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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 1

1 ESTUDOS PRELIMINARES AO DIREITO SOCIETÁRIO

O Direito Societário é a disciplina que, compondo o Direito


Empresarial, se atém às regras relativas às Sociedades
Empresárias. Porém, entendemos que seu estudo não encontra
raízes, apenas, no Direito Empresarial. Seus fundamentos são
bem mais profundos e cremos que ignorá-los, seguindo uma linha
ortodoxa de respeito aos pretensos limites entre as disciplinas
jurídicas, fatalmente irá gerar uma compreensão deformada da
matéria em questão logo de início, comprometendo todo o
conjunto. Assim, com amparo na Parte Geral do Direito Civil,
vamos resgatar conceitos desta disciplina, enciclopédica para
todo o Direito, e colocar na base do estudo do Direito Societário,
em seqüência, os conceitos de: Sujeito de Direito, Pessoa,
Pessoa Jurídica e, aí então, Sociedade Empresária.

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1.1 Dos Sujeitos de Direito

Para cada direito ou dever jurídico, em contrapartida, deve existir


um sujeito de direito como titular. Fábio Ulhoa Coelho1 adverte
que “não há comportamento sem agente, sem um autor para a
ação enfocada. Desse modo, ao descrever os fatos que pretende
regular, a norma jurídica, implícita ou explicitamente, acaba se
referindo a agente ou agentes. Em suma, não é possível orientar
a superação de conflitos de interesses em sociedade
desconsiderando que todo interesse tem um titular”.

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1
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil Vol. 1. Ed. Saraiva. 1ª ed. p. 137. São Paulo. 2003.

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Então, o sujeito de direito é, genericamente falando, o titular das


relações jurídicas. Porém, não só o homem, o ser humano,
poderá ser, na ótica jurídica, sujeito de direito. O Direito, para
maior atender a solução de conflitos sociais, atribuiu esta
faculdade a outros entes, mesmo que incorpóreos, também
chamados de entes morais, a faculdade para titularizarem direitos
e deveres jurídicos. Assim, há a necessidade de se distinguir o
que vem a ser, em primeiro lugar, sujeito de direito e pessoa.
Sujeito de direito é gênero e pessoa é uma de suas espécies.
Dessa forma, podemos dizer que toda a pessoa é sujeito de
direito, mas nem todo o sujeito de direito é pessoa.

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Assim, temos os sujeitos de direito personificados (pessoas) e os


despersonificados (não pessoas). Fábio Ulhoa Coelho2 explica
que, “no primeiro caso, ele recebe do direito uma autorização
genérica para a prática dos atos e negócios jurídicos. A pessoa
pode fazer tudo o que não está proibido. Já os sujeitos não
personificados podem praticar apenas os atos inerentes à sua
finalidade (se possuírem uma) ou para os quais estejam
especificamente autorizados”. Logo, os sujeitos de direito
personificados, as pessoas, poderão titularizar direitos e deveres
jurídicos de forma geral, sendo que os despersonificados estão
limitados em suas relações jurídicas, as quais ficam adstritas,
apenas, às situações específicas às suas finalidades.

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2
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil Vol. 1. Ed. Saraiva. 1ª ed. p. 139. São Paulo. 2003.

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Os sujeitos de direito personificados se dividem em pessoas


físicas ou naturais (art. 2º do CC) e pessoas jurídicas, sendo que
estas últimas podem ser tanto de direito público quanto de direito
privado (art. 40 do CC). Por outro lado, dentre os vários sujeitos
de direito despersonificados, se pode apresentar como exemplos
o condomínio edilício, a massa falida e também o nascituro. O
condomínio edilício é o sujeito de direito em relação específica
aos interesses dos condôminos e não pode titularizar relações
estranhas ao condomínio. Do mesmo modo é a massa falida, a
qual se constitui do patrimônio falimentar com o fim específico de
liquidar o ativo para saldar o passivo do falido. Já o nascituro, é
titular de certos direitos da personalidade (art. 2º CC, última
parte), sendo que os direitos patrimoniais ficam condicionados ao
seu nascimento com vida, a exemplo do direito de herança.

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1.2 Da Origem do Vocábulo Pessoa

Em que pese no conceito popular, o vocábulo pessoa venha a


possuir significado idêntico ao de ser humano, no rigor da técnica
jurídica tal não ocorre. De forma bastante simplificada, podemos
dizer que o ser humano, o homo sapiens, é o ser gerado de
ventre de mulher. Por sua vez, pessoa, como já nos referimos
anteriormente, é o sujeito de direito ao qual o Direito Positivo lhe
conferiu atribuições genéricas para contrair direitos e deveres
jurídicos. Portanto, trata-se, o ser humano, de um ser vivo, uma
espécie de unidade biológica organizada. Já a pessoa, é uma
qualidade ou uma faculdade conferida pela ordem jurídica para
que um ente, físico ou abstrato, venha a tomar parte nas relações
jurídicas.

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Mas, para que o entendimento seja completo, se deve apresentar


a origem histórica do vocábulo pessoa e a sua posterior
vinculação com o Direito. Em Roma, na Antigüidade, os atores
que atuavam em anfiteatros ao ar livre, utilizavam máscaras, em
latim persona, quando da interpretação de seus personagens.
Estas máscaras possuíam uma lâmina na altura da boca, um
certo dispositivo que vibrava quando o ator proferia as falas de
seu personagem, fazendo com que o som ampliasse e se
propagasse entre a platéia presente ao espetáculo.

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De Plácido e Silva3 esclarece que “persona, de per (por, através


de) e sono (som), exprimia, primitivamente, a máscara usada
pelos atores nas representações teatrais. Dessa forma, dramatis
personae eram os representantes ou personagens dramáticos
(...)”. Então, para o teatro da Antigüidade romana, a máscara, a
persona, fazia a distinção entre o ator e o personagem. A
máscara conferia, pois, capacidade ao ator de poder, por meio
dela, ou seja, do personagem ao qual ela representava, se
relacionar no palco teatral com os outros atores investidos em
outros personagens. Assim, o exemplo legado pelo teatro da
Antigüidade foi: o ator é o elemento físico, estático; o personagem
é a qualidade a faculdade atribuída a este ator de entrar em cena
e vir a se relacionar com os outros personagens.

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3
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Ed. Forense. 1ª ed. p. 365. Rio de Janeiro. 1989.

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Esta figura teatral romana, a qual distinguia o ser em si de seu


movimento, de sua atuação em relação aos outros, foi tomada
emprestada por algumas ciências humanas, tais como a Filosofia,
a Psicologia e o Direito. Hilton Japiassú e Danilo Marcondes4
lecionam que a personalidade para a Filosofia é o “caráter do
indivíduo que se autodetermina”. Já para a Psicologia, os autores
dizem que é a “função pela qual um indivíduo toma consciência
de si como um ‘eu’ ao mesmo tempo uno (como sujeito reunindo
em sua consciência a diversidade de sua vida mental) e idêntico
(enquanto permanece o mesmo através de sua evolução). Neste
sentido, os ‘testes de personalidade’ de um indivíduo são aqueles
que visam detectar seus aspectos afetivos e ativos”.

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O Direito não ficou imune à influência do legado teatral romano. A


figura representativa que distinguia, de um lado o ator, o ser
estático, e, de outro, este em movimento, ou seja, o personagem
se relacionando com seus pares, atuando no papel que a
dramatização lhe conferia, foi absorvida pela terminologia jurídica
para designar o homem, em primeiro plano, enquanto agente
atuando no cenário jurídico. De Plácido e Silva, na conclusão da
lição transcrita anteriormente, ensina que “admitiu-o o Direito na
sua terminologia técnica, precisamente para designar o homem
como sujeito de direitos e obrigações, em desempenho do papel
que o próprio Direito lhe confia, na ribalta jurídica”.

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4
JAPIASSÚ, Hilton e Danilo Marcondes. Dicionário Básico de Filosofia. Jorge Zahar Editor.p. 221. Rio de
Janeiro 1999.

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Assim, tal qual o ator, o homem, no cenário jurídico, usa da


faculdade conferida pelo Direito, e se torna pessoa adquirindo
direitos e obrigações na relação com seus pares, assim como a
persona. Desta forma, o movimento do indivíduo se relacionando
com os outros foi o legado do exemplo teatral romano vindo,
como visto, a influenciar outras ciências humanas como, por
exemplo, a Psicologia, ao identificar o temperamento do homem
ao se relacionar com o outro. Também emprestou ao Direito, em
particular, a concepção subjetiva do sujeito, em suas relações,
movimentando o sistema jurídico.

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1.3 Das Pessoas Jurídicas

O Direito Positivo dotou de personalidade, ou seja, de aptidão


para o relacionamento de forma ampla na ordem jurídica, certas
coletividades humanas para que possam titularizar direitos e
deveres jurídicos de forma independente das pessoas físicas que
as compõe ou instituem. Fábio Ulhoa Coelho5 diz que “a pessoa
jurídica é o sujeito de direito personificado não-humano. É
também chamada de pessoa moral. Como sujeito de direito, tem
aptidão para titularizar direitos e obrigações. Por ser
personificada, está autorizada a praticar os atos em geral da vida
civil – comprar, vender, tomar emprestado, dar em locação etc. -,
independente de específicas autorizações da lei. Finalmente,
como entidade não humana, está excluída da prática dos atos
para os quais o atributo da humanidade é pressuposto, como
casar, adotar, doar órgãos e outros”.

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1.3.1 Origem Histórica da Pessoa Jurídica
5
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil Vol. 1. Ed. Saraiva. 1ª ed. p. 232. São Paulo. 2003.

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Em que pese existirem institutos precursores da pessoa jurídica


no Direito Romano, seu desenvolvimento foi obra do Direito
Canônico medieval que incrementou as fundações, denominadas
corpus mysticum, e passou a considerar patrimônio autônomo
qualquer ofício eclesiástico. A esse respeito, Fábio Ulhoa Coelho6
destaca que “os alicerces da teoria da pessoa jurídica encontram-
se na Idade Média, em noções destinadas a atender as
necessidades de organização da Igreja Católica e preservar seu
patrimônio. Naquele tempo, o Direito Canônico separava a Igreja,
como corporação, de seus membros (os cléricos), afirmando que
aquela tem existência permanente, que transcende a vida
transitória dos padres e bispos (...). A afirmação da vida da Igreja
em separado leva à distinção entre o patrimônio dela e o de cada
membro do clero. Falecendo um padre ou bispo, os bens em sua
posse não podiam ser transmitidos a sucessores por pertencerem
à corporação”.

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Coelho ressalta que com as navegações da Era Moderna,


grandes companhias se organizaram para a exploração do novo
mundo. Porém, enquanto que o Direito Canônico medieval
construiu uma autonomia patrimonial entre os bens da Igreja e os
cléricos, o nascente Direito Comercial da Era Moderna não
conseguiu fazer o mesmo entre as sociedades mercantis e seus
sócios, o que veio a se consolidar apenas na segunda metade do
século XIX, por obra dos doutrinadores alemães.

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A idéia de distinção patrimonial e, mais do que tudo, de um
sujeito de direito autônomo por parte das pessoas que os
6
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil Vol. 1. Ed. Saraiva. 1ª ed. p. 230. São Paulo. 2003.

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compõe, não interessou apenas ao Direito Privado. O Direito


Público também foi contagiado por tal idéia, aproveitando-a na
consolidação dos Estados Modernos. Mais tarde, como bem
observa Washington de Barros Monteiro7 “tivemos então as
autarquias ou entidades paraestatais, as sociedades de economia
mista, os institutos previdenciários, as caixas de aposentadorias e
pensões, as caixas econômicas (...)”. Portanto, o Estado
consolidou sua autonomia e, por conseqüência, sua
autodeterminação, por meio de sua personalização.

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1.3.2 A Classificação das Pessoas Jurídicas

O art. 40 do CC diz que “as pessoas jurídicas são de direito


público, interno ou externo, e de direito privado”. As pessoas
jurídicas de direito público externo são os Estados estrangeiros e,
também, outros organismos internacionais como as OIG
(Organizações Intergovernamentais), conforme o art. 42 do CC,
os quais pertencem à organização internacional. Por sua vez, as
pessoas jurídicas de direito público interno são, conforme dispõe
o art. 41 do CC, a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Territórios, os Municípios, as autarquias, Inclusive as associações
públicas e as demais entidades de caráter público criadas por lei.
Já as pessoas jurídicas de Direito privado, segundo disciplina o
art. 44 do CC, são as associações, as sociedades, as fundações,
as organizações religiosas e os partidos políticos.

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1.3.2.1 As Associações

7
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil Vol. 1 Ed. Saraiva. 39ª ed. p. 121. São Paulo.
2003.

