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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 690.811 - RS (2004/0137418-0)


RELATOR :
MINISTRO JOