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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS


ARIANY COSTA HIGASHI NAKAYA
LIGIA MARIA RIBEIRO DE CARVALHO
TALITA DOS SANTOS FARIAS

INTERPRETAÇÃO SIMULTÂNEA: A PREPARAÇÃO E A


RELAÇÃO ENTRE CONCABINOS NA PRÁTICA
PROFISSIONAL

SANTOS – 2010

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ARIANY COSTA HIGASHI NAKAYA


LIGIA MARIA RIBEIRO DE CARVALHO
TALITA DOS SANTOS FARIAS

INTERPRETAÇÃO SIMULTÂNEA: A PREPARAÇÃO E A


RELAÇÃO ENTRE CONCABINOS NA PRÁTICA
PROFISSIONAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como exigência parcial para obtenção do grau
de Bacharel em Tradução e Interpretação à
Universidade Católica de Santos.

Orientador: Prof. Me. José Martinho Gomes.

SANTOS – 2010

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ARIANY COSTA HIGASHI NAKAYA


LIGIA MARIA RIBEIRO DE CARVALHO
TALITA DOS SANTOS FARIAS

INTERPRETAÇÃO SIMULTÂNEA: A PREPARAÇÃO E A


RELAÇÃO ENTRE CONCABINOS NA PRÁTICA
PROFISSIONAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como exigência parcial para obtenção do grau
de Bacharel em Tradução e Interpretação à
Universidade Católica de Santos.

Orientador: Prof. Me. José Martinho Gomes.

Banca Examinadora

___________________________________________
Prof. Me. José Martinho Gomes, Unisantos

___________________________________________
Profª Me. Eveline Kátia de Souza Pontual Cavalcante, Unisantos

Data da aprovação _____________________

SANTOS – 2010

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Dedicatória

Dedicamos o presente trabalho primeiramente à Deus, por ter nos dado força
para prosseguir. Aos nossos pais Claudete / Cláudio, Maria / Vitor e Rose / Legi (avô),
sem os quais nada disso seria possível e por seu apoio constante. E aos nossos
companheiros por toda sua paciência e carinho no período de elaboração deste trabalho.

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Agradecimento

Gostaríamos de agradecer primeiramente a todos os intérpretes que dispuseram


de seu tempo e tiveram boa vontade em nos ajudar. Aos nossos professores por tudo que
nos ensinaram no decorrer de nossa vida acadêmica, em particular ao Profº. Me. José
Martinho Gomes, que nos orientou no decorrer de todo esse trabalho, e a Profª Me.
Eveline Kátia de Souza Pontual Cavalcante por aceitar o convite para ser nossa
professora examinadora.

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Speech is civilization itself. The word, even the most contradictory word,
preserves contact – it is silence which isolates.

Thomas Mann (THOMAS..., 2010)

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CARVALHO, Ligia Maria Ribeiro de; FARIAS, Talita dos Santos; NAKAYA, Ariany
Costa Higashi. Interpretação Simultânea: a preparação e a relação entre concabinos
na prática profissional. Santos, 79 p. (Trabalho de Conclusão de Curso) Universidade
Católica de Santos, 2010.

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo explorar o trabalho dos intérpretes profissionais
que realizam a interpretação simultânea e esclarecer as etapas que estes percorrem para
que possam realizar esse ofício. O foco principal do trabalho está em como os
intérpretes se preparam e quais aspectos surgem da relação entre os concabinos. Na
tentativa de esclarecer tanto o que pode ser feito para melhorá-la, quanto o que deve ser
evitado para não prejudicá-la, esta monografia baseia-se em relatos dos próprios
profissionais da área. Portanto, podemos concluir que, além de conhecer e se preocupar
com os requisitos técnicos do trabalho assim como sua preparação, é necessário levar
em consideração as relações interpessoais que poderão fazer de um ambiente de
trabalho um lugar agradável ou inóspito. Sendo assim, essas relações devem ser
consideradas tão importantes quanto todos os outros pilares fundamentais à formação
dos intérpretes.

Palavras-chave: interpretação simultânea, intérprete, concabino, teoria da relevância,


modelo interpretativo.

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CARVALHO, Ligia Maria Ribeiro de; FARIAS, Talita dos Santos; NAKAYA, Ariany
Costa Higashi. Simultaneous Interpretation: the preparation and relationship between
boothmates in the professional practice. Santos, 79 p. (Trabalho de Conclusão de
Curso) Universidade Católica de Santos, 2010.

Abstract

This paper aims to explore the work of professional interpreters who perform
simultaneous interpretation and clarify the steps they go through to perform this
profession. The main focus of the paper lies on how interpreters prepare themselves and
what aspects spring from the relationship between boothmates. In the attempt of
clarifying what can be done to improve it, as well as what might be avoided not to harm
it, this monograph is based on reports made by the professionals of the area. Therefore,
we can conclude that, besides knowing and being concerned with technical
requirements and preparation, one must take into consideration the interpersonal
relationship that can make a work environment either pleasant or hostile. These
relationships must be considered as important as all the other fundamental pillars for the
interpreters’ capacity building.

Key-words: simultaneous interpretation, interpreter, boothmate, relevance theory,


interpretive model.

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Sumário

Introdução..................................................................................................... 11

Primeiro Capítulo

1. Delineando a Interpretação: definição, história e tipologia...................... 13

1.1. Breve história da interpretação.............................................................. 14

1.2. Tipos de Interpretação........................................................................... 20

1.2.1 Interpretação Sussurrada...................................................................... 20

1.2.2 Interpretação Consecutiva................................................................... 21

1.2.3 Interpretação Intermitente.................................................................... 21

1.2.4 Interpretação Simultânea..................................................................... 22

Segundo Capítulo

2. Entendendo a Interpretação Simultânea................................................... 23

2.1. Características........................................................................................ 23

2.2. Os profissionais e as línguas de trabalho............................................... 24

2.3. O equipamento....................................................................................... 25

2.4. O código de ética................................................................................... 26

2.5. As dificuldades na interpretação simultânea......................................... 27

Terceiro Capítulo

3. Abordagem teórica da interpretação......................................................... 32

3.1. O modelo interpretativo de Lederer....................................................... 32

3.2. A teoria da relevância de Sperber & Wilson......................................... 35

Quarto Capítulo

4. Análise do Corpus: relatos dos intérpretes............................................... 37

4.1. Metodologia........................................................................................... 37

4.2. Formação dos intérpretes....................................................................... 38

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4.3. Condições pré-interpretação.................................................................. 41

4.4. Pré-preparação para um trabalho........................................................... 42

4.5. Preparação direta para o trabalho.......................................................... 44

4.5.1. Fator internet....................................................................................... 44

4.5.2. Material do cliente.............................................................................. 45

4.5.3. Conversa com o palestrante................................................................ 46

4.5.4. Glossário............................................................................................. 47

4.6. Antecipação ao e familiarização com o evento..................................... 49

4.7. Relação entre os concabinos.................................................................. 50

4.7.1. Colegas novos..................................................................................... 53

4.7.2. Auxílio entre concabinos.................................................................... 55

Considerações Finais.................................................................................... 61

Referências Bibliográficas........................................................................... 62

Bibliografia Consultada................................................................................ 65

Apêndice I..................................................................................................... 66

Anexo I......................................................................................................... 73

Anexo II........................................................................................................ 77

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Introdução

No mundo globalizado em que vivemos, a interação entre pessoas que falam


línguas distintas tornou-se indispensável e a interpretação cumpre esse papel. Dentre as
modalidades interpretativas, a interpretação simultânea ocupa posição privilegiada em
eventos de longa duração e/ou com público numeroso e exerce grande fascínio, pois
causa no público a impressão de que é feita por encanto. A verdade é que tal ofício
exige dos intérpretes profissionais grande habilidade e rapidez de raciocínio, atributos
conquistados à custa de anos de preparo, experiência e auxílio mútuo.

Assim, a ideia para a realização desse trabalho nasceu dessa constatação e,


durante as aulas de prática de Interpretação Simultânea do curso de Tradução e
Interpretação, desenvolvemos tal interesse em saber como se realiza o trabalho de um
intérprete profissional.

Pelo fato da interpretação simultânea geralmente ser realizada em duplas, o


propósito era descobrir como se dava essa relação na prática profissional, bem como a
preparação dos intérpretes. Porém, antes de chegar a isso passaremos por informações
consideradas importantes para esse propósito.

No primeiro capítulo do trabalho, abordaremos o que é a interpretação, sua


história e algumas das modalidades existentes, tais como a sussurrada, a intermitente, a
consecutiva e a simultânea, objeto central deste trabalho que será tratada no segundo
capítulo expondo assim suas características e dificuldades.

O terceiro capítulo abordará a parte teórica da interpretação baseando-se no


Modelo Interpretativo de Marianne Lederer e na Teoria da Relevância de Sperber e
Wilson, para mostrar os estudos realizados na tentativa de explicar como funciona o
processo pelo qual o intérprete passa enquanto produz seu trabalho.

Já o quarto capítulo descreverá o trabalho dos intérpretes profissionais,


começando pela formação e passando por todo o processo por que atravessa um

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intérprete antes de entrar em uma cabine para fazer a interpretação e falaremos da


relação entre os concabinos1: como ela se dá, quais as melhores formas de ajuda entre
eles e quais não dão certo.

Ao final do trabalho teremos um anexo com o Código de Ética do Profissional e


outro anexo com algumas instruções para palestrantes que ao se apresentarem utilizam
interpretação simultânea. Para devidamente embasar este trabalho, colocamos como
apêndice uma pequena biografia profissional e acadêmica de alguns dos intérpretes que
nos ajudaram nessa pesquisa. As informações ali contidas foram fornecidas pelos
próprios profissionais e aparecem por ordem alfabética para melhor localização.

1
Jargão da área para companheiro de cabine

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1. Delineando a Interpretação:
Definição, história e tipologia

A interpretação existe desde a antiguidade, assim como a tradução, e ambas


muitas vezes são confundidas entre si. Portanto, é importante esclarecer que a
interpretação utiliza-se da palavra falada, enquanto a tradução da palavra escrita.

De uma maneira bem simples e resumida, a interpretação pode ser considerada a


ação de estabelecer uma comunicação verbal entre duas ou mais entidades que não
possuem o mesmo código.

A princípio, parece algo fácil e simples; porém, o intérprete, para conseguir um


bom resultado, enfrenta alguns obstáculos, tal como a questão do tempo, conforme
veremos na seção 2.5.

A interpretação é muito utilizada em eventos longos e com público numeroso,


como, por exemplo, em debates, congressos, reuniões de grupos políticos, conferência
de imprensa e em muitas outras situações em que seja necessária a presença de um
intérprete.

Dentro da interpretação existem algumas categorias específicas tais como a


sussurrada, consecutiva, intermitente e simultânea que serão vistas na seção 1.2. Porém,
faz-se necessária uma rápida contextualização histórica sobre a interpretação.

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1.1 Breve história da Interpretação

A história da Interpretação torna-se um pouco difícil de ser traçada devido ao


fato de não existirem muitos registros escritos sobre tal atividade. No entanto, através de
alguns fatos, é possível notar que o intérprete realiza sua função há milhares de anos.

Mas, antes, para entendermos melhor o aparecimento dessa função, talvez seja
necessário lembrarmos que ela surgiu da necessidade de comunicação entre os povos
que falavam línguas distintas.

Uma tentativa de explicar de onde surgiram tantas línguas diferentes aparece no


mito bíblico da Torre de Babel, o qual conta a história de um período em que todos os
homens falavam a mesma língua e, na tentativa de se aproximarem de Deus, decidiram
criar uma torre alta que conseguisse chegar aos céus. O problema é que esse projeto não
agradou a Deus, que para puni-los fez com que cada um falasse uma língua diferente,
pois dessa forma não conseguiriam se comunicar para terminar o projeto.

Apesar de esse mito não poder ser considerado uma evidência histórica,
podemos considerá-lo uma metáfora para explicar tantas línguas diferentes faladas ao
redor do mundo.

Assim, com tantos idiomas distintos, surge a necessidade de criar uma forma de
comunicação entre os diferentes povos, fazendo com que se estabeleça um mecanismo
para que isso aconteça. Dá-se, portanto, o surgimento da interpretação.

Segundo Alfred Hermann (2002, p. 16), o Antigo Egito nos traz as primeiras
evidências históricas do real surgimento dos intérpretes. No final do período das
pirâmides, eles aparecem de forma cada vez mais frequente em inscrições na região de
Elefantina.

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Nesse período, os intérpretes estavam presentes em expedições para a conquista


de novas terras, em negociações comerciais e normalmente aparecem mencionados
próximos a mineradores e marinheiros. Os intérpretes não eram apenas importantes em
situações externas, como nas fronteiras do Egito ou em outros países, mas também na
administração central.

Apesar de não existirem muitos relatos sobre isso, é possível inferir como os
egípcios consideravam o intérprete a partir do que afirma Hermann, baseado em
hieróglifos encontrados: “O intérprete era considerado, de forma depreciativa, ‘aquele
que fala línguas estranhas’”2 (HERMANN, 2002, p. 16, tradução nossa).

Já, “para os gregos, o termo intérprete ou tradutor significava a pessoa que agia
como Hermes”3 (ibid., p. 18, tradução nossa), o deus mensageiro das palavras dos
deuses para os mortais. Em latim, o termo significava o ser humano mediador colocado
entre duas pessoas.

Com o advento do Cristianismo e sua consequente expansão, bem como as


diferenças linguísticas entre os povos, os intérpretes eram necessários para quebrar essas
barreiras e assim levar essa religião ao maior número possível de pessoas. Segundo
Hermann (ibid., p. 21), a pessoa versada em duas línguas ganhou importância quando
começou a espalhar a fé entre os bárbaros.

Já, na Idade Média, a interpretação passou a ser mais valorizada e mencionada


com mais frequência. Na Renascença, devido ao interesse nas línguas estrangeiras e às
expedições de conquistas, acaba sendo ainda maior a necessidade de utilizar a
interpretação (LUCIANO, 2005, p. 10).

No período conhecido como Novo Mundo4, existem registros de que Colombo,


em sua tentativa de descobrir uma nova rota para as Índias, embarcou em sua expedição
um intérprete chamado Luis de Torres que falava hebreu, caldeu e árabe. Sabe-se que
Colombo acabou por descobrir um novo continente e que o conhecimento do intérprete
que o acompanhava de nada adiantou para intermediar a comunicação, pois o povo que
habitava a região não falava nenhuma daquelas línguas. Portanto, Colombo resolveu

2
“The interpreter was thought of, rather disparagingly, ‘as the speaker of strange tongues’.”
3
“For the Greeks, the term ‘interpreter’ or ‘translator’ meant ‘a person who acts like Hermes’.”
4
Novo Mundo é um dos nomes dados à América pelos europeus na época de sua descoberta. O
continente era novo para os europeus, em comparação com o velho mundo que ja conheciam: Europa,
Ásia e África. (NOVO MUNDO, 2010)

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levar alguns nativos dessa região para a Espanha, pois, assim, quando retornasse àquele
continente, essas pessoas poderiam intermediar a comunicação exercendo a função de
intérpretes (LUCIANO, 2005, p. 11).

De acordo com Anita Luciano, “os europeus acreditavam ser essencial para a
conquista militar ter intérpretes à sua disposição” (2005, p. 11). Isso mostrou ser
verdade, pois assim teriam melhor conhecimento do oponente, o que possibilitaria
tantas conquistas realizadas pelos europeus.

Após esse período, um dos casos mais conhecidos e documentados é o de Doña


Marina, uma princesa indígena que foi entregue como escrava para Hernán Cortés5
(PAGURA, 2002) e que desempenhou o papel de intérprete, ajudando-o em sua
conquista, pois, por seu intermédio, este conseguia informações importantes contra seus
oponentes.

Dessa forma, os intérpretes seguiram realizando o seu trabalho nas mais variadas
situações em que sua função se fazia necessária.

Para Luciano (2005, p. 14), os anos entre as duas guerras mundiais foram um
período em que surgiram grandes organizações internacionais e, com isso, a necessidade
ainda maior pelos serviços dos intérpretes, nascendo assim a profissão do intérprete de
conferências.

Em um primeiro momento, a modalidade de interpretação utilizada foi a


consecutiva, na qual o orador discursa por um período de tempo e em seguida o
intérprete realiza a interpretação para a língua alvo, modalidade na qual também é
possível que o intérprete tome notas do discurso quando achar necessário. O problema
de utilizar a modalidade consecutiva era que cada evento acabava se tornando muito
demorado.

Assim, com a necessidade de se aprimorar a técnica utilizada, surge a


possibilidade da interpretação simultânea, modalidade na qual o intérprete falaria ao
mesmo tempo que o orador, seria ouvido através de fones de ouvido e ficaria isolado em
uma cabine à prova de som. Para isso acontecer, também se fazia necessária a utilização
de um equipamento específico.

5
Conquistador e explorador espanhol, conquistou o centro do atual território do México a favor da coroa
espanhola (HERNÁN CORTÉS, 2010).

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Apesar de algumas divergências com relação à data da primeira utilização da


modalidade simultânea, sabe-se que Edward Filene, um empreendedor de Boston, e o
engenheiro eletrônico Gordon Finlay criaram um equipamento que tornou possível
realizar a interpretação simultânea. Esse aparelho foi fabricado pela IBM e seu sistema
ficou conhecido como Filene-Finlay.

De acordo com Gaiba (1998, p. 31), o equipamento foi utilizado pela primeira
vez no dia 04 de junho de 1927 em uma sessão da Conferência Internacional do
Trabalho em Genebra.

Esse método de trabalho acabou sendo empregado em variadas conferências


internacionais em diferentes lugares do mundo, mas segundo Gaiba (ibidem), não da
forma como conhecemos hoje a interpretação simultânea.

Nesse período o aparelho criado por Filene-Finlay era usado com duas formas de
interpretação que Gaiba (ibidem) denomina como ‘interpretação simultânea sucessiva’ e
‘leitura simultânea de textos pré-traduzidos’.

A primeira modalidade era realizada da seguinte forma: as interpretações eram


simultâneas entre si. Por exemplo, na Liga das Nações os intérpretes tomavam nota do
discurso original para uma interpretação consecutiva. Ao final do discurso, um
intérprete, normalmente um intérprete francês, traduziria consecutivamente para sua
língua e, ao mesmo tempo, os outros intérpretes sentados em suas cabines iriam falar
em seus microfones seus respectivos idiomas, lendo suas anotações. O processo, mesmo
sendo lento, mostrou ser eficaz comparado com a interpretação consecutiva comum.

A segunda modalidade mencionada só poderia ser realizada se os oradores


estivessem lendo a partir de textos que já tivessem sido entregues aos intérpretes
anteriormente ao começo do discurso. Assim, eles traduziriam o texto antes da sessão e
leriam a tradução ao mesmo tempo do discurso original.

Mesmo com falhas, essas formas de interpretação haviam funcionado bem de


certa forma até então, mas o maior desafio para a função de intérprete estava por vir.

De acordo com Pagura (2002), ao final da Segunda Guerra, surge a questão de


serem julgados os criminosos de guerra no Julgamento de Nuremberg. A dificuldade

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que envolvia tal julgamento era que sua realização se daria em quatro línguas: inglês,
francês, alemão e russo.

As discussões acerca de como seria empreendida tal tarefa trouxeram à tona qual
modelo de interpretação deveria ser utilizado, pois os modelos conhecidos e usados até
então tornariam o julgamento muito extenso e difícil de ser entendido por todos os
envolvidos.

A função de decidir como realizar esse grande julgamento ficou a cargo do


Coronel Leon Dostert, que era intérprete do General Eisenhower e também professor da
Universidade de Georgetown. Ele pensou que seria possível utilizar a interpretação de
forma simultânea com o auxílio dos aparelhos necessários. Dostert também insistiu na
necessidade de o intérprete ser capaz de ver o que acontece no ambiente em que está.
Assim, os intérpretes deveriam ser colocados na sala de tal maneira que tivessem visão
de tudo que ali ocorresse.

Dessa forma, ele começa o trabalho de recrutamento de profissionais para


trabalharem no julgamento. A princípio, são convocadas pessoas sem experiência nesse
campo ainda novo, mas as quais tinham algum conhecimento dos modos de
interpretação empregados na época e com grandes conhecimentos dos idiomas com que
iriam trabalhar.

Segundo Siegfried Ramler (2007, p. 10), foram recrutadas, ao final do trabalho


de seleção, 36 pessoas, formando-se assim três equipes com 12 intérpretes simultâneos
cada.

O aparelho que possibilitaria a interpretação foi cedido pela IBM, que teria uma
grande publicidade com tal atitude. Para Ramler (ibidem, tradução nossa), “um sistema
que poderia parecer primitivo para os padrões atuais, mas que era bastante inovador
para a época” 6.

O trabalho era realizado com intérpretes sentados em mesas em diferentes


seções, cada qual representando uma língua de chegada. Dessa forma, por exemplo, a
mesa cuja língua de chegada era a inglesa teria três intérpretes sentados lado a lado: um

6
“A system which would seem very primitive by today’s standards but was quite innovative at the time”

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do alemão para o inglês, um do francês para o inglês e um do russo para o inglês. O


mesmo acontecia com os demais idiomas (RAMLER, 2007, p. 11).

Assim nascia a interpretação simultânea na forma mais próxima da que


conhecemos atualmente, um trabalho que só se aprimora com o passar dos anos.

Fica clara a necessidade do trabalho dos intérpretes com a criação da


Organização das Nações Unidas, devido ao fato de fazerem parte dessa organização
países de diferentes idiomas. De acordo com Berber (2006, p. 166), em 1947, a ONU
adotou a Resolução 152(11), na qual a interpretação simultânea foi instituída como um
serviço permanente. As línguas oficiais de trabalho da ONU são o inglês, o francês, o
espanhol, o russo, o chinês e o árabe.

Devido ao crescimento da profissão, fez-se premente sua regulamentação,


estabelecendo assim seus direitos e deveres. Para isso, três intérpretes, Constantin
Andronikof, André Kaminker e Hans Jacob, fundaram em 1953 a AIIC, Associação
Internacional de Intérpretes de Conferência (DURAND, 2003), sendo o ponto de
referência para intérpretes em todo o mundo.

Como consequência natural, dá-se início a um período em que apareceram em


todo mundo instituições dedicadas ao ensino dessa profissão.

No Brasil, é fundada em 1971, nos moldes da AIIC, a Associação Profissional


dos Intérpretes de Conferência (APIC, 2010), a partir da qual, de acordo com Anita
Luciano (2005, p. 16), surgem no Brasil as primeiras instituições dedicadas ao ensino de
intérpretes.

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1.2 Tipos de Interpretação

Abordaremos, nesta seção, alguns dos tipos de interpretação existentes, da


interpretação sussurrada à interpretação simultânea, objeto central deste trabalho,
passando pela interpretação consecutiva e pela interpretação intermitente.

1.2.1 Interpretação Sussurrada

A interpretação sussurrada, também conhecida pelo seu termo francês


chuchotage ou pela sua contraparte inglesa whispered interpretation, é um tipo de
interpretação que não necessita de nenhum equipamento específico para a tradução
(CARVALHO, 2010). O intérprete senta-se ao lado de um ou dois participantes que não
falam o idioma utilizado e vai interpretando em um tom baixo o que está sendo dito
pelo orador. Deve ser evitada quando muitos intérpretes trabalham em um mesmo local
e ao mesmo tempo. Por ser uma modalidade que força muito as cordas vocais, deve ser
utilizada somente em reuniões curtas e, assim como na interpretação simultânea, são
precisos dois intérpretes para que possam revezar ao longo da reunião (AIIC, 2010d).

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1.2.2 Interpretação Consecutiva

Diferente da interpretação simultânea que necessita de alguns equipamentos


específicos, a interpretação consecutiva, em geral, utiliza somente um microfone
(SAYEG, 2010c).

O intérprete senta-se ao lado do orador para ver e ouvir, sem maiores problemas,
o que ocorre a seu redor. Enquanto o orador fala, o intérprete toma notas para, após um
intervalo de mais ou menos três a cinco minutos, fazer a interpretação para o outro
idioma (CARVALHO, 2010).

Este tipo de interpretação não é recomendado para eventos muito longos, pois no
mínimo duplica o tempo da reunião, sem levar em consideração certa perda de conteúdo
que inevitavelmente ocorre, pois a consecutiva é mais resumida (SAYEG, 2010c).

1.2.3 Interpretação Intermitente

É uma interpretação que fica entre a interpretação consecutiva e a interpretação


simultânea, na qual o orador diz apenas algumas sentenças e o intérprete traduz, sendo
feita de maneira mais rápida e dinâmica que a consecutiva. Estas sentenças são ditas em
um tempo que é predeterminado antes da apresentação (SAYEG, 2010b). Recomendada
para conversas mais informais, em ambientes pequenos e em reuniões de curta duração
(CARVALHO, 2010), é também comumente utilizada em cultos religiosos.

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1.2.4 Interpretação Simultânea

A interpretação simultânea é conhecida também como tradução simultânea, ou


seja, é o ato de traduzir, como o próprio nome diz, simultaneamente a fala de um orador
(SAYEG, 2010a) para um ou mais ouvintes em um determinado evento. Esse tipo de
interpretação será explicado com mais detalhes a seguir no capítulo 2.

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2. Entendendo a Interpretação Simultânea

2.1 Características

No capítulo anterior, mencionamos brevemente algumas modalidades dentro da


interpretação. Já neste capítulo, abordaremos com mais detalhes e cuidado a
modalidade-objeto deste trabalho: a interpretação simultânea. Explicaremos suas
características e as dificuldades mais comuns enfrentadas nesse tipo de interpretação.

Para muitos, a interpretação simultânea parece algo impossível de se realizar,


enquanto que, para outros, é algo muito simples. Como diz o intérprete de conferência
Ewandro Magalhães Jr, autor de Sua Majestade, O Intérprete (2007, p. 19), “vista de
longe, a tradução simultânea parece mágica. Vista de perto, parece loucura”.

A simultânea é definida por Magalhães Jr (2007, p. 217) como:

[...] tradução feita oral e imediatamente, durante uma apresentação ou


palestra. Os intérpretes trabalhando sempre em dupla, isolam-se numa cabine
de onde podem ver o palestrante e ouvir a palestra com a ajuda de fones de
ouvidos. À medida que vão ouvindo, os intérpretes, cada qual a seu turno,
vão repetindo a mensagem imediatamente, só que em outra língua [...].

Tomaremos a definição de Magalhães Jr como ponto de partida para um melhor


entendimento do que vem a ser a interpretação simultânea.

O objetivo desse tipo de interpretação é o de fazer com que pessoas que não
falam um mesmo idioma tenham a possibilidade de participar, sem problemas
linguísticos, de diversos tipos de eventos em que são faladas línguas que não sejam a
sua. A simultânea pode ser utilizada em eventos de diferentes naturezas como

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conferências, palestras, debates, reuniões de longa duração ou eventos em que o tempo


precise ser bem utilizado.

2.2 Os profissionais e as línguas de trabalho

Para que a comunicação entre ambas as partes (palestrante e ouvinte), seja


possível, serão necessários intérpretes profissionais devidamente treinados e fluentes em
seus idiomas de trabalho.

O indivíduo que decidir trilhar os caminhos da interpretação deverá ter um


grande domínio de sua língua materna e, depois, precisará conhecer muito bem um
segundo idioma. Melhor será para o intérprete se tiver conhecimento de uma terceira
língua. Magalhães Jr (2007, p. 211) explica como a AIIC determina a competência
linguística de seus membros. A língua materna, a nativa, é chamada de língua A, a
língua estrangeira do intérprete a língua B, e a língua C, por fim, será também uma
língua estrangeira, porém, passiva do profissional.

Alguns dos idiomas mais procurados no mercado internacional de trabalho dos


intérpretes são o inglês, o francês, o espanhol, o árabe, o chinês, o russo, o alemão, o
italiano e o japonês (AIIC apud LAGE, 2007, p. 43).

O trabalho do intérprete será o de ouvir a mensagem na língua de origem (língua


B), ao mesmo tempo em que fala em seu idioma de chegada (língua A) as mesmas
ideias, mas isso sem perder o sentido, o conteúdo ou o ritmo da mensagem original.

O profissional que estiver interpretando precisará decidir quais palavras usará e


de que forma passará a mensagem recebida, em um ritmo praticamente sem
interrupções, o que fará com que o intérprete tenha pouco espaço para erros na escolha
das palavras e para um impecável emprego de estilo da língua de chegada.

O intérprete também deverá ter um ouvido muito bem treinado para o inglês
falado por pessoas de diversas nacionalidades, por exemplo, para o inglês americano, o
britânico, ou ainda o falado por orientais, árabes, russos, etc. Outro ponto a se destacar é

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o da própria língua A, que não deverá ter marcas como sotaque ou expressões de uma
região específica.

Além da preocupação na escolha das palavras e de transmitir corretamente a


mensagem, o intérprete também precisará concentrar-se em seu tom de voz. Este fator
vai variar de acordo com o tipo de evento. Por exemplo, em um debate político, o
intérprete precisará transmitir as mesmas emoções do candidato. Já, em um telejornal, o
profissional costuma manter um tom de voz de acordo com o tipo de notícia.

A interpretação simultânea é realizada, em geral, por no mínimo dois intérpretes,


por ser extremamente cansativa e exaustiva. Os intérpretes se revezarão, em média, a
cada período de mais ou menos vinte e cinco minutos. Um dos intérpretes começará a
traduzir, sendo assim o intérprete ativo, enquanto o segundo aguardará sua vez,
tornando-se, portanto, o intérprete passivo. Após esse período de vinte e cinco minutos
aproximadamente, ocorre o revezamento entre os profissionais.

Essa distribuição também favorece a disposição de cada intérprete, uma vez que,
“trabalhando em dupla, os intérpretes têm a possibilidade de se revezar a cada 20 ou 30
minutos, permitindo com isso que cada um dê o máximo de si quando chegar sua vez”
(MAGALHÃES Jr, 2007, p. 108)

2.3 O equipamento

Os profissionais ficarão em uma cabine à prova de som. Os intérpretes estarão


utilizando headsets, os ouvintes fones de ouvido e o orador um microfone.

A cabine é equipada com uma unidade central responsável por receber a


mensagem que chega do microfone do orador aos headsets dos profissionais, e ao
mesmo tempo retransmitir a interpretação dos profissionais por meio de seus headsets
diretamente para os fones receptores utilizados pelos ouvintes (TRADINTER, 2010). O
intérprete deve tentar trabalhar com o som que chega do microfone do orador com um
volume baixo para poder controlar melhor sua voz na hora de sua interpretação. O

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ajuste dos graves e dos agudos muitas vezes será mais importante e decisivo do que o
aumento do volume.

De dentro dessa cabine, o intérprete precisará ter uma boa visão da sala de
reunião, ou local do evento, e do palestrante. Primeiramente, porque o orador poderá
utilizar auxílios visuais, tal como o powerpoint, e a visibilidade dos slides facilitará a
interpretação e poderá até mesmo agilizá-la. Outro motivo da necessidade de uma boa
visibilidade do orador é o de que o intérprete possa ver seus gestos, expressões faciais,
movimento corporal e olhares, que mostrarão a dinâmica, emoções e intenções do
palestrante. Para este assunto específico, recomendamos a leitura do trabalho de
conclusão do curso de Tradução e Interpretação do aluno Jaílson Gomes da Silva
entitulado A Comunicação Não Verbal no Ato Interpretativo (2007), que pode ser
encontrado no sistema de bibliotecas da Universidade Católica de Santos.

As cabines podem ser fixas ou móveis, dependendo do contratante e local de


realização do evento, porém deverão estar conforme as normas ISO de isolamento
acústico, dimensões, qualidade de ar, acessibilidade e equipamento adequado tais como
microfones e fones já mencionados anteriormente (AIIC, 2010b). Para maiores detalhes
concernentes às normas, consultar http://www.aiic.net/ViewPage.cfm/page618.htm.

2.4 O código de ética

O intérprete de conferência pode ser autônomo ou trabalhar para alguma


empresa. Mas independente de qual seja seu caso, como todo profissional, o intérprete
precisa lembrar-se de sua postura ética e profissional. Para tal, a categoria possui um
código de ética que deve ser sempre lembrado, seguido e respeitado. Desta forma, o
intérprete terá melhores chances de garantir futuras ofertas de trabalho.

Para demonstrar o que abrange o código de ética do intérprete de simultânea,


utilizaremos o Código Deontológico adotado pelos membros da AIIC (ver Anexo I, p.
74). Esse código estabelece padrões de integridade, profissionalismo e
confidencialidade que deverão ser respeitados por todos os intérpretes de conferência.

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Caso não sejam respeitados, punições deverão ser impostas ao profissional que violá-los
(AIIC, 2010a).

Os intérpretes estarão ligados a um sigilo profissional em relação a todo


conhecimento obtido no decorrer de sua profissão e não poderão tirar proveito pessoal
de nenhuma informação confidencial a que tenham tido acesso ao longo de sua carreira
profissional.

Outro ponto importante existente no código de ética é que caso receba uma
oferta de trabalho para o qual não esteja qualificado, o intérprete deverá recusá-la, não
aceitando assim o contrato apresentado, assim como não deverá aceitar mais que um
contrato para o mesmo período de trabalho. Quando o intérprete recrutar algum de seus
colegas, estará assumindo idêntica responsabilidade sobre o trabalho e, sendo assim, é
dever do profissional disponibilizar para seus colegas assistência moral e
companheirismo.

Os intérpretes não devem aceitar funções ou cargos que prejudiquem o nome e a


dignidade da profissão. Quanto a sua remuneração, o profissional terá autonomia para
decidi-la (AIIC, 2010c). Para maiores detalhes, ver Anexo I.

2.5 As dificuldades na interpretação simultânea

Para realizar uma boa interpretação, o intérprete precisará contornar algumas


dificuldades. A primeira delas é a questão do tempo, fator que o profissional da área não
controla, pois é determinado pelo ritmo e pela velocidade da apresentação do orador.
Segundo Anita Luciano (2005, p. 33), simplesmente não há tempo para se deter, no
meio da interpretação de um discurso, em uma palavra ou expressão difícil para achar a
solução ‘perfeita’. O intérprete precisa reproduzir sua interpretação quase que ao mesmo
tempo em que o orador produz seu discurso.

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28

Portanto, as condições físicas, mentais e emocionais serão pontos cruciais no


momento da execução do trabalho, podendo resultar em uma excelente interpretação ou
não.

Assim como todo ser humano, o intérprete muitas vezes comete erros, até
mesmo mais do que o esperado. Alguns dos erros cometidos algumas vezes são por pura
falta de conhecimento, o que pode ser considerado por muitos uma falha grave, uma vez
que todos pressupõem que o intérprete deva saber tudo, pois é esperado que o
profissional se prepare com antecedência, estudando com muito cuidado toda a
documentação e assunto do evento. Porém, na prática, não é o que ocorre. O
profissional não somente terá que se preparar, como também terá que contornar alguns
fatores que poderão comprometer sua interpretação.

Para listar alguns destes erros, tomamos como base o trabalho de conclusão do
curso de Tradução e Interpretação da aluna Débora de Mendonça Lage entitulado As
dificuldades enfrentadas pelo intérprete simultâneo: uma análise de casos e uma
proposta de estudo (2007), que também pode ser encontrado no sistema de bibliotecas
da Universidade Católica de Santos. Além deste, utilizamos como referência o artigo
Ética profissional e o erro em interpretação de conferência: estudo de casos, publicado
na revista New Routes da tradutora e intérprete Raffaella de Filippis Quental (2006).

Comecemos pela questão da fonética. O intérprete poderá ter problemas quanto


ao sotaque do orador. Por exemplo, se o orador for japonês e optar por fazer sua
apresentação em inglês, o intérprete provavelmente terá alguma dificuldade para
entender o que o palestrante está dizendo, considerando, ainda, que o orador pode não
saber se expressar com clareza, falar para dentro, não saber concluir as ideias ou
sentenças e também falar muito rápido ou até mesmo devagar demais.

Outro problema muito comum é o shadowing, a repetição de um termo da língua


de partida na língua de chegada. O intérprete ouve a pronúncia de uma palavra e repete
em sua língua de chegada, por vezes, misturando a pronúncia de ambos os idiomas, e
resultando em uma tradução que não é a correta. Por exemplo, em uma aula de prática
de interpretação simultânea, na Universidade Católica de Santos, uma aluna do 8º
semestre do curso de Tradução e Interpretação, que no momento era a intérprete ativa
ouviu o orador dizer the character e traduziu o termo como ‘o caráter’, quando na
verdade, a tradução correta seria ‘a personagem’.

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Existem certas situações em que tal deslize pode ocorrer, como por exemplo nos
casos de semelhança fonética e falsos cognatos.

A semelhança fonética ocorre quando se pretende falar um termo, mas acaba-se


por falar outro parecido. Por exemplo, Quental, no mesmo artigo acima mencionado,
cita o exemplo de um colega que estava participando de um congresso de veterinária em
que o orador disse que o gato fora abandonado in the gutter, ou seja, na ‘sarjeta’ mas o
intérprete não encontrou em sua memória tal termo. Acabou por falar ‘gorjeta’, por
serem parecidas suas pronúncias. Isso, segundo Quental, talvez se deva à pressão do
tempo, fator predominante na interpretação simultânea e, por isso, o cérebro acaba
enganado pela forma da palavra e escolhendo um termo errado.

Já os falsos cognatos são certas palavras da língua de partida que possuem uma
semelhança fonética com outras palavras da língua de chegada, como actually, que é
muitas vezes traduzida como ‘atualmente’, quando sua tradução correta seria
‘realmente’ ou ‘na verdade’.

A decodificação fonética também pode acarretar erros na interpretação, caso um


termo não seja entendido corretamente pelo intérprete, devido a um ruído externo ou à
má qualidade do som, ou até mesmo se o orador não pronuncia com clareza as palavras,
o profissional poderá escolher um termo errado, comprometendo todo o contexto de sua
interpretação e causando estranheza ao ouvinte. Por exemplo, Quental cita um erro
próprio de decodificação fonética em que a oração italiana era l’ingegnere piú creativo
dell’impresa, mas a intérprete entendeu l’ingegnere piú cretino dell’impresa. Em vez de
traduzir ‘criativo’, ela retransmitiu como sendo ‘cretino’. Mas, felizmente, com a ajuda
de seu companheiro de cabine, teve tempo de corrigir seu erro, o que muitas vezes não
será possível ao intérprete devido ao ritmo do evento e do palestrante.

Outro obstáculo para o intérprete são os nomes próprios que poderão aparecer de
citações dos palestrantes, por exemplo. Muitas vezes, virão de idiomas estrangeiros de
difícil pronúncia como o alemão, francês, chinês e tantos outros. A atenção do
profissional terá que ser redobrada e, se possível, deve haver uma preparação prévia
quanto a possíveis menções dos nomes.

Um exemplo de dificuldade na parte morfossintática é o gênero. Algumas


palavras na língua inglesa, por exemplo, não possuem um gênero explícito; portanto,
não será possível saber de imediato se está se falando de um homem ou de uma mulher,

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30

como as palavras teacher ou doctor. O intérprete não terá como saber se é ‘professor’
ou ‘professora’, ‘doutor’ ou ‘doutora’ logo após ouvir a palavra ser pronunciada. Porém,
com o decorrer do discurso ficará nítido a qual está se referindo. O profissional terá que
esperar a finalização da sentença ou trecho do discurso, o que poderá causar problemas
ao intérprete, pois muitas vezes não será possível ou viável tal espera.

Os artigos também podem causar problemas na hora da interpretação, pois se o


palestrante usar o termo the e o intérprete estiver traduzindo em um ritmo muito
próximo da fala do orador, o profissional poderá optar por traduzi-lo como ‘a’ e, logo
em seguida, ser surpreendido com uma palavra do gênero masculino.

A falta de equivalência na língua de chegada é outro fator que por vezes causa
problema ao intérprete. Por exemplo, no inglês, a palavra marriageable não possui uma
tradução direta na língua portuguesa, Não existe o termo ‘casável’ em português,
dando, assim, ao intérprete um pouco mais de trabalho, pois este terá que transmitir em
mais de uma palavra o sentido da palavra estrangeira, que seria ‘aquele (a) que pode
casar’.

Existe, ainda, a dificuldade devido às diferenças de culturas. A língua de um


modo geral é o reflexo da visão de mundo, da personalidade e das crenças de um
determinado povo. Existem línguas que são mais detalhadas, enquanto outras são mais
sucintas. Portanto, as expressões cristalizadas devem receber uma atenção redobrada por
parte do intérprete, pois, muitas vezes, não soarão naturais na língua de chegada. Por
exemplo, a expressão know something like the back of your hand, traduzida em
português como ‘conhecer algo como a palma de sua mão’, causaria estranheza se fosse
traduzida como ‘conhecer algo como as costas de sua mão’.

Outro exemplo de diferença entre culturas pode ser visto nas cores. Enquanto, na
língua inglesa, o termo blue (‘azul’) é usado com um significado mais negativo, como
na expressão to be blue (‘estar triste’), na língua portuguesa, o mesmo termo tem um
sentido oposto, mais positivo, como na expressão ‘tudo azul’, que quer dizer ‘está tudo
bem’, ‘tranquilo’.

As piadas também são muito problemáticas para o intérprete, pois muitas vezes
estão ligadas diretamente a algo de uma cultura ou povo específico. É o caso da
Premiação do Oscar, em que são feitas muitas piadas durante o evento, porém em geral

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31

estão relacionadas aos americanos e à sua realidade. Portanto, quando traduzidas para a
língua de chegada, muitas vezes não fazem sentido.

Outro fator que pode comprometer uma interpretação são os números. Para lidar
com eles, o intérprete precisa redobrar sua atenção. Em geral, quando aparecem em uma
palestra, podem, dependendo do assunto do evento, encontrar o intérprete desprevenido,
diminuindo assim sua capacidade de percepção e aumentando suas chances de cometer
um erro. Uma teoria que tenta explicar tal dificuldade é a de que o intérprete tem sua
formação baseada em ciências humanas, portanto, não possui um contato tão constante
com números, como teria um profissional na área de ciências exatas (QUENTAL, 2006,
p. 33).

Além do campo fonético, morfossintático, cultural ou numérico, algo que pode


atrapalhar e muito o trabalho de um intérprete é quando ele leva para a cabine uma
pressuposição subjetiva a respeito do evento ou do orador. Ainda em seu artigo (ibid., p.
32), Quental dá um exemplo desse tipo de situação. Ela diz que, certa vez, durante um
evento, um palestrante mostrou uma foto com duas mulheres e as apresentou como suas
wife and daughter, ‘esposa e filha’, porém o intérprete omitiu essa informação por não
acreditar que tivesse entendido corretamente, o que causou uma ausência de informação
em sua interpretação. E tudo isso ocorreu porque simplesmente antes de começar o
evento, o intérprete teve um contato breve com o palestrante e achou que o mesmo
possuía um jeito um pouco afeminado, chegando à conclusão de que o palestrante era
homossexual e, portanto, não poderia ter esposa e filha.

A fim de minimizar alguns dos erros e dificuldades que abordamos acima,


descreveremos, no capítulo a seguir, algumas teorias interpretativas que explicam como
o intérprete processa as informações recebidas da língua de partida e as transpõem para
a língua de chegada.

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32

3. Abordagem teórica da Interpretação

Inicialmente, as teorias sobre interpretação estavam muito ligadas às da tradução


e eram menos valorizadas (PÖCHHACKER, 1995, p. 31). Para muitos, ainda hoje,
apesar de avanços no campo da interpretação, ainda é uma área de pouco
desenvolvimento teórico. Segundo John Matthews, “se os estudos da interpretação são
considerados uma disciplina separada dos estudos da tradução, então estão bem
atrasados”7 (apud ibid., p. 32, tradução nossa).

Porém, duas teóricas se revelaram decisivas para a teorização interpretativa.


Danica Seleskovitch e Marianne Lederer, com seu Modelo Interpretativo, procuraram
decifrar o processo cognitivo pelo qual os profissionais passam no momento em que
realizam a interpretação. Tal modelo, que veremos a seguir, também aponta caminhos
para solucionar parte das dificuldades apresentadas no capítulo anterior.

Posteriormente, também discorreremos brevemente sobre a Teoria da Relevância


de Sperber e Wilson, que nos apresentam conclusões elucidativas quanto à relação
cognitiva entre intérprete e ouvinte.

3.1 O modelo interpretativo de Lederer

De acordo com a Professora Emérita da Universidade de Sorbonne Nouvelle


Marianne Lederer (2003, p. 6), em seu livro Translation: The Interpretive Model, a

7
“if interpreting studies is considered a separate discipline from translation studies, then it is lagging
behind.”

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33

interpretação de conferência é a pura representação de como um discurso ou um texto


passa pela mente do tradutor e se transforma em uma nova manifestação.

Uma das descobertas de Lederer (2003, p. 11), a partir de sua observação da


prática interpretativa, é que bons intérpretes se comportam como ouvintes comuns. Eles
entendem o discurso que estão traduzindo, assim como entenderiam as palavras
dirigidas a eles se não estivessem exercendo sua profissão.

Lederer define os mecanismos pelos quais o intérprete passa durante o processo


interpretativo. O primeiro deles é a desverbalização, pois, após o fim de um discurso,
dificilmente lembramos cada palavra dita, mas mantemos uma memória desverbalizada,
em que temos consciência daquilo que foi dito. A mensagem desverbalizada que
armazenamos associada com o conhecimento extralinguístico designa-se sentido.

Ocorre, então, a apreensão do sentido, ocasião em que não se pode deixar que a
semântica (o significado das palavras) se sobreponha a cognição (compreensão do
sentido), pois, se perdermos tempo com o significado de uma única palavra durante o
discurso, teremos dificuldade em apreender o sentido daquele trecho.

O sentido, por sua vez, segmenta-se nas chamadas unidades de sentido, que, de
acordo com Lederer, são o resultado da fusão dos semanticismos vocabulares e dos
aportes (inputs) cognitivos8.

Enquanto um discurso se desdobra, os intérpretes ouvem palavras que se


sucedem, havendo, em intervalos regulares, uma espécie de ‘gatilho’ do
entendimento. Esses intervalos assinalam o momento em que os ouvintes
ativam uma unidade mental distinta – uma ideia – o conhecimento que o
falante presume que possuam.9 (2003, p. 18, tradução nossa)

Como consequência, a autora conclui que as unidades de sentido existem


somente no âmbito do discurso e não na seara das palavras, dos sintagmas, das
colocações e das expressões (ibidem). Na prática da interpretação, “as unidades de

8
Os inputs cognitivos são definidos por Lederer como sendo os componentes nocionais e emocionais a
partir do conhecimento de mundo e do conhecimento contextual atrelados aos significados discursivos e
textuais que compõem o sentido (ibid., p. 223-224).
9
“As a speech unfolds interpreters hear words follow one another and at regular intervals there is a sort of
‘trigger’ of understanding. These intervals mark the moment when a distinctive mental unit – an idea - is
constituted, as addressees actualize the knowledge which speaker assumes they have.”

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34

sentido se sobrepõem na mente do intérprete simultâneo para produzir um sentido


geral”10 (LEDERER, 2003, p. 18, tradução e grifo nossos).

Outros processos ligam-se à forma pela qual todas aquelas informações serão
processadas e passadas para o outro idioma. Assim, temos a parte do entendimento da
pronúncia do falante, e o processo em que utilizamos nossos conhecimentos de mundo
que incluem todos os conhecimentos linguísticos e extralinguísticos, que, segundo
Lederer, podem ser reativados a qualquer momento por um estímulo tanto externo
quanto interno. A partir daí, atingi-se o momento de reverbalizar todas aquelas
informações utilizando as ideias principais.

Assim, Lederer afirma que os intérpretes devem expressar o significado


pretendido pelo palestrante de forma espontânea, sem tentar traduzir as palavras usadas.

Algumas vezes, no entanto, as pessoas acreditam que a função do intérprete é


reproduzir exatamente as palavras do orador, o que pode frustrar as expectativas de
alguns ouvintes. Lederer (ibid., p. 82) nos conta em seu livro sobre uma passagem que
haveria ocorrido com André Kaminker, citado no capítulo 1, que, em um determinado
evento em que atuou, foi abordado por um participante que reclamava de sua
infidelidade ao discurso original. Em resposta, Kaminker teria dito: “eu não disse o que
você disse, mas o que você deveria ter dito”11 (ibidem, tradução nossa).

Além da tradução do sentido, outras características aparecem em uma


interpretação simultânea. Segundo Pöchhacker, “o cliente do intérprete de conferências
não quer um texto traduzido, mas precisa de um evento comunicativo muito mais
complexo”12 (1995, p. 35).

Assim, segundo Lederer, nós só podemos dizer algo certo se sentirmos da


maneira certa, pois o tom apropriado é tão importante quanto dizer as palavras certas.
Logo, o tom e as palavras vêm à mente do intérprete se ele se identificar completamente
com o palestrante.

Um conselho de Lederer a seus alunos, que acreditamos servir a todos os


intérpretes, é: “identifique-se com o palestrante, visualize a cena descrita, faça

10
“Units of sense overlap one another in the simultaneous interpreter’s mind to produce an overall sense.”
11
“I did not say what you said but what you should have said.”
12
“The conference interpreter’s client does not want a text to be translated but needs a much more
complex communicative event.”

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35

associações entre ideias, reaja às informações e expresse-se de forma espontânea”13


(LEDERER, 2003, p. 82, tradução nossa).

3.2 A teoria da relevância de Sperber & Wilson

A outra teoria relacionada à interpretação simultânea que abordaremos neste


capítulo é a teoria da relevância proposta por Deirdre Wilson e Dan Sperber (apud
VIANNA, 2010), que utilizaram como base as ideias de Paul Grice, filósofo inglês e
professor de filosofia em Oxford, para o qual não bastaria a um ouvinte que quer
entender um falante apenas conhecer o idioma, mas sim envolver outros conhecimentos
para compreender o significado implícito na fala.

Segundo Branca Vianna, em seu artigo Teoria da Relevância e Interpretação


Simultânea (2010), há na teoria da relevância algo chamado de ambiente cognitivo, que
seria tudo que está na cabeça do ouvinte e que ele tem acesso para compreender uma
determinada fala.

Na teoria da relevância, os efeitos cognitivos são o resultado de se processar uma


fala de acordo com o ambiente cognitivo de cada um e dentro do contexto pretendido
pelo falante, e os efeitos de processamento são definidos pelo esforço de percepção,
memória e inferência do ouvinte (VIANNA, 2010).

De acordo com Vianna, ao aplicar esses fatores na interpretação simultânea, o


intérprete deve fazer com que o texto original seja interpretado de forma relevante aos
ouvintes, mas sem que a interpretação seja idêntica ao original. Além disso, o intérprete
deve transmitir os efeitos cognitivos sem levar o público a um esforço de processamento
desnecessário.

13
“Identify with the speaker, visualise the scene described, make associations between ideas, react to the
information’ and ‘express yourselves spontaneously.”

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36

Dessa forma, o trabalho do intérprete pode ser resumido pela seguinte


afirmativa: “Faça seu público esquecer que eles estão ‘somente’ ouvindo a uma
interpretação”14 (AIIC apud PÖCHHACKER, 1995, p. 39, tradução nossa).

Algumas sugestões apresentadas por Vianna para evitar tal esforço incluem, por
exemplo, o emprego dos empréstimos, quando o orador diz uma palavra em sua língua
de origem e o intérprete mantém, na língua de chegada, essa mesma palavra em sua
forma original, porém aclimatando-a à pronúncia da língua alvo. Tal procedimento é
indicado quando o termo estrangeiro é mais rápida e confortavelmente absorvido na
língua de chegada pelo público presente do que uma tradução forçada e artificial, o que
aumentaria sobremaneira e gratuitamente o esforço de processamento do público.

Este exemplo nos remete a uma questão maior colocada por Pöchhacker (1995,
p. 44). Se os intérpretes estão fazendo sua interpretação de acordo com as convenções
da cultura da língua alvo, logo existe na interpretação uma forma de transferência de
cultura.

Outra sugestão de Vianna é a de que o intérprete deva perceber algo que possa
ser cortado sem que represente perda para o ouvinte, ganhando tempo dessa forma e
evitando esforço de processamento por parte do ouvinte. Esta recomendação vem ao
encontro de uma das dificuldades vistas no capítulo anterior, relacionada à velocidade
natural do discurso oral. Para Danica Seleskovitch (apud PAGURA, 2002), o ato
interpretativo ocorre em uma velocidade muito maior do que o ato tradutório.

14
“Make your public forget they are ‘only’ listening to an interpretation.”

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37

4. Análise do Corpus: Relatos dos Intérpretes

Tendo discorrido sobre as características e as dificuldades da interpretação


simultânea, bem como algumas das teorias da interpretação, julgamo-nos em condições
de investigar, neste capítulo, por meio de relatos dos próprios profissionais, como se dá
a formação dos intérpretes, sua preparação para o ofício e a relação dos concabinos na
prática profissional.

4.1 Metodologia

Para tal intento, decidimos realizar uma pesquisa de campo, que começou com a
ideia de contatar intérpretes que trabalham na área e realizar uma entrevista de acordo
com o que considerávamos relevante para este trabalho.

O primeiro passo foi conseguir o contato dos intérpretes. Tínhamos alguns e-


mails de intérpretes que já havíamos conseguido durante palestras das quais havíamos
participado e encontramos outros no site da APIC. A lista completa dos entrevistados
contendo seus resumos profissionais e acadêmicos encontra-se no Apêndice I.

A maioria dos contatos se deu por e-mail, e a eles foi enviado um pequeno
questionário que continha as seguintes perguntas:

1- Em que consiste a sua preparação prévia para o trabalho?

2- Você utiliza glossários? Em caso afirmativo, como os prepara? Existem outras


formas de prepará-los?

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38

3- Você costuma trabalhar com intérpretes que já conhece? Prefere trabalhar dessa
forma? Há diferenças marcantes entre esta configuração e aquela em que os
concabinos não se conhecem?

4- De que maneira vocês concabinos se auxiliam antes e durante a interpretação?


Quais são as formas de auxílio que melhor se adequam a situação em cabine? E as
que definitivamente não dão certo?

Ao obter as respectivas respostas, optamos pela abordagem metodológica


proposta por Tognini-Bonelli denominada corpus-driven research e traduzida pelo
professor e linguista Tony Berber Sardinha como ‘pesquisa movida a corpus’, que “visa
à descrição abrangente dos dados, sem a intenção de selecionar exemplos para ilustrar
elementos oriundos de uma teoria específica. […] A evidência [é] fornecida pelo
[próprio] corpus” (2002, p. 34).

Assim, as próprias respostas por eles apresentadas, que vêm a ser nosso corpus,
nos levaram a categorização que mostraremos a seguir, a saber: formação dos
intérpretes, condições pré-interpretação, pré-preparação para um trabalho, preparação
direta para o trabalho, antecipação ao e familiarização com o evento e relação entre os
concabinos.

4.2 Formação dos intérpretes

De acordo com as próprias respostas apresentadas pelos entrevistados, para a


maioria, a formação dos intérpretes é considerada um fator de extrema importância.

A formação do intérprete está de certa forma ligada à do tradutor, pois ambos


devem conhecer tanto a língua de partida quanto a língua de chegada com as quais irão
trabalhar.

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39

Claro que não apenas conhecimento da língua, mas outras habilidades devem ser
desenvolvidas no processo. O intérprete de conferências sênior da União Europeia
Roderick Jones (apud PAGURA, 2002) define claramente qual o trabalho do intérprete:

Ao falarmos de compreensão, referimo-nos não à compreensão de palavras,


mas de ideias, pois são as ideias que teremos de interpretar. Obviamente. Não
se podem compreender as ideias se não se compreenderem as palavras que o
orador está utilizando para expressá-las, ou caso não se esteja
suficientemente familiarizado com a gramática e a sintaxe da língua do
orador, para que seja possível acompanhar suas ideias.

Portanto, o trabalho do intérprete está além simplesmente de conhecer as línguas


que trabalhará, pois sua mente necessita passar rapidamente por vários processos,
conforme vimos no modelo interpretativo de Lederer no capítulo 3.

Seleskovitch e Lederer (apud PAGURA, 2002) afirmam que “o intérprete ouve


[da seguinte maneira]: o intérprete concentra-se completamente no significado do que o
orador quer dizer, captando todas as nuanças e sutilezas”.

Algumas vezes, o intérprete não é necessariamente um bacharel em


Interpretação, mas sim em outras áreas, pois até recentemente não existia uma grande
oferta de cursos específicos para a formação desses profissionais, os quais, em função
disso, muitas vezes acabaram por aprender essa profissão diretamente na prática.

De acordo com a AIIC (2010e), um intérprete precisa ter uma excelente


capacidade de análise e de síntese, a habilidade de se expressar com exatidão e de
maneira agradável, um grande poder de concentração, um bom nível de conhecimentos
gerais e o desejo constante de se aperfeiçoar.

Assim, ao entrar em contato com diferentes intérpretes, é possível perceber que


as características listadas pela AIIC são pontos comuns entre eles.

Para a intérprete de conferências Simone Montgomery Troula, por exemplo, um


intérprete tem que estudar sempre e ler muito, sendo importante conhecer até a Biblía,
independente de sua religião, mitologia e literatura, pois as citações dessas áreas acabam
sendo frequentes em discursos.

Segundo a advogada, intérprete de conferências e tradutora pública Marina


Poggi, para a preparação de um intérprete é necessária muita leitura. Há um certo

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40

consenso entre intérpretes de que são necessários pelo menos 15 anos de leitura de
jornal antes de atuar profissionalmente.

O conhecido intérprete Ulisses Wheby de Carvalho diz também que a formação


de um intérprete passa por educação acadêmica, hábitos de leitura, interesses e viagens.
Até mesmo hobbies podem ser úteis na formação. Como exemplo, o intérprete cita que,
por conhecer e acompanhar times de futebol, foi fácil compreender uma referência
sobre o assunto feita pelo palestrante em um determinado evento.

Portanto, um intérprete precisa de uma boa bagagem, sendo possível adquiri-la


com leitura, conhecimento de cultura geral e experiências de vida, para que possa
constantemente ampliar seu ambiente cognitivo, conforme visto no capítulo anterior.

A questão da formação serve como base a um outro alicerce muito importante


para um intérprete: sua reputação - que pode demorar a ser construída, mas pode ser
destruída rapidamente. Assim, ele deve preservá-la seguindo preceitos como aqueles
ditados pelo código de ética da AIIC, apreciado no capítulo 2.

Especificamente com relação ao sigilo profissional, a tradutora e intérprete


Ângela Levy define como deve ser a postura do intérprete com uma ótima metáfora:

o bom profissional da interpretação deverá agir sempre – com relação ao


cliente – como o médico consciencioso, responsável e honesto, que jamais
fala com quem quer que seja sobre seus pacientes, suas doenças ou seus
problemas. (1998, p. 17)

A intérprete Marilia Rebello, também faz referência a qualidades indispensáveis


a um bom intérprete: “o currículo oculto adquirido em casa, a solidariedade, a discrição,
tolerância, ética e boa vontade são muitos dos requisitos imprescindíveis”, pois um bom
intérprete não necessita apenas de formação ‘acadêmica’, mas também da formação
humana.

A questão da experiência é determinante para um intérprete, pois quanto mais


horas em cabine, maior a familiarização com a função e a maneira de se preparar para
os trabalhos. Segundo Ewandro Magalhães Jr, a experiência facilita o ofício, pois
existem habilidades que só se adquirem com o tempo, como por exemplo, a obtenção de
um maior número de informações em um menor espaço de tempo:

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41

O bom intérprete é também um pouco detetive. Precisa saber onde buscar as


informações e precisa saber as perguntas certas. Não há regras e nem truques.
É uma especialização que vem com o tempo.

4.3 Condições pré-interpretação

Existe um período anterior à contratação definitiva do intérprete, em que para


muitos é o momento no qual o intérprete tomará a decisão de aceitar ou não
determinado trabalho.

Ao ser contatado para realizar um trabalho, o intérprete deverá saber a duração


do trabalho e a sua disponibilidade para realizá-lo. O passo seguinte são as perguntas
que o intérprete deve fazer para evitar surpresas desagradáveis ao chegar a seu local de
trabalho.

A AIIC disponibiliza, em seu Guia Prático para Intérpretes Profissionais de


Conferência (PRACTICAL..., 2010), uma série de itens a serem verificados antes de o
intérprete aceitar um trabalho:

• Natureza do evento e assunto

• Datas e locais

• Horas de trabalho

• Condições técnicas (cabines, visibilidade, equipamento)

• Regime de línguas

• Disponibilidade de textos e documentos

• Membros da equipe, concabinos e líder da equipe

• Gravação e/ou transmissão da interpretação

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• Modo de interpretação (simultâneo, consecutivo, sussurrado)

• Funções sociais (jantares, viagens, etc)

• Taxas profissionais, despesas de viagem, acomodação, alimentação

• Data da confirmação

• Forma de pagamento

Dessa maneira, o intérprete busca garantir que terá tudo que precisa para realizar
um bom trabalho. Ainda assim, mesmo se precavendo, situações inesperadas algumas
vezes podem ocorrer.

4.4 Pré-preparação para um trabalho

Após aceitar o trabalho, começa um estágio que consideramos como a pré-


preparação do intérprete. De acordo com as respostas, cada intérprete conduzirá essa
etapa da melhor forma que considerar, analisando também o tipo de trabalho.

Segundo Magalhães Jr, alguns fatores nortearão essa etapa, como a familiaridade
com o assunto, a exposição anterior ao evento, o nível de complexidade, os idiomas
envolvidos, a antecedência da contratação e a eventual especialização do colega
concabino, entre outros.

A pré-preparação, para Marina Poggi, “dependerá do assunto, do palestrante, do


material fornecido e, principalmente, do tempo hábil que terá para se preparar”.

Em algumas ocasiões, esta fase é facilitada, de acordo com Magalhães Jr. No


caso de um evento já realizado anteriormente, é provável que o intérprete já tenha o
material, podendo, assim, utilizá-lo para consulta, além de lembrar-se das exigências do
evento. Assim, nos casos em que os temas são recorrentes, haverá facilidade maior na
preparação.

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Já em alguns casos, o período entre a data do contato e a data do trabalho em si é


muito curto, o que prejudica sua preparação. De acordo com Magalhães Jr, os serviços
dos intérpretes podem ser solicitados de última hora, fator este que prejudica a boa
preparação para o evento.

Quando um intérprete tem uma semana de muitos trabalhos, como eventos de


assuntos distintos, ou até mesmo dobradinhas (dois ou mais eventos num só dia), torna-
se difícil se preparar a contento. Por isso, muitas vezes, a experiência do intérprete
ajudará a suprir essa falta de tempo para se preparar como gostaria.

Outro fator que interfere nessa etapa é o nível de complexidade do evento. Para
o intérprete e tradutor Lucio Reiner, por exemplo, “em eventos científicos, há tempo de
preparar glossários, pesquisar e trocar informações com os colegas, mas em eventos
mais genéricos, políticos ou difusos, não há muita preparação possível, valendo a
experiência e a cultura geral”.

Assim, para Simone Montgomery Troula, em certos eventos não há um assunto


em específico. Qualquer assunto poderá ser abordado pelo palestrante e o intérprete
deverá se valer de seus conhecimentos gerais.

Além disso, na maioria das vezes, conforme exposto no capítulo 2, um trabalho


de interpretação contará no mínimo com dois intérpretes, havendo casos e necessidade
de esse número ser maior. Em situações desse tipo, é comum haver um intérprete
organizador que reunirá os intérpretes para o trabalho. Esse processo de seleção varia,
mas para Marilia Rebello, caso ela seja a intérprete organizadora, será extremamente
seletiva na escalação, o que para ela é muito importante. Já Marina Poggi, caso ocupe a
mesma posição, convidará o melhor intérprete para cada situação. E “melhor intérprete”
significa ser o mais preparado, o mais simpático e que não crie problemas. Mas em
muitas situações, devemos nos adequar ao profissional que está disponível naquele
momento.

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4.5 Preparação direta para o trabalho

O intérprete necessita estar muito bem preparado para realizar seu trabalho.
Segundo Pagura (2002), o intérprete deve adquirir todo o conhecimento necessário e o
vocabulário específico antes de realizar a interpretação, pois durante o processo não há
tempo hábil para nenhuma consulta, no máximo aquela ao companheiro de cabine sobre
alguma expressão, por exemplo.

A preparação direta para o trabalho está ligada a maneira pela qual os intérpretes
conseguem as informações que julguem necessárias. Para cada um, isso se dá de uma
maneira diferente, havendo também os pontos comuns entre eles.

Primeiramente, faz-se a pesquisa sobre o assunto do determinado trabalho, por


meio de leituras, consulta a dicionários, glossários prontos e/ou manuais com
informações técnicas, bem como conversas com especialistas. Ou trocas de informações
com colegas que possam já ter trabalhado com o mesmo assunto, entre outras formas.

De acordo com Magalhães Jr, na Europa, nos órgãos mais importantes, “os
intérpretes chegam a ser remunerados por dias adicionais nos quais dedicam-se
exclusivamente à preparação”, ficando claro aqui que algumas instituições reconhecem
que leva tempo e requer esforço para se preparar.

4.5.1 Fator Internet

Um ponto claramente comum entre a grande maioria dos intérpretes é o fato de


utilizarem a internet para realizar suas pesquisas, pois, nos dias atuais, a web tem se
tornado a arma mais poderosa para auxiliar os intérpretes na preparação para seus

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trabalhos. A própria AIIC considera a internet uma das fontes principais usadas pelos
intérpretes ao se prepararem para um trabalho.

Na internet, é possível pesquisar sobre o orador, e, por exemplo, descobrir


informações a seu respeito por intermédio de vídeos, apresentações antigas, etc.
Magalhães Jr comenta que apresentações em vídeo do orador ajudarão a conhecer
aspectos como sotaques e terminologias.

Além do orador, é possível acessar o site da empresa contratante ou obter


informações sobre o evento, o produto e até terminologias específicas de um
determinado assunto.

Alguns sites como o Wikipedia e/ou Google, acabam sendo mais utilizados por
alguns intérpretes em busca por informações. A advogada, tradutora jurídica e intérprete
Luciana Carvalho diz que uma forma de pesquisa utilizada por ela é digitar palavras-
chave do assunto pretendido no Google.

Nos dias atuais, é muito comum a utilização de laptops conectados à internet


dentro das cabines, sendo utilizados, como por exemplo, para consultas online,
visualização de glossários, ou digitação de palavras pelo intérprete passivo caso o
colega necessite, entre outros.

4.5.2 Material do cliente

Outra fonte que serve de preparação é o material disponibilizado pelo próprio


cliente. Ao entrar em contato com o cliente, o intérprete costuma solicitar o máximo de
informações possíveis sobre aquele determinado evento e assunto.

As solicitações feitas ao cliente incluem: apresentações em Powerpoint,


programação e público alvo do evento, material de referência, pauta da discussão e
sugestões de leitura ao organizador, entre outras. Segundo a tradutora e intérprete
Martina Sayer, a preparação poderá ser melhor direcionada caso o intérprete venha a ter

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informações precisas. É claro que nem sempre essas solicitações são atendidas.
Algumas vezes, o intérprete recebe o material minutos antes da apresentação.

Poggi comenta que, se o intérprete estiver com sorte e os organizadores tiverem


a presença de espírito de enviar o material com mais de cinco minutos de antecedência,
será algo que ajudará. Portanto, toda ajuda do cliente feita com antecedência é de grande
auxílio aos intérpretes, garantindo a eles uma melhor preparação para desempenhar sua
função.

4.5.3 Conversa com o palestrante

Ter a possibilidade de conversar com o palestrante antes do trabalho é de grande


importância para os intérpretes. Para Ângela Levy, esse contato auxilia na compreensão
do tom de voz, o timbre, do sotaque e da velocidade de sua fala.

De acordo com Magalhães Jr, o mais importante é a disposição do palestrante


em cooperar, reunindo-se com os intérpretes para uma rápida troca de informações e
materiais. O intérprete completa dizendo que isso nem sempre acontece, pois nem todos
se dispõem a conversar com os intérpretes, ou o fazem de má vontade (MAGALHÃES
Jr, 2007, p. 129). Contudo, na maioria dos casos, “haverá boa vontade e um encontro de
15 minutos é suficiente para passar aos intérpretes vocabulário e informações que serão
críticos durante a palestra” (ibid., p. 130-131).

Com o intuito de facilitar essa interação entre palestrante e intérprete, Magalhães


Jr (ibid., p. 219) elaborou, com a ajuda da Profª. Drª Débora Diniz, um documento com
recomendações aos palestrantes que se apresentam utilizando a interpretação simultânea
(ver Anexo II). Naturalmente, tal documento deve ser vertido para a língua de cada
orador.

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4.5.4 Glossário

A preparação de um glossário, de acordo com a AIIC (PRACTICAL..., 2010), é


um processo importante de aprendizado, pois é o que ajudará o intérprete a entender e a
memorizar a terminologia.

Para Poggi, geralmente os glossários só servirão como preparo, pois raramente


haverá tempo hábil na cabine para utilizá-lo e encontrar a palavra de que se necessita.
Para Sayer, “os glossários não servem apenas para sistematizar, mas para ajudar a fixar
o assunto e os termos”, além de auxiliar em um próximo evento da mesma área.

A grande maioria dos intérpretes entrevistados utiliza glossários e muitos já


possuem inúmeros deles prontos, adquiridos ao longo dos anos de trabalho.

O preparo desses glossários varia muito, e cada profissional acaba por criar um
método próprio. Alguns utilizam glossários feitos no processador de texto Word,
somente em formato eletrônico, outros preferem escrevê-los em um caderno, como é o
caso da intérprete Tereza Sayeg, pois é assim que os memoriza, e da intérprete
Marialice Marechal, que prefere ter seus glossários em cadernos ao invés de estudá-los
pelo computador. Assim, cada intérprete organiza seu glossário da forma que lhe
parecer mais proveitosa e prática.

A socióloga e intérprete Maria Louise Phillips apresenta um esquema bem


organizado para seus glossários. Faz, por exemplo, um glossário mestre separado dos
outros, que se destinam a siglas, nomes em latim, nomes de remédios, nomes de pragas,
etc. Além disso, se o glossário principal ficar muito extenso, ela cria um em separado
que contenha o vocabulário considerado mais importante para revisões rápidas, o que
nos parece uma excelente ideia.

As informações que constarão nos glossários vêm da preparação, pois, a partir


das pesquisas, o intérprete selecionará os termos que julgar necessários e os colocará
nos glossários, que são em sua maioria bilíngues.

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Os critérios utilizados para decidir quais palavras farão parte do glossário


dependem de cada intérprete, podendo conter, por exemplo, palavras novas que possam
representar desafios, palavras que possuam significados distintos em áreas diferentes ou
quaisquer palavras que o intérprete considere pertinentes.

Alguns intérpretes utilizam glossários prontos que podem ser os que já tenham
preparado em outros momentos, os que existam na internet, os glossários feitos por
colegas ou os glossários disponibilizados pelos próprios clientes. Portanto, a criação dos
glossários acaba sendo um processo de escolhas individuais.

Além disso, um mesmo glossário pode ser modificado com o tempo, pois não é
algo fixo e sim dinâmico, podendo aumentar a cada evento, segundo Reiner.

Em trabalhos que envolvam um grupo de intérpretes, uma opção é que os


glossários sejam trocados entre eles antes do trabalho.

Os glossários podem ser modificados até mesmo durante um evento, porque ali
surgem palavras novas a serem acrescentadas. Magalhães Jr diz que costuma recolher os
papéis que ficam na cabine ao final do trabalho e depois passa a limpo as anotações
feitas por ele e pelo colega. Dessa forma acaba tendo certeza de que está anotando algo
que lhe causou problema e que possa surgir em uma reedição do mesmo evento.

Outra forma de preparar o glossário é utilizar algum software eletrônico de


processamento de textos mais avançado que o Microsoft Word, pois, quando houver
muitos materiais, pode-se cruzar as informações. A intérprete Luciana Carvalho, por
exemplo, utiliza o software concordanceador WordSmith tools.

Uma opção durante o evento é utilizar post-its com colas de palavras


consideradas importantes e colocá-los de forma estratégica na cabine facilitando a
visualização no momento que for necessário.

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4.6 Antecipação ao e familiarização com o evento

Ao ser contratado para um novo trabalho, o intérprete deve ponderar questões


como com quais pessoas trabalhará, local do evento e sua duração, quais são as
empresas responsáveis pelo som, qual o tipo de roupa adequado, os horários, entre
outros.

Phillips, para quem esses fatores são de extrema importância, só trabalha com
profissionais recomendados por pessoas ou organizações em que confie, não aceitando
condições inferiores de trabalho, pois isso afetará a profissão como um todo. É também
importante saber sobre a empresa responsável pelo som, pois, sem qualidade de apoio
na cabine e de equipamento, o resultado não será satisfatório.

Uma boa sugestão de Phillips é ir ao local de trabalho, caso seja desconhecido,


um dia antes para saber o caminho, verificar as condições de estacionamento, fazer um
reconhecimento do local, checar itens como a localização de banheiros e salas de slides,
retirar o crachá com antecedência, verificar se haverá água e/ou comida no local, etc.
Um comentário importante feito por ela é a existência de estudos comprovando que a
desidratação afeta a concentração. No dia do trabalho, Poggi avisa que é necessário
chegar bem preparado antes, pois não há tempo para sanar lacunas de conhecimento na
cabine.

O tipo de roupa também deve ser levado em consideração, pois o trabalho do


intérprete nem sempre será realizado dentro de uma cabine, como explica Troula, ao
dizer que a maneira como o intérprete se apresenta é importante. Sendo assim, é melhor
resolver na véspera do trabalho que roupa usará, levando sempre em conta que os
intérpretes trabalham em ambientes completamente diferentes, pois, de manhã podem
estar em ambiente informal e a noite em um banquete.

A pontualidade é muito importante; portanto, o intérprete deve chegar sempre


antes. Para Troula, o intérprete deve chegar no mínimo meia-hora antes do horário
marcado para o início.

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Segundo Phillips, chegar cedo auxilia por inúmeras razões. Pode-se, por
exemplo, conversar com os garçons para pedir água e explicar como entrar na cabine
sem fazer barulho, conhecer o pessoal que cuida do som e testá-lo, checar a internet na
cabine, e verificar com eles se o modem não causará interferência. Além disso, é
possível falar com quem distribui os documentos explicando as necessidades dos
intérpretes, verificar se há necessidade de um crachá, descobrir a pronúncia dos nomes
dos convidados e até mesmo traduzir ocasionalmente materiais insuspeitos como menus
se for necessário. Por fim, pode-se pedir ao organizador um bom informante que
domine o vocabulário nas duas línguas para sanar dúvidas.

Outra necessidade dos intérpretes para um evento é o que pode ser chamado de
‘kit’, que será utilizado por cada intérprete dentro cabine e que conterá o que cada um
considerar necessário e importante.

Phillips inclui em seu ‘kit’ itens como post-it, binóculos, caneta, bloquinho,
lanche, casaco, extensão e plugue de três saídas (benjamin) para os computadores, etc.
Para Levy, deve-se portar itens como dicionários, caneta e bloco.

4.7 Relação entre os concabinos

A relação entre os concabinos é algo a ser levado em consideração, pois a


harmonia ou a falta dela entre eles poderá acarretar um trabalho tanto satisfatório quanto
deficiente, pois o que conta para o cliente e para o público é o trabalho da cabine e não o
desempenho individual.

Uma das primeiras atitudes é saber quem será seu concabino e se vai trabalhar
com alguém conhecido ou não. Nas duas situações, haverá obviamente o contato antes
do trabalho, mas, se for o caso de não se conhecerem, se faz necessária uma
apresentação. Segundo Manuel Sant'iago Ribeiro, “apresente-se, principalmente se você
for uma fração menos conhecido, do que, digamos, Elvis Presley”15 (2010).

15
“introduce yourself, particularly if you’re a fraction less well known than, say, Elivis Presley”

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51

Para Sayeg, como a composição das equipes varia muito, é importante ser
flexível, pelo fato de dividir um espaço pequeno com outra pessoa que não tem
necessariamente os mesmos hábitos.

Além de ser flexível, respeitar o outro é fundamental. Para Sayer, precisa-se


respeitar a maneira de ser e/ou trabalhar do colega e ajudar quando necessário, tomando
cuidado para não atrapalhar e avaliando o que é razoável e adequado.

É de igual importância o diálogo entre os concabinos, pois, de acordo com


Sayer, se houver algum problema, deve-se conversar para resolvê-lo, pois “clima ruim
na cabine é muito nocivo não só para o trabalho, mas para a saúde”.

Pelo fato de ser uma relação entre pessoas, como acontece em qualquer outra, há
maior empatia com uns do que com outros. Como disse Sayeg, “quanto a concabinos, é
como tudo na vida: gosta-se mais de uns que de outros”.

Segundo Ulisses Wheby de Carvalho, raramente acontecem problemas, pois,


acumulando muitos anos de experiência, já trabalhou com muitos intérpretes e
normalmente, há uma camaradagem entre os colegas. É evidente que existem exceções,
havendo atitudes que chegam a prejudicar o trabalho, como animosidade na equipe, mau
comportamento por parte do colega, barulho dentro da cabine, concabino que digita sem
parar em seu laptop enquanto o outro está interpretando, entre outras.

Rebello cita alguns problemas, como por exemplo, desde não usar desodorante
ou usar perfume demais, fator citado também por Ribeiro (2010), assim como folhear
jornais, fazer gestos em demasia, não desligar o microfone ou ligar de forma errada,
entre outras atitudes contraproducentes que caracterizam um mau concabino. Assim,
deve-se sempre atentar para as boas maneiras que permeiam qualquer relação humana e
cuidar para preservá-las.

Na questão feita aos intérpretes se costumam trabalhar com intérpretes que já


conhecem, a grande maioria deles respondeu que sim e cada qual apresentou razões para
que isso ocorresse de acordo com suas experiências. Levy diz que só trabalhou com
desconhecidos no início de sua carreira, pois não havia intérpretes disponíveis na época,
então ficava feliz quando algum aparecia. Portanto, “sentir o concabino” ficava por
conta de conversas nas línguas de trabalho.

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52

Ulisses Wheby de Carvalho quase sempre trabalha com quem conhece, pois o
tempo de experiência viabiliza isso e havendo a possibilidade de escolher com quem
trabalhará, o fará.

Mas, alguns expuseram que nem sempre isso ocorre. Magalhães Jr, por exemplo,
citou o fato de que, como freelancers, dificilmente poderão escolher os colegas com
quem trabalharão. No caso da intérprete Anna Vianna, por trabalhar em mercados
internacionais, tem a oportunidade de realizá-lo com novos colegas.

Com relação à preferência em trabalhar dessa maneira, conhecendo seus


concabinos, a resposta praticamente unânime foi sim, e cada um apresentou seus
motivos para isso. Magalhães Jr acredita que é sempre melhor trabalhar com alguém
com quem já se esteja acostumado e ainda melhor se for alguém de quem gostamos. A
psicóloga e intérprete de conferências Judith Vero diz que por conhecer a pessoa, já se
saberá como a dupla funcionará. O mesmo pensamento tem a tradutora e intérprete Lara
Moammar.

Luciana Carvalho afirma que “quando há entrosamento da equipe é menos um


item de estresse e tensão em uma atividade que por si só já é muito estressante”. Reiner
diz que trabalhar com quem já conhece é fator de tranquilidade e a professora e
intérprete Raffaella de Filippis Quental segue pelo mesmo caminho ao dizer que é muito
mais confortável trabalhar dessa forma.

Na visão da tradutora e intérprete de conferências Mariana Escosteguy Cardoso,


familiarizado com seu concabino, você se sentirá mais à vontade e já conhecerá seu
estilo. Assim, o trabalho ficará mais linear e os ouvintes perceberão menos a diferença
entre um intérprete e outro, especialmente se existir também afinidades pessoais nesse
caso. Além do quê, o intérprete que está como passivo ficará mais à vontade no
momento em que o outro estiver trabalhando e conseguirá "descansar" um pouco mais.

A tradutora e intérprete consecutiva e simultânea Patrizia Coppola afirma que,


no início de sua carreira, preferia sempre trabalhar com as mesmas pessoas, por se sentir
mais confortável dessa forma. Havendo menor nível de estresse, uma vez que, quando
se conhece o concabino, tem-se maior afinidade em dividir a cabine e busca-se o mesmo
estilo de trabalho.

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4.7.1 Colegas novos

Apesar das preferências em trabalhar com quem já se conhece, sempre há a


possibilidade de dividir a cabine com um colega novo. Para alguns, isso pode gerar um
pouco mais de estresse, que pode, entretanto, ser contornado. Para outros, não há
problema algum em trabalhar com um colega novo, sendo isso também uma questão de
preferência pessoal.

A tradutora e intérprete Flávia Maria Egner, por exemplo, não vê problema em


trabalhar com um colega novo. Vero pensa de forma semelhante, pois nunca se omite
em trabalhar com um principiante por acreditar na colaboração e passagem de know-
how.

Moammar diz gostar de

trabalhar com colegas novas, e que se deve lembrar sempre de combinar as


preferências de cada uma e encontrar um denominador comum antes do
início do trabalho, tais como tempo para revezamento/forma de ajuda durante
o trabalho, etc.

Cardoso afirma que pode ser muito enriquecedor trabalhar com pessoas às quais
você não está acostumado e que se acaba normalmente prestando mais atenção no
trabalho do concabino nesses casos, aprendendo mais com ele do que com as pessoas
com quem já está acostumada.

Para Coppola, com a experiência a pessoa se sente mais preparada e se sai bem,
mesmo se for trabalhar com um colega novo, sendo o nível de estresse bem menor.
Além disso, trabalhando com vários colegas, acaba-se por aprender estilos diferentes,
sendo igualmente enriquecedor. Troula, por sua vez, comenta que às vezes tem-se uma
surpresa muito agradável e gosta-se muito de alguém que você vem a conhecer pela
primeira vez.

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54

Quando o concabino é novato, de acordo com Ulisses Wheby de Carvalho,


costuma haver uma demonstração de consideração e cordialidade para com o intérprete
mais experiente.

No entanto, claro está que não conhecer seu parceiro será sempre um fator
delicado. Para Reiner, por exemplo, “com intérpretes desconhecidos existe estresse
adicional ao não se saber nível de conhecimento, rapidez, precisão, e até, eventuais
manias”, situação citada também por Quental, quando diz que, ao se trabalhar com
alguém novo, haverá sempre certa tensão no ar, pois não se sabe como será a interação
com o outro.

Na questão feita para saber se há muitas diferenças entre o trabalho feito quando
os concabinos se conhecem e quando não, cada intérprete apresentou o seu ponto de
vista, pois cada um lida de uma maneira diferente com esse tipo de situação.

Levy acredita que trabalhar com um concabino desconhecido raramente dá certo


por haver certa desconfiança mútua, o que gera na cabine um ambiente mais tenso do
que o normal.

Já Egner expõe que a diferença está na liberdade que existe quando o concabino
é conhecido. Para Luciana Carvalho, a diferença existe ao saber previamente o grau de
competência e confiabilidade de seu concabino.

Marechal aponta que não há diferença entre os intérpretes serem conhecidos ou


não, sendo importante a qualidade do trabalho do colega novo para não denegrir a
imagem dos dois, uma vez que o ouvinte não sabe diferenciá-los.

Muitas vezes, essa relação mudará em cada caso. De acordo com Poggi, cada
situação é única. Um exemplo disso se dá quando você entra na cabine com alguém que
já conhece mas que naquele dia está de mau humor, o que pode gerar certo desconforto
entre os concabinos. Em outros casos,

você entra numa cabine numa outra cidade ou país, conhece o concabino lá
mesmo e é uma pessoa adorável que se torna uma grande amiga para o resto
da vida, portanto não existem regras que possam gerar diferenças marcantes.

Para Sayer, quando não se conhece o concabino, corre-se o risco de este não ser
um profissional, ou não ter se preparado, ou até mesmo não dominar os idiomas. O que

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conta é o resultado final e não o rendimento individual, sendo praticamente impossível


trabalhar sozinho. Por outro lado, entre colegas que se conhecem, normalmente a
cooperação é melhor, e não há muita necessidade de palavras/explicações, e funciona
quase que automaticamente, gerando um resultado muito melhor. Quando for o caso de
se trabalhar com um colega novo, deve-se entrar em contato por telefone e/ou e-mail e
conversar “a fim de tentar assegurar o melhor trabalho e a melhor cooperação”.

A tradutora e intérprete Regina Silveira argumenta que a diferença está no fato


de que “quando não se conhecem, um pode acabar atrapalhando o outro”.

Para Troula, quando os concabinos não se conhecem, a princípio há uma certa


tensão “até que o gelo se quebre”, mas mesmo assim existe a cordialidade. Na primeira
vez em que trabalham juntos, os intérpretes avaliam a capacidade um do outro. O
mesmo não acontece com alguém conhecido, uma vez que, nesse caso, essa avaliação já
foi feita anteriormente. Segundo Sayer, ambos devem estar igualmente preparados.

Para muitos intérpretes, a produção da cabine é uma só. Portanto, um bom


trabalho é aquele em que o cliente não sabe quem foi o melhor intérprete, mas o
trabalho realizado na cabine foi, de uma maneira geral, bom. Ulisses Wheby de
Carvalho acrescenta que, quando forma equipes de intérpretes, tenta reunir pessoas de
níveis próximos para ter uma equipe com igualdade de forças.

4.7.2 Auxílio entre concabinos

O auxílio entre os concabinos pode ser feito principalmente em dois momentos,


no período que antecede a interpretação e durante a mesma.

No período anterior à interpretação, esse auxílio pode se dar ao compartilhar


informações sobre o material pesquisado, tirar dúvidas, combinar algo que seja
necessário para o trabalho e trocar glossários, entre outras questões que forem
pertinentes.

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56

Para Levy, “o auxílio antes da interpretação está em trocar informações e


glossários sobre o assunto e sobre o palestrante (ou palestrantes) e se um dos intérpretes
conseguiu falar com ele”. De acordo com Cardoso, o auxílio varia de pessoa para pessoa
e está relacionado com a familiaridade existente com seu concabino.

Para Magalhães Jr, uma forma de definir como será o trabalho é fazer um
pequeno briefing (um bate-papo rápido) para que os intérpretes exponham suas
preferências de trabalho. Segundo o intérprete, “numa conversa franca e objetiva, é
possível aos concabinos alinhar expectativas em relação a aspectos como ajuda,
presença em cabine, divisão do tempo e até preferências terminológicas”
(MAGALHÃES Jr, 2007, p. 114). É neste momento que se define a forma ideal de
ajudar o colega, caso este necessite, pois há intérpretes que preferem que o parceiro saia
da cabine ou procure não interferir.

Há, também, aqueles que têm dificuldade em ler dentro da cabine e que,
portanto, preferem receber ajuda por meio de mímica ou através de alguma dica
sussurrada. Há outros, porém, que não admitem em hipótese alguma que se diga
qualquer coisa na cabine. Também, é importante definir a alternância de turnos e
determinar quem controlará o tempo e por que relógio. Por isso, uma conversa antes se
torna fundamental, pois facilitará o trabalho e, assim, cada um saberá como agir.

Durante a interpretação, o auxílio entre os intérpretes pode ocorrer das mais


variadas formas, existindo aquelas que acabarão se adequando melhor a cada situação.

Sayer orienta que, se houver um chefe de equipe, suas orientações devem ser
seguidas. O intérprete deve, também, lembrar-se da etiqueta geral da cabine: mantê-la e
deixá-la arrumada.

Silveira aponta que o melhor a fazer é manter a calma, respeitar o concabino e


estar disponível para ajudar. Além disso, Ulisses Wheby de Carvalho recomenda que,
caso haja necessidade de corrigir o parceiro, deve se fazer com prudência para que a
pessoa não encare isso como uma ofensa.

De acordo com Levy, durante a interpretação, esse auxílio ocorre de maneira


mútua com a procura de termos importantes no dicionário. Para Luciana Carvalho, as
melhores ajudas são as discretas, que garantem uma boa interpretação do intérprete
ativo. Reiner acrescenta que esse auxílio deve ser sempre por escrito, pontual e apenas
em casos indispensáveis.

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Em um ambiente tão tenso, é sempre bom aliviar a tensão. Portanto, Poggi


considera que a melhor forma de auxílio é:

botar um sorriso na cara, elevar o astral e não trazer problemas pessoais ou


desvios de comportamento para a cabine. Afinal, o trabalho já é difícil, os
níveis de tensão são elevados, qualquer distração pode ser fatal, portanto o
clima criado em cabine pode determinar a qualidade do resultado geral
daquele dia de trabalho. E boas piadas sempre aliviam a tensão.

Segundo Rebello, trabalhar em dupla significa co-pilotagem, pois o concabino


deve ter presença de espírito para passar a palavra certa no momento certo. Caso a
palavra não seja para uso imediato, a tática utilizada por ela é cobrir com a mão a
palavra e assim o colega entenderá que não precisa olhar naquele momento.

A ajuda costuma ser de forma silenciosa. Ulisses Wheby de Carvalho, por


exemplo, nos dá a sugestão de apontar a palavra para o colega utilizando uma caneta.
Algumas vezes, a ajuda se dá por leitura labial, mas em sua maior parte de forma
escrita, dependendo sempre de qual será a melhor forma para cada um.

Moammar e Vero, por exemplo, preferem que sua ajuda se dê sempre na forma
escrita e não falada. Da mesma forma, Sayeg completa dizendo que, por estar com os
fones, não ouvirá os sussurros.

Quental acredita que a melhor forma de ajudar é através de bilhetes, mas sempre
de forma criteriosa e com bom senso, “pois se o termo for irrelevante ou já tenha
passado, não adianta mandar bilhete, que só atrapalha”.

Alguns preferem que a ajuda seja falada e/ou preferem também falar na hora de
ajudar o colega. Se o auxílio se der dessa forma, pode-se apertar o botão mute e
sussurrar, agindo da maneira que for melhor para ambos.

Outra forma de colaborar é buscar palavras em glossários, dicionários e até na


internet. Assim, Egner comenta que o auxílio pode ser feito ao buscar palavras
desconhecidas ao colega ou até apresentar uma melhor tradução para um termo.

Magalhães Jr, por exemplo, costuma pedir aos seus colegas, em um primeiro
encontro, que o ajudem com os números, porque tende a se confundir um pouco com
números e nomes. Em geral, isso ocorre no início da apresentação, já que depois
familiariza-se e seu colega pode descansar. Outra dica de Magalhães Jr é que

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58

também é útil pedir ao colega que localize uma palavra no dicionário, se


necessário, ou o ponto do texto em que o orador está (no caso de uma
digressão), pois embora o próprio intérprete possa fazer isso, é uma estratégia
muito custosa em termos de tempo e capacidade de processamento. Então é
melhor deixar com o colega.

Na fase passiva, o intérprete deve estar sempre a postos. Para Levy, o intérprete
passivo deve ficar sempre alerta à possibilidade de precisar tomar o lugar do colega, em
caso de alguma eventualidade e principalmente em casos mais comuns do que se pensa,
como um “branco súbito”, por exemplo. Para Egner, “às vezes você não consegue
traduzir um orador por um determinado motivo, então pede para o colega pegar a
tradução”.

Existem também as questões técnicas relacionadas ao trabalho, que podem ser


resolvidas pelo intérprete passivo. Luciana Carvalho apresenta algumas delas, como
controlar o tempo da interpretação, lidar com imprevistos em relação ao equipamento,
luz, som etc. e garantir um ambiente propício para a interpretação, por exemplo:

atendendo alguém que porventura bata à porta da cabine, pedindo para as


pessoas que se posicionam em frente à cabine para não impedir a visão do
intérprete que está na vez, entre outros.

São questões que podem parecer simples, mas que fazem muita diferença para
quem está realizando a interpretação.

Da mesma forma que existem atitudes que ajudam e muito, existem também as
que devem ser evitadas ao máximo, pois acabam atrapalhando o colega. São atitudes
como, fazer barulho, tocar no colega enquanto este está fazendo a interpretação, esperar
alguma atitude de seu concabino sem ter combinado previamente com ele e cobrá-lo por
isso, entre outras. Cada intérprete tem aquelas que mais o desagrada. Para Levy, por
exemplo, o que mais atrapalha e incomoda, produzindo efeito contrário ao desejado, é
falar junto com o colega, pois, ao agir assim, cria-se um estado de tensão, o ambiente
fica mais carregado e o rendimento cai, fazendo com que o público perceba de imediato.

No caso de Magalhães Jr, o que não funciona é impor sua vontade ao colega,
sem um questionamento prévio. O que também incomoda é ser cutucado pelo colega ou

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59

ter o microfone ‘cortado’ para dizer algo que o concabino considere importante. Agindo
assim, o intérprete passivo tira a concentração do ativo e, segundo Magalhães Jr, isso
“equivale a uma verdadeira declaração de guerra. É preciso ter tato e cuidado e lembrar
sempre da máxima: muito faz quem não atrapalha!”.

De acordo com Egner, o intérprete passivo não deve falar em voz alta uma
palavra com o microfone aberto, e sim escrever a correção, mas não atropelando o
colega e exigindo que ele a leia de imediato. Deve-se esperar o pedido de ajuda. Egner
completa: “definitivamente não ligue seu microfone e pegue a tradução sem que seja
pedido”.

Para Vero, a atuação em cabine pode ser corrompida pela tensão e pelo estresse,
assim como falar e/ou tecer comentários enquanto o colega está trabalhando e os
microfones estão abertos. Luciana Carvalho diz que as ajudas indiscretas que envolvam
barulho ou muitos movimentos e contato físico são as que não funcionam dentro da
cabine.

Na opinião de Reiner, as atitudes que não dão certo são:

falar "dicas" na cabine, intervir em excesso no trabalho do colega (o ótimo é


inimigo do bom), não respeitar os intervalos de trabalho (por exemplo, se
foram combinados 20 minutos cada não passar o microfone com 15 ou
demorar 25 fora da cabine). Comentar em tom crítico ou jocoso intervenção
do palestrante. Tossir, fumar, comer balinhas ou mascar chiclete (todo
barulho perturba).

Troula expressa que qualquer barulho feito na cabine é péssimo, como por
exemplo, ler jornal ou mexer na bolsa ou em papéis, porque, para os ouvintes da
interpretação, um barulho de fundo passa uma impressão muito ruim. Em sua opinião,
as ajudas feitas de forma oral acabam desconcentrando o colega, dando ao ouvinte uma
grande insegurança.

Portanto, como já foi dito, o intérprete deve sempre ter em mente que o trabalho
é feito por duas pessoas, e é importante que transpareça o trabalho da cabine e não de
um único individuo, valendo o conselho de Levy:

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Experimentar, experimentem trabalhar com todos os que aparecem, mas


fiquem com aqueles com quem melhor se afinam, porque o ambiente de
trabalho na cabine é muito tenso por sua própria natureza – e não dá espaço
para antipatias, ciúmes, críticas subjetivas ou a colocação propositada de
empecilhos ao bom desempenho do colega, quando ele é visto como um rival
e não um colaborador...(1998, p. 16).

Assim, uma conversa clara entre os intérpretes sobre o seu modo de trabalhar e
suas preferências é importante para que consigam criar um ambiente de trabalho
harmônico, o que é benéfico para todos.

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61

Considerações Finais

O objetivo deste trabalho foi descobrir como acontece na prática a preparação de


um intérprete profissional, assim como a relação entre os concabinos, fatores
imprescindíveis para que haja uma satisfatória interpretação simultânea.

Os estudos para a preparação deste trabalho começaram pela história da


interpretação, por meio da qual pudemos perceber que essa atividade acompanha a
humanidade há muitos anos. Depois, vimos algumas de suas modalidades, bem como as
características e dificuldades da interpretação simultânea em particular.

A seguir, passamos por algumas das teorias que envolvem a interpretação, sendo
possível concluir que há ainda muitos estudos a serem feitos a esse respeito, mas os que
existem podem fornecer uma boa base aos intérpretes e os auxiliar a superar grande
parte das dificuldades.

A forma pela qual julgamos ser melhor para ter acesso as informações com
relação a nosso objeto de estudo foi entrar em contato com alguns intérpretes e
questioná-los a esse respeito. A partir de suas respostas, criamos um caminho que nos
pareceu natural a ser seguido, mostrando que há uma sequência, de certa forma lógica,
percorrida por eles.

As questões abordadas sobre o tema visavam encontrar soluções para os


problemas que envolvam a preparação e a relação entre os concabinos, e acreditamos
que as informações obtidas foram satisfatórias para esse propósito.

Uma sugestão que pode ser considerada é a pesquisa com um número ainda
maior de intérpretes e um melhor levantamento estatístico de questões relativas a esses
tópicos, tentando chegar próximo dos fatores imprescindíveis à preparação e das
qualidades indispensáveis a um bom concabino.

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62

Referências Bibliográficas

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Disponível em: <http://www.terezasayeg.com.br/traducao/>. Acesso em: 29 de maio
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SAYEG, Tereza. Tradução Consecutiva. Disponível em:


<http://www.terezasayeg.com.br/traducao-consecutiva/>. Acesso em: 28 de maio
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THOMAS MANN. Disponível em:


<http://books.google.com.br/books?id=n4p0O97RntAC&pg=PA260&dq=speech+is+ci
vilisation+itself+the+word+the+magic+mountain&hl=pt-
BR&ei=vHzLTIyBN4K88gbupITsAQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&
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VIANNA, Branca. Teoria da Relevância e Interpretação Simultânea. Disponível em:


<http://brasil.aiic.net/ViewPage.cfm/article1538.htm>. Acesso em: 28 de set. 2010.

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Bibliografia Consultada

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<http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm>. Acesso em: 08 de maio 2010.

DICIONÁRIO PRIBERAM DA LÍNGUA PORTUGUESA. Disponível em:


<http://www.priberam.pt/dlpo/>. Acesso em: 30 de set. 2010.

RODERICK JONES. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/32974864/Note-


Taking-Essay>. Acesso em: 01 de nov. de 2010.

SIMONE MONTGOMERY TROULA. Disponível em:


<http://www.apic.org.br/php_mysql/site/page.php?key=58>. Acesso em: 28 de out. de
2010.

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2010.

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<http://www.wordreference.com/enpt/>. Acesso em: 25 de jun. 2010.

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66

Apêndice I

Este apêndice contém uma pequena biografia dos intérpretes que nos auxiliaram
nesse trabalho. As informações foram fornecidas pelos próprios profissionais.

Ângela Levy
Primeira intérprete simultânea a trabalhar no Brasil. Criadora do Curso de Tradução e
Interpretação da Associação Alumni, onde ainda dá aulas de tradução e interpretação.
Trabalha também como tradutora inglês – português – inglês, com especialização em
medicina e literatura.

Anna Luiza Vianna


Línguas :A: Português B: Inglês C:Francês
Membro da AIIC, da APIC e do SINTRA (Sindicato dos Tradutores). Atua como
intérprete nos mais variados tipos de eventos.
Formação acadêmica: Formação de Tradutores – PUC – Rio de Janeiro
Formação de Intérpretes (Inglês) – PUC – Rio de Janeiro
Mestrado em Biologia (Especialização em Biofísica)
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho – UFRJ
Pesquisa para o mestrado (Institut Jacques Monod – Université Paris VII /Paris/França)
Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas – USU – Rio de Janeiro

Ewandro Magalhães Jr
Ocupa o cargo de Chefe da Seção de Interpretação da União Internacional de
Telecomunicações (UIT), agência especializada das Nações Unidas com sede em
Genebra, na Suíça, onde mora com sua família. Brasileiro de Belo Horizonte, é
intérprete de conferências, professor e escritor. Acumula cerca de 1.200 dias de
conferências em quatro continentes, tendo servido regularmente ao Departamento de
Estado americano, o FMI, a OEA, o BID, a OPAS e o Banco Mundial e clientes da
iniciativa privada. Foi intérprete de inúmeros chefes de estado e governo e tem
Mestrado em Interpretação de Conferências pelo Instituto Monterey, da Califórnia, do
qual também é professor adjunto. É autor de "Sua Majestade, o Intérprete - O
Fascinante Mundo da Tradução Simultânea", lançado em 2007 pela Parábola Editorial.
Membro da TAALS (The American Association of Language Specialists).

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Flávia Maria Egner


Intérprete e Tradutora em Inglês/Português/Inglês, Espanhol/Inglês e Espanhol/
Português. Graduada em Inglês e Português pela Universidade de São Paulo - USP
e em Tradução e Interpretação pela Associação Alumni São Paulo. Membro da APIC.
Intérprete do FMI (Fundo Monetário Internacional)
Experiência Profissional: trabalha como tradutora e intérprete no Brasil e nos Estados
Unidos desde 1980 nas mais diversas áreas.

Judith Vero
Psicóloga e Intérprete de Conferências
Atua em Tradução Simultânea desde 1974 à presente data, em Congressos, Simpósios,
Cursos e Conferências no Brasil e Exterior.
Consultório desde 1978 - atendimento de adultos, casais e família.
Trabalhos Publicados
Livros – Alma Estrangeira – 2003 – Ed. Agora, S.Paulo
Falando de Amor – 2006 – Ed. Agora, S.Paulo – (Capítulo)
Paixões Tristes – no prelo – (Capítulo)
Rematrizando a Relação Pais-Filhos - (co-autora) - in Gonçalves, C.S.- Psicodrama com
Crianças, uma Psicoterapia Possível, Agora, São Paulo, 1988.
Integração de Pessoal na Empresa Através da Metodologia Psicossociodramática,
Revista da FEBRAP, vol.4, pg.153 a 159.
Idiomas fluentes: Português, Inglês, Frances, Espanhol e Húngaro
Conhecimentos – Italiano, Alemão

Lara Moammar
Tradutora e intérprete há 12 anos com experiência em arquitetura/urbanismo, política,
economia/finanças, relações internacionais, medicina, veterinária, mineração, indústria
automotiva, energia, créditos de carbono, responsabilidade social, papel e celulose,
telecomunicações, entre outras áreas; ONU, FMI, autoridades.
Diplomada em Pedagogia pela Universidade Mackenzie e em Tradução/Interpretação
pela Associação Alumni. Membro da APIC (Associação Profissional de Intérpretes de
Conferência).
Especialização no MIIS (Monterey Institute of International Studies)

Luciana Carvalho Fonseca


Advogada (UFPA), especialista em direito contratual (PUC/SP), mestre e doutoranda
em letras inglês (FFLCH/USP) na área de tradução jurídica e linguística de corpus.
Tradutora jurídica e intérprete de conferências. Professora de tradução jurídica e
interpretação consecutiva e simultânea do departamento de inglês da PUC-SP.
Professora do Curso de Formação de Tradutores e Intérpretes da Associação Alumni.
Professora da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, onde ministra inglês
jurídico a distância desde 2008 e autora da coluna semanal sobre inglês jurídico
MigaLaw English.

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Lucio Reiner Portela Vaz de Oliveira


Bacharelado em Relações Internacionais no Institut d’Études Politiques de Paris
Mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília
Especialização: “Theory and Operation of a Modern National Economy – Minerva
Program”. Universidade George Washington (Janeiro/Junho1998).
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
- Consultor Legislativo. Área de Ciência Política e Relações Internacionais. Câmara dos
Deputados, desde 1994.
- Técnico. Departamento de Organismos Internacionais. Banco Central do Brasil 1993-
1994
- Coordenador dos cursos de tradução da Universidade de Brasília 1988-1992
- Professor do curso de Letras-Tradução Francês da Universidade de Brasília 1988-
1992
- Editor. Editora Universidade de Brasília. Responsável pela coleções Ciência Política e
Pensamento Político Brasileiro. Coordenador do “Dicionário de Política” de N.
Bobbio.1982-1988.
Outras Informações:
- Intérprete e tradutor do Presidente da República, 2003-2010.
- Idiomas: Francês e Espanhol (ativos); Inglês (passivo)
- Residências no exterior: Argentina (10 anos); Espanha (8 anos); França (5 anos)
- Publicações recentes: Capítulo “O Brasil e a ordem internacional”, in Pensamento
Político Brasileiro, Fundação Konrad Adenauer, 2004, 2a. ed. 2006; artigo “Um novo
conceito de estado”, Cadernos Aslegis nº 14; artigo “A leste de Java”, Cadernos Aslegis
nº 8.

Maria Louise Phillips


Socióloga de formação, e intérprete desde 1984, membro da APIC desde 1986. Foi
intérprete permanente da OEA de 1991-1994, em Washington. Trabalhou para muitos
governos e organismos internacionais, e em tudo que se possa imaginar, desde viagens
por helicóptero para contatar tribos isoladas do grupo yanomami perto da fronteira com
a Venezuela, a simpósios sobre morcegos, vampiros, e viajando a serviço pelas
Américas (norte, central e sul), Europa, África e Ásia.

Marialice Marechal
Quanto à escolaridade, na época por não existir escola de intérpretes no Brasil, fez um
ano na Georgetown University - Washington D.C. . E quando começou a trabalhar
entrou como membro da APIC e na época foi a número 9 da associação. Sua área de
maior atuação é medicina.

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Mariana Escosteguy Cardoso


É tradutora e intérprete de conferências desde 2002. Trabalha com inglês, espanhol e
português e é membro da APIC.

Marilia Rebello
É membro da AIIC e APIC. Formada em Letras, habilitação Intérprete de Conferências
pela PUC/RJ 1982. Trabalha como intérprete desde 1983. Diretora do escritório Marilia
Rebello & Assoc Ltda (interpretação e tradução).

Marina Poggi
Idiomas Ativos:Inglês Italiano, Português e Espanhol
Idioma Passivo: Francês
Atividades profissionais: Advogada, Intérprete de Conferências e Tradutora Pública
Juramentada
1985- 1989 Advocacia Internacional Conversões da Dívida Externa
Pareceres para investidores estrangeiros tais como bancos, redes hoteleiras e
particulares. Redação de artigos para a Revista The Economist em particular nos
manuais para conversão de títulos da dívida externa brasileira
Cinema Publicitário e Institucional
Diretora Assistente na produção de filmes publicitários com Jaime Monjardim e filmes
institucionais com Nabor Filho
Interpretação de Conferências – Simultânea e Consecutiva
Interpretação de Conferências e de Reuniões Fechadas nas áreas de Política,
Administração de Empresas, Finanças, Economia, Literatura, Museologia, Artes
Plásticas, História, Engenharia, Tecnologia da Informação, Comunicações, Saúde,
Medicina, Pesquisa Tecnológica e de Mercado, Agricultura
Chefes de Estado: Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio da Silva, Khofi Annan,
Silvio Berlusconi, William Clinton, Fidel Castro
Ministérios: Relações Exteriores (Brasil, Argentina, Chile, Estados Unidos, Itália, Reino
Unido). Comunicações. Saúde. Turismo. Ciência e Tecnologia
Empresas: Whirlpool e Grupo Brasmotor, DM9 e DI Institucional, UBS, Kodak, Xeros,
HSM, Citibank, Unibanco, Itaú, Chase Manhattan, Dow Química, Microsoft, Gartner
Group, Eletropaulo, Eletrosul, Cosipa, etc... BNDES, BID,. Bradesco, Empresas de
Consultoria (Arthur D. Little, Arthur Andersen, KPMG, etc.) World Trade Center,
Bovespa. Fiesp, Fiesc
Instituições Acadêmicas: FGV, Wharton, MIT, Harvard, Duke, Dresden, Insead,
Kellogg
Consulados: Brasil, Argentina, Itália, Estados Unidos, Reino Unido
Organizações Internacionais: Nações Unidas (UNCTAD), Países Árabes, OEA, FMI,
OMS, etc.
1979-2009 - Tradução escrita de textos literários, técnicos, jornalísticos e discursos
oficiais.
Membro da ordem dos advogados do Brasil e da APIC.

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70

Martina Sayer
De nacionalidade alemã realizou diversos cursos dentro e fora do Brasil. Entre eles o
realizado de outubro 1985 a maio de 1991 – no Instituto de tradução e interpretação - da
Universidade de Heidelberg. O curso principal: tradução e interpretação - alemão,
português e inglês.
Tese: Preparação do intérprete para conferência no ramo automóvel
Atividade profissional:
A partir de 1990 - Trabalho free-lance de tradução e interpretação na Europa
A partir de 1993 - Paralelamente trabalho free-lance concursado para a cabine
portuguesa do Parlamento Europeu em Bruxelas e Estrasburgo e do Tribunal de Justiça
Europeu em Luxemburgo
2004 - Regresso ao Brasil, Joinville
Áreas de atuação: Política, macro/microeconomia, técnico/industrial, direito, meio
ambiente, tecnologia ambiental, medicina, odontologia, etc.
Ministérios alemães: Relações Exteriores, Meio Ambiente, Fazenda, Trabalho, Interior,
Educação
Ministérios brasileiros: Itamaraty, Agricultura, Trabalho, Previdência, Justiça
Congresso / Senado. Intérprete pessoal de Fernando Henrique Cardoso na Alemanha.
Interpretação de / para o Presidente Lula na Alemanha e no Brasil
Idiomas: Língua materna: Português/Alemão
Inglês
Associações profissionais: BDÜ, AIIC, APIC

Patrizia Coppola
Tradutora e Intérprete Consecutiva e Simultânea Inglês / Português / Inglês.
Membro da APIC. Formada pelo Curso de Formação de Tradutores e Intérpretes da
Associação Alumni, entre muitos outros cursos realizados.
Outros idiomas:
Italiano - ativo e passivo
Espanhol - passivo

Raffaella de Filippis Quental


Formada em Tradução e Interpretação de Conferência pela PUC-Rio e Mestre em
Linguística Aplicada pela Unicamp, está no mercado de interpretação desde 1990. É
professora de Interpretação simultânea e consecutiva no curso de Formação de
Intérpretes desde 1996 e foi professora de Tradução técnico-científica no curso de
Especialização em Tradução (Pós-graduação Latu Sensu) de 1997 a 2000, ambos da
PUC-Rio. Nos últimos anos, tem se dedicado mais à interpretação, área na qual trabalha
com os idiomas português, inglês, italiano e espanhol, nas mais diversas áreas, com
destaque para medicina. É sócia da AIIC, APIC, Abrates e SINTRA.

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Regina Silveira
Intérprete de Conferências. Licenciatura em Letras - Português – Inglês PUC - Rio de
Janeiro
Bacharel em Letras - Tradutor e Intérprete PUC - Rio de Janeiro. Curso de
Especialização para Intérpretes de Conferências pela Universidade de Georgetown
Washington, D.C. - E.U.A.
Classificação Linguística: A – Português/ B – Inglês/ C – Espanhol / Francês

Simone Montgomery Troula


Intérprete de Conferências
Idiomas ativos: Inglês, Francês e Português
Idiomas passivos: Espanhol e Italiano
Presidente eleita da APIC (Associação Profissional de Intérpretes de Conferência, São
Paulo) nos biênios 1984/1985, 1993/1994, 1995/1996.
Membro do Conselho da AIIC (Association Internationale des Interprètes de
Conférence, Genebra), representando o Brasil, por eleição, de 1996 a Janeiro 2003.
Tradutora Juramentada para os idiomas Inglês e Francês. Membro da Ordem de Rio
Branco (Itamaraty) no grau de Cavaleiro. Intérprete-chefe da Fundação Cabo Frio
(Itamaraty) de 1982 a 1994. Intérprete de Presidência da República para Inglês e
Francês entre 1980 e 1994 – período em que foi destacada pelo Ministério de Relações
Exteriores para acompanhar Chefes de Estado em visita oficial ao Brasil e Presidentes
da República brasileiros em visitas oficiais ao exterior. Intérprete Chefe da equipe (20
intérpretes) brasileira que trabalhou na Rio-92 em coordenação com os intérpretes da
ONU. Intérprete Chefe da equipe (68 intérpretes) brasileira que trabalhou no fórum
empresarial da ALCA, Belo Horizonte, 1997. Contratada pelo Governo Canadense para
trabalhar no Fórum (ALCA) das Américas em Quebec, 2001. Intérprete Chefe da equipe
(36 intérpretes) brasileira que trabalhou na XI UNCTAD, São Paulo, Junho de 2004.
Intérprete Chefe da equipe (84 intérpretes, idiomas Port./Árabe/Esp./Ingl./Francês) que
trabalhou na Cúpula América do Sul Países Árabes, Brasília, Maio de 2005.
Credenciada junto à OEA – Organização de Estados Americanos, trabalhou nas
Assembléias Gerais da Organização em Santa Lúcia, Brasília, San Salvador, Manágua,
Assunção, Santiago, Belém, Nassau, Monrouis, Panama, Lima, Santo Domingo,
Barbados, Quito – e em várias reuniões e conferências especializadas (drogas, AIDS,
terrorismo, direito internacional, democracia, etc) da OEA, OPAS, OMS na América do
Sul. Principal área de interesse e especialização no setor privado: Medicina. Participou e
organizou inúmeros cursos.

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Tereza Sayeg
Membro da APIC e da AIIC.
É intérprete de Inglês, Francês, Italiano e Espanhol há mais de 25 anos.
Formada em Filosofia pela PUC, Universidade Católica de São Paulo, fez Curso de
Tradução e Interpretação Inglês-Português/Português-Inglês na Associação Alumni, São
Paulo.

Experiência Profissional:
1981 - Trabalha como intérprete free-lance no Brasil e dá aulas no curso de Tradução e
Interpretação da Associação Alumni
1988-1995 - Trabalha como intérprete free-lance para a Comissão Européia e para o
Parlamento Europeu em Bruxelas, Bélgica. Trabalha também para a OTAN (Bruxelas),
UNICEF (Florença), BID (Hamburgo), CEMLA (Madrid).
1995-1998 - Trabalha como agente temporário para a Comissão Européia, a
única intérprete contratada com passaporte brasileiro.
1998 - Volta ao Brasil, onde trabalha no mercado privado em inúmeras conferências
médicas, de informática, finanças, marketing, veterinárias, além de continuar
trabalhando para organizações internacionais como a Comissão Européia (Brasília, São
Paulo, missões veterinárias, visitas do Presidente do Comitê Econômico e Social
Europeu ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil ), para a
Organização dos Estados Americanos (Trinidad Tobago, Caracas,Cartagena de Índias,
São José da Costa Rica), preparação da Cúpula das Américas (Monterrey, México),
Assembléia de Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento ( Fortaleza,
Belo Horizonte, Lima, Guatemala).

Ulisses Wehby de Carvalho


É Intérprete de Conferência há 18 anos. Foi professor do "Curso de Formação de
Tradutores e Intérpretes" da Associação Alumni e do curso de extensão "Prática de
Interpretação Simultânea" no UNIBERO. É autor dos livros "O Inglês na Marca do
Pênalti", Disal Editora, 2003; "Dicionário das Palavras que Enganam em Inglês",
Editora Campus/Elsevier", 2004; "Dicionário dos Erros Mais Comuns em Inglês",
Editora Campus/Elsevier, 2005. Ele é responsável pelo blog educacional Tecla SAP.
Desde março de 2009, é Presidente da APIC.

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Anexo I

Este anexo tem por objetivo definir os princípios de probidade, de


profissionalismo e confidencialidade que todos os membros da AIIC estão sujeitos a
respeitar ao trabalharem como intérpretes de conferência. Podemos estender tais
princípios a todos os profissionais da área, não necessariamente membros da referida
associação.

Código Deontológico

I. Objecto e Âmbito

Artigo 1

a. Este Código Deontológico (adiante referido como "Código") define os


princípios de probidade, profissionalismo e confidencialidade que todos os
membros da Associação se obrigam a respeitar no exercício da profissão de
intérprete de conferência.

b. Os Candidatos obrigam-se igualmente a respeitar o disposto neste Código.

c. O Conselho é competente, nos termos do Regulamento Disciplinar, para


sancionar qualquer violação dos princípios deontológicos estipulados neste
Código.

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II. Código de Honra

Artigo 2

a. Os membros da Associação obrigam-se a observar, "erga omnes", total e


absoluto sigilo profissional, quanto a tudo aquilo de que tenham tido
conhecimento no exercício da sua profissão, aquando de reuniões privadas.

b. Os membros da Associação coibir-se-ão de colher um qualquer proveito pessoal


de qualquer informação confidencial a que o exercício das suas funções de
intérprete de conferência lhes possa ter dado acesso.

Artigo 3

a. Os membros da Associação não aceitarão um contrato para o qual não se


reputem qualificados. A sua aceitação implica a assunção da responsabilidade
moral pela seriedade da sua prestação.

b. Os membros da Associação que recrutem os seus colegas, membros da


Associação ou não, assumem idêntica responsabilidade.

c. Os membros da Associação não aceitarão mais do que um contrato para o


mesmo período de tempo.

Artigo 4

a. Os membros da Associação não aceitarão funções ou cargos que possam


prejudicar a dignidade da profissão.

b. Os membros da Associação coibir-se-ão de qualquer conduta atentatória do bom


nome da profissão.

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Artigo 5

Os membros da Associação podem patentear a sua qualidade de intérpretes de


conferência, membros da Associação, para todos os fins profissionais, quer a título
individual, quer na qualidade de membros de um grupo ou de uma região a que
pertençam.

Artigo 6

a. Os membros da Associação obrigam-se, para com os seus colegas, a respeitar os


deveres de assistência moral e confraternidade.

b. Os membros da Associação coibir-se-ão de actos ou declarações que possam


prejudicar os interesses da Associação ou dos seus membros. Qualquer queixa
quanto ao comportamento de outro membro ou qualquer discórdia quanto às
decisões da Associação, serão formuladas e dirimidas no seio da Associação.

c. Qualquer litígio profissional superveniente entre dois ou mais membros da


Associação, incluindo candidatos, poderá ser submetido à arbitragem do
Conselho, excepto litígios de natureza comercial.

III. Condições de Trabalho

Artigo 7

Para assegurar uma prestação da melhor qualidade, os membros da Associação:

a. procurarão sempre conseguir as melhores condições de audibilidade, visibilidade


e conforto; basear-se-ão nomeadamente nas "Normas Profissionais" estipuladas
pela Associação e nas normas técnicas elaboradas ou aprovadas pela
Associação;

b. em princípio, não trabalharão sozinhos nem sem possibilidade de substituição,


numa cabina de interpretação simultânea;

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c. tentarão fazer com que as equipas sejam compostas de forma a evitar a


utilização sistemática de interpretação indirecta;

d. apenas aceitarão trabalhar em simultânea sem cabina, ou em modo sussurrado,


em circunstâncias excepcionais e desde que tal não comprometa a qualidade da
prestação;

e. exigirão visão directa e desimpedida sobre o orador e sala, não aceitando


portanto trabalhar a partir de televisores excepto em circunstâncias excepcionais
em que não for possível visão directa, desde que o sistema respeite as regras e
especificações técnicas adequadas da Associação;

f. exigirão a comunicação antecipada dos documentos de trabalho e dos textos a


serem lidos em conferência;

g. pedirão, se for caso disso, a realização de uma sessão preparatória;

h. não exercerão quaisquer outras funções, em conferências para as quais tenham


sido contratados na qualidade de intérprete de conferência.

Artigo 8

Os membros da Associação coibir-se-ão de aceitar - e "a fortiori" de oferecer - quer para


si próprios quer para colegas por seu intermédio recrutados, membros da Associação ou
não, condições de trabalho contrárias aquelas constantes deste Código ou das "Normas
Profissionais".

IV. Alterações

Artigo 9

As propostas de alteração a este Código, apresentadas após parecer jurídico, carecerão,


para serem aprovadas, de maioria de 2/3 dos sufrágios expressos em Assembleia Geral.

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Anexo II

Neste anexo, inserimos uma carta elaborada por Ewandro Magalhães Jr (2007,
p. 220-222), juntamente com a Profª. Drª. Débora Diniz, que pode ser de grande valia
caso você venha a trabalhar como intérprete. Sugerimos que ela seja vertida à língua do
palestrante e entregue a ele.

Caro conferencista,

Sua palestra terá interpretação simultânea para maior proveito dos colegas que
não têm fluência em seu idioma. O trabalho dos intérpretes será decisivo no êxito de sua
apresentação. E a qualidade da tradução será grandemente aumentada se você se
dispuser a seguir as orientações abaixo.

Não se esqueça porém, de que as recomendações a seguir são meros lembretes.


Implemente apenas aquilo que lhe seja possível, sem comprometer sua naturalidade.

ANTES DA APRESENTAÇÃO

• Informe-se sobre quem estará encarregado da interpretação de suas palestras.


Envie à equipe designada cópias de arquivos ou informações relevantes
(transparências, textos, citações etc.)

• Divulgue seus dados de contato e coloque-se à disposição para consultas.

• Evite o uso excessivo de siglas e abreviaturas.

• Identifique termos que podem ou devem ser mantidos na língua original.

• Use elementos gráficos e fontes que dêem boa leitura para alguém que se
coloque ao fundo da sala (é exatamente aí que os intérpretes costumam ficar).

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• Imprima e traga consigo cópias de sua apresentação e seu currículo.

NO DIA DA APRESENTAÇÃO

• Encontre-se com os intérpretes na sala de projeção (slide desk) em horário de sua


conveniência e deixe que acompanhem a preparação final de seus slides.

• Procure resumir em poucas palavras o objetivo geral de sua palestra e as


conclusões a que pretende chegar.

• Deixe com os intérpretes qualquer material impresso que pretenda ler durante a
palestra. Isso é particularmente importante no caso de citações literárias.

• Repasse com eles, rapidamente, qualquer vídeo que pretenda usar.

• Fale sobre piadas que pretenda contar. Algumas podem ser intraduzíveis. Os
intérpretes o ajudarão a adaptar o que for necessário e o orientarão sobre o que
deve ser evitado.

DURANTE A APRESENTAÇÃO

• Fale de modo audível e claro. Procure manter eventual contato visual com os
intérpretes.

• Deixe cada slide na tela por um segundo a mais. Isso dará tempo aos intérpretes
de concluir a leitura.

• Acostume-se a esperar um pouco além do normal pelas respostas da platéia.


Algumas pessoas reagirão primeiro que outras por não estarem usando a
tradução.

• Fale sempre ao microfone, mesmo para se dirigir a uma pessoa específica da


platéia. Essa pessoa pode estar recorrendo à tradução e só ouvirá o que você lhe
diz por intermédio dos intérpretes.

• Não se dê ao trabalho de repetir as perguntas que lhe forem dirigidas pelo


público. Os intérpretes já terão feito isso por você.

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• Desligue o microfone de lapela durante os intervalos ou caso se ausente da sala,


sobre tudo se pretende ir ao toalete.

DEPOIS DA APRESENTAÇÃO

• Dê suas impressões gerais sobre o trabalho dos intérpretes. Lembre-se: os


mesmos intérpretes poderão acompanhá-lo em outra palestra.

• Peça as impressões de seus intérpretes sobre sua apresentação. Veja o que é


possível melhorar de uma próxima vez.

• Dê seu depoimento sobre a qualidade do trabalho. Uma avaliação negativa


ajudará os intérpretes a trabalharem suas deficiências. Um encorajamento os
motivará a continuar trabalhando bem.

Os intérpretes – e a platéia – agradecem sua cooperação.

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