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Prof. Guilherme G. Télles Bauer


Aspectos da Sociologia de Émile Durkheim

No final do século XIX surgem as primeiras tentativas mais efetivas de consolidar a


Sociologia como ciência empírica e disciplina acadêmica autônoma, com campo e
métodos próprios de pesquisa. E isso se deve principalmente a Émile Durkheim (1858-
1917).
Nasceu na França, descendente de uma família de rabinos, destinado a seguir a carreira
religiosa na comunidade judaica. Durante seu período de formação acadêmica, perdeu
sua fé quando passou a fazer parte de um ativo e crítico meio intelectual, integrado,
entre outros, por Jean Jaurès, futuro dirigente socialista, com quem manteria estreita
amizade.1 No entanto, tendo em vista a influência e importância da religião no mundo
social, não deixou de preocupar-se com o fenômeno religioso. Considerava que as
religiões propunham uma explicação mistificadora da realidade social2, procurando
então explicá-las a partir de suas formas mais simples.3
Estudou na École Normale Supérieure de Paris, sobretudo filosofia, dando continuidade
aos seus estudos em Berlim, aproximando-se então das áreas das ciências sociais. Em
1887, com 27 anos recebe na Universidade de Bordeaux a primeira cátedra de ciências
sociais da França. Em 1902 é convocado a lecionar na Sorbonne em Paris, onde
formaria um circulo de discípulos (Escola Sociológica Francesa), que mesmo após sua
morte, continuaria exercendo enorme influencia sobre a antropologia,4 história e
educação.
Revolução Francesa, Revolução Industrial e as idéias e discussões sobre elas iriam
constituir o pano de fundo sobre o qual Durkheim elaborou seus estudos. Viveu num
período conturbado, caracterizado pela instabilidade política e guerras civis, numa
Europa em processo de rápida modernização, na qual as instituições e valores
tradicionais estavam sendo corroídos, ao mesmo tempo em que outras formas ainda
emergentes não estavam completamente conformadas e estabelecidas. Um período que
ele caracterizaria como “anômico”. Sua obra iria refletir essa situação. Daí também sua
permanente preocupação com questões morais, empenhando-se em promover reformas
sociais e educacionais.5 Alias, a influencia de Durkheim sobre a política educacional,
laica e socializante do governo francês foi marcante.6 Tanto ele como seus discípulos
buscaram através de pesquisas e ensinamentos “fortalecer a ideologia secular e
reformista da Terceira República francesa.”7
O conde de Saint Simon, mas principalmente Auguste Comte iria exercer particular
influencia sobre Durkheim. Como Comte, defendia o positivismo, enfoque claramente
expressado em seu texto “As Regras do Método Sociológico”.
Mas diferencia-se em muitos aspectos do “pai do positivismo”.
Para Comte a humanidade estaria avançando rumo a um gradual aperfeiçoamento,
através do progresso. Ele tinha como meta criar uma ciência naturalista da sociedade,
buscando explicar o passado dos homens e antever o seu futuro, derivando sua
concepção científica das ciências naturais, acreditando que a realidade social poderia ser

1
GINER, Salvador – Historia Del Pensamiento Social, 9. ed., Barcelona: Editorial Ariel, 1999
2
LUKES, Steven – Escola sociológica Francesa, in OUTHWAITE, William e BOTTOMORE, Tom
(Editores) – Dicionário do Pensamento Social do Século XX, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996
3
Ver As Formas Elementares da Vida Religiosa, in – Durkheim, Coleçao Os Pensadores, São Paulo:
Abril Cultural, 1983
4
ERIKSEN, Thomas H. e NIELSEN, Finn S. – História da Antropologia, Petrópolis: Ed. Vozes, 2007
5
GINER, Op. Cit.
6
Idem. Ver também LUKES, Op. Cit.
7
LUKES, Op. Cit.
2

