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VITÓRIA
2006
ANTONIO CARLOS GARCIA JUNIOR
VITÓRIA
2006
Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP)
(Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)
COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________________
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________________________________________
Primeiro, agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Luiz Henrique Borges, que sempre
acreditou em minha capacidade e, com enorme consideração e amizade contribuiu
imensamente para a realização deste trabalho.
Sou muito grato também à diretora Vilma Aparecida do Carmo do Sindicato dos
Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário – SINTVEST, cuja atenção e empenho
foram fundamentais para que o trabalho de campo fosse realizado no tempo
programado e a todos os demais componentes do sindicato.
The objective was to study about the health and working conditions of the formal and
legally employed workers from the garment industries in Colatina, Espírito Santo
State, that do make and assemble the clothes completely in their productive process.
Two methods were used: first a descriptive study with the work loads qualitative
definition within the production process of such industries; and second, an
observational study with a cross section profiling, raised with home collected
questionnaires applied to a random sample composed of 432 workers.
The profile was obtained through social and economic information, working
conditions information, health complaints filled on the 15 days previous to questions
application, minor mental disorders suspicions – MMD (evaluated through the Self
Reporting Questionnaire – SRQ-20) and the repetitive efforts injuries suspicions –
RSI (through a tracking questionnaire).
The results pointed out that the working conditions do harm the workers health with
fragmented tasks done in excessive rhythms, under stiff controls, with repetitive
moves and scarce valorization of the workers intellectual conditions.
The workers are mostly of the feminine gender (66, 35%), young with a 31 years age
average. The prevailing health complaints were 24,9%, distributed in muscolosketal
problems (14, 0%), specially the back problems with major occurrences followed by
cardiac and vascular problems (9,2%) and also problems on the superior breathing
tract (6,4%). MMD prevailing suspicion was 24,9% and of RSI 16,3%. The
dressmaker function was highlighted due to the major prevalence of referred
complaints (p=0,0142), MMD suspicion (p<0,0001) and of RSI (p=0,0075).
Logistic regression was used for odds ratio estimation among dressmakers and the
other functions in relation to the variables with MMD and RSI suspicion, finding
OR=1,65 (IC95% 1,06-2,57) for RSI and OR=2,43 (IC95% 1,67-3,53) for MMD.
1 INTRODUÇÃO...................................................................................... 15
1.1 OBJETIVOS........................................................................................... 18
1.1.1 Objetivo Geral...................................................................................... 18
1.1.2 Objetivos Específicos......................................................................... 18
2 MARCO TEÓRICO................................................................................ 19
2.1 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO-CONCEITUAL DO ESTUDO
DAS RELAÇÕES ENTRE SAÚDE E TRABALHO................................ 20
2.2 O CARÁTER CENTRAL DO TRABALHO NA MEDIAÇÃO ENTRE
CORPO-MENTE-PSIQUISMO, CULTURA E SOCIEDADE.................. 27
2.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E SAÚDE DO TRABALHADOR...... 29
2.4 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO COM A SAÚDE:
RISCOS, CARGAS DE TRABAHO E DESGASTE............................... 32
3 METODOLOGIA.................................................................................... 42
3.1 A INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO EM COLATINA.................................. 43
3.2 ESTUDO DAS CARGAS DE TRABALHO NAS INDÚSTRIAS DO
VESTUÁRIO DE COLATINA................................................................. 46
3.3 LEVANTAMENTO DE CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE DOS
TRABALHADORES DA INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO EM
COLATINA – ES....................................................................................
48
3.3.1 Sujeitos da Pesquisa e Amostra........................................................ 48
3.3.2 Instrumento de Pesquisa.................................................................... 51
3.3.3 Procedimentos de Campo.................................................................. 52
3.3.4 Análise dos Dados............................................................................... 53
4 O PROCESSO DE PRODUÇÃO E TRABALHO DA INDÚSTRIA DO
VESTUÁRIO DE COLATINA................................................................ 55
4.1 AS CARGAS DE TRABALHO NOS SETORES DA INDÚSTRIA DO
VESTUÁRIO DE COLATINA ................................................................ 58
4.1.1 Setor de Criação e Modelagem.......................................................... 59
4.1.2 Setor de Almoxarifado de Tecidos e Aviamentos............................ 60
4.1.3 Setor de Enfesto e Corte..................................................................... 62
4.1.4 Setor de Costura................................................................................. 63
4.1.4.1 Setor de costura e o trabalho em célula de produção........................... 67
4.1.5 Setor de Acabamento.......................................................................... 70
4.1.6 Setor de Lavanderia............................................................................ 72
4.1.7 Setor de Passadoria............................................................................ 73
4.1.8 Setor de Artesanato............................................................................. 75
4.1.9 Setor de Embalagem e Expedição..................................................... 77
4.2 DISTRIBUIÇAO DAS FUNÇÕES POR SETOR DE TRABALHO.......... 78
4.3 INTERAÇÕES ENTRE AS CARGAS DE TRABALHO E DESGASTE
DOS TRABALHADORES...................................................................... 80
5 ASPECTOS SOCIO-ECONÔMICOS DOS TRABALHADORES NA
INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO DE COLATINA..................................... 82
6 PERFIL DE DESGASTE À SAÚDE DOS TRABALHADORES DA
INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO DE COLATINA..................................... 86
6.1 PREVALÊNCIA DE QUEIXAS DE SAÚDE OU MORBIDADE
REFERIDA............................................................................................. 86
6.2 ABSENTEÍSMO E AVALIAÇÃO DE SAÚDE......................................... 89
6.3 ATENDIMENTO MÉDICO E DOENÇA DO TRABALHO....................... 91
6.4 INDICADORES DE SOFRIMENTO PSÍQUICO E LER......................... 92
6.5 USO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS, FUMO E MEDICAMENTOS
CALMANTES......................................................................................... 95
7 PERCEPÇAO DOS TRABALHADORES SOBRE A RELAÇÃO
SAÚDE TRABALHO............................................................................. 97
7.1 FONTES DE TENSÃO E CANSAÇO NO TRABALHO......................... 100
7.2 SENSAÇÃO AO SAIR DO TRABALHO NO FINAL DA JORNADA DE
TRABALHO........................................................................................... 101
7.3 ASPECTOS AGRADAVEIS E DESAGRADAVEIS NO TRABALHO..... 102
8 CONCLUSÕES..................................................................................... 105
9 REFERÊNCIAS..................................................................................... 110
10 ANEXOS................................................................................................ 115
ANEXO A - CARTA DE APRESENTAÇÃO......................................................... 116
ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO DO ENTREVISTADO................... 117
ANEXO C - QUESTIONÁRIO.............................................................................. 118
ANEXO D - FORMULÀRIO DE ESTUDO DE CARGAS DE TRABALHO........... 126
ANEXO E - CARTA DE APROVAÇÃO PELO COMITÊ DE ÉTICA..................... 129
1 INTRODUÇÃO
1
Fundacentro – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho, órgão
federal do Ministério do Trabalho e Emprego cuja missão é desenvolver pesquisas e estudos sobre
segurança e saúde no trabalho, divulgar os resultados e capacitar profissionais para atuar no campo
da saúde do trabalhador.
