TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

Processo TC nº 02.921/09

RELATÓRIO
Trata o presente processo da Prestação de Contas Anual do Instituto de Previdência Social
de Santa Rita – IPEA, relativa ao exercício de 2008, sob a responsabilidade do Sr. Pedro Jorge
Coutinho Guerra.

Após examinar a documentação pertinente, a equipe técnica desta Corte de Contas elaborou o
relatório de fls. 636/49, ressaltando os seguintes aspectos:

- Criado pela Lei Municipal nº 766, de 12 de março de 1993, alterado pelas Leis nº 791/94;
1001/2001 e 1298/2007, o Instituto, com natureza jurídica de autarquia, tem como
objetivo assegurar aos seus associados e seus dependentes os benefícios de aposentadoria,
auxílio-doença, pensão por morte do segurado, salário-família e, ainda, auxílio-reclusão;

- As origens legais de recursos previstas são os descontos dos servidores municipais e a

contribuição do empregador;

- A Prestação de Contas foi enviada em 31.03.2009, dentro, portanto, do prazo previsto;

- O orçamento do Município (Lei nº 1303/2007) estimou a receita e fixou a despesa para o

IPEA em R$ 7.236.000,00. Houve abertura de Crédito Adicional Suplementar no
montante de R$ 271.903,97, cuja fonte foi a anulação de dotação. O valor da receita
arrecadado no exercício sob exame totalizou R$ 5.150.947,93, e a despesa efetuada somou
R$ 4.000.409,52.

- Os gastos com aposentadoria e pensões totalizaram R$ 2.999.733,23, representando

74,99% do total da despesa. As despesas administrativas somaram R$ 653.799,90, o
equivalente a 2,52% da folha de pessoal efetivo do Município, não atendendo desta forma
a legislação correlata.

- Em 2008, o IPEA mobilizou recursos da ordem de R$ 13.871.989,27, sendo 37,13%

provenientes de receitas orçamentárias, 3,53% de receita extra-orçamentária e 59,34%
provenientes do saldo do exercício anterior;

- Do valor dos recursos mobilizados, 28,84% foram aplicados em despesas orçamentárias,

4,01% em despesas extra-orçamentárias e 67,15% representa o saldo para o exercício
seguinte, qual seja: R$ 9.315.428,22;

- Houve despesas inscritas em restos a pagar no valor de R$ 6.555,56, exercício analisado;

- O Instituto não dispõe de quadro próprio de pessoal estabelecido por lei, estando as
funções de diretoria e atribuições preenchidas por prestadores de serviços e contratos
temporários. Existem 11 pessoas contratadas no Instituto, conforme quadro demonstrativo
às fls. 647 dos autos.

- Não consta registro de denúncias relativas ao exercício de 2008;

- As licitações foram realizadas de acordo com a legislação aplicada;

- Foi realizada diligência in loco no período de 12 a 16 de abril de 2010.

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Além desses aspectos, o Órgão de Instrução evidenciou na conclusão do Relatório inicial as

seguintes irregularidades:

I – de responsabilidade do Gestor do Instituto, à época, Sr. Pedro Jorge Coutinho Guerra:

a) Contabilização incorreta de receitas de contribuição de exercícios anteriores, classificadas

como receita de contribuição do exercício (item 3.8);
b) Ausência de recolhimento de parte das contribuições previdenciárias incidentes sobre os
valores pagos aos prestadores de serviços, assessoria e pessoal comissionado do Instituto,
descumprindo o Decreto nº 3048/99 (item 3.14);
c) Ausência de adoção de providências com vistas à implantação, por lei, de quadro próprio de
pessoal para o Instituto, possibilitando, desse modo, as contratações de servidores
comissionados, descumprindo o disposto no art. 37, inciso II da CF/1988 (itens 3.16 e 6.4);
d) Divergência entre o saldo bancário constante nos extratos dos meses de fevereiro, março e
abril de 2008, com o saldo conciliado por esta Auditoria (itens 3.23 e 3.24);
e) Balanço Patrimonial elaborado incorretamente, haja vista que o saldo da dívida do município
junto ao RPPS municipal, encontra-se registrado no Ativo Permanente, descumprindo as
Notas Técnicas nº 49/2005 – GENOC/CCONT/STN e 515/2005 – GEANC/CCONT/STN
(item 3.26);
f) Realização de despesas administrativas acima do limite de 2% determinado pelo art. 17, inciso
IX, § 3º da Portaria MPS nº 4992/99 (item 5.3);
g) Situação irregular com relação ao critério “Caráter contributivo” avaliado pelo MPS (item
5.13);
h) Ausência de realização de reuniões mensais do Conselho Municipal de Previdência,
descumprindo o caput do art. 23 da Lei Municipal nº 1298/07 (item 6.7).

II – de responsabilidade do Chefe do Executivo Municipal, Sr. Marcus Odilon Ribeiro Coutinho:

i) Divergência de R$ 1.000.696,20 (a maior no SAGRES) entre o montante dos repasses

relativos às contribuições previdenciárias patronais informadas no SAGRES e o valor
contabilizado efetivamente arrecadado pelo Instituto (item 3.10);
j) Ausência de encaminhamento à Câmara Municipal de projeto de lei que discipline a criação
de quadro próprio de pessoal para o IPEA, possibilitando a prática de contratações de
comissionados e, com isso, a burla ao concurso público, conforme estabelecido no art. 37 da
CF/1988 (itens 3.16 e 6.4).

III – de responsabilidade do Chefe do Legislativo Municipal:

k) Não apresentação do resumo da folha de pagamento do servidor efetivo da Câmara,

prejudicando o cálculo do limite das despesas administrativas, bem como da dívida da Câmara
junto ao Instituto, infringindo o art. 4º, inciso II, do Regimento Interno deste Tribunal (itens
5.4 e 5.8).

Citados os três gestores responsáveis, conforme fls. 650/67 dos autos, nenhum veio aos autos
apresentar esclarecimentos sobre o relatório da Auditoria, deixando, dessa forma, escoar os prazos que
lhes foram concedidos.

Os autos então foram enviados ao Ministério Público desse Tribunal para oferta de parecer.
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Ao se pronunciar sobre a matéria, o Ministério Público junto ao Tribunal, através da Douta

Procuradora Sheyla Barreto Braga de Queiroz, emitiu o Parecer nº 216/2011, às fls. 670/7,
comungando integralmente com as conclusões da Douta Auditoria, ressaltando ainda algumas
observações feitas sobre as irregularidades levantadas:

Em relação à incorreta contabilização de receita de contribuições de exercícios anteriores; à

divergência entre o saldo bancário constante nos extratos de fevereiro, março e abril com o conciliado
pela Auditoria e à incorreta elaboração do Balanço Patrimonial, tais discrepâncias refletem o total
descaso com a contabilidade pública, suas normas e procedimentos de cumprimento obrigatório para a
Administração Pública.

No tocante à ausência de recolhimento de parte das contribuições previdenciárias incidentes

sobre os valores pagos aos prestadores de serviço, consultores e pessoal comissionados, constitui
motivo para emissão de parecer contrário segundo o Parecer Normativo nº 52/2004 desse Tribunal,
devendo ser comunicado este fato à Receita Federal do Brasil e ao Ministério Público Federal;

Quanto à ausência de providências com vistas à implantação, por lei, de quadro próprio de
pessoal, cabe recomendação ao Presidente do Instituto no sentido de ao menos oficiar o Prefeito
Municipal para adoção de medidas.

No que se refere à situação irregular do Instituto junto ao MPS, deve haver a regularização
imediata junto ao Ministério da Previdência com a obtenção do Certificado, pois, sem tal certificado
fica o município impossibilitado de receber transferências voluntárias de recursos da União, de
celebrar acordos, contratos e convênios ou ajustes, de receber empréstimos ou financiamentos.

Quanto ao Alcaide do município, observou-se discrepância nas informações dos repasses

enviados pela Prefeitura e o contabilizado pelo Instituto, embora se trate de irregularidade de fundo
formal, a incompatibilidade dá azo ao levantamento de questionamentos acerca da lisura dos atos
praticados pelo Gestor Público na realização das atividades públicas.

No tocante à ausência de encaminhamento à Câmara de Projeto de Lei que discipline a criação

de quadro próprio de pessoal para o IPEA, cabe recomendação ao Prefeito no sentido de enviar tal
projeto ao Legislativo.

Ante o exposto, alvitra a Representante do MP junto a esta Corte de Contas a:

1) Irregularidade da Prestação de Contas do gestor do Instituto de Previdência Social do

município de Santa Rita, Sr. Pedro Jorge Coutinho Guerra, relativa ao exercício financeiro
de 2008;

2) Aplicação de multa pessoal com fulcro no art. 56, II da Lei Orgânica do Tribunal de
Contas do Estado da Paraíba, ao Gestor do Instituto supramencionado e, bem assim, ao
Prefeito Municipal, Sr. Marcus Odilon Ribeiro Coutinho e ao Presidente da Câmara
Municipal, Sr. Gilvandro Inácio dos Anjos, com fulcro no art. 56, II da mesma Lei;

3) Assinação de prazo ao Gestor do IPEA para regularizar situação junto ao MPS;

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4) Recomendação à atual Direção do Instituto no sentido de cumprir fidedignamente os

ditames da Carta Magna, das Portarias do Ministério da Previdência Social e legislação
cabível à espécie, especificamente:

a) oficiar o chefe do Executivo de Santa Rita pra enviar o projeto de lei criando quadro de
servidores do IPEA, ou, caso este já tenha enviado, oficiar ao Presidente da Câmara a fim
de providenciar a imediata votação do projeto;
b) determinar à assessoria contábil a elaboração correta de todos os demonstrativos
contábeis;
c) regularizar, em caráter de urgência, a situação do Instituto perante o Ministério da
Previdência Social;
d) Realização de reuniões mensais ao Conselho Municipal de Previdência.