desvendada através de leis naturais e do primado da razão. Ou seja, Comte buscou criar
uma ciência da sociedade que explicasse as leis da vivencia humana da mesma forma
que as ciências naturais explicavam o mundo físico. Acreditava que todas as ciências
compartilham de uma mesma lógica e de um método científico orientado para revelar
leis universais. Do mesmo modo como as leis naturais permitem controlar e predizer
fenômenos naturais, a descoberta de leis que orientam e controlam a sociedade,
contribuiria para modelar o destino e melhorar as condições humanas.8 A nova ciência
deveria ser uma ciência positiva, utilizando os mesmos métodos científicos rigorosos
das ciências naturais, preocupada somente com fenômenos observáveis.9 A sociologia
assentar-se-ia então em três elementos metodológicos: observação, experimento e
comparação, constituindo esta última parte crucial da pesquisa sociológica.10
Para Comte, a crise do mundo moderno deveria ser solucionada intelectualmente, por
meio de uma reforma espiritual e moral e não por uma política de força, característica
da mentalidade militarista feudal, e tampouco pela religião que forja obscurantismo e
fanatismos. Uma reforma que partiria do conhecimento para abranger as estruturas
materiais. Sendo de cunho intelectual, a reforma se daria através da sociologia. 11 Para
ele o nascimento da sociologia demarcou o triunfo final do positivismo no pensamento
humano.12 Seriam os sociólogos, com seus conhecimentos sobre o funcionamento das
leis que regem a sociedade humana, dentre os cientistas, os únicos capacitados para o
uso sistemático da razão, utilizando-a para o bem estar da humanidade.
Através do positivismo, Comte propôs a criação de uma “religião da humanidade”, pela
qual a fé e os dogmas religiosos seriam substituídos por uma fundamentação
estritamente científica. A sociologia, encontrando-se no centro da “religião” comtiana,
seria dotada da missão de estabelecer justiça e liberdade para a humanidade. Comte
antevia a criação de um consenso moral a contribuir para regular e manter unida a
sociedade industrial emergente.13 Apesar de formular aspectos importantes da crítica
racionalista à religião dominante, acabou posteriormente por redescobrir a religião,
assumindo idéias provenientes de teóricos conservadores do catolicismo, desprezando
os efeitos das mudanças revolucionárias na vida intelectual e social humanas,
substituindo-as pelos temas do progresso acompanhado pela ordem, ambos
interdependentes um do outro.14
Muitos dos passos filosóficos e metodológicos propostos por Comte seriam seguidos
por Durkheim, considerando, no entanto, que muitas das suas idéias seriam
excessivamente vagas e especulativas, sem haver estabelecido uma base efetivamente
científica para a sociologia.15 Durkheim deixa de lado o conteúdo
filosófico–“teológico”, mantendo, no entanto, o positivismo e o método analítico
proposto por Comte, embasado nas ciências naturais. Acreditava no poder explicativo
de idéias claras e distintas, aplicadas metodicamente no estudo dos fenômenos sociais,
através de conhecimentos cientificamente estabelecidos.
Sua principal preocupação era estudar a vida social em todos seus aspectos, aspectos
que disporiam de uma realidade própria, objetiva. Para acompanhar as transformações
em andamento e conhecer o viver social humano, preocupou-se em avaliar qual método

8
GINNER, Op. cit.
9
GIDDENS, Anthony – Sociologia, 4ª Ed., Porto Alegre: ARTMED Ed., 2005
10
GIDDENS, Anthony – Política, Sociologia e Teoria Social, Encontros com o pensamento social
clássico e contemporâneo, São Paulo: Editora UNESP, 1998
11
GINER, Op. Cit.
12
GIDDENS – Política, Sociologia..., Op. cit.
13
GINER, Op.cit
14
GIDDENS, idem
15
GIDDENS, Sociologia, Op. cit.
3

seria mais adequado para fazê-lo de forma científica, ultrapassando as deficiências do


senso comum16. Procurou criar uma metodologia científica que fosse condizente com o
avançar da modernização industrial. Tendo como embasamento teórico o positivismo e
os métodos derivados das ciências naturais, faz uso da observação, da comparação e da
mensuração, como instrumentos para estudar os fenômenos sociais. Ele acreditava ser
necessário e possível estudar a vivencia social com a mesma objetividade como os
cientistas estudam o mundo natural.
Considerando que os fenômenos sociais possuem peculiaridades próprias, distintas dos
fenômenos da natureza, o cientista social deveria investigar as possíveis relações entre
causa, efeito e regularidades dos acontecimentos, procurando descobrir leis ou regras de
ação observando os fenômenos rigorosamente definidos. Empenhou-se em fundamentar
suas reflexões teóricas em dados observáveis, inclusive quantificáveis, como
apresentados em sua pesquisa sobre o suicídio17. Nesse estudo, Durkheim descarta o
sentimento autodestrutivo do indivíduo como fator explicativo do ato suicida, por
constituir tema psicológico não observável. Mas insiste no caráter social, sendo que a
freqüência ou incidência maior ou menor obedecem para ele a causas sociais
observáveis, demonstrável estatisticamente. Desse modo constatou ser maior a
ocorrência de suicídios entre “livre-pensadores” e a menor entre “judeus”. Entre esses
dois extremos, constatou ocorrer uma taxa relativamente alta de suicídios entre
protestantes18 e muito baixa entre católicos. Aponta existir em cada agrupamento social
um nível distinto de coesão grupal e de sanções contra o ato. Assim, entre os judeus
praticantes, existiria um elevado grau de integração grupal, com marcantes laços de
solidariedade intra-familiar, que impediriam mais facilmente atos auto-destrutivos. A
incidência maior de suicídios ocorreria em momentos de anomia, em momentos de caos
normativo e moral, mas que, em tempos de guerra, diminui sensivelmente.
O autor pleiteia a observação do agir social como um fato que se encontra fora, além do
indivíduo, constituindo uma realidade peculiar, a expressão de noções, idéias e
pensamentos coletivos, refletindo imposições externas, obrigações, mandamentos,
costumes, etc.19 Estava convencido que as sociedades fossem elas as modernas
industrializadas ou as mais rudimentares, como a dos aborígenes australianos,
constituíam sistemas lógicos e integrados, nos quais as partes estariam interligadas e
interdependentes umas das outras, mantendo um todo coeso.
Enquanto Marx dedicou linhas esparsas sobre as sociedades não-industriais, sem
aprofundar seus estudos sobre elas20, Durkheim escreveu extensamente sobre povos não
europeus. Seus textos sobre os aborígenes australianos21 constituem ainda hoje
importantes obras de referencia para a Antropologia.22
Em As Regras do método sociológico (1895), Durkheim afirma buscar “estender o
racionalismo científico à conduta humana”. Segundo ele, a sociologia pode ser definida
como a “ciência das instituições, da sua gênese e do seu funcionamento”, e desse modo,
de “toda a crença, todo o comportamento instituído pela coletividade”. Para firmar a
independência da nova ciência, visando sua autonomia como área de investigação
16
Ver As Regras do Método Sociológico (1895), in – Durkheim, Coleção Os Pensadores, São Paulo,
Abril Cultural, 1983
17
Foi o que procurou fazer com O Suicídio (1897), utilizando-se pela primeira vez de dados estatísticos
para explicar um fenômeno que ele, contrariando as concepções vigentes, detecta como motivado
socialmente.
18
HAWTHORN, Geoffrey – Iluminismo e Desespero, uma História da Sociolgia, Rio de Janeiro: Editora
Paz e Terra, 1982, pg. 134
19
HENECKA, Hans P. – Grundkurs Soziologie, 8. ed., Konstanz: UVK Verlagsgesellschaft, 2006
20
Em que pesem as várias anotações contidas nos Grundrissen
21
Classification Primitive (1900) e As Formas Elementares da Vida Religiosa (1915)
22
ERIKSEN e NIELSEN, Op. cit.
4

científica, propôs uma concepção da sociedade como sendo uma realidade objetiva sui
generis, dispondo de uma realidade própria que vai além das ações e dos interesses de
cada indivíduo. A estrutura, os componentes e o funcionamento da sociedade obedecem
para ele determinadas regularidades que se impõem aos indivíduos como necessidades
coercitivas, independentemente de suas vontades e consciência23.
Par Durkheim não é o estudo de indivíduos ou dos aspectos psicológicos e materiais que
a sociologia deve empreender, mas os aspectos da vida social que influem, modelam as
ações dos indivíduos, como a religião, a economia, a cultura, a moral, etc. Fenômenos
religiosos, morais, jurídicos e econômicos devem sempre estar ligados a um meio social
específico, suas causas procuradas nos aspectos constitutivos da sociedade onde esses
fenômenos emergem.24 Insiste sempre na busca das causas sociais dos fenômenos que
ocorrem na sociedade.
Para Durkheim a vida social pode ser analisada tão rigorosamente como os objetos ou
acontecimentos que se encontram na natureza. Exige, para tanto, deixarem-se de lado as
pré-noções derivadas do senso comum, sobretudo seus valores e sentimentos em relação
aos fatos e acontecimentos, pois são fatores que podem distorcer o reconhecimento
imparcial e objetivo do fato social. O cientista social deve libertar-se das falsas
evidencias utilizando-se de definições objetivas, buscando explicar um fato social pela
sua realidade concreta, comparável a outro fato social (as várias formas da instituição
família existentes - monogâmicas, poligâmicas ou polígenas, ou as novas formas
surgidas nas últimas décadas).
A principal preocupação da sociologia deveria ser o estudo dos fatos sociais, ou seja, de
todos os aspectos da vida social que influenciam ou determinam as ações dos
indivíduos, constituindo o objeto próprio do conhecimento sociológico. Para observar
os fatos sociais, Durkheim estabelece regras precisas, propondo considerar os fatos
sociais como coisas, como se fossem objetos, que sendo exteriores ao indivíduo, podem
ser observados e comparados, independentemente do que as pessoas pensem ou
declarem a seu respeito. Analisar os fatos sociais como coisas, é considerá-los como
uma realidade externa que possui características próprias e comuns. Considerados como
coisas, ou seja, como objetos, os fatos sociais tornam-se passíveis de serem observados
e comparados, independentemente do que os indivíduos deles pensem ou sobre eles
afirmem. Para serem identificados como fatos sociais, entre os acontecimentos gerais e
repetitivos, devem apresentar características comuns:
Primeiramente caracterizam-se por exercerem uma coerção social, levando os
indivíduos a aceitarem e conformarem-se às regras e normas da sociedade,
independentemente do que pensem a respeito, independentemente de suas escolhas ou
preferências. Ninguém escolhe a língua materna, as leis ou a educação familiar.
Constituem fatores que independem da vontade ou escolha do indivíduo. O não
acatamento das regras vigentes implica em sanções legais ou espontâneas.
Os fatos sociais são igualmente exteriores ao indivíduo, independem de sua vontade ou
assimilação. Leis, regras, costumes, pré-existem mesmo antes do nascimento da pessoa,
independem de sua vontade, sendo-lhe impostas pela coerção social, dispondo de sua
própria realidade fora das vidas e percepções das pessoas individualmente.
Uma terceira característica dos fatos sociais é serem gerais. São comuns à maioria das
pessoas refletindo-se em todos os indivíduos. As pessoas geralmente seguem padrões
comportamentais que são os mais comuns no seu grupo social, na sua sociedade. Os
esquimós, os drogados, os jovens, os crentes, desenvolvem formas comportamentais

23
COSTA, Maria Cristina Castilho – Sociologia, Introdução à Ciência da Sociedade, São Paulo:
Moderna, 1987
24
LUKES, Op. Cit.
5

características de seus agrupamentos, refletindo-se nas formas de comunicação, nos


sentimentos, valores, moral, etc.25
Para Durkheim os fatos sociais constituem maneiras de agir, pensar e de sentir e que são
exteriores ao indivíduo, tendo uma realidade própria, fora da vivencia e da percepção
dos indivíduos, mas impondo-se a eles coercitivamente, influenciando suas ações e as
consciências coletivas. São “maneiras de agir, de pensar e de sentir, exteriores ao
indivíduo, dotadas de um poder de coerção em virtude do qual se lhe impõem”(...),
maneiras de fazer ou de pensar, reconhecíveis pela particularidade de serem
suscetíveis de exercer influência coercitiva sobre as consciências particulares”.
Por serem invisíveis e intangíveis, os fatos sociais não podem ser observados
diretamente. Mas revelam-se indiretamente ao se analisar seus efeitos ou pelas
tentativas de expressá-los pelas leis, pelos textos religiosos, pelas normas escritas de
conduta.26
Para Durkheim os fatos sociais são formados pelas “representações coletivas”, pelas
crenças, sentimentos coletivos predominantes num dado meio social, 27 como os grupos
sociais, as sociedades vêem a si mesmas e ao mundo que as rodeiam. E isto através dos
mitos, lendas, concepções religiosas, crenças morais, por tudo aquilo que impele os
indivíduos a agirem de determinado modo. “Uma sociedade não está simplesmente
constituída pela massa de indivíduos que a compõem, pelo solo que ocupam, pelas
coisas que utilizam, pelos movimentos que efetuam, mas antes de tudo, pela idéia que
ela faz de si mesma”.
Essas representações coletivas constituem o produto de “uma imensa cooperação que
se estende no espaço e no tempo. Para fazê-lo, multiplicidades de espíritos diversos
associaram-se, misturaram-se e combinaram suas idéias e sentimentos, longas séries
de gerações acumularam nelas sua experiência e sabedoria”. Ou seja, a sociedade não
constitui mero resultado da somatória, ou da justaposição das consciências, ações e
sentimentos individuais. Ao serem associados, combinados e fundidos as consciências,
ações e sentimentos fazem nascer algo novo e externo a aquelas consciências. Mesmo
que o todo só se forme pelo agrupamento das partes, essa associação origina fenômenos
provenientes não diretamente da natureza própria dos elementos associados, pois a
sociedade é mais do que os indivíduos que a compõem. É uma síntese que não se
encontra em cada um desses elementos, mas no todo e não nas partes. Essa agregação
gera um fenômeno que, como diz Durkheim, é “sui generis”, algo que é novo, que vai
além do indivíduo.
Os fenômenos que constituem a sociedade, portanto encontram-se na coletividade, não
em cada um dos seus membros. É nessa coletividade que se deve buscar as explicações
para os fatos sociais e não nas unidades que a compõem. Pois “as consciências
particulares, unindo-se, agindo e reagindo uma sobre as outras, fundindo-se, dão
origem a uma realidade nova que é a consciência da sociedade. Uma coletividade tem
suas formas específicas de pensar, sentir, às quais os seus membros se sujeitam, mas
que diferem daquelas que eles praticariam se fossem abandonados a si mesmos”. Não é
o indivíduo por si só que conseguiria forjar qualquer coisa que viesse a se assemelhar à
idéia dos deuses, dos mitos e dogmas das religiões, à idéia do dever e da disciplina
moral, etc., pois emergem pela interação social, pelo conjunto de agir e pensar dos
indivíduos atuando coletivamente.
Para Durkheim os fatos sociais podem ser diferenciados entre os mais ou menos
consolidados. Os fatos sociais menos consolidados seriam as “maneiras de agir” – as

25
COSTA, Op. cit.
26
GIDDENS, Op. cit.
27
LUKES, Op. cit.
6

correntes sociais e de opinião, movimentos coletivos, modismos que impelem os


indivíduos com maior ou menor intensidade, de acordo com a época, cultura, país etc.,
levando, por ex. a um aumento nos índices de casamentos, separações, aborto,
nascimentos, suicídios etc.
Outros, mais consolidados, com formas mais cristalizadas, designados como “maneiras
de ser”, seriam as regras morais, dogmas religiosos, sistemas financeiros, sentido das
vias públicas, formas de construir casas, vestuários, linguagem escritas, regras jurídicas,
etc.. Esses seriam modos pelos quais gerações de indivíduos acostumaram-se a se
comunicar, vestir, edificar moradias, negociar etc. Ambas as maneiras “de agir” ou “de
ser”, são imperativas, coagem o indivíduo a que adote determinada conduta, são formas
de sentir, que lhe são impostas, que se encontram fora dos indivíduos, constituindo uma
realidade objetiva e externa a eles.
Os fatos sociais são internalizados por meio de um processo, o processo educativo.
Desde pequenos somos educados, constrangidos a seguir horários, evitar determinados
tipos de comportamento, maneiras e formas de estudar e trabalhar. Durkheim afirma ser
“ilusão pensarmos que educamos nossos filhos como queremos”. Na verdade “somos
forçados a seguir regras estabelecidas no meio em que vivemos”.
Com o tempo, todos nós acabamos adquirindo hábitos que nos ensinaram. Ou seja,
deixamos de sentir sua coação: aprendemos comportamentos e modos de sentir comuns
aos membros do grupo onde vivemos. A educação “cria no homem um ser novo”,
tornando-o um membro da sociedade, levando-o a compartilhar com os outros de uma
determinada escala de valores, sentimentos e comportamentos. Desse modo, as
maneiras de agir e sentir comuns, próprias de uma dada sociedade são transmitidas por
meio da aprendizagem, porque existem fora dos indivíduos, são-lhe externos,
impelindo-os a aprendê-los.
Do mesmo modo o crente, o religioso, “o devoto, ao nascer, encontra pronta as crenças
e as práticas da vida religiosa”. Elas existem antes dele. Se, como estudante,
engenheiro, contador, advogado, sigo determinadas linhas de comportamento ou de
ação profissional, estas existem fora de mim. Nos as aprendemos. Os valores, os
costumes, as regras da vivência em sociedade, dispõem de uma realidade objetiva,
independentemente do sentimento ou importância específica que lhe queiramos dar. Os
padrões comportamentais, as instituições variam entre os diversos agrupamentos
sociais, a exemplo da instituição da família, que constitui uma sociedade parcial,
reconhecida externamente, composta de indivíduos aparentados por laços de sangue e
unidos solidariamente por laços de direito. Existe em todas as sociedades, com suas
diferenças e peculiaridades. Mas exerce influência, autoridade sobre os membros
integrantes. Outro exemplo pode ser observado com o tabu do incesto, existente em
praticamente todas as sociedades.
Apesar do peso coercitivo dos fatos sociais, Durkheim não é tão dogmático que
considere que tenhamos necessariamente sempre de nos prostrar diante das regras
sociais. Pois existe sempre a possibilidade de se criar novos fatos sociais. Isto desde que
haja uma ação conjunta e consciente de um grupo, tornando viável um comportamento
inovador. No entanto, essa inovação será tão mais difícil quanto mais enraizada sejam
as regras, crenças e tradições usuais na e da sociedade. Ex.: luta pela legalização do
aborto na Alemanha dos anos 60-70, casamento de homossexuais, o morar juntos de
jovens pares, etc.. As normas que regulam a sexualidade foram profundamente minadas
na década de 60, introduzindo um processo de mudanças sociais relativas à percepção
de normalidade, anormalidade ou criminalidade que caracterizam determinados grupos.
Daí deve-se reconhecer que determinados atos qualificados como crimes, não o são em
7

outros contextos. (Proibição do uso de bebidas alcoólicas em países islâmicos, mas


liberação do haxixe).
Preocupado com as mudanças decorrentes das transformações sociais de sua época,
Durkheim deu atenção privilegiada aos fenômenos da solidariedade social e moral que
mantêm a coesão social, preservando a sociedade unida, impedindo o caos. É a
solidariedade que permite aos indivíduos estarem integrados em agrupamentos sociais,
regulados por inúmeros valores, usos e costumes comuns. Ele distingue entre
solidariedade mecânica, típica das sociedades pré-industriais e a solidariedade
orgânica que emerge com a era industrial. Ambas as solidariedades estão relacionadas
com o avanço nas diferenças entre diferentes ocupações, portanto com a divisão do
trabalho.28 Nas sociedades tradicionais, a maioria das pessoas estão envolvidas em
ocupações similares, ligados por experiências comuns e crenças compartilhadas. Há
consenso entre as pessoas unidas que estão pela religiosidade. Com o avanço do
processo industrial, esse tipo de solidariedade vai sendo solapado, substituído por uma
solidariedade mantida pela interdependência econômica entre as pessoas. Cada vez mais
as pessoas necessitam de bens e serviços produzidos por outros indivíduos inseridos em
diversas ocupações, criando-se elos de reciprocidade econômica e dependência mútua
entre eles.29
Para Durkheim, as normas sociais são modeladas pelo Direito. O Direito consiste em
modelos de conduta sancionadas por sanções ou recompensas, ultrapassando os próprios
códigos legais. Nas comunidades pré-industriais, nas quais prevalece a solidariedade
mecânica, o direito repressivo ou penal é determinante. São sociedades nas quais uma
consciência coletiva comum, influi, determina o agir humano. O indivíduo existe apenas
como membro integrado ao seu grupo social, sendo que qualquer desvio em sua conduta
que implique em transgressão às normas e regras prevalecentes, acarreta coação
imediata, por ferir sentimentos arraigados e por todos compartilhados. Já nas sociedades
industriais modernas, nas quais a solidariedade orgânica se faz presente, o Direito
orienta-se no sentido de que as relações sociais por ele determinada, ligam o indivíduo à
sociedade de forma indireta, fazendo prevalecer um direito civil, contratual.
O processo avassalador de mudanças e crises provocado pela Revolução Industrial
ocasiona problemas sociais profundos, minando estilos e modos de vida, aniquilando
crenças morais e religiosas, deixando as pessoas sem amparo, sem terem em que se
apegar. Faz surgir uma situação que Durkheim denomina de anomia, com a ausência de
regras, desregulando as relações sociais e de trabalho, típico das crises econômicas, dos
conflitos entre trabalho e capital. Ou a nível interpessoal, fazendo aflorar as paixões
individuais que, “sem freio para discipliná-las”, transforma em “condição de regra a
falta de regra”, enfraquecendo ou eliminando o quadro normativo que freia o desejo e
controla as paixões. Em decorrência dessas situações anômicas, de desregulamento das
normas, de desesperança e de falta de sentido, típico da nova era, a própria instituição
do casamento, como apontado pelo autor, acaba sendo minada, crescendo o aumento
das separações30 ou contribuindo ainda para o crescimento nos índices de suicídio.31
Em que pese a enorme contribuição de Durkheim para a efetivação das ciências sociais
como ciências, deve-se considerar alguns aspectos problemáticos. A busca incessante de
fundamentar teorias sobre fatos e somente sobre fatos, Durkheim, mesmo fazendo uso
de uma perspectiva histórica e mantendo um apurado sentido para a junção entre os
28
Ver seu texto Da Divisão do Trabalho Social, in DURKHEIM, Coleção Os Pensadores, São Paulo:
Abril Cultural, 1983
29
GIDDENS, Op. cit.
30
Ver LUKES, Stevens – Anomia, in GIDDENS, Anthony – Sociologia, 4ª ed., Porto Alegre: ARTMED
Editora, 2005
31
Ver seu texto O Suicídio, in DURKHEIM, Coleção Os Pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1983
8

inter-relacionamentos, impedindo-o de aceitar cegamente o existente, o respeito pelos


fatos, não estará contribuindo para impedir-lhe uma crítica aos fatos? Por exemplo, sua
utilização dos conceitos normal e patológico, derivados da medicina, argumentando que
os fatos sociais sendo gerais seriam normais e todos aqueles incomuns seriam
patológicos, não significa que o status quo torna-se necessariamente “normal”?32 Até
que ponto sua capacidade efetiva de julgamento sobre os acontecimentos históricos não
foi extremamente restringida pela sua visão positivista, incapacitando-o para uma
análise da ordem social existente, ignorando o papel e importância dos conflitos sociais
e mesmo dos sistemas de dominação, impedindo-o assim de reconhecer as forças
irracionais que a sociedade moderna podia abrigar e que posteriormente levariam aos
horrores do totalitarismo?33

32
MOORE, Barrington – Strategie in der Sozialwissenschaft, in: Zur Geschichte der Politischen Gewalt,
Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1968
33
LUKE – Escola..., Op. Cit.

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