padrão de mal-estar e adoecimento entre os trabalhadores ou a estrutura
epidemiológica resultante da interação de fatores do meio ambiente físico e social do
trabalho com o homem.
Esta cadeia produtiva se organiza de forma a que a empresa líder faz a concepção,
testa os novos modelos e realiza o corte, repassando para as empresas de facção
ou oficinas, situadas no segundo nível, apenas o trabalho mecânico da montagem
das peças. Em um terceiro nível está o trabalho a domicílio, onde o pagamento é
realizado por peças e determina uma dependência enorme das costureiras para com
as empresas de facção, que pagam valores extremamente baixos por cada peça
montada.
O trabalho, em si, é caracterizado pela alta produção por cotas a serem atingidas a
cada turno de trabalho, fragmentado e realizado com ritmo acelerado, exigindo
precisão na execução e qualidade no resultado final. O processo de trabalho desta
forma pode ser determinante para o aparecimento de um padrão de saúde que pode
ser compreendido e sobre ele se criar intervenções que promovam melhores
condições de vida para este grupo social.
Entre as doenças decorrentes do trabalho tem sido indicado por alguns autores
(BORGES, 2000) o aumento da prevalência dos distúrbios mentais e
psicossomáticos, bem como das lesões por esforços repetitivos (LER) em
populações de trabalhadores, em atividade de trabalho em processos repetitivos e
com grande demanda de produção.
2
Trabalho a domicilio: Em português, segundo a norma culta, é trabalho em domicílio, mas seguindo
a recomendação da Organização Internacional do Trabalho – OIT, a sociologia do trabalho no Brasil,
adotou o temo Trabalho a domicilio como uma categoria que designa o trabalho sub-contratado
exercido na residência do trabalhador (LEITE, 2004).
Assim, interessa estudar: Como o processo de trabalho na indústria de confecções
de Colatina, desenvolvido em pequenas e médias empresas, se relaciona com o
processo saúde-doença de seus trabalhadores?
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Geral:
1.1.2 Específicos:
Por outro lado, “o sofrimento dos trabalhadores nem sempre é visível ou objetivo
como insistem algumas abordagens. O efeito do trabalho sobre a saúde é muitas
vezes silencioso e não apreendido pelo saber estritamente médico” (DEJOURS,
1986).
Para Laurell (1983, p.136), o processo saúde-doença é o modo específico pelo qual
ocorre nos grupos humanos o processo biológico de desgaste e reprodução. Este
processo é o seguimento ou evolução de uma luta do organismo por manter a vida e
o bem estar, que pode ser esperado não apenas no caso clínico individual, mas que
se evidencia no conjunto das pessoas ou na população que compartilha as mesmas
condições de vida.
A população que habita uma determinada região, de forma geral, tem um perfil de
adoecimento3 que pode ser compreendido em função de fatores como: faixa etária,
hábitos de vida, condições sociais que envolvem o padrão alimentar, condições de
moradia, emprego, renda, violência urbana, condições de trabalho, etc.
Este perfil, como parte das condições de saúde de uma população, varia ao longo
da história da sociedade; como também, os estratos sociais de uma mesma
sociedade apresentarão diferentes condições de saúde, conseqüentemente,
diferentes perfis. Segundo Laurell e Noriega (1989, p.135), verifica-se a natureza
social e histórica do processo saúde-doença ao se analisarem os dados de morbi-
mortalidade de uma população, em uma determinada época, tanto pelo estrato
social como por sua ocupação profissional.
3
Perfil de adoecimento ou morbidade: constitui-se pelo conjunto das patologias mais prevalentes e
incidentes que determinado grupo humano apresenta em um dado momento da história (LAURELL,
1983).
caracteriza o paradigma médico-biológico, no qual a doença é o ponto focal e a
razão de ser do sistema de saúde, sendo limitado à realização do diagnóstico e ao
tratamento. Portanto, não interferindo, na maioria dos casos, no processo saúde-
doença, nas causas do processo, mas somente nos efeitos finais, os sintomas.
Para a epidemiologia, as doenças não ocorrem por acaso, são eventos entrelaçados
com outros eventos que as precedem, podendo ser identificados, estudados e sobre
eles se criarem intervenções que poderão controlar o processo saúde-doença
(MEDRONHO, 2004, p.8).
No Brasil, a Carta Constitucional de 1988 teve forte influência dos grupos da área da
saúde que participavam da discussão e construção de novos conceitos sobre a
saúde.
Posteriormente, esta competência foi regulamentada pela Lei 8.080 de 1990 que
dispôs sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. No artigo 5º,
parágrafo 3º, desta importante lei, a Saúde do Trabalhador ficou definida como:
A Saúde do Trabalhador é hoje uma importante área da Saúde Pública que tem
como objetivo o estudo, a promoção e a proteção à saúde dos trabalhadores. A
saúde dos trabalhadores só é compreendida quando são considerados todos os
aspectos que condicionam as vidas destas pessoas, sejam sociais, tecnológicos,
organizacionais e os fatores de riscos ocupacionais presentes no processo de
produção.
Esta relação do homem com o trabalho e seu grupo social foi o motor do
aperfeiçoamento e especialização que lentamente moldou o corpo e a arquitetura
cerebral de nossa espécie. A raça humana deu um significativo avanço em sua
evolução, quando “o Australopithecus: embora de forma rudimentar e vaga, parece
ter sido capaz de exercer alguma forma de previsão, resistindo à tentação de partir a
comida e comê-la onde estavam” (ROBERTS, 2001, p. 26). Neste momento, teve
início a pré-história: o homem conseguia refrear seus impulsos naturais imediatos a
fim de garantir o suprimento futuro. Esta foi a primeira forma rudimentar de
planejamento.
Nos 2 milhões de anos seguintes não parou mais de evoluir, até chegar ao início de
nossa civilização, demarcada, segundo os historiadores, pelo desenvolvimento da
linguagem. No entanto, a história só começa a ser contada, com a invenção da
escrita, há cerca de 5.500 anos, através de pedras ou blocos de argila encontrados
na Mesopotâmia.
O fato é que a forma como nossa mente vê o mundo não surgiu de repente, como
um flash de luz, quando em nossa primeira infância nos demos conta de que
estávamos no mundo. A espécie humana desenvolveu sua consciência do mundo
de forma vagarosa, laboriosamente, em um processo que durou um tempo
infindável, até alcançar o estágio civilizado (JUNG, 1980, p. 23).
Hosfstede (1980, apud TAMAYO, 2004, p. 19), define cultura como a “programação
coletiva da mente que diferencia os membros de um grupo humano de outros”.
Em função disso, dessa relação central na vida das pessoas, o trabalho influi sobre a
vida e morte dos seres humanos (BERLINGUER, 1983 apud FACCHINI, 1993, p.46).
4
Trabalho vivo, segundo Marx, apodera-se das coisas da natureza para transformá-las de valores de uso
possíveis em valores de uso reais e efetivos (MARX, 2003, p. 217)
em componentes simples a fim de aumentar a produção e diminuir o custo dos
salários.
A gerência significa, de fato, o controle das formas de trabalhar, ainda incluíndo todo
o processo produtivo, o que fazer e o como fazer, a da apropriação mais adequada
do trabalho alienado – isto é, a força de trabalho comprada e vendida
(BRAVERMAN, 1987, p. 86).
Inicialmente, no inicio dos anos 70, as causas dos acidentes e doenças foram
definidas pela Engenharia de Segurança do Trabalho, através de conceitos que
sobrevivem até hoje na NR-1 – Disposições gerais. São elas: a) “condições
inseguras”, representadas por falhas em equipamentos, ferramentas defeituosas,
arranjo físico deficiente, treinamentos inadequados ou inexistentes e a presença de
agentes químicos, físicos ou biológicos no ambiente de trabalho5, com o potencial de
provocar lesões ou enfermidades; b) “atos inseguros”, cometidos pelos
trabalhadores ao burlarem as normas de segurança (TRIVELATO, 1998).
5
Ambiente de Trabalho é definido, de acordo com Oddone (1986), como o conjunto de todas as
condições de vida no local de Trabalho, abrangendo: características do local: dimensões,
iluminamento, aeração, rumoriosidade, presença de poeira, gases ou vapores, fumaça, etc, além de
elementos da atividade (tipo de trabalho, posição do operário, ritmo, ocupação do tempo, horário de
trabalho, turnos, alienação, valorização intelectual e profissional).
A área da saúde, através da epidemiologia, introduziu o conceito de risco, agora sob
a teoria do modelo multicausal, defendendo a necessidade da presença simultânea
de vários fatores de risco para que se possa explicar a produção do adoecimento de
uma determinada população. Segundo Trivellato (1988), o risco representa a
possibilidade de um efeito adverso ou dano ou a incerteza da ocorrência,
distribuição no tempo ou magnitude de resultado adverso.
Por esta norma, os fatores de risco são classificados em: Riscos Ambientais (físicos,
químicos e biológicos), Riscos de Acidentes e Riscos Ergonômicos. Sua definição
pode ser mais bem compreendida de acordo com a exposição abaixo:
Riscos físicos: São as diversas formas de energia a que possam estar expostos os
trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas
extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, bem como o infra-som e o
ultra-som.
O mapa de riscos foi trazido para nossa legislação a partir da experiência dos
sindicatos italianos, chamado de Modelo Operário Italiano, que foi formulado por
trabalhadores e profissionais em Turim, nos anos 60. Este modelo foi o sustentáculo
da luta dos trabalhadores por melhores condições de saúde e tem 4 conceitos
principais: o grupo homogêneo, a valorização da experiência ou subjetividade
operária, a não-delegação e a validação consensual.
1º Grupo: São os fatores que existem na natureza e que são alterados no ambiente
de trabalho, como: luz, ruído, vibração, temperatura, ventilação, umidade e
radiações;
2º Grupo: São constituídos por fatores que surgem pelo consumo das matérias
primas no processo de produção, como: poeiras, gases, névoas, vapores e fumaças;
A experiência brasileira com os mapas de riscos não foi positiva. Hoje, perdeu sua
importância devido ao desvirtuamento de sua confecção e utilização pelos
trabalhadores como forma de gestão do meio ambiente de trabalho. Todavia, seus
conceitos principais continuam sendo utilizados na confecção dos Programas de
Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e nos estudos dos ambientes de trabalho.
b) Cargas químicas: poeira, fumaças, fibras, vapores, líquidos, fumos metálicos, etc.
Resumindo este conceito ou categoria de análise, Facchini (1993, p.39) define estas
cargas de trabalho como as demandas ou exigências psicobiológicas do processo
de trabalho, gerando ao longo do tempo as particularidades de desgaste do
trabalhador.
A associação do desgaste com a reprodução determina a constituição de formas
históricas biopsíquicas que são características e que determinarão o aparecimento
de uma série de enfermidades particulares, denominada por Laurell (1989) como o
perfil patológico de um grupo social.
Nesta análise, Facchini, aponta que não há uma hierarquia entre as diferentes
cargas, mas sim, entre os elementos do processo de trabalho, sendo que são a
organização e a divisão do trabalho no interior das empresas que ocupam a
hierarquia superior em termos de controle e consumo da força de trabalho (FACHINI,
in BUSCHINELLI, 1993, p. 182)
Como as cargas de trabalho interagem de forma bastante complexa para cada ramo
produtivo e para cada processo de trabalho, é possível identificar um perfil de cargas
de trabalho que conformam um determinado padrão de desgaste operário
(FACCHINI, in BUSCHINELLI, 1993, p. 180).
Apesar destas críticas, o modelo da determinação social trouxe algo de novo que é
enxergar além das cargas de trabalho e não somente por elas, o trabalhador
exposto e sua vida em um mundo social que está sempre reforçando sua condição
de ser produtivo.
A detecção precoce dos sinais que possam caracterizar ou indicar a instalação das
patologias é importante para a avaliação da eficácia dos controles dos agentes
agressivos implantados pelas empresas e se os limites de tolerância adotados são
compatíveis com a variabilidade das suscetibilidades dos trabalhadores.
Através da identificação das queixas de saúde, dos agentes de risco a que são
expostos, da associação entre eles e das demandas da atividade exercida pelo
conjunto de operários que atuam em um determinado setor produtivo, pode-se
determinar o perfil de saúde dessa população de trabalhadores, podendo-se
inclusive consultar os prontuários médicos das Unidades Básicas de Saúde.
O perfil destas empresas, por faixa de pessoal ocupado total, demonstra uma grande
concentração nas empresas com até 4 empregados, fato que ocorre no setor devido
a terceirização e para que estas empresas não percam os incentivos fiscais, veja
Tabela 1.
TABELA 1: NÚMERO DE EMPRESAS DO SETOR DO VESTUÁRIO, POR FAIXAS DE
PESSOAL EMPREGADO, NO BRASIL E NO ESPÍRITO SANTO, 2004.
Fonte: IBGE/2005.
O estudo das cargas de trabalho não é um levantamento exaustivo para cada função
existente no processo produtivo da indústria do vestuário, mas um levantamento
qualitativo preliminar, cujo objetivo foi identificar a presença de fatores de riscos que
podem representar fontes de desgaste dos operários e contribuir para a formação do
perfil de adoecimento.
Salienta-se que esta amostra de empresas não teve finalidade estatística, já que o
objetivo era trabalhar com segmentos da cadeia produtiva que expressassem os
diferentes tipos de atividades exercidas pelos trabalhadores, privilegiando os
aspectos qualitativos da realidade.
6
Prevalência é definida como a freqüência de casos existentes de uma determinada doença
(morbidade), em uma determinada população e em um dado momento (COSTA&KALE, 2004, p. 26)
SINTVEST, que estão em dia com suas contribuições, confirmadas pela contribuição
mensal em agosto de 2005.
Fixando-se uma taxa de recusa possível de 10%, a amostra final foi de 432 pessoas.
A amostra foi pelo processo de amostragem sistemática (CASTELLOE&O’BRIEN,
2001, p. 149-155), a partir da listagem por ordem alfabética da população total de
1727 pessoas, onde:
Este instrumento foi validado por Mari e Willians em um estudo com a população que
procurava serviços de atenção primária à saúde, na cidade de São Paulo. Foi
avaliado como um bom indicador de morbidade, com sensibilidade de 83% e
especificidade de 80%, estabelecendo como ponto de corte 7/8, de maneira que 8
ou mais respostas positivas caracterizam a suspeita de DMM.
Como em toda pesquisa deste tipo, as dificuldades para sua realização foram
inúmeras, já que os endereços cadastrados pelo sindicato e pelas empresas são de
uma data cerca de um ano anterior ao período da pesquisa, ocorrendo vários casos
em que o trabalhador havia mudado de residência. Mas o mais comum era o
entrevistado não estar em sua residência na hora da visita, sendo necessário o
retorno ao local com hora marcada. As mudanças de endereço eram resolvidas
através de informações colhidas com antigos vizinhos ou através do SINTVEST, que
o conseguia nas empresas em que os trabalhadores estavam empregados. Quando
o trabalhador não era encontrado de forma alguma, ou havia abandonado o trabalho
há mais de 15 dias, o mesmo era substituído pelo trabalhador seguinte da listagem
por ordem alfabética.
De forma geral, os entrevistadores foram bem recebidos, já que foi usada uma
estratégia de divulgação do trabalho através do envio de uma carta (Anexo A)
quinze dias antes do início do trabalho de campo, para todos os trabalhadores
sorteados, contendo explicações sobre o objetivo da pesquisa e de sua importância
para o conhecimento das condições de saúde dos trabalhadores da indústria do
vestuário. Das 432 entrevistas previstas foram realizadas 422, com apenas 10
recusas (2,3%).
A análise das relações entre fatores de risco e morbidade referida foi realizada,
tendo por base os conceitos de carga de trabalho e desgaste.
As fábricas podem ter domínio total de todo o ciclo de produção ou realizar somente
parte dele, vendendo serviços para uma outra indústria maior, ou realizar parte de
sua produção com a terceirização, inclusive com a utilização do trabalho informal de
trabalhadores que atuam em suas residências. Essas são denominadas “indústrias
de facção”, que constituem a maioria das empresas do ramo do vestuário. Há em
Colatina também grande número de empresas que só se dedicam a uma fase do
processo de fabricação das roupas, como as lavanderias.
As empresas líderes estão instaladas em prédios modernos e seu layout é mais bem
estruturado, enquanto que a maioria das empresas de facção ou oficinas de costura
está instalada em locais improvisados, algumas em cômodos nas casas de seus
proprietários que aproveitaram um quintal ou a laje da casa para instalar algumas
máquinas e iniciar um negócio de prestação de serviços; a mão-de-obra é
basicamente formada por familiares ou de alguns poucos empregados.
As empresas líderes, por terem mais capital, têm equipamentos modernos e sempre
investem em tecnologia, enquanto as demais, em muitos casos, de equipamentos já
descartados pelas empresas maiores.
Quanto aos agentes ambientais, as empresas não fazem o controle dos agentes
(físicos e químicos), optando em fornecer aos trabalhadores o EPI, como por
exemplo, protetores auriculares de inserção e máscaras para poeiras, apesar de não
estimularem o seu uso pelos trabalhadores.
Foi verificado que o tipo de produto fabricado define também o perfil do processo de
produção através de sua qualidade, pois quanto menor a qualidade das roupas
produzidas maior é a quantidade produzida, por ser destinada aos grupos sociais
mais pobres, cujo mercado consumidor é menos exigente e necessita que o produto
seja mais barato.
ADMINISTRAÇÃO COMPRAS
ENFESTO E CORTE
ALMOXARIFADO
CRIAÇÃO E
COSTURA MODELAGEM
ARTESANATO LAVANDERIA
ACABAMENTO E
ETIQUETAGEM
PASSADORIA
EMBALAGEM E
EXPEDIÇÃO
O setor de criação de moda é onde são elaborados os modelos das roupas que
entrarão no processo de produção; é o setor da concepção. A ferramenta de
trabalho é o computador, onde o profissional principal é o estilista que desenha os
modelos das roupas de acordo com a tendência do mercado consumidor. O estilista,
portanto, é quem cria os modelos que irão ser fabricados, precisa estar informado
das tendências da moda no mercado e ao mesmo tempo ser capaz de propor novas
idéias. O trabalho do estilista exige mais demanda mental do que a fisiológica, pois,
mesmo que o serviço possa ser feito por longo tempo em posição fixa, o trabalhador
tem liberdade para parar o serviço, ficar em pé, descansar, ir ao banheiro ou tomar
decisões. As cargas de trabalho encontradas para estes profissionais podem ser
observadas no quadro 1:
São vários os tipos de máquinas utilizadas neste setor: máquina de costura reta,
máquina de costura overloque, máquina de costura galoneira, máquina de casear,
máquina para pregar presilha, entre outras.
Neste setor, há grande número de ajudantes e abastecedores que irão servir a cada
célula, abastecendo com o produto que vem do setor de corte ou de outras células
anteriores ao processo; servindo também água aos trabalhadores que, dificilmente,
podem se ausentar de seus postos para suprir suas necessidades fisiológicas,
inclusive de ir ao banheiro.
O nível de produção é alto e, para ser atingido, deve ser realizado com a repetição
de movimentos até a exaustão, exigindo, além disso, atenção no movimento, fixação
da visão e precisão a fim de garantir a qualidade. Para produzir além da meta
prevista e poder ganhar o adicional de produção para sua equipe, o trabalhador evita
sair da linha de produção até para beber água ou ir ao banheiro.
Outros profissionais que trabalham no setor, são: o passador que passa as dobras
do bolso de trás das calças, os ajudantes e abastecedores que ficam na linha de
produção transferindo as peças acabadas de uma célula para outra, os revisores
que inspecionam as peças prontas, assim como o trabalhador que é responsável em
desvirar as calças já terminadas para ser transferida para o setor de acabamento.
Trabalham permanentemente na posição ortostática (em pé), já que os postos de
trabalho geralmente não dispõem de bancos.
Ilhas
Traseiro (Célula 2)
Cada trabalhador que faz parte de uma célula recebe certa quantidade de matéria
prima, previamente cortada, e tem que dar conta de manter a produção, que é
controlada, de hora-em-hora, pelo encarregado. A produção de cada hora é anotada
em um quadro que fica visível para todos, a fim de informar se o serviço está
atrasado ou se está produzindo de acordo com a programação, o quadro funciona
como uma forma de catalisador ou um aviso de que é preciso aumentar o esforço
para atingir a meta ou a cota diária.
As células são determinadas pelo tipo de serviço que é executado pelas máquinas
ali disponíveis, caracterizando, portanto, uma especialização do trabalhador, com
pouca possibilidade de mudança de tarefa. A mudança de célula só é possível se
houver domínio do trabalhador sobre as operações da outra máquina; daí, ser mais
fácil mudar de grupo de trabalho para operar a máquina que se está habituado.
Segundo o SINTVEST quando alguém falta ao trabalho, mas mesmo assim a célula
consegue a cota, o salário produção perdido pelo trabalhador faltoso não é
distribuído entre aqueles que trabalharam durante todo o período.
Como poderemos ver, esta forma da organização da produção é uma das principais
causas do processo saúde-doença destes trabalhadores.
4.1.5 Setor de acabamento
Como nos demais setores, encontramos também neste ambientes mal ventilados em
que o calor e o ruído dos equipamentos (em particular o das máquinas de pregar
botões) é uma constante fonte de desconforto e de tensão entre os trabalhadores.
Esta atividade é realizada pelo passador, que trabalha na posição ortostática (em
pé), com movimentos repetitivos, serviço pesado em jornadas longas e de grande
produção.
.
QUADRO 7: FUNÇÕES, ATIVIDADES E CARGAS DE TRABALHO NO SETOR DE
PASSADORIA NA INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO DE COLATINA-ES.
Outro setor que não existe em todas as empresas que produzem calças jeans é o de
artesanato, ou de envelhecimento, denominado de used (usado ou envelhecido).
Neste setor, os artesãos trabalham peça por peça, através do lixamento manual ou
de equipamentos elétricos utilizados no desgaste do tecido da calça, havendo ainda
o serviço de envelhecimento (used), com a pulverização e permanganato de
potássio..
Como este é um setor que agrega valor à mercadoria produzida, pela diferenciação
que ela dá, há grande investimento no desenvolvimento de novas técnicas e na
inserção de equipamentos modernos, devendo o trabalhador estar sempre se
adaptando a novas exigências.
QUADRO 8: FUNÇÕES, ATIVIDADES E CARGAS DE TRABALHO DO SETOR DE
ARTESANATO NA INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO DE COLATINA-ES.
Neste setor também como nos demais o problema ambiental mais encontrado é o
desconforto térmico, mas as cargas de trabalho mais importantes são: as fisiológicas
encontradas no esforço físico para a realização do trabalho de embalagem e do
enfardamento, assim como o de carregamento deste material para a estocagem e
carregamento de veículos. No setor de estocagem também pode haver a
necessidade de uso de escadas para acesso a prateleiras altas, havendo risco de
acidentes; e as cargas psíquicas relacionadas às responsabilidades relativas a
manter a contabilidade dos produtos sempre certa e pela execução de um serviço
monótono que pode não ter para o trabalhador um significado de realização
profissional, ou ser menos importante na cadeia produtiva.
Um dos objetivos deste estudo foi verificar qual era o perfil de adoecimento dos
trabalhadores da indústria do vestuário de Colatina, caracterizado pela prevalência
de queixas de saúde (morbidade referida) existente na população nos últimos 15
dias anteriores à entrevista. O perfil de adoecimento que se configura é uma
expressão do desgaste decorrente do processo de trabalho.
Queixas
SETORES FUNÇÕES
Freq Função. Freq. Setor %
Costura Costureira 63
Auxiliar de costura 2
Auxiliar de serviços gerais 4 74 70,5
Abastecedor 3
Encarregado de produção 2
Acabamento Revisor de arremate 2
Operador de máquina 1 4 3,8
Encarregado de produção 1
Passadoria Passador 5 5 4,7
Artesanato Artesão 4
5 4,7
Auxiliar de artesanato 1
Expedição Auxiliar de expedição 3
Encarregado de expedição 1 6 5,7
Embalador 1
Auxiliar de faturamento 1
Enfesto e Corte Cortador 1
3 2,8
Auxiliar de corte 2
Criação/ e Modelagem Desenhista 1
Estilista 1 3 2,8
Modelista 1
Lavanderia Lavador 2 2 1,9
Almoxarifado Almoxarife 1 1 1,0
Manutenção Mecânico 1 1 1,0
Caldeiras Operador de caldeira 1 1 1,0
TOTAL 105 105 100
A tabela 9 mostra o número de trabalhadores com queixas de saúde por tempo de
serviço, revelando que a prevalência destas queixas cresce com o tempo de
atividade no setor.
A prevalência maior se deu com trabalhadores com menos de 1 ano no serviço. Dos
8 casos com trabalhadores com menos de 1 ano de serviço, cinco foram devido a
problemas alérgicos e respiratórios. Uma hipótese que pode ser feita a este respeito
é de que as desgastantes condições como o trabalho é realizado acabam por
selecionar aqueles que continuarão neste setor produtivo. Segundo uma
encarregada de produção, após ter sido interrogada sobre o tempo de serviço médio
de cada trabalhador na empresa, informou que 5 anos é o tempo médio em que se
agüenta trabalhar.
A tabela 10 mostra que, das 105 pessoas com queixas de saúde, 36 relataram que
tiveram que se afastar do trabalho por um período que variou de pelo menos 0,5 dia
ou até mais de 360 dias, com média de 23,4 dias perdidos de trabalho por
trabalhador, sendo que, um caso, considerado como perda, motivou pedido de
demissão, alegando o trabalhador não suportar mais as condições de trabalho. A
tabela mostra a distribuição dos trabalhadores afastados, segundo o número de dias
de afastamento, sendo que 63% afastaram-se por um período que variou de 1 a 7
dias.
A pesquisa PNAD 1998 (IBGE, 2000, p. 20) encontrou um índice de satisfação para
a população geral brasileira de 79,1%, sendo de 81,8% para os homens e de 76,4%
para as mulheres.
Nota-se que o SUS foi responsável por cerca de 52,4% dos atendimentos através
das Unidades Básicas de Saúde e do Programa Saúde da Família.
decrescente:
1- Sente-se nervoso, tenso ou preocupado? 65,88%
2- Tem dificuldade de tomar decisões? 39,57%
3- Tem se sentido triste ultimamente? 37,44
4- Assusta-se com facilidade? 34,12%
5- Tem dificuldade de pensar com clareza? 32,94
6- Tem dores de cabeça freqüentes? 30,9%
7- Sente-se cansado o tempo todo? 28,20%
8- Tem sensações desagradáveis no estômago? 26,30%
9- Dorme mal? 25,83%
O uso do fumo foi relativamente baixo com 45 fumantes, 10,7%, mas a ingestão de
bebida alcoólica foi referida por 140 trabalhadores, ou 33,2%. Dos que disseram
consumir bebidas alcoólicas, somente 7 pessoas afirmaram que faziam o uso por
mais de dois dias por semana, conforme a tabela 14.
Em relação aos fatores de risco mais citados, estão as cargas fisiológicas com
55,3%, como: a posição fixa em que se realiza o trabalho, ritmos excessivos,
movimentos repetitivos, o mobiliário utilizado - em especial a cadeira de madeira
utilizada pelas costureiras - fixação da vista e ficar na mesma posição (sentado ou
em pé) por um tempo muito longo; seguem-se os agentes ambientais que
constituem as cargas químicas com 22,5% (poeira, substâncias químicas e tintas) e
as físicas com 16,8% (calor, umidade e ruído). Os demais grupos de cargas foram
bem pouco referidos, mas houve a percepção de 3,7% de cargas psíquicas como
conseqüência de fatores como a pressão pela produção, hierarquia rígida, controle
para ir ao banheiro e baixos salários. Foram citados também alguns riscos de
acidentes, como na máquina de corte, perfurações por agulhas, caldeira e
lavanderia.
Perguntados também se sentem valorizados pelo trabalho que fazem 247 (58,7%)
informaram que sim: 69 (16,4%) que às vezes e somente 105 (24,9%) que não. Esta
informação é importante, pois se sentir valorizado pelo trabalho que faz pode
significar um importante amortecedor que contribui para manter a saúde do
trabalhador ou sua capacidade de resistir ao processo de adoecimento como
veremos.
Como se pode observar pela tabela 16, a percepção dos trabalhadores sobre as
cargas de trabalho que podem ser fontes de doenças em sua atividade estão
associadas ao esforço do corpo em fazer as operações biomecânicas e o estresse
psíquico introduzidos pela organização no controle da produção e pela péssima
qualidade ambiental que aumentam o desconforto e as doenças.
TABELA 17: PRINCIPAIS CARGAS DE TRABALHO REFERIDAS PELOS
TRABALHADORES DA INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO DE COLATINA-ES,
2005.
Verifica-se que de uma forma geral os problemas de saúde referidos têm uma
relação de causa e efeito bastante lógica com as cargas de trabalho referidas, o que
demonstra que a percepção dos trabalhadores sobre a relação trabalho-saúde é
alta. O que demonstra que o trabalhador do setor do vestuário de Colatina – ES,
apesar de poucas oportunidades de discutir suas condições de saúde e trabalho tem
conseguido perceber de forma geral que há situações desgastantes em seu local de
trabalho.
7.1 FONTES DE TENSÃO E CANSAÇO NO TRABALHO
Freq. %
Bem (80); normal (28); tranqüilo (12); feliz/alegre/satisfeito (15);
animado/realizado/melhor (8). 143 33,9
Aliviado (53); livre como um pássaro (5); dever cumprido (2); às vezes
bem às vezes estressado (2); regular (1); uma benção (1). 65 15,4
Cansado (202); estressado (7); com dores (2), com dor nos olhos (2);
Nervosa (1); graças a Deus terminou (1). 214 50,7
Total 422 100
Verifica-se que cerca de metade dos trabalhadores referiu sentir-se cansaço ao final
da jornada de trabalho e somente 33,9% a de ter sensações que expressam bem
estar. São importantes também as expressões de alívio e de liberdade, concordando
com o que foi registrado anteriormente na hora do apito que sinaliza o final do dia de
trabalho.
As respostas dadas às perguntas abertas sobre as duas coisas que mais lhe
agradam e as que mais lhe desagradam no trabalho, foram muito variáveis, mas
notam-se as relações pessoais entre os colegas, patrões e encarregados como o
ponto que pode repercutir positivo ou negativamente na avaliação dos
trabalhadores.
A relação com os colegas foi o aspecto mais mencionado com 267, 40,1%, das
respostas encontradas, vindo a seguir o ambiente de trabalho, gostar de trabalhar e
do que faz, da profissão e de sentir-se útil com 211, 31,7%,
São indicados, também, alguns aspectos contraditórios do trabalho como uma coisa
que lhe agradam, como por exemplo, o fim do expediente, a hora do almoço e da
pausa para o café, o final do mês e o voltar para a casa com 30 indicações ou 4,5%
do total.
Como a relação interpessoal e grupal é um fator muito importante para este grupo de
trabalhadores, a grande maioria das respostas está ligada a sentimentos e crenças
relacionadas ao mundo social, tendo a fofoca, intrigas e outros aspectos do
relacionamento entre os que mais desagradam com 77 indicações (20,5%), seguido
pela pressão pela produção com 69 (18,4%) e a má remuneração com 40 citações
(10,6%), veja tabela 22.
Dos que apresentaram queixas de saúde e foram atendidos por médicos 6,9%
disseram que suas queixas de saúde foram relacionadas com as condições de
trabalho.
Os resultados do estudo indicam que são necessárias ações para intervir nas
causas do processo saúde-trabalho-doença, que existe no setor do vestuário de
Colatina, e em todos os locais onde a indústria esteja organizada desta forma. A
intervenção deve ser feita em vários níveis e pelos atores sociais que atuam neste
campo de trabalho, como os empresários do setor, os sindicatos de trabalhadores e
os órgãos públicos da área do trabalho e da saúde, em especial da saúde do
trabalhador.
A DRT deve aumentar a fiscalização por um lado para fazer cumprir as normas de
segurança existentes, mas procurando sempre proteger o trabalhador onde há
omissão nos textos legais. Por outro lado, a área da saúde, através do SUS, de sua
rede de atenção primária à saúde, no atendimento do Programa de Saúde da
Família – PSF e da Unidade Básica de Saúde – UBS, tem papel fundamental na
notificação de queixas de saúde que possam estar relacionados com o trabalho,
estas informações servirão de alerta aos órgãos de fiscalização e facilitarão sua
ação de investigação. Neste aspecto, a área da saúde, com a ação da Vigilância
Epidemiológica e Sanitária, pode dar uma grande contribuição.
A ação conjunta entre os órgãos públicos da área da saúde e do trabalho tem sido
tema de várias discussões e até de estudos acadêmicos (PINHEIRO, 1996), porém
a solução para o assunto ainda esta longe de ocorrer, mesmo após a realização do
3ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador em 2005.
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A – CARTA DE APRESENTAÇÃO
C – QUESTIONÁRIO
CARTA DE APRESENTAÇÃO
Prezado trabalhador:
Atenciosamente.
Nº__________
COLATINA, _____DE_____________2005.
ASSINATURA DO ENTREVISTADO______________________________________
QUESTIONÁRIO
Nº. _____________
2- FUNÇÃO/OCUPAÇÃO: ____________________________________________________________
3- IDADE: _____________ANOS.
5- GRUPO RACIAL
( ) BRANCA
( ) PARDA
( ) PRETA
( ) AMARELA
( ) OUTRO. QUAL?_______________________________________________________
6- ESTADO CIVIL
( ) SOLTEIRO
( ) CASADO OU VIVE MARITALMENTE COM ALGUEM
( ) VIUVO
( ) DIVORCIADO, DESQUITADO OU SEPARADO.
Nº DE PESSOAS: _______________
11- CONSIDERANDO O SALÁRIO MÍNIMO ATUAL DE R$ 300,00 SUA RENDA MENSAL LÍQUIDA
PROVENIENTE DO TRABALHO CORRESPONDE A QUANTOS SALÁRIOS MÍNIMOS?
_________________________SALÁRIOS MINIMOS
15- EM MÉDIA, QUANTAS HORAS DE TRABALHO SEMANAL VOCÊ FEZ NO ÚLTIMO MÊS
TRABALHADO?
Nº DE HORAS: ___________________SEMANAIS.
18- DURANTE A JORNADA DE TRABALHO, VOCÊ REALIZA OUTRAS PAUSAS QUE NÃO SEJAM
PARA ALIMENTAÇÃO?
( ) SIM
( ) ÀS VEZES
( ) NÃO
19- VOCÊ ACHA QUE A QUANTIDADE E DURAÇÃO DAS PAUSAS SÃO SUFICIENTES PARA
RECUPERAR O SEU CANSAÇO DURANTE A JORNADA DE TRABALHO?
( ) SIM
( ) NÃO
25- SE SIM:
QUAIS FORAM ESTES PROBLEMAS DE SAÚDE?
1)_______________________________________________________________________________
2)_______________________________________________________________________________
3)_______________________________________________________________________________
4)_______________________________________________________________________________
5)_______________________________________________________________________________
26- ALGUM DESTES PROBLEMAS DE SAÚDE FEZ QUE VOCÊ NECESSITASSE AFASTAR-SE
DO TRABALHO?
( ) SIM
( ) NÃO
28- O MÉDICO QUE TE ATENDEU RELACIONOU SEU SINTOMA COM SUAS CONDIÇOES DE
TRABALHO?
( ) SIM
( ) NÃO
29- VOCÊ ACHA QUE SEU TRABALHO PODE PREJUDICAR SUA SAÚDE?
( ) SIM
( ) NÃO (PASSE DIRETO PARA A PERGUNTA 33)
30- SE SIM:
O QUE NO SEU TRABALHO VOCÊ CONSIDERA QUE PODE PREJUDICAR A SAÚDE? (ESCREVA
AS TRÊS PRINCIPAIS CAUSAS)
1)_______________________________________________________________________________
2)_______________________________________________________________________________
3)_______________________________________________________________________________
31- QUAIS PROBLEMAS DE SAÚDE VOCÊ CONSIDERA QUE PODEM DECORRER DO SEU
TRABALHO? (ESCREVA OS 3 PRINCIPAIS PROBLEMAS DE SAÚDE).
1)_______________________________________________________________________________
2)_______________________________________________________________________________
3)_______________________________________________________________________________
VOU LER PARA O SENHOR (A) AS INSTRUÇÕES PARA AS PRÓXIMAS QUESTÕES (33 A 52).
ESTAS QUESTÕES SÃO RELACIONADAS COM CERTAS DORES E PROBLEMAS QUE PODEM
TÊ-LO (A) INCOMODADO (A) NOS ÚLTIMOS 30 DIAS. SE VOCÊ ACHA QUE A QUESTÃO SE
APLICA A VOCÊ E VOCÊ TEVE O PROBLEMA DESCRITO NOS ÚLTIMOS 30 DIAS, RESPONDA
SIM. POR OUTRO LADO, SE A QUESTÃO NÃO SE APLICAR A VOCÊ PORQUE VOCÊ NÃO TEVE
O PROBLEMA NOS ÚLTIMOS 30 DIAS, RESPONDA NÃO.
SE VOCÊ NÃO TIVER CERTEZA SOBRE COMO RESPONDER A ALGUMA QUESTÃO, DÊ A
MELHOR RESPOSTA QUE PUDER.
SE SIM:
62- COM QUE FREQUENCIA BEBE SEMANALMENTE?
( ) MENOS DE 1 VEZ POR SEMANA (QUINZENALMENTE OU MENSALMENTE)
( ) UMA OU DUAS VEZES POR SEMANA
( ) TRÊS OU QUATRO VEZES POR SEMANA
( ) CINCO OU SEIS VEZES POR SEMANA
( ) TODOS OS DIAS.
63- VOCÊ FAZ USO HABITUAL (OU USOU NOS ÚLTIMOS 6 MESES) DE MEDICAMENTOS
CALMANTES?
( ) SIM
( ) NÃO
QUAIS?___________________________________________________________________
HÁ QUANTO TEMPO?______________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
________________________________________________________________
EMPRESA: ________________________________________________________
ENDEREÇO: ________________________________________________________
SETOR: ____________________________________________________________
FUNÇÃO: __________________________________________________________
DESCRIÇÃO DA TAREFA:
Classificação Fonte Tempo de Exposição
1- Físicas
a) Ruído
b) Calor
c) Vibrações
d) Radiações
e) Umidade
Observações:
2- Químicos
a) Poeiras
b) Substâncias
c) Gases
d) Vapores
Observações:
3- Biológicos
a) Bactérias
c) vírus
d) Outros
Observações:
4- Fisiológicos
a) Mobiliário
b) Posições
c) Ritmos
d) Monotonia
e) L. Peso
f) Produção
g) Turnos
h) T. Noturno
Observações:
5- Psíquico
a) Hierarquia
b) Valorização
c) Cultura
Observações: