sem nenhuma perspectiva de relacionamento ou prática sexual a dois, criei o Orgasmax e
tatuei a Uroborus, serpente ritual egípcia, no meu tornozelo direito marcando o ponto de aplicação da tornozeleira. O
que aconteceu em seguida vocês já sabem, e cá estou agora enfrentando meus fantasmas pra prosseguir no projeto
Dina Z de literatura erótico-elevada. (termo recém-cunhado). Tudo bem que eu me considere uma trabalhadora da
luz e me encaixe no padrão ascensional. Mas escrevendo literatura erótica??? Prossigo na leitura da revista para um
artigo sobre sexualidade e desenvolvimento espiritual. Amazing. O artigo descreve a importancia da sexualidade, ou
melhor ainda, da prática sexual no caminho da evolução espiritual. Revê o papel bíblico da serpente como um
agente de descoberta, não de punição. Seguindo os conselhos da serpente, Eva passa a saber de tudo, a ter o
conhecimento de deus. E lá vem a serpente como símbolo do despertar do kundalini. E muito interessante ainda o
artigo aborda o medo do desconhecido, da adoção de novos padrões emocionais ou quem sabe da falta de padrões.
Citando:"... "conhecer" o outro (sexualmente) é quebrar a barreira que separa as almas".
A revista cumpre assim o seu papel e posso me reconhecer como trabalhadora da luz ascensionada mesmo
escrevendo sobre sexo com todas as letras, quando a motivação é justamente esta: a ascensão, a evolução espiritual,
através da prática amorosa do sexo intenso.
Reconheço também na humanidade a necessidade de amadurecer sexualmente. O nível primário de nossa
consciência sexual pode ser observado na reação de um grupo de email predominantemente masculino,
aparentemente composto de jornalistas e intelectuais, que tentei consultar quanto ao uso de diversos nomes do órgão
sexual masculino, já que Henry Miller é até hoje banido das bibliotecas (você sabiam?) Os meninos teoricamente
adultos do prezas misturam Fernando Pessoa e T S Elliot com fotos pornozinhas de tetas e xoxotas expostas, mas se
defenderam nervosamente da minha consulta com piadinhas e risinhos. O máximo a que conseguiram chegar foi
ameaçar por o p... pra fora. Assim, com 3 pintinhos mesmo. Ôpa, erro de teclado: pontinhos.
Pra terminar só me resta confessar, absurdo como possa soar, que a cada vez que me sento pra traduzir os Diários de
Dina sou tomada por este fluxo inspirado de consciencia que me faz pescar quem sabe onde as palavras mais
inusitadas, inesperadas e adequadas ao texto, pra manter o ritmo e o elevado nivel poético do original. Palavras tão

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fora do meu uso cotidiano que constantemente sou forçada a conferir a grafia no Aurelio velho de guerra aqui do
lado. Assim dou mais um passinho, um de cada vez, na direção da minha conversão total à literatura e dedicada ao
assunto sexo amoroso.

Fato relevante
Com tanto assunto, tanta crise e o mundo acabando e começando de novo todo dia, faz tempo que não escrevo sobre
meu relacionamento amoroso com o Alan. Fica parecendo que virou rotina, deixou de ser aquela maravilha
estonteante. Aquele permanente sonhar acordada. Mas não. Às vésperas do casamento bem que às vezes me
pergunto o que faço ao lado deste homem excêntrico, às vezes brilhante, às vezes colérico, tonitroante, entediante
nunca.
Sai ontem à tarde e mesmo dura comprei um vestido de renda dourado e pérola M A R A V I L H O S O na Philipe
Martin. Porque não. A vendedora tinha o nome que eu teria dado a uma filha, se a tivesse tido, Luana. E o arranjo de
flores na mesa é a heliconia ereta que eu e Alan escolhemos para a capa do Diário Virtual. O vestido deve ser esse,
com tantos sinais. (bruxa pensa assim até na hora de comprar vestido). Botei fogo nos meus 2 últimos vestidos de
noiva, espero que nesse nunca. É meu terceiro casamento, o mais simples, o menos festejado e de longe o mais
significativo. Onde o amor é uma certeza e a longevidade do relacionamento uma esperança real. Pro Alan comprei
uma camisa amarelo clarinha ton sur ton com o dourado do vestido. Vamos casar no cartório, de convidados só
meus tios como testemunhas. Mas no sábado oferecemos um almoço no federal, rezo pra que a mãe do Alan se
mantenha viva, por ela mesma e também porque como não tive saida a não ser prosseguir nos preparativos do
casório, espero que não haja uma sombra de tristeza em nossa cerimonia. Comprei um casal de noivos do Mestre
Vitalino muito engraçado pra por no bolo. Sonhei a noite passada com o arranjo da mesa, com girassóis e trigo, e
encomendei o ikebana exato pela internet. Santa internet que facilita tudo e dá uma gama de escolhas imensa.
E voltando ao fato relevante. Considerando porque vou me casar com este homem dentro de 3 dias. Estou sentada no
computador bem cansada ao final do expediente e ele chega por trás e me dá um abraço. Um abraço daqueles que
envolve o corpo todo. Cálido, carinhoso, cortejante abraço passando pelos seios pra terminar na cona. As mãos
macias, healing hands eu as chamo, deliciada, enquanto recebo a carícia com um arrepio. Eis porque. É o amor,
baby. O tal do grande amor. (mentira?)
E porque agora eu não tenho mais uma pedra no meu peito me sento aqui na cama com o notebook depois do jantar
pra escrever e não deixar passar em branco este post. Bons sonhos!

10.12.05

Tudo deu certo...


... e cheguei a esta manhã exatamente na luminosa janela astrológica (em meio a um tempo de intensa crise) que eu
queria para a data do casório, como vocês podem ver mudei de nome e curiosamente o soft do blogger mudou
retroativamente o nome em todos os posts. tomara que eu pudesse assim reescrever as sensações de todos os
momentos passados de minha vida e senti-los a partir de hoje sob uma ótica assim, digamos, menos sofrida, mais
otimista, mais filtrada pelo cor de rosa do amor. tudo que cercou esta cerimonia de casamento foi fácil e deu certo,
apesar do meu medo de que tudo desse errado e das ameaças do destino ao redor. como o mapa das pipas duplas em
meio a um periodo de quadruplas quadraturas meu casamento com o Alan foi esta ilha de luz. nunca vi um processo
burocrático correr assim SEM PROBLEMA NENHUM, apesar do Alan ser estrangeiro, etc, etc. Alan estava um
pouco ressabiado como se espera de um homem que se casa pela primeira vez aos quase 62. mas chegado ao cartório
elogiou meu vestido, quis contratar o fotografo meio lambe lambe que andava por lá e sorriu. quanto a mim
descubro que na primeira manhã de casada pela terceira vez sofro de pânico de casamento. casou, assinou, começo a
achar que vai degringolar tudo como nas tentativas anteriores. mas meu sonho me alertou para a necessidade de eu
me livrar da bagagem. do desamor, da falta de apoio, do meu complexo de ser a rejeitada da familia. familia que
aliás não fugiu de suas proprias tradições. meus tios deram um apoio relutante, mas presente, com presente, serviram
como testemunhas e tal, estarão presentes nas fotos. minha mãe, coitada, apesar da acompanhante tê-la instruido pra
me ligar e cumprimentar, tudo que ela pode fazer ao telefone foi falar de um problema dentário que aliás, não existe.
muito triste esta doença mais ainda quando este tipo de atitude já estava presente ihhh, muito antes do alzie atacar.
minha cunhada negou o empréstimo da câmara digital e nem sabia do que eu estava falando sobre o meu
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compromisso de ontem à noite. meu único irmão, que "trabalha demais", ligou para a secretária eletronica pra ver se
tudo "tinha corrido bem". mas comparecer e um beijinho que é bom... (soou mais ou menos como cirurgia de cancer,
não?) dá vontade de passar pra esta gente um livrinho de instruções com as respostas certas a serem dadas em cada
ocasião da vida em familia. escrevo tudo isso aqui porque agora tenho um nome novo e espero que me traga uma
vida nova ou pelo menos uma atitude nova diante da vida, onde eu me torne capaz de não me deixar abater pelo que
me fere. porque apesar de tudo eu resisto, sou forte, e estou aqui, bonitona, saudavel, elegante, bem amada e
trepando pra caramba. desculpem a crueza. porque junto com minha nova forma de ser não vou mais pedir desculpas
e deixar de lado todas as hesitações e mostrar mesmo quem eu sou e o que me dá tesão nesta vida. mesmo porque
minha dúvida não faz mais sentido depois que no globo esta manhã dona prosaica Ana Cristina nomeia 3 vezes o
famoso órgão sexual masculino e numa tacada só em sua coluna familia acabou com o meu problema. pau no tabu,
Ana Cristina! diferente do Vinicius não quero trocar por nadinha este pau que agora me pertence. e que todo mundo
se foda, de preferencia com muito prazer, porque é esta a graça da vida! saúde!

PS adorei o comentário da rosália anônima (risos) que escreve muito bem e tem bastante razão quanto à minha
personalidade choramingosa como vocês podem ler aí em cima! tomara que as lagriminhas patéticas se tornem
passado num próximo futuro, obrigada pela força rosália

13.12.05

Epifânia
estou doente há 3 dias, de cama, com febre, aparentemente todo o stress do casamento, da passagem da mãe do Alan
e otras cositas foi demais pra mim. esta é a primeira vez desde sábado que consigo ficar com a cabeça em pé por
mais de 10 minutos, sentada no computador (apesar de ser laptop, teclar na cama só em filmes, é muito
desconfortável!) Alan está cuidando de mim, cozinhando, etc, e me dando bronca quando não sigo as instruções
dele, algumas esquisitas, como beber água mineral com gelo.
o almoço de comemoração do casamento foi bem dispensável. a familia de meu irmão (50% da mesa) como sempre
chegou depois do bolo, minha mãe perguntou mil vezes de quem era o aniversário, e o único amigo que convidei
não deu a menor pelota e inventou uma desculpa pra não comparecer. aliás, esta mesma figura tem me gozado por
causa deste casamento (mais um, mais um, mais um) e criticou até minha mudança de nome. deve ser inveja, já que
ele não pode adotar o nome do marido e mudar a numerologia pra melhor de forma legitima (risos), escapando
assim das vicissitudes da vida. quanto a mim, não vejo porque o terceiro deva ser menos importante ou algo ridiculo,
já que amor não tem idade e pela primeira vez reconheço na relação esta total intimidade, este amor franco e este
tesão permanente.
enfim, estando na cama resolvi ler o best seller da hora, O Historiador, que já pousava em minha cabeceira há
semanas, sem conseguir atrair meu interesse. já nem me lembro quando foi a última vez que fiquei assim, deitada,
lendo o dia inteiro, esquecida da vida. não é que o livro seja bom. tem lá suas qualidades, mas muitas falhas e a
tradução é sofrível (agora que estou me tornando expert - risos). a descrição histórica de época é interessante e
detalhada, e a busca através da descendencia de um ramo ancestral de familias prende razoavelmente a atenção. mas
todo o livro é baseado no mito de drácula, algo meio assim, como o Alan diz, próprio da disneylandia, e na
possibilidade de drácula o vampiro estar vivo entre nós até hoje. em todo o caso, eu estava na cozinha lavando a
louça do almoço, pensando em porque a autora optara por basear sua saga num mito tão ridículo como este dos
chupassangues. De repente, com a água correndo, entendi tudo!!!! Fiquei pensando, o que são as manchas roxas no
pescoço, o olhar meio assim de peixe-morto, gente! é uma pessoa apaixonada, depois de uma transa intensa!!! o
mito de drácula existe e foi criado, a bem dizer inoculado em nossas almas virginais para nos tornar cautelosas
quanto ao sexo!!! ou quem sabe garantir a posse da cona eternamente a um só senhor!!! com a bênção da igreja, pois
o crucifixo, sabemos, afasta os bichos... e comendo alho, pra tornar o hálito tão insuportável que ninguém se atreve a
se aproximar! e a estaca no coração, pra matar a paixão direto na fonte! Vejam se tudo não faz um sentido enorme! é
um mito muito esperto e bem construido que vem durando há séculos e talvez por seu arraigado fundo moral ainda
venda tanto livro em pleno século 21. será que a Kostova bateu nisso? breve saberei. enquanto isso cá estou lutando
contra os meus vampiros internos firmemente postados... e oferecendo meu pescocinho em sacrificio mesmo com
febre... gente, devo estar tomada, já sou uma escrava de drácula, no doubt
adoro quando tenho estas subitas compreensões, quando tudo se encaixa. quando eu era mais nova costumava
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chamar momentos de amplo esclarecimento como este de "ver deus". Alan já está lá dentro pesquisando na santa
internet pra ver se tais referencias já existem. até agora ele encontrou referencias a abuso sexual de menores, coisas
assim, mas eu acho que a coisa é mesmo conosco, mulheres...
bem, minha cabeça já pende para o lado, com licença que eu vou voltar aos meus vampiros. tomara que amanhã eu
já possa voltar à ativa!

14.12.05

Redenção
gente, revendo os títulos de meus últimos posts parece que estou tomada por alguma energia religiosa. deve ser a
febre. que na verdade cedeu e já me sinto bem melhor, apesar de um pouco "fleumática" - eu descreveria assim o
meu estado se traduzisse do inglês como a tradutora de "O Historiador", que fez ottoman ser "otomana" em vez de
"pufe". usando meu próprio estilo, estou encatarrada, mesmo. mole. e com um problema sério: não posso rir, ou lá
vem de novo um ataque de tosse infindável.
mas sejamos justos: O Historiador me pegou. acabou me pegando e por dentro da névoa que esta gripe tece em volta
de mim me fez viajar pra longe nestes dois últimos dias, absorta na narrativa, apesar do desagradável espírito crítico
que me assombra. me despertou conjecturas, reflexões sobre a natureza do bem e do mal, sobre o papel dos mitos,
sobre a obra humana, afinal. reconheço, foi interessante a viagem. e pra que vocês se divirtam um pouco, apesar da
inocência da autora quanto ao significado oculto (risos), segue um trecho, imperdível, descrevendo a mordida de um
vampiro:
"... quando virava a cabeça ou engolia com força, a ferida fazia um ruido de sucção que me estarrecia além de toda
racionalidade. A área perfurada estava também inchada, e latejava e doía quando a tocava." ???!!!
leiam, vale a pena. me desculpo por meu julgamento apressado, meio que tenho esta mania.
por outro lado a chefe do staff de minha mãe ligou para sua cobrança quinzenal, e me contou que na véspera do meu
casamento mamãe estava bem preocupada em aparecer bem. respondendo a um comentário dela quanto à minha
coragem de me casar pela terceira vez, mamãe disse que eu não queria ficar sozinha, como ela, e reconheceu o Alan
como genro. foi bom de ouvir, e mais por isso o título deste post. ela se redimiu. e eu também. apesar da falta que
meu pai ainda faz, quem me dera que ela tivesse decidido viver de outra forma, e não tivesse ficado sozinha. enfim,
too late e vamos em frente.
Alan fez ontem uma escultura de barro com a argila que comprei depois que ele insistiu muito. eu achei que era
apenas mais uma falta do que fazer, mas gente, preciso me redimir de novo. o cara tem talentos que ainda
desconheço. a peça ficou legal demais. o homem pode parecer um pouco inativo às vezes, mas desenha bem, a
escultura ficou linda e super expressiva. ele ainda toca violão e cozinha... e tudo generosamente regado com charme.
fico olhando pra ele e me pergunto porque escolhi ser artista, se não desenho, não esculpo... e meu único talento real
é ter uma imaginação incrivel, visual, milhões de idéias... não soa mais adequado à literatura? meu horoscopo de
hoje diz "...Use a sua capacidade de concentração e repare: talvez você estivesse insistindo num caminho que não
era o melhor para você..."
então last but not least me redimo comigo mesma por tantos anos complicados e às vezes frustrantes. e vou em
frente, esperando que a nova profissão que escolhi me traga alegrias maiores. depois que eu sarar da gripe, é claro. e
voltar à minha tradução pornochique. ao meu indomável tesão. (pela vida). e ao serviço de meu novo senhor lord
dracula! (brincadeirinha!)

17.12.05

...camente incorreto
talvez eu até já tenha escrito sobre isso. mas a imagem da Joana Fomm enfática ontem na tv dizendo que Bush é um
assassino... bem, também não é assim. eu costumava aderir à massa que considera Bush um bandido, ou pelo menos
um absurdo do século 21. mas agora vivo com este americano, né, um cara inteligente, consciente, um pouco radical
às vezes. e ele vive me dizendo que Bush é um cara íntegro, querendo recuperar os valores de familia que nos
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Estados Unidos foram destruidos nos últimos vinte anos após as guerras urbanas de Los Angeles. e querendo fazer
da América e do mundo um lugar mais seguro... bem, não sei. pelo menos agora estou dando a ele o benefício da
dúvida. já que as aparências neste mundo nos enganam tanto, mais do que nunca... temos acesso a tanta informação
mas não sabemos nunca o que é verdade ou não e só podemos contar com o nosso bom senso um tanto abalado
numa era de mudanças... e a imprensa manipulando a opinião... parece meio simplista afirmar que a guerra do Iraque
teve como único objetivo garantir a circulação do petróleo... com aquele insano presidente do Irã ali por perto...
fiquemos assim, pode ser. pode fazer sentido a posição dos Estados Unidos. pode ser que Bush não seja este vilão
todo e queira realmente recuperar algo do tesouro humano que a America já foi, campeões da democracia, do
desenvolvimento, da inteligencia, da liberdade individual e da pesquisa. a conferir.
quanto aos ecochatos... sempre usei este termo apesar de achar que, claro, devemos cuidar do nosso planetinha com
o mesmo carinho que dedicamos à nossa casa. se eu mantenho a casa limpa, as plantas úmidas, as roupas passadas
no armário bem dobradas, porque haveria de sujar, poluir, destruir a terra? mas tudo tem limites e este também foi
um assunto que eu e Alan discutimos bastante esta semana. ele me contou como nos Estados Unidos os excessos dos
ambientalistas prejudicaram o desenvolvimento industrial, até chegar a esta paranoia que fez o governo americano
recusar Kioto. deve haver um equilibrio em tudo, inclusive nos interesses. (já que negá-los, quem há de)agora
comentando a cronica de hoje de Arnaldo Bloch no globo, dizendo que o meteoro que ameaça chocar-se com a terra
em 2036 é irrelevante porque já destruimos o planeta... peraí. de quanto será a área ocupada pelo homem? e vocês
acham mesmo que os humaninhos estão com esta bola toda de provocar tsunamis, buraco na camada de ozonio,
degelo e congelamento global? prestem atenção às pesquisas e vocês verão como observar os movimentos da terra
sob a perspectiva estritamente humana leva a conclusões enganosas. um dia a terra está se aquecendo, no outro se
esfriando. o que eu acho é que a força da natureza impera, e os ciclos de altos e baixos continuam, e em última
análise a ação humana é bastante irrelevante. no geral. porque é claro que se não limparmos o cocô de nossos cães
na rua a vizinhança vai ficar desagradável e o sapato sujo, levando a merda pra dentro de casa. ou a chaminé
industrial do lado da janela do meu quarto não fará bem nenhum aos meus pulmões. cuidemos dos nossos assuntos e
mantenhamos uma certa humildade quanto ao nosso pretenso poder. podemos tudo, com relação à comunidade
humana. e bem pouco com relação aos destinos do universo, frente ao qual somos mais insignificantes que o eletron
que orbita num microgrão de areia.
dito isso, mantenham a casa limpa e aproveitem o sábado...

só pra registrar...
...pra posteridade, eu que nunca achei que tivesse algum talento, digamos assim, extrasensorial, nunca vi entidades,
nunca materializei nada além de meus próprios projetos ou fiz algum objeto andar com a força do pensamento...
na quinta feira estava eu na cama meio chumbada de gripe quando de repente uma dor aguda veio assim me
percorrendo o corpo, me impedindo de respirar, algo como se um alien tivesse me entrado goela abaixo e ficasse
viajando dentro de mim causando estrago, tive que me levantar, andar devagar de um lado para o outro... até que 5
minutos depois passou. fiquei normal. poderia ser gases ou algo assim mas nada foi eliminado e ar preso certamente
não era que essa sensação eu conheço bem.
pois uma hora depois ficamos sabendo que a mãe do Alan tinha morrido exatamente àquela hora. digamos que ela
entrou em mim e se alojou ali pra tomar conta do primogênito... pelo menos como reafirmação do fato que a cada
evento que enfrentamos juntos eu e Alan eu fico gostando ainda mais deste homem.

40
Bodas

20.12.05

Estou me sentindo tão mal...


...fala sério, não sei de onde vem tanto mal estar, minha gripe desembocou numa crise alérgica e sinto vontade de
morrer... só um pouquinho... parece que num nivel subconsciente eu atrai pra mim mesma este mal estar só pra
poder apagar, não ter que tomar decisão nenhuma por uns dias... pois tomei aquele maldito cebion sabendo que tinha
adoçante e que eu tenho alergia... mas minha alergia sempre foi uma reação na pele, coçando um pouco, nada assim
de matar. mas desta vez acordei com a lingua inchada mal cabendo na boca, e a boca inchada parecendo uma
botocuda e tudo coçando loucamente, todas as mucosas, boca, cona, cu... passei 2 dias tomando aquele antialérgico
horroroso e me sentindo um zumbi. o que o inconsciente pode fazer com a gente... amazing...
eu nem devia estar escrevendo, mas no meio dos impropérios deprimidos do Jabor encontrei uma pérola e não podia
deixar passar, então transcrevo:
"entendi que uma nova esquerda teria de trabalhar com fé, sem saber para onde vai. e a arte tem que se mesclar à
vida como queria Nietzsche, virando também sem esperança um bailado sem finalidade, mas parindo estrêlas
dançantes que nos tragam uma felicidade efêmera, mas profunda".
mais não digo. estou deprimida, mas melhorando da alergia. não tenho energia pra malhar, mas vou sair daqui a
pouco e dar uma caminhada, resolver umas coisas. o que eu quero mesmo é só voltar a pensar em 2006.

24.12.05

muro de lamentações
minha tia octogenária do alto de sua experiência conjugal me aconselha a não interferir no luto do Alan. mas não sei
se eu concordo. não estou aguentando de repente esta vontade de um profundo luto e ir na sinagoga todo dia diz ele
que por 30 dias... e a barba grande o rosto abatido não acho nada positivo. tais sinais externos de dor de duas uma:
uma tendencia pra sofrer ou um disfarce, uma culpa pela ausencia de dor... toda mãe merece um bom luto mas eles
eram tão afastados... este luto está me afetando profundamente talvez espelhando em mim algum tipo de culpa ou
dor não expressa... estou arrasada e acho que se afeta o casal a gente deve, sim, discutir o assunto. estou tateando,
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procurando um jeito mas até agora fui mal recebida. e sofro.

i don't touch you now


but recognize in me the impulse
as i read your words
as you touch my nipples in writing
but not today
on our daily bed the real breast
far from rose
we are all thorns today
scratching each other's skin
though it will pass
i sit and wait and miss
the miracle of your palm
the love in your fingertips
as i type our story and wonder
how we came to this
easier done than said...
the tongue is harsh but love still there...
immovable impulse yet there
to touch you hug you comfort you
caress your curls on my lap

how can i cross this wailing wall?

não te toco agora


mas reconheço o impulso em mim
se te leio as palavras
ao me tocares os seios na escrita
mas hoje em nossa cama cotidiana não
o seio real murcho nada de rosa
somos só espinhos hoje
nos arranhando mutuamente a pele
sei que vai passar
me sento e espero e lamento a falta
que me faz o milagre em tua palma
o amor na ponta de teus dedos
enquanto teclo a nossa estoria e penso
como foi que chegamos aqui
mais fácil fazer que falar...
a língua é dura mas o amor resiste
impulso imóvel ainda resiste
te tocar te abraçar te comfortar
acariciar teus cachos no meu colo

como é que atravesso teu muro de lágrimas?

26.12.05

persona
onde discutir a relação não ajudou, a poesia valeu. Alan me deu ouvidos, queira deus que a recuperação continue. a
barba ainda está lá. mas o pescoço pelo menos está limpo e o rosto menos caído. comentando minha troca de nome
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pós-matrimônio no almoço de natal meu tio, meu maior crítico, diz que eu quero me esconder por trás do nome
novo, pra que nenhum de meus leitores da era vegetariana me encontre. segundo ele passei anos dando conselhos de
saude e fiz mal a muita gente. já eu acho que fiz bem, mas estou realmente mudando e não quero mais nada disso, e
ele nem faz idéia de como Noga Sklar será diferente de Noga Lubicz. acho que nem eu faço. e como diz e faz Bob
Dylan, no filme maravilhoso do Scorcese, eu só faço o que quero e meu coração manda e me reservo o direito de
mudar quando bem entender. o importante é ser autêntico, falar a nossa verdade, sem pensar em marketing, seja
politico, artistico ou financeiro. como aliás... finalmente pus os olhos na obra prima e única da tal Bruna Surfistinha.
um livrozinho patético de menos de 100 páginas recheado de pérolas mais para porcos pornô, descrevendo as
surubas mais escabrosas num relato totalmente desprovido de espirito onde o membro masculino, protagonista
principal, é chamado de p...!!! "... não sei de onde vinham os 7 p... e cada p... me metia na x... me f... " mais ou
menos assim, é claro que eu estou sendo um pouco irônica mas o p... estava lá, eu vi!!! afinal o que é ofensivo à
moral e à sensibilidade é a falta de contato verdadeiro no sexo, o tratar-se o corpo como um objeto de consumo
numa relação sem amor ou intimidade, a troca sexual numa lata de lixo? ou dar o nome correto à parte correta num
relato sensível? pois eu adoro o pau que me acaricia e me dá prazer visitando a minha cona, o pau sedoso, cheiroso,
limpo, amoroso e sempre pronto. p...? ora p... vai se f...!!!

30.12.05

Antiresoluções de ano novo


Numa semana de retrospectivas até mesmo o frequentemente bem humorado Arthur Dapieve acaba dando a mão à
palmatória e reconhecendo que os escândalos e decepções políticas monopolizaram a atenção neste ano. No entanto,
o que muita gente não se dá conta é de que a vida vai passando por fora e o espírito humano continua em sua
indomável jornada rumo ao que vem por aí. E surpreendendo sempre. Eu, por exemplo, estou adorando esta semana
de "férias" onde eu trabalhei como nunca, produzi à bessa e não malhei nadinha. Na minha mente começa a brotar
uma idéia de levar uma vida intelectualmente mais ativa e fisicamente menos cansativa, um precedente perigoso se
levarmos em conta que neste ano de 2005 eu abri mão de ser vegetariana. E de várias outras cositas consideradas
essenciais para a longevidade e a boa saúde. Nesta última semana sinais do universo sinalizaram boa receptividade
às sementes que plantei pra 2006, quando pretendo me dedicar full-time à literatura redesenhando toda a minha
estratégia de sobrevivência. Parece que vai dar certo ser Noga Sklar. E por causa disto me sento aqui com meu
notebookzinho, a grande conquista tecnológica de 2005 que eu adoro, meu ultimate sonho realizado de consumo, e
listo minhas antiresoluções para o ano que vem aí:
- malhar menos
- comer mais chocolate e mais pipoca*
- beber menos água
- ganhar mais dinheiro
- não desejar emagrecer
- falar mais palavrão
- ser menos responsável
- levar estas antiresoluções a sério
São 8. Afinal de contas dois mil e seis é um ano 8, ano de ganhar mais dinheiro ralando menos. Se deus quiser. E
amar, amar, amar, transar e curtir a vida muito. Meus votos pra todo mundo em 2006!

*porque ontem no apagar do ano comprei por engano um milho de pipoca orgânico no Zona Sul online. resolvi
experimentar. fiquei maravilhada com o milagre da pipoca enchendo a panela e me deliciei! ah, e como, comendo
pipoca e vendo filme no dvd. foi mil. simples assim.

30.12.05

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Perdão, Raquel
santo google. neste último e já inútil dia do ano ganho esta oportunidade única de reparar uma injustiça. não é à toa
que a internet é a nossa religião nestes tempos modernos. pesquisando o tema "correr à noite" no google dei de cara
com um post da surfistinha, ops, raquel, no topo da lista. nada a ver com praticar corrida e no futuro próximo muito
menos ainda a ver com noite. pois a raquel não faz mais programas e vive com o seu amor. ponto pra ela. li o post e
achei que ela é jovenzinha, bem intencionada, tentando ser legal. espero que ela seja uma ex-puta para o resto da
vida. e dê muito amor pra sempre de graça. afinal, neste ano da graça de 2005 tive coisas em comum com ela.
encontrei um amor. mudei de vida. só não deu pra perdoar 100% a familia ou publicar meu livro. ainda. nisto ela
está melhor que eu. sério. e eu já vou ficando velha... é isso aí, raquel. parabéns e desculpas. boa sorte pro pedro e
pra você. e tudo de bom em 2006.

44
2006 - janeiro
2.1.06

lambendo a língua
morri de rir com o Alan hoje me confessando como foi que ele se apaixonou. num dos primeiros emails eu escrevi
pra ele, assim, em francês: "je t'embrace". e ele pensou nossa, que bonito. ela me aceita. ela me quer. bem, é mais ou
menos o que isso pode querer dizer em francês. e ele ficou todo prosa. caiu na rede e olha que eu nem estava
exatamente pescando. só que hoje ele estranhou que eu disse pra alguém, acho que no telefone, já não me lembro:
um abraço. não é só pra mim não? quando eu expliquei pra ele no ônibus que "um abraço" em português é a coisa
mais banal. que a gente oferece a desconhecidos. no fim de um email quase formal. ou até pro cara da net que te liga
pra oferecer o virtua que você já tem. só pra ser educado! jura? nossa. e pensar que eu cai de amores por alguem que
me tratou como se eu fosse banal... mas hoje ele tentou me demonstrar com a língua que não foi ridiculo eu escrever
pra ele no msn "put your throat on my mouth" chupando a parte da frente do meu pescoço. porque em inglês throat
segundo ele é dentro e fora, mas tem dó. fui eu que escrevi e não sabia nada disso e com certeza o que eu pensei não
foi nada disso. cortei. uma frase, a única, em 160 páginas de conversa-sexoexplicito-fluxodeconsciencia. tá bom
demais. depois dele mostrar como era possivel por a garganta na minha boca mostrou de novo que não precisa de
viagra pra passar do virtual para o real. acho que bem pra lá da milésima vez... diferente do livro do Marcelo
Mirisola que eu comprei pra comparar porque achei que o assunto era parecido, amor na internet e tal, mas não tem
a ver, apesar do livro ser muito bem escrito. primeiro porque Dina Z está na vida real. depois porque o tesão virtual
da Dina deu certo, era amor. e o do marcelo com a joana era um tesão desperdiçado, antesala do desamor. tudo jogo
poético pra ver quem caia primeiro como eu pensei que o meu caso corria risco de ser também. vai ver, Marcelo,
que o viagra estragou a tua festa. o pau melou, pena...

3.1.06

olho gordo
pra afastar olho gordo já vou logo dizendo. o Alan bebe. e me bate.
quando a gente ama e tá feliz tem esta tendência de só mostrar o bom. já quando está magoada é o contrário. tome de
defeitos da pessoa ex-amada, mas no meu caso é diferente. só quero retratar a vida como ela é (sem querer ser o
Nelson). o Alan bebe assim entre uma escultura e outra, entre uma trepada e outra. provavelmente beberia entre uma
música e outra como o Vinicius se um violão tivesse (este problema será corrigido em breve). o Alan me bate sem
querer ferir mas com uma certa força quando diz que se irrita comigo. geralmente é porque eu falo inglês com o
sotaque errado. o problema é que eu devo ter algum trauma porque em mim dói mais do que deveria aquele tapinha.
deve ser da infância. porque tapa de amor dói mais do que os outros. outro dia eu perguntei se ele batia na ex-
mulher, uma vaca que ele ainda odeia e que quando eu deixo me perturba. e ele disse que não. que apesar de vaca(o
termo é meu) ela era magrinha e frágil e o que ele curte muito em mim é a minha força. segundo ele eu sou um
touro, musculosa, resistente. ou mesmo uma vaca, com chifre e tudo mas no bom sentido. porque numa mulher fraca
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não se bate nem com uma flor, e quem é que quer um traste desses ao lado? no meu caso vale a pena que quando eu
fico realmente triste ele vem e se desculpa, e promete só me bater de novo quando eu errar de novo o meu inglês.
weeelll... no final tudo acaba em elogio ao meu modo de ser, então tá bom. mas acho melhor vocês não cobiçarem o
meu homem porque ele não é lá essas coisas!

4.1.06

Querido diário
estou muito triste hoje. briguei com a minha melhor amiga. e eu que gostava tanto dela... mas descobri que ela não
tem nada a ver. não gosta de mim, nunca gostou. então troquei de mal e desta vez pra sempre.

pode? coisa de adolescente, né? estou sendo sarcástica mas é pra espantar a dor. esse negocio de melhor amiga é
meio ficção, mas a gente sempre gosta de ter com quem se abrir. acontece que entre adultos... o negócio é outro e é
cada um por si. não vale a pena se entregar a não ser depois de experimentar muito, testar muito a relação. entre
amigas, quero dizer. porque com amante vale tudo. mesmo poucos momentos de gozo eu acho que valem. e muito
engov pra enfrentar a ressaca, se um dia ela vier. confiar em amiga eu já acho dificil. é raro valer a pena. já levei
poucas e boas e fico sempre tentando voltar atrás, me desculpar quando não sou culpada, remendar encanto
quebrado. não dá. não adianta.
vai ver que as minhas ex-amigas pensam o pior de mim. afinal é sempre assim quando algo dá errado. mas daí a
desejar mal, eu nunca... posso ter sido injusta mas sempre querendo ser justa. não mentir. encarar os fatos e as
consequencias. neste caso de hoje trata-se de uma amiga a quem pedi ajuda quando eu estava nos Estados Unidos.
ofereci em troca sociedade, 50% nos negócios, mas não deu certo. ela não teve capacidade de ser chefe. não soube
arriscar pra lucrar depois. não fez o negócio andar e depois quis salário. eu até tentei um acerto... mas ela resolveu
me explorar. e pediu uma exorbitância. não deu.
no fim de ano, conciliatória, contagiada pelo espirito dos homens de boa vontade, mandei pra ela minha mensagem
de ano novo. pra que! ela me respondeu hoje dizendo que estou acumulando carma. que meu ano vai ser o pior
possivel, que eu sou do mal. eu? do mal? sou tão boa que chego a ser ingênua e já levei muito na cabeça por isso. e
ela é uma bruxa de quinta. pois qualquer bruxinha que se preze sabe que desejar mal volta triplicado. então desejo a
ela muita sorte, muito amor, muita saúde. porque pra confrontar multiplicada por 3 a maldição que me mandou ela
vai precisar. saravá, meu pai! mangalô treis veis!

6.1.06

chocolate, chope e gandaia


não sei o que foi que me deu, neste começo de ano estou trocando tudo. vai ver que estou entrando na "nova
realidade" de que os esotéricos tanto falam, encontrando a minha verdadeira natureza. exatamente o contrário do que
eu sempre fui. ou pensei que era. além de resolver malhar menos, decidi malhar de noite. 40 anos de malhação e
nunca... sempre tive certeza de ser uma pessoa matutina. mas nessas férias comecei a perceber que era tão bom
trabalhar logo de manhã, cabeça fresca, corpo descansado... depois imaginei como seria bom malhar de noite, com o
dia resolvido, sem me preocupar com compromissos e milhões de coisas pra fazer, ou se alguem vai ligar... sem
contar que é bem melhor ver novela das 6 do que o programa da xuxa mesmo que a tv esteja muda. e se eu ficar
exausta de tanto correr (de preferencia nem chegando a este ponto) vou pra casa, janto e cama. pronto. no dia
seguinte tô nova. diferente de tudo que os sites de saúde recomendam. fiz um teste ontem e deu bem certo. também
mudei a ordem das coisas na pia da cozinha. maquina de café pra cá, escorredor de pratos pra lá. descobri que estava
tudo ao contrário! que botava os pratos no secador com a mão esquerda e o secador estava do lado direito! sem falar
que eu sempre me molhava na direita com a água que escorria. parece nada mas nestes detalhes bobos eu aprendo
sobre a vida. e mais uma vez alterei a ordem dos fatores pra descobrir a verdadeira utilidade dos produtos.
saimos com meu irmão ontem pra ver o show dos sobrinhos. eles tem uma banda de rock, Os Iconoclastas, meio
barulhenta mas os meninos são realmente bons. principalmente o mais novo, nem 14 anos tem e arrasa na bateria. o
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garoto é realmente fora de série e a galera vibra! (tô meio velha pra rock). enquanto assistia ao show de repente me
peguei pensando em como meu irmão é bem sucedido. claro, ele faz o que as pessoas querem. especializado em
carros importados, cuida de quem tem grana e A D O R A carro. ele tá certo, e é o melhor, logo... se deu bem. já
eu... passei estes anos todos insistindo em coisas que ninguém quer. saude (quer dizer, trabalhar pra ter saude, não
aquela que deus dá). disciplina. imã que aperta a orelha. comida sem gordura e sem açucar, um monte de folhas
batalhando pra ter alguma graça. ora, todo mundo quer mesmo é chocolate, chope e gandaia e que tudo dê certo
assim mesmo no final. ninguém está afim de uma chata dizendo faz isso faz aquilo tudo diferente do que a gente está
acostumado. já foi. agora, estou escrevendo sobre o que todo mundo quer. muito sexo. picante. muito tesão. mulher
bem resolvida. amor correspondido. e o melhor é que acontece espontaneamente e eu não mudei o meu subject
matter que sempre foi a minha própria vida. só que agora não sou mais aquela chata certinha cheia de razão que fica
criticando tudo. agora sou devassa e aproveito a vida. tenho o dia inteirinho pra curtir porque só malho de noite! e
descanso às sextas feiras...
e por falar nisso agora chega que hoje que hoje é dia de salmão. nada de arroz com feijão!

ah, mãe b mãe


e por falar em irmão nunca falei do meu irmão. pouca gente sabe que eu tenho um irmão. mas ele é este cara
competente que tem a melhor oficina de importados do Rio. e dois filhos roqueiros lindos e inteligentes. um cara
calado, que faz o próprio tempo e só rigorosamente o que quer. sempre chega atrasado nos compromissos de familia
e é famoso por isso. quando meu pai morreu estava no carro junto mas nunca falamos sobre isso. não fez ou faz
terapia. acorda tarde. é lento, mas impecável. um cara bom.
durante a vida toda nem ligou pra minha mãe, que sempre cobrava. Eytan isso, Eytan aquilo e ele nem aí. fez da vida
o que quis e se deu bem. a ponto de fazer japonês construtor de navios estourar milhões em motores de automóvel
quando era jovem. e ganhar assim a expertise que hoje oferece.
quando fui pros Estados Unidos ficar com o Alan larguei tudo na mão dele de uma hora pra outra. ele, que mal
levava a minha mãe de vez em quando pra passear, ficou responsável por tudo. não sabia muito a respeito dela. a
não ser que era exigente e controladora e por isso ele se afastou. a qualquer cobrança ou comentário ele só
resmungava: ah, mãe. e ela, danada: ah mãe b mãe!!!! hoje ele mudou. é carinhoso, dá muito mais atenção pra ela do
que eu. porque a mim dói ver aquele portento de energia que sempre disputou comigo a vida palmo a palmo assim
apática. não aguento. mas ele encontrou a doce mãezinha que aceita tudo e sorri quando ele a abraça. na medida do
possível fica todo mundo feliz e pronto.
eu acho que ele está certo no jeito de levar a vida sem stress, sem ceder, sem se apressar. slow motion, muito bom
pra saúde. porque quando ele se estressa tem a enxaqueca que herdou do meu pai (junto com o enorme talento de
consertar por instinto qualquer máquina, inclusive computadores), então é preciso evitar. uma receita de vida boa.
melhor do que a minha, que até hoje reproduzi o modelito demanding da mamãe e agora na meia idade acho que é
hora de mudar. verdade que sendo assim tão na sua você às vezes acaba deixando de lado as necessidades das
pessoas que te rodeiam e provocando revolta. mas pensando bem, cada um que cuide de si da melhor maneira
possível e bola pra frente. acabo achando que é o único jeito de ser feliz e deixar todo mundo em volta feliz também.

7.1.06

o nome da rosa
ontem tive a tarde mais difícil desde que comecei a traduzir os diários. mais de 2 horas em cima de uma única
página, com um conteudo sexual denso, bordejando o vulgar, usando os nomes mais rasteiros para as partes
envolvidas. em inglês, claro. e eu do lado de cá confrontada em minha ignorância no assunto. da parte masculina, vá
lá. lasquei um "pinto" e "bolas" e pronto. mas quanto à parte feminina, na qual eu deveria ser expert, me lasquei.
levei meses para optar por "cona" pois todos os demais diminutivos me pareciam ridículos, ofensivos. uma descrição
pobre e falha dos reais atributos desta parte essencial do meu corpo. eis aí um retrato fiel da nossa hipocrisia
cultural. um órgão sem o qual não haveria vida, inteligente ou não, mas certamente sensitiva, relegado ao ostracismo
linguístico. pouco ou quase nada nomeado na literatura. em poesia então... uma raridade. no entanto é daí que vem o
nosso maior deleite. quase poderíamos dizer a nossa essência feminina. me lembra aquela piada sobre a eleição no
corpo, mais ou menos assim que a minha memória pra piada é péssima. está em curso uma eleição para ver quem
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deve ser o mandatário do corpo humano. a boca começa a campanha eleitoral, dizendo: "se não fosse eu,
morreriamos de inanição". e vem os olhos: "se não fosse por mim, mal poderíamos dar um passo, sem saber aonde
ir". e o cérebro, crente que estava abafando. "nada disso, seus merdinhas. se não fosse por mim, este corpo estaria
perdido. é claro que eu mando em tudo por aqui, portanto sou a escolha natural". neste meio tempo se ouve uma
vozinha tímida, apagadinha, vindo lá de baixo. é o cu. "ah, é? então vamos combinar. vou me fechar por uma
semana e ver quem é que manda mesmo por aqui".
dito isso, a cona é claro que não é o cu e reina no corpo na base do prazer e não da ameaça. como aliás deveriam ser
todos os governos desta terra. e só pra não passar em branco este post, fiz uma extensa "pesquisa" em sites de
erotismo, pornô, sacanagem mesmo. me desgostei um bocado com tudo o que li e reproduzo abaixo a lista escolhida
para os nomes da rosa, tentando passar ao largo do infantilismo e do ridículo:
xota, xana, cona, racha. a cona sendo a que traz maior espírito poético, uma adaptação de "cunt" mais conhecida no
entanto em Portugal, não por acaso a nossa terra mãe. vamos ver se pega! o resultado final do dia de trabalho, graças
a deus, foi um texto fluente e leve, que se lê em cinco minutos sem choque. e que eu espero tenha o potencial de
levar o leitor(a) a viajar excitado pelos meandros fortes mas delicados da sexualidade humana.

o poder da voz
o Alan inventou que eu tenho que lançar O Diário na bienal do livro em SP. eu acho impossível, a bienal é em
março, mas cada vez mais aprendo que quando o Alan fala, acaba tendo razão. e eu com minha teimosia raramente
escuto, então pelo sim pelo não estou aqui à meia noite de sábado (ou de domingo?) bruxa completa trabalhando no
livro. mas não tem problema, que eu estou mesmo me metamorfoseando e virando noturna. aquela que acordava
cedo e dormia com as galinhas se foi. e porque bruxa? gente, leiam o trecho abaixo que acabei de traduzir:

Dez 11 Noga UAU

Alan, sem fala. Que voz, meu deus do céu. Hodu l’adonai ki tov...* agora tenho esta voz pra ficar me dizendo as
coisas maravilhosas que você escreve... você sabe, a cada novo passo uma nova onda de paixão, cada vez mais
forte. Onda, não. TSUNAMI. Ai, Alan. Voz, nome, tantas revelações neste fim de semana e cada uma melhor que a
outra.
A partir de agora quando a gente fizer amor vou ficar ainda mais doida. Imagine ao vivo, tua voz em meu ouvido,
teus lábios em minha boca. Ainda vais me matar de tanta felicidade, meu amor. Daqui em diante a tua voz é que vai
me tocar, me acariciar, agora a mente tem uma voz, o pau tem uma voz, ah, poderoso. Não vou dizer mais nada
agora, cheri, já que o mundo em volta de mim desapareceu quando te ouvi falar comigo, e só sobramos você e eu,
rodopiando pelo universo.
Eis aí mais uma em meio à miríade de esplendorosas razões pra que eu te ame tanto.

mandei este email pro Alan em 11 de dezembro de 2005 depois que falamos ao telefone pela primeira vez. e dois
dias depois de nos encontrarmos ao vivo em Orlando, no fim de dezembro, veio a tsunami na Ásia. até então eu
conhecia o conceito de tsunami mas nunca tinha visto uma. e tão envolvidos estávamos no nosso amor que nem
ficamos sabendo, só uma semana depois quando chegamos a St Augustine. que horror que isto tenha acontecido,
mas que incrível como a energia da tragédia deu sinais! E tsunami agora sabemos mata mesmo sem dó. no nosso
caso a paixão violenta nos resgatou de nossa morte em vida, nós dois no limbo. já desistindo de quase tudo. mas em
vez de sucumbir a gente surfou na onda gigante... quem dera pudessem assim surfar no amor todas as pessoas desta
terra. o mundo assim haveria de ser bem melhor

* nota da tradução: prece hebraica - louvado seja o Senhor

11.1.06

meninas, chorei
gente, sem falsa modéstia, olhem que lindo que eu traduzi ontem. fala sério, chorei quando reli:

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Dina: Edward, você me deixa com tesão
Edward: fala mais
Dina: faminta, efervescente, cheia de tesão
Dina: falar mais sobre o que?
Edward: tu me despertas
Dina: sobre você ou sobre ele?
Edward: sobre o teu tesão por mim
Dina: uummm. estou sentada aqui no computador trabalhando, ou lendo o jornal. você conecta no msn. a cona diz:
atende logo que é ele. teu amante caliente. então respondo. bonjour, mon amour
Dina: a cona lateja imediatamente. o coração para. a emoção atinge o hara. eis aí uma pequena amostra do meu
tesudo profundo exclusivo amor por ti. e "ela" anseia por "ele" o tempo todo. constantemente sente ele dentro dela.
e o leva com ela pelas ruas ao sol da manhã. escreve poesia pra ele na cabeça dela o tempo todo
Edward: se não poesia poéticos emails
Dina: faz amor com ele online por 3 ou 4 horas todo dia. depois desliga por estar perfeitamente exausta, descansa
meia hora e começa de novo a coletar idéias, sensações, escreve ao menos 2 emails. vai dormir com saudades dele
e sentindo ele dentro dela
Dina: acorda no meio da noite chorando edward, por favor, onde é que você está? depois desiste às 5, sai da cama,
liga o computador. escreve um email matinal cheio de amor. e sai pra rua ao sol da manhã sentindo ele dentro dela
Edward: ela fala com ele através da enorme distância ele sonhou com ela a noite passada... sentado numa mesa em
algum lugar envolvido em outras conversas a mão tocando nele gentilmente acariciando ele sem mesmo saber que
vaga lembrança de quem fazia isso... e sente que era ela... estranhamente a carícia gostosa continua que prazer...
deve ter sido ela a visitante da noite
Edward: ela acorda ele e o desperta à consciência. leva ele pra frente da tela e senta ele ali. esperando que ela se
materialize. e sorri com a visão dela bon jour meu bem
Dina: edward. a gente tem "it"
Edward: ele se levanta se enrijece enviando dilúvios de impulsos elétricos sentindo o gozo os hormônios soltos pelo
corpo e ele se levantando duro olhando pra ela só quer ficar com ela pra sempre dentro dela
Edward: ficar com ela. sentindo ela. cheiro gosto textura toque

este "it" aí conferi com a minha tia, é uma gíria dos anos quarenta, de quando ela ainda era solteira. não é ótima? a
gente podia resgatar

16.1.06

minha bíblia
sem tempo de postar dando uma virada quero acabar o livro até dia 24 existe interesse em publicar depois eu conto
só posso dizer agora que descobri que enquanto outros guardam fotos e outras coisas importantes na bíblia eu
guardo as minhas no dicionário pobre aurélio já tão velhinho a capa caindo companheiro velho de guerra

David Sklar
eu estava na cozinha lavando a louça do almoço quando tive esta epifânia súbita e entendi o que sente uma mãe, ou
melhor, senti a sensação de ter tido nos braços um bebê e agora vejo este galalau de 2 mts de altura em seu lugar. é
que é aniversário do meu mais velho hoje, 21, ficando "de maior" e logo logo me dando um neto que o garoto até já
casou, um gigante louro e doce alistado na marinha americana. é claro que eu não tenho filho nenhum é o filho do
Alan às vésperas de me fazer avó sem nunca ter sido mãe. blessed be!

19.1.06

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Privacidade
Alan meu marido (uuuauuu!) é um cara crítico. brinco com ele porque a cada semana ele inventa o perrengue da
vez. na semana passada foi meu hábito de escovar os dentes com o cotovelo apoiado na pia, segundo ele uma atitude
infantil. pelo sim pelo não e pelo futuro deste casamento resolvi me emendar. estou treinando para ser como
qualquer adulto destes que aparecem nos filmes, e agora escovo os dentes andando pela casa. vou até o escritório do
Alan com a boca cheia de pasta, principalmente pra mostrar a ele que eu mudei. provar o meu amor.
comentando outro dia com minha tia octogenária este traço da personalidade do Alan ela me deu uma solução
simples, do alto da sua experiência de um casamento de 55 anos: fecha a porta do banheiro! o que me leva a pensar
mais a fundo sobre a privacidade. o que é a privacidade? fundamentalmente o direito de esconder alguma coisa dos
outros, geralmente algo que a gente sabe por instinto ou cultura que não cai bem: limpar o nariz. soltar gases.
guardar dinheiro ilícito. receber propina. trepar. este último aí é o campeão da privacidade, já que ter um grande
prazer, mostrar a cara no orgasmo, exibir a beleza de um corpo nu (a não ser que você seja uma destas modelos
ossudinhas) são as coisas mais proibidas pela nossa cultura de pecado. é claro que quando eu faço amor não vou
querer um monte de espectadores em volta, simplesmente porque toda a minha energia vai canalizada naquele ato e
não quero ver mais nada ou ninguém. mas com o meu parceiro não tenho privacidade. não minto. não disfarço. para
ele faço questão de ser um livro aberto e ainda sendo escrito. como as pessoas não estão acostumadas a um tal nível
de franqueza levei 53 anos para encontrar o meu parceiro ideal.
agora quanto a escrever e ainda por cima ousar querer publicar o nosso cotidiano amoroso só tenho a declarar o
seguinte: a raça humana foi este sucesso tremendo graças à capacidade de divulgar seus feitos e descobertas para os
companheiros. e seus fracassos também, para que no futuro fossem evitados. então com exceção do ato sendo
praticado no oculto da minha alcova não tenho nada a esconder. não dou bola pra esta tal de privacidade, escovo os
dentes de porta aberta e não tenho dinheiro ilícito na minha conta bancária. sou honesta e franca e sinceramente
acredito que em breve quando a raça der mais um saltinho evolutivo e formos capazes de telepatia o que é que vai
adiantar mentir? pois já me adianto e conto pra vocês tintim por tintim os meus sucessos e os meus fracassos, para
dar uma mãozinha à evolução!
falando nisso se tudo correr bem hoje traduzo o último diálogo de Dina Z e amanhã, gloriosamente no dia do meu
aniversário, vou por um ponto final nesta obra. Ufa, ainda bem, seiscentas páginas e não aguento mais estas cenas de
sexo explícito! Acho que vou ser celibatária por pelo menos 24 horas pra descansar a mão.

terminei
ainda não sei que resultado vai dar mas estou feliz. esgotei a minha veia poética. me sinto vazia, exatamente como
deve se sentir alguém que deu o máximo de si. seca. agora começa a jornada desta obra destinada desde sempre a ter
vida própria. deixa a dona dina voar. ela nasce já bem sabidinha no dia do meu quinquagésimo quarto aniversário.
do mesmo jeito que eu nasci no vigésimo terceiro aniversário da minha mãe. parabéns pras duas. só que eu sempre
me considerei assim um presente de grego, e passei estes anos todos até me revelar... já a dina não. se deus quiser já
nasce se dando bem!

Doppelganger
pensas tu que és feio

tu não sabes que lindo podes ser


se descansado, relaxado
sorrindo franco
ao deixar o coração brilhar
através dos lábios
tal e qual magnólias florindo
no brando frescor da manhã

ainda sim, o feio em ti existe


e tu sabes
te espionando

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te perseguindo
te ameaçando
te sabotando
consistentemente
dando o melhor de si
para esmagar o bem dentro de ti
toda a beleza apagada

não permitas
mate-o primeiro
sem piedade
esfaqueie-o sem truques
com um preciso, afiado sabre japonês
evitando derramar o sangue

deixa a beleza vencer


deixa o relâmpago brotar de ti
cauterizando memórias
os mais remotos registros.
o impiedoso inimigo partiu

e eis que o teu corpo reina esplêndido


dando voz ao amor em ti
generoso ao doar teu saber
deixa o tzadik reinar em ti
semeando vida através do justo em ti

25.1.06

alarme falso
podem cancelar toda a magia contida no post logo aí em baixo. não terminei o livro no dia do meu aniversário. e
vocês ainda tiveram sorte de eu não incluir no post as coincidências astrológicas e numerológicas e otras cositas
más...
aconteceu o seguinte. depois de um bom descanso peguei o notebook pra limpar os arquivos e ... ôpa! encontrei um
arquivo novo do msn, o terceiro, contendo os originais do diálogo dos últmos dois dias...
o que só vem a provar a inutilidade, a futilidade desta característica cerebral humana de procurar padrão em tudo. é
o que nos faz acreditar em sincronicidade, atribuir uma qualidade mágica aos eventos da nossa vida. tá certo que isso
nos ajuda a viver numa realidade que (sem isso) seria árida demais. difícil viver só com o palpável... não dar voz à
imaginação... bem, talvez não seja nem tanto ou. pois a imaginação sim, tem papel crucial na atribuição de uma certa
riqueza de significados, de um arsenal metafórico que torna a vida mais excitante. e as mentes e corpos preparados
para experimentar o amor e a emoção profundos, que afinal é o que interessa.
agora sim, o Diário está pronto, a primeira cópia já despachada para a apreciação de um editor. so help me god.

os filhos do pai
finalmente hoje chegamos a este evento que eu já esperava há mais de um ano: o filho mais novo do Alan se alistou
na marinha e deixou a casa da mãe. ufa. acho que me livrei para sempre desta mulher que fez o que pode e o que não
pode para perturbar as nossas vidas. e que causou ao Alan uma dor incapacitante por mais de dez anos, manipulando
o acesso amoroso dele aos filhos. o vínculo de um pai com seus filhos no meu entender é das coisas mais sagradas.
não só para os pais, mas principalmente para os filhos, que se sentindo amados e apoiados se preparam para uma
trajetória bem sucedida pela vida. por isso nós mulheres, muitas vezes solitárias nesta tarefa de educar a
descendência, mesmo se ultrajadas, humilhadas e feridas não devemos interferir nessa relação crucial. é o que eu
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penso, mesmo que nunca tenha experimentado isso por não ter tido eu mesma filhos. mas como filha, acreditem, eu
sei. sei a falta que o amor do meu pai me fez. abaixo o belo poema que o Alan escreveu sobre a experiência:

I taught them the salamander the microscope, put a gun and a bow in their hand taught them the wave the ocean,
taught them to fish and to laugh to swear, taught them the power of themselves, to be confident proud of themselves,
you taught them self doubt, I taught them how to love how to be kind how to be free how to be themselves. . .I was
there when they came from there mothers body, held them in my arms taught them their first words how to walk,
how to drive a tractor, the meaning of yes I can do the meaning of faith the meaning of god, you taught them
nihilism, self doubt, naging bitterness and meanness. . .prating criticism. . .I taught them how to climb a tree, how to
create comedy and story, how to speak, how to perceive the world, I taught them beauty, the sunset, Hawaii, the
power within themselves, you taught them slavery. . .obedience, I empowered them to be themselves.

I taught them how to shit, how to bathe, how to lay in the bottom of the shower and let the water wash them selves
like the summer rain. I taught them how to set a mouse free from death, how to live in a hotel, how to order room
service, how to hold a fork and a knife, how to be curious, fearless, you taught them restraint, I thaught them
kindness and love, you taught them bitterness, I taught them the sabbath and the ancient prayers of kaddish, I taught
them family, you taught them devisivness. . .I taught them how to smile you taught them how to feel sadness and
humiliation. . .I taught them openness you taught them deceit. . . .I taught them how to ski, how to fly how to do, how
to use a microwave, a recorder, I taught them honesty, I taught them language, I taught them how to perceive how to
understand how to be understood. . .I taught them that what they had to say was of value, you taught them how to
obey. . .repression, self doubt. . .I sired them. . .you caretook them.

I taught them how to swim how to dive how to do a back flip, I wrestled with them tickled them made them laugh till
they cried, I taught them how to canoe and punt a boat, how to sail, I put a tiller in their hand, I sent them out to sea
on a boat to fish, beyond the sight of land, I took them to the woods and built fire, I taught them the ruby and the
diamond and the fossil, I taught them books and read to them and wrote with them, I taught them how to climb down
stairs and how to eat in restaurants, how to order, how to be polite, I taught them adventure the Keys, and took them
to the ends of the earth, you took them to Dayton. . . I took them to themselves, you took them to Michigan. . .I taught
them the humanities, you taught them death. . .I taught them life, the praying mantis, the mole, the dog, the hawk, the
butterfly, the mouse, the fish the carp, you taught them how to kill them, I taught them how to trap you taught them
how to kill.. I taught them what they could do you taught them what they could not.

I taught them how to touch to embrace, to kiss, I taught them how to play piano, to improvise to find the music
within, I taught them to be themselves , you taught them reasons to deceive, to compromise self, you taught them
fear and calumny. I taught them geltleness you taught them violence. I taught them understanding, you taught them
racism. You were not their father you never were.

A father teaches his sons how to be themselves not to be him.

30.1.06

Saindo do armário
passei a tarde dando um depoimento a uma revista feminina sobre a minha mudança de vida quando encontrei o
Alan. fiquei exausta, e agora não estou nem um pouco feliz porque acho que não fui justa com ele. isso me acontece
às vezes. quando estou com o Alan e outras pessoas acho que nunca consigo ser justa o suficiente com ele. ou
expressar convenientemente o meu amor. acho que quando estou em público automaticamente eu viro a outra:
aquela mulherzinha familia, comportadinha, iludidazinha, meio ridicula, que acredita em coisas que não tem nada a
ver, não trabalha muito, não ganha dinheiro e por isso não merece crédito. esse assunto relativo ao trabalho acho que
foi crucial no meu depoimento. pelo menos foi o estopim do meu desconforto: eu, dizendo pra Fernanda que quando
cheguei aos EUA o Alan não trabalhava, não tinha dinheiro, enfim, não era um "sucesso" de pessoa de acordo com
os padrões da minha família (apesar de ter sido um dia há 10 anos atrás aquele milionário de sonho americano). e
este fato eu sempre camuflei, escondi mesmo deles porque não quero ter que me justificar quanto a coisa alguma.
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mas enquanto eu ia falando, e entrando naquela energia que eu qualifico como "amo mais ou menos" e o dinheiro e
tal, fui elaborando melhor a realidade dos fatos. não, nem Alan nem eu, não temos emprego. vivemos com pouco.
mas temos esta liberdade poética, vivemos esta vida cinematográfica que eu sempre quis, como seu eu fosse assim
casada com o Jack Kerouac e ele não sei, quem sabe com a Anaïs Nin(sem as traições). trabalhamos muito, 24 hs
por dia não importa o que ditem as aparências. nosso amor é nosso trabalho. somos poetas, artistas, vivemos a nossa
poesia e não há tédio nenhum aqui que precise ser transformado em melodia. nos encontramos, nos amamos, e logo
de cara produzimos este volumoso manual do amor profundo que modéstia à parte é literatura muito, muito boa. e
por trás de tudo isso está este homem, minha espinha dorsal, minha enzima catalizadora. antes dele eu era este
conflito ambulante que ainda hoje às vezes me domina, esta artista às vezes louca, às vezes filhinha da mamãe
incapaz de dar seu salto libertador. em breve não mais. com esta matéria começa a minha real saída do armário. Dina
Z sou eu, sim, a que eu sempre quis ser, fazendo tudo o que eu sempre quis fazer. Dina Z poética, Dina Z erótica.
Dina Z uma mulher madura que é o que é, e não saiu aos seus. preferiu mesmo degenerar. Dina Z não tem emprego
e se casou com um poeta romântico cujos óculos de leitura lembram os de Sartre. estaria bem este casal na paris dos
anos 60, mas acabou mesmo foi no alto leblon. e aquela outra? a comportadinha de minas? aonde ela foi parar?
espero que morra em breve e leve com ela todas as frustrações que eu tive justamente por ter um dia sido ela.

53
2006 – fevereiro

1.2.06

Fake
num mundo quase sempre fake, I am the real thing.
a vida real faz sucesso hoje em dia. mas best-seller vai, best-seller vem, acabamos descobrindo que a tal reality é, na
maioria das vezes, forjada. já eu, vivo no futuro. num tempo onde a psiquê humana deu seu salto evolucionário e
todos se comunicam por telepatia, ou como relata a matéria futurista no informática do globo desta semana: você
cruza com alguém na rua e uma tela virtual logo se acende ao seu lado informando nome, dna e pensamento. fazer
de conta então pra quê? faço do meu cotidiano o meu assunto. e se for pro meu gosto, quanto mais picante melhor.
falar de sexo então é o reino do fake por excelência. nos outdoors e nas matérias de revista é um sucesso estrondoso,
um ribombar de orgasmos latejando nos corpos magros, perfeitos e sem cicatrizes, enquanto no reality deste show
ainda imperam os risinhos envergonhados, a herança infantil da era vitoriana que nega, nega mas faz. e faz
exatamente o quê?
ah, isso pouca gente diz. e, não por acaso, surge daí o meu subject matter. a realidade todinha, sem disfarces, sem
vergonha, sem falso pudor. afinal, o que é que eu sou se não um subproduto do sexo humano? e tudo isso não. não é
por dinheiro não. é mesmo um compartilhar da estória com os fellow humans. uma estória de sucesso, hoje em dia.
porque se fosse de fracasso ou puramente inventada melhor seria eu calar a boca e reconhecer o meu lugar, não é?

4.2.06

metamorfoseando...
...buscando os caminhos da literatura. a confiar no Prosa e Verso de hoje meu assunto está na crista da onda. sempre
tive uma certa fluência ao ler na alma do mundo, mas quando a minha linguagem era a do design acho que a
tradução não saia bastante boa. vamos ver se agora a mensagem fica clara e capta o interesse de alguns leitores. de
qualquer maneira a aposta começou, faites vos jeux... mandei o Diário da Dina para tres: Garamond, Rocco, Record.
Nesta ordem. A Garamond pediu. O editor leu os trechos-teasers que mandei por email e se interessou. comemorei
tomando um uisque prévio com o Alan na beira da piscina e guardei segredo até hoje, agora não mais já que a Rocco
se mostrou receptiva também... desde que o não-ficcional não seja fake... como vem se tornando comum... neste
aspecto eu me garanto. (e nos outros também) enquanto a vida real não rola estou me candidatando a traduzir
54
legendas para o telecine. fazer o que, se decidi viver de literatura e preciso achar uma saída urgente urgentíssima
para o saldo bancário agonizante.
estamos atravessando uma certa crise passageira aqui em casa, vinda do lado oposto, da ala masculina, acho que em
processo de maturação depois do vôo dos filhos. transando de 2 em 2, 3 em 3 dias... fico alerta pra ver se é sintoma,
mas quando acontece é tão intenso a ponto de jogar a crise no arquivo morto. neste ritmo ontem o Alan resolveu ser
desagradável e aumentou ao máximo o som das vociferações jornalísticas da guerra americana. eu não aguento. fui
pra sala olhar o Cristo, tranquei os ouvidos nos fones e me deixei envolver pela Paixão bachiana de São Mateus,
pensando no futuro... nos próximos livros...
mas isso já é antecipação demais, está um calor e um sábado de sol lá fora e a cervejinha gelada convida ao ócio.
vamos a ele que no sábado o senhor descansou e não é nada bom hoje em dia provocar os preceitos ancestrais
quando a espada religiosa ameaça até os cartunistas... da fria e discreta Dinamarca, quem diria...
quem ameaça a fé no senhor não é o crítico do terrorismo mas o terrorista em si, não? explodindo inocentes em
nome de não sei que (in)justiça divina. se existe deus o caminho dele há de ser o do amor e não o da bomba, isso eu
garanto. este fundamentalismo islâmico é cada vez mais o state-of-the-art do atraso civilizatório.
e falando em selvageria desta vez ocidental assisti ontem ao extremamente convincente roteiro ficcional de John Le
Carré para o Jardineiro Fiel do Fernando Meirelles. fiquei muito envergonhada de não pertencer aos menos de 2%
da humanidade que se condoem da miséria alheia e se dedicam a erradicá-la ao custo da própria vida. tive que
dormir com esta porque apesar da culpa gosto mesmo é do meu apê no Alto Leblon de onde escrevo sobre os meus
prazeres cotidianos e minha dores muito burguesas mesmo... fazer o que... se foi este tipo de adulta que eu consegui
ser...

sou sabra
antes de qualquer coisa. sou este fruto das terras bíblicas ancestrais espinhento por fora e doce por dentro. nasci em
Israel e posso garantir: apesar de não gostar nem um pouco das atitudes do país nos últimos anos, o senso ético e
humanista deste nosso povo está acima de tudo. e o impulso pela sobrevivência por vezes nos obriga aos atos mais
vis. mas se a imaginação irônica do criador impera e o terrorista se metamorfoseia em estadista, se o Hamas se torna
político e afaga o apoio internacional vocês vão poder ver afinal do que é capaz um judeu em tempos de paz.

7.2.06

Mohamlet
Há algo de podre no reino da Dinamarca, e desta vez a intriga não está confinada ao ambiente palaciano. Esta guerra
motivada pelo humor, no caso o mal humor muçulmano com relação ao estilo de vida ocidental, revela a habilidade
manipulativa de certos lideres, mestres em motivar a reação extremada da massa popular pouco esclarecida e
dominada pela fé cega. Trata-se aqui de provocar a ira de toda a comunidade árabe para vingar algum episódio local
discriminatório que atingiu a comunidade islâmica de um pequeno e civilizado país europeu. Apesar de lamentáveis,
hoje em dia são comuns episódios de discriminação, devidos muito mais às discrepâncias econômicas do planeta do
que a diferenças raciais propriamente ditas. Quanto ao fundamentalismo religioso, trata-se do estertor final de uma
civilização baseada na fé e na ilusão que vai cedendo espaço cada vez mais aos argumentos da razão, do
conhecimento; uma exploração da credulidade dos pobres de espírito para atender aos fins criminosos de alguns
poucos. Pela imprensa do mundo não faltam exemplos de charges criticando religiões, líderes, costumes. Devem ser
encarados com leveza e como sinais de alerta em caso de abusos contra a humanidade. Caso prossiga esta guerra do
cartoon, quem sabe resulte num maior esclarecimento do homem árabe comum, que terminará forçado a aceitar a
mudança nos padrões e paradigmas do planeta, para o seu próprio progresso e bem-estar. Não estamos mais, graças
a Deus, na idade do “olho por olho, dente por dente”. Para os fundamentalistas do mundo, pois, óculos e dentaduras!

11.2.06

55
Delta sem vênus
enquanto estou por aqui maturando o meu próximo projeto e dando um tempo para a mente (e porque não dizer,
fazendo testes e buscando um meio de sobreviver: passei a semana ralando para legendar filmes...) resolvi ler tudo o
que me aparecer de literatura erótica, pertença a que época pertencer - desde que eu consiga embarcar, porque às
vezes eu tento mas não engreno, evitando por puro instinto gangrenar a mente.
depois de citar aqui por intuição a Anaïs Nin, resolvi adquirí-la na Sodiler, e recebi em 2 dias este "Delta de Vênus".
aos trancos e barrancos vou lendo, um pouco com a desculpa da pesquisa, muito pra passar o tempo enquanto pedalo
na academia. sob o pretexto de ter sido escrito por encomenda de um colecionador de erótica, o livro é um misturar
de bizarrices com raras exceções, dando a impressão de um texto totalmente à parte da alma da autora, que
certamente não experimentou em vida nem 10% daquelas fabricadas sensações. a mulher escreve até bem, e se
justifica citando a exigência do "patrão" quanto ao sexo totalmente mecânico, desconectado de qualquer sentimento
maior: é esta alegadamente obrigatória desconexão que faz o livro na maior parte das páginas bordejar o ridículo,
num fremir desconectado de pernas e peitos e pênis que não levanta nem estes nem aqueles. e ainda por cima chego
à conclusão de que ela nunca deu uma boa chupadinha em vida e muito menos experimentou o gosto do gozo
(literalmente) porque eu duvido que todos os maníacos e pervertidos que ela descreve sejam vegetarianos pra ter o
esperma tão docinho*...
já eu acordei hoje sentindo que 3 dias de abstinência bastam mesmo que eu tenha recorrido ao antibiótico contra a
cistite resultante dos excessos do último fim de semana. e já fui cavalgando o meu amor junto com a xícara de café...
tres gozosos frêmitos depois estou aqui apaziguada, tranquila, de volta ao meu sabatino caderno de letras. (diferente
da Nin me satisfaço com um amante só, desde que o amor acompanhe, e não gosto nem um pouco de tragar aquela
"branca espuma" não)
pra quem se interessar em reconhecer o crème de la crème do pensamento contemporâneo recomendo a revista
britânica "Edge". é um material esclarecido e muito interessante, vou anexar o link aí do lado. eu recomendo!

*esta estória de que vegetariano tem esperma doce é afirmação de certas pesquisas. eu mesma nunca provei, apesar
de ter tido uma vez um amante tântrico-vegetariano que se esforçava muito pra agradar sem nunca me ter dado um
gozo verdadeiramente bom

14.2.06

eu escrevo mal
gente, fui rejeitada pela empresa de legendas (por enquanto). o "chefe" solicitou revisão porque encontrou muitos
erros de tradução, de português, etc??!!?? num primeiro momento, confesso, pirei. depois de uma semana ouvindo
de várias fontes que eu escrevo bem... quando o sucesso me pareceu possivel e, com um pouco de sorte, provável...
agora essa. confesso que depois que abaixei a crista e voltei ao trabalho encontrei soluções melhores para o tal de
"spotting", que determina a duração e colocação das legendas na fita. mas a crítica ao português foi dificil de
engolir. aos 54, depois de enfrentar várias cruzadas, ter que passar por mais essa... pra conseguir sobreviver... né
mole não!!!!
passei um dia de cão. deprê. o maridão? deprê. diz ele que está passando por um processo crucial de mudança mas
não diz o quê. eu, muitas vezes perdida nesta simbiose maluca, fico sentindo coisas que não entendo, porque vem de
lá... eu tenho esta qualidade ou defeito, sei lá, da "empatia". empatia extrema. de me sentir o outro a ponto de ficar
confusa, quando estou em estado de amor. quem sabe preciso aprender a me isolar, quem sabe não...
depois de um fim de semana lendo as idéias perigosas das melhores mentes pensantes do momento fico oscilando
entre achar que tudo é ciência, tudo é razão... que a emoção é química, quem sabe elétrica... e o reconhecimento da
magia, do espírito, em minha própria existência. onde está a verdade, afinal? todo o edifício da não-crença veio
abaixo com um filmeco romântico em dvd com a Reese,"Just like Heaven", onde mesmo comatosa no hospital a
mulher não desiste de encontrar o seu amor. como vocês podem ver, existem casos piores que o meu! (risos) gente
que acredita meeesmo que a vida romântica é possivel. e compensadora...

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minha idéia perigosa
achei tão interessante a coletânea da "Edge" que fiquei com vontade de colaborar. descobri a minha própria idéia
perigosa enquanto lia as de outros.
minha idéia perigosa é a privacidade. acho o conceito de privacidade um veneno para as relação humanas: ao
estabelecer um mistério que não existe, atiça a curiosidade e mesmo o voyerismo, sustenta o falso edifício das
celebridades e da mídia e nos afasta da verdadeira intimidade. pensando bem, grande parte do pânico que nos aflige
hoje em dia se refere à violação da tal privacidade, que já em sua base é um conceito anti-natural, se reconhecermos
que uma das grandes características humanas, que nos possibilitou chegar até aqui, é a comunicação entre os iguais.
crescemos como grupo e como espécie porque fomos capazes de comunicar aos nossos semelhantes nossos erros e
acertos. o histórico da evolução repousa sobre esta habilidade, hoje em dia transformada em desvantagem. quando
foi que decidimos nos fechar para o outro? quando foi que definimos que o nosso interior deve ficar trancado,
lacrado, de preferência inacessível e protegido pela lei dos direitos humanos? pois vejo aí o grande perigo. a
humanidade estaria bem melhor se nos abrissemos, se confessássemos sem falso pudor o que sabemos, se
compartilhássemos as descobertas, se lamentássemos em praça pública os nossos fracassos pra evitar que o nosso
irmão os repetisse...
é este conceito de privacidade que torna opaca a nossa capacidade telepática natural... que nos fecha para o amor,
nos faz ver no outro um inimigo próximo, um ladrão. em vez de uma promessa, uma ameaça.
acho que isto deve acabar. que o erro deve ser corrigido. como eu já disse, mais cedo ou mais tarde a telepatia vai se
instalar e não será possivel ocultar o que nos vai na mente... ocultar pra que? se a nossa maior beleza (ou feiúra)vem
mesmo de dentro? enquanto isso a gente perde um tempo enorme se esgarçando pra tornar o corpo atraente, segundo
os padrões absurdos que inventamos. lamentável esta nossa tendência nada natural para a carência, para a
insatisfação construída...
abaixo a privacidade, então. vamos nos revelar em nossa totalidade, com nossas qualidades, nossos defeitos. nossos
prazeres e nossas frustrações. nós humanos em processo, em diferentes estágios do mesmo caminho...
será que a repressão das liberdades resistiria à multidão revelando em massa os pensamentos? será que a política
chinesa conseguiria se livrar de todos que escondem suas idéias? será perigoso revelar a verdade? com certeza sim.
vai ter gente morrendo durante o processo... mártires... heróis... o futuro da civilização agradece.

15.2.06

a rosa
ganhei uma rosa branca hoje antes do almoço. estou chateada, não consigo me concentrar em nada, entrei no site do
Zona Sul com um caracter a mais no login e não consegui fazer as compras, mas ganhei uma rosa branca de
presente. minha mãe está doente há mais de dois anos e quase não fala, vou visitá-la uma vez por semana mas só
converso com a acompanhante e de repente estou tão cansada desta situação... mas ganhei esta manhã uma rosa
branca do meu amor. queria estar trabalhando no meu novo livro e em vez disso passo horas aprendendo a inserir
legenda em filmes pra ver se encontro uma fonte de renda imediata, o que me deixa humilhada e ainda mais
chateada, mas a rosa branca no vaso verde de vidro fosco torna a revolta impossível. além do stress, da dor, da
escassez, das ondas repentinas de calor, da ansiedade e da espera a rosa branca reina impávida sobre a mesa
quadrada de madeira ripada no centro da sala. ela não liga pra nada disso, só sabe brilhar, perfumar, iluminar, sem
consciência do tempo e por trás da rosa branca o fato de que esta flor veio do meu amor, o que claramente significa
que agora, apesar de todos os incômodos e bem além deles existe um amor na minha vida que só sabe brilhar,
perfumar e iluminar, desde que eu perca a consciência do tempo, desde que eu perca o medo da perda, desde que eu
deixe mesmo tudo para trás como sempre ameaço fazer e acabo não fazendo nunca... money can't buy me love e
como eu já tenho o meu quem liga... apesar do verão, do tédio e da paisagem enevoada esta manhã meu amor foi
passear e me trouxe de presente uma rosa branca aberta, repolhuda, oferecida. vou me esquecer mesmo de tudo pra
mergulhar no quarto e agradecer a rosa, incorporando as qualidades dela: me tornando branca, repolhuda, brilhante,
perfumada e oferecida.

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18.2.06

ser puta
não sei o que se passa na mídia mas parece que a última (ou obrigatória) obsessão de cada mulher é ser puta, pelo
menos uma vez na vida. recebi esta manhã um email da Marie Claire solicitando uma pesquisa onde a pergunta é
justamente esta: "alguma vez você já fantasiou ser puta?" as respostas são em mútipla escolha e mesmo que você
responda "não" é obrigada na questão seguinte a escolher o motivo do seu desejo. apaguei sem responder porque
não, eu nunca quis ser puta, nem por dinheiro, nem pelo prazer de viver algo diferente, nem pela excitação da
coisa.(o que???) pensei que ser puta era justamente isso: não se excitar de verdade, só genitalmente e mesmo assim
nem sempre (sempre ouvi dizer que puta não beija na boca - que pena - e finge orgasmo, vai ver que é o tal do
preconceito). abro o jornal e leio sobre o novo filme que será lançado em breve - e já vem sendo badalado,
aproveitando a onda do momento - onde o diretor Euclydes Marinho aborda o mesmo assunto: o homem fez uma
pesquisa extensa e segundo ele, todas as mulheres participantes declararam desejar ser putas pelo menos uma vez na
vida e é também o que afirmam os antigos como a Anaïs Nin e até Buñuel na Bela da Tarde. e porque não falar na
Raquelzinha, a ex que vai conquistando com seu livrinho até os mercados da Europa porque já foi o quanto quis e
agora não quer ser mais? (apesar do dvd que faz sucesso na locadora trazendo na capa a ex-Bruna exputa Raquel
exposta com peitos, caras e bocas)
acho que as putas tem direito... não sem bem direito a que mas a tudo que vem reivindicando e até mesmo o de criar
moda. moda de camiseta, se é que vocês me entendem, porque bom mesmo é ser puta de graça para um homem só,
aquele que nos dá tesão. nesse caso mesmo sem fantasia eu poderia dizer que faço tudo que uma puta faz, porque eu
gosto de fazer. gosto de ser profissional no amor, mas como amadora, uma amante do sexo, do sexo com amor que
quando acontece na vida de uma puta provoca aposentadoria precoce.
bom mesmo seria saber o que se passa na alcova das bem amadas, das desejadas, das que desejam o amor e são
satisfeitas por ele... duvido que passe pela cabeça delas adquirir esta nova mania de consumo... botando preço neste
prazer, um dos poucos que ainda não está à venda e é isso que deixa os homens de marketing malucos, divulgando
absurdos. nunca experimentei nem quero nem imagino como deve ser mas acredito que ser puta de verdade não está
com esta bola toda não...

19.2.06

vida privada
dormi muito bem a noite passada, o que nos últimos tempos vem se tornando cada vez mais raro. há uns dois dias
percebi uma secreção vaginal que venho aprendendo a associar aos últimos estertores do estrogênio no meu corpo.
geralmente depois destes ataques percebo uma sensação generalizada de bem estar, uma diminuição nos calores e
uma libido mais elevada. além disso eu durmo bem. durmo a noite toda como nos tempos da minha juventude
(risos).
acordei pensando na minha mãe, e como nunca ouvi dela nenhum comentário a respeito de qualquer função
feminina, nunca um estou com cólicas, um simples estou menstruada, ou mesmo uma maldita menopausa, ai que
calor... não sei se foi sonho ou um reconhecimento tardio da minha própria solidão, da falta que me fez uma
companheira mulher, com quem eu pudesse comentar meu passo-a-passo na esperança de aprender ou ensinar
alguma coisa. fiquei deitada quietinha matutando, prolongando o sono, conferindo o novo velho horário até decidir
me levantar às sete e meia para ir ao banheiro. sentei ali, com a porta fechada, e de repente percebi a mais do que
óbvia relação entre os termos "privacidade" e "privada", nesse caso significando mesmo o vaso, o trono, a conquista
tecnológica do ser humano contra os odores e os sons de seus próprios dejetos, o único lugar onde ainda dou algum
valor à privacidade, onde acho que ela pode ser preservada apesar de achar melhor ainda controlar a dieta para evitar
o cheiro ruim e os excessos sonoros. lugar de privacidade é na privada, isto é, mais ou menos.
minha mãe sempre pretendeu ser minha companheira em tudo, mas deixou de fora a intimidade cúmplice de ser
mulher, o que me fez sentir, ao mesmo tempo, invadida e abandonada. invadida a ponto de eleger o banheiro como o
único espaço privado da casa, impressão que até hoje prevalece, e abandonada a ponto de me deixar sempre pronta a

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compartilhar com quem quer que se interesse minha trajetória pela feminilidade. todos meus ritos de passagem
enfrentei sozinha. quando fiquei menstruada pela primeira vez minha mãe estava na Europa. e quando perdi a
virgindade aos 24 (velha demais para o meu excesso de desejo) ela se espantou. se espantou e me amaldiçoou:
"porque você foi fazer isso, se não vai praticar?" não vou? porque não? até hoje tento me livrar do fantasma desta
maldição que me fez, por muitos anos, acreditar que eu sofria de alguma deficiência sexual. hoje eu sei que não,
nada disso. meu único problema era a ignorância, a falta de intimidade com minha própria espécie. minha solidão de
fêmea num mundo que até há muito pouco tempo me parecia hostil.
vai ver que é por isso que eu compenso hoje em dia com a minha literatura. gosto mesmo de compartilhar, de me
esparramar nas descrições, perto de mim mulher nenhuma, eu juro, vai se sentir sozinha. porque agora que encontrei
o amor eu conto tudo, tudinho, faço questão. derrubo os tabus um por um, os enganos, a ignorância. e se depender de
mim vou combater até o fim esta mídia que nos comanda e manipula com seus conselhos impossíveis de seguir, seus
relatos fantasiosos das superfêmeas siliconadas. gostei demais neste fim de semana de um filme no telecine, o
imperdível "Quase Lá" onde a garota se atormenta em busca do inatingível orgasmo, se humilha frente às amigas
pretensamente experientes (tudo falso) e finalmente descobre o prazer no jato d'água da jacuzzi. igualzinha a mim,
adorei... foi num jato destes que eu gozei de verdade pela primeira vez, e pasmem, aos 45 anos! vem daí o capítulo
"j'acuzzi" do meu novo livro, onde eu revelo com humor e dor minha jornada em busca do prazer sexual, da
contrapartida masculina, uma viagem exploratória pelo ensino médio agora que estou me doutorando. porque se
depender de mim, a vida privada daqui pra frente vai se restringir a... como eu já disse antes, nem sob tortura eu
revelo os meus coprofílicos segredos.

escorreguei
gente, se eu sou culpada disso me penitencio, ajoelho no milho, rezo todas as ave-marias necessárias apesar de ser
judia. recebi este email de uma leitora me contando como ela finalmente conseguiu fazer o bife de casca de banana
empanado no fubá e quer saber quantas calorias tem. ????!!!!???? meu deus do céu!!! isso é mais disgusting que o
McDonald's no Super Size Me! sei que nos meus tempos de natureba escrevi um artigo sobre o aproveitamento de
cascas mas que eu me lembre tratava de cascas mais light, tipo casca de maçã, ou de batata, no máximo e mesmo
assim já beirando o absurdo uma casca de abóbora, que bem cozida fica até meio docinha. mas casca de banana? ah,
não fui eu que escrevi isso não. nem deu pra responder e já imagino a pobre mulher sofrendo de dor de barriga e me
responsabilizando. o que reforça a impressão de que não se deve acreditar piamente em nada nem em ninguém. para
tudo existe um bom senso e pelo amor de deus... quando eu estiver exagerando me critiquem, me esqueçam, me
mandem para a puta que pariu... se salvem!

23.2.06

o rei está nu
gente, vamos combinar: leite de soja é horrível, e tofu não fica muito atrás. digo isso do alto do meu passado
vegetariano e de horas na cozinha dedicadas a criar receitas gostosas de tofu, mas acho que está na hora de expor as
verdades. água Perrier pode até ter seu lugar nos Estados Unidos, onde a água mineral com gás nacional mais parece
sal de fruta, mas aqui no Brasil a São Lourenço cai muito bem. e a descrição da prática de tantra é, no máximo,
patética. nada sensual.
tudo isso são os primeiros efeitos colaterais deste livro que estou lendo, Os Diários do Botox, para acabar
concluindo que está na hora de reagir aos esforços da mídia em nos empurrar coisas que em gerações passadas
seriam risíveis. acho que o excesso de informação está nos transformando em joguetes ridículos das pesquisas de
opinião, com suas Caras e Bocas, ou até mesmo das empulhações científicas que a internet nos empurra goela
abaixo. marquem minhas palavras: antes do fim do ano vão descobrir que soja é mesmo alimento pra gado e que o
vegetarianismo como nutrição não basta. e que pra manter a forma o que vale mesmo é o tripé moderação que inclui
alimento, exercício e bom senso, como a mamãe dizia, nem lowcarb nem lowfat mas quem sabe lowtudo. um
lowprofile sempre pega bem, apesar de não fazer sucesso nem vender revista ou dar ibope.
quanto ao tantra só posso dizer que é um conjunto atraente de técnicas sexuais indianas mas se não houver amor não
dá em nada. quem é que vai querer passar horas e horas numa cama com um parceiro chato, insistente e preocupado
com a performance? já participei de um workshop destes e foi triste, bem deprimente porque eu estava sozinha e o
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facilitador queria nos convencer, 3 mulheres solteiras desacompanhadas, a masturbar em grupo no quarto: não deu.
já a descrição da terapia tântrica no livro é ainda pior, envolve o facilitador no quarto com o casal, nenhum sexo e
muitos dólares!!!!????!!!!
gente, calma aí! o rei está nu!!! pra falar a verdade nem existe rei nenhum! e o melhor que a gente faz é voltar pra
casa e praticar o prazer do amor no aconchego do lar. acho que a gente deve buscar os valores tradicionais:
identidade, atração, química de pele, coração batendo forte. intimidade, que segundo a minha amiga Fernanda não
passa mesmo de amor. um amorzinho normal, mas cheio de alegria. novidade é a abertura total da mulher para o
universo de sensações, é a mulher se ver como ser humano independente e autônomo, capaz de grandes,
emocionantes vôos sem nem mesmo sair de casa. gente, o que a mulher tem de melhor é sua capacidade de fantasia,
de sensibilidade. a habilidade de gerar no útero um infindável arsenal de possibilidades, e isso até sem a mídia
mostrar, incentivar. recatada por fora, um vulcão por dentro.
estamos precisando muito mesmo de vida real, e esta estória de reality show fala sério, já passou do ponto. bom
senso, amigas! é o que anda nos faltando!

24.2.06

um diário sem botox


estou muito deprimida hoje. na verdade ando há dias com este nó na garganta e choro até com o barulho do
liquidificador. eu digo pro Alan que é por causa da menopausa mas intimamente não tenho tanta certeza. fico
pensando se devo botar isso no ar no meu show de vida real ou se é melhor manter aquela imagem de alguém que
teve a sorte ou o poder de transformar a própria vida, que recebe alguns emails de leitoras se identificando com ela e
torcendo pra ter o mesmo fim.
acabei de ler Os Diários do Botox e não achei ruim. é como um filme romântico bem engendrado de sessão da tarde
e com um final feliz do tipo que a gente não consegue deixar de chorar porque mulher é assim mesmo,
principalmente mulher na menopausa que pode responsabilizar a idade por quase tudo de intimidante e
constrangedor que acontece. em alguns momentos chorei porque me identifiquei com a protagonista na
simplicidade, na rejeição a tudo que é exagero na busca da beleza teoricamente perdida. em outros critiquei, como
na previsão que a autora (aos 40) faz sobre a década dos 50: um tempo difícil com os calores e os hormonios
fugindo (certo) e um corpo que temos vergonha de exibir para o amante (errado, pelo menos eu não sinto este tipo
de vergonha, apesar de eternamente insatisfeita com a forma física). depois choro de novo de frustração quando
encontro soluções ruins na tradução, que eu poderia fazer melhor se tivesse a oportunidade. tem muita coisa que eu
poderia fazer bem no entanto esbarro agora na verdadeira razão de eu estar deprimida e que é esta falta de sucesso
pessoal, este quinquagésimo quarto ano de vida tendo que desistir de novo de um trabalho de anos e vivendo com a
grana da mamãe. me sinto muito humilhada e é por isso o nó na minha garganta.
está certo que sob um aspecto pelo menos a minha vida de hoje é um sucesso. consegui encontrar o amor e mesmo
que altos e baixos aconteçam me sinto "avec" - termo antigo pra dizer que tenho par. estou casada, tenho uma casa
legal, cozinho bem e tenho até esta impressão de que depois deste turbilhão da menopausa meu corpo vai estacionar
num estado agradável e quem sabe harmônico, quem sabe ainda sensual e orgásmico, embora segundo algumas
pesquisas em vez de 20 a 30 espasmos vaginais só vou ter 5 (sei lá quem foi que concluiu isso porque antes de eu
encontrar o Alan apesar de eu ter menos de 50, e antes disso menos de 30 ou de 20 eu nunca tinha tido espasmo
nenhum). mas por outro lado estou triste comigo mesma, porque toda a minha inteligência não tem me levado longe
e muito menos foi capaz de alimentar a minha conta bancária. fiz coisas bacanas, como a linha de jóias terapêuticas,
construi um portfolio considerável na mídia mas dinheiro mesmo que é bom, nunca, quer dizer, os sucessos que eu
tive foram pouco mais do que ilusão.
é claro que um lado meu acredita na qualidade do meu livro cujo destino vem sendo traçado por editores que eu nem
conheço. espero ser aceita mas meus longos anos de rejeição me deixam com um medo pânico de que não vai dar
certo e eu vou ficar sem opção... já vou me protegendo da provável decepção e como a protagonista dos Diários do
Botox pedindo desculpas por tudo porque eu também sou assim: me sinto culpada de tudo e estou sempre no "I'm
sorry" com o Alan também apesar de todos os sonhos que me dizem pra cair fora deste padrão. eu não consigo, só
mesmo um sucesso roliudiano pra dar jeito em mim então eu acho que não há de ser nunca. por outro lado me
emociono e penso que se os 40 vem fazendo sucesso na mídia já é meio caminho pra que os 50 também façam e
neste caso estou nessa com minha própria versão de Diários, desta vez de Dina Z com seus intermináveis "cunt and
60
cock" ou "cona e pau" na versão tupiniquim e seus muito mais que 5 espasmos vaginais. e um selo adicional de
garantia: tudo aquilo aconteceu mesmo, nem uma grama de ficção - o que para um certo editor com quem já
conversei não tem valor nenhum, mas pra mulherada que eu espero que me leia garanto que tem.
tomara que o livro dê certo e que eu não tenha que me suicidar. opss! estou brincando porque o nó já se dissolveu
pelo menos por hoje. se tem uma coisa que me deixa calma e feliz além daquela que vocês já sabem esta coisa é
sentar no meu laptop e escrever... e afinal de contas hoje é sexta-feira e muito mais que isso é carnaval, não vou pro
samba mas aluguei seis filmes e vou descansar o meu corpinho 6 dias sem malhar que eu mereço. tomara que tenha
muito amor também, pra mim e pra todas nós*

* bem que eu tenho algumas memórias de transar no carnaval, depois eu conto...

27.2.06

minha vida na sessão da tarde


confesso que me decepcionei. me preparei pra estrear na mídia como uma versão mais velha da Bruna, entregue por
amor ou por dinheiro aos gozos do prazer sexual (no meu caso por amor, quem sabe assim com um gozo mais
pleno), mas a Fernanda D., vamos combinar, foi uma perfeita dama. eu andava meio nervosa com a minha saída do
armário mas no final foi como se o quarto estivesse vazio, sem nenhum fã... ou pelo menos com apenas alguns fãs
bem comportadinhos demais, nem um peitinho de fora, nem uma palavrinha chulazinha sequer.
melhor assim. melhor que seja agora essa brisazinha fresca só pra dar um gosto já que o furacão inevitavelmente
vem aí. porque afinal de contas sessão da tarde não choca ninguém, mesmo que passe Emanuelle (gente, que coisa
antiga, estou mesmo velha, nem no imdb.com consta este antiquíssimo pornô, um escândalo enorme do século
passado e ninguém liga mais*...), mas dois coroadérrimos dinossauros trepando gostosa e loucamente vai dar muito
assunto, garanto! e com um bocado de poesia pra temperar, me aguardem...
em todo caso confiram a Marie Claire já nas bancas, na quarta-de-cinzas online. minha estorinha de sucesso saiu
publicada lá.

http://revistamarieclaire.globo.com/Marieclaire/0%2C6993%2CEML1135810-1749%2C00.html

*acabei de descobrir porque eu não encontrava no imdb a legítima Emanuelle do meu tempo, trepando sofisticada
em Bangkok: é porque compreensivelmente esta musa a que me refiro tem dois emes, Emmanuelle, entenderam? só
com dois emes mesmo pra fazer juz, com um eme só somente a grossura pós-moderna, meras cópias, travestidas de
picantes, do gozoso original. os dinossauros estão com tudo.

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2006 - março
3.3.06

estado de medo
sempre me recusei a ler estes best-sellers com receita de sucesso, mas um prêmio de jornalismo nos Estados Unidos
e o assunto palpitante me fizeram comprar este último Michael Crichton publicado no ano passado, Estado de Medo.
descontando os exageros e inverossimilhanças - um dos personagens já "morreu" 3 vezes e sempre acorda, sacode a
poeira e segue em frente sem nem trocar de roupa! - o ponto de vista dele sobre o estado de medo em que vivemos é
interessante e encontra eco em minha próprias idéias. tenho pensado um bocado ultimamente no papel do homem
em todos estes catastrofismos ecológicos e cheguei por mim mesma à conclusão de que algo anda muito errado e
nós não estamos com esta bola toda, exercendo o poder de alterar profundamente o equilíbrio natural da terra, que
segundo Crichton e muita gente boa nunca existiu... a natureza é o caos!!!
a questão que o livro aborda é que este estado de medo em que vivemos - coroado pelo pânico do aquecimento
global - é fabricado, e que o planeta simplesmente segue seu caminho atravessando diversas fases. muitas fontes
afirmam que em vez de aquecimento há resfriamento, e que mesmo se o aquecimento acontecer corre o risco de ser
benéfico para a maioria das nações, ao contrário do que se publica por aí. a idéia perigosa escolhida por vários
cientistas na Edge aborda também este ponto de vista que vai contra o mainstream: é ilusão pensar que o ser humano
tem todo este poder e o que acontece na vida real contradiz as campanhas da mídia.
hoje mesmo no Globo li este artigo sobre o novo satélite que vem demonstrando as perdas da cobertura de gelo na
Antártica e o avanço dos desertos na África. o problema é que antes destes poderosos não havia como medir com
precisão a camada de gelo! comparar então com que? nosso bom senso na verdade nos faz acreditar que a terra está
mesmo é esfriando, com as recentes tempestades de gelo no hemisfério norte e tal... e de acordo com Crichton o
Saara está ficando verde!
o importante aqui é que todos estamos contaminados pelo medo. como o livro afirma, vivemos numa época onde a
saúde pública nunca foi tão boa, a longevidade avança, a comida é abundante (descontando, é claro, os bolsões de
pobreza). e em vez de aproveitar a oportunidade e se sentir feliz a gente vive com medo de tudo, acredita que
comida faz mal, os germes estão em todo lugar, a terra está esquentando, a água do planeta vai sumir em breve e
tudo, com toda certeza, vai acabar muito mal. ainda por cima com todas estas aves doentes, a gente não escapa...
outro dia me peguei admirando a beleza dos pássaros em formação no céu e me lembrando ao mesmo tempo que
podiam trazer a morte...
sabem, acho que a gente tem que se livrar desta síndrome. reaprender a encontrar o caminho da alegria, curtir a vida
e deixar um pouco de lado este catastrofismo todo. a ecologia é importante para manter o nosso bem estar, numa
atitude micro de preservar a vizinhança - algo assim como não deixar o cocô do seu cachorro contaminando a
calçada, não fumar em ambiente fechado ou não engarrafar o trânsito viajando sozinho no seu carro - mas os
ativistas macro tipo Greenpeace semeiam o pânico hoje em dia com um objetivo bem maior: o de arrecadar fundos,
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e muitos, sem se importar tanto assim conosco e nosso futuro; o meio ambiente virou um negócio bem lucrativo às
custas da nossa insegurança... e esta sensação permeia tudo... a gente vive com medo de tudo: medo da solidão,
medo de engordar, medo de ficar doente, medo de ficar na miséria, medo de morrer. e pior, medo de viver... a
sabedoria oriental ainda não desbancada afirma que toda mudança começa dentro de nós... temos que reencontrar
nossa capacidade de viver bem, sem tanta ansiedade, procurando ver o lado bom das coisas. está difícil, mas
prometo continuar tentando! e dane-se o politicamente correto...

4.3.06

Daqui a 11 anos
já perdi duas boas oportunidades e parece que vou acabar perdendo a terceira também. bem, talvez desta vez não
seja tão boa assim. tenho este sonho antigo ainda do meu tempo de esotérica de presenciar um elipse total do sol.
todo astrólogo sabe que um eclipse é sempre marcante na vida da pessoa, então imaginei: estar ao vivo sob a
influência de um deve marcar mais ainda... tenho esta fantasia constante de que algo virá para virar de cabeça pra
baixo a minha rotinazinha, me içar do fundo constante de algum poço para as glórias da abundância. mas apesar de
ter tido uma vez a grande coragem do salto quântico, quando conheci o Alan, pareço ainda ser incapaz de fazer do
salto um modo de vida e provavelmente vou continuar por aqui quietinha esperando, em vez de ir pra Natal
arriscando uma chance de 1 ou 2 por cento de observar o eclipse total do dia 29, principalmente porque o feiticeiro
todo poderoso que mora aqui em casa já vaticinou: vai chover.
da primeira vez foi o eclipse de 94 em Santa Catarina. pensei, pensei, este era fácil, só 18 horinhas no ônibus, que
preguiça, que inéercia... não fui. depois em Aruba, eu quis de novo, mas a grana estava curta, não deu. desta vez,
pensei, tá tudo em cima. tenho passagem grátis de milhagem, custo razoável de hotel, marido pra acompanhar e
tudo... mas a totalidade vai ser às 5 e meia da manhã, possibilidade de nebulosidade no mar, simplesmente o dia
amanhecendo mais tarde sem o contraste da noite ao meio-dia... acho que não vou. vai ver não sou tão fanática
assim, ou então acabei acreditando que o máximo de mudança que vou conseguir nesta aventura será um par de dias
afastada da rotina. mas no próximo...
acabo concluindo que o mais importante mesmo são os planos, que nos levam pra frente. a realização deles na
verdade não importa. descubro então este espetacular eclipse no futuro, em 2017, que vai cobrir grande parte do
território americano e como o Alan quer, ao meio-dia. hummm, onze loongos anos... e onde será que eu quero estar
daqui a 11 anos? vejamos:
- se possível, estar ainda casada com o Alan tendo mantido em alta o nosso amor e em baixa as nossas rusgas
- famosa, escritora publicada - e de preferência lida - ativa, trabalhando como nunca, uma saramago tardia de saias
- saudável, corpinho bom, ainda correndo 2 vezes por semana e trepando com frequência, com pelo menos 3
espasmos
- financeiramente independente e sem ansiedade, ah deus, tomara
- e last but not least, é claro, com o Alan no Oregon ao meio-dia debaixo de um eclipse sem nuvens derramando
uma lagriminha de emoção atrasada: antes tarde do que cedo demais
- pra não posar de insensível espero que o mundo esteja em paz e a fome erradicada... no mínimo que os Estados
Unidos ainda estejam lá, intactos e poupados pelo terrorismo
e pra dar um refresco nesta loonga expectativa, ouvi dizer que em 2010 vai ter unzinho na Patagônia, quem sabe...
mas deixa pra lá, que onze* é, este sim, um número mágico, e 4 anos é muito pouco pro tamanho da minha ambição
de conseguir finalmente me realizar.

*vira daqui e dali a gente sempre acaba conseguindo um jeito de encaixar um sentido numerológico na vida, mesmo que não faça
sentido lógico nenhum.

5.3.06

63
oito de março
vem aí o Dia da Mulher, uma homenagem internacional a este ser inquieto, monumental, misterioso e mutante. e
normal, comum, mais ou menos 50% da humanidade, essencial - por enquanto - à sobrevivência da espécie. é o tema
dominante no jornal de hoje.
ontem à noite vi o candidato ao Oscar "Terra Fria", e põe fria nisso, o relato chocante do nascimento do conceito de
assédio sexual. não pude deixar de pensar que alguns poucos anos depois estou aqui com essa pretensão de publicar
um relato cru dos gozos sexuais, um dos poucos jamais escritos por uma mulher, apesar de não o único. me peguei
duvidando: é uma conquista, uma ousadia, ou uma vergonhosa e dispensável incursão de mulherzinha num assunto
predominantemente masculino?
por falar em mulherzinha, é este o assunto da Martha Medeiros no Globo de hoje: mulherzinha imatura, dependente,
vaidosa e futil, espécie em extinção graças a deus, desembocando na mulher liberada do século 21, que é o que eu
pretendo ser. posso me encaixar se quiser nos vários estereótipos pós-feministas, sou independente, ousada,
trabalhadora, sexualmente liberada. educada pra casar virgem e ser recatada, dei nisso: escritora erótica. mas dentro
de mim a romântica não morreu, apenas oscila entre sonhos de paixão e pesadelos de abandono. gosto de ser amada
e isso pra mim é uma grande conquista; até hoje procuro dentro e fora de mim uma forma mais feminina de viver, de
mergulhar na minha própria essencia, de fazer valer o meu desejo da forma que ele vem.
acho que a mulher ainda não se equilibrou, apenas jogou a gangorra pro extremo oposto. já me senti muito "macho"
nos meus tempos de empresária, me sinto responsável pela sobrevivência econômica da família, não me entrego e
não peço ajuda pra ninguém. mas, sinceramente? não gosto disso. continuo em busca de um jeito mais feminino e
pra encontrar o orgasmo tive que me desarmar. gostaria de ser mais soft mas rejeito certos exageros da ditadura da
aparência tipo botoxes e silicones. ainda vou conseguir acabar mansa e limitar a ferocidade à literatura, numa
exploração teórica da falta de limites.
no cotidiano gosto de cozinhar, manter a casa em ordem, cuidar do bem estar do maridinho. na cama gosto mesmo é
de papai e mamãe, de ficar por baixo... diretamente embaixo da cornucópia só recebendo os lucros... sem precisar ir
à luta, cansada de lutar. não uso lingerie erótica e detesto brinquedinho pornô.
como mulher da geração de 50 fui criada pra uma coisa e acabei em outra. me formei em arquitetura e acabei nas
letras. confesso meus momentos de franca confusão mas sigo em frente sem abrir mão do meu desejo. minha
dificuldade financeira credito a essa dubiedade, criada pra ser sustentada e vivendo pra sustentar, educada pra ser
dependente mas reagindo com aventuras demais. e no amor então me debati por anos, acreditando no fundo no
fundo que alma gêmea existia e na vida real sempre só, ou pelo menos decepcionada. agora que o amor chegou (será
que alma gêmea existe? duvido!) aproveito, mas não consigo relaxar, será que é bom dar a ele esta prioridade toda?
acho que a mulher moderna é assim: uma contradição constante e por isso mesmo uma grande oportunidade criativa,
um ser querendo se recriar a todo instante, acertando aqui, errando ali e aceitando isso, sem deixar de evoluir. é
assim que eu me vejo e não tenho vergonha de confessar minhas fraquezas. me ofereço como um espelho à trajetória
heróica da mulher e não tenho certeza nenhuma pra declarar, a não ser que homem em casa é bom e eu gosto.
parabéns pela homenagem, guerreiras! agora relaxem que esta batalha acabou, tá na hora de arrumar o quarto.
acharam este post confuso? está mesmo e é assim mesmo que eu estou. na menopausa eu deveria estar madura, certa
do que quero e sabendo o que fazer, mas não rolou... tô pagando pra ver aonde vou parar...

6.3.06

a rede na varanda...
...ou a varanda na rede, ou da arte de fazer o que eu digo mas não o que eu faço. eu jurei que ia ser uma dama, ia ver
a entrevista quietinha e não ia comentar nada. não deu.
desde que participei há uns 15 anos de uma terapia em grupo conduzida pela Regina Lins que eu estou de olho nela,
com ouvidos bem abertos para os absurdos que ela diz com relação ao futuro do amor e do sexo. pra começar que
basta um pulo no Aurélio pra ver que androginia não é nada do que ela afirma ser e por mais que bastar-se ou
masturbar-se possa trazer deliciosas sensações acredito que nada, nunca, vai substituir a relação a dois baseada na
diferença e na complementaridade, que é a antítese de androginia, a conferir:

andrógino [Do gr. andrógynos, pelo lat. androgynu.]


64
Adjetivo.
1.Biol. V. hermafrodito (1).
2.P. ext. De aparência ou modos indefinidos, entre masculino e feminino, ou que tem traços marcantes do sexo
oposto ao seu

e eu lá quero ser indefinida? ou arrombada no sexo grupal? fazer o que com meia dúzia de paus eretos à minha
disposição se mal dou conta de um?
sou a favor da clareza, da explicitação poética, do compartilhar de experiências eróticas no campo das idéias, mas no
meu corpinho não. meu corpinho não quer saber desta patética mecanização do estímulo sexual não. só quer saber
de uma intimidade gostosa e docemente temperada de muito amor, porque depois de muita desventura acabei
descobrindo o que é mesmo bom.
a figura legal do casamento pode até estar em cheque, mas nunca o casamento verdadeiro entre o homem e a mulher,
o hierosgamos por excelência. mesmo que um dia esta interação se torne irrelevante para a sobrevivência da
humanidade o prazer dela permanecerá, a qualidade do estímulo erótico intersexual dificilmente será superada.
mesmo que a gente descubra que se trata de nada mais do que uma inundação de prolactina*... bem, eu pelo menos
não estarei aqui pra ver o gozo concentrado numa pílula de hormônio. e se estiver não endosso.
quanto a estas teorias sobre casamento aberto, poligamia, etc, declaro ter encontrado um parceiro que apesar de não
me satisfazer em tudo, na cama não me deixa desejar nada mais. a gente se encaixa e se completa e pronto. eu sei
que dei sorte. sei que isto é dificil de acontecer e é por isso que muita gente por aí fica advogando estes paliativos,
como o próprio som da palavra sugere, pálidos. digamos que o sexo sem amor é uma carroça de boi e o seu primo
rico, o com amor, uma ferrari na fórmula um correndo em direção ao gozo. que alegria para nós mulheres ter amor
adicionado ao que há poucos anos parecia ser uma triste e invasiva obrigação... e tem gente querendo estragar a
festa! o que me lembra a impossível afirmação de que o orgasmo feminino só apareceu quando se começou a falar
em orgasmo feminino???!!!??? puro nonsense esta entrevista. quer dizer que a anatomia feminina mudou? que o
pênis ereto roçando na vagina úmida antigamente não provocava espasmos involuntários espalhando ondas de calor
pelo corpo??? que o orgasmo não é a estratégia máxima da natureza pra incentivar a reprodução da espécie e
facilitar o trânsito do espermatozóide em direção ao óvulo? (em outras palavras: antigo como o homo sapiens e
talvez até mais?)
pra completar o desastre ficamos sabendo que a rainha do sexo aberto está casadinha com o co-autor do seu último
livro, modestamente intitulado "O Livro de Ouro do Sexo", um casamento recatadamente descrito como "bom"
(risinhos nervosos). deus me livre deste sexo de ouro. prefiro o meu, de carninha cor de rosa intumescida mesmo.

* Está na “Biological Psychology”: o orgasmo numa relação sexual dá 400% a mais de prazer que na masturbação. Suíços e
britânicos concluíram isso após descobrir que a relação sexual aumenta em 400% o nível de prolactina no sangue. Porém, o
mesmo não ocorre na masturbação. O hormônio prolactina é essencial para o prazer. O Globo - 05/03/2006

8.3.06

Dia da Mulher

verdade que eu já escrevi sobre este assunto antes, no dia 3. mas com esta
midia toda e mais as amigas mandando mensagens com rosas e tal fiquei
pensando no que é que eu gostaria de dizer sobre a mulher neste dia de
hoje. ou quem sabe não dizer nada, ou ainda nomear um dia qualquer pra
ser Dia do Homem porque a humanidade deixa metade pra cada um e
mulher sem homem... bem, é tão ruim quanto homem sem mulher. na
verdade eu estava sem assunto, mas ontem à noite o Alan pegou o saco de
argila e foi pra sala enquanto eu via um filme alemão na tv sobre as
dificuldades do orgasmo no despontar da vida sexual feminina, filme
curiosamente igualzinho a um outro americano que eu tinha visto antes,
será que o orgasmo feminino é assim tão sem imaginação que nem dá pra
dois filmes? o Alan ficou lá umas 3 horas e eu no quarto pensando: - acho
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que desta vez ele está fazendo uma escultura de mulher. dormi.
no meio da noite me levanto com aqueles já clássicos suores e vou até a sala, vejo em cima da mesa uma tenda feita
de perfex molhado. levanto a pontinha pra ver e bingo! um torso de mulher, isso é, todo jeito de mulher, bundinha
macia, cintura curva, mas chapada. pescoço longo, mas seio que é bom, nenhum. vai ver que é difícil descrever uma
mulher, reproduzir uma mulher de memória sem mulher nenhuma pra olhar...
então veio o dia eu trabalhando como de hábito, cozinhei, almocei e nada de inspiração pra um novo post, que diabo
de dia especial é este? retomo a revisão do meu livro. em alguns momentos chego a pensar nossa, quanto erro, acho
que não emplaca não, mas de repente parece que virei outra e quando começo a descrever o sexo a cortina cai e um
texto maravilhoso modéstia à parte aparece eu sinto, que delícia! que delícia ser mulher e ainda por cima descrever
tão bem o que sente uma mulher no momento de ser essencialmente mulher, no alto do gozo do amor... vou pro
quarto comentar com o Alan e quando eu chego lá encontro de novo a tenda de perfex que desta vez ele mesmo
desvela... os seios! gente, os seios... que maravilha os seios redondos com mamilos saltados torneados perfeitamente
no torso onde antes não havia nada agora aquela maravilha e começamos os dois a rir de puro gozo e rimos e
rimos... que presente no Dia da Mulher. que poesia... mulher é isso: curvas, sensações, mistério, poema... uma
ferramenta que alimenta e excita, convida ao toque e adora ser tocada... uma mulher fica muito mais mulher do lado
de um homem. porque no fundo no fundo, com duplo sentido, a mulher é isso: um ser que goza. que delícia ser
mulher.

8.3.06

ciência moderna
como se não bastasse a tragédia das aves vítimas deste tal de HNI5 resolveram agora pegar pesado com os gatos.
coitadinha da Cora, já pode ir preparando o luto. vai ver que é o começo de uma disfarçada caça às bruxas porque
bruxa sem gato, onde já se viu, só eu, bem, mais ou menos. quando morei em Pirenópolis na casa da Elsa tive gato,
não um, dois. e um deles doente com desinteria, nem por isso acreditei que deveria eliminar o pobre. chamei o
veterinário e ainda me lembro do meu apuro pra dar o remédio. pra falar a verdade, um gato certa vez me salvou a
vida... em Columbine (Colorado), antes do massacre, num workshop de xamanismo. eu estava prestes a sofrer um
ataque energético quando o gato da minha mestra adentrou o quarto num escândalo, prevenindo o desastre, um
alívio. (naquela época eu era assim, supersticiosa)
não dá pra negar o valor do avanço científico dos últimos anos, mas a gente sabe que o interesse econômico polui
tudo. é um tal de tira e põe de verdades na mídia laica que deixa qualquer um doido. mas não fica triste, Cora. pelo
menos ficamos sabendo no The Guardian de ontem que o sol não faz mal, faz até bem. pra falar a verdade é
essencial para a produção de vitamina D - uma prioridade - e dos cânceres que a gente acreditava provocados por ele
95% eram benignos mesmo, quer dizer, não poderiam sequer ser chamados de câncer. imagine o tamanho do lucro
dos fabricantes de filtro solar...
só nos resta muita cautela, muita análise racional em cima destes alarmismos todos, vide o aquecimento global, que
hoax*. e muito cuidado com a internet pra não cair em ridículos como o tal do Dia do Pulo, confiram aí ao lado nos
antilinks.

*ing. hoax - trote, alarme falso, boato mal intencionado

9.3.06

escrever é fácil
difícil é encontrar um tema palpitante, uma forma ousada, capazes de atravessar o deserto de novos autores para
aportar no oásis de uma grande editora. esta travessia eu pretendo fazer, espero ter talento suficiente.
sou do tempo em que a gente aprendia português na escola mesmo. já nos bancos do Colégio Estadual de Minas
Gerais eu era considerada cobra em redação, mas por razões que hoje me escapam acabei optando pela arquitetura,
sendo péssima desenhista. naquela época não se aceitava erro de gramática não. era bomba direto.
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hoje em dia confesso alguma insegurança - depois desta última reforma ortográfica que eu já não tive paciência de
conferir - mas o Aurelião está aí pra isso mesmo. agora, concordância de verbo e sujeito é o básico, qualquer
jornalista pratica. todos os dias leio o Globo e a redação flui fácil, nada incomoda, ritmo bom. até as cartas dos
leitores passam incólumes, por isso afirmo: escrever é fácil.
isso não parece no entanto ser verdade para autores novíssimos que aproveitam a possibilidade da auto-publicação e
já vão se julgando best-sellers antes dos vinte e cinco. meninas, eu li um deles, que não cito por enquanto por
solidariedade, mesmo porque eu garanto, não vale a pena lê-lo. mas se um dia ele cair aqui por acaso e a carapuça
servir, aí vai o meu conselho. que por sinal serve pra qualquer novato e até pra mim mesma, beabá de qualquer
escritor: antes de mais nada, aprendam português.

12.3.06

swing
domingo, dia de ler jornal e comentar as notas, principalmente quando está (graças a deus) menos quente e meio
chuvoso. não costumo ler colunas de conselho sentimental mas desta vez a do Alberto Goldin na revista do Globo
me pegou pelo tema: swing, da fantasia à tentativa. acho que agora depois de Dina Z ninguém mais pode me acusar
de caretice. pratico muito sexo e ainda escrevo e descrevo com todas as letras o assunto, mas sou do tempo em que
amor e sexo andavam próximos, quando não juntos, e não endosso de jeito nenhum esta tentativa moderna de
aumentar o gozo com brinquedinhos e abusosinhos da maior e mais antiga fonte de prazer humano. reginas à parte o
sexo pra mim é da competência do amor e pronto. meu corpo não é computador pra ficar agregando periféricos cada
vez mais ousados e meu plugue de carne só aceita pino exclusivo e do mesmo material: de carne, com sangue
circulando e muitos nervos. e uma cabeça pensante e sensível do lado de cima.
tratar o sexo como objeto de consumo, o que também se estende à recente valorização na midia das "profissionais"
do sexo, eu acho que combina com este vício de só ver no mundo o que há de pior, com o hábito de reclamar o
tempo todo das misérias, dos males da civilização, da mediocridade, da destruição global, da falta de tudo. é um
pacote só, patético e maniqueísta, de uma idiotice que leva invariavelmente a um tédio depressivo, a uma
incapacidade crônica de apreciar a riqueza de estar vivo. uma doença.
o que me leva às páginas seguintes da revista que por sua vez me transportam às páginas viradas do meu passado, à
Síndrome de Brokeback Mountain: mulheres que se relacionam com gays. gente, eu já estive lá. dez anos da minha
vida eu passei lá. não sei da parte deles o que se passa, não justifico nem critico, só sei de mim e da dor que eu tive,
do meu vício, do meu sofrimento auto-inflingido. eu evito falar sobre isso devido à delicadeza do assunto, e porque
não dizer, com vergonha da minha burrice. ontem este meu ex veio almoçar aqui e trouxe junto a carga de
negativismo e desprezo que o cerca. já achei engraçada, charmosa mesmo esta mania de criticar tudo e todos, mas
agora estou em outra e foi o amor que me levou a isso. discutimos sobre deus, sobre sexo, sobre amor também e eu
pude ver a diferença entre o Alan e ele, entre meu eu de 20 anos atrás e meu eu hoje. pude perceber a que ponto o
amar e ser amada me transformou. pude sentir a força que me dá a prática cotidiana do sexo com amor e encarei de
frente este meu caso do passado. fui.
sei que sexo com amor e amor com sexo são raros no mundo de hoje; nem por isso acho que a gente deve derivar
para pobres substitutos. mesmo que a gente esteja só sobra sempre o amor por si mesmo, o prazer da nossa própria
companhia, o aprofundar-se no pensamento, num bom livro, num bom filme. e porque não dizer, um orgasmo
gostoso sob a nossa própria mão, bem mais excitante do que lançar-se em aventuras vazias que acabam levando a
isso mesmo: ao vazio. não tenho medo de parecer careta. adoro brilhantes mas não uso zircônia cúbica nem morta...
prefiro usar prata e com o amor é igual. uma jóia preciosa que se a gente puder, banca. enquanto não acontece
existem muitos outros meios de se viver o prazer de ser humano. não se enganem com estes jogos de amor
moderninhos: a embalagem pode ser uma graça, mas acreditem, na maioria das vezes a caixa não traz nada dentro.
pra fechar, uma pérola do Alan, encarando o ceticismo ácido do meu boyfriend: o sexo sem amor é uma caricatura
triste. e dane-se quem me achar retrógrada e politicamente incorreta.

17.3.06

67
amor e casamento
volta e meia fazem sucesso na midia testemunhos de mulheres a respeito da dificuldade de se encontrar o amor no
casamento. ou de se encontrar o amor, ponto. livros, palestras, debates, se empenham em condenar esta tradicional
forma humana de socializar e garantir a sobrevivência da espécie. sei que o casamento já foi o celeiro da exploração
feminina, da subserviência. eu mesma, da geração de 50, fui educada pra casar e passei a vida combatendo o que,
para mim, era uma condenação: a idéia de que só casando a mulher poderia encontrar a felicidade e a realização.
neguei, lutei contra isso, convencida do absurdo que me havia sido imposto, mas agora que estou num casamento
bom reconheço o valor que tem, me vejo transformada a cada dia pelo fato de ter um amor em minha vida. e a
convivência, o partilhar cotidiano tem um papel importante na intimidade, fator fundamental para o bem-estar de um
casal que só agora eu experimento. então lamento, amigas. só posso afirmar que casar é bom. de preferência
morando junto, porque esta história que eu já advoguei de cada um na sua casa é balela pura. e me desculpem as
feministas e independentistas de plantão, só reclama do amor quem não tem um de verdade, e casamento bom é raro,
eu sei. não é a instituição que não dá certo... são as pessoas que não vem dando certo em sua busca de par.
mesmo depois que a gente acerta no parceiro resta um longo caminho pra trilhar na busca do equilíbrio, da
satisfação, um caminho que demanda paciência, compreensão e claro, muito amor. por bastante tempo depois que
encontrei o Alan - com aquele deslumbramento todo - penei. às vezes peno ainda mas pra mim tem valido a pena;
não existe comparação possível entre o antes e o depois na minha vida.
no epílogo dos Diários contei as dificuldades, mas acabei cortando o material por necessidades editoriais. um
pequeno trecho, no entanto, faço questão de não perder e por isso transcrevo aqui:
"...finalmente quando consegui me levantar me vesti e sai pra caminhar. Cruzei a ponte pênsil como sempre fazia,
com planos de chegar até a praia em Anastasia. Na metade do caminho, no descampado onde eu costumava
observar os golfinhos, vi uma coisa diferente no meio do mato: três gladíolos brancos se destacavam, perdidos na
grama alta permeada de ervas daninhas. Lindos. Com certeza não estavam ali ontem. Fiquei pensando se alguém
teria se dado ao trabalho de plantar gladíolos naquele terreno baldio e decidi pegar as flores, levar pra casa
comigo. Durante todo o trajeto de volta lhes senti o caule junto às minhas costas por dentro do shorte. Dava pra
ficar tonta com o perfume doce que emanava delas. No Brasil, os gladíolos são chamados de Palmas de Santa Rita -
dedicados a Santa Rita de Cássia - porque se parecem com o galho seco que floriu por milagre quando a santa se
recolheu ao convento de Santo Agostinho na Itália. É claro que eu não sabia de nada disso, ainda mais sendo judia
sem nenhuma cultura cristã; só sei que o nome brasileiro da flor ficou martelando na minha cabeça até que cheguei
em casa e fui pesquisar Santa Rita no Google, pra descobrir que ela era a padroeira das esposas de maridos
violentos... E o 22 de maio era o dia dela... Fiquei tocada com a história e planejei voltar à praia no domingo para
uma oferenda à santa.
Foi assim que hoje de manhã o aspecto mágico da vida se reconciliou comigo. Não deu pra considerar como
coincidências a minha identificação com Santa Rita, o meu conflito recente com o Edward e as palmas brancas
florescendo na minha mesa. Me senti protegida, abençoada, envolvida num contexto especial, único. Decidi que
meu lugar era junto do Edward, e que não me faltaria força para domá-lo nos momentos de cólera usando o meu
amor, a minha compreensão. Fizemos planos de visitar a família no Rio para o bar-mitzvá do meu sobrinho e eu
tive a sensação vaga de que ali saberíamos o que fazer para nos manter unidos, para manter este amor profundo, a
intimidade, a nossa história agora muito real, este precioso compromisso com a felicidade."
é isto. até devota de santa rita eu virei tentando acertar no amor. os fins justificam os meios, não? pelo menos até
agora, tenho usufruido de um final feliz e não acho que a expectativa do amor romântico seja falsa, ou que o
casamento esteja falido. pelo contrário, acho que foi um ganho, uma vitória da mulher acrescentar amor à ideia
antiga de compromisso baseada apenas na união de interesses e na preservação da família. o ser humano é por
natureza social e seu sucesso como espécie baseado na convivência com o outro. somos capazes de amor, porque
não praticar? acho que basta de tentar transformar em teoria universal os nossos fracassos. eu mesma já fiz muito
isso. hoje em dia prefiro reconhecer as limitações, sem jamais aceitá-las como definitivas, e é assim que eu me vejo:
uma mulher que erra e acerta sem desistir de tornar-se ilimitada. mesmo que nunca passe de um sonho...

22.3.06

68
confissões viróticas
semana passada me peguei pensando no sucesso da Raquel na bienal. eu sei que a inveja é uma merda, mas
confesso, andei me roendo. ela tem hoje tudo que eu gostaria de ter e ainda pretende influenciar a qualidade erótica
dos casais, campo a que eu também gostaria de me dedicar... ela já está lá com seu recém-lançado audiobook. e
apesar de eu desconfiar de que literariamente enquanto ela vem com o milho eu já vou com a pipoca ela está no top
e eu acabei de ser recusada pela Rocco, porque segundo eles o público não aceita o formato diálogo pela internet –
um formato que hoje em dia faz parte do cotidiano de qualquer um. enquanto eu me envolvia, ou melhor, me
envenenava com estes pensamentos nada nobres, o castigo quase chegou: recebi por email um convite para entrar na
comunidade da Raquel no orkut. sorri interiormente da coincidência e... ops! quase cliquei no link... mas vi a tempo
que era vírus, um ponto exe destes. portanto, gente, cuidado com o vírus Raquel. aliás, tenho certeza de que com
este a Bruna não tem nada a ver.
escapei dele mas não do outro que me derrubou e me mantém no estaleiro até hoje, já lá se vão 5 dias inteirinhos...
vai ver que foi a depressãozinha que me bateu com a recusa, pois a minha esperança na editorazona era grande,
alimentada pela apreciação do editor que me leu: ele me aprovou mas mesmo assim não deu, dona Vivian não me
quis. bola pra frente depois desta gripe, a segunda só este ano... pelo menos dei sorte na Record e não me jogaram na
lista de espera. o prazo estimado para a resposta é de 3 a 6 meses devido ao acúmulo de originais, eta país intelectual
este nosso! tem mais escritor tentando a sorte que jogador de futebol, contra todas as expectativas!
aproveitando que eu já estava pra baixo mesmo - e vendo o mundo através de uma névoa mais espessa do que esta
que se levantou do mar hoje de manhã - fui levar a mamãe no psiquiatra. conversa daqui, testa dali, um debate
rápido sobre as novidades da indústria de drogas (não vale a pena fazer nossos doentes de cobaia), ele me oferece
um tête-à-tête pra me esclarecer sobre os caminhos da doença. eu sou curta e grossa, chocando até a mim mesma:
“doutor, quando é que ela vai m o r r e r?” porque dentro de mim é esta a pergunta que não quer calar e não tive
medo de confessar, não ando com ânimo para hipocrisias. segundo ele o sofrimento dela está prestes a terminar –
quando a consciência acabar de se apagar - agora o meu... ele não faz idéia... a doença costuma levar de 10 a 12
anos... pelo menos desabafei, me expressei. reação diferente tem a minha cunhada que encara a decadência da sogra
como coisa natural, algo assim como a queda do preço da laranja na feira quando chega a safra, descrevendo como
em breve ela vai precisar de fisioterapia, cadeira de rodas, alimentação por tubo... gente, desculpe, eu acho tudo isso
de um terror que não dá pra encarar. não tem nada de politicamente correto em desejar a morte da mãe, mas eu
desejo a da minha. e se rezo todo dia por alguma coisa é pra que o fim deste tormento chegue na nossa casa antes do
aparato hospitalar.
estou fúnebre demais hoje, mas ontem, depois dos dias de cão - vírus, rocco, psi - olhei pro Alan ali na cama ao meu
lado e me encantei. eu com uma cara péssima, com a respiração bloqueada, enjoada e tossindo sem parar e este
homem ainda tem tesão por mim, pode? transamos e eu ri muito, dancei, cantei, tudo enquanto a gente transava,
antes do gozo. derrubei de vez o mito de que riso corta tesão, um mito que até o Alan cultivava. corta nada. depois
de ter experimentado várias vezes o riso no beijo inventei na nossa cama o riso na transa, bom demais. outro mito
derrubado é o de que não se pode namorar com gripe... o mundo pode estar caindo em volta de mim que eu não
deixo de me espantar com esta intimidade gostosa entre nós.
e por falar em mundo que cai quero last but not least escrever sobre aquele outro vírus que tem assolado a nossa
existência: a mídia do medo. o Greenpeace declarou no Globo desta manhã que 90% das espécies de peixes que
conhecemos já foram dizimadas. gente!!! 90%??? será que eles não estão exagerando não? vai ver que é porque eles
conhecem poucas espécies de peixe, não? ando com um pé atrás com este pessoal e depois do Michael Crichton não
dou nadinha pra eles, nem minha doação, nem minha crença no catastrofismo deles. mesmo porque na mesma
página uma matéria tão grande quanto afirma que no ritmo que a coisa vai, o Brasil vai levar OITOCENTOS anos
para mapear a biodiversidade! vai ver que 90% das espécies de peixe que existem ainda não foram mapeadas e eles
nem sabem...

23.3.06

Cara Cora
você lamenta a atitude da Anita "Body Shop" Roddick ao vender a companhia para a L'Óreal, aparentemente a vilã
dos maus tratos a animais, e a qualifica como hipócrita por pretender auferir lucro com seu idealismo. acho que a
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gente precisa aqui parar de se iludir, de acreditar na imagem pública das organizações. eu também admiro a Anita e
acredito que tenha chegado para ela a hora de seguir adiante, de parar de se preocupar com as miudezas da vida de
empresária. li que ela será consultora da L'Óreal, que neste caso terá interesse em manter a imagem da Body Shop,
senão pra quê investir neste segmento? analisando por um outro lado, digamos que esta venda significa uma vitória
da filosofia ambientalista. já as grandes organizações eco-ativistas que a gente costuma admirar (eu não mais) não
desconhecem a hipocrisia. elas tem em comum um interesse: dinheiro. não se iluda, Cora. não se iluda, Millôr. hoje
em dia tudo acaba em business. o que mais, além de muito dinheiro rolando, poderia explicar e justificar a estrutura
milionária que sustenta os Greenpeaces da vida? você mesma, uma pessoa que parece honestíssima, totalmente
consciente e amiga dos animais confessou usar Lancôme, porque cá entre nós, é mesmo bom, e vai ver que você
nem sabia que pertencia à L'Óreal. by the way nem eu. mas será que você jogou fora aquele creminho depois do
alerta?
para tudo acho que é preciso encontrar a medida do bom senso. sou da paz, mais ainda do amor, mas não quero mais
ser enganada. faz parte de ser consciente hoje em dia saber que quase tudo que vemos e ouvimos nada mais é que
informação maquiada, manipulada. mais do que ninguém você que está na mídia, apesar de soar (e acredito, de ser)
sincera e bem-intencionada, deve saber disso.
o confessional está na moda, eu mesma o pratico cotidianamente, mas até onde arriscamos ir? até onde publicamos a
nossa verdade, seja sucesso ou fracasso? é uma questão que tem me ocupado. o fracasso, apesar de não ter mérito,
talvez leve a uma sinceridade, a uma abertura maior, porque as pessoas de sucesso tem um compromisso consigo
mesmas e com o mercado que as sustenta... então não adianta, nossa realidade é basicamente viciosa. para permitir
às pessoas de bem a abertura total, a falta total de hipocrisia, o total desapêgo dos resultados materiais, faz-se
necessária uma profunda mudança estrutural na sociedade em que vivemos. topa começar?
grande abraço,
Noga Sklar

quero ver sangue


tenho lido bastante ultimamente, querendo descobrir o que há por trás dos critérios seletivos das editoras. encontro
muita coisa bonitinha, enfeitada com alguma criatividade original, o formato tradicional levemente transgredido,
algum humor. mas alguma coisa anda muito errada e acabei de descobrir o que é: eu quero ver sangue!
não sou exatamente uma autora jovem. quer dizer, em última instância eu já não sou jovem de jeito nenhum, mas o
fogo dentro de mim não se apaga. minha prosa, que pode até ser poética, acredito que quanto à forma seja assim
mesmo: formal. mas gosto de pensar que o conteúdo é capaz de provocar terremoto.
eu escrevo sobre a minha verdade e a minha verdade não é bonitinha nem redondinha. não rima, nem deixa de rimar.
acontece. não tenta ser original. explode.
quanto eu tinha trinta e ilusões eu já era assim: passional. tudo na minha vida é muito, mas meu português é apenas
bom. eu exagero na dose do assunto mas é tudo real. não é este exagero forçado, quero parecer escandalosa. não
quero. quero parecer capaz. correta. talentosa. morninha? JAMAIS. eu escrevo sobre a minha verdadeira vida, não
os pequenos fatos, os quartos visitados, mas a vida de verdade que acontece na minha mente. minha versão das
coisas.
meu português é bom mas mesmo assim faço concessão à linguagem das ruas. porque na literatura sou meu próprio
reality show, que eu dirijo como quiser. e eu gosto mesmo é de sangue. se eu abro as pernas é pra gozar, não pra
ceder. eu gosto é de furacão, de paixão rasgada, de me arrebentar. me entrego.
hoje em dia estou na meia idade, corpinho mais seco. mas dentro de mim o fogo não se apaga. dei sorte de encontrar
um depósito de lenha... porque tenho gás encanado mas adoro uma fogueira crepitando, e na minha maturidade
encontrei um fogo igual. a gente arde. a gente goza cotidianamente e não abre. depois registra, e se vocês quiserem
ler, a gente publica.

24.3.06

to be or...
por duas vezes nos últimos dias me deparei com uma descrição de Hamlet como a quintessência da indecisão. não
sendo uma estudiosa de Shakespeare minha posição a respeito é mera opinião de espectadora teatral, mas indeciso...
70
não sei. esta definição me incomodou. perguntei pro Alan, que como vocês sabem é professor de literatura inglesa e
ah! indeciso também. fiquei sabendo que realmente existe esta visão de Hamlet como, digamos assim, um cartoon
da indecisão (ênfase dele). mas para mim, o "to be or not to be" foi sempre o resumo da profundidade, da
capacidade humana de refletir, de ponderar sobre a própria condição. Hamlet é o símbolo do contraste entre a ação
planejada e a simples reação, entre guerreiro e guerrilheiro, entre o intelectual e o animal em nós. talvez no mundo
de hoje uma atitude como esta de esperar, debater consigo mesmo, amadurecer, possa ser confundida com indecisão:
vivemos na era do fast thought*, um perigo se levarmos em conta a tendência dente por dente que anda por aí nos
atos fundamentalistas. um paradoxo, se levarmos em conta o amplo espectro de conhecimento humano civilizado à
nossa disposição em qualquer google. uma visão simplista das questões que nos afetam não deveria nos bastar...
acho então que acabei de descobrir qual deveria ser o próximo passo pra gente começar - ou continuar - a mudar o
mundo: readquirir o hábito da reflexão, de exercer o espírito crítico, de não simplesmente acreditar em tudo que a
gente ouve ou vê, mas de acrescentar a isso o amplo espectro de conhecimento humano que a gente traz acumulado
no DNA.
to be or learn to be, that's the action!**

*pensamento instantâneo
**ser ou aprender a ser, eis a ação

25.3.06

expulsa
dizem que da terceira vez é pra valer. pois ontem, pela terceira, mamãe me expulsou de casa. sei que ela está doente,
quase inconsciente, blablablá, blablablá. mas não adianta. dói.
vou visitá-la toda sexta-feira porque eu sou assim: uma mulher de hábitos. quanto à mamãe estou sempre com este
mix de culpa e amor atravessado na garganta. chego lá, oi mãe, que que há de novo? saiu hoje de manhã? e ela
muda. nunca abre a boca nem pra oi enquanto eu fico lá religiosamente 2 horas toda sexta conversando com a
acompanhante, às vezes vendo tv. às vezes muda, também, porque este exercício de falar amenidades me cansa.
gostaria de tomar uma decisão: não faz diferença mesmo, não vou mais, vou parar de me atormentar. mas sexta vai
sexta vem estou lá batendo ponto na minha depressão, nesta certeza de que mamãe nunca gostou de mim, quem sabe
na esperança vã de que num breve instante, antes que se apague completamente, ela ainda me prove que eu estou
enganada. porque uma vida inteira de convivência não foi suficiente para desfazer esta impressão.
da primeira vez eu tinha vinte e quatro. andava contente comigo mesma, formada em arquitetura, escritório próprio e
namorando um pintor famoso. ensaiava alugar um apê e sair daquela casa de vez, me sentindo inteira depois de anos
de luto pela morte do meu pai. mas havia um problema, é claro. comigo sempre tem um problema. o tal pintor era
árabe, e 20 anos mais velho. começamos a namorar na casa dele de Teresópolis. cheguei lá pra visitar com duas
amigas e acabei ficando por três dias, romanticamente com a roupa do corpo e sem escova de dentes. eu gostava de
transar com ele, gostava das horas calmas no atelier, ele pintando, eu observando. porque tinha isso: ele fazia
questão de ser observado. e se levantava imediatamente depois do gozo pra se limpar, o que eu achava bastante
esquisito - mas agora com mais de cinquenta às vezes faço. enjoamos ao mesmo tempo, eu querendo movimento, ele
me trocando por uma mais jovem, mas antes disso mamãe descobriu que a gente transava ali perto, na casa de uma
amiga que nos emprestava um quarto. foi puta pra cá, vagabunda pra lá, roupas jogadas pra fora do armário, some
daqui, você não é mais filha, etc, etc. fui. sai pela porta da frente e levei outros vinte e quatro pra voltar...
...acabada, destruída, depois do meu divórcio de Brasília. mamãe sempre teve esta mania de maldições. pode ser que
do ponto de vista dela isso era amor, preocupação. mas do meu sempre foi falta de sensibilidade, mania de controle.
ela sempre quis ser minha amiga, então quando perdi (finalmente) a virgindade num fusca aos vinte e três contei pra
ela, toda feliz, o parceiro era lindo e eu não agüentava mais o cabaço... mas ela só pôde: você está louca! porque foi
fazer isso? uma coisa que você não vai praticar!!!???!!! ih, acho que já contei isso, vai ver que uma vez não foi
suficiente pro desabafo. a questão é que a frase colou em mim e eu fui infeliz no amor até há pouco tempo, quando
encontrei o Alan. meu marido em Brasília me disse: sai. não te quero mais. nossa, que crueza. meu apê alugado,
voltei aos pedaços pra casa da mamãe, que também não me quis... me botou pra fora de novo mas desta vez eu não
fui. chorei. chorei bastante e acabei ficando, a doença avançando. eu seria desonesta se dissesse que ela nunca
demonstrou me apreciar. no seu último ano de lúcida, quando ela teve a herpes e eu incansavelmente cuidei dela, ela
71
agradeceu. não fosse você aqui comigo, eu teria morrido.
e agora de novo, pela terceira: vai embora, você está me incomodando. pode ser que ela tenha descoberto que eu
escrevi desejando a morte dela...(paranóia) o que eu quero mesmo é que ela morra ainda com um resto de
consciência... poupá-la de um sofrimento inevitável... sei lá. não gosto dela. mas a amo profundamente e este amor
ainda hoje domina a minha vida, para o bem ou para o mal. e ainda por cima me sinto culpada porque ela anda me
ajudando financeiramente sem saber.
dizem que para uma mãe o filho nunca deixa de ser criança. mas eu desconfio que para um filho a mãe nunca deixa
de ser... a MÃE. o que eu mais lamento é não ser capaz de fazer para a minha um discurso bonitinho, carregado de
bons sentimentos, como muitos que eu escuto por aí. ainda sinto raiva, ainda sinto mágoa. que formas estranhas
pode assumir o amor...

à espera de um milagre
tendo sido rejeitada e fazendo muita fé no meu livro já estou especulando a possibilidade de autopublicar. então
andei conversando com outros autores na mesma situação pra saber o que é que rola. um deles, poeta simpático de
Beagá, me escreveu: - a editora é ótima, a produção bem cuidada, agora, o tempo todo você está por sua própria
conta. como eu não tenho pique pra batalhar venda, fico à espera de um milagre.
à espera de um milagre estamos todos. no país, à espera de que Palocci se prove honesto. no estado, à espera de que
Rosinha se reconheça uma fraude. na cidade, à espera de que a violência urbana se esgote por si. ou pelo menos, de
que o calor arrefeça. aqui em casa, à espera de que o dinheiro apareça.
o milagre da popularidade todo escritor espera. e ser impresso por uma grande empresa não é a condição sine qua.
eu já experimentei uma destas e o livro não emplacou, nos meus esotéricos tempos de Madras.
tenho uma certa experiência em milagres. dizem por aí que o que conta mesmo é reconhecê-los, pois eles certamente
acontecem. no meu caso reconheci o milagre do amor, do fato que a alma gêmea - ou seja lá que nome se der pra um
companheirismo um pouco mais que bom - realmente existe. a vida inteira convivi com esta impressão de que um
grande amor me aguardava, e que quando viesse, mudaria a minha vida. pode ser não mais que ilusão romântica,
educação de mocinha em Minas, mas acabou vindo, e no bojo deste milagre o da literatura... sai da aventura com um
companheiro e um livro. já que um está dando certo, tenho esperanças de que o outro também... e que a minha
mudança possa ser completa. vou ser escritora. e vou ter sucesso. escritora, bem, acho que já sou... por via das
dúvidas e pra convencer a todos passo os meus dias escrevendo... e pelo menos aqui no blog, publico.

Lady (lei de) Murphy


(para Stella Florence)

tá certo. o cara é gatinho, a mulher um sucesso... mas sinceramente assim não dá. eu já passei por isso e sei. não há
amor que resista. ou melhor, do meu ponto de vista 20 anos depois, não havia amor e ponto. p o n t o.
meu primeiro casamento foi exatamente assim. nos primeiros três meses, um furor. sexo aos montes, muito grito,
muito gozo. isto é, pra ele, porque eu, vocês sabem, só gozei muitos anos depois. pra ele principalmente à base de
muito mandrix, eram os oitenta. depois foram sete anos de tormento e o sexo, quase nenhum. meu primeiro
casamento foi exatamente assim. diferente do casalzinho vinte, ele me traia. e como não ganhava dinheiro, eu tinha
que pagar a conta do motel - no resumo do cartão de crédito - pra não prejudicar a contabilidade da firma. diferente
do casalzinho da mídia, não tivemos filhos. por um lado foi bom, me livrei dele de vez e não precisei (nunca mais)
compartilhar o fio dental. por outro, acabei sem... a childless woman. não deu mais. mas no divórcio, eu garanto, não
sofri. só senti alívio. vesti uma roupa nova e fui ao cinema, primeiro de maio de oitenta e cinco. não era pra menos,
depois de eu ter passado 2 anos repetidamente assassinando o amor antes do golpe final:
- fora daqui já, senão vou trocar a fechadura! ele foi.
me encontrei com ele no fim do ano passado, 26 anos exatos depois do nosso casamento. ele fazia 50, a mãe me
convidou. arrependidos os dois - ele das traições e mentiras, ela das maldadezinhas mesquinhas de sogra - me
homenagearam na hora do bolo. vai ver sentiram falta foi do prazer que poderiam ter tido caso o relacionamento
tivesse se salvado. caso ainda me tivessem na família como alternativa.
quanto a mim me salvei do atoleiro e não me arrependo. eu gostei. e perdoei. ainda bati com a cabeça mas fui
aprendendo aos poucos e hoje, sábado, depois de um gozo daqueles, com um novo marido que nem é assim tão novo

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nem tão recente, afirmo: não é uma questão de sexo. é uma questão de integridade humana, e de amor. um amor
adulto que se expressa (também) através do sexo. porque sem isso não dá. e não há Lady (lei de) Murphy* que
resista a um amor de verdade.

* o trocadilho não é meu, mas da Stella, em "O Diabo que te Carregue" - Rocco, 2006

26.3.06

militante
o problema com estas militâncias todas é o tempo. as listas do ...camente correto nos colocam num estado de
carência similar aos gerados pelas penitências medievais para salvação da alma. será que realmente salvam alguma
coisa?
fui vegetariana por dez anos, quando era difícil pros militantes do verde comer fora de casa. parecia bonito, poupar
os animais, alimentar os famintos, proteger a natureza, cuidar da saúde, etc. eu me sentia bem, me exercitava,
trabalhava, alto nível energético. moda nova na parada, comecei a correr. foi um deus nos acuda, um tal de lesão que
não curava, um cansaço que não passava... paro de correr ou começo a comer? dilema. alguns artigos no jornal
diziam que o homem foi feito pra correr. bom. estou correndo. outros afirmavam que a carne faz mal. bom. não
estou comendo. mas a mistura não me caiu bem. continuei correndo, deixei o vegetarianismo de lado, porque o
tempo é um problema e ninguém sabe o que vai acontecer com certas práticas depois de um prazo de análise
suficientemente longo. por um ano ou dois, everything goes, a máquina se sustenta... mas depois... vem daí - eu acho
- um dos motivos para os cotidianos desmentidos da imprensa médica. Linda McCartney morreu de câncer e nos
chocou a todos. e a cadeia alimentar na natureza é lei.
a verdade é que a gente sente culpa, e esta culpa é inoculada e reforçada em nós todo dia. agora mesmo com a
ameaça do aquecimento global: nota no jornal de hoje afirma que no próximo século a terra vai estar treze graus
mais quente e TODAS as florestas estarão destruídas. será? só o tempo dirá. eles podem dizer qualquer coisa porque
provavelmente daqui a cem anos ninguém de nós que lê hoje estará por aqui pra conferir. ou então com a afirmação
numa outra nota de que cintura acima de 80 cm (para mulheres) é risco certo, ameaça de obesidade. fui medir a
minha, deu 85! (pesquisas afirmam que em geral a cintura aumenta nas menopausadas) e olhem que eu estou bem
em forma para uma mulher de cinquenta, corredora e tal. mas já fui me sentindo culpada, suja. a um passo de me
tornar consumidora de mais alguma dieta idiota. porque hoje em dia tudo acaba em marketing e ser culpado virou
moda, então a gente se priva. se penintencia. se priva de certos alimentos, de certos prazeres... e se sente herói.
quando eu era vegetariana eu me sentia superior! vejam, sou capaz de me privar, não como isso, não faço aquilo, sou
o máximo. uma justiceira.
o problema é que a privação leva ao excesso num ciclo nada virtuoso e a gente fica rodopiando eternamente neste
carrossel, à deriva de nossas próprias sensações, jogados pra lá e pra cá pelas tendências vigentes.
a única saída para esta situação é o velho bom senso, o calejado caminho do meio, o consumo moderado e lógico
que não faz a fortuna de ninguém. sou a favor do ambientalismo local, da conservação da vizinhança, que inclui o
nosso próprio corpo. de descobrir pela gente mesmo o que nos faz bem e quais são os limites do bem-estar do outro.
eu acho esta propagação de verdades de hoje em dia muito abusiva. é por isso que eu ando optando por ser incorreta.
como diria o Alan, nishbar li*.

*hebr. nishbar li - me enchi

27.3.06

vaso ruim
mamãe chegou da praia cambaleante naquele dia. sala perigosa, tapetes persas com pontas enroladas no chão,
cerâmicas e bibelôs espalhados... mamãe tropeçou. a acompanhante amparou, mas lá se foi o vaso esmaltado que
veio da casa chique de Belo Horizonte, obra feita à mão por um decorador famoso que a mamãe apreciava, pra mim
73
80 centimetros de cafonice em gomos. joga o vaso fora, eu disse. mas meu irmão, apegado, não quis.
esta manhã fui lá colar o vaso com araldite. mistura a cola, encaixa, adere, a forma foi recuperada. mas o trabalho
ficou péssimo, cheio de rachaduras e marcas, bom pro lixo. uma alma alquebrada, como a da mamãe.
aliás a casa dela espelha bem a decadência da dona: a fórmica dos armários está solta, algumas portas caídas, sem
dobradiça. o piso sob a forração está podre, parte das torneiras fora de uso, algumas descargas, quebradas. o sofá,
puído. como se uma névoa fosse invadindo, engolindo a vitalidade e vomitando desânimo. esta batalha está perdida.
uma força de mulher, uma beleza de apê. vaso ruim quebra. quebra sim.

camarão com gergelim e queijo


ingredientes: 1/2 kg de camarão fresco miudinho aferventado com cebola, meio tomate e sal; 1 tomate fresco com a
pele e as sementes; 2 colheres de sopa de cream cheese; 1/2 cebola; 1/2 limão, 2 colheres de sopa de gergelim, sal e
páprika doce a gosto, shoyo; um marido apaixonado o quanto baste*
modo de fazer: descasque o camarão com cuidado para não deixar nenhum resíduo. suje as mãos caprichando nas
cascas enquanto você sente o seu marido se aproximar por trás, sem fazer nenhum ruído. continue descascando o
camarão enquanto ele te beija o pescoço, te acaricia as costas, os cabelos - tuas mãos firmes trabalhando - alguma
coisa crescendo junto ao teu shorte velho. o volume nas nádegas e as mãos acariciantes te envolvem. você diz: -
acho que vou ter que lavar as mãos. mas não tem importância, cheiro de camarão... vocês dois começam a rir.
esqueça os camarões meio descascados na pia e vá para o quarto. ligue o ar condicionado, dispa-se apressada, deixe
o arroz cozinhando em fogo baixo. língua, cona, pau, gemidos, beijos, em meia hora volte aos camarões cheia de
energia. misture o suco de um limão, gergelim, temperos. pique bem picadinhos a cebola e o tomate - com a pele
rubra e as sementes molhadinhas - e refogue no shoyo. acrescente o camarão e deixe cozinhar no fogo baixo.
acrescente o cream cheese e mexa com a colher de pau até dissolvê-lo completamente no molho. monte os pratos
com arroz integral clarinho e sirva num domingo ensolarado. um bom vinho e muito amor acompanham a tarde de
gozo. camarão com queijo rima com desejo. com o meu, pelo menos, rimou, e olhe que foi numa segunda-feira.

*caso não tenha este ingrediente disponível acrescente confiança no futuro e amor próprio. se o prato evocar energia suficiente
pra acordar o teu desejo, satisfaça-o. nada melhor que explorar os caminhos do teu próprio gozo enquanto você espera por um
amor de verdade

Companheiro Palocci
ainda não foi desta vez que o milagre aconteceu. caiu o último soldadinho de Lula. desta vez me decepcionei
mesmo, achei que o cara era íntegro, mas ele se vai deixando no seu rastro um cheiro ruim. a tsunami da corrupção
petista segue em frente levando as suas vítimas, ou melhor, os seus agentes, e vai deixando a praia cada vez mais
deserta.
o Brasil está ficando seco. toda a água disponível está sendo gasta absurdamente pra apagar este incêndio infindável
que o fenômeno Lula ateou às instituições. com a falta de líquido o país emperra. pára de fluir. pelo menos o
organismo seco é menos susceptivel a infecções, mas às vezes morre desidratado. o coração seca também,
cauterizando as ilusões. o que pelo menos nos protege de paixões inflamadas como a que levou Lula ao poder, uma
festa tão bonita, que pena. daqui pra frente pensar melhor no voto, o povo ficando maduro, adulto.
resta a esperança de que a corrupção arraigada acabe completamente revelada, desmontada, como uma fratura
exposta. porque a gente não agüenta mais. eu, pelo menos, não. e olhem que eu adoro este país... não houve green
card nem promessa de primeiro mundo que me tirasse daqui, acabei importando o meu gringo.
quem sabe chegamos ao ápice deste tormento... tchau, companheiro Palocci. companheiro meu é que não que eu não
compactuo com mentiras.

28.3.06

ética
não entendo nada de política. não tenho a menor paciência de ler as páginas de escândalos, planos econômicos,
corrupção.
74
eu deveria me restringir a escrever sobre o que eu sinto, meu cotidianozinho, minhas trepadas, minhas escapadas.
minhas receitinhas de bem-viver. acontece que hoje acordei incomodada. incomodada ficava a sua avó, dizia um
comercial, antigo, antigo, de absorvente íntimo. verdade. vovó ficava incomodada com os processos da natureza,
com a criação dos filhos, com a manutenção do lar. sem muita consciência da sua condição feminina, que dirá da sua
condição de cidadã, vida fácil, aquela. mas a consciência se expandiu, a informação vazou e fica difícil não
participar, não arriscar-se a dar palpite em tudo. tem alguma coisa me incomodando e é justamente num assunto
sobre o qual o meu conhecimento é mínimo: a ética.
eu entendo um pouco de bom senso, de boa vizinhança, mas reconheço que a vida contemporânea é bem mais
complexa. tão complexa que vem se afastando da verdade íntima de cada um e vamos ficando todos meio tontos.
a queda do Palocci, por exemplo, me deixou tonta. concordo com os artigos que li esta manhã, o sujeito agiu com
competência, segurou a peteca da economia, melhorou a posição do Brasil no quadro da confiança internacional. de
repente, a gente descobre que ele mente. que confiabilidade é essa? mente talvez porque existe um conflito crescente
entre o conforto íntimo e o conforto das instituições. e é isso que eu acho que está dando errado. ninguém mais sabe
como ser, simplesmente, honesto, sincero, bem-intencionado. um bom coração e uma mente ágil já não bastam.
um teste sobre ética na revista Veja desta semana também me deixou pasma. eu sempre me julguei honesta,
consciente, bacana. mas esse aqui é o espaço absoluto da verdade e eu confesso: muitas daquelas regrinhas eu
transgredi, e transgrido. já pedi pra pagar consulta médica sem recibo. os jeitinhos que eu encontro pra sobreviver
não são declarados no imposto de renda, incluída uma mesada da mamãe aos 54. não engordo a bolsa de traficantes
mas reconheço que muita gente boa que conheço precisa de uma ajudazinha alucinatória para continuar vivendo. não
costumo comprar de camelô mas não consigo considerar a pirataria de cds e softwares tão grave quanto um assalto à
mão armada.
conviver com dois pesos e duas medidas não é fácil. mas o edifício das instituições, das regras e leis foi ficando
complexo demais e se afastando da escala humana. o pior de tudo é que se presta a desvios escusos. gente bem mais
desonesta que nós sabe encontrar espaço pra tirar o seu naquinho.
o nível de informação à disposição do indivíduo cresce mas a dúvida sobre como usá-la nos deixa perplexos. eu
estou. na minha tentativa de ser sempre impecável já me enganei muitas vezes, e na minha pequeníssima empresa se
eu for atender a todas as minhas obrigações, sufoco. desisto, pra não morrer deste jeito. melhor eu me limitar a ser
artista e contratar um especialista pra cuidar das contas. e pagar o salário dele? como?
acho simpática aquela antiga idéia transgressora de desobediência civil, uma estratégia pra adaptar a lei ao cotidiano
real. mas confesso não saber mais o que está certo, o que está errado em termos de convivência social. quando eu
sinto que existe um abuso, cometo o crime da autodefesa. e pago a conta com desconto porque meus recursos são
parcos.
uma idéia seria estabelecer um limite mínimo para a obrigatoriedade de prestar contas, um território livre. eu sei que
isso já existe, mas na prática, por exemplo, uma pessoa como eu não tem direito a isenções. tenho um imóvel no
meu nome que não me pertence. sou empresária de faturamento mínimo mas estou sempre resvalando pra fora dos
limites por motivos alheios ao lucro insignificante do meu negócio. acho que a qualificação deveria ser voluntária.
eu, por exemplo, me candidato a viver com menos de x contanto que eu tenha liberdade de ação e nenhuma
obrigação a declarar. o que certamente demandaria um nível de honestidade mais alto do que existe por aí... quem
sabe isto se desenvolve espontaneamente se houver oportunidade... e alguma vantagem. a máquina do estado ficaria
bem mais leve, mais barata. no nosso país acredito que uns 80% da população se encaixa abaixo deste mínimo. o
que a gente ganha ou paga pouco influencia as grandes movimentações financeiras... calma, gente, é só uma idéia.
porque certamente a nossa noção de ética anda francamente abalada com o que a gente vê. o brasileiro médio,
praticante do jeitinho, é em geral um cidadão de bem. a gente merece viver com a consciência em paz.

31.3.06

jogando nas onze

não, não resolvi viajar na última hora. chegou o dia do eclipse e eu resfriadíssima, mesmo que eu tivesse a
passagem... teria sido difícil, ou então continuei resfriada pra me sentir menos triste. o Alan é que com seu
pessimismo perdeu a aposta e eu não perdôo. não choveu em Natal e eu já disse pra ele: pra perdoar, só se
75
estivermos juntos daqui a onze anos no dia 21 de agosto ao meio-dia sob qualquer céu ensolarado americano, para
ver o próximo.

pelo sim pelo não acordei cedinho pra ver o sol nascer da minha varanda e lá estava ele, lindo, na versão parcial
carioca: um sol mordido de leve, parcialmente encoberto pelas nuvens. eclipse parcial, sucesso parcial, desejo
parcialmente satisfeito, porque se a gente não pode ter tudo na vida o melhor é se contentar com o que se tem, certo?
sei lá. acho que não está certo não, mas paciência, foi este o efeito do eclipse esta semana em minha vida. vou
conseguindo o que dá, deixando um pouco de lado meu sonho de dedicar-me totalmente à literatura. daqui pra
frente, sigo jogando nas onze (espero que por menos de onze anos), deixando a literatura me ocupar como o eclipse
do sol no Rio: em versão parcial, embora no coração a dedicação seja total.
tomada a decisão parece que acordei de um longo - ahn, pesadelo não - estupor. eu tenho esta mania de ser radical,
desde criancinha é tudo ou nada. ou sou isso, ou sou aquilo, mas a vida real nunca acontece em alto contraste,
sempre em meio tom. ou, de acordo com a nova era da fotografia digital, em milhares de tons e ainda por cima quase
instantânea.
quanto ao Diário... sosseguei o facho. entrei em todas as filas editoriais e me preparei pra longa espera, fazer o quê?
enquanto espero vou esmaecendo as sombras, ajustando o amor, afinando a comunicação. quando for pro prelo
prometo estar pronta e não haverá eclipse que apague o meu brilho...
enquanto isso vou satisfazendo parcialmente a minha fome de audiência, e é por isso que o Manual do Orgasmo está
virando e-book. Divirtam-se!

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