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Conforme dispõe o art. 53 do Código Civil, “constituem-se as


associações pela união de pessoas que se organizem para fins
não econômicos”. Assim, existem dois elementos
caracterizadores da existência das associações que são: 1) a
união organizada de pessoas; 2) os fins não econômicos ou
lucrativos. A personalização da associação surge, justamente, na
união de pessoas com objetivos comuns, na convergência de
vontades, o denominado elemento affectio societatis. Há também,
a necessidade de que os associados não busquem lucrar com a
instituição associativa e sim a promoção de objetivos sociais,
humanitários ou altruísticos.

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1.3.2.2 As Fundações

Enquanto que a personalização das associações se dá pela união


organizada de pessoas, as fundações adquirem personalidade
pela dotação de bens livres por parte de um instituidor. Assim, os
elementos das fundações são: 1) a dotação de bens livres por
parte de um instituidor; 2) fins religiosos, morais, culturais ou de
assistência, ou seja, a exemplo das associações, não
econômicos. Silvio Rodrigues8 destaca que, “com efeito, para
criar uma fundação, seu instituidor fará dotação de bens livres,
especificando o fim a que se destina. (...) aquele a quem o
instituidor cometer a aplicação do patrimônio elaborará o estatuto
da fundação projetada, submetendo-os (...) ao Ministério Público.”

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1.3.2.3 As Sociedades

8
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil Vol. 1. Ed. Saraira. 34ª ed. p. 99. São Paulo. 2003.

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As sociedades se assemelham às associações quanto à


personalização. Ambas se personalizam da convergência de
vontades de pessoas organizadas com objetivos comuns, a
affectio societatis. Porém, enquanto que nas associações os
objetivos não são econômicos e sim, como já nos referimos,
humanitários ou altruísticos, nas sociedades o lucro deve sempre
ser perseguido, mesmo que, eventualmente, não seja alcançado,
sob pena de caracterizar a prática de infração da ordem
econômica9. Assim, as sociedades são as pessoas jurídicas
constituídas pela convergência de vontades de pessoas
organizadas com objetivos econômicos ou lucrativos.

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As sociedades podem ser de dois tipos: empresárias ou simples.


São empresárias as sociedades que desempenham atividades de
empresários, conforme dispõe o caput do art. 966 do CC,
tornando-se elas próprias as empresárias e não seus sócios
componentes, mesmo que administradores. São simples as
sociedades formadas por profissionais que exerçam atividades
intelectuais (médicos, advogados), de natureza científica,
(cientistas, pesquisadores), literária (escritores, poetas), ou
artísticas (pintores, escultores), mesmo que contem “com o
concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da
profissão constituir elemento de empresa”, segundo é a disciplina
estabelecida pelo § único do referido artigo.

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Identificamos, que o ponto principal que distingue se a atividade
em questão é empresária ou não, reside justamente no bem
essencial a ser empregado no negócio. Na atividade empresarial
9
Art. 21, XVIII da Lei 8.884/94.

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o que se emprega no negócio é o capital, ou seja, bens que


podem ser mensurados em dinheiro. Esse passa a ser a garantia
para os credores do empreendimento. Já na atividade econômica
não-empresarial, explorada pelas sociedades simples, o que se
emprega é a intelectualidade, as habilidades, os conhecimentos
técnicos dos profissionais envolvidos. Esse patrimônio não se
constitui em bens que se possa avaliar em cifras. Por isso é que
só os empresários e as sociedades empresárias podem ser
objeto de falência10, pois o principal bem pertencente aos não
empresários e às sociedades simples são, portanto, inalienáveis.

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Porém, o final do § único do art. 966, diz que as atividades ou


sociedades formadas por não-empresários não serão
consideradas empresariais, “salvo se o exercício da profissão
constituir elemento de empresa”. Assim, imaginemos que dois
médicos, um em cada especialidade, venham a exercer a
medicina em um pequeno consultório, auxíliados por secretárias.
Neste caso, a sociedade não será empresária e sim simples, em
razão de que os recursos empregados no negócio não são
comparados ao grande patrimônio inalienável representado pelos
conhecimentos e habilidades técnicas que possuem. Porém, se
tal negócio prosperar e vir a receber aportes significativos de
capital e o pequeno consultório se transformar em uma equipada
clínica, aí sim, se tornará uma sociedade empresária.

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1.3.2.4 As Organizações Religiosas e os Partidos Políticos

Já após a entrada em vigor do Código Civil, foram introduzidos ao


art. 44 os incisos IV e V e os §§ 1º e 2º, por força da Lei
10
Art. 1º da Lei 11.101/05 – Lei de Recuperação e Falências

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10.825/2003, que elevaram as organizações religiosas e os


partidos políticos, respectivamente, à categoria de novas pessoas
jurídicas de direito privado. As organizações religiosas, segundo é
a lição de Gagliano e Pamplona Filho11, são “todas as entidades
de direito privado, formadas pela união de indivíduos com o
propósito de culto a determinada força ou forças sobrenaturais,
por meio de doutrina e ritual próprios, envolvendo, em geral,
preceitos éticos. Nesse conceito enquadram-se, portanto, desde
igrejas e seitas até comunidades leigas, como confrarias ou
irmandades”. Por sua vez, os partidos políticos, segundo é a
doutrina de José Afonso da Silva12, são “uma forma de
agremiação de um grupo social que se propõe organizar,
coordenar e instrumentalizar a vontade popular com o fim de
assumir o poder para realizar seu programa de governo”.

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Ora, como visto, tanto um quanto o outro, tratam-se de


organizações formadas pela convergência de pessoas
organizadas com objetivos comuns e não lucrativos, ou seja, são,
na verdade, espécies de associações que o legislador, seguindo,
talvez, algum espírito corporativo, resolveu entender como novas
formas distintas de pessoas jurídicas de direito privado.

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2 A PERSONALIZAÇÃO DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS

11

1268
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil vol. 1 Ed.
Saraiva. 8ª ed. p. 223. São Paulo. 2006.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. Ed. Malheiros. 24ª ed. p. 394. São
Paulo. 2005.

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2.1 Noções Preliminares

Agora, tendo resgatado junto à Parte Geral do Direito Civil o


estudo dos conceitos preliminares referentes ao Direito
Societário, podemos, então, nos ater à Sociedade Empresária em
si, partindo de sua personalização e autonomia em relação aos
seus sócios componentes. Dessa forma, feito o resgate
conceitual, fica clara a compreensão de que, em se tratando de
Sociedade Empresária (Ltda., S/A, etc.), o empresário será a
pessoa jurídica da sociedade e nunca, como costumeiramente se
confunde, a pessoa física dos sócios, mesmo que
administradores ou majoritários de tal sociedade personalizada.

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Os sócios da sociedade, na intenção de constituí-la, convergem


suas vontades, unindo esforços e capital. Essa convergência de
vontades, como já visto, é denominada de elemento affectio
societatis, o qual, no entendimento de Fran Martins13, vem a ser
“o desejo de estarem os sócios juntos para a realização do objeto
social”. Essa união de esforços, no sentido de constituir os
objetivos sociais, adquire personalidade própria e, por tanto, é
reconhecida perante o direito com pessoa, a pessoa jurídica, que
será suscetível de direitos e obrigações, como já visto, de forma
distinta dos sócios que a compõe.

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Assim, a pessoa jurídica da Sociedade Empresária, será quem,
perante a ótica do Direito, desempenhará o objetivo almejado por
seus sócios componentes. Dessa forma, a sociedade é quem
será a titular dos direitos e obrigações referentes às atividades
13
MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. Ed. Forense. 12ª. Ed. p. 203. Rio de Janeiro. 1987

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desenvolvidas no intuito empresarial. Por tal entendimento, por


exemplo, um funcionário será sempre empregado da Sociedade
Empresária, ou seja, da pessoa jurídica, e nunca, como
habitualmente se trata, empregado da pessoa física dos sócios.
Por tal razão, a obrigatoriedade em pagar salários, tributos e
demais obrigações relativas ao desempenho da atividade
empresarial será, em regra geral, da sociedade, assim como a
titularidade em créditos diversos também será desta, e não dos
sócios.

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Essa é uma questão fundamental e deve ficar bastante clara. Se


sócio e sociedade se constituem em pessoas distintas e, segundo
um conceito jurídico básico14, “pessoa é o ente físico ou coletivo
suscetível de direitos e obrigações (...)”, então os direitos e
obrigações de um não devem se confundir com os de outro,
enquanto entes personificados distintos que são. Em outras
palavras, o passivo e o ativo, ou seja, os bens e as obrigações
(dívidas) da sociedade, em princípio, a ela pertencem, assim
como o patrimônio dos sócios, em regra, não deve se confundir
com o da sociedade.

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2.2 A Autonomia da Sociedade Empresária

O principal efeito da personalização das Sociedades Empresárias


é, justamente, a instituição de um sujeito de direito autônomo e
14
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro Vol 1. Ed. Saraiva. 23ª ed. p. 117. São Paulo.
2006.

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distinto da pessoa dos sócios empreendedores. Porém, essa


autonomia deve ficar clara, a verdadeira limitação entre os bens
dos sócios e o da pessoa jurídica, além da separação entre as
obrigações atinentes aos sócios, em particular, e as relativas à
Sociedade Empresária devem ficar bastante claras, inclusive,
para se compreender as exceções a essa regra. É importante que
se ressalte: a regra é essa! Quer dizer, sociedade e sócios não se
confundem, são pessoas distintas e, portanto, seus direitos e
obrigações, em regra, não devem se misturar, ou seja, os bens
de um não devem ser alienados por obrigações de outro.

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2.3 Elementos da Autonomia Patrimonial

A autonomia patrimonial das Sociedades Empresárias se


consagra com a edificação de pilares que lhe sustentam, ou seja,
essa autonomia só se efetiva em razão da presença de
faculdades exercidas pela mesma. São elementos que, sem os
quais, não se poderia cogitar da existência autônoma de um ente
personificado.

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Fábio Ulhoa Coelho15 leciona que “na medida em que a lei


estabelece a separação entre pessoa jurídica e os membros que
a compõe, consagrando o principio da autonomia patrimonial, os
sócios não podem ser considerados titulares dos direitos ou
devedores das prestações relacionadas ao exercício da atividade
15
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial Vol. 2. São Paulo. Ed. Saraiva. 9ª. Ed. p. 13 a 16.
2006

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econômica explorada em conjunto. Será a própria pessoa jurídica


da sociedade a titular de tais direitos e a devedora dessas
obrigações”. Ainda, segundo Ulhoa Coelho, três exemplos vêm
ilustrar as conseqüências da personalização das Sociedades
Empresárias: “a titularidade obrigacional, a titularidade processual
e a responsabilidade patrimonial”.

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2.3.1 Titularidade Obrigacional

Com relação à titularidade obrigacional, deve-se deixar claro que


os vínculos gerados por força de obrigações jurídicas contratuais
e extracontratuais, os quais venham a estabelecer laços entre a
Sociedade Empresária e terceiros (fornecedores, empregados,
fisco, etc.), irão obrigar a pessoa jurídica da sociedade. Conforme
ensina Fábio Ulhoa Coelho, “os sócios não são partícipes dessa
relação”. Dessa forma, a titularidade obrigacional significa que a
sociedade será a titular de suas próprias obrigações, assim como
os seus sócios serão, em particular, os titulares das suas, ou
seja, as obrigações de um não se confundem com as de outro,
justamente por possuírem personalidades distintas.

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Arrematando, Fábio Ulhoa Coelho esclarece que é “claro que a
sociedade, por ser ente moral manifestará a vontade de se
vincular ao contrato, ou praticará atos que geram obrigações
extracontratuais, sempre por meio de uma pessoa natural
(representante legal, empregado, procurador, preposto, etc.).
Isso, porém, não significa qualquer tipo de envolvimento da

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pessoa física agente dos atos da sociedade, como sujeito de


direito, na relação obrigacional, pelo menos em princípio”.

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2.3.2 Titularidade Processual

Por força da titularidade processual, a legitimidade quanto à


autoria em um processo judicial que objetive a cobrança de
valores devidos à Sociedade Empresaria será da própria pessoa
jurídica da sociedade, o que se denomina em Direito Processual
como sendo a legitimidade ativa. Por outro lado, a ação judicial
que intentar cobrar valores devidos pela sociedade deverá ser
proposta contra a mesma, nesse caso a legitimidade passiva será
da mesma sociedade. Ou seja, sendo a Sociedade Empresária
um ente personificado, será, portanto, um sujeito de direito
autônomo e poderá defender ou reivindicar seus direitos em juízo.
Assim, a titularidade processual significa a faculdade atribuída à
Sociedade Empresária para demandar e ser demandada em
juízo.

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2.3.3 Responsabilidade Patrimonial

E por fim, a responsabilidade patrimonial diz respeito ao limite


existente entre ao que pertence à sociedade, à pessoa jurídica, e
o que pertence aos sócios que a compõe. Conforme leciona

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 18

Fábio Ulhoa Coelho16, “não existe comunhão ou condomínio dos


sócios relativamente aos bens sociais; sobre estes os
componentes da Sociedade Empresária não exercem nenhum
direito, de propriedade ou de outra natureza”.

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Os direitos relativos aos sócios em relação à sociedade, dizem


respeito às suas participações societárias, estas representadas
pelas quotas, no caso de sociedades contratuais (Ltda, etc), ou
pelas ações, em se tratando de sociedades institucionais (S/A,
etc). É importante que se diga isso: essa é uma via de mão dupla;
se por um lado, as obrigações contraídas em nome da sociedade
não oneram, em princípio, o patrimônio dos sócios, então o
patrimônio da sociedade também não lhes pertence, pois é a
garantia para os credores da pessoa jurídica da sociedade.
Assim, a responsabilidade patrimonial significa que o patrimônio
da sociedade não deve se confundir com o dos sócios e vice-
versa.

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3 A FORMAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL E A
RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS

O investimento na atividade produtiva é sempre uma aposta.


Mas, em caso de insucesso, quais serão as conseqüências? Qual
a influência de uma insolvência da Sociedade Empresária sobre o
16
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial Vol. 2. São Paulo. Ed. Saraiva 9ª. Ed. p. 15. 2006

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 19

patrimônio particular de seus sócios? A resposta, em princípio,


dependerá de como foi formado o capital social e qual a
responsabilidade dos sócios em relação às obrigações da
sociedade ou, ainda, em relação aos outros sócios.

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3.1 O Capital Subscrito e o Capital Integralizado

O capital da sociedade se constitui em seu corpo. Assim, não


existe sociedade sem capital, constituindo-se este, na garantia
dos credores desta. Por assim ser, uma sociedade sem capital,
fatalmente, não lograria êxito, pois, ao certo, não obteria crédito
de ninguém. Portanto, ninguém, no atual estágio do Direito
Societário brasileiro, pode se dizer sócio de sociedade sem
contribuir ou, pelo menos, prometer contribuir com alguma
parcela na formação do capital da sociedade. Os sócios, nesse
caso, são considerados empreendedores que investem seu
capital em uma atividade produtiva com certo risco, na
expectativa de obterem lucro. Usando do exemplo apresentado
anteriormente, os sócios apostam esperando obter uma certa
vantagem em relação ao seu investimento. Assim, quem não
aposta não é empreendedor, não é sócio.

APONTAMENTOS:..........................................................................
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…………………………………………………………………………….
No ato da constituição da sociedade, os sócios devem mencionar
o valor do capital que contribuirão para a sociedade, o valor de
seu investimento. Este capital mencionado se constitui no Capital
Subscrito. Na seqüência, quando o sócio efetivamente entrega
capital para a sociedade (dinheiro ou bens corpóreos ou
incorpóreos), este integraliza o capital que subscreveu, podendo
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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 20

ser de forma total ou parcial ou, ainda, vir a integralizar, de


comum acordo com os demais sócios, em data futura o total
subscrito ou o saldo que deixou de integralizar no ato da
constituição da sociedade. Portanto, este capital efetivamente
entregue pelo sócio à sociedade, como forma de pagamento de
seu investimento, se constitui no Capital Integralizado.

APONTAMENTOS:..........................................................................
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3.2 A Responsabilidade Limitada e a Responsabilidade Ilimitada

Este é ponto de fundamental importância ao Direito Empresarial.


Por ser a sociedade um ente abstrato, que só existe na ficção
jurídica, são os sócios, diretamente ou por meio de seus
mandatários (empregados, procuradores, prepostos) que, como
pessoas físicas que são, dirigem seus destinos. São estes que
contraem as obrigações que, assumidas em nome da sociedade,
deverão ser pagas por esta. Mas em caso de insolvência da
sociedade, isto é, em caso de não restar patrimônio suficiente
para garantir o adimplemento de tais dívidas, os bens destes
sócios podem ser alienados para que o fruto seja revertido em
favor dos credores da pessoa jurídica da sociedade insolvente ou
este prejuízo deverá por estes ser suportado? Isso dependerá da
responsabilidade dos sócios, se limitada ou ilimitada.

APONTAMENTOS:..........................................................................
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Responsabilidade Limitada é quando as perdas, em caso de
infortúnio da sociedade, não ultrapassarem o valor do capital
subscrito pelos sócios, o valor apostado. Se todo o capital
subscrito pelos sócios já foi integralizado, então será, em
princípio, unicamente no patrimônio da sociedade que os
credores terão que saciar seus créditos. Porém, se restar capital
a integralizar, só aí, os bens dos sócios poderão ser afetados por
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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 21

obrigações sociais, mas só até o limite do saldo a integralizar. Na


Responsabilidade Ilimitada, exaurido todo o capital social, os
sócios deverão responder com seus bens particulares de forma
ilimitada até a integral satisfação da dívida da Sociedade
Empresária, independentemente do capital que subscreveram.

APONTAMENTOS:..........................................................................
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3.3 A Responsabilidade Subsidiária e a Responsabilidade


Solidária

Seja a responsabilidade dos sócios limitada ou ilimitada, certo é


que, uma vez constituída a sociedade esta se personaliza, se
constituindo, conforme já nos referimos, em um ente jurídico
distinto de seus sócios, se tornando, assim, um sujeito de direito
legítimo a titularizar seus direitos e obrigações. Por tal razão,
sempre deverá ser a sociedade, primeiramente, a destinatária
das ações que visem cobrar obrigações por ela devida. Somente
após exaurido todos os bens da sociedade, não restando bens
suficientes disponíveis, é que se poderá cogitar atingir os bens
dos sócios por tais dívidas. Portanto, seja qual for o tipo societário
ou a qualidade de sócio, a responsabilidade dos sócios pelas
obrigações sociais será sempre subsidiária, conforme disciplinam
tanto o art. 1.024 do CC quanto o art. 596 do CPC.

APONTAMENTOS:..........................................................................
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Já em caso de Responsabilidade Solidária, a exemplo do que
ocorre com a Sociedade Limitada, exaurido todo o patrimônio da
sociedade e, se por ventura, algum sócio não tenha integralizado,
no todo ou em parte, o capital que subscreveu no ato da
constituição da sociedade, este deverá responder com seu
patrimônio particular até o limite de sua dívida para com a
sociedade, ou seja, até o valor da diferença entre o capital que
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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 22

subscreveu e o que efetivamente integralizou. Porém, se este


sócio não possuir bens suficientes para pagar sua dívida, os
demais sócios terão que fazê-lo, pois, nesse caso, um sócio é
fiador do outro no total das quotas subscritas.

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3.4 A Responsabilidade Limitada Beneficiando a Economia

A limitação da responsabilidade dos sócios por obrigações


sociais, vem a ser um instituto por demais benéfico não só para o
Direito como, principalmente, para a Economia. Como já dito, o
investimento na atividade produtiva será sempre uma aposta. Por
mais seguro que possa ser um investimento, este sempre carrega
alguma parcela de risco. Por assim ser, se diz que o empresário é
aquele que assume os riscos da atividade produtiva. Assim, como
qualquer aposta, se deve arriscar para perder ou para ganhar
determinada vantagem, no caso, o lucro. Se ganhar, os frutos
deverão ser proporcionais ao investimento. Por outro lado, se
perder, é justo que venha a perder, apenas, o que apostou ou
investiu. Assim, é imprescindível a existência de pelo menos um
tipo societário, no ordenamento jurídico nacional, que garanta a
preservação dos bens particulares dos empreendedores ante a
eventuais insucessos do empreendimento.

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3.5 Exercício Exemplificativo

Imaginemos uma Sociedade Limitada formada pelos sócios A e


B. O Sócio A subscreve R$ 10.000,00 (dez mil reais) e integraliza
os R$ 10.000,00 (dez mil reais). Já o Sócio B, embora tenha
subscrito igualmente R$ 10.000,00 (dez mil reais), integraliza,
apenas, R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Em caso de insolvência da
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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 23

sociedade, o sócio B terá que responder com seu patrimônio


particular até o limite em que é devedor da sociedade. Porém, se
o sócio B não pagar e nem possuir bens suficiente à garantir a
obrigação, o sócio A terá que cobrir o débito. Neste caso a
responsabilidade é limitada, porém subsidiária e solidária.

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4 INÍCIO E TÉRMINO DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

4.1 O Início da Personalidade Jurídicas das Sociedades


Empresárias – As Teorias Positivista e Subjetivista

Segundo a regra estabelecida pelo Código Civil, em seus arts. 45


e 985, o início da personalização da Sociedade Empresária se dá
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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 24

com o seu registro junto ao órgão competente, neste caso, as


juntas comerciais. Em que pese a clareza dos dispositivos legais,
a cima citados, não deixar qualquer sombra de dúvidas quanto à
intenção do legislador em relação ao momento a ser considerado
como o de nascimento da pessoa jurídica, tal entendimento não é
pacífico entre os doutrinadores. Alguns entendem conforme a
legislação, outros, porém, posicionam-se no sentido de que a
partir da convergência de vontades, ou seja, do affectio societatis,
já nasce a pessoa jurídica da Sociedade Empresária.

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Para fins deste estudo, chamaremos a primeira hipótese, a que


somente admite o nascimento da pessoa jurídica com o registro
perante o órgão competente, que está contemplada pelo Código
Civil, de Teoria Positivista, e a segunda hipótese, contrária aos
ditames legais, aquela reconhece a pessoa jurídica a partir do
encontro de vontades entre os sócios, de Teoria Subjetivista.

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Em relação a tal controvérsia, Antônio do Rêgo Monteiro Rocha17,
ressalta que “matéria que possui grande divergência doutrinária é
a atinente ao início da pessoa jurídica. É que de um lado estão
Clóvis Beviláqua, Pontes de Miranda, Caio Mário da Silva Pereira
e Orlando Gomes considerando o registro do ato constitutivo da
17
ROCHA, Antônio do Rego Monteiro. Código de Defesa do Consumidor – Desconsideração da
Personalidade Jurídica. Curitiba. Ed. Juruá. P.24. 1999.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 25

pessoa jurídica como o início da personalidade jurídica. Outros,


entretanto, como Carvalho de Mendonça, Miranda Valverde, e
Lamartine Correia de Oliveira entendem que a pessoa jurídica
nasce com a confecção do contrato social, e não do seu registro.”

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Em que pese ter discorrido sobre a controvérsia existente, tendo


inclusive citado os doutrinadores que se posicionam deste e
daquele lado, Antônio do Rêgo Monteiro Rocha posicionou-se a
favor da, aqui chamada, Teoria Positivista, dizendo que “em
decorrência, a personificação da pessoa jurídica se consuma com
a inscrição de seus contratos, atos constitutivos, estatutos ou
compromissos no registro peculiar (...). A partir daí começa a sua
existência legal, como sujeito de direitos, independentemente da
pessoa física. Sem esse registro, não há falar-se em pessoa
jurídica.”

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Por outro lado, Fábio Ulhoa Coelho18 sustenta o posicionamento
da, por nós denominada, Teoria Subjetivista, afirmando que “a
rigor, desde o momento em que os sócios passam a atuar em
conjunto, na exploração da atividade econômica, isto é, desde o
contrato, ainda que verbal, de formação de sociedade, já se pode
18
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial Vol. 2. São Paulo. Ed. Saraiva 9ª. Ed. p. 17. 2006.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 26

considerar existente a pessoa jurídica”. Ulhoa arremata


asseverando que “a melhor sistemática de disciplina da matéria
não é a legal, que identifica no registro o ato responsável pela
personificação da Sociedade Empresária, mas a compreensão de
que o encontro de vontade dos sócios já é suficiente para dar
origem a uma nova pessoa, no sentido técnico de sujeito de
direito personalizado”.

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Em particular, nos parece mais lógica a segunda formulação, que


denominamos como Teoria Subjetivista. Em que pese o legislador
pátrio ter incorporado no Direito Brasileiro a regra de
reconhecimento da existência da pessoa jurídica apenas após o
seu registro, a lógica dos fatos nos direciona no sentido de que a
partir da comunhão de esforços tendente a realizar as tarefas
objetivadas pela sociedade, o que se denomina de elemento
affecio societatis, já nasce o novo ente personalizado, não
havendo, assim, o porquê se negar seu reconhecimento. A regra
de exigência do registro, absolutamente necessária, na prática
apenas se apresenta como forma de tornar pública a existência
de um organismo que, uma vez constituído, é obvio que já existe.

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4.2 O Fim da Personalidade Jurídica das Sociedades
Empresárias

O fim da personalidade social, ou seja, da pessoa jurídica da


Sociedade Empresária, se dá, apenas, após o procedimento
dissolutório o qual compreende a liquidação e a partilha do
patrimônio social, conforme se verificará logo a diante. Deve-se
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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 27

salientar que a simples inatividade da sociedade, por si só, não


representa seu fim, como pessoa jurídica. A dissolução da
sociedade se dará por vontade dos sócios ou por decisão do
Judiciário e prossegue com a liquidação a qual objetiva a solução
eventual passivo e a conseqüente partilha do ativo, ou seja, do
acervo patrimonial, caso haja, entre os sócios.

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4.2.1 A Dissolução

A dissolução vem a ser o procedimento pelo qual se reduz o


patrimônio da pessoa jurídica da Sociedade Empresária, total ou
parcialmente, com vista à sua extinção ou afastamento
compulsório ou voluntário de sócio. Portanto, há que se distinguir
a chamada Dissolução Parcial da Dissolução Total. Na
Dissolução Parcial a personalidade jurídica da sociedade
continua existindo, mantida pelos sócios e o capital
remanescentes. Já no caso da Dissolução Total, concluindo seu
procedimento, a Sociedade Empresária passa a não mais existir,
extinguindo a sua personalidade e parecendo perante o mundo
jurídico.

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Porém, para se extinguir a personalidade jurídica de uma
Sociedade Empresária, necessário se faz a observância de
determinados procedimentos dissolutórios tais como a solução de
eventuais obrigações, recebimento de direitos, caso existam, e,
posteriormente, somente aí se extinguirá a pessoa jurídica da
sociedade, persistindo a pessoa jurídica da sociedade em
dissolução até este momento.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 28

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4.2.1.1 A Natureza Jurídica da Sociedade em Dissolução Total

Como já visto, a personalidade jurídica da sociedade em


procedimento de Dissolução Total persistente, ou seja, a
sociedade permanece viva durante tal processo. Porém, mesmo
persistindo a personalidade jurídica da sociedade em Dissolução
Total, até concluída a liquidação e a conseqüente partilha do
acervo patrimonial remanescente entre os sócios, suas atividades
normais ficam restringias à conclusão dos negócios iniciados
anteriormente, estando vedadas novas transações, conforme
estabelece o art. 1.036 do Código Civil. Assim sendo, embora
persista a pessoa jurídica da sociedade durante essa fase
dissolutória, os objetivos da mesma se converterão apenas no
intuito de extinguí-la.

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4.2.1.2 Causas Para a Dissolução Total das Sociedades
Empresárias

O Código Civil prevê circunstancias em que a Sociedade


Empresária poderá ser dissolvida totalmente. O art. 1.033 trata
das hipóteses de dissolução sem a interferência judicial, sendo
que o art. 1034, refere-se às situações em que a dissolução será
decretada por determinação judicial. A diante, estudaremos cada
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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 29

uma das hipóteses previstas pelo Código Civil para a Dissolução


Total das sociedades.

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4.2.1.2.1 Vencimento do Prazo de Duração

A este respeito Fábio Ulhoa Coelho19 leciona que a Sociedade


Empresária pode ser contratada por prazo determinado ou
indeterminado. Esta ultima, afirma Ulhoa Coelho, “é, de longe, a
hipótese mais comum”. Porém, conforme acrescenta o referido
autor, “os sócios sempre podem evitar a dissolução por decurso
de prazo determinado mediante alteração estatutária ou
contratual que dilate ou a transforme em indeterminado [...] se os
sócios se esquecem da providência, e já transcorrem mais de 30
dias do fim do prazo referido no estatuto ou contrato social,
devem promover a regular dissolução da sociedade e, se
quiserem, constituir uma nova”. Mas, se vencido tal prazo sem
que os sócios tenham principiado a liquidação social, considera-
se prorrogado o prazo por tempo indeterminado, conforme dispõe
o art. 1.033, I (última parte).

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4.2.1.3 Dissolução Total Consensual

A Dissolução Total da Sociedade Empresária poderá ocorrer pela


vontade dos sócios, a chamada Dissolução Total Consensual,
que poderá ter efeito a qualquer tempo, por meio de distrato, no
caso das Sociedades Contratuais, como prevê o art. 1.033 – II do
Código Civil, e por deliberação da assembléia geral, em se

19
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial Vol. 2. São Paulo. Ed. Saraiva 9ª. Ed. p. 453/454.
2006

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 30

tratando de sociedade anônima, conforme dispõe o art. 206, I, C


da Lei 6.404/76 da LSA.

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4.2.1.4 Dissolução Total Por Deliberação da Maioria Absoluta

A Dissolução Total da Sociedade Empresária poderá se dar


mesmo sem a vontade unânime dos sócios. Em se tratando de
sociedade com prazo de duração indeterminado, a maioria
absoluta poderá decidir pela dissolução e, conseqüente, extinção
da pessoa jurídica da sociedade, conforme faculta o art. 1.033, III
do Código Civil. Porém, Fábio Ulhoa Coelho20 alerta que “a
jurisprudência, contudo, é assente no sentido de que, havendo a
oposição de um único sócio à dissolução da sociedade, esta não
deve ser decretada. Em razão do principio da preservação da
empresa, o sócio renitente tem o direito de conservar a
sociedade, desde que se reembolsem as quotas dos demais, e
num certo prazo, consiga-se atrair para o negócio pelo menos
mais um interessado (evitando a dissolução por
unipessoalidade)”.

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4.2.1.5 Unipessoalidade Incidental

Não se pode admitir, por óbivo, sociedade constituída por apenas


um sócio. Assim, em caso de encontrar-se a sociedade
incidentemente com apenas um único “sócio”, ou seja no curso
de duração da pessoa jurídica da sociedade, restar apenas um
dos sócios, seja por morte ou retirada dos demais, este terá, no
caso de Sociedade Anônima, constatada a permanência de um
20
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial Vol. 2. São Paulo. Ed. Saraiva 9ª. Ed. p. 453. 2006.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 31

único acionista em assembléia geral, que atrair novo acionista


para o negócio até a realização da assembléia do ano seguinte,
conforme determinada o art. 251 da LSA. Em se tratando de
sociedade contratual, a exemplo da Sociedade Limitada, o art.
1.033 do CC, concede o prazo de 180 (cento e oitenta) dias para
que se restabeleça a pluralidade necessária de sócios.

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4.2.1.6 Extinção da Autorização Para Funcionamento

Existem determinadas atividades empresariais que estão sujeitas


à autorização expressa de organismos estatais, para a
regularidade de seu funcionamento. Os bancos, por exemplo,
necessitam de autorização expedida pelo Banco Central; as
distribuidoras de combustível, necessitam que a Agência
Nacional do Petróleo (ANP) lhes conceda autorização para o
exercício de suas atividades. Assim, não obtida autorização ou
se, por ventura, por sanção administrativa o respectivo órgão
governamental cassar o registro de funcionamento da empresa,
esta deverá encerrar suas atividades.

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4.2.1.7 Dissolução Judicial

O art. 1.034 do CC, dispõe que a Sociedade Empresária poderá


ser dissolvida judicialmente a requerimento de qualquer dos
sócios, quando anulada a sua constituição ou, ainda, quando
exaurido ou inexeqüível o fim social. Pode ainda, conforme
autoriza o art. 1.035, o contrato social “prever outras causas de
dissolução a serem verificadas judicialmente quando
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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 32

contestadas”. Comentaremos a diante algumas destas situações,


a ensejarem a decretação judicial da dissolução.

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4.2.1.7.1 Falência

A falência, regulamentada pela Lei 11.101/05, se constitui em um


processo de execução concursal, promovido contra o devedor
empresário, em que todos os seus bens são arrecadados para a
satisfação de suas obrigações. O motivo da instauração do
referido processo se dá em razão de encontrar-se, a sociedade
empresária, em estado de insolvência, ou seja, os bens não se
apresentam mais suficientes para garantir as obrigações.
Primeiramente, há que restar claro que com a sentença
declaratória de falência, a pessoa jurídica da Sociedade
Empresária não se extingue de pronto, existindo inclusive,
situações em que ela poderá se reabilitar. Nesse sentido, Ricardo
Negrão21 adverte que “a falência não extingue a pessoa jurídica,
mas a mantém num estado de letargia, com a perda da
administração de seus bens.”

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4.2.1.7.2 Inexequibilidade de Realização do Objeto Social

Trata-se a presente hipótese, da inexeqüibilidade dos fins


propostos pela Sociedade Empresária, ou seja, a sociedade não
se encontra mais em condições de continuar a realizar os
negócios a que se propunham os sócios quando da sua
constituição. Por exemplo, em razão do incremento da tecnologia
e, por conseguinte, da oferta acessível de bens de consumo com
21
NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa Vol. 1. Ed. Saraiva. 3ª ed. p. 468. São
Paulo. 2003.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 33

tecnologia avançada, o produto ou serviço de determinada


empresa vem a se tornar obsoleto.

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4.2.1.7.3 Incapacidade de Qualquer dos Sócios

Em tal hipótese, um sócio poderá vir a pleitear em juízo a


Dissolução Total ou Parcial da Sociedade Empresária, por motivo
de incapacidade para os atos da vida civil por parte de outro
sócio. Por exemplo, em caso de embriaguez contínua, loucura ou
outra enfermidade a qual venha a comprometer seriamente o
bom andamento dos negócios da sociedade.

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4.2.1.7.4 Atos Ilícitos Praticados Por Sócios

Outra situação que poderá motivar o requerimento judicial de


Dissolução Total ou Parcial da Sociedade Empresária, vem a ser
a prática de atos ilícitos por parte de um dos sócios, tais como
fraudes, abusos diversos, prevaricação, violação ou
descumprimento das obrigações sociais.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 34

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4.3 Liquidação e Partilha

O art. 1.036 do Código Civil determina que, “ocorrida a


dissolução, cumpre aos administradores providenciar
imediatamente a investidura do liquidante [...]”. Este liquidante,
deverá dar início à liquidação do patrimônio social para a
posterior partilha do patrimônio social remanescente entre os
sócios. A liquidação vem a ser o processo em que são
arrecadados e vendidos os bens da sociedade, cobrados todos
os seus haveres, para a conseqüente solução das eventuais
obrigações sociais. Nesta fase os sócios que, eventualmente, não
houverem integralizado todo o seu capital subscrito poderão vir a
ser chamados a fazê-lo.

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Após a liquidação, terá lugar a partilha entre os sócios do
remanescente do acervo social. Esta repartição poderá ser tanto
do fruto da liquidação, ou seja, do dinheiro arrecadado da venda
do patrimônio social, descontado o pagamento de credores,
quanto a repartição do próprio patrimônio, caso haja consenso
entre os sócios, após a partilha, não restando mais bens
pertencentes à sociedade, aí sim, estará extinta a pessoa jurídica
da sociedade empresária.
Prof. MSc. Everaldo Medeiros Dias
APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 35

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5 A TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE


JURÍDICA.

5.1 Estudos Preliminares

Como vimos anteriormente, ao ser constituída, a pessoa jurídica


da Sociedade Empresária adquire personalidade própria, isto é,
vida jurídica distinta da de seus sócios componentes e, por assim
ser, passa a ter patrimônio e obrigações próprias, as quais, em
princípio, não devem se confundir com as dos referidos membros
do quadro societário. É o que se chamou de autonomia
patrimonial da pessoa jurídica. Por tal princípio, caso a Sociedade
Empresária em questão venha a contrair dívidas sem saldá-las no
prazo estipulado, os credores desta não poderão, em demanda
judicial que objetive cobrar tais valores, vir ajuizar os seus sócios
e penhorar-lhes os respectivos bens.

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Essa regra é absolutamente necessária e, como já nos referimos,
por demais importante tanto para o Direito como principalmente
para a economia, pois preserva o patrimônio particular dos
empreendedores ante aos percalços e riscos da atividade
econômica. Porém, há que se admitir que, por detrás dessa
autonomia patrimonial, muitas fraudes podem ocorrer, valendo-se
da estrutura autônoma da Sociedade Empresária, deixando,
muitas vezes, os direitos com a pessoa dos sócios e as
Prof. MSc. Everaldo Medeiros Dias
APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 36

obrigações com a sociedade, ou vice-versa, vindo a frustrar


legítimos interesses creditícios de fornecedores, empregados ou
do próprio Estado. Assim, para coibir fraudes ou abusos
praticados sob o manto da pessoa jurídica é que foi concebida a
Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica,
originalmente denominada pelo direito anglo-saxônico como
disregard doctrine.

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Ana Caroline Santos Ceolin22 leciona que a Teoria da


Desconsideração representa um “remédio jurídico que possibilita
aos magistrados prescindirem da estrutura formal da pessoa
jurídica para tornar a sua existência autônoma, como sujeito de
direitos, ineficaz em uma situação particular”. A jurista conclui
asseverando que o objetivo da Teoria da Desconsideração é
imputar aos membros da pessoa jurídica “a responsabilidade por
abusos e fraudes perpetrados”.

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5.2 A Origem da Teoria da Desconsideração no Direito Anglo-
Saxônico e sua Recepção pelo Direito Brasileiro

É muito importante ressaltar que a Teoria da Desconsideração, a


disregard doctrine, é originária de países cuja tradição jurídica se
fundamenta no sistema denominado como common law23, não é
22
CEOLIN, Ana Caroline Santos. Abusos na Aplicação da Teoria da Desconsideração da Pessoa
Jurídica. Belo Horizonte. Ed. Del Rey. p. 1/3. 2002.
23
“A expressão common law, usada na Inglaterra desde o século XIII, é geralmente empregada para
indicar o sistema jurídico que começou a se formar na Inglaterra a partir da conquista normanda, e que foi
sucessivamente adotado, com algumas diferenças, nos Estados Unidos, no Canadá anglófono, na
Austrália, na Nova Zelândia, na Índia e em grande parte de outros países que foram colônias inglesas, na

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 37

concepção do sistema romano-germânico a exemplo do Direito


Brasileiro. Por isso, é importante entender as diferenças básicas
entre esses dois sistemas jurídicos para, posteriormente,
entender a natureza jurídica da Teoria da Desconsideração e a
sua recepção pelo Direito brasileiro.

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René David24, leciona que “as características tradicionais da
common law são muito diferentes das da família de direito
romano-germânica. A common law foi formada pelos juízes, que
tinham de resolver litígios particulares, e hoje ainda é portadora,
de forma inequívoca, da marca desta origem. A regra de direito
da comoon law, menos abstrata que a regra de direito da família
Romano-germânica, é uma regra que visa dar solução a um
processo, e não formular uma regra geral de conduta para o
futuro”.

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Podemos deduzir que, enquanto que o sistema romano-
germânico utiliza o método dedutivo, ou seja, parte do geral para
o particular, o sistema common law utiliza o método indutivo pois,
em regra, parte do particular para o geral, baseado-se em casos
similares precedentes. Feita a breve comparção entre esses dois
sistemas jurídicos, fica evidente a razão do porquê que tal
doutrina teve sua origem e consagração junto a países da
common law. Suzy Elizabeth Cavalcante Koury25, conclui que “é
fácil perceber, então, que a disregard é um procedimento normal
chamada commonwealth, ou comunidades britânica de nações. É também chamado como sistema inglês
ou direito anglo-saxônico e tem como característica principal o precedente judicial como fonte de direito,
isto é, a ratio decidendi de uma decisão adotada por um juíz, com base em um caso análogo ao que é
submetido à sua apreciação.” CASTRO JÚNIOR, Osvaldo Agripino de. Introdução à História do Direito –
Estados Unidos X Brasil. IBRADD, CESUSC, p. 24. 2001.
24
DAVID, René. Os Grandes Sistemas do Direito Contemporâneo. Trad Hermínio A. Carvalho. São
Paulo. Ed. Martins Fontes p. 19. 1998.
25
KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A Desconsideração da Personalidade Jurídica (disregard doctrine)
e os Grupos de Empresas. Rio de Janeiro. Ed. Forense. P. 80. 2000.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 38

na common law, onde é a análise do problema concreto, que


conduz a um principio específico, sendo, ao contrário, de difícil
aplicação em sistemas jurídicos fechados, pertencentes à ‘família’
romano-germânica, como o brasileiro, em que se procura fixar um
princípio de alcance geral que seja aplicável ao caso em exame.”

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Justamente por tratar-se de um sistema aberto, o qual não exige


uma formulação legal que discipline a matéria em julgamento, é
que a Teoria da Desconsideração surgiu e se difundiu nos
tribunais dos países da common law, para somente muito mais
tarde vir a ser aplicada no Brasil. Assim, já em 1809, nos EUA, no
caso Bank of United States vs. Deveaux, o juiz Marshall
desconsiderou a parsonalidade jurídica da devedora, no caso
concreto, para atingir o patrimônio de seus sócios. Na Inglaterra,
o julgado pioneiro foi o famoso caso Salomon vs. Salomon & Co.,
de 1897, que, em resumo, tratava-se de uma S/A cujas ações
pertenciam unicamente aos membros de uma mesma família,
encobrindo fraudulentamente uma sociedade unipessoal.

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Por outro lado, foi de autoria do jurista alemão Rolf Serick, em
estudo realizado nos anos 50, o marco doutrinário. Porém, como
visto, se por um lado a aplicação da disregard doctrine, já há
muito estivesse sendo utilizada pelos tribunais anglo-saxônicos,
como remédio para coibir fraudes perpetradas por meio das
pessoas jurídicas, sua aplicação no Brasil é considerada recente.
É de autoria do comercialista Rubens Requião o primeiro estudo
brasileiro, datado de 196926. Inicialmente, a aplicação do Instituto
no Brasil encontrou resistência, tendo em vista fundamentar-se o
26
Abuso de Direito e Fraude Através da Personalidade Jurídica.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 39

Direito Brasileiro no sistema jurídico romano-germânico, pelo


qual, como vimos, necessita de previsão legal para a aplicação
do instituto. Assim, ao contrário do que afirmam alguns autores, o
primeiro dispositivo legal a disciplinar a Teoria da
Desconsideração no Brasil foi o art. 28 do CDC, de 1990, mesmo
assim com algumas impropriedades27 e de aplicação específica
ao micro-sistema consumerista.

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Com a entrada em vigor do Código Civil de 2002, a matéria pôde


ser aplicada a uma amplitude muito maior de relações jurídicas. O
art. 50 do artual estatuto civil dispõe que “em caso de abuso da
personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou
pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da
parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no
processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica”.

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5.3 A Teoria da Desconsideração e a sua Adequada Aplicação

Muitos, confundindo o instituto da Responsabilidade Pessoal de


Administradores com a Desconsideração da Personalidade
Jurídica, citam como exemplos de disciplina legal da teoria em
comento, desde o art. 10 do extinto Decreto 3.708/19, que
disciplinava a Sociedade Limitada antes da entrada em vigor do
atual Cógigo Civil, até o § 2º do art. 2º da CLT. Ceolin28 destaca
que “malgrado a igualdade finalística, os institutos da
27
GUIMARÃES, Flávia Lefèvre. Desconsideração da Personalidade Jurídica no Código de Defesa do
Consumidor. Ed. Max Limonad. 1998.
28
CEOLIN, Ana Caroline Santos. Abusos na Aplicação da Teoria da Desconsideração da Pessoa
Jurídica. Belo Horizonte. Ed. Del Rey. p. 12. 2002.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 40

desconsideração da pessoa jurídica e da responsabilidade


pessoal dos administradores não se confundem e devem ser
amplamente diferenciados.”

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Assim, sempre que a lei expressamente estender, de forma


objetiva, a responsabilidade sobre as obrigações da pessoa
jurídica aos seus membros, tratar-se-á de responsabilidade
pessoal e não de desconsideração a qual somente é aplicada
quando, ante a fraudes comprovadas, não existem institutos
jurídicos objetivos como remédio.

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Fábio Ulhoa Coelho29, assevera que a solução para evitar
simulações e fraudes com a pessoa jurídica das Sociedade
Empresárias não é abolir a autonomia da pessoa jurídica como
regra. Coelho complementa que o problema não está no instituto
em si, mas no seu mau uso. Portanto, desconsiderar não significa
despersonalizar, extingüir a pessoa jurídica. Ana Caroline Santos
Ceolin30 alerta que “desestimar não significa extinguir, mas tão-

29
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial Vol. 2. São Paulo. Ed. Saraiva 9ª. ed. p. 34/35.
2006.
30
CEOLIN, Ana Caroline Santos. Abusos na Aplicação da Teoria da Desconsideração da Pessoa
Jurídica. Belo Horizonte. Ed. Del Rey. P. 3/4. 2002

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 41

somente prescindir da estrutura formal da pessoa jurídica diante


de um caso concreto. Subsiste, com efeito, o ente jurídico”.

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Na verdade, a adequada aplicação da teoria vem a preservar o


instituto da pessoa jurídica como instrumento jurídico
indispensável à organização da atividade econômica. Por outro
lado, observa-se, em determinados seguimentos, que tal teoria
vem sendo aplicada de forma indiscriminada vindo, por isso, a
desestabilizar o importante princípio da autonomia patrimonial
existente entre os sócios e a sociedade.

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Para elucidar melhor, imaginemos que A possui 90% das quotas
de uma Sociedade Empresária Ltda. Que atua no ramo de
transportes, sendo que B é proprietário dos 10% restantes.
Estando a sociedade endividada, a mesma é executa
judicialmente. Porém, para a sua surpresa do credor, verifica-se
que tanto a frota de caminhões quanto o estabelecimento da
empresa encontram-se em nome de outra sociedade com a
mesma composição societária, existindo contrato de locação dos
referidos bens entre a proprietária e a sociedade devedora.
Perante o público e os credores em geral, tais bens pertenciam à
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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 42

sociedade devedora pois, além de ser a única com visibilidade no


mercado, tanto os veículos quanto o estebelecimento
estampavam a logomarca da devedora. A fraude está
evidenciada e o único remédio é a aplicação da Teoria da
Desconsideração, pois não existe dispositivo legal que,
objetivamente venha a amparar a legítima pretensão do credor
que, categoricamente, foi ludibriado pois somente concedeu o
crédito em razão das garantias patrimoniais que imaginava existir.

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Assim a Desconsideração se dá em situações extremamente


subjetivas, quando constatada a fraude e inexistindo mecanismos
jurídicos objetivos para amparar a legítima pretensão do lesado.
Assim, como o Direito é o vetor para a aplicação da Justiça, ante
a um caso comprovado de injustiça, o juiz deve deixar o
objetivismo de lado. Por isso é que, quando a lei, objetivamente,
estende a responsabilidade a administradores por obrigações
sociais, não será caso de desconsideração pelo simples fato de
que, existindo responsabilidade solidária, como no caso do art.
135, III do CTN, não haverá necessidade de desconsideração.

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5.4 As Teorias Maior e Menor

Segundo Fábio Ulhoa Coelho31, existem no Brasil duas teorias da


desconsideração. Segundo o Fábio Ulhoa Coelho, uma seria
mais elaborada, de maior consistência e abstração a qual
denominou de “Teoria Maior de Desconsideração”. Esta consiste
na situação, “pela qual o juiz é autorizado a ignorar a autonomia
patrimonial da pessoas jurídica, como forma de coibir fraudes e
abusos praticados através dela”. A outra, a qual denominou de
31
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial Vol. 2. São Paulo. ed. Saraiva 9ª. Ed. p. 35. 2006.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 43

“Teoria Menor da Desconsideração, seria menos elaborada, que


“refere-se à desconsideração em toda e qualquer hipótese de
execução do patrimônio de sócio por obrigação social, cuja
tendência é condicionar o afastamento do princípio da autonomia
à simples insatisfação de crédito perante a sociedade.”

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Para a Teoria Maior da Desconsideração, o pressuposto básico à


sua aplicação e, portanto, ao afastamento da autonomia
patrimonial seria o uso fraudulento ou abusivo do instituto da
pessoa jurídica, o que se traduz em um pressuposto subjetivo.
Porém, tal pressuposto apresenta dificuldades em sua prova.
Assim, impõe-se a necessidade de pressupostos objetivos que
venham a somar-se na intenção da aplicação da teoria, que se
traduzem na ocorrência de determinadas situações as quais se
mostrariam como sinais ostensivos a demonstrar a ocorrência de
fraude ou simulações.

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Neste sentido se apresenta a confusão patrimonial, que se dá
quando, por exemplo, comprovadamente um patrimônio de uso
pessoal de um sócio se encontra em nome da sociedade e vice-
versa, ou até mesmo em nome de outra sociedade ou, ainda,
quando, por exemplo, observa-se em movimentação bancária
que a sociedade paga despesas particulares do sócio e vice-
versa.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 44

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5.5 Aspectos Processuais

Outra importante questão que vem apresentar terreno fértil ao


debate entre as Teorias Maior e Menor vem a ser quanto a seus
aspectos processuais. Segundo o entendimento apresentado pela
Teoria Maior, para se atingir um sócio em uma lide judicial e,
portanto, vir a desconsiderar a personalidade jurídica da
sociedade, deve-se incluí-lo junto ao pólo passivo da relação
processual desde o início da lide. Segundo Fábio Ulhoa Coelho32
“a desconsideração não pode ser decidida pelo juiz por simples
despacho em processo de execução”. Deste modo, permite-se a
amplitude do contraditório.

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Por este entendimento, ao se propor, por exemplo, uma ação
judicial contra a pessoa jurídica de uma sociedade empresária e
havendo intenção de se atingir o patrimônio de sócios que por
ventura tenham se utilizado de forma fraudulenta da pessoa
jurídica desta sociedade, vindo a deixá-la em estado de
insolvência, devem os credores incluir o nome de tais sócios ao
lado da sociedade, já na petição inicial, para discutir tal questão
junto ao mérito e nunca deixar para indicar tais nomes após uma
execução frustrada contra a sociedade.

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32
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial Vol. 2. São Paulo. Ed. Saraiva 9ª. ed. p. 55. 2006.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 45

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Coelho acrescenta que, para os juizes que adotam a Teoria


Menor, basta a insolvabilidade da sociedade, ou seja, a mera
insatisfação de crédito de que a mesma é devedora para que se
venha a pleitear atingir o patrimônio de sócios por crédito
proposto contra a sociedade. A discussão processual, neste caso
é por demais simplista, pois admite ser os embargos de terceiro o
local apropriado para apreciar a defesa do sócio executando por
dívida da sociedade. O autor arremata esclarecendo que, “como
não participaram da lide durante o processo de conhecimento e
não podem rediscutir a matéria alcançada coisa julgada, acabam
os embargantes sendo responsabilizados sem o devido processo
legal, em claro desrespeitando aos seus direitos subjetivos
constitucionais”.

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Ainda, colhendo-se dos ensinamentos de Fábio Ulhoa Coelho,
mesmo ao admitir-se a Teoria Menor da Desconsideração da
Pessoa Jurídica, a qual admite em seu contexto, como já visto,
não a fraude mas a simples insatisfação do credor, “isso não
altera em nada a discussão dos aspectos processuais da
aplicação da teoria. Quer dizer, deve ser sempre inafastavél a
exigência do processo de conhecimento de que participe, no pólo
passivo, aquele sócio cuja responsabilização se pretende, seja
para demonstrar sua conduta fraudulenta (se prestigiada a
formulação da maior teoria), seja para condená-lo, tendo vista a
insolvabilidade da pessoa jurídica (quando adotada a teoria
menor)”.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 46

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5.6 Considerações Finais

O que se deve ficar claro, é que existe, na verdade, apenas uma


Teoria da Desconsideração, originalmente chamada, como já
mencionado, de disregard doctrine, criação do direito anglo-
saxônico, a qual admite sua aplicação apenas em casos de
comprovada fraude ou abuso na utilização do instituto da pessoa
jurídica. Assim, apenas a Teoria Maior é que se trata,
verdadeiramente, de aplicação da disregard doctrine tal qual foi
concebida. A Teoria Menor é, simplesmente, uma forma de
responsabilização pessoal de sócios de forma excessiva, que
alguns insistem em chamá-la de Teoria da Desconsideração.
Mesmo quando prevista em lei, a exemplo do art. 135 do CTN, tal
situação não pode, sob pena de total deturpação, ser confundida
com a referida teoria.

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6 CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS

6.1 Sociedades Contratuais e Institucionais

As sociedades empresárias podem se classificar de acordo com o


seu regime de constituição e dissolução. Assim, elas podem ser
contratuais ou institucionais. Lembra Sérgio Campinho33, que em
ambos os tipos, as sociedades se formam em razão da
manifestação de vontade de seus sócios. Para Fábio Ulhoa
Coelho34, “as sociedades contratuais são constituídas por um
33
CAMPINHO. Sérgio. O Direito de Empresa à Luz do Novo Código Civil. Ed. Renovar. 3ª Ed. p. 54. Rio
de Janeiro. 2003.
34
COELHO, Fábio Ulhoa. Curo de Direito Empresarial Vol. 2. Ed Saraiva. 13ª ed. p. 26/27. São Paulo.
2009.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 47

contrato entre os sócios”, ou seja, ocorre uma relação contratual


entre os integrantes da pessoa jurídica, já as institucionais, “[...]
também se constituem por um ato de manifestação de vontade
dos sócios, mas não é este revestido de natureza contratual”.

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Portanto, o ato constitutivo e disciplinador das relações sociais,


nas sociedades contratuais, é o contrato social e, por sua vez, as
sociedades institucionais são constituídas e tem a sua existência
jurídica regida pelo estatuto social. No que tange à legislação
aplicável, as sociedades contratuais são regulamentadas pelo
Código Civil, sendo que a Lei das Sociedades por Ações (Lei
6.404/76) disciplina as institucionais. São contratuais as
sociedades empresárias limitada, em nome coletivo e em
comandita simples, além da sociedade simples. Institucionais são
as sociedades anônima e em comandita por ações.

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Para facilitar a compreensão do tema, Fábio Ulhoa Coelho35
apresenta a seguinte questão: “o herdeiro de uma participação
societária está obrigado a integrar a sociedade? A resposta
depende da classificação da sociedade. Sendo esta contratual, a
constituição e a dissolução seguem regras próximas à do regime
jurídico dos contratos. Assim, como ninguém é obrigado a
contratar, em termos de princípio geral, o herdeiro das quotas de
uma sociedade limitada, se quiser, pode deixar de ingressar nela,
exigindo a apuração de haveres (opera-se, então, a dissolução
parcial). Nessa hipótese, a sociedade lhe pagará o valor das
quotas e prosseguirá com os outros sócios”.

35
COELHO, Fábio Ulhoa. Curo de Direito Empresarial Vol. 2. Ed Saraiva. 13ª ed. p. 26. São Paulo. 2009.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 48

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Por outro lado, se a sociedade é institucional o herdeiro passará a


integrar o quadro de acionistas, podendo vender suas ações,
todavia, é necessário que o mesmo se torne membro da
sociedade, ainda que por curto período. Coelho arremata
esclarecendo que “o vínculo societário não pode ser desfeito
mediante o reembolso da participação societária, porque não tem
a natureza de um contrato”.
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Cumpre destacar que as sociedades contratuais, a exemplo da
sociedade limitada, têm por fundamento uma maior liberdade
entre os sócios. Desta forma, obedecidos os ditames legais na
constituição da sociedade, os sócios, em razão da natureza
contratual, possuem uma margem maior para atribuir à nova
pessoa jurídica características próprias e peculiares. Estas
características, Segundo Ulhoa Coelho36, são, junto com a
limitação da responsabilidade dos sócios em relação às
obrigações sociais, um dos fatores responsáveis pelo sucesso da
sociedade limitada37. E, na seqüência, Ulhoa Coelho arremata
afirmando que a contratualidade permite aos sócios uma
liberdade maior em relação às sociedades institucionais. Segundo
36
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. Ed. Saraiva. 21ª ed. p. 152. São Paulo. 2009.
37
Segundo dados publicados pelo DNRC (Departamento nacional de Registro de Comércio), 98,59% das
sociedades constituídas no Brasil no ano de 2005, foram Sociedades Limitadas.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 49

Coelho, “as relações entre os sócios podem pautar-se nas


disposições de vontade destes, sem os rigores ou balizamentos
próprios do regime legal da sociedade anônima, por exemplo.
Sendo a limitada contratual, e não institucional, a margem para
negociações entre os sócios é maior”.
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Assim, observa-se que as sociedades contratuais, sendo mais
apropriadas para pequenas e médias atividades empresariais,
conferem aos sócios integrantes, uma relação pessoal e uma
margem maior para vir atribuir à pessoa jurídica, características
próprias. Já as institucionais, a exemplo da sociedade anônima,
sendo mais adequadas a grandes empreendimentos, possuem
características voltadas à facilitação de aporte de capitais, sendo
que as características pessoais dos sócios, não lhes conferem
maior relevo, como ficará claro a seguir.
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6.2 Sociedades de Pessoas e de Capitais
Fábio Ulhoa Coelho38 ressalta que no tocante à classificação das
sociedades se deve levar “[...] em conta o grau de dependência da
sociedade em relação às qualidades subjetivas dos sócios
(classificação que repercute nas condições para a alienação da
participação societária). Segundo esse critério, as sociedades
podem ser de pessoas ou de capitais. Evidentemente, não existe
sociedade sem a presença desses dois elementos (sócios e
capital), de forma que a classificação aqui examinada diz respeito
à prevalência de um deles sobre o outro. Quer dizer, em algumas
sociedades, a realização do objeto social depende
fundamentalmente dos atributos individuais dos sócios, ao passo
que, em outras, essa realização não depende das características
38
COELHO, Fábio Ulhoa. Curo de Direito Empresarial Vol. 2. Ed Saraiva. 13ª ed. p. 24. São Paulo. 2009.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 50

subjetivas dos sócios. Nas primeiras, a pessoa do sócio é mais


importante que a contribuição material que este dá para a
sociedade; nas últimas, opera-se o inverso: as aptidões, a
personalidade e o caráter do sócio são irrelevantes para o
sucesso ou insucesso da empresa explorada pela sociedade”.

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Assim, as sociedades são de pessoas quando as características


pessoais dos sócios são fundamentais ao exercício da empresa.
Para as de capitais, tais peculiaridades não interferem nos
negócios sociais. São consideradas de capitais as sociedades
anônima e comandita por ações. As sociedades de pessoas, por
essência, são as sociedades empresárias limitada, em nome
coletivo e em comandita simples, além das sociedades simples.

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Nas sociedades institucionais, a exemplo da Sociedade Anônima,
cujo ato constitutivo e disciplinar é, como já visto, o estatuto
social, o perfil capitalístico está sempre presente. É próprio da
natureza jurídica destas sociedades tal característica. Nestas
sociedades, impera o Princípio da Livre Circulação da
Participação Societária. Em razão disto, é que a fração de seu
capital, as ações, são bens móveis, representados por títulos
expedidos pela sociedade em favor do sócio (acionista). A
expedição destes títulos, denominados igualmente de ações,
facilita a negociação das ações e, por conseguinte, da
participação societária. Ressalta Fábio Ulhoa Coelho39, que nas
sociedades de capitais “o sócio pode alienar sua participação
societária a quem quer que seja, independente da anuência dos

39
COELHO, Fábio Ulhoa. Curo de Direito Empresarial Vol. 2. Ed Saraiva. 13ª ed. p. 25. São Paulo. 2009.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 51

demais, porque as características pessoais do adquirente não


atrapalham, não tem como atrapalhar o desenvolvimento do
negócio social”.
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Por sua vez, é da essência das sociedades contratuais o perfil
personalístico. A fração do capital destas sociedades é
denominada de quota (podendo ser grafado também como “cota”)
e, ao contrário do que ocorre com as ações, não se constituem
em bens móveis. Se, por ventura, houver a mudança de um sócio
(quotista) por outro na sociedade, isto se dará por meio de
alteração contratual, a ser arquivada na junta comercial. Todavia,
em razão do Princípio da Contratualidade, ou seja, da liberdade
de contratar, o contrato social poderá dar contorno capitalístico à
sociedade. Portanto, é da análise do contrato social que resultará
a conclusão quanto ao perfil personalístico ou capitalístico da
sociedade contratual.
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Em uma sociedade com perfil personalístico, o elemento
fundamental são as características subjetivas da pessoa do sócio,
isto é, suas qualidades pessoais. Por exemplo: José é sócio de
Pedro, seu amigo de longa data, no qual deposita toda sua
confiança. Porém, de maneira alguma, seria sócio de Antônio,
irmão de Pedro, por não ter neste a confiança necessária. Assim,
para que a sociedade contratual conserve sua essência enquanto
sociedade de pessoas, seu contrato social não pode permitir a
entrada de novos sócios sem a anuência dos demais. Isto seria
totalmente contrário ao perfil personalístico. A seu turno, em uma
sociedade com perfil capitalístico, como são as sociedades
institucionais, as características subjetivas dos sócios, em
definitivo, não importam. É da essência destas sociedades a
negociação de suas participações societárias, de forma direta ou
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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 52

por meio de bolsa de valores. Assim, as sociedades institucionais,


por serem constituídas por estatutos, são sempre de capitais. Já
as sociedades contratuais, por essência, são de pessoas, salvo
se os sócios, em função do Princípio da Contratualidade, derem
ao contrato social perfil personalístico.

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Portanto, partindo-se do entendimento de que a possibilidade ou


não de livre ingresso de estranhos ao quadro societário distingue
se uma sociedade possui perfil personalístico ou capitalístico, três
características básicas devem ser analisadas: 1) Quanto aos
efeitos da morte de sócio; 2) Quanto à alienação da participação
societária; 3) Quanto à possibilidade de penhora das quotas por
dívidas particulares dos sócios.

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Quanto ao disposto no item 2, os efeitos da morte de sócio variam
conforme o perfil personalístico ou capitalístico da sociedade. Em
se tratando de sociedade de capitais, os herdeiros do sócio
falecido ingressam automaticamente no quadro social, não
havendo qualquer possibilidade de os sócios remanescentes se
oporem, em razão da natureza própria destas sociedades, as
quais, como já referido, não levam em consideração as
peculiaridades pessoais de seus sócios. Porém, em se tratando
de sociedades de pessoas, em regra, tanto os herdeiros do sócio
falecido poderão se negar a entrar na sociedade, quanto os
demais sócios, igualmente, poderão apresentar oposição à
admissão destes. Nesta hipótese, não há o ingresso dos mesmos
na sociedade, a qual sofrerá uma dissolução parcial em relação

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 53

às quotas pertencentes ao sócio falecido, com o pagamento do


correspondente aos seus herdeiros.
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Já em relação ao referido no item 1, a princípio, a alienação, ou
seja, a transferência da participação societária a alguém, estranho
ao quadro societário, somente pode se operar com o
consentimento dos demais sócios. Gladston Mamede40 discorre
que “essa situação é fruto da própria natureza contratual da
constituição da pessoa jurídica, nos moldes há pouco estudados.
A todas elas se aplicam as regras protetivas da contratação intuitu
personae, inclusive, às sociedades limitadas, forma mais comum
no Direito brasileiro. Apenas há, em relação às limitadas, uma
regra manos rígida: enquanto o artigo 1.003 se refere à anuência
dos demais sócios, o art. 1.057 do Código Civil prevê que o sócio
tem o direito de ceder sua quota a estranho se não houver
oposição de titulares de mais de um quarto do capital social”.
APONTAMENTOS:..........................................................................
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No que tange ao item 3, discute-se a possibilidade ou não de
penhora da participação societária (ações ou quotas) por dívidas
particulares de sócio. Assim, uma vez estando o sócio
endividado, discute-se a possibilidade de seu credor, mediante
ação de execução, vir pleitear a penhora de sua participação na
sociedade, uma vez entendida esta como parte integrante de seu
patrimônio pessoal. Isto acontecendo, quem a arrematasse em
hasta pública se tornaria sócio independentemente de suas
peculiaridades pessoais. Em se tratando de penhora de ações,
que se constituem em fração do capital de sociedades
institucionais, portanto genuinamente de capitais, claro está que,
em razão do perfil não personalístico, ou seja, de não influir no
40
MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro Vol. 2. Ed. Atlas. 3ª ed. p. 68. São Paulo. 2009.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 54

sucesso da empresa a confiança recíproca dos sócios, não existe


qualquer divergência quanto a esta possibilidade.
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Porém, em se tratando de penhora de quotas, isto é, fração do
capital de sociedade contratual, cujo perfil personalístico é de sua
essência, tal possibilidade não resta tão clara. Isto ocorre em
razão de que o arrematante das quotas se tornaria sócio a
despeito de suas características pessoais e da confiabilidade
depositada em sua pessoa por parte dos outros sócios, os quais,
por opção originária, decidiram pela sociedade com o devedor
que, compulsoriamente, foi substituído por decisão judicial alheia
a vida e aos negócios da sociedade. Assim, a primeira vista, em
razão da natureza contratual do instrumento constitutivo e
regulamentar destas sociedades, se deve verificar no contrato
social se os sócios, originariamente, permitem a cessão das
quotas por sócio a estranho ao quadro social sem a necessidade
de autorização expressa dos demais, situação a qual dariam
atribuiriam perfil capitalístico à sociedade.
APONTAMENTOS:..........................................................................
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Nesta hipótese, restando a sociedade contratual, por opção
originária dos sócios, com perfil capitalístico, por característica
exclusiva desta, os sócios não levam em consideração as
peculiaridades pessoais dos demais sócios, sendo, assim,
perfeitamente aceitável a penhora de suas quotas por dívidas
particulares dos sócios. Ocorre que, se da leitura do contrato não
restar o entendimento sobre a livre cessão de quotas a estranhos,
a penhora das quotas e o consequente ingresso do arrematante
na sociedade causaria um sério desconforto aos demais sócios e
possível afronta ao Princípio da Preservação da Empresa. Sendo

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 55

assim, o remédio seria pela decisão da impenhorabilidade das


quotas da sociedade contratual com perfil personalístico.
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Jurisprudência TJSC: PENHORABILIDADE DAS QUOTAS DE
SOCIEDADE LIMITADA POR DÍVIDAS PARTICULARES DE
SÓCIO
Apelação Cível n. 1988.083078-9, de Blumenau
Relator: Pedro Manoel Abreu.
Órgão Julgador: Segunda Câmara de Direito Comercial
Data: 20/02/1997
Ementa:

Embargos à execução. Penhora. Quota de sociedade comercial.


Restrição contratual. Impenhorabilidade descartada. Precedentes
jurisprudenciais desta Corte e do STJ. Recurso desprovido.
São penhoráveis as cotas de capital social de sociedade por
responsabilidade limitada, por dívida particular de sócio, ainda
que o contrato social imponha restrição à livre alienação ou ao
ingresso de novo sócio. "Os efeitos da penhora incidente sobre
as cotas sociais hão de ser determinados em atenção aos
princípios societários, considerando-se haver, ou não, no
contrato social proibição à livre alienação das mesmas.
“Havendo restrição contratual, deve ser facultado à sociedade,
na qualidade de terceira interessada, remir a execução, remir o
bem ou conceder-se a ela e aos demais sócios a preferência na
aquisição das cotas, a tanto por tanto (CPC, arts. 1.117, 1.118 e
1.119). “Não havendo limitação no ato constitutivo, nada impede
que a cota seja arrematada com inclusão de todos os direitos a
ela concernentes, inclusive o status de sócio.' (REsp 39.609-
3/SP, rei. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira).
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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 56

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Jurisprudência TJSC: IMPENHORABILIDADE DAS QUOTAS DE
SOCIEDADE LIMITADA POR DÍVIDAS PARTICULARES DE
SÓCIO
Agravo de Instrumento n. 2005.022632-4, de Blumenau
Relator: Joel Dias Figueira Junior
Órgão Julgador: Primeira Câmara de Direito Civil
Data:31/01/2006
Ementa:
AGRAVO de INSTRUMENTO. EXECUÇÃO. SOCIEDADE
LIMITADA. PENHORA DE QUOTAS SOCIAIS. CLÁUSULA DE
IMPENHORABILIDADE POR DÍVIDAS PARTICULARES DE
SÓCIOS. ENTIDADE FAMILIAR. SOCIEDADE INSTITUÍDA
INTUITU PERSONAE. POSSIBILIDADE DE QUEBRA DA
AFFECTIO SOCIETATIS. EXEGESE DO ART. 1.026 C/C ART.
1.053, AMBOS DO NOVO CÓDIGO CIVIL. INTELIGÊNCIA DO
ART. 591 C/C ART. 648 E ART. 649, I, TODOS DO CPC.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. Havendo cláusula
expressa apontada em contrato social, há mais de 25 anos,
acerca da impenhorabilidade das quotas da sociedade de
responsabilidade limitada por dívidas particulares dos seus
sócios, máxime em se tratando de entidade de caráter familiar,
impossível recair sobre elas penhora judicial, sob pena de
violação dos princípios da livre estipulação e da boa-fé.
Admitir a penhora em hipótese como esta significa nada menos
do que proferir decisão manifestamente contrária à regra de
exceção insculpida no art. 649, I, do CPC, permissiva de gravame
através de cláusula de impenhorabilidade por ato voluntário dos
interessados. Ademais, apenas para argumentar, se alienada as
cotas do sócio agravante, perderia a sociedade o seu caráter de
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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 57

entidade familiar, assim conservada há mais de cinco lustros,


pondo em risco a tão decantada affectio societatis merecedora de
ser preservada. Igualmente, não se perca de vista regra de direito
positivado e máxima jurídica orientadora de eqüidade: "Na
aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais e as exigências
do bem comum" (art. 5.º da LICC). Em arremate, a hipótese
vertente há de ser interpretada sob a luz do novo Código Civil,
artigo 1.026 c/c art. 1.053, concluindo-se que as constrições
judiciais incidirão não sobre as cotas sociais, mas sim sobre o
que couber ao devedor nos lucros da sociedade, ou na parte que
lhe tocar em liquidação.
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Jurisprudência STJ: PENHORABILIDADE DAS QUOTAS DE
SOCIEDADE LIMITADA POR DÍVIDAS PARTICULARES DE
SÓCIO
Processo
REsp 221625 / SP RECURSO ESPECIAL 999/0059057-0
Relator(a)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
07/12/2000
Data da Publicação/Fonte
DJ 07/05/2001 p. 138 LEXSTJ vol. 144 p. 148
Ementa
RECURSO ESPECIAL – PROCESSUAL CIVIL E COMERCIAL
– PENHORA DE QUOTAS SOCIAIS DE SOCIEDADE POR
COTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA –

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 58

POSSIBILIDADE. I – É possível a penhora de cotas


pertencentes a sócio de sociedade de responsabilidade
limitada, por dívida particular deste, em razão de inexistir
vedação legal. Tal possibilidade encontra sustentação, inclusive,
no art. 591, CPC, segundo o qual "o devedor responde, para o
cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens
presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei". II
- Os efeitos da penhora incidente sobre as cotas sociais devem
ser determinados em levando em consideração os princípios
societários. Destarte, havendo restrição ao ingresso do credor
como sócio, deve-se facultar à sociedade, na qualidade de
terceira interessada, remir a execução, remir o bem ou concedê-
la e aos demais sócios a preferência na aquisição das cotas, a
tanto por tanto (CPC, arts. 1117, 1118 e 1119), assegurando-se
ao credor, não ocorrendo solução satisfatória, o direito de
requerer a dissolução total ou parcial da sociedade.
Acórdão
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros
da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na
conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes
dos autos, por unanimidade, não conhecer do recurso especial.
Votaram com a Sra. Ministra-Relatora os Srs. Ministros
Waldemar Zveiter, Ari Pargendler e Menezes Direito. Ausente,
justificadamente, o Sr. Ministro Pádua Ribeiro.
Resumo Estruturado
CABIMENTO, PENHORA, COTA, SOCIEDADE LIMITADA,
HIPOTESE, DIVIDA, CARATER PESSOAL, SOCIO COTISTA,
INEXISTENCIA, PROIBIÇÃO, DISPOSITIVO LEGAL.
POSSIBILIDADE, SOCIEDADE COMERCIAL, QUALIDADE,
TERCEIRO INTERESSADO, PROMOÇÃO, REMIÇÃO DE
BENS, EXECUÇÃO JUDICIAL, HIPOTESE, EXISTENCIA,
RESTRIÇÃO, SUBSTITUIÇÃO, SOCIO COTISTA, OBJETIVO,
GARANTIA, PREFERENCIA, AQUISIÇÃO, COTA, RESSALVA,
DIREITO, CREDOR, OPÇÃO, DISSOLUÇÃO PARCIAL DE

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 59

SOCIEDADE COMERCIAL, DISSOLUÇÃOTOTAL DE


SOCIEDADE COMERCIAL.
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Jurisprudência STJ: IMPENHORABILIDADE DAS QUOTAS DE
SOCIEDADE LIMITADA POR DÍVIDAS PARTICULARES DE
SÓCIO
Processo
REsp 148947 / MG RECURSO ESPECIAL 1997/0066174-1
Relator(a)
Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO (1108)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
15/12/2000
Data da Publicação/Fonte
DJ 29/04/2002 p. 241 RDR vol. 24 p. 244
Ementa
Sociedade de Responsabilidade Limitada. Dívida de Sócio.
Penhora de Quotas. As quotas, em princípio, são penhoráveis.
Havendo, entretanto, cláusula impediente, cumpre respeitar a
vontade societária, preservando-se a afectio societatis, que
restaria comprometida com a participação de um estranho não
desejado. Recurso conhecido e provido.
Acórdão
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as
acima indicadas. Decide a Terceira Turma, após o voto-
desempate do Sr. Ministro Waldemar Zveiter, por maioria,
conhecer do recurso especial e dar-lhe provimento.
Resumo Estruturado
IMPOSSIBILIDADE, PENHORA, COTA, SOCIEDADE

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 60

LIMITADA, AMBITO, EXECUÇÃO JUDICIAL, EXECUTADO,


SOCIO COTISTA, HIPOTESE, CLAUSULA, CONTRATO
SOCIAL, PREVISÃO EXPRESSA, PROIBIÇÃO,
TRANSFERENCIA, ALIENAÇÃO, COTA, TERCEIRO,
CARACTERIZAÇÃO, CLAUSULA DE INALIENABILIDADE,
NECESSIDADE, PRESERVAÇÃO, AFFECTIO SOCIETATIS.
(VOTO VENCIDO) (MIN. CARLOS ALBERTO MENEZES
DIREITO) POSSIBILIDADE, PENHORA, COTA, SOCIEDADE
LIMITADA, AMBITO, EXECUÇÃO JUDICIAL, EXECUTADO,
SOCIO COTISTA, IRRELEVANCIA, CONTRATO SOCIAL,
PREVISÃO EXPRESSA, CLAUSULA DE INALIENABILIDADE,
DECORRENCIA, INEXISTENCIA, PREVISÃO LEGAL,
IMPENHORABILIDADE, PREVALENCIA, NORMA DE ORDEM
PUBLICA, OBSERVANCIA, RESPONSABILIDADE
PATRIMONIAL, DEVEDOR, NÃO CARACTERIZAÇÃO,
VIOLAÇÃO, AFFECTIO SOCIETATIS.
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7 REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA
7.1 Aspectos Gerais
Neste capítulo, trataremos sobre as formas utilizadas pelas
sociedades empresárias para conjugar esforços ou redimensionar
suas estruturas jurídicas. Assim, estas podem se reorganizar,
conjugando os meios de organização dos fatores de produção,
visando sua atuação no mercado empresarial. Sendo assim,
estudaremos adiante as modalidades de reorganização societária
e seus efeitos jurídicos dividindo inicialmente o estudo em: A)
Grupos de Sociedades; B) Operações Societárias.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 61

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7.2 Grupos de Sociedades
Neste ponto, em específico, trataremos sobre as modalidades de
Reorganização Societária, as quais se operam por meio de
comunhão de esforços entre sociedades empresárias distintas.
Em geral, os Grupos de Sociedades, em suas várias
modalidades, se apresentam, conforme observa Sérgio
Campinho41, “como uma técnica de exploração racional da
atividade empresarial, na busca do atingimento de um processo
de investimentos, pesquisa, produção e comercialização mais
eficientes”. Por distinção básica, a Reorganização Societária por
Grupos de Sociedades, não implica no perecimento da
personalidade jurídica de uma ou de outra sociedade envolvida,
ou mesmo no surgimento de novas pessoas jurídicas, como é a
característica preponderante das formas de Reorganização por
meio de Operações Societárias, a serem estudadas logo a seguir.
APONTAMENTOS:..........................................................................
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7.2.1 Grupos de Fato
Os Grupos de Sociedades de Fato, regulados pelo Código Civil
nos arts. 1.097 a 1.101 se dividem em sociedade controladora e
controlada, sociedade coligada ou filiada e, ainda, de simples
participação. Controladora é aquela que possui o controle de
outra e, por sua vez, controlada é a sociedade, conforme dispõe o
art. 1.098 do Código Civil, que tiver seus destinos sob controle de
outra. Já a sociedade coligada ou filiada, segundo o que estatui o
art. 1.099 do Código Civil, é aquela cujo capital outra sociedade
participa com 10% (dez por cento) ou mais sem, contudo,
controlá-la. Como sociedade de simples participação, art. 1.100
41
CAMPINHO, Sérgio. O Direito de Empresa à Luz do Novo Código Civil. Ed. Renovar. 3ª ed. p. 283. Rio
de Janeiro. 2003.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 62

do Código Civil considerada a sociedade que outra participe com


menos de 10% (dez por cento) do capital votante.
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7.2.2 Grupos de Direito – Holding
Os Grupos de Sociedades de Direito estão regulados pelos arts.
265 a 268 da Lei 6.404/76 (LSA) e também são conhecidos como
Holding. Ricardo Negrão42 discorre que estes se estabelecem
“mediante convenção pela qual as sociedades se obrigam a
combinar recursos ou esforços para a realização dos respectivos
objetos ou a participar de atividades ou empreendimentos
comuns. A comandante deve ser necessariamente brasileira e o
comando registrado na Junta Comercial. A ligação entre elas
identifica-se com a expressão ‘grupo de sociedades’ ou,
simplesmente, ‘grupo’, criando uma nova estrutura administrativa
e, ainda, podendo instituir órgão de deliberação colegiada e
cargos de direção geral”.
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7.2.3 Consórcios
Os Consórcios de Empresas são uma forma bastante peculiar de
conjugação de esforços entre sociedades empresárias. Pode-se
destacar que na constituição de um Consórcio de Empresas
existirá a integração de seus meios de produção, visando a
otimização de seus recursos humanos, tecnológicos, logísticos e
etc. Rubens Requião43 leciona que “o consórcio constitui uma
modalidade técnica de concentração de empresas. Através de
podem diversas empresas, associando-se mutuamente, assumir
42
NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa Vol. 1. Ed. Saraiva. 3ª ed. p. 457. São
Paulo. 2003.
43
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial 2º Vol. Ed. Saraiva. 23ª ed. p. 293/294. São Paulo.
2003.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 63

atividades e encargos que isoladamente não teriam força


econômica e financeira, nem capacidade técnica para executar”.
Os Consórcios de Empresas estão regulados pelos arts. 278 e
279 da Lei 6.404/76 (LSA) e são constituídos por contrato firmado
entre as sociedades participantes o qual deverá ser levado a
registro perante a Junta Comercial. Deve-se frisar que este ato de
registro não confere ao Consórcio personalidade distinta das
sociedades que o integram.
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7.3 Operações Societárias
7.3.1 Transformação
A Transformação, conforme enfatizado tanto pelo art. 220 da Lei
6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas) quando pelos arts.
1.113 a 1.115 do Código Civil de 2.002 é o ato pelo qual uma
sociedade passa de uma espécie a outra.
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Por esse procedimento, por exemplo, uma sociedade constituída
com fundamento nos arts. 1.052 a 1.087 do Código Civil
(Sociedade Ltda.) poderá, independentemente de dissolução e
liquidação, passar a ser regida segundo a Lei 6.404/76,
mencionada a cima, e se transformar em uma sociedade
anônima, vindo a exercer todas as prerrogativas deste tipo
societário.
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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 64

Muito embora esta passagem entre um tipo societário e outro não


implique, necessariamente, em dissolução ou liquidação, a
personalidade jurídica da sociedade primitiva não persiste. há,
neste caso, a sucessão de um pessoa jurídica por outra. No
entendimento de Miranda Valverde44, “a conservação da
personalidade jurídica na passagem de um tipo para outro de
sociedade não significa, pois, a permanência da mesma pessoa
jurídica. Resulta do processo mesmo da transformação, que
consiste, justamente, na passagem, sem estado intermediário, de
um tipo de pessoa jurídica para outro. A pessoa jurídica anterior
subsiste até o momento em que se transforma ou se
metamorfoseia em outra pessoa jurídica”. Disciplinam os arts. 221
da LSA (Lei das Sociedades Anônimas) e 1.114 do CC (Código
Civil) que, no caso de não haver, no contrato social ou nos
estatutos socias, nenhuma precisão no sentido de autorizar a
transformação da sociedade, esta somente poderá ocorrer com o
consentimento unânime dos sócios.
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Muito embora a transformação implique no perecimento da
pessoa jurídica primitiva e no surgimento de uma nova
personalidade jurídica, estatuem os arts 222 da LSA e 1.115 do
CC, que os direitos referentes a terceiros, tais como credores em
geral e acionistas (sócios), permanecem inalterados. Se, por
ventura, uma sociedade em nome coletivo, cuja responsabilidade
dos sócios é ilimitada, se transforma em uma sociedade Ltda.,
perante os negócios firmados sob a regência da personalidade
jurídica anterior, a pessoa jurídica sucessora terá que honrar os
compromissos tal qual sua antecessora. Assim, a transformação
não poderá ser utilizada, de forma alguma, para atos de má-fé,
44
Apud. ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais. São Paulo. Ed. Saraiva. 13ª.
Ed. p. 66. 2003.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 65

intencionando-se, com o desaparecimento de uma pessoa


jurídica pré-insolvente, também o desaparecimento de suas
obrigações, como já mencionado, uma será sucessora da outra
em direitos e obrigações.
APONTAMENTOS:..........................................................................
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7.3.2 Incorporação
Segundo o art. 227 da LSA, que veio a ser ratificado pelo art.
1.116 do CC, a incorporação “é a operação pela qual uma ou
mais sociedades são absorvidas por outras, que lhes sucede em
todos os direitos e obrigações”. Assim sendo, como a
incorporação, desaparecem as pessoas jurídicas das sociedades
empresárias incorporadas persistindo a personalidade da
sociedade incorporadora. Porém, tal qual acontece com a
transformação, existirá a figura da sucessão, determinando que a
sociedade que absorver outra ou outras por incorporação, destas
herdará tanto seus créditos quanto suas obrigações.
APONTAMENTOS:..........................................................................
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A incorporação poderá ocorrer entre tipos societários iguais ou
diferentes, ou seja, poderá uma S/A vir a incorporar, por exemplo,
outra S/A, como poderá também incorporar uma Ltda. A
característica preponderante em uma incorporação é a
permanência de uma das pessoas jurídicas envolvidas, a qual
prevalece sobre as demais. Desta forma, enquanto que a pessoa
jurídica da incorporadora persiste, as das incorporadas perecem.
Porém, como já visto, a incorporadora assume todos os direitos e,
é claro, as obrigações inerentes às incorporadas, tal qual foram
contraídas. Sendo assim, as responsabilidades dos sócios pelas
obrigações sociais assumidas sob o manto da sociedade primitiva

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 66

deverão ser assumidas conforme a natureza jurídica que


apresentavam, ou seja, limitada ou ilimitada, e não segundo a
constituição legal da incorporadora.
APONTAMENTOS:..........................................................................
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Amador Paes de Almeida45, analisando a incorporação sob o
enfoque econômico, discorre que esta é um fenômeno do
capitalismo moderno, traduzindo-se em “um processo gradativo e
inexorável de absorção de pequenas e médias empresas por
grupos econômicos ou multinacionais”. Assim sendo, a
incorporação pode ser a conseqüência de um desequilíbrio de
mercado onde existisse a concentração de capital nas mãos de
poucas empresas as quais adotariam práticas de absorver seus
pequenos concorrentes. Assim, se a consequência deste ato
resultar na dominação de mercado, eliminação da concorrência
ou, ainda, o aumento arbitrário dos lucros, será reprimido pela
Lei46, conforme determina o § 4º do art. 173 da CRFB.
APONTAMENTOS:..........................................................................
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7.3.3 Fusão
A fusão em muito se assemelha à incorporação, pois em ambas
as situações existem a união de pessoas jurídicas e a reunião do
patrimônio das sociedades envolvidas, ativo e passivo. Porém,
por mais que se assemelhem, a distinção é bastante clara.
Enquanto que na incorporação existe o perecimento de uma ou
mais pessoas jurídicas, as incorporadas, e a permanência de
outra, a incorporadora, a qual absorveu as demais, na fusão
existirá a extinção de todas as pessoas jurídicas envolvidas para
o nascimento de uma nova, a qual deverá herdar os direitos e
45
ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais. São Paulo. Ed. Saraiva. 13ª. Ed. p.
68. 2003.
46
Lei 8.884/94 (Lei Antitruste e de Infrações à Ordem Econômica).

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obrigações inerentes às sociedades que pereceram. Pode-se


dizer ainda que, enquanto na incorporação existe a
preponderância de uma sociedade sobre as demais, a
incorporadora sobre as incorporadas, na fusão existirá a
equivalência entre as pessoas jurídicas envolvidas. Segundo
estatuem tanto o art. 228 da LSA quanto o art. 1.119 do CC, a
fusão é a operação pela qual duas ou mais sociedades se unem
para formar uma nova que lhes sucederá em todos os seus
direitos e obrigações, ou seja, duas ou mais pessoas jurídicas
desaparecem para o surgimento de uma nova personalidade
jurídica, a qual herdará seus direitos e obrigações.
APONTAMENTOS:..........................................................................
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7.3.4 Cisão
A cisão, que está prevista no art. 229 da LSA, vem a ser,
segundo leciona Amador Paes de Almeida, “o processo através
do qual o patrimônio de uma sociedade é dividido em duas ou
mais partes, para a constituição de nova ou novas companhias ou
para integrar o patrimônio de sociedade já existente”.
APONTAMENTOS:..........................................................................
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Por este entendimento, cisão é a divisão, a separação que
representa o modo pelo qual a pessoa jurídica de uma sociedade
se divide, transferindo-se o seu patrimônio à sociedades já
existentes ou vindo a constituir-se em uma nova ou novas
sociedades.
APONTAMENTOS:..........................................................................
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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 2 68

Existem duas espécies de cisão: a total e a parcial. Existirá cisão


total quando houver a transferência de todo o patrimônio da
sociedade cindida, hipótese em que a mesma desaparecerá,
extinguindo-se sua personalidade jurídica. Na ocorrência de cisão
parcial, a personalidade jurídica da sociedade cindida persistirá,
pois apenas parte de seu patrimônio será transferido a outra ou
outras sociedades.
APONTAMENTOS:..........................................................................
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Logicamente, tal qual acontece com as situações de
transformação, incorporação e de fusão, também na ocorrência
de cisão o direito de terceiros estará garantido. Conforme
argumenta Amador Paes de Almeida47, tratando-se de “cisão
total, com a conseqüente extinção da sociedade cindida, as
sociedade que absorverem parcelas do seu patrimônio
responderão solidariamente pelas obrigações da companhia
extinta. Em se tratando de cisão parcial, hipótese em que a
sociedade cindida subsiste, tanto esta quanto as que absorverem
parte de seu patrimônio responderão solidariamente pelas
obrigações da primeira, anteriores à cisão.”
APONTAMENTOS:..........................................................................
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47
ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais. São Paulo. Ed. Saraiva. 13ª. Ed. p.
75. 2003.

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