5) Recomendação ao Alcaide Municipal para encaminhar à Câmara Municipal de projeto de

lei que discipline a criação de quadro próprio de pessoal para o IPEA e enviar informações
corretas ao SAGRES, bem como ao ex-Presidente do Legislativo local para apresentação
do resumo da folha de pagamento dos servidores efetivos da Câmara Municipal em
exercícios futuros;
6) Remessa de cópia pertinente dos autos ao Ministério da Previdência Social pra
comunicar-lhes da irregularidade das presentes contas e solicitar-lhes orientação
institucional, bem como à Receita Federal do Brasil e ao Ministério Público Federal
(Procuradoria da República na Paraíba) e ao Comum, devido a não constatação de
recolhimento de verba previdenciária devida.

É o relatório. Houve a notificação dos interessados para a presente sessão.

Antônio Gomes Vieira Filho

Auditor Relator
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PROPOSTA DE DECISÃO

Senhor Presidente, Senhores Conselheiros:

Considerando as conclusões a que chegou a equipe técnica, assim como o Ministério Público
junto ao Tribunal, através do parecer oferecido pelo seu representante, proponho que os Srs.
Conselheiros membros da 1ª Câmara do Egrégio Tribunal de Contas do Estado da Paraíba.

I) JULGUEM IRREGULAR a Prestação de Contas Anual do Instituto de Previdência Social

do município de Santa Rita, sob a responsabilidade do Sr. Pedro Jorge Coutinho Guerra,
relativa ao exercício de 2008;

II) APLIQUEM ao Sr. Pedro Jorge Coutinho Guerra, Presidente do Instituto de Previdência
do Município de Santa Rita, multa no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), conforme dispõe
o art. 71, VIII, da Constituição Federal, e o art. 56, inciso II, da Lei Complementar Estadual nº
18/93; concedendo-lhe o prazo de 30 (trinta) dias para recolhimento voluntário ao Fundo de
Fiscalização Orçamentária e Financeira Municipal, conforme previsto no art. 3º da Resolução
RN TC nº 04/2001, sob pena de cobrança executiva a ser ajuizada até o trigésimo dia após o
vencimento daquele prazo, na forma da Constituição Estadual;

III) RECOMENDEM à atual gestão do Instituto de Previdência a adoção de medidas no sentido

da regularização do IPEA junto ao Ministério da Previdência Social, bem como o
cumprimento fidedignamente dos ditames da Carta Magna, da Lei nº 4.320/64, da Lei nº
9.717/98, das Portarias MPAS nº 4992/99 e nº 1348/05 e demais legislações cabíveis à
espécie.

É a proposta

Antônio Gomes Vieira Filho

Auditor Relator
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PROCESSO TC nº 02.921/09

Objeto: Prestação de Contas Anuais

Órgão: Instituto de Previdência Social de Santa Rita - IPEA
Responsável: Pedro Jorge Coutinho Guerra – Presidente

Prestação de Contas Anuais - Exercício de 2008.

Julga-se Irregular. Aplicação de multa. Assinação
de prazo. Recomendações.

ACÓRDÃO – AC1 – TC nº 0340/2011

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos do Processo TC nº 02.921/09, que
trata da prestação de contas do INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DE SANTA RITA –
IPEA, relativa ao exercício de 2008, tendo como gestor o Sr. Pedro Jorge Coutinho Guerra,
ACORDAM os Conselheiros Membros da 1ª CÂMARA do TRIBUNAL DE CONTAS DO
ESTADO DA PARAÍBA, à unanimidade, em sessão realizada nesta data, na conformidade do
relatório e da proposta de decisão do relator, em:

a) JULGAR IRREGULAR a Prestação de Contas Anual do Instituto de Previdência Social do

município de Santa Rita – IPEA, sob a responsabilidade do Sr. Pedro Jorge Coutinho Guerra,
relativa ao exercício de 2008;

b) APLICAR ao Sr. Pedro Jorge Coutinho Guerra, Presidente do Instituto de Previdência do

Município de Santa Rita, multa no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), conforme dispõe o art.
71, VIII, da Constituição Federal, e o art. 56, inciso II, da Lei Complementar Estadual nº 18/93;
concedendo-lhe o prazo de 30 (trinta) dias para recolhimento voluntário ao Fundo de Fiscalização
Orçamentária e Financeira Municipal, conforme previsto no art. 3º da Resolução RN TC nº
04/2001, sob pena de cobrança executiva a ser ajuizada até o trigésimo dia após o vencimento
daquele prazo, na forma da Constituição Estadual

c) RECOMENDAR à atual Gestão do IPEA a adoção de medidas no sentido da regularização do

IPEA junto ao Ministério da Previdência Social, bem como o cumprimento fidedignamente dos
ditames da Carta Magna, da Lei nº 4.320/64, da Lei nº 9.717/98, das Portarias MPAS nº 4.992/99
e nº 1348/05 e demais legislações cabíveis à espécie.

Presente ao julgamento a Representante do Ministério Público Especial.

Registre-se, publique-se e cumpra-se.

TC – Sala das Sessões da 1ª Câmara - Plenário Conselheiro Adailton Coelho da Costa
João Pessoa, 17 de março de 2011.

Cons. Arthur Paredes Cunha Lima Aud. Antônio Gomes Vieira Filho
Presidente Relator

Fui presente

REPRESENTANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO