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Machado
A Sociedade Secreta
de Jesus
IBRASA
Instituição Brasileira de Difusão Cultural Ltda.
São Paulo – SP
Sumário
O Avô de Deus
Erros e Contradições Bíblicas: Antigo
Testamento
Erros e Contradições Bíblicas: Novo Testamento
Os Ensinamentos de Jesus
O Sermão da Montanha e As bem-aventuranças
A Sabedoria e os Ensinamentos de Jesus
Os Essênios
A Sociedade Secreta de Jesus
1 º Final Jesus Morre na Cruz
2 º Final Jesus NÃO Morre na Cruz
"A dor, o medo e o sofrimento são o combustível
das religiões. E o que se costuma chamar de "fé",
na maioria das vezes não passa de uma
expectativa desesperada do ser humano em ver
resolvido seus problemas, por algo ou alguém
alheio ao seu conhecimento."
O Avô de Deus
— "Pai, você não acha que Deus deve ser muito
triste???..."
— "Triste? Triste, por que, filho?"
— "Claro que ele é triste, pai. Ele não tem avô!"
Essa observação, de um dos meus filhos, antes de
alcançar os dez anos de idade, tomou-me de
surpresa, embora, em si, o tema não tenha ou
contenha novidade alguma. Entretanto, levado a
sério, sério mesmo, não há como desviar-se da
questão, passar ao largo de uma observação como
esta, simplesmente porque ela é apresentada num
formato infantil... ou mesmo não se pode contar
uma historinha qualquer para iludir uma criança,
fugindo ao tema... são recursos simples de
adultos, inaceitáveis face aos danos que podem
ser produzidos caso a questão não seja esclarecida
adequadamente, ainda que para uma criança, e
também por tal fato ser um escapismo tolo, uma
fuga ao tema que, aparentemente infantil, merece
um aprofundamento muito além das
considerações triviais. Afinal, encarada com
sinceridade e honestidade, a questão tida como
infantil é muito mais séria, muito mais complexa e
profunda do que parece.
Principia pelo fato de que para uma criança, a
figura do avô é tudo, é a felicidade suprema. O avô
é o "pai com açúcar". É o avô quem leva o neto
para passear nas férias e em alguns finais de
semana. É o avô quem leva o neto para pescar,
para passear nos parques temáticos, que conta
pacientemente histórias encantadas. O avô, para
um neto, é a felicidade em vida. E, segundo este
neto, coitado de Deus, ele não tinha avô. Deus era
menos feliz do que qualquer menino da Terra que
tem um avô.
Aí, neste ponto, enquanto eu disfarçava meu
embaraço em responder honestamente a um
questionamento simples de uma criança e tentava
organizar meus pensamentos, meu filho
aprofundou o tema e foi mais radical ainda... Deus
não tinha avô, não tinha pai, não tinha mãe, não ti-
nha irmãos... era um solitário, coitado.
— "Coitado de Deus, né pai? Ele vive sozinho!!!"
Pronto, estava estabelecida a questão de uma
forma simples e singela, numa clareza de uma
argumentação infantil, cristalina, e que ao mesmo
tempo apresentava-se de uma complexidade
terrível, uma vez que nada podia ser simplificado.
A questão exigia uma resposta honesta, correta e
direta.
—"Olha, filho, tudo que você vê, tudo que existe
no mundo, tudo, tudo, foi Deus quem criou. E se
algo existe no mundo, neste ou em qualquer outro
planeta, no sistema solar, ou não, em qualquer
outra galáxia, é porque foi criado por alguém. E
esse alguém é Deus, o criador do universo."
—"Pai, e onde Ele mora? Onde Ele vive? Como Ele
é?"
—"A gente costuma dizer poeticamente que ele
mora no coração das pessoas. Ele não tem forma,
ou tem a forma que você quiser. Chame-o de
Criador do Universo, de Espírito Santo, de "Mãe
Natureza", do que você quiser. Deus existe e está
em todos os lugares e em todas as coisas. Mas,
lembre-se que Deus é o que mora no seu coração
e que não tem forma, muito menos uma forma
humana. O Deus barbudo, sentado numa nuvem,
perseguindo e castigando as pessoas, é uma coisa
burra, tão improvável quanto velha. Esse Deus
barbudo é uma figura mitológica, cópia malfeita e
contraditoriamente escarrada da mitologia grega
ou romana, onde os deuses viviam de roupão
branco, no Olimpo, e virava e mexia interferiam na
vida das pessoas, privilegiando uns e castigando
outros."
— "Mas, pai, se Deus existe e ele é bom, é do
bem... por que ele deixa existir o mal?"
— "Por causa de uma coisa chamada livre arbítrio.
Imagine o seguinte: Existe Deus. Existe o plano
divino (que é a vontade de Deus), do qual nós não
temos o mínimo conhecimento ou interferência.
Mas, além do plano divino (destino, maktub) existe
o livre arbítrio (que é a vontade do ser humano, a
interferência pessoal de cada um). O livre arbítrio
existe para que cada um tome seu destino nas
mãos e siga o caminho que achar mais
conveniente, arcando com as conseqüências de
agir bem ou mal. Deus foi muito sábio em dar ao
ser humano o livre arbítrio. O mundo seria
horroroso com tudo igual, tudo certinho, todo
mundo fazendo as mesmas coisas, ninguém se
esforçando para melhorar. Seria um tédio só. Não
fosse o livre arbítrio e todos nós, seres humanos,
seríamos iguais, todos bonzinhos, como se
fôssemos robôs. Não haveria o mal. Só haveria o
bem. Tudo já estaria previamente escrito. E nin-
guém precisaria fazer nada. Era só cruzar os
braços e deixar a vida seguir seu curso pois tudo já
estaria previamente escrito por Deus, sem a
interferência humana."
— "Mas pai, se ele não é um velho barbudo, como
você diz, como é que ele é?"
— "Eu não sei, ninguém sabe e quem disser que
sabe estará mentindo. Ninguém jamais viu Deus.
Guarde isso como uma verdade absoluta para o
resto de sua vida. Ninguém sabe ou saberá sobre
a forma de Deus, sobre como é Deus, sobre o
início da humanidade ou sobre o fim dela. A vida é
uma festa em que entramos nela depois dela já ter
começado e saímos dela antes de acabar. Tudo
que for dito sobre o antes e o depois, de onde nós
viemos e para onde nós iremos, ou sobre o início
da vida e o após a morte, será uma grande
invenção humana sem qualquer base lógica ou
científica. São meras conjecturas e invencionices
para tentar esclarecer o que ninguém sabe ou tem
certeza. Pois de certo, certo mesmo, só os
mistérios que o homem viverá uma vida inteira e
jamais encontrará as respostas."
— "Filho, essas histórias inventadas sobre o início
do mundo e das vidas passadas ou do após a
morte decorrem do fato do ser humano sempre
querer ter uma explicação para tudo. O ser
humano não se conforma que haja uma só questão
a que ele não responda. O ser humano não admite
dizer "eu não sei". Daí as pessoas inventam
histórias mirabolantes sobre a origem da
humanidade e a criação do mundo ou de como é
ou será o mundo dos seres humanos após a morte.
A humanidade não aceita o fato de que os seres
humanos (todos os que já viveram até hoje) não
tenham conseguido responder com inquestionável
acerto as questões sobre o significado da vida:
Como o mundo começou? Como é e para onde nós
vamos após a morte? Este é o grande mistério da
vida, irrespondível."
"O ser humano, apesar de haver caminhado mais
de dez mil anos de "vida inteligente" mal deu um
passo além da idade da pedra. Contínua o mesmo
selvagem pré-histórico, ignorante, e que sequer
conhece a si mesmo. Não consegue resolver coisas
muito mais elementares e simples (se é que isso
pode ser chamado de simples) como entender e
controlar as ações humanas involuntárias."
— "Pai, o que é esse negócio de ações humanas
involuntárias?"
— "De uma forma simples, é mais ou menos assim:
Você manda o olho piscar, ele pisca. Você manda
a boca falar, ela fala. Você manda a perna andar,
ela anda. E assim por diante. Essas são as ações
humanas voluntárias. São as ações do corpo
humano que você pode comandar.
As ações humanas involuntárias são aquelas que
Deus deu a você e que não dependem de você
mandar que aconteça ou de sua vontade. Você
não manda a unha crescer, mas ela cresce
independentemente de você mandar. Você não
manda o cabelo crescer, mas ele cresce. Você não
manda os ossos crescerem, mas eles crescem.
Você não manda as células se multiplicarem, mas
elas se multiplicam. Você não manda criar um
óvulo, e muito menos criar um espermatozóide, e
eles são criados independentemente da sua
vontade.
Já imaginou você monitorando milhões de
espermatozóides? "Isso! Agora! Vamos lá! Todo
mundo junto! Vamos invadir o óvulo, vamos criar
vida"... O ser humano, coitado, imagina saber
muito, mas não sabe e não domina sequer os mais
"elementares" segredos contidos nele mesmo, que
dirá do que está além dele.
Além destas questões, de natureza física, os seres
humanos têm muita dificuldade em assimilar e
trabalhar com o que não pode ser visto, com o que
é imaterial. O amor, ele confunde com prazer da
carne. A bondade, ele confunde com dar esmola. E
assim com muitas e muitas coisas que são
imateriais. O ser humano não se conforma com o
imaterial. Tenta dar forma para as coisas
imateriais, mas coitado, cria toscas figuras pobres
para coisas tão complexas que ele não sabe como
são ou como foram formadas.
— "Você é capaz de imaginar fisicamente a paz, o
amor, a bondade, o perdão? Pois é... com Deus é a
mesma coisa. O ser humano, incapaz de lidar com
um Deus imaterial, desconhecido, tratou de criar
uma forma para Ele, como se pudesse dar uma
forma para o amor, para a compreensão, para a
paz, para o perdão e tantas outras coisas
imateriais. Mas, principalmente, foi em razão do
medo do ser humano diante da vida e da falta de
respostas para a sua origem e existência que o
homem criou um Deus à sua imagem e
semelhança."
— "Ué... Deus criou o homem ou o homem criou
Deus? Deus então é fruto do medo do ser
humano?"
— "Não é bem assim... Apesar de John Lennon
haver dito na música "God" (Deus) que "God is a
concept by which we measure our pain" (Deus é
um conceito pelo qual nós medimos nossa dor),
Deus não é só fruto da dor, do sofrimento ou do
medo. Embora eu reconheça que a dor, o
sofrimento e o medo são campos fertilíssimos para
a idolatria a Deus, de uma maneira exacerbada e
exagerada, onde o ser humano, medroso,
sofredor, torna-se vítima fácil dos gerentes de
religião e dos exploradores da fé alheia. E aí, neste
caso, Deus passa a ser uma idolatria absurda,
fruto do medo e da dor, com o qual eu não
concordo a mínima, pois Deus não é isso e não é
só isso. Razão pela qual eu escrevi (em 1992) que
eu não era "Nem tão estúpido para ser ateu, nem
tão medroso para acreditar em Deus."
— "Peraí... agora confundiu um monte de coisa...
Ateu é burro, estúpido? Você acredita ou não
acredita em Deus? Só os medrosos acreditam em
Deus? Foi Deus quem criou o ser humano ou
fomos nós que criamos Deus? Deus Não existe?"
—"Calma... vamos por parte. Ser ateu sem lógica
(negar por negar) é burrice, é estupidez, pois nega
a sua própria existência. Ser ateu por discordar de
um Deus personificado à imagem e semelhança
dos homens, é até inteligente.
Eu, de minha parte, acredito que Deus existe.
Claro que alguém criou o que conhecemos por
universo. E em razão disso eu assumo que Deus
existe. A prova da existência de Deus é a
existência do mundo. Se o mundo existe, alguém
criou. E este alguém que criou, nós chamamos de
Deus, de criador do universo ou dê você o nome
que quiser. Mesmo que alguém algum dia diga
para você que o mundo foi criado pelo "Big Bang"
(uma grande explosão), alguém criou o "Big Bang",
e este alguém é Deus. Mas, daí dizer que ele é um
velho barbudo sentado numa nuvem a distância é
grande.
— "Tudo bem... mas quem criou Deus?"
— "Filho, tente imaginar dois conceitos de Deus.
Um Deus, imaterial, sem forma definida,
desconhecido, que existe antes de tudo, que criou
tudo que existe no mundo, e que nada sabemos
dele. É a história do antes do nascimento e do
depois da morte. Ninguém tem a resposta. Nin-
guém sabe. E quem disser que sabe, seja quem
for, estará mentindo. E outro Deus, o Deus
barbudo sentado na nuvem, o Deus mitológico,
que é uma invenção do ser humano, que,
sentindo-se só, com medo, com muito medo da
vida e da falta de respostas para a sua origem e
existência, este homem criou um Deus à sua
imagem e semelhança. É o tal Deus velho,
barbudo, sentado numa nuvem, mitológico, e que
promove um monte de justiças e injustiças, in-
terferindo diariamente na vida das pessoas. De
uma maneira bastante genérica. É o Deus
personificado que algumas religiões criam,
inventam, pregam e vendem por aí a torto e a
retalho."
— "Esse Deus personificado pelas religiões, então,
é uma invenção como se fosse o Papai Noel dos
adultos?"
— "É por aí... Mais ou menos isso... Se um dia apre-
sentarem a você a imagem física de Deus, pode rir
porque você estará diante de um mentiroso que
acredita no Papai Noel dos adultos. Mas, se você
conseguir sentir no seu coração, amor pelo seu
semelhante, paz interior, perdão para aqueles que
errarem (mesmo que sejam seus adversários ou
inimigos), fraternidade, harmonia, você estará
diante de Deus. Ele está em todas as coisas da
humanidade e é um mistério profundo e absoluto.
Ele está na sua gargalhada, que eu tanto adoro.
Está na bondade do ser humano. Está no amor ao
próximo. Está numa planta que nasce. Está na
chuva que cai e traz vida. Está no sol que aquece.
Está na bênção de cada dia que nasce. Está em
tudo que existe e em todas as partes. Não busque
Deus em uma forma. Busque Deus em um
sentimento."
— "Então, pai, se eu tiver um bom sentimento eu
me aproximo de Deus? Se eu der esmola ou um
brinquedo meu para uma pessoa que precisa eu
me aproximo de Deus?"
— "Não tão simples assim. Antes de mais nada, se
você, por exemplo, pegar uma moeda, uma roupa
ou um brinquedo e der a alguém que esteja
necessitando, faça a sua doação em segredo e não
deixe a sua mão esquerda saber o que a direita
está fazendo. Não faça seu ato em público e nem o
divulgue, pois isso é um assunto particular e
restrito entre você e Deus. Ao repartir o que você
tem a mais com quem não tem, você estará
praticando alguns dos maiores ensinamentos
cristãos, como a piedade, o amor ao próximo e a
humildade. E entre tantas as formas de se aproxi-
mar de Deus essa é apenas uma dessas
pequeninas formas. Entretanto, o mais importante
ainda não foi feito. Ou seja, agradecer a Deus por
ter e por poder dar. Agradeça pela sua saúde, pelo
seu corpo perfeito, pela boa vida que você tem e
pela chance de você ter a graça e a oportunidade
de poder ajudar a alguém materialmente. E aí,
filho, aí sim, diante deste sentimento nobre, que
preenche o seu coração de amor ao próximo, você
estará diante de Deus.
Como na prece franciscana, a felicidade em
encontrar Deus está em dar mais do que receber,
consolar mais do que ser consolado, buscar a
fraternidade no amor ao próximo e a paz no
silêncio do coração. Reconhecer-se no seu
semelhante. São coisas aparentemente simples,
mas de uma dificuldade muito terrível de ser
superada.
— "Então, pai, toda vez que eu der esmola ou um
brinquedo meu para alguém que precisa, sou eu
quem está recebendo o presente por poder dar e
por poder me aproximar de Deus?"
— "Mais ou menos isso. Não basta dar uma esmola,
uma ajuda ou um brinquedo. Não é a esmola que
te aproxima de Deus. O que te aproxima de Deus
é o sentimento de piedade pelos que têm menos e
na sua vontade em ajudar ao próximo. Pois a
esmola sozinha, sem o sentimento de ajuda ao
próximo, é nada, é só um ato mecânico e material,
mais nada.
Antes de mais nada entenda a diferença entre o
material (o ato material de dar) e o imaterial (o
sentimento de querer ajudar ao próximo) e que a
coisa funciona de forma bastante oposta e
diferente do que possa parecer, pois você (e não a
pessoa a quem você está ajudando
materialmente) é que está recebendo uma dádiva.
Você está tendo uma oportunidade de através de
uma ato material ajudar um semelhante, e com
isso receber uma oportunidade (imaterial) de
crescer e melhorar como ser humano. Você está
chegando-se a Deus (sentimento imaterial)
através de um gesto material. E aí, sim, agradeça
a Deus, pois você recebeu uma graça de poder
ajudar a alguém e de poder melhorar como ser
humano. Ou seja, é você quem deve agradecer a
Deus por ter tido a chance de melhorar como ser
humano. Entendeu agora?"
—"Tá certo, pai. Agora eu entendi legal."
—"Na busca pelo sentimento nobre de caráter, na
busca pelo aperfeiçoamento como ser humano é
que você irá encontrar Deus. Mas você não precisa
buscar Deus somente numa esmola ou numa
ajuda ao seu semelhante. Você poderá vê-lo numa
planta, numa paisagem, num rio, numa cachoeira,
num animal, num ser que nasce, num por do sol,
num arco íris, e em todos os nascimentos que
representam o milagre da vida. Principalmente
busque Deus no seu semelhante. Basta você abrir
o coração com sentimento que Ele entra e ilumina
a sua vida. E por isso, agradeça a Deus, todos os
dias pelo milagre da vida e por você fazer parte
deste milagre.
Isso representa dizer, meu filho, respondendo à
sua pergunta, que Deus não sendo uma pessoa, à
imagem e semelhança do ser humano, como ele
foi erradamente inventado pelos homens, Deus
não tem avô, não tem mãe, não tem irmãos, não
se sabe se Ele é homem ou mulher, se é preto ou
branco, e muito menos qual é a sua real forma.
Conforme eu havia dito, isso é um mistério sobre o
início e o fim da vida. Ninguém sabe como ele é.
Ninguém nunca o viu pessoalmente, e quem disser
em contrário estará mentindo para você.
—"Mas, pai, e as imagens que a gente vê?"
—"São apenas isso... imagens. Frutos das
religiões. Conforme eu já havia dito, o ser humano
tem muita dificuldade em lidar com o que não vê,
com o imaterial. E Deus, como o amor, a bondade,
o perdão, e todas as coisas imateriais, para poder
ser melhor compreendido, precisava ser
personificado. Daí a necessidade das religiões de
se ter uma imagem para Deus e para seus
auxiliares. E como o ser humano não sabia como
lidar com o imaterial, passou a personificar o
amor, o perdão, a bondade, a fraternidade, a
esperança inventando formas para Deus. Criou
vários tipos de imagens, que mudaram com o tem-
po, através da história da humanidade. Zeus, por
exemplo, já foi uma imagem de Deus muito
popular na Grécia. Assim como a sua versão
romana Júpiter. Em quase todas as religiões os
seres humanos inventam imagens para retratar
Deus ou seus auxiliares, semideuses, anjos,
santos, etc. E isso decorre fundamentalmente
daquilo que já foi dito: da incapacidade do ser
humano em lidar com o imaterial.
Independentemente de religião, Deus, o criador do
universo, Mãe Natureza, ou o nome que você
queira dar, é um só. Cada religião dá a sua versão
para Deus. Cada um personifica Deus como
quiser... índios acreditavam no Deus Sol e na
Deusa Lua. Gregos acreditavam num Deus, ou
Zeus, cercado de deuses e deusas. Deus do Vento,
Deus do Mar, Deus do Vinho, Deusa da Beleza,
Deusa da Caça, etc. Tinha Deus para tudo que era
gosto. Tudo que existia na natureza, na face da
terra, tinha um Deus específico por trás regendo
essa coisa.
— "Puxa vida, pai, os índios e os antigos eram
muito ignorantes."
— "Não, filho. Não é ignorância, é mais solidão, dor
e medo diante do desconhecido e da vida do que
ignorância. O ser humano sempre foi assim.
Sempre teve muito medo diante da vida e do
desconhecido. E sentindo-se incapaz de resolver
sozinho, as coisas que desconhecia e do medo que
sentia inventava um Deus capaz de resolver as
coisas que ele sozinho achava-se impossibilitado
de resolver. E a grande maioria da humanidade faz
exatamente isso. Incapaz de buscar em si, em seu
interior, as forças para enfrentar a vida, transfere
para Deus a responsabilidade de resolver seus
problemas particulares.
Em resumo, o ser humano sempre transferiu para
Deus a responsabilidade de resolver as coisas para
ele, ser humano. Desde que o mundo é mundo,
nada mudou. Ainda hoje é assim, acredite. O ser
humano de hoje é exatamente igual ao selvagem
primitivo ou ao índio de milhares de anos atrás.
Teme muito mais a Deus do que o ama de
verdade. O sol, a lua e os astros ainda hoje são tão
adorados com a mesma intensidade e o mesmo
fervor quanto nos milhares de anos passados, só
que atualmente esses astros são adorados sob a
forma de ciência (?), chamada de astrologia.
Ainda hoje, pessoas ditas e tidas como sérias se
apresentam como: Eu sou sagitariano, eu sou de
libra, eu sou de leão, etc., como se a posição dos
astros no dia do nascimento de alguém pudesse
determinar caráter, forma de conduta, etc. Na
realidade, o ser humano do século vinte e um tem
os mesmos medos e anseios do homem da idade
da pedra, apavorado diante da vida, e buscando
proteção num astro, numa estrela, num sol, numa
lua, num planeta qualquer...
Ensinamentos cristãos e budistas são bastante
claros a respeito disso e alertam para este fato ao
dizerem: "Parem de buscar pelo sagrado no céu.
Abram as janelas de seus corações e com um
transbordamento de luz o sagrado virá e trará a
alegria ilimitada... Vocês fingem que precisam
adorar o sol... mas o sol não atua
espontaneamente, e sim pela vontade do Criador
do Universo, que o fez"
Dizendo assim, friamente, até parece cruel retratar
que o ser humano não evoluiu nada em mais de
vinte séculos. Mas, por mais constrangedor que
possa parecer, em mais de vinte séculos de
"evolução", o ser humano está somente a um
passo adiante da idade da pedra, pois ainda hoje
muita gente transfere seus medos e suas
responsabilidade para Deus e seus "assistentes" e
carregam badulaques, amuletos, estátuas,
imagens de semideuses, anjos ou santos de sua
devoção, buscando "proteção" contra seus medos
e suas fragilidades, transferindo para Deus e seus
auxiliares a responsabilidade de resolver os
problemas dos seres humanos.
Basta você visitar uma igreja, templo, sinagoga,
mesquita, terreiro (de qualquer religião) para
conferir todo o medo do ser humano diante da
vida, quer pela idolatria das imagens (mais por
medo do que por amor), incentivada pelas
religiões, quer pelas ofertas de ex-votos (pagado-
res de promessas) pelas "curas" e "graças"
recebidas, quer pelos amuletos — coisas
inanimadas — e que tais, vendidos para darem
sorte ou "proteger" a quem os carregar, como se
isso, sendo algo além de seus poderes pessoais
reais, pudesse mudar ou interferir na vida das
pessoas."
— "O ser humano, pai, ao invés de buscar se
fortalecer interiormente para sua defesa, por
medo, então transfere seus problemas para coisas
(amuletos, imagens) que supostamente possam
protegê-lo?"
—"Mais ou menos, filho. Não se pode generalizar,
pois existem religiões que ensinam a busca
permanente do aperfeiçoamento interior e o
autoconhecimento como formas de buscar a Deus.
Algumas religiões até têm máximas como: "Se
queres um escudo impenetrável, fica dentro de ti
mesmo."
Mas, não pense que o medo e a fragilidade
humana param por aí na idolatria de imagens e
personificações em metal, barro ou gesso. Há
coisa muito mais antiga do que a idolatria de
imagens, que persistem até hoje e que são ter-
ríveis. São os sacrifícios de animais (e até de
gente) para "aplacar a ira dos Deuses" ou para
buscar uma "graça" ou "ajuda" espiritual,
exatamente como era feito há milhares e milhares
de anos, desde a idade da pedra, por pessoas ou
povos tidos como "ignorantes".
Isso mesmo. Pessoas medrosas diante da vida
matavam ou ainda matam pobres e inocentes
animais (e até pessoas), sob a desculpa de fazer
oferenda a deuses, santos, anjos ou coisa que o
valha, como se Deus fosse um ser sanguinário que
bebesse o sangue de animais e seres humanos. E
esperam, essas pessoas (ignorantes), com isso,
obter algum tipo de graça pelo holocausto e
mortandade de gente e animais.
Conforme você pode ver, meu filho, não há limite
para o medo do homem e a superstição do ser
humano. Este ser humano tem um longo caminho
a cumprir, pois evoluiu muito pouco desde a idade
da pedra ou mesmo comparado ao selvagem, ao
índio, ao silvícola.
—E falando em índio, silvícola, outro grande
engano geral da humanidade é o ser humano dito
civilizado, contrapondo-se à "ignorância" do índio,
dizer-se monoteísta, achando que é monoteísta,
sem jamais ter sido monoteísta.
Ou seja, o ser humano sempre praticou o
politeísmo, dizendo-se monoteísta
independentemente da religião que professava. O
ser humano sempre aceitou Deuses, Deusas e
respectivos auxiliares, sob as mais variadas
formas, semideuses, anjos, santos, apóstolos,
espíritos (santo ou não). Muito dificilmente você
encontrará um ser humano que acredite em Deus,
somente em Deus e mais nada, sem semideuses,
anjos ou quaisquer outros auxiliares. (Não que isso
— politeísmo — seja bom ou ruim. É só um registro
para deixar bem claro que as pessoas, no afã de
sentirem-se superiores aos "ignorantes" silvícolas,
sequer se dão conta que são tão politeístas quanto
os silvícolas, embora imaginando-se monoteístas)
Da mesma forma, assim como existe a crença na
pluralidade de Deuses e ajudantes, a pluralidade
de crenças faz parte do gênero humano. Sempre
haverá pluralidade de religião, mesmo nos
domínios mais austeros e totalitários, pois a
liberdade de fé ou crença religiosa é um dos mais
importantes dos direitos humanos (Direito à vida,
Direito à liberdade... de pensamento... de
expressão... de crença religiosa).
Embora nem sempre aconteça esta liberdade de
crença religiosa nos regimes totalitários, vez por
outra, até mesmo nos países hipocritamente
chamados de democráticos, como os Estados
Unidos, por exemplo, o Estado sempre procura dar
uma interferência direta na religião do povo em
geral, procurando impor a "sua" religião como
oficial.
Na moeda americana, por exemplo, há a inscrição
religiosa de que "Nós acreditamos em Deus" (In
God we trust). E os ateus? Como ficam? Não têm o
direito de não acreditar no Deus do dólar e de Wall
Street? São obrigados a acreditar no Deus do
Governo? O Governo pode ter um Deus particular?
Pode impor uma religião?
Outro exemplo desta interferência estatal na
religiosidade das pessoas é o caso dos
julgamentos americanos, onde há a
obrigatoriedade de não ser ateu e ter que "jurar
por Deus", sobre a Bíblia, que você está dizendo a
verdade ("So help me God"). Felizmente, num
julgamento famoso, o editor Larry Flynt desafiou a
corte americana e não jurou sobre a Bíblia,
dizendo que ele tinha o direito constitucional de
não jurar pelo Deus do governo americano, e que
a pátria não podia ter um Deus oficial. Ele queria
ter a liberdade de pensamento, a liberdade de
expressão e a liberdade de crença religiosa. Foi
uma das maiores vitórias do americano comum
contra a hipócrita religião oficial governamental
americana. ("O povo contra Larry Flynt")
— "Puxa pai, eu nunca imaginei que isto pudesse
acontecer num país como os Estados Unidos.
Ainda bem que aqui no Brasil isso não existe. Não
é?"
— "Nada disso. Aqui no Brasil também tem esse
tipo de autoritarismo religioso institucionalizado.
Só que disfarçado e ninguém reclama.
Oficialmente foi decretado pelo governo brasileiro
o dia 12 de outubro (que sempre foi "Dia da
criança") como sendo feriado nacional por ser o
Dia de Nossa (deles) Senhora de Aparecida, a
padroeira do Brasil (dos Católicos).
Ora... e quem não é católico? É obrigado a ter uma
tal de Nossa Senhora Deles como a padroeira do
Brasil de todos? É uma aberração e uma violação
constitucional a imposição de uma religião oficial
do Estado ao povo brasileiro. E as demais
religiões? Como ficam? Já pensou se cada religião
obrigar o governo a decretar dia tal como feriado
nacional em razão de cada religião? Isso é um
absurdo total."
—Cada qual tem a sua crença e deve ser
respeitado em suas convicções. Até porque cada
um tem o livre arbítrio para escolher aquilo em
que quer acreditar. Não existe uma religião única,
muito menos uma que seja mais certa do que a
outra. Quem quiser acreditar em Jesus, que
acredite. Quem quiser acreditar em Maomé, que
acredite. Quem quiser acreditar em Buda, que
acredite. Quem quiser acreditar em Orixás, que
acredite. Quem quiser acreditar em Moisés, David
e Abraão, que acredite. Quem quiser acreditar em
espíritos, que acredite. Quem quiser acreditar em
pedras, cristais, paralelepípedos, que acredite. O
ser humano é e deve ser livre para escolher o que
e no que acreditar. Você mesmo, quando crescer,
vai escolher aquilo em que você quiser acreditar,
independentemente da minha interferência ou da
interferência da sua mãe.
Independentemente da crença que você vier a ter,
tenha em mente uma única coisa: Seja tolerante
com toda e qualquer convicção religiosa, mesmo
das que você discorde, total ou parcialmente, pois
até mesmo o ateu tem lá as suas convicções que
devem ser respeitadas, ainda que você acredite
em Deus como o criador do universo e isso seja
para você a mais absoluta verdade. Respeite
sempre qualquer crença, mesmo que o que você
acredita seja o contrário do que os outros
acreditam. Mesmo que essa pessoa seja ateu ou
acredite em números, em pedras ou paralele-
pípedos.
— "Mas pai, esse negócio de acreditar em pedras e
paralelepípedos é brincadeira sua, não é?"
— "Que brincadeira que nada. Tem gente que
acredita em videntes, ciganas, números, em cartas
ou mesmo que as coisas de Deus, mesmo
inanimadas como uma pedra, possam conter ou
captar uma energia e por isso cultuam uma pedra,
um cristal ou um paralelepípedo. Entretanto,
mesmo que você não entenda, ache estranho ou
não acredite, você deve respeitar a crença dessas
pessoas, até porque ninguém é dono da verdade e
você pode estar redondamente enganado nas suas
convicções."
—É direito de qualquer ser humano acreditar no
que quiser, ou se quiser, até de não acreditar em
nada. Pode, por exemplo, depositar sua crença ou
superstição em símbolos ou ícones de aparente
resultado imediatista como fadas, duendes,
pedras, cristais, paralelepípedos, números, cartas,
e coisas do gênero, ainda que isso contrarie tudo
que você possa pensar a respeito.
É um direito seu discordar de uma pessoa que
cultua um duende, uma fada, uma pedra, um
cristal, um número, uma carta ou coisa do gênero.
Tanto quanto é direito destas pessoas acreditarem
no que quiserem."
— "Mas pai, adorar pedra e paralelepípedo?"
— "O que tem demais nisso? Eu não adoro pedra e
nem paralelepípedo. Essa é uma convicção minha,
mas eu tenho que respeitar a convicção de quem
acredita em pedras e paralelepípedos. Até porque,
adorar pedra não é tão novo assim. Em séculos
passados, por exemplo, pessoas adoravam as
pedras em Stonehenge (local sagrado, na Grã-
Bretanha, onde cultuava-se um monte de menires
— grandes pedras pontiagudas — colocadas em
círculo). Outros adoravam os deuses gigantes de
pedra da Ilha de Páscoa. Os egípcios e os gregos
adoravam imagens de pedra e esperavam com
isso que seus espíritos, depois da morte carnal,
fossem ascender aos Deuses. Portanto, adorar
pedra não é tão novo assim. Mas, o importante e
inegável é o direito dessas pessoas em terem a
sua crença, secreta ou abertamente, cultuando
Deus ou não, ou quantos Deuses queiram."
— "Mas pai... se você defende o ponto de vista de
que Deus existe, você não está negando o direito
do ateu em não acreditar em Deus? Não está?"
— "Não... eu não estou negando o direito do ateu
acreditar que não existe Deus. Ele, o ateu, acredita
no que quiser acreditar, problema dele. Ele pode
negar o mundo, negar a natureza, negar até a sua
própria existência. Problema dele. Ele pode até
acreditar na ausência de Deus. Problema dele. Eu
estou simplesmente expondo o meu ponto de vista
em acreditar em Deus, embora contrário ao dele,
mas sem negar o direito dele — ateu — em sua
crença. Pois ainda que eu discorde dele (ateu),
luto pelo inalienável direito dele ter a convicção
que quiser. Isto não tem nada a ver com concordar
ou discordar do ateu. Tem a ver com democracia,
com liberdade de pensamento, liberdade de
opinião, liberdade de crença religiosa. O que eu
estou dizendo é a minha convicção, que não tem
nada a ver com o direito dele ter ou não ter um
Deus. Eu tenho minhas convicções, que não são as
dele, acredito que eu existo, que você existe,
acredito que o mundo existe, e que alguém criou
isso. E esse alguém que criou tudo isso,
convencionou-se chamar de Deus, Criador do
Universo. Só isso. Eu não estou defendendo a
existência do meu Deus como o único Deus certo e
correto. Estou simplesmente expondo o meu ponto
de vista em relação à existência do mundo, da
natureza, da criação, do universo. Isso, não tem
nada a ver com o direito ou não do sujeito querer
ser ateu."
—"Veja bem, filho. Se hoje eu discriminar o ateu,
amanhã eu discrimino uma religião por ser
exótica, depois discrimino outra porque eu acho
absurdo, e daí para a intolerância religiosa é um
pulo. Logo estarei achando que só a minha religião
é a certa e a única que presta."
— "E qual a religião melhor que existe?"
— "Não, filho. Não existe uma religião melhor do
que as outras. A melhor religião que existe é
aquela que você acredita, que você se sente bem
e na qual tenha fé, independentemente dela ser
popular ou não. Toda religião, qualquer que seja
ela, tem uma função social útil, disciplinadora, que
alimenta a auto-ajuda. Mas, ao mesmo tempo,
toda religião tem em seu bojo uma inevitável fun-
ção destrutiva, que é exploração financeira da fé
alheia e a quase automática intolerância religiosa,
supondo ser a "sua" religião a única religião
correta sobre a face da Terra.
Seja qual for a religião que você venha a ter, tenha
em mente sempre e acima de tudo a tolerância
religiosa e o respeito às convicções alheias. Cada
ser humano tem direito ao seu Deus, ainda que
cada qual tenha um íntimo e inconfesso
sentimento de que o seu Deus é o único "salva-
dor". E no fundo, bem lá no íntimo, cada ser
humano tem uma pena enorme das demais
religiões que não têm um Deus como o seu. E é
exatamente isso que eu gostaria que você
evitasse, essa certeza de que o seu Deus é o único
Deus que existe e o único Deus do mundo, o único
que salva. Não caia nesta tentação. Isso é uma
armadilha terrível que leva imediatamente à
intolerância religiosa.
—Tudo isso é como uma verdade árabe, existe a
minha verdade, a sua verdade e a verdade. Existe
o meu Deus, o seu Deus e Deus.
O importante não é a religião que você professa ou
como é o seu Deus. Desde que você acredite e que
aquilo te faça bem, a religião já estará cumprindo
uma função social útil. O que não pode e não deve
existir nunca é o lado negro da religião, o
sectarismo religioso, a intolerância religiosa. Até
porque a intolerância religiosa é a maior assassina
da humanidade. Nunca matou-se tanto na
humanidade como o que se matou (e ainda se
mata) em nome de Deus. Foram santas
inquisições, caça às bruxas, carnificinas das santas
cruzadas e a libertação do santo sepulcro. Cristãos
contra mouros. Católicos contra protestantes.
Judeus contra Muçulmanos. Homens matando
homens, mulheres e crianças, tudo "em nome de
Deus".
Deus não tem nada a ver com isso. Deus não tem
nada a ver com a ignorância humana. Deus nunca
pediu para ninguém matar ninguém ou impor
credo algum em seu nome.
—"E a nossa religião, pai, qual é? A gente é
católico?"
—"A sua eu não sei, você vai ter que escolher
quando crescer e quando tiver maior
conhecimento. Mas, por enquanto, a gente procura
dar a você os ensinamentos baseados nos
ensinamentos que a gente teve de berço. Ou seja,
você foi batizado na igreja católica, tem aulas de
catecismo, aprende coisas sobre a Bíblia, vai fazer
primeira comunhão... e quando crescer vai fazer a
sua opção religiosa, seguindo aquela que melhor
se adaptar às suas convicções."
—"E a Bíblia, pai, não é uma boa religião?"
—"Não... Bíblia não é religião. A Bíblia é um livro
de ensinamentos, embora seja tido como sagrado
por algumas religiões e até mesmo considerado
por algumas religiões como sendo a palavra de
Deus, assim como é Alcorão (O Corão) para os
muçulmanos, ou a Torah (e Talmud) para os
judeus. São livros de sabedoria, importantíssimos
como fonte de ensinamento, bases de suas
religiões (Cristãs, Muçulmanas, Judaicas). Sendo
que a Bíblia, é mais conhecida nossa, por sermos
ocidentais, com cultura diferente dos orientais ou
médios-orientais. O que não quer dizer que ela, a
Bíblia, seja mais certa ou mais errada que Alcorão
(O Corão) ou a Torah."
— "A Bíblia, sozinha, é a base de trocentas
religiões, sendo que muitas delas são, na verdade
a maioria, conhecidas como religiões cristãs ou
evangélicas, pelo fato de valorizarem mais os
evangelhos do Novo Testamento, que enfoca,
fundamentalmente, a vida e obra de Jesus. Mas,
por mais estranho que possa parecer, lembre-se
que muita gente e muitas religiões seguem os
ensinamentos de Jesus, mas não são
necessariamente cristãos. Quer pelo fato de Jesus
ser maior do que o próprio cristianismo
controverso, quer por não aceitarem certas
versões da Bíblia (existem várias), tidas como
imprecisas, fantasiosas e inverídicas e por isso
consideram Jesus como um grande espírito de luz
(como em muitas religiões espíritas), como um
profeta (como em algumas ramificações da
religião muçulmana), onde Jesus é um grande e
importante profeta, ou, para outras religiões, um
espírito altamente iluminado que habitou o planeta
Terra. E por isso, ou seja, por serem seguidores
parciais dos ensinamentos de Jesus, e não
radicalmente integrais, não se confessam como
unicamente cristãos."
— "É bom lembrar e deixar bem claro, contudo,
que não existe uma só e única Bíblia. Ao contrário,
existem várias Bíblias, várias versões de Bíblia, e
que não necessariamente dizem a mesma coisa,
assim como nem sempre centralizam suas
atenções em Jesus."
— "Quer dizer, pai, que existem tantas versões de
Bíblia e tantas versões de cristianismo que nem os
cristãos não se entendem entre si?"
— "Como sempre, fruto da intolerância religiosa, do
sectarismo religioso, cada qual fica querendo
impor sua versão da Bíblia como sendo a versão
única e definitiva, esquecendo-se que Deus é Deus
e que a Bíblia é só um conjunto de livros, escritos
e feitos por homens, seres humanos, de uma
enorme sabedoria, é bem verdade, mas que deve
ficar restrito a isso: um livro, conjunto de vários li-
vros, escrito por seres humanos, encerrando uma
enorme gama de conhecimento e sabedoria."
— "Talvez a Bíblia, para nós ocidentais, seja o livro
mais importante da humanidade, até porque,
embora contenha contradições incríveis (assim
como Alcorão e a Torah), registra ensinamentos
fantásticos. O mínimo que pode-se dizer da Bíblia
é que (independentemente dos erros e
contradições) é uma enorme fonte de sabedoria e
um dos maiores registros antropológicos que
existe. E como todo livro, escrito por seres
humanos, lamentavelmente, tem muitos erros,
muitas contradições, muita incongruência, muito
exagero, algumas bobagens, que chegam até a ser
infantis diante do que a humanidade evoluiu e do
que se conhece hoje, principalmente no tocante à
lógica, biologia, zoologia, astronomia e física. O
que, no entanto, não retira da Bíblia a importância
como um livro importantíssimo de enorme fonte
de sabedoria e ensinamento. Mas, daí a ser um
"Livro Sagrado" ou "A palavra de Deus"... a
distância é enorme.
Questões indigestas
Que me perdoem pela abordagem voltaireana, a
seguir, mas vejamos alguns questionamentos,
pertinentes, surgidos em razão de dúvidas do
nosso dia a dia, imaginando-se as questões como
tendo sido levantadas em razão do seguimento fiel
ao texto do Antigo Testamento da Bíblia.
— O Brasil é tido como a terra do churrasco,
mesmo longe do Rio Grande do Sul, onde a carne
de boi é quase um objeto de adoração. Assim
sendo, questiono: Quando eu faço um churrasco e
queimo a carne como um touro no altar de
sacrifício, e sei que de uma maneira bíblica, isso
cria um odor agradável para Deus, conforme
Levíticos 1.9. Entretanto, surge um grande
problema: os meus vizinhos enlouquecem com o
cheiro do churrasco. Eles reclamam que o odor é
terrível para eles. Devo matá-los por heresia,
conforme manda a Bíblia?
— Face às desigualdades sociais existentes nos
países do terceiro mundo, um pobre conhecido
meu gostaria de vender sua filha como escrava,
como é permitido na Bíblia em Êxodo 21.4 a 7.
Entretanto, tenho uma grande dúvida de
aconselhamento quanto à questão financeira: Qual
seria o preço bíblico justo por ela, como escrava?
Continua valendo somente trinta moedas ou o
câmbio mudou?
— Em Levíticos 25.44 a Bíblia afirma que eu posso
possuir escravos, tanto homens quanto mulheres,
se eles forem comprados de nações vizinhas. Ou
seja, posso comprar nos países vizinhos do Brasil,
mas não posso comprar escravos aqui no Brasil.
Um amigo meu diz que essa permissão de compra
de escravos nos países vizinhos somente se aplica
aos paraguaios, mas não aos argentinos. Por que
eu não posso comprar um escravo argentino?
— Um conhecido meu insiste em trabalhar aos
sábados. Em Êxodo 35.2 claramente afirma que
ele deve ser morto por trabalhar aos sábados. Daí
eu pergunto: Eu sou moralmente obrigado a matá-
lo mesmo? Devo usar que prática religiosa para
este fim? Apedrejamento, passar no fio da espada,
abri-lo ao meio igual o que se fazia com as
mulheres grávidas, segundo a Bíblia?
— Um outro amigo acha que comer marisco,
camarão e lagosta é uma abominação (Levíticos
11.10). Seria esta abominação (comer marisco,
camarão e lagosta) uma abominação maior ou
menor que a homossexualidade, que para a Bíblia
também é uma abominação passível de morte?
— Naquele tempo em que os escribas fizeram a
Bíblia não existiam os óculos. E em Levíticos
21.18-20-21 afirma que eu não posso me
aproximar de Deus se eu tiver algum defeito na
visão. Como eu uso óculos para ler, a minha visão
para perto não é lá muito boa, eu questiono: Devo
me afastar de Deus por problema de visão? Será
que é por isso que algumas igrejas mandam os
fiéis atirarem fora seus óculos durante certos
cultos públicos em estádios e os transmitidos pela
televisão?
— Eu confesso: Eu corto meus cabelos e aparo a
barba e o bigode, inclusive o cabelo das têmporas,
mesmo que isso seja expressamente proibido em
Levíticos 19.27. Como isso é um crime, segundo a
Bíblia, eu devo me matar ou pedir a alguém que
me mate em nome de Deus?
— Eu sei que comer a carne de porco, por ser um
animal com pés bifurcados, me faz impuro
(Levíticos 11.7-8). Mas eu adoro torresmo,
lingüiça, costeleta de porco, e feijoada. Devo me
matar biblicamente pelo crime da feijoada?
— Eu tenho uma horta, planto diversas árvores
frutíferas e tenho uma plantação variada de
verduras e vegetais. Sei que isso viola Levíticos
19.19 (plantando dois tipos diferentes de vegetais
no mesmo campo) pois a Bíblia proíbe plantar
duas plantas diferentes no mesmo campo. Minha
esposa também viola Levi ticos 19.19, porque usa
roupas feitas de dois tipos diferentes de tecido
(algodão e poliéster), que a Bíblia também proíbe
o uso de dois tecidos diferentes na mesma roupa.
Além do mais, quando eu me enfureço, tenho o
hábito de xingar e blasfemar muito, como o Deus
da Bíblia. Será que eu corro o risco de morrer ape-
drejado conforme Levíticos 24.14-16? Aliás, eu
tenho um monte de conhecidos meus que agem
da mesma forma. Será que eu poderia queimá-los
em uma cerimônia privada, conforme previsto em
Levíticos 20.14?
A bem da verdade, esses questionamentos,
voltaireanos, entram aqui como um testemunho
do absurdo que é quando ao invés da Bíblia estar
tratando de questões universais sérias, entra na
discussão de pormenores tribais como: pragas e
ameaças divinas, castigos divinos, maldições
divinas, vinganças divinas, assassinatos divinos,
ou estabelecendo como possuir escravos, inclusive
fixando uma tabela de preços de escravos.
Quando o Antigo Testamento da Bíblia deixa de se
preocupar com coisas sérias e universais e passa a
definir e a estabelecer regras para pureza e
impurezas de animais e de seres humanos,
virgindade, incesto, sacrifícios e holocausto de
animais, dízimo e ofertas, brigas tribais, que não
têm o menor sentido para um Deus cósmico,
universal, a Bíblia transforma-se, a partir daí, num
livro absolutamente comum. Pois somente um
Deus pequeno, tribal, como o Deus velho do
Antigo Testamento, é que questões tribais como
estas passam a ter sentido.
Envergonhados com este Deus tribal do Antigo
Testamento, os cristãos não admitem, mas a
maioria deles desejaria que o Antigo Testamento
jamais tivesse sido escrito. Por isso, a nova
geração de cristãos é predominantemente
evangélica, ou seja, adoradores do evangelho, em
especial os quatro evangelhos que compõem o
Novo Testamento, envergonhados que estão do
velho Deus velho do Antigo Testamento, e por isso
mesmo estão mudando de Deus, trocando o Deus
velho do Antigo Testamento para um Deus novo, o
Deus do Novo Testamento: Jesus.
Erros e Contradições Bíblicas
Novo Testamento
— "E Jesus, pai? É Deus de verdade?"
— "Não, filho... Deus é Deus, Jesus é Jesus.
Pretender transformar Jesus em Deus, trocando
um Deus pelo outro, fingir que o Deus do Antigo
Testamento não existe, nunca existiu, e que
somente existe o Deus do Novo Testamento, não
modifica muita coisa. Ao contrário, sob certos
aspectos, até complica e desacredita o Novo
Testamento. Isto porque, se Jesus é filho do
mitológico e personificado Deus velho da Bíblia,
conforme faz crer a Bíblia, então Jesus sendo filho
do Deus personificado do Antigo Testamento...
continua a história... filho do Deus mitológico velho
do Antigo Testamento, barbudo, de roupão branco,
sentado numa nuvem... etc."
— "Como é que é? Não entendi, pai...!!!"
— "Se o novo Deus do Novo Testamento, Jesus, não
é filho de José e sim filho de um outro Deus
personificado (um outro Deus que não o Deus
mitológico e velho do Antigo Testamento)... então
estão criando um outro Deus, também
personificado como no Antigo Testamento, e in-
correndo em novos e velhos erros. Isto porque, ao
personificar o novo Deus, tratando-o como uma
pessoa (seja o Deus velho ou um novo Deus
criado), sendo Ele a imagem do ser humano, e
como tal, responsável pela fecundação de Maria,
mantendo ou não relações sexuais com ela
(exatamente como os Deuses da mitologia grega e
romana faziam para "produzir" novos deuses,
semideuses, etc.), volta-se a todo aquele
questionamento de Deus ser uma figura mitológica
criado e inventado à imagem e semelhança do ser
humano, e aí vem todo o questionamento de ser
homem ou mulher, preto ou branco, ter pai e mãe,
avô, etc.
Entendeu agora, filho? Realmente admitir a
fecundação de Maria, por Deus, é trocar seis por
meia dúzia. Voltaríamos à estaca zero do Deus
velho do Velho Testamento ou de um Deus
personificado.
Para facilitar a compreensão e não entrar numa
discussão interminável que remete ao Antigo
Testamento e todos os questionamentos de um
Deus velho e mitológico que envergonha os
cristãos — embora eles não admitam — vamos
admitir que Jesus é filho de Deus (o verdadeiro
criador do universo, sem forma, que ninguém sabe
como é e que jamais foi visto por quem quer que
seja) como todos nós somos filhos de Deus e tudo
mais que existe no mundo é filho ou criação de
Deus. (Sem falar na fecundação física de Maria,
feita por Deus, pois aí a questão fica interminável)
Vamos admitir dessa forma e ignoremos, por
instantes, essa fantasia mitológica de que Deus
(como se fosse gente) veio ao mundo, teve
relações sexuais com Maria, engravidou-a, e ela
continuou virgem. Isso é coisa de mitologia, e
sequer chega a ser original, posto que é uma cópia
mal feita das mitologias grega e romana."
— "Quer dizer, pai, que antes de Cristo os Deuses
também engravidavam pessoas para fazer novos
Deuses?"
— "Pois era assim, filho, que funcionavam as
mitologias, principalmente a mitologia grega."
— "E a mãe de Jesus, pai? Como foi que ela
engravidou?"
— "Normalmente, ora. Como todo mundo. Jesus in-
clusive teve irmãos e irmãs."..
— "Teve irmãos e irmãs? Por que é que não se fala
disso?"
— "Não só falam como está escrito e documentado,
na própria Bíblia. A gente vai ver isso com mais
detalhe e precisão mais para a frente. Por
enquanto entenda que Maria, apesar de muito
jovem (e por isso as traduções oportunamente
"confundem" jovem com virgem), teve uma vida
de casada absolutamente normal. Casada com
José, Maria teve filhos, e vários (ao todo foram
sete. Ou seja, Jesus, mais quatro irmãos e duas
irmãs), conforme Mateus confirma em seu
evangelho (13:55-56): "Por acaso não é Ele o filho
do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria?, e
seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas, e suas ir-
mãs não vivem elas todas entre nós?"
À bem da verdade, nestes versículos só existe um
equívoco, é tratar Jesus e José como carpinteiro,
quando na realidade a palavra correta utilizada é
"tekton", que é uma espécie de "faz tudo", um
camponês, um artesão, que além de cuidar do
campo faz de tudo um pouco, inclusive carpintaria.
E Jesus era bem isso, um artesão camponês (que
também fazia serviços de carpintaria). Tanto que
em suas parábolas estão bastante presentes e
impregnadas sua vida de camponês com exemplos
ligados à agricultura e à pecuária.
E tem mais. Em Gálatas (1:19) está claramente
dito: "Não vi mais nenhum dos apóstolos, a não
ser Tiago, irmão do Senhor".
Recentemente foi encontrado a funerária de Tiago,
irmão de Jesus, com a inscrição original em
aramaico: "Yaákóv, bar Yosef, akhui di Yeshua"
(Tiago, filho de José, irmão de Jesus)"
— "Mas pai, se Maria teve uma vida comum e
normal, como todo mundo, por que inventaram
essa história de virgindade?"
— "Para tornar Jesus "puro" desde o nascimento.
Quem acompanhar outros versículos dos
evangelhos da Bíblia, meu filho, entenderá
perfeitamente a razão e o porquê de ter sido
inventado a história da virgindade de Maria. Pois,
se Jesus fosse uma pessoa comum, um qualquer,
filho de um camponês, um carpinteiro, ninguém
lhe daria credibilidade, pois "santo de casa não faz
milagre". Ou conforme registrado em Mateus
(13:57-58): "Mas Jesus disse-lhes: “um projeta só é
desprezado na sua pátria e em sua casa.” E não
fez ali muitos milagres por falta de fé daquela
gente". Ou seja, para que acreditassem em Jesus
foi preciso que Ele fosse fazer milagre longe de
sua terra natal, e com isso foi criado uma história
mitológica de que Ele era filho de Deus, fecundado
em uma virgem, e que Maria ficou virgem até
morrer. Como se a conjunção carnal de Maria
desacreditasse Jesus e sua obra."
— "Então "eles" (os religiosos escribas) queriam
Deus ou um quase Deus que já nascesse puro
como se fosse um Deus?"
— "É mais ou menos isso. A Bíblia até promove
uma grande confusão, ora chamando Jesus de
Filho do Homem (porque ele é, realmente, filho de
José), ora chamando Jesus de Filho de Deus
(porque também ele é, como todos nós somos —
só que a Bíblia não esclarece isso e cria uma
grande confusão, dando a entender que Jesus é
filho carnal de Deus — o que é uma bobagem
terrível)
Em João (5:25) é dito: "Em verdade, em verdade
vos digo que a hora vem, e já chegou, em que os
mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a
ouvirem viverão". Entretanto, no mesmo João
(5:27) é dito: "E lhe deu o poder e autoridade para
julgar, porque é o Filho do Homem".
Veja bem, filho, que João mesmo cria a confusão,
ora chamando Jesus de Filho de Deus, ora
chamando Jesus de Filho do Homem.
Mas, isso não é um caso isolado, pois tanto João
quanto os outros evangelistas chamam Jesus, em
várias passagens, alternadamente, de Filho de
Deus e de Filho do Homem, demonstrando que
Jesus era homem de carne e osso, filho do homem
(com direito até a árvore genealógica, conforme
traçado por Mateus), nascido e concebido como
todo e qualquer ser humano. E Maria, sem que isso
a desmereça, só foi virgem até o casamento, pois
daí em diante teve vários e vários filhos e Jesus
teve irmãos e irmãs.
Quer ver exemplos, na própria Bíblia?
(Mateus 13:55-56): "Por acaso não é Ele o filho do
carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria?, e seus
irmãos Tiago, José, Simão e Judas, e suas irmãs
não vivem elas todas entre nós?"
(Mateus 12:46) "Estava Ele ainda a falar à
multidão, quando apareceram Sua mãe, Seus
irmãos, que do lado de fora procuravam falar-Lhe."
(Lucas 8:19) "Sua mãe e Seus irmãos vieram ter
com Ele, mas não podiam aproximar-se por causa
da multidão.
(João 7:3-6) "Disseram-Lhe, pois, Seus irmãos: ‘Sai
daqui e vai para a Judéia, a fim de os Teus
discípulos também verem as tuas obras, pois
ninguém que pretende ser conhecido atua em
segredo. Já que fazes estas coisas, manifesta-te ao
mundo’." De fato, nem Seus irmãos acreditavam
Nele. Jesus disse-lhes: ‘O Meu tempo ainda não
chegou’.
Está mais do que claro. Não está? Inclusive é bom
reparar na citação anterior, de João, que de uma
vez só, cita no mesmo versículo os irmãos e os
discípulos de Jesus, mostrando que são diferentes
irmãos e discípulos. Jogando por terra, desta
forma, a desculpa esfarrapada, inventada por
alguns religiosos (exegetas de bicicleta), de que o
termo "irmãos" referia-se aos discípulos de Jesus
ou a Seus primos ou parentes distantes.
Se os verdadeiros irmãos de sangue de Jesus, não
são seus verdadeiros irmãos, pelo simples
argumento cínico de que "irmãos" queria dizer
qualquer parente ou amigo, então Maria também
não seria mãe de Jesus, pois Jesus só a tratava por
"Mulher", e quase nunca por mãe.
Essa história de nascimento de virgem decorre
simplesmente de uma cópia judaica das mitologias
existentes, principalmente das mitologias grega e
romana, onde os Deuses para criar novos Deuses
ou semideuses ou heróis, engravidavam virgens
como uma forma de — desde o nascimento —
considerar a autoridade do novo Deus como sendo
inquestionável. O novo Deus ou semideus, ao ser
fecundado por Deus em uma virgem, já nascia
poderoso por ter sido fecundado por um Deus, e
isento de "pecado", por ter sido gerado em uma
virgem.
Outro fator que contribuiu para a invenção
mitológica de Jesus ter nascido de uma virgem,
decorre de uma necessidade de se adaptar a vinda
do messias às profecias existentes no Antigo
Testamento, que diziam que o messias viria do
ventre de uma virgem. Entretanto, meu filho, nem
isso é verdade, pois nos textos originais a palavra
mal traduzida por "virgem" é "almah", que na
realidade, bem traduzida, em sua forma mais
exata, significa simplesmente "jovem mulher",
"rapariga", "menina", "donzela". Não
necessariamente uma virgem."
— "Mas, pai... eles não poderiam ter confundido e
errado na tradução?"
— "De maneira alguma... Não se pode nem alegar
que a virgindade de Maria foi um mero "erro de
tradução", pois a palavra que realmente significa
"virgem" é "bethulah". Tanto que no livro de
Isaías, "bethulah", como "virgem", aparece quatro
vezes (23:12, 37:22, 47:1, 62:5). Ou seja, os
tradutores sabiam o tempo todo que "almah" não
significava virgem, e que a palavra "bethulah",
significando realmente virgem, jamais foi usada
em relação a Maria ou em relação à profecia da
vinda do messias.
Resumidamente, até mesmo no texto da Bíblia,
em hebreu, a virgindade de Maria e a alegada
virgindade na profecia da vinda do messias não
existem e são obra da invenção humana, mais
especificamente de religiosos interessados em
adaptar os textos da Bíblia (Antigo Testamento)
aos interesses religiosos momentâneos,
pretendendo, com isso, manter os "fiéis" na
mesma ignorância que sempre tentaram manter
em relação à parte de conto de fadas do Antigo
Testamento."
— "Quer dizer, pai, que em momento algum a
Bíblia fala em virgem Maria?"
— "No original, não. Só nas traduções e versões. O
correto a respeito de Maria é jovem mulher
("almah"), que não quer dizer, necessariamente,
virgem. Mas, alguns poderão alegar que nos
evangelhos de Mateus (1:18-25) e Lucas (1:26-35)
consta que Jesus nasceu de uma virgem (embora a
maioria dos textos destes evangelhos seja cópia
entre si, adulterados pela igreja e adaptados às
profecias do Antigo Testamento, para fazer
coincidir as profecias do Antigo Testamento com o
que ocorreu no Novo Testamento).
Vejamos: Só Mateus (1:23) apela para as
escrituras hebraicas (Antigo Testamento) como
explicação para a virgindade de Maria, induzindo o
leitor da Bíblia a acreditar que isso era profético,
que há muito estava escrito no Antigo Testamento
e que profeticamente iria acontecer. Entretanto,
não é bem isso que está no Antigo Testamento.
Veja:
Isaias (7:14) "Por isso mesmo, o Senhor, por Sua
conta e risco, vos dará um sinal: Olhai: A jovem
(palavra correta) mulher está grávida e dará a luz
a um filho, por-lhe-á o nome de Emmanuel".
Veja bem. O Antigo Testamento não fala em
virgem, mas sim numa jovem mulher, e que o filho
desta jovem mulher, segundo o profeta Isaias, irá
chamar-se Emmanuel.
Se por um lado Mateus adultera o texto bíblico do
Antigo Testamento, pois "almah" não significa
virgem e sim jovem mulher. Por outro lado Mateus
adultera mais ainda a "profecia", posto que Jesus
não se chama Emmanuel, conforme previsto na
profecia do Antigo Testamento. Aliás, o próprio
nome de Jesus é de um mistério absoluto.
— "Mistério como? O nome dele não é Jesus?"
— "Também..."
— "Também como? É ou não é Jesus?"
—"Ele chama-se Jesus ou Yesus em latim. Ou
Yeshua também em latim ou Jeshua em hebraico.
Mas também é Josué ou Giosué ou Joshua ou
Yoshua, dependendo de onde Ele é chamado. E
até mesmo atende pelo título de Cristo ou Christós
em grego."
— "Não entendi nada. Qual o seu verdadeiro nome
de Jesus?"
— "Para nós é Jesus e pronto. Pois todos esses
nomes, na realidade não são nomes como nós
conhecemos. Na verdade são títulos honoríficos ou
apelidos que significam "Salvador", "Ramo",
"Vara", "Ungido", "Messias", "Escolhido".
Coincidência ou não, é assim também em relação
a Deus que, no texto original da Bíblia, é chamado
de Elohim, Eloah (Vindos do céu), El Chaddai
(Onipotente / O todo poderoso), Elión (O Altíssimo),
Adonai (Divino), Javé (O Deus vivo) ou Jeová. E no
caso de Jesus aconteceu algo bem semelhante,
vez que ele recebeu vários nomes, ou melhor,
vários apelidos, significando títulos honoríficos.
Um outro apelido de Jesus bastante comum é o de
"Jesus de Nazaré", adaptado do hebraico Yeshua
(Salvador) Netser (Ramo). Entretanto, "Jesus de
Nazaré" ou Yeshua Netser não é um nome, e sim
um título, que significa o Salvador de Nazaré, ou o
Ramo de Nazaré, ou o Ramo Salvador de Nazaré.
Isto porque, havia a necessidade de se adaptar o
nome de Jesus às benditas profecias do Antigo
Testamento, como em Isaias 11:1, ao tentar
predizer que de Jessé (pai do Rei David) nasceu a
Vara ou o Ramo, predizendo um messias "E sairá
uma Vara do tronco de Jessé, e um Ramo crescerá
fora de suas raízes..."
— "Ah... então quer dizer que o nome d'Ele, na
verdade, é um título, e como Ele chama-se Jesus e
não Emmanuel não se cumpriu a profecia do
Antigo Testamento?"
— "Exatamente isso. O nome de Jesus é um título
honorífico (O Salvador). E por Jesus não se chamar
Emmanuel, não se cumpriu a profecia do Antigo
Testamento."
— "Bom, pai, mas qualquer que seja o nome de
Jesus, isso não modifica a vida dele... Ou
modifica?"
— "Não. Claro que isso não modifica a vida de
Jesus. Estes registros em relação a Jesus não
modificam em nada a sua história e nem
pretendem modificar, pois qualquer que seja ou
tenha sido seu nome, mundialmente será conheci-
do simplesmente como Jesus para a maioria, com
direito a variações como Jesus de Nazaré, Jesus
Cristo e para uns tantos será Joshua, ou Jeshua.
Veja bem, filho, eu somente abordei a questão do
nome de Jesus por dois aspectos: Primeiro, porque
os apelidos e os nomes na "Sociedade Secreta de
Jesus" é absolutamente fundamental (Jesus é Xpto,
Simão é Pedro, João irmão de Tiago é Boanerges,
Batolomeu é Natanael, Levi é Mateus, Tomé é
Dídimo, etc.)."
— "É mesmo?"
— "É sim !!!"
— "Segundo, porque o nome desmistifica a profecia
falsificada no Novo Testamento, feita às avessas.
Ou seja, inicialmente foi dito no Antigo Testamento
que o messias seria o filho de uma virgem (na
verdade uma "jovem") e que se chamaria
Emmanuel. E posteriormente tentou-se adulterar
esta história e foi colocado no Novo Testamento,
70 anos depois de Jesus ter nascido, uma nova
"profecia retroativa" dizendo que o filho da
"virgem" se chamaria Jesus e com isso tentando
enganar as pessoas como se a "profecia" tivesse
acontecido."
— "Nossa... mas tanta briga só por causa de um
nome?"
— "Não existe briga. O que existe é o fato de, se
você questionar e pesquisar, a verdade sempre
acaba aparecendo, apesar das pessoas ficarem
escondendo para tentar transformar Jesus em
Deus, como se isso fosse salvar a humanidade.
(Aliás, se isso, essa bobagem de Mateus, fosse
fundamental, a humanidade já estaria salva e não
haveria mais sofrimento)."
— "Bom... então a história parou por aí...??? Não in-
sistiram mais no fato da profecia e nem que Jesus
é Deus?"
— "Que nada. Até hoje insistem em transformar
Jesus em Deus, esquecendo-se do mais elementar
disso tudo: Deus é Deus e Jesus é Jesus. Isso é
inquestionável.
Você quer ver uma coisa? Veja como a própria
igreja ensina errado para você. Por exemplo: reze
a "Ave Maria".
— "Ave Maria cheia de graça, o Senhor é
convosco, bendito é o fruto do Vosso ventre: Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus..."
—"Pode Parar!!! Viu só? Você mesmo repete a
bobagem sem sequer notar. Santa Maria, Mãe de
Deus? Desde quando Jesus é Deus? E desde
quando Deus tem mãe?
Essa confusão com relação à questão de Jesus ser
filho de Deus ou filho do homem (José), acontece
porque a própria Bíblia, para variar, confunde isso
tudo, inúmeras vezes, e em passagens até não
muito distantes."
— "Mas, pai, se isso é tão claro, Deus é Deus e
Jesus é Jesus, conforme você diz, por que e como
foi criada a confusão originalmente?"
— "Por vários motivos, mas sendo o principal deles
devido à invencionice de João (Evangelista), que
em 10:30 afirma que Jesus teria dito que Ele
(Jesus) e o pai (Deus) eram um só ("Eu e o pai
somos um"). Daí, para explicar a diferença entre a
verdade e a força de expressão, são séculos de
disse que disse, falou mas não disse. Falou mas
não foi bem isso que quis dizer... uma
complicação.
Na verdade, essa bobagem de confundir Jesus com
Deus só interessa ao segmento religioso que,
sentindo-se incapaz de amar a Deus sem uma
forma definida, atribui a Jesus a condição de ser
Deus. Mais especificamente, à imagem bonita de
Jesus, cada vez mais bonita fisicamente, que
começou com uma figura bizantina feia, foi
aformoseando, aformoseando, sendo melhorado
por pintores, até que hoje em dia já há imagens
lindíssimas de Jesus com cabelos louros e de olhos
azuis. Repare que ninguém quer a imagem de
Jesus bizantino feio, muito menos a imagem de
Jesus que foi criada por computador, retratando-o
como Ele deveria ser fisicamente, segundo
estudos antropológicos de como deveria ser o
judeu mediano daquela época.
— "Mas, pai, não há um meio de desmentir isso?
Jesus mesmo não poderia desmentir isso?"
— "Ele mesmo, Jesus, já desmentiu, filho. Os
homens é que não querem ver. Jesus renegou esta
condição de ser Deus inúmeras vezes. Até mesmo
a sua condição de rabino judeu, sábio essênio
religioso, não lhe permitia assumir a identidade de
Deus, o que seria uma heresia para ele, justo Ele,
um "rabi" (mestre), profundo conhecedor das leis
divinas judaicas. Seria uma blasfêmia inominada.
Isto, sem contar que a própria Bíblia relata os
diálogos de Jesus com Deus, na cruz, onde,
primeiramente, ele pede perdão a Deus pelos seus
algozes, dizendo: "Pai, perdoa-lhes, eles não sa-
bem o que fazem". (Logicamente, se Jesus fosse
Deus este diálogo seria impossível). E no clímax do
martírio, Jesus chega mesmo a duvidar de seu
relacionamento com Deus, ao questionar: "Pai,
Pai, por que Me abandonaste?" (Coisa que ele não
faria se fosse Deus e se tivesse conhecimento dos
planos — de Deus — divinos). E rendendo-se a
Deus e aos planos divinos que Ele desconhecia,
conclui: "Está consumado. Seja feita a Vossa
vontade" (a vontade de Deus e não a vontade de
Jesus).
—"Quer dizer que Jesus duvidou de Deus?"
—"Não é bem assim... Jesus achava que sabia
tudo, conhecia todos os planos de Deus, mas não
conhecia. E quando viu-se frente a frente com a
morte, sem entender os planos de Deus, Ele
duvidou e perguntou: "Pai, por que Me
abandonaste?" Mas, rapidamente, Ele lembrou-se
de Suas reflexões no horto. Lembrou-se que Ele
teria que tomar daquele "cálice amargo", e
rendendo-se a Deus concluiu: "Seja feita a Vossa
vontade".
Filho, é absolutamente desnecessário alongar a
questão se Jesus é Deus ou não é Deus. Pois
somente para atender interesses religiosos
comerciais de determinados segmentos de igrejas
é que Jesus é confundido com Deus, sob a
afirmativa dúbia e tola de que "Jesus Cristo é o
Senhor", como se "Senhor" (dono de escravos)
fosse designativo de Deus. Só isso. Nada mais do
que isso.
Entenda bem e de uma vez por todas: Jesus não é
Deus. Jesus não é Senhor, pois Senhor é feitor de
escravos. Jesus é Jesus. Deus é Deus e Senhor é
uma herança maldita dos tratados escravagistas
implantados na Bíblia e que os representantes
comerciais das igrejas fazem questão de manter.
Chamar Deus ou Jesus de Senhor é uma bobagem
do tamanho do universo.
—"Quer dizer então que Jesus ser Deus é
meramente para atender a uma questão de
interesse financeiro-religioso?"
—"É isso aí. Só isso. Exatamente isso."
Resta alguma dúvida de que Deus é Deus e Jesus é
Jesus? Não? Então abordemos a questão da
segunda metade da Bíblia (Novo Testamento), já
que o Antigo Testamento, excluído a parte
mitológica e fantasiosa da criação do mundo, Adão
e Eva, arca de Noé, dilúvio e etc., sobra exa-
tamente o mais importante e o que vale a pena ler
na Bíblia, que são as belas palavras dos salmos,
dos provérbios, e dos ensinamentos e sabedorias.
Diferentemente do Antigo Testamento, que
messianicamente é tido como a "palavra de Deus",
escrito e inspirado por Deus, o Novo Testamento
(ou a principal parte dele) foi escrito por quatro
apóstolos ou evangelistas, seres humanos, de
carne e osso, que contaram a saga e a vida de
Jesus. São eles: Mateus (que foi um coletor de
impostos — Levi —, que também viveu na época
de Jesus e foi Seu discípulo); Marcos (que não
conheceu Jesus, registrou o evangelho por ouvir
dizer. É tido por alguns como o autor do primeiro
evangelho); Lucas (um médico que também não
conheceu Jesus e reproduziu seus escritos por
ouvir dizer, a quem atribui-se, também, o "Ato dos
Apóstolos") e João (que viveu na mesma época de
Jesus, foi Seu discípulo, foi evangelista, pregador
do evangelho — boas novas — de Jesus, a quem
atribui-se, também, o "Apocalipse", e algumas
cartas ou epístolas).
Com muita boa vontade, e bota boa vontade nisso,
aceita-se que os quatro evangelhos sejam de
autoria de Mateus, Marcos, Lucas e João, isso
porque os evangelhos não são assinados, não
existe qualquer prova, qualquer referência ou
comprovação histórica quanto os evangelhos
terem sido de autoria destes apóstolos, e o mais
grave, não existe sequer prova material da
existência física desses manuscritos originais em
aramaico (Os manuscritos originais não eram
assinados, suas autorias são questionáveis, os tex-
tos eram folhas soltas, foram misturadas,
traduzidas, refundidas pelas igrejas de acordo com
os interesses e a convicção religiosa da época).
A bem da verdade, sabe-se que estas autorias
foram atribuídas e impostas pela igreja de modo a
conferir um certo ar de credibilidade a estes
manuscritos. (Embora isto possa parecer
irrelevante, é de vital importância para a aceitação
dos evangelhos e a sua propagação no mundo
cristão).
De uma maneira geral os quatro evangelhos
ficaram divididos em três evangelhos chamados
sinópticos (do grego "synoptikós", que quer dizer
sinopse, ou várias coisas vistas de maneira
resumida), que são os de Mateus, Marcos e Lucas,
mas que na realidade são os que foram assumi-
damente copiados uns dos outros, como se fosse
uma coisa só e refundidos (reescritos) pela igreja.
E o quarto evangelho é o "não-sinótico", que é o
de João, o vaidoso, o pernóstico e carente João
Evangelista, que de versículo em versículo achava
sempre um jeito de se incluir no próprio texto,
escrevendo sobre ele mesmo como "o discípulo a
quem Jesus amava". Entretanto, esta separação
entre evangelho sinótico e não sinótico é
absolutamente irrelevante, haja vista que a igreja
refundiu (reescreveu) os quatro evangelhos,
pasteurizando-os com o mesmo interesse e
atribuiu-lhes as autorias que ora são as
conhecidas.
Independentemente das questionáveis autorias
dos evangelhos, há que se fazer o registro que
somente o evangelho de Mateus foi originalmente
escrito em aramaico (língua falada na Galiléia e na
Judéia), mas ainda assim, estes manuscritos foram
perdidos, restando somente versões em grego.
Enquanto que os outros três evangelhos,
estranhamente, foram "encontrados" já escritos
em grego (língua que mal se falava na região da
Galiléia e na Judéia).
O que representa dizer que, de tudo que existe
como registro histórico dos evangelhos, restam
somente cópias em grego (e não em aramaico) e
que as exatas palavras de Jesus — em aramaico —
estão perdidas para sempre. E isso talvez explique
a confusão de palavras trocadas, palavras não
ditas e/ou conflitantes quando comparadas entre
os evangelhos.
Os evangelhos seriam "perfeitos" se as autorias
pudessem ser determinadas e confirmadas e se os
manuscritos existissem fisicamente em original
(manuscritos e em aramaico) e pudessem ser
estudados. Entretanto, a igreja colocou tudo a
perder, pois o que resta são cópias "refundidas" e
traduções do que seriam os originais. Sem contar
que a igreja primeiro selecionou quais folhas soltas
ela queria e quais não queria, em seguida atribuiu
suas autorias a Mateus, Marcos, Lucas e João, para
finalmente excluir e banir os evangelhos que,
cinicamente, a igreja chama de apócrifos (os
Gnósticos, o evangelho dos hebreus, o evangelho
dos essênios, o evangelho dos ebionitas, o
evangelho dos egípcios, o de Tomé, o proto-
evangelho de Tiago, o de André, o de Bartolomeu,
o de Filipe, o de Maria Madalena, o de Nicodemos,
o de Barnabé, o de Pedro, e até mesmo os
Manuscritos do Mar Morto) que não interessavam e
não interessam porque conflitam muito com os
quatro evangelhos (também apócrifos) escolhidos
pela igreja, vez que estes evangelhos banidos —
considerados cinicamente como apócrifos
("cinicamente, porque todos os evangelhos são
apócrifos, inclusive os quatro de Mateus, Marcos,
Lucas e João, uma vez que nenhum evangelho é
assinado e suas autorias são imputadas e não
podem ser comprovadas) — pois os chamados
raivosamente pela igreja de evangelhos apócrifos
assim foram considerados pois retratavam a vida
de Jesus, do nascimento aos 30 anos, que a igreja
tanto queria esconder e por isso desmistificavam
as interpretações mirabolantes criadas pela igreja
a respeito de Deus e de Jesus.
Este banimento dos evangelhos, raivosa e
vingativamente alcunhados pela igreja como
"apócrifos", teve lugar durante o Concílio de
Nicéia, 325 d.C., quando a igreja mandou destruir
as cópias dos evangelhos que desagradavam as
versões da igreja, bem como mandou condenar à
morte quem possuísse cópia dos evangelhos
"apócrifos", como por exemplo os cinco
evangelhos de Tation que demonstram Maria e
Jesus como não pertencentes à nobre
descendência da casa de Davi; o evangelho
egípcio demonstra a passagem adulta de Jesus no
Egito e sua experiência no zoroastrismo; o
evangelho essênio destaca a vida de Jesus como
essênio; o evangelho dos hebreus apresenta a
atuação de Tiago na condição clara de irmão de
Jesus, enfocando a infância de Jesus como um
simples ser humano; o evangelho de Barnabé
mostra as viagens de Jesus ao extremo oriente
(principalmente China e Índia) não registradas na
Bíblia; os evangelhos de Tomé e Filipe relatam que
os cristãos não acreditavam que Jesus havia
morrido na cruz; e em atos de Tomé é
demonstrado que não só Jesus viveu na Índia
como Tomé foi o introdutor do cristianismo na
Índia. Tomé foi proscrito principalmente por relatar
em seu evangelho que Jesus não nasceu de
nenhuma virgem. O evangelho de Filipe, por sua
vez, não só destaca a ida de Jesus para a Índia
como acrescenta como companheiros de viagem a
sua mãe Maria e a consorte de Jesus, Madalena.
Logicamente, a igreja não queria e não quer nem
de perto (e nem de longe) ouvir falar desses
evangelhos. Mas, apesar dos esforços e ameaças
da igreja os registros destes evangelhos
atravessaram séculos e séculos, sobreviveram e
estão aí desmentindo e desmistificando as coisas
que a igreja tanto se empenhou em ocultar.
Hoje, não há mais como a igreja esbravejar,
ameaçar de morte ou sustentar as mentiras contra
os evangelhos que ela cinicamente chama de
"apócrifos" (embora evite discutir sobre o tema)
pois diante das evidências gritantes o melhor é
silenciar e quem sabe daqui a mil anos pedir
perdão, novamente, como teve que fazer em
relação às cruzadas e os crimes praticados por ela,
igreja, durante a santa inquisição.
Entretanto, apesar disso tudo, é bom que se
enalteça a atual posição da igreja católica, onde já
há um grande avanço, pelo fato da igreja
reconhecer nas próprias explicações (bulas) das
Bíblias atuais que os quatro evangelhos do Novo
Testamento (Mateus, Marcos, Lucas e João) são
realmente apócrifos e que foram montados ao
gosto e interesse da igreja, com fins meramente
de catequese. Ou seja, a igreja confessa que
pegou as folhas soltas que interessavam, montou
os quatro evangelhos que haviam sido escolhidos
por ela, reescreveu-os a bel-prazer, de acordo com
os interesses da igreja da época, visando
basicamente ter algo escrito para as missões de
catequese."
— "E como foi que a igreja criou esses evangelhos
e atribuiu aos quatro evangelistas, pai?"
— "Começou por volta do ano 150 da nossa era. A
igreja pegou aquela "papelada" toda — isso
porque os evangelhos não eram livros completos,
eram folhas soltas — e foi separando e atribuindo
autoria: Isso é de fulano, isso é de sicrano, isso é
de beltrano... e no final, depois de ter pilhas de
papéis amontoadas, separou em evangelhos por
autoria, reescreveu tudo, dando uma redação final
a seu gosto, e criou um salseiro terrível. Pois, na
tentativa de harmonizar os textos e fazer tudo
coincidir (Mateus copiava Marcos, daí Marcos
copiava Mateus, e Lucas copiava os dois. A tal
ponto isso aconteceu, que acabou até perdendo a
importância se quem escreveu primeiro foi Marcos
ou não, pois tudo acabou sendo cópia de tudo e
pasteurizado pela igreja), e então a própria igreja
acabou deparando-se com um problema enorme.
Ou seja, quando os evangelhos estavam narrando
o mesmo fato, quando aparecia contradição e
discrepância... a quem dar maior credibilidade?"
—"A quem? A qual evangelista?"
—"A ninguém... pois se originalmente já havia
discrepância e contradição entre os textos, até
mais não poder, na dúvida a igreja preferiu deixar
as contradições entre os textos a ter que dar razão
a um e tirar a razão de outro."
—"Como assim, pai?"
—"Por exemplo, se um evangelista dizia que tal
coisa havia acontecido numa determinada hora ou
num determinado lugar, e outro evangelista dizia
que havia acontecido noutra hora ou noutro lugar,
a igreja preferiu deixar as duas versões, mesmo
sabendo que uma das duas versões estava errada,
porque ela não sabia qual das duas versões era a
versão correta. E como ela, igreja, caso fizesse
uma escolha, poderia estar fazendo a escolha da
versão errada, foi preferível manter as duas
versões mesmo sabendo que uma estava certa e a
outra estava errada. Até porque, seria mais fácil
colocar a culpa em quem lê do que remendar o
texto."
—"Colocar a culpa em quem lê? De que maneira?"
—"Simples. Basta chamar de herege a pessoa que
questiona qualquer parte do texto bíblico. Basta
ameaçar de excomunhão quem duvidar do texto e
amaldiçoar com a pena de penitência eterna.
Basta dizer que quem duvidar da legitimidade do
texto está possuído pelo demônio. É só chamar de
anticristo a pessoa que contesta."
—"E tem gente que acredita nisso?"
—"Se tem? Como tem... A maioria acredita
cegamente nos quatro evangelhos!!!"
—"Mas a igreja reescreveu mesmo os
evangelhos?"
—"Olha... para não ficar parecendo opinião pessoal
minha, vou citar a própria versão do Vaticano, a
própria palavra oficial, inscrita na Bíblia Sagrada —
Nova Edição Papal, feita pelos missionários
capuchinhos de Lisboa, Portugal.
Pág. 973 — "Atualmente temos quatro Evangelhos
canônicos: segundo Mateus, segundo Marcos,
segundo Lucas e segundo João. Tais livros não
nasceram desses autores de uma só assentada,
como geralmente acontece com os livros
modernos. Antes de verem a luz, eles passaram
por um período de gestação nas primitivas
comunidades cristãs. Por isso, não têm apenas a
garantia dum simples autor, mas também a da
igreja, em cujo seio nasceram."
"Uma primeira compilação de tais "folhas soltas"
deve ter sido feita em Jerusalém, em arameu; o
seu autor, segundo a tradição, foi o apóstolo
Mateus. Mas este original não chegou até nós.
Traduzido para o grego, e muito ampliado por
volta do ano 70, é o atual Evangelho segundo
Mateus. Esta refundição deve ter-se verificado
provavelmente em Antióquia."
"Estas narrações, à força de serem repetidas,
tendiam a tomar uma forma unitária e fixa. Pouco
a pouco começaram a pôr-se por escrito para
atender às necessidades catequéticas."
"A presente obra leva por título "Evangelho
segundo S. Mateus". Este título, porém, não
pertence ao original. Os autores não costumavam
assinar os seus escritos. Mas a igreja, já por volta
do ano 150, atribui esta obra a Mateus, um dos
doze, identificado como Levi, o cobrador de
impostos."
Dá para perceber como foi feito? Primeiro foram
coletadas folhas soltas, que eram uma coletânea
de citações de Jesus (Sem história, só frases
soltas. As histórias foram montadas mais tarde).
Depois, em suas respectivas igrejas na Antióquia /
Anatólia (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes,
Filadélfia, e Laodicéia) o texto foi refundido
(montado uma história para harmonizar com o
texto), posteriormente os evangelhos foram
novamente refundidos e adaptados aos interesses
da catequese. Daí surgiram Marcos como o
primeiro evangelho a ser escrito e Mateus como a
primeira compilação dessas folhas soltas
compondo um evangelho, observando-se a
seguinte cronologia:
Os Ensinamentos de Jesus
O Sermão da Montanha e
As bem-aventuranças
1) Bem-aventurado os pobres de espírito, porque
deles é o reino dos céus.
2) Bem-aventurado os que choram, porque serão
consolados.
3) Bem-aventurado os mansos, porque possuirão a
Terra.
4) Bem-aventurado os que têm fome e sede de
justiça, porque serão saciados.
5) Bem-aventurado os misericordiosos, porque
alcançarão a misericórdia.
6) Bem-aventurado os puros de coração, porque
eles verão a Deus.
7) Bem-aventurado os pacíficos, porque serão
chamados filhos de Deus.
8) Bem-aventurado os que sofrem perseguição por
causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.
9) Bem-aventurado sereis quando vos insultarem e
perseguirem, mentindo, disserem todo o gênero
de calúnias contra vós, por minha causa.
A Sabedoria e os Ensinamentos de
Jesus
—Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Marcos
12:31)
— Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.
(João 13:34 e 15:12)
— Amai a vossos inimigos e orai pelos que vos
perseguem (Mateus 5:44)
— Sereis medidos com a medida que empregardes
para medir (Marcos 4:24)
— Não julgueis e não sereis julgados. Não
condeneis e não sereis condenados. Perdoai e
sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado (Lucas
6:37-38)
— Se alguém te bater najace direita, oferece a
outra face (Mateus 5:40)
— Se alguém te pedir para acompanhá-lo por uma
milha, acompanha-o por duas (Mateus 5:41)
— Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta
que conduz ao caminho da perdição (Mateus 7:13)
— Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará
(João 8:32)
— Quem exaltar a si mesmo será humilhado. E
quem for humilde será exaltado (Mateus 23:12)
— Guardai-vos de Jazer as vossas obras diante dos
homens para vos tornardes notados por eles.
(Mateus 6:1)
— Quando orardes, não sejais como os hipócritas
que gostam de rezar de pé nas sinagogas e nas
ruas para serem vistos pelos homens (Mateus 6:5)
— Quando deres esmola, não permitais que
toquem trombetas por ti, como jazem os hipócritas
nas sinagogas e nas ruas (Mateus 6:2)
— Quando deres esmola, que a tua mão esquerda
não saiba o quejez a direita, afim de que tua
esmola permaneça em segredo (Mateus 6:3-4)
— Buscai primeiramente o reino de Deus e sua
justiça e todas as coisas materiais vos serão
acrescentadas (Mateus 6:33)
— Na casa de Meu Pai há muitas moradas (João
14:2)
— Pelo fruto se conhece a árvore (Mateus 12:33)
— Não é o que entra pela boca que torna o homem
impuro, mas o que saí pela boca (Mateus 15:11)
— Pelas tuas palavras serás condenado (Mateus
12:37)
— Os últimos serão os primeiros, e os primeiros
serão os últimos (Mateus 20:16)
— Muitos são os chamados, mas poucos serão os
escolhidos (Mateus 20:16)
— A quem muito joi dado, muito mais será exigido
(Lucas 12:48)
— Por que reparas no cisco do olho de teu irmão,
se não reparas no tronco que está no seu olho?
(Mateus 7:3)
— Dá a quem te pede e não voltes as costas a
quem te pedir emprestado (Mateus 5:42)
— Orai e vigiai, para não cairdes em tentação
(Mateus 26:41)
— A carne é fraca. O espírito está pronto, mas a
carne é fraca (Mateus 26:41)
— Nem só de pão vive o homem (Lucas 4:4)
— Tudo quanto ligares na Terra ficará ligado no
Céu, e tudo que desligares na Terra será desligado
no Céu (Mateus 16:19)
— Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores
(Marcos 2:17)
— Meu reino nao é deste mundo (João 18:36)
— O céu e a Terra passarão, mas as minhas
palavras não passarão (Mateus 24:35)
— Minha paz vos deixo, minha paz vos dou (João
14:27)
— Onde estiverem reunidos, em Meu nome, dois
ou três, lá estarei no meio deles (Mateus 18:20)
— Ninguém pode servir a dois senhores, pois há de
amar a um e odiar o outro (Mateus 6:24)
— Vinde a mim ejarei de vós pescadores de
homens (Marcos 1:17)
— Deixai vir a mim as criancinhas, pois é delas o
reino dos céus (Marcos 10:14 e Mateus 19:14)
— Ninguém deita remendo de pano novo em
vestido velho, pois o remendo novo arranca parte
do velho e o rasgão fica maior (Marcos 2:21)
— O sábado foi feito por causa do homem e não o
homem por causa do sábado (Marcos 2:27)
— Afasta de mim este cálice (Mateus 26:39)
— Não permitais que vos tratem por doutores
(Mateus 23:10)
— Quem não é contra nós, é por nós (Marcos 9:40)
Para maior compreensão dos ensinamentos de
Jesus, é recomendável que sejam lidas as
parábolas, em especial a do convite à humildade
(Lucas 14:7-11), a do semeador (Mateus 13:3-9), a
do joio e do trigo (Mateus 13:24-30) e a do grão de
mostarda (Mateus 13:31-32).
— "A paz esteja convosco." (João 20:19)
Os Essênios
O maior pesquisador e historiador judeu de todos
os tempos, autor de "Antigüidades Judaicas",
Flávio Josefo, com toda a autoridade que lhe é
conferida mundialmente afirma que: "Existem,
com efeito, entre os judeus, três escolas
filosóficas: os adeptos da primeira são os fariseus;
os da segunda, os saduceus; os da terceira, que
apreciam justamente praticar uma vida venerável,
são denominados essênios: são judeus pela raça,
mas, além disso, estão unidos entre si por uma
afeição mútua, maior que a dos outros"
A origem dos essênios é bastante discutível e
improvável. Alguns acreditam que, por volta do
ano 170 a.C., os primeiros judeus que fugiram do
Egito com a finalidade de estabelecer uma
civilização própria, rumou para o deserto na Judéia
e passou a viver às margens do Mar Morto, criando
os primeiros grupos de essênios. E, por isso,
sofreram forte influência religiosa dos egípcios,
durante o período de dominação. (Os
"Rosacruzes", por exemplo, defendem a origem
dos essênios ligada a uma ramificação da Grande
Fraternidade Branca, fundada no Egito, no tempo
do faraó Akenaton). Outros, no entanto, crêem que
a titulação "Essênio" deriva de "Essen", filho
adotivo de Moisés, a quem foi confiada a
incumbência de dar continuidade na tarefa de
manter pura as tradições religiosas dos
ensinamentos bíblicos do povo hebreu. Isto
porque, os hebreus começaram a dividir-se tanto
em relação aos conceitos religiosos, formando
grupos distintos, e proliferava tanto a corrupção
religiosa em seu meio, comandada por um
mercantilismo em nome da religião e de Deus, que
Moisés teria atribuído ao seu filho adotivo Essen a
incumbência de conservar as tradições hebraicas e
os segredos da doutrina pura.
De certo, somente a comprovação histórica de que
os essênios, já por volta de 150 a.C. encontravam-
se nos arredores de Jerusalém e Belém (em
Qunram), e viviam isolados da opulência e
corrupção de costumes em que Jerusalém estava
mergulhada.
Independentemente de sua origem e do silêncio
em que viviam, a marca da passagem dos
essênios pelo mundo é uma das mais significativas
da história da humanidade. No ano 70 d.C.,
quando houve a diáspora (dispersão do povo
hebreu (judeus) por motivos políticos e religiosos),
e a destruição de Jerusalém pelas legiões
romanas, a maior das perseguições foi
empreendida, contra os essênios, não só pelos
romanos, mas principalmente pelos próprios ju-
deus (saduceus e fariseus), onde quase todos os
essênios foram mortos e os que escaparam jamais
puderam retornar às suas comunidades de
trabalho e oração. Mas, no entanto, antes de
fugirem, deixaram o maior legado que o cristia-
nismo e a arqueologia poderia encontrar: "Os
Manuscritos do Mar Morto".
Em 1947 (historicamente bastante recente), nas
cavernas em Khirbet Qunram, guardados em
urnas, potes e vasos, hermeticamente lacrados por
quase dois mil anos, foram descobertos os
"Manuscritos do Mar Morto" ou os "Manuscritos de
Qunram". E, diferentemente dos evangelhos, que
são traduções do grego e não do aramaico, de
autenticidade e idade nem sempre comprovadas,
agora havia uma quantidade imensa de
manuscritos, de idade e autenticidade
comprovada, que viria jogar nova luz sobre a his-
tória das religiões, principalmente sobre o
cristianismo.
A descoberta de Qunram se tornou a maior prova
e o maior marco histórico palpável do cristianismo.
As ruínas de cinco mosteiros no deserto da Judéia
são o marco da existência dos essênios em
passado distante, além de outros mosteiros
dispersos por diversas regiões na Samaria e na
Galiléia.
Antes de Qunram, ou dos "Manuscritos do Mar
Morto", a maior crítica e acusação que se fazia — e
com justiça — era que os documentos
(manuscritos em grego e não em aramaico) que
formavam o Novo Testamento eram inconfiáveis,
sem autoria certa e definida, e de autenticidade
questionável. No entanto, após a descoberta dos
manuscritos de Qunram, não só novas informações
surgiram como revalidaram, fortificaram e
consolidaram algumas já existentes.
Enquanto o Antigo Testamento, em especial o
Pentateuco, ou os cinco livros de Moisés, o Deus
ali descrito era um Deus quase humano e um Deus
tribal, muito particular do povo hebreu, só dos
judeus (O tal Deus velho, barbudo, sentado numa
nuvem) após as revelações dos manuscritos de
Qunram — surpreendentemente — aparece, pela
primeira vez para os judeus (no caso, essênios),
um Deus universal (e não tribal) que iria enviar um
messias, que não seria rei, mas um salvador, e
que viria para redimir, não só o povo judeu, mas
toda a humanidade.
Está certo que as bases de expansão do
cristianismo estão bastante ligadas à peregrinação
de Paulo (Saulo) Apóstolo. No entanto, a expansão
empreendida por Paulo também esteve ligada a
uma propagação errada, torta e destorcida do que
foi Jesus. Principalmente quando se valorizava o
Jesus curandeiro, arrogante e presunçoso e um
Jesus sofredor pregado na cruz, em detrimento do
Jesus humanitário, doutrinador, pregador da paz,
mensageiro da boa palavra e dos ensinamentos de
Deus.
De fato, a importância do surgimento dos
documentos dos essênios conhecidos como "Os
manuscritos do Mar Morto" foi corretamente
retratada pelo jornalista do New York Times,
Edmund Wilson, numa série de reportagens
históricas sobre os documentos de Qunram,
encontrados em 1947, que sem paixão, sem
fanatismo, escreveu: "O convento, esse prédio de
pedras, junto às águas amargas do Mar Morto,
com seus fornos, tinteiros e piscinas sacras,
túmulos, é mais do que Belém e Nazaré, é o berço
do cristianismo".
Em 1951, quatro anos apenas após a descoberta
dos manuscritos de Qunram, Hempel escreveu:
"Verdadeiramente esclarecida a origem dos
cristãos. O cristianismo é apenas essênio. Essênio
ou cristão, dá no mesmo."
No ano de 1923, cerca de quarenta anos antes dos
manuscritos de Qunram serem descobertos, o
teólogo e pesquisador religioso húngaro, Edmond
Szekely, obteve permissão do Papa para pesquisar
os arquivos da biblioteca do Vaticano, e qual não
foi sua surpresa ao traduzir uma obra antiquíssima
(originária do primeiro século d.C.), ocultada dos
meios religiosos, principalmente católicos, cha-
mada de "O evangelho essênio da paz", que falava
sobre os essênios e suas características (mas que
a igreja não gostaria que fosse divulgado, ou pelo
menos de conhecimento do grande público, de
modo a não causar controvérsia com o que até
então era dito e tido como verdade).
Antes mesmo disso acontecer, já em 1880, o
reverendo inglês Gideon Jasper Ouseley traduziu
do aramaico (língua que Jesus falava, que é a
maior garantia de autenticidade que um
documento em princípio possa ter — e não o grego
como nos evangelhos), um manuscrito essênio
chamado "O Evangelho dos doze santos", que
também foi ocultado do grande público, pois
representava a versão mais autêntica do Novo
Testamento de Jesus, e conflitava terrivelmente
com as "versões" dos quatro evangelistas que a
igreja reescreveu ou "refundiu".
Neste evangelho essênio, Jesus aparece como uma
figura que veio inspirar um segmento religioso
muito forte. Segmento este de grande humildade,
extrema devoção a Deus e imensurável piedade
pelos seres humanos e pelos animais, que de fato
orientou a ordem franciscana de São Francisco de
Assis. Jesus é apresentado neste evangelho como
um vegetariano parcial (no máximo comia peixe e
gafanhotos) e sua mansidão e paz são descritos
assim: "As aves se reuniam ao seu redor e lhes
davam boas-vindas com seu canto e outras
criaturas vivas se postavam à seus pés e ele as
alimentava com suas mãos."
Claro que não interessava à igreja, impregnada
pelo Deus velho do Antigo Testamento, que fosse
divulgado um Jesus simbolizado pelo peixe (ao
invés da cruz), humilde, manso, humanitário e
pacifista (sem grandes apelos de mídia e de
marketing) ao invés do carismático curandeiro pre-
sunçoso e arrogante, conforme descrito nos quatro
evangelhos, principalmente caracterizado pelo
impacto da emoção e piedade causados pelo
sofrimento que a cruz representava. Tudo isso, um
revisionismo religioso, poderia causar um cisma e
uma tremenda divisão entre e dentro das igrejas
cristãs. E de fato, para a maioria que tomou
conhecimento da realidade, criou-se este
divisionismo, vez que um segmento religioso
esclarecido, fiel à verdade, desejava trazer à baila
a verdadeira história de Jesus, humilde, manso,
humanitário e pacifista. Entretanto, o tradicio-
nalismo religioso, receoso em mexer no sucesso
de marketing do Jesus sofredor, pregado na cruz,
era tão imenso, tão maior, que a própria igreja
desencorajou-se em alterar algo tão
fantasticamente carismático e tão
mercadologicamente vitorioso.
E, entre manter o sucesso secular do Jesus
sofredor, pregado na cruz, simbolizando o
cristianismo ou ter que colocar em risco todo este
sucesso de marketing, admitindo os erros e as
mentiras, revendo os conceitos errados emanados
pelos evangelhos, assumindo o símbolo do
cristianismo como o peixe e restituindo a Jesus a
imagem de humilde, manso, humanitário e
pacifista, a igreja mais uma vez optou pelo
vencedor sucesso de marketing ao invés da
verdade. (Foi uma opção de marketing, comercial,
de mercado)
Talvez o Papa ainda leve mais mil ou mil e
quinhentos anos para novamente pedir desculpas
pelas mentiras e atrocidades praticadas pela igreja
católica, conforme recentemente o Papa fez ao
admitir, pela primeira vez, e pedir perdão pelo o
que a igreja fez durante as chacinas de caças às
bruxas e as mortandades das "santas" cruzadas,
libertações do "santo" sepulcro e "santas"
inquisições. Talvez daqui a mil anos um novo Papa
venha nos pedir desculpas pelas ocultações de
verdades, pela ocultação de documentos e pelas
mentiras e perseguições contra os evangelhos
tidos como apócrifos, os evangelhos gnósticos e os
Manuscritos do Mar Morto.
Mas, voltando aos essênios. Sobre esta
extraordinária vida comunitária dos essênios, diz
Flávio Josefo (a maior autoridade histórica e o
maior pesquisador de antiqüidades judaicas) que
entre os essênios todos partilhavam igualmente de
todos os bens pertencentes à comunidade. Quan-
do um novo membro entrava para a sociedade os
seus bens eram igualmente divididos entre todos,
evitando, com isso, que houvesse pobres e ricos
na sociedade essênia.
Com efeito, esta prática essênia era uma lei.
Aqueles que entravam para o grupo entregavam
seus bens à comunidade para serem partilhados
por todos, de tal forma que entre eles não se visse
absolutamente nem a humilhação da pobreza nem
o orgulho da riqueza. As posses eram comuns e
encontravam-se disponíveis a todos, não existindo
senão um único haver, comunitário, como ocorre
entre irmãos. (Comparativamente, foi exatamente
isso que Jesus propôs àquele jovem rico que queria
seguí-lo com os discípulos. Ou seja: (Mateus
19:21) — "Se queres ser perfeito, disse-lhe Jesus,
vai, vende tudo que possuíres, dá o dinheiro aos
pobres e terás um tesouro nos céus; depois vem e
segue-Me").
Esclarecendo melhor esta questão. Na citação
anterior, Jesus não pregava contra a prosperidade,
mas sim contra o acúmulo desnecessário e
desmedido de riqueza e não diz a todas as pessoas
que façam o abandono das coisas materiais, mas
sim somente àqueles que querem se tornar
discípulos e seguí-lo numa vida de simplicidade,
humildade e de desapego material. Isto porque,
Jesus, não como mestre da humanidade, mas
como um discípulo de Deus, no caso, observava
um princípio essênio que afirma que a maior
abundância é ter poucos desejos e fáceis de serem
satisfeitos.
Esta simplicidade essênia, muito rara entre os
religiosos de uma maneira geral e principalmente
entre as pessoas comuns, mesmo
comparativamente com outras épocas e com
vários costumes e culturas, assemelhava-se — em
simplicidade, mansidão e humildade — aos
conhecidos monges tibetanos, e foram fortemente
exemplo e inspiração para a vida de Jesus e dos
frades franciscanos. E a vida comunitária essênia
era de tal forma igualitária, que em suas reuniões
a cadeira principal era deixada sempre vazia,
como uma forma de demonstrar que não havia lí-
der, não havia chefia e não havia alguém que
pudesse se violentar a ponto de abrir mão da
humildade para vestir a arrogância de ser melhor
ou mais importante do que os demais "irmãos".
(Comparativamente, esta humildade é exatamente
o que Jesus propõe no convite à humildade (Lucas
14:7-11) e na citação — "Quem exaltar a si mesmo
será humilhado. E quem for humilde será
exaltado" (Mateus 23:12).
A aversão dos essênios pela empáfia e pela
arrogância ia muito além dos homens comuns,
atingia diretamente quem mais deveria prezar a
humildade ao invés de valorizar a arrogância,
como os sacerdotes, oradores e escribas, que com
as pomposas vestimentas dos doutores das leis,
lideravam seus templos com presunção, soberba e
arrogância. Desnecessário dizer o quanto Jesus se
indispôs com sacerdotes e escribas,
principalmente pela soberba deles, pela arrogância
deles, até mesmo pelas vestimentas pomposas e
pelos títulos que "se" auto-concediam de "douto-
res". — "Não permitais que vos tratem por
doutores" (Mateus 23:10). Logicamente, o Jesus
arrogante, presunçoso, vaidoso, e curandeiro,
equivocadamente apresentado nos quatro
evangelhos "refundidos" pela igreja, não
representa e não pode retratar e representar o
que foi e o que é Jesus. Razão pela qual sugerimos
retirar estes textos dos evangelhos como as lascas
que são retiradas do bloco de pedra para dar lugar
a uma irretocável estátua.
Embora hebreus (judeus), os essênios não comiam
carne vermelha, principalmente cordeiro, pelo
aspecto de paz e mansidão do animal. Eram
parcialmente vegetarianos (mas comiam peixe e
eventualmente gafanhotos), e em razão disso
desligaram-se das festas tradicionais do judaísmo,
inclusive a da Páscoa, dos tabernáculos e outras
mais, mormente quando nelas envolvia matança e
holocausto de animais (em especial o cordeiro).
Comparativamente, Jesus insurge-se contra a
matança de animais, ao expulsar os vendilhões do
templo que vendiam cordeiros, cabras, pombos e
outros animais para serem sacrificados "no altar
de Deus". Desnecessário dizer que os essênios
praticavam a liturgia da eucaristia — a celebração
do pão e do vinho — exatamente a liturgia que
Jesus passou aos seus discípulos como um dos
principais sacramentos.
Se as semelhanças dos usos e costumes e dos
ensinamentos dos essênios com os ensinamentos
de Jesus podem parecer poucas, vejamos algumas
práticas, usos e costumes, e ensinamentos dos
essênios: 1) Os essênios ensinavam o amor ao
próximo mais do que a si mesmo, que é
exatamente o foco central dos ensinamentos que
Jesus pregava; 2) Pregavam a busca da verdade
como a maior fonte do conhecimento e uma das
suas maiores diretrizes religiosas. Que é o
ensinamento de Jesus, muito pouco valorizado
pelas igrejas cristãs: "Conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará"; 3) Acreditavam na
ressurreição, reencarnação, na imortalidade da
alma e na vida eterna (Exatamente o que Jesus
ensinava, contrariando saduceus e fariseus); 4) O
conselho que dirigia a entidade essênia era
composto por doze membros, exatamente como
Jesus instituiu os doze apóstolos para criar a base
de sua pregação. 5) O nascimento do essênio
dava-se pelo batismo, que foi um dos principais
sacramentos que Jesus incorporou à sua pregação;
6) Eram humildes, humanitários e pregadores da
paz, que é o perfil mais exato de Jesus; 7) Mas o
mais surpreendente: os essênios possuíam como
seu mantra (reza) principal, um hino sobre as bem-
aventuranças, cuja idéia central é o "Sermão da
Montanha" de Jesus.
Vivendo em comunidades distantes, os essênios
sempre procuravam encontrar na solidão do
deserto (o lugar de reflexão escolhido por Jesus) o
lugar ideal para desenvolverem a sua
espiritualidade. Prezavam o silêncio como um
instrumento de disciplina e norma de conduta.
Sabiam guardá-lo como uma jóia preciosa ("O falar
é de prata, mas o silêncio é de ouro"). A voz era
usada como um instrumento e tinha um grande
poder, não podendo jamais ser desperdiçada.
Através da voz, dependendo do ritmo, da
freqüência e da intensidade podia ser estabelecido
um contato com Deus e até ser objeto de
transmissão de energia (boas e más) entre
pessoas. Por isso, evitavam falar alto, jamais
discutiam em público, jamais gritavam, e sempre
ouviam em silêncio a argumentação de seu
interlocutor, respeitando o direito de palavra de
cada um.
Diferentemente de outros religiosos que também
se abstiveram de bens materiais (como os monges
budistas), os essênios trabalhavam a terra
(plantavam, irrigavam, colhiam) e em seus
cuidados com a terra mantinham hortas e
pomares irrigados com a captação de água das
chuvas guardadas em cisternas. Estudavam,
escreviam e dedicavam-se às artes. Entretanto, o
que obtinham pelo fruto de seus trabalhos era o
necessário para a manutenção e sustento da
comunidade. Viviam pelo necessário para a vida.
Apenas o necessário.
Não era possível encontrar entre eles açougueiros
ou fabricantes de armas, mas sim grande
quantidade de mestres, pesquisadores,
instrutores, que .através do ensino passavam, de
forma sutil, os pensamentos da ordem religiosa
aos leigos.
Cultivavam hábitos saudáveis, zelando pela
alimentação, pelo físico e pela higiene pessoal.
Antes e após as refeições — realizadas em
completo silêncio — oravam e agradeciam a Deus
pelo alimento vindo da terra, o qual consideravam
como algo vivo e sagrado.
Faziam manipulações com ervas, eram profundos
conhecedores das propriedades curativas das
ervas e eram excelentes médicos, praticando uma
medicina estritamente natural. Faziam visitas
constantes a pessoas enfermas, por entenderem
como obrigação dos sãos o permanente cuidado
pelos doentes, assim como respeitavam — e quase
que idolatravam — os velhos, cuidando deles com
as próprias mãos, como filhos gratos. E estendiam
esse cuidado e atenção, dispensados aos velhos,
também aos antepassados, cultuando-os e
respeitando-os.
Contrastando com esta vida de absoluta
simplicidade, preocupavam-se com questões de
física, astronomia e ciências em geral, buscando,
inclusive, a harmonia das ciências com a
existência de Deus e a origem do universo.
Um assunto, entretanto, causava repulsa,
indignação e até mesmo intolerância aos essênios:
a escravidão. Consideravam a escravidão um
ultraje, uma violação à vida, à missão do homem
dada por Deus. Não só porque destruía a
igualdade entre os seres humanos, como atentava
ao mais elementar princípio da irmandade e
fraternidade que torna os seres humanos iguais e
irmãos.
Por mais estranho que possa parecer, um essênio
jamais jurava. Para eles a jura era um sacrilégio
tão grande quanto a mentira. Isto porque tinham
na palavra dita a sustentação da honra, e somente
o mentiroso, que não honra o que fala, é que
precisava jurar para tornar verdadeiro o que disse
ou que tenha soado como falso. Aliás, este pre-
ceito está muito bem definido nos relatos do
evangelho atribuído a Mateus (5:33-37) em que
Jesus prega que não se deve jurar em hipótese
alguma.
Conforme dito, os essênios eram humanitários,
pacifistas, e não toleravam a guerra sob hipótese
alguma. Mas, no entanto, falavam constantemente
de uma espécie de guerra: a dos filhos da luz
contra os filhos das trevas, uma luta constante que
se trava principalmente no interior de cada
criatura.
Para os essênios não existia nem a personificação
(imagem) do bem e nem a personificação
(imagem) do mal. Toda a essência do bem era
uma dádiva de Deus e toda a raiz do mal era fruto
do livre arbítrio do próprio homem. E ambos, o
bem e o mal residiam dentro de cada ser humano,
cumprindo a cada um domar o seu mal interior e
fazer florescer o bem.
A principal razão de viver dos essênios consistia
em aperfeiçoar-se como ser humano, buscando a
Deus como amor e perdão, e buscando
eternamente o bem dentro de si mesmo,
sufocando toda e qualquer forma do mal.
De costumes irrepreensíveis, moralidade
exemplar, de extrema boa fé, dedicavam-se aos
estudos espiritualistas, à contemplação e à
caridade, longe do materialismo avassalador que
imperava entre os saduceus e fariseus. Os
essênios suportavam com admirável estoicismo os
maiores sacrifícios para não violar o menor
preceito religioso. Procuravam servir à Deus,
auxiliando o próximo, sem imolações no altar e
sem cultuar imagens.
Embora os essênios fossem judeus,
diferentemente dos saduceus e dos fariseus, não
consideravam Israel como o centro de todas as
coisas, nem como o grande bem a ser preservado,
mas sim o mundo. O Deus dos essênios não era
tribal, personificado, e a promessa de uma "Nova
Jerusalém", por ser uma idéia, tribal, dos
saduceus, de visão estreita e limitada, era
inconcebível para os essênios. Entretanto, um
novo mundo, um novo porvir, como uma nova
visão de esperança, adequava-se perfeitamente à
filosofia essênia. Até porque os essênios
acreditavam que Deus é a causa de todo o bem e
de nenhum mal. O ser humano, sim, que tendo
recebido a bondade como herança divina e usando
o livre arbítrio concedido por Deus é quem cria as
possibilidades do mal.
Para ser um essênio, o pretendente a discípulo era
preparado desde a infância na vida comunitária de
suas aldeias isoladas. Em geral, os essênios
recebiam esses futuros adeptos ainda muito
jovens, em geral crianças, para serem educadas, e
tratavam-nos como se fossem realmente filhos.
Já adulto, o adepto, após cumprir várias etapas de
aprendizado, recebia uma missão definida que ele
deveria cumprir até o fim da vida.
Vestidos sempre com roupas brancas, muito alvas,
o que era muito raro para a época e para a região,
pois o traje comum era o tecido cru (bege);
ficaram conhecidos em sua época como aqueles
de branco que "são do caminho".
Os essênios eram como santos que habitavam
muitas aldeias e vilas ao sul da Palestina. Não se
uniam por clã lamiliar ou por raça, mas sim por
meio de associações voluntárias, formadas com o
intuito de melhor praticar a virtude e o amor entre
as criaturas humanas.
O celibato era um dos raros assuntos bastante
contraditórios, vez que mesmo não sendo
obrigatório o celibato, muitos não se casavam
porque acreditavam que matrimônio era
impedimento à vida simples do sacerdócio. Outros,
no entanto, afirmavam que os que não se casavam
recusavam a melhor parte da vida doada por
Deus, que é a propagação da espécie.
Havia uma forte preparação religiosa ao iniciado
na comunidade essênia. Liam muito, debatiam
muitas questões religiosas, e principalmente
recebiam muitos ensinamentos através de
parábolas, que acabavam fazendo parte de suas
bases religiosas.
Os mais velhos e mais preparados explicavam aos
mais novos a simbologia usada nos ensinamentos.
Entretanto, não necessariamente os graus mais
elevados eram ocupados pelos mais velhos, pois o
grau de cada um dependia mais de sua
capacidade prática em ensinar e passar as men-
sagens e ensinamentos do que da idade e do nível
de cultura geral de cada um. Isto porque o mais
importante era que as mensagens pudessem
chegar com clareza ao maior número de pessoas.
Os essênios formavam uma ordem religiosa
extremamente devotada, muito diferente da dos
saduceus materialistas, e completamente oposta à
dos hipócritas e vaidosos fariseus. Evitavam a
vaidade, o egoísmo, o individualismo e toda
menção de si próprios, tendo na vaidade um dos
piores males corruptores do caráter. (Razão pela
qual são irreais e inimagináveis as citações
imputadas a Jesus nos quatro evangelhos,
retratando-O como vaidoso, presunçoso e
arrogante)
Ainda hoje em dia, alguns conceitos e práticas
essênios são considerados como absolutamente
revolucionários. E para a época, então, eram
inimagináveis e incompreensíveis para a maioria
das pessoas. Como, por exemplo, o fato dos
essênios praticarem a imposição de mãos (como
Jesus), tendo como premissa que todo ser humano
emana energias, boas e ruins, e que toda
negatividade provém da desarmonia e do
desequilíbrio entre as energias boas e ruins de
cada um, como uma doença. Baseado nisso,
aprendiam a reconhecer as diferentes vibrações
da matéria, bem como manter todas estas
vibrações sob controle, para atingir a harmonia do
corpo e da mente.
O conceito de tempo e espaço era outro conceito
ex-I ternamente revolucionário para a época. O
pensamento dos essênios não estava voltado
apenas para sua vida atual. A vida era vista como
um eterno presente. O passado, o presente e o
futuro se tornavam uma unidade na grande
harmonia divina. Para os essênios tudo sempre
estava interrelacionado, ligado com tudo e com
todos. E como numa ciranda ou numa mandala, a
vida conduzia à morte. A morte conduzia à vida, e
o nascimento ou renascimento era sempre um
retorno à condição material e primitiva do ser hu-
mano.
Embora os hábitos e práticas dos essênios possam
ser provados e documentados (mais seriamente
do que em qualquer outra religião) é certo que
nenhum dos Manuscritos do Mar Morto comprova
nominalmente a vivência essênia de Jesus (pois os
essênios, sabendo das perseguições que sofriam,
não citavam nomes e até mudavam seus nomes
após o batismo), tanto quanto é certo que
historicamente há muita contestação quanto a
comprovação documentalmente séria da própria
existência real de Jesus. No entanto, os
documentos de Qunram, que registram e
comprovam a vida essênia, que são documentos
verdadeiros, sérios e incontestáveis, demonstram
que todos os atos (sérios) relatados a respeito de
Jesus em "versões" evangélicas indicam a
educação de Jesus como tendo sido, inega-
velmente, essênia.
O mais espantoso entre todos os ramos judeus, é
que, ao contrário dos demais ramos judaicos, os
essênios não aguardavam um só messias, e sim,
dois. Um messias era esperado para preparar a
vinda do segundo messias. Nasceria e seguiria a
tradição da linhagem sacerdotal dos grandes
mártires. Sua morte representaria o sofrimento e
humilhação por que teria que passar, em vida, por
destino previamente traçado por Deus.
Para muitos, a figura do pregador João Batista se
encaixa perfeitamente no perfil deste messias
preparador do messias salvador.
Um segundo e definitivo messias, salvador, que
viria para legislar e estabelecer a justiça restituiria
ao povo a sua soberania, restauraria a dignidade e
semearia a esperança, instaurando um novo
período de paz social e de prosperidade, que não
ficaria restrito às tribos de Israel, mas resta-
beleceria uma nova ordem para o mundo inteiro.
Jesus foi recebido por muitos como a encarnação
deste messias salvador.
Muito se tem dito a respeito de Jesus e de João
Batista, sobre a importância de cada um,
dependendo da linha religiosa que se adote, mas o
que surpreende é a indicação de forma alternada
de que ora Jesus é considerado como o messias,
ora João Batista é esse messias. Para a maioria dos
cristãos, Jesus é o messias. Já para alguns batistas,
João Batista é o messias.
Até os nossos dias, no sul do Irã, os mandeanos,
sustentam ser João Batista o verdadeiro messias
essênio. O rei da Prússia, escrevendo a Voltaire,
afirma: "Jesus foi o messias essênio". Gratz, em
sua obra, afirma: "João Batista, era o messias
essênio". Entretanto, para os essênios, nunca
houve esta dúvida se eles eram de fato o messias,
pois eles esperavam, de fato, a vinda de dois
messias, que mais tarde viria a se materializar nas
figuras de João Batista e de Jesus. (Os essênios só
não sabiam qual dos dois teria a missão prepa-
ratória que antecederia o derradeiro messias e
qual teria a missão de reformar a humanidade)
Harvey Spencer Lewis, assim como muitos
teólogos e estudiosos do assunto, afirma que Jesus
recebeu desde o início, na infância e na
adolescência, educação conforme os preceitos
essênios. Inclusive, foi previamente preparado
num mosteiro localizado no Monte Carmelo, na
Palestina para se tornar o Cristo, o Messias, o
Salvador. (A bem da verdade, João Batista também
recebeu, juntamente com Jesus, este tratamento
por parte dos essênios, uma vez que (Jes — os
essênios — tinham nos dois a imagem dos dois
messias que estavam por vir e por isso não sabiam
qual seria o messias preparador da vinda do
messias salvador e qual seria o derradeiro messias
salvador)
Posteriormente à essa iniciação e preparação
essênia, os jovens João Batista e Jesus levaram o
pânico à comunidade essênia ao abandonarem
temporariamente a vida essênia de preparação
para a vida messiânica e começam então a
estudar profundamente as antigas religiões
egípcias, algumas religiões orientais (Índia, Nepal
e China) e diversas seitas que influenciaram o
desenvolvimento da civilização mundial. Para isso
teriam feito diversas viagens pelo mundo antigo,
indo para a Índia e o Nepal, onde conviveram
durante alguns anos com os principais sábios
budistas. Ao deixarem a índia, viajaram para a
Pérsia (atual Irã), onde estiveram com os religiosos
eruditos do país, aprenderam também com os
sábios da Assíria e já nessa época atraíam
multidões à sua volta, por seus poderes de imposi-
ção de mãos e por suas palavras.
Em seguida, atravessaram a Babilónia, estiveram
na Grécia e por fim voltaram ao Egito, onde teriam
sido iniciados nos mistérios da Grande
Fraternidade Branca.
Terminada toda essa preparação, João Batista e
Jesus voltaram a Qunram e aos essênios, onde
reiniciaram suas vidas de pregação e seus
ministérios.
Foi somente no momento do batismo de Jesus, por
João Batista, que foi decidido quem batizaria
quem. Isto porque, até aquele momento, não
existia, por parte dos essênios, uma definição de
quem batizaria quem. Se Jesus batizaria João
Batista. Ou se João Batista batizaria Jesus.
Inclusive este momento é descrito figurativamente
nos evangelhos como tendo sido o momento em
que o Espírito Santo faz a escolha entre os dois e
desce sobre Ele, Jesus, em forma de uma pomba
branca, transformando-o no Cristo, no Messias, no
Salvador.
Segundo alguns estudiosos, foi com base na
cultura essênia de Jesus, aliada aos conhecimentos
adquiridos durante estas viagens aos diversos
países pelos quais passou, que Jesus adquiriu
maturidade e conhecimento que o levaram à vida
apostólica relatada pela Bíblia, infelizmente res-
trita somente à idade de 30 anos.
A igreja, de uma maneira geral, procura ocultar a
prática e os hábitos de Jesus como judeu (e
principalmente como essênio). Tanto que quando
a igreja admite ser Jesus um judeu, não O
enquadra como saduceu (que Jesus chamava de
hipócritas e víboras); como fariseu (que Jesus nem
podia se imaginar como um arrogante e
presunçoso fariseu); ou como um louco,
destemperado e revolucionário zelote (que Jesus
sequer podia ser enquadrado como tal, uma vez
que os zelotes tinham Jesus como um covarde
pacifista e um traidor, por ser um manso e
humilde). Em outras palavras, a igreja admite que
Jesus era judeu, mas nega que Jesus tenha sido
saduceu, fariseu ou zelote. E hipocritamente furta-
se em admitir ter sido Jesus um essênio.
Não obstante esta omissão hipócrita, a igreja lança
um silêncio sepulcral sobre a infância de Jesus,
sobre Suas viagens pelo oriente (seguindo a rota
da seda) e sobre Sua vida entre os 13 e 30 anos, e
principalmente oculta, de todas as maneiras, a
formação religiosa de Jesus como um mestre
religioso (rabi) essênio, apesar de tratá-lo na Bíblia
como "rabi" essênio (mesmo sem ser saduceu,
fariseu ou zelote).
1 º . Final
Jesus Morre na Cruz
2° Final
Jesus NÃO Morre na Cruz