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TIPOS DE CONHECIMENTOS

Gilberto Teixeira ,Prof.Doutor (FEA/USP)

Conhecer é incorporar um conceito novo, ou original, sobre um fato ou fenômeno


qualquer. O conhecimento não nasce do vazio e sim das experiências que acumulamos em
nossa vida cotidiana, através de experiências, dos relacionamentos interpessoais, das
leituras de livros e artigos diversos.
Entre todos os animais, nós, os seres humanos, somos os únicos capazes de criar e
transformar o conhecimento; somos os únicos capazes de aplicar o que aprendemos, por
diversos meios, numa situação de mudança do conhecimento; somos os únicos capazes de
criar um sistema de símbolos, como a linguagem, e com ele registrar nossas próprias
experiências e passar para outros seres humanos. Essa característica é o que nos permite
dizer que somos diferentes dos gatos, dos cães, dos macacos e dos leões.
Ao criarmos este sistema de símbolos, através da evolução da espécie humana,
permitimo-nos também ao pensar e, por conseqüência, a ordenação e a previsão dos
fenômenos que nos cerca.
Existem diferentes tipos de conhecimentos:

1 - Conhecimento Empírico (ou conhecimento vulgar, ou senso-comum)


É o conhecimento obtido ao acaso, após inúmeras tentativas, ou seja, o conhecimento
adquirido através de ações não planejadas.

Exemplo:
A chave está emperrando na fechadura e, de tanto experimentarmos abrir a porta,
acabamos por descobrir (conhecer) um jeitinho de girar a chave sem emperrar.

2 - Conhecimento Filosófico
É fruto do raciocínio e da reflexão humana. É o conhecimento especulativo sobre
fenômenos, gerando conceitos subjetivos. Busca dar sentido aos fenômenos gerais do
universo, ultrapassando os limites formais da ciência.

Exemplo:
"O homem é a ponte entre o animal e o além-homem" (Friedrich Nietzsche)

3 - Conhecimento Teológico
Conhecimento revelado pela fé divina ou crença religiosa. Não pode, por sua origem, ser
confirmado ou negado. Depende da formação moral e das crenças de cada indivíduo.

Exemplo:
Acreditar que alguém foi curado por um milagre; ou acreditar em Duende; acreditar em
reencarnação; acreditar em espírito etc..

4 - Conhecimento Científico
É o conhecimento racional, sistemático, exato e verificável da realidade. Sua origem
está nos procedimentos de verificação baseados na metodologia científica. Podemos então
dizer que o Conhecimento Científico:
- É racional e objetivo.
- Atém-se aos fatos.
- Transcende aos fatos.
- É analítico.
- Requer exatidão e clareza.
- É comunicável.
- É verificável.
- Depende de investigação metódica.
- Busca e aplica leis.
- É explicativo.
- Pode fazer predições.
- É aberto.
- É útil (GALLIANO, 1979, p. 24-30).
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Exemplo:
Descobrir uma vacina que evite uma doença; descobrir como se dá a respiração dos
batráquios

O que é Teoria do Conhecimento?

Roderick Chisholm

A reflexão sobre a natureza do nosso conhecimento dá origem a uma série de


desconcertantes problemas filosóficos, que constituem o assunto da teoria do
conhecimento, ou Epistemologia. A maior parte desses problemas foi debatida pelos gregos
antigos e, ainda hoje, a concordância é escassa sobre a maneira como deveriam ser
resolvidos ou, no caso de tal não ser possível, abandonados. Descrevendo os temas dos sete
capítulos que se seguem , poderemos dar a entender, de modo geral, a natureza desses
problemas.

1 ) Qual é a distinção entre conhecimento e opinião verdadeira? Se um homem teve um


palpite acertado ("Eu diria que é o sete de ouros"), mas não sabe realmente; e outro homem
sabe, mas não diz, e não precisa adivinhar; o que é que o segundo homem tem (se assim
podemos dizer) que falta ao primeiro? Pode-se dizer, é claro, que o segundo homem tem a
prova evidente e que o primeiro não a tem, ou que algo é evidente para um que não é para
o outro. Mas o que é prova evidente e como decidiremos, em qualquer caso determinado, se
temos ou não prova?

Essas perguntas têm suas análogas tanto na Filosofia Moral como na Lógica. O que significa
um ato estar certo e como decidiremos, em qualquer caso determinado, se um certo ato
está certo ou não? O que significa uma inferência ser válida e como decidiremos, num
determinado caso, se uma dada inferência é ou não válida?

2 ) A nossa prova para algumas coisas, ao que parece, consiste no fato de termos provas
para outras coisas. "A minha prova de que ele cumprirá sua promessa é o fato dele ter dito
que cumpriria a sua promessa. E a minha prova de que ele disse que cumpriria a sua
promessa é o fato de que. . ." Devemos dizer de tudo aquilo para o que temos prova que a
nossa prova consiste no fato de termos prova para alguma outra coisa? Se tentarmos
formular, socraticamente, a nossa justificação para qualquer pretensão particular de
conhecimento ("A minha justificação para pensar que sei que A é o fato de que B" ) e se
formos inexoráveis em nossa investigação ("e a minha justificação para pensar que sei que
B é o fato de que C"), chegaremos, mais cedo ou mais tarde, a uma espécie de fim de linha
("mas a minha justificação para pensar que sei que N é simplesmente o f ato de que N" ) .
Um exemplo de N poderá ser o fato de que me parece recordar que já estive aqui antes ou o
fato de que alguma coisa, agora, me parece azul.

Esse tipo de interrupção pode ser descrito de duas maneiras bastante diferentes.
Poderíamos dizer: "Há certas coisas (por exemplo, o fato de que me parece recordar ter aqui
estado antes) que são evidentes para mim e que o são de tal forma que a minha prova de
evidência para essas coisas não consiste no fato de haver certas outras coisas que são
evidentes para mim". Ou poderíamos dizer, alternativamente: "Há certas coisas (por
exemplo, o fato de que me parece recordar ter aqui estado antes) das quais não se pode
dizer que sejam evidentes, em si mesmas, mas que se parecem com o que se pode
considerar evidente, na medida em que funcionam como prova evidente para certas outras
coisas." Essas duas formulações apenas pareceriam diferentes verbalmente. Se adotarmos
a primeira, poderemos afirmar que algumas coisas são diretamente evidentes.

3 ) As coisas que ordinariamente dizemos que conhecemos não são coisas, portanto,
"diretamente evidentes". Mas, ao justificarmos a pretensão de conhecimento de qualquer
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uma dessas coisas particulares, podemos ser levados de novo, da maneira descrita, às
várias coisas que são diretamente evidentes. Deveríamos dizer, portanto, que o conjunto
daquilo que conhecemos, em qualquer momento dado, é uma espécie de "estrutura", que
tem seu "fundamento" no que acontece ser diretamente evidente, nesse momento? Se
dissermos isso, deveremos estar então preparados para explicar de que maneira esse
fundamento serve de apoio ao resto da estrutura. Mas essa questão é difícil de responder,
visto que o apoio dado pelo fundamento não seria dedutivo nem indutivo. Por outras
palavras, não é o gênero de apoio que as premissas de um argumento dedutivo dão à sua
conclusão, nem é o gênero de apoio que as premissas de um argumento indutivo dão à sua
conclusão. Pois

, se tomarmos como nossas premissas o conjunto do que é diretamente evidente em


determinado momento, não podemos formular um bom argumento dedutivo, nem um bom
argumento indutivo, em que qualquer das coisas que ordinariamente dizemos que
conhecemos apareçam como uma conclusão. Portanto, talvez se dê o caso de, além das
"regras de dedução" e das "regras de indução", existirem também certas "regras de
evidência" básicas. 0 lógico dedutivo tenta formular o primeiro tipo de regras; o lógico
indutivo, o segundo; e o epistemologista procura formular as regras do terceiro tipo.

4) Pode-se perguntar: "0 que é que sabemos? Qual é a extensão do nosso conhecimento?"
Poder-se-á também perguntar: "Como decidir, em qualquer caso particular, se sabemos ou
não? Quais são os critérios de conhecimento, se porventura existem?" 0 "problema do
critério" resulta do fato de que, se não tivermos resposta para o segundo par de perguntas,
não disporemos, nesse caso, aparentemente, de um procedimento razoável para encontrar
resposta para o primeiro; e, se não tivermos resposta para o primeiro par de perguntas, não
teremos então, aparentemente, um processo razoável de encontrar a resposta do segundo.
0 problema poderá ser formulado mais especificamente para diferentes matérias - por
exemplo, o nosso conhecimento (se houver) de "coisas externas", "outros espíritos", "certo
e errado", as "verdades da Teologia". Muitos filósofos, aparentemente sem razão suficiente,
abordam algumas dessas versões mais específicas do problema do critério segundo um
ponto de vista, ao passo que outros as encaram de um ponto de vista muito diferente.

5) 0 nosso conhecimento (se houver) do que por vezes denominamos as "verdades da


razão" - as verdades da Lógica e da Matemática e o que se expressa por "Uma superfície
que é toda vermelha também não é verde" - dota-nos com um exemplo particularmente
instrutivo do problema de critério. Alguns filósofos acreditam que qualquer teoria
satisfatória do conhecimento deve ser adequada ao fato de que algumas das verdades da
razão, tal como tradicionalmente são concebidas, não estão entre as coisas que
conhecemos. Outros, ainda, procuram simplificar o problema afirmando que as chamadas
"verdades da razão" só pertencem realmente, de algum modo , , a maneira como as
pessoas pensam ou a maneira como empregam sua linguagem. Mas, uma vez que essas
sugestões sejam equacionadas com precisão, logo perdem toda e qualquer plausibilidade
que aparentemente tenham tido, no começo.

6) Outros problemas da teoria do conhecimento poderiam designar-se, apropriadamente,


por "metafísicos". Abrangem certas questões sobre as maneiras como as coisas nos
parecem. As aparências que as coisas apresentam para nós quando, digamos, as
percebemos, parecem ser subjetivas na medida em que dependem, para a sua existência e
natureza, do estado do cérebro. Este simples fato levou os filósofos, talvez com excessiva
facilidade, a estabelecerem algumas conclusões extremas. Alguns afirmaram que as
aparências das coisas externas devem ser duplicatas internas dessas coisas - que, quando
um homem percebe um cão, uma tênue réplica do cão é produzida dentro da cabeça do
homem. Outros disseram que as coisas externas devem ser bastante distintas do que
ordinariamente aceitamos que elas sejam - que as rosas não podem ser vermelhas quando
ninguém está olhando para elas. Ainda outros afirmaram que as coisas físicas devem-se
compor, de algum modo, de aparências; e houve também quem dissesse que «s aparências
devem ser compostas, de algum modo, de coisas físicas. 0 problema levou até alguns
filósofos a indagarem se existirão coisas físicas e outros, mais recentemente, a indagarem
se existirão aparências.
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7 ) 0 "problema da verdade" poderá parecer um dos mais simples da teoria do
conhecimento. Se dissermos a respeito de um homem, `'Ele acredita que Sócrates é
mortal", e depois acrescentarmos, "E o que é mais, sua crença é verdadeira", então o que
acrescentamos não é, certamente, mais do que isto: Sócrates é mortal. E "Sócrates é
mortal" diz-nos tanto quanto "é verdade que Sócrates é mortal". Mas que aconteceria se
disséssemos, a respeito de um homem, que algumas de suas crenças são verdadeiras, sem
especificarmos que crenças? Que propriedade, nesse caso, estaríamos atribuindo à sua
crença?

Suponha-se que dizemos: "0 que ele está dizendo agora é verdade", quando acontece que o
que ele está dizendo agora é o que nós estamos agora dizendo que é falso, seja o que for.
Nesse caso, estaremos dizendo algo que é verdadeiro ou dizendo algo que é falso?

Finalmente, qual é a relação entre as condições da verdade e os critérios de evidência?


Somos boas provas, presumivelmente, para acreditar que existem nove planetas. Essa
prova consiste em vários outros fatos que conhecemos a respeito de Astronomia, mas não
inclui, em si, o fato de que existem nove planetas. Pareceria logicamente possível, portanto,
que um homem tivesse boas provas para uma crença que, não obstante, é uma crença que
é falsa. Significará isso que o fato de existirem nove planetas, se porventura for um fato, é
realmente algo que não pode ser evidente? Deveríamos dizer, portanto, que ninguém sabe,
realmente, se existem nove planetas? Ou deveríamos dizer que, embora seja possível saber
que existem nove planetas. não é possível saber que sabemos existirem nove planetas? Ou
as provas de que dispomos para acreditar que existem nove planetas garantem, de algum
modo, que a crença é verdadeira e garantem, portanto, que há nove planetas?

Tais questões, e problemas como esses, constituem o assunto da teoria do conhecimento.


Um certo número deles, como o leitor já sentirá, é simplesmente o resultado de confusão; e,
uma vez exposta a confusão, os problemas desaparecem. Mas outros, como este livro
pretende mostrar, são um tanto mais difíceis de tratar.

In Chisholm, R. M. (1966): Teoria do Conhecimento, Rio de Janeiro: Zahar, pgs. 11-15.

"TEORIA DO CONHECIMENTO - GNOSIOLOGIA"

O fenómeno do conhecimento é, ao mesmo tempo, um dos mais banais e dos mais


difíceis de esclarecer. Pode dizer-se que desde que o homem é homem houve
acontecimentos, mas só já numa fase adiantada da evolução humana é que se reflectiu
sobre o próprio acto de conhecer.

De princípio, conhecem-se simplesmente as coisas e julga-se que elas se conhecem tais


como são; não se pensa no acto do espírito pelo qual se obtém o conhecimento. Mais tarde,
o homem verificou que os sentidos e a própria inteligência erravam e, por isso, começou a
desconfiar e a pôr em dúvida o valor do seu conhecimento. Foi esta experiência do erro que
obrigou o espírito a voltar-se das coisas para si próprio, a fim de analisar o próprio acto de
conhecimento, saber o que ele é, determinar a sua essência, descobrir o seu mecanismo e
resolver o problema do seu valor. Esta marcha crítica, quanto ao conhecimento, é obra
essencialmente filosófica e só apareceu, quando o espírito humano atingiu um certo
desenvolvimento - foi destas reflexões que nasceu a teoria do conhecimento ou gnosiologia,
que se designa geralmente por problema crítico.

A teoria do conhecimento tem precisamente por objecto o estudo da possibilidade do


conhecimento, da sua origem da sua natureza ou essência, do seu valor e limites e, ainda,
do problema da verdade. O acto de conhecer é a actividade do espírito pela qual se
representa um objecto ou uma realidade. É um acto do espírito e não uma simples reacção
automática mais ou menos adaptada às circunstâncias; não é propriamente um acto de

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conhecimento o sentar-me na cadeira, mas sim o saber porque me sento e como me sento.
O resultado do acto de conhecer é uma representação e, portanto, conhecer é representar
alguma coisa distinta do sujeito que conhece.

Há, por conseguinte, no conhecimento três elementos: o sujeito que conhece, o objecto
conhecido e a relação sujeito - objecto. Este objecto pode ser exterior ao sujeito, como
por exemplo, a caneta com que escrevo; pode ser interior, como a maior tristeza ou o meu
pensamento; e pode, ainda, identificar-se com o próprio sujeito, como ao procurar conhecer-
me a mim próprio. Mas mesmo no caso de identificação do sujeito com o objecto, não
deixam de existir aí os três elementos referidos, pois o "eu" que é conhecido apresenta-se
ao "eu' conhecedor como uma realidade distinta, mas em relação com ele.

A história da filosofia mostra-nos que os problemas do conhecimento interessaram mais


ou menos todos os filósofos desde a velha Grécia, mas sem constituírem uma parte
autónoma da filosofia. Com efeito, a teoria do conhecimento ou gnosiologia, como disciplina
própria, só apareceu na Idade Moderna, a partir de Locke, que, no seu livro "Ensaio sobre o
entendimento humano", tratou directamente da origem, natureza e valor do conhecimento.
Desde então, a teoria do conhecimento mereceu as atenções de muitos filósofos que nela
têm visto uma das partes da filosofia, com o seu valor e lugar próprio no conjunto dos
problemas filosóficos.

A teoria do conhecimento abrange, portanto os seguintes problemas:

1- Possibilidade do conhecimento: É possível conhecer a verdade e possuir a certeza?


Ou, ao contrário não podemos passar as dúvida?- Dogmatismo, Cepticismo, Criticismo.

2- Origem do conhecimento - o nosso conhecimento procede apenas da experiência? Ou


só da razão que usa certos dados chamados apriorísticos para organizar a experiência ? Ou
ainda procederá o conhecimento da experiência e da razão ? - Empirismo, Racionalismo e
Empírico-racionalismo.

3- Natureza ou essência do conhecimento - o conhecimento será uma representação


ou modificação do sujeito, provocado pelos objectos existentes, independentemente do
sujeito conhecedor ? Ou uma modificação puramente subjectiva criada pela consciência? -
Realismo e Idealismo.

"(...) Quando se atenta no mundo que nos rodeia, não pode negar-se que ele aparece como
uma inata variedade de fenómenos e de relações em movimento perpétuo.

Um número infinito de fenómenos e de relações, agindo uns sobre os outros e a que nem o
homem escapa - tudo está no todo que flui -, eis o que uma observação atenta não pode
deixar de revelar.

Porém, isso far-nos-á desesperar de conhecer, de saber se é possível conhecer o mundo


externo ? Terá de levar-nos à conclusão de que o homem é prisioneiro do seu próprio
pensamento, sem possibilidade de conhecer o universo que o rodeia ? É claro que não.

Neste momento registemos esta primeira conclusão que nos leva a outra - é que o
conhecimento é um processo, um processo complexo em que há, por um lado, o homem com
o seu pensamento e, por outro, dele desligado, o universo externo. (... ) O conhecimento é um
processo. Nele podem, porém, distinguir-se várias fases com aspectos qualitativos diversos
(fisiológicos, psíquicos, lógicos). Da sensação à percepção, da imagem captada por esta à
elaboração racional, e depois à acção material do homem, à sua prática individual e à prática
social conjunta, tanto acumulada ao longo do tempo como de uma colectividade em dada
fase da sua evolução, eis o conjunto de elementos que se integram para produzir o
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conhecimento.

A Castro, A Evolução Económica de Portugal

1- O PROBLEMA DA POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO:

Reflectir sobre o conhecimento consiste em questionar o mesmo, o que significa que a


própria problematização do conhecimento implica também questionar o valor dos
conhecimentos humanos, ou seja, indagar sobre os critérios que permitem reconhecer uni
conhecimento como verdadeiro. O que é que assegura ao homem que dado conhecimento é
verdadeiro e não falso ? O homem pode conhecer a realidade e ter a certeza daquilo que
conhece ?

Qual é então o critério que lhe permite reconhecer a verdade ?

A estas questões os filósofos foram respondendo de modos diferentes, dando origem a


diferentes concepções teóricas, das quais se destacam duas teorias opostas: uma afirmativa
- o Dogmatismo -, e outra negativa - o Cepticismo.

1.1 O Dogmatismo

O dogmatismo é a doutrina que admite a possibilidade do conhecimento certo. Assim como


o realismo é a atitude natural do homem face ao mundo, o mesmo é válido para o
dogmatismo: a percepção de um qualquer objecto leva-o a crer, naturalmente, na existência
do mesmo não pondo sequer a dúvida de que o conhecimento desse objecto possa ser
posto em causa.

O dogmatismo corresponde, portanto, à atitude de todo aquele que crê que o homem tem
meios para atingir a verdade, assim como para ter a certeza de que a alcançou, pois
considera que existem critérios que lhe permitem distinguir o verdadeiro do falso, o certo do
duvidoso. O dogmático não se confronta com a dúvida, na medida em que não problematiza
o conhecimento, ele parte simplesmente do pressuposto da possibilidade do conhecimento,
tomando este como um dado adquirido, como algo que nem sequer é posto em
questão.

"Dogmatikós em grego significa , "que se funda em princípios" ou ,é relativo a uma doutrina.


(... ) Dogma é um ponto fundamental e indiscutível de uma doutrina religiosa. Na religião
cristã, por exemplo, há o dogma da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), a qual
não deve ser confundida com a existência de três deuses, pois se trata apenas de um Deus é
uno . Não importa se a razão não consegue entender, já que é um princípio aceite pela fé e o
seu fundamento é a revelação divina. (... ) Quando transpomos esta ideia de dogma para
áreas estranhas à religião, ela passa a ser prejudicial ao homem que, uma vez, na posse da
verdade, se fixa nela e abdica de continuar a busca. O mundo muda, os acontecimentos
sucedem-se e o homem dogmático permanece petrificado nos conhecimentos dados de uma
vez por todas. Refractário ao diálogo, teme o novo e não raro torna-se intransigente e
prepotente. Disse Nietzsche filósofo alemão do século XIX, que "as convicções são prisões".
Quando o dogmático resolve agir, o fanatismo é inevitável. Em nome do dogma da raça
ariana, Hitler cometeu o genocídio dos judeus nos campos de concentração."

Aranha, e Martins, Filosofando - Introdução à Filosofia

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"Dogma em grego significa, o que se manifesta como bom, opinião, decreto, doutrina. (...) Em
filosofia, contudo, nunca a autoridade é, só por si, argumento decisivo: a própria verdade
necessita de uma fundamentação interna que satisfaça as exigências da razão. Por isso, o
termo adquiriu, frequentemente, sentido pejorativo, significando a adesão a alguma doutrina,
sem prévia fundamentação crítica. O problema levantou-se. sobretudo, a propósito do
problema gnosiológico.(...)"

Fragata, J."Dogmatismo " in Enciclopédia Logos, p. 145

A atitude habitual do homem comum é, de certo modo, próxima do dogmatismo.


Habitualmente, não nos questionamos acerca do valor do conhecimento, não pomos em
causa a nossa capacidade para estabelecer a verdade em determinadas áreas, não
procuramos indagar da possibilidade da relação cognitiva sujeito-objecto e dos fundamentos
dessa relação cognitiva. Para o senso comum, aquele conhecimento vulgar e banal,
superficial e acrítico, a existência do objecto em si não é questionada, nem sequer a
adequação ou inadequação do nosso conhecimento sensivel a esse objecto: "O senso
comum responde logo que sim, que esse algo existe".

1.2 O Cepticismo:

O cepticismo é uma atitude pessimista que o homem tem face à possibilidade de poder
alcançar um conhecimento verdadeiro; é a doutrina segundo a qual o espírito humano não
pode atingir qualquer verdade com certeza absoluta. O cepticismo, na sua forma radical,
nega totalmente a capacidade do sujeito para conhecer algo verdadeiramente, o que acaba
por ser uma posição insustentável e contraditória, pois ao afirmar a impossibilidade de
alcançar um conhecimento verdadeiro, está já a supor uma verdade - a verdade de que não
há nada de verdadeiro.

Esta posição foi assumida, pela primeira vez, por volta de 270 a.C., por Pirrón. Este pensava
que nada pode ser considerado verdadeiro ou falso, bom ou mau, belo ou feio, uma vez que
o espírito é incapaz de afirmar ou negar seja o que for, por falta de motivos sólidos para o
fazer. É, pois, de evitar afirmar ou negar o que quer que seja, isto é, deve suspender-se o
juízo (epoché).

Já na Idade Moderna, Montaigne e Hume manifestaram uma atitude céptica; o primeiro no


campo da reflexão ética, o segundo quanto à metafísica. De facto, o empresta David Hume,
ao reduzir o conhecimento possível aos limites do observável (da experiência), nega a
possibilidade de se atingir a certeza e a verdade reduzindo o conhecimento à probabilidade
e plausibilidade.

"Skepticós em grego significa "que observa", "que considera". O céptico tanto observa e
tanto considera, que conclui pela impossibilidade do conhecimento. Confrontando as diversas
filosofias, percebe que são diferentes e ás vezes contraditórias, concluindo que é impossível
aderir a qualquer uma delas.

Enquanto o dogrnático se apega à certeza de uma doutrina, o céptico conclui pela


impossibilidade de toda a certeza e, neste sentido, considera inútil esta busca infrutífera que
não leva a lugar nenhum. "

Aranha, e Martins o.p.citad


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1.2.1 David Hume e o Cepticismo:

(...) É pois em vão que tentaremos determinar um só acontecimento, ou descobrir uma causa
ou um efeito sem o auxílio da observação e da experiência.

Podemos, a partir daí, descobrir a razão pela qual nenhuma filosofia razoável e modesta
conseguiu alguma vez indicar a causa última de uma operação natural, nem mostrar
claramente a acção do poder que produz um só efeito no universo. Há acordo geral quando se
afirma que o esforço último da razão humana é o de reduzir os princípios que produzem os
fenómenos naturais a uma maior simplicidade e os numerosos efeitos particulares a um
pequeno número de causas gerais por meio de raciocínios tirados da analogia, da experiência
e da observação. Mas será em vão que tentaremos descobrir as causas destas causas gerais;
e nunca ficaremos satisfeitos com uma explicação particular. Estas causas e estes princípios
últimos serão sempre completamente subtraídos à curiosidade e investigação do homem.»

D. Hume, Ensaio sobre o entendimento humano,

2- O PROBLEMA DA ORIGEM DO CONHECIMENTO:

De onde nos vêm as representações que nos servimos para compreender a realidade? De
onde procede, fundamentalmente, o conhecimento ? Para que o conhecimento se possa
considerar um autêntico conhecimento, é preciso que seja universal e necessário e, ao
mesmo tempo, se aplique à realidade, que é singular e contingente. De onde deriva o
conhecimento, de modo a satisfazer estas duas condições ? Se procede apenas da
experiência satisfará a segunda, mas não a primeira - se é obtido só pela razão, terá
carácter universal e necessário, mas não valerá da realidade.

Foi esta dificuldade que dividiu todos os filósofos em duas correntes opostas Empirismo e
Racionalismo -, que o Empírico - Racionalismo procura conciliar. O Empirismo diz-nos que o
conhecimento provém fundamentalmente da experiência sensível e a esta se reduz, não
podendo elevar-se acima dos dados experimentais - por isso se diz que o conhecimento é "a
posteriori". O Racionalismo, pelo contrário, valoriza, sobretudo a razão, que organiza, unifica
e dá sentido aos dados recebidos espontaneamente da consciência. O Racionalismo, não
encontrando na experiência, singular e concreta, explicação para o carácter geral e
abstracto do conhecimento, afirma que a razão recebe certas ideias gerais que lhe servem
para conhecer a realidade, ou cria certos dados chamados apriorísticos, com os quais
organiza e interpreta a experiência - por isso se diz que o conhecimento é "a priori".
Finalmente, a corrente Empírico-racionalista afirma que o conhecimento procede da
experiência, mas não se reduz à experiência, para estes o conhecimento resulta dum
processo de transformação de uma matéria prima dada pelos sentidos e elaborada pela
capacidade organizacional do sujeito.

2.1 O Racionalismo:

Descartes, Leibniz e Spinoza são alguns dos representantes do racionalismo. Esta doutrina
filosófica afirma que o conhecimento humano tem a sua origem na razão, que possui, ou
representações inatas, ou capacidade de criar representações (Ideias gerais) dos objectos,
às quais a realidade se submete. Deste modo, é sobre as ideias inatas que (segundo

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Descartes são as únicas que obedecem ao critério da clareza e da distinção) se constitui um
conhecimento que pode ser considerado verdadeiro porque logicamente necessário e
universalmente válido.

Os juízos determinados pela experiência não apresentam essas características, por isso,
concluem os racionalistas, o verdadeiro conhecimento não pode fundamentar-se na
experiência, mas sim na razão.

A matemática, um conhecimento predominantemente conceptual e dedutivo, é o modelo de


conhecimento que serviu de base à interpretação racionalista, pois todos os conhecimentos
matemáticos derivam de alguns conceitos gerais tomados como ponto de partida dos quais
se concluem todos os outros, de acordo com as leis do pensar correcto, que foram definidas,
como sabemos, pela ciência da lógica.

2.2 O Empirismo:

Enquanto que os filósofos racionalistas adoptam as matemáticas como o modelo de


conhecimento a construir, Locke, Berkeley e Hume adoptam as ciências experimentais como
modelo de conhecimento. Daí que todo o conhecimento comece pelos dados oriundos da
experiência sensível, ao mesmo tempo que negam que a razão possua ideias inatas.

Vejamos agora um texto muito célebre, no qual Locke retoma a antiga tese da alma como
"tábua rasa", na qual só a experiência inscreve conteúdos:

"Admitamos pois que, na origem, a alma é como que uma tábua rasa, sem quaisquer
caracteres, vazia de ideia alguma: como adquire ideias? Por que meio recebe essa imensa
quantidade que a imaginação do homem, sempre activa e ilimitada, lhe apresenta com uma
variedade quase infinita? Onde vai ela buscar todos esses materiais que fundamentam os
seus raciocínios e os seus conhecimentos? Respondo com uma palavra: à experiência. É essa
a base de todos os nossos conhecimentos e é nela que assenta a sua origem. As observações
que fazemos no que se refere a objectos exteriores e sensíveis ou as que dizem respeito às
operações interiores da nossa alma, que nós apercebemos e sobre as quais reflectimos, dão
ao espírito os materiais dos seus pensamentos. São essas as duas fontes em que se baseiam
todas as ideias que, de um ponto de vista natural, possuímos ou podemos vir a possuir."

John Locke, Essay concerning human understanding, Collins, Livro 1, cap. II, p. 68

De facto, os empiristas, para justificarem a sua posição, vão buscar os argumentos às


ciências experimentais, à evolução do pensamento e do conhecimento humanos. Ou seja, se
as ideias fossem inatas, como pretendem os racionalistas, como justificar a sua ausência
nas crianças? Por outro lado, nas ciências experimentais o conhecimento resulta da
observação dos factos, na qual a experiência desempenha um papel fundamental. Deste
modo, os empiristas são levados a privilegiar a experiência em detrimento da
razão.

2.3 O EMPÍRICO - RACIONALISMO:

Nem o racionalismo nem o empirismo são respostas totais aos problemas que pretendem
resolver. O racionalismo opõe-se ao empirismo, e a doutrina empírico-racionalista
representa uma tentativa de estabelecer a mediação entre estas duas, afirmando que o
conhecimento se deve à comparticipação da experiência e da razão.

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O maior representante desta corrente é Kant, um filósofo alemão do séc. XVIII, que
abordou a questão da origem do conhecimento procurando conciliar as duas doutrinas
acima referidas - de facto, para Kant, todo o conhecimento começa na e pela experiência,
mas não se limita a ela. Os elementos múltiplos, diversos e contingentes fornecidos pela
experiência são integrados em conceitos que o próprio entendimento possui a priori. Deste
modo, a experiência fornece a matéria, o conteúdo do conhecimento, enquanto que o
entendimento lhe dá uma certa forma; o que significa que o conhecimento é sempre o
resultado da junção de uma forma com uma matéria.

2.3.1 O apriorismo ou criticismo de Kant

Kant vai analisar criticamente ambas as doutrinas - o racionalismo e o empirismo -,


concluindo da insuficiência de cada uma delas, se perspectivadas de um ponto de vista
disjuntivo. Porém, se se conciliarem, talvez resolvam mais satisfatoriamente os problemas.

Kant considera, pois, que o conhecimento não pode fundamentar-se unicamente na


razão, como pretendiam os racionalistas, mas também não pode reduzir-se
unicamente aos dados da experiência. Esta é antes fonte dos dados recebidos pela
nossa sensibilidade, mas devidamente organizados por determinados conceitos existentes
no nosso conhecimento, conceitos que não derivam da experiência, pois são-lhe
independentes o anteriores - são os conceitos puros do entendimento, a priori, e daí
chamar-se apriorismo à doutrina desenvolvida por Kant. Então, para Kant, o conhecimento é
como que o resultado de um processo de transformação de uma matéria prima dada pela
experiência e apreendida pelo entendimento como tendo determinada significação.

"0 nosso conhecimento procede de duas fontes fundamentais do espírito: a primeira é o


poder de receber as representações (a receptividade das impressões), a segunda, o de
conhecer o objecto por meio dessas representações (espontaneidade dos conceitos). Pelo
primeiro, um objecto é-nos dado; pelo segundo, ele é pensado em relação com esta
representação (como simples determinação do espírito). Intuição e conceitos constituem,
portanto, os elementos de todo o nosso conhecimento; de maneira que nem os conceitos sem
uma intuição que lhes corresponda de algum modo, nem uma intuição sem conceitos, podem
dar um conhecimento. (... )

Se chamamos sensibilidade à receptividade do nosso espírito, a capacidade que tem de


receber representações na medida em que é afectado de alguma maneira, deveremos, em
contrapartida, chamar entendimento à capacidade de produzirmos nós mesmos
representações ou à espontaneidade do conhecimento. A nossa natureza implica que a
intuição não pode nunca ser senão sensível , quer dizer, que contém apenas a maneira como
somos afectados pelos objectos, enquanto o poder de pensar o objecto da intuição sensível é
o entendimento. Nenhuma destas duas propriedades é preferível à outra."

Kant, Crítica da Razão Pura

Quer isto dizer que se não pode haver conhecimento sem experiência, continuamos a não
ter conhecimento se nos limitarmos exclusivamente a esta. O mesmo se passa em relação à
razão. Como sabemos, o verdadeiro conhecimento é aquele que, para além de permitir a
sua adequação ao real que se quer conhecer, é também universalmente válido e necessário.
O primeiro aspecto pressupõe a experiência como modo do homem contactar com a
realidade, o segundo aspecto advém-lhe do facto de existirem conceitos e categorias que
são a priori e, como tal, possuem as características de universalidade e de necessidade.

2.3.2 O Construtivismo de Piaget


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Como apontamento final, não podíamos deixar de referir aqui a teoria operatória ou
psicogenética de Piaget, que contribuiu igualmente para a compreensão do fenómeno de
conhecimento como construção: tal como Kant, também Piaget considera que o
conhecimento resulta dum processo de transformação de uma matéria prima dada pelos
sentidos e elaborada pela capacidade organizacional do sujeito; pelo que a sua teoria se
enquadra na corrente empírlco-racionalista de que temos vindo a ocupar-nos.

Como já vimos, Piaget no nosso século, retoma a ideia do conhecimento como uma
construção por parte do sujeito a partir dos dados fornecidos pela experiência, procurando a
sua justificação psicológica. Ao estudar como se formam as estruturas e as categorias que
permitem o funcionamento da inteligência, Jean Piaget dá ao apriorismo de Kant uma versão
biologista. Segundo a teoria operatória, o organismo tem que possuir determinadas
características que tornem possível a troca de informação com o meio e a construção de
conhecimento que, deste modo, não é dado nem é cópia do real. O conhecimento é,
assim, fruto de uma interacção entre o sujeito e o meio implicando, por um lado a
experiência sensível e, por outro, as estruturas cognitivas de que todo o sujeito é
dotado e que lhe permitem construir o seu conhecimento com base nessa mesma
experiência.

3. O PROBLEMA DA NATUREZA DO CONHECIMENTO:

Em todo o acto de conhecimento, como vimos, podemos considerar três elementos: o


sujeito que conhece, o objecto conhecido e a relação entre o sujeito e o objecto. Para
conhecer, o sujeito tem como que sair de si mesmo para ir ao encontro do objecto e
apreender as suas propriedades, de modo a representá-lo no espírito. O conhecimento
apresenta-se, assim, como uma representação na consciência.

Pode perguntar-se agora: essa representação foi provocada pelo objecto


existente fora do sujeito? Neste caso, o conhecimento tem valor objectivo, porque atinge
uma realidade que existe independentemente da nossa representação; o conhecimento é a
representação das coisas de facto existentes. Ou essa representação será simplesmente
uma criação da nossa consciência, à qual nada corresponde fora do sujeito ou, se
corresponde, é como se não existisse, porque não pode conhecer-se? O conhecimento,
assim, terá unicamente valor subjectivo; representará as modificações subjectivas e atingirá
os nossos estádios de consciência.

Ora, perguntar pela natureza do conhecimento consiste precisamente em indagar


qual dos dois pólos, sujeito ou objecto do conhecimento, é determinante; ou seja,
se o que se conhece directamente é a representação do real, poder-se-á considerar que se
conhece efectivamente o real ou apenas a sua representação, a sua imagem? Em resposta a
esta perguntas temos duas teorias opostas: o Realismo e o Idealismo.

3.1 O Realismo:

A nossa atitude habitual é acreditar que existe um mundo de objectos físicos que
existem independentemente do facto de estarem a ser percebidos por um sujeito,
que são causa das nossas percepções e que estas nos dão a conhecer o mundo tal como ele
é em si. Esta atitude é habitualmente designada por Realismo. doutrina que afirma que por
meio do conhecimento atingimos uma realidade distinta da nossa representação e
independente dela, mas que lhe corresponde. Por outras palavras, o realismo admite a
existência da realidade exterior (ou do mundo externo) como sendo coisa distinta do
pensamento ou das nossas representações, o que significa que, para o realismo, o nosso
conhecimento atinge a própria realidade e não apenas as representações subjectivas -
atinge o que é, e não o que pensamos que seja.
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"0 homem da rua, que não reflectiu muito sobre o problema da percepção e do
mundo físico, é realista: crê que existe um mundo físico que está aí, quer o
percebamos ou não, e que podemos saber diversas coisas sobre ele. As cinco
crenças seguintes parecem ser partilhadas por todos os seres humanos, e o
conjunto constituído pelas quatro primeiras fundamenta a opinião que, às vezes,
se denominou "realismo ingénuo".

1. Existe um mundo de objectos físicos (árvores, edifícios, colinas, etc.).

2. Pode conhecer-se a verdade dos enunciados acerca destes objectos por meio da
experiência sensorial.

3. Estes objectos não só existem quando estão a ser percepcionados, como também quando
não estão a ser percepcionados. São independentes da percepção.

4. Por meio dos nossos sentidos, percepcionamos o mundo físico quase tal qual ele é. Em
geral, as nossas pretensões ao seu conhecimento, estão justificadas.

As impressões que temos das coisas físicas nos sentidos, são causadas por essas mesmas
coisas físicas. Por exemplo, a minha consciência da mesa é causada pela própria mesa.
Porém, não há uma única destas proposições que não tenho sido questionada por pessoas
que sobre elas pensaram de modo sistemático. Qual poderia ser a base da sua dúvida ?"

3.2 O ldealismo:

Contrariamente ao realismo, o idealismo afirma que o objecto de conhecimento é produto


do espírito, o que significa que o conhecimento é produto do sujeito e que as coisas não são
mais do que conteúdos de consciência. Berkeley, por exemplo, pensava que o mundo
exterior que percepcionamos só existe na nossa percepção. Daí a expressão: esse = percipi,
isto é, há uma identidade entre o ser de algo e o ser apercebido.

O idealismo não nega propriamente a existência do mundo externo, mas reduz este às
representações, ou seja, ao pensamento, às ideias. Como tal, o nosso conhecimento atinge
apenas as modificações subjectivas e não a própria realidade - atinge o que pensamos e não
o que é.

"Chama-se idealismo a toda a doutrina - e às vezes a toda a atitude - segundo a qual o mais
fundamental, e aquilo pelo qual se supõe que se devem orientar as acções humanas, são
ideais - realizáveis ou não, mas quase sempre imaginados como realizáveis. Então, o
idealismo contrapõe-se ao realismo, entendido como a doutrina - e às vezes a atitude -
segundo a qual o mais fundamental, e aquilo pelo qual se supõe que se devem orientar as
acções humanas são as 'realidades' - as 'duras realidades' (... ). Considerando, pois, o
idealismo como idealismo moderno e tendo em conta que o ponto de partida do pensamento
idealista é o sujeito, pode dizer-se que este constitui um esforço para responder à pergunta:
'Como podem, em geral, conhecer-se as coisas ?' (... ) Para o idealismo, 'ser' significa
primariamente 'ser dado na consciência, no sujeito, no espírito', 'ser conteúdo da consciência,
do sujeito, do espírito', 'estar contido na consciência, no sujeito e no espírito.'

Mora, J.F., Dicionário de Filosofia, tomo I

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4- O PROBLEMA DO VALOR DO CONHECIMENTO:

Posto isto, podemos agora perguntarmo-nos: o nosso conhecimento intelectual terá valor
objectivo e absoluto, ou apenas valor subjectivo e relativo ?

Terá valor objectivo se atingir o real, a essência das coisas, os objectos, tendo também,
assim, um valor absoluto, pois sendo imutável a realidade essencial, também o respectivo
conhecimento terá carácter absoluto - realismo. Terá carácter subjectivo, se apenas atingir
as modificações subjectivas, a maneira como pensamos a realidade, o que as coisas são
para nós e não a própria realidade em si e, por isto, também terá valor relativo, porque vale
só para nós e para todos os seres constituídos como nós - relativismo.

O valor e limites do conhecimento estão dependentes da atitude que se tomar quanto à sua
origem e à sua natureza. Assim, o empirismo, o racionalismo. e o idealismo são teorias
relativistas, enquanto que o empírico-racionalismo e o próprio realismo conferem ao
conhecimento valor absoluto.

Senão vejamos:

• para o Empirismo, o conhecimento tem um valor relativo; não só porque varia com
a experiência (o que é verdadeiro para a experiência deste mundo poderá não o ser
para um mundo diverso), mas porque se limita a conhecer os fenómenos e, por isso,
vale só para o mundo constituído pelos fenómenos.
• para o Racionalismo, a realidade é interpretada em função de certos dados da
razão que traduzem as possibilidades do espírito humano nesse sentido e, assim, o
seu valor também é relativo, urna vez que é válido apenas para os seres que tenham
uma constituição psicológica como a nossa.
• para o Idealismo, o conhecimento tem valor puramente subjectivo e relativo,
limitando-se o homem a conhecer apenas as suas modificações subjectivas, às quais
nada de material corresponde na realidade (Berkeley), ou a conhecer as aparências
da realidade - os fenómenos - e não a realidade em si - os númenos (Kant).

Estas três doutrinas são, portanto relativistas

Mas outras há que conferem ao conhecimento um valor objectivo e absoluto:

• para o Empírico-Racionalismo e para o realismo o conhecimento tem um valor


objectivo e absoluto, porque atinge o fundo da realidade ou a sua essência, não se
limitando ao conhecimento das suas aparências ou das suas manifestações. De
facto, para estas duas doutrinas, o conhecimento, por ser fruto de elaboração
intelectual a partir das realidades percepcionadas, tem valor objectivo, porque as
características gerais (ideias) que afirmamos dos indivíduos, ou das coisas, existem
de facto nelas. O mundo do conhecimento não é, portanto, uma cópia do mundo real,
mas é uma construção intelectual e técnica, a partir dessa mesma realidade.

É conveniente precisar em que sentido é que o conhecimento do homem tem valor


absoluto. Quando falamos no conhecimento como valor absoluto, não estamos a dizer que
conhecemos a realidade total e perfeitamente, pois, sob este aspecto, o conhecimento é
relativo, por estar em contínua evolução e ser maior para uns do que para outros. A
verdade total é uma aspiração que se impõe tanto mais quanto maior for o
número de conhecimentos que se possui. Isto significa que é o conhecimento da
verdade que varia, e não a própria verdade. A verdade de hoje será sempre verdade; se o é
para um indivíduo, sê-lo-á para todos, de todos os tempos e lugares - é neste sentido que
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afirmamos que o conhecimento tem um valor absoluto. O que é realmente verdadeiro ficará
sempre verdadeiro e será integrado em novos conhecimentos, uma vez que o homem,
sempre sedento de conhecer, vai descobrindo na realidade - novas propriedades e, assim,
vai enriquecendo o seu conhecimento - é assim que funciona o conhecimento científico que,
nesse sentido, é dinâmico e está em perpétua renovação. O que varia não é a verdade,
mas o nosso conhecimento acerca dessa verdade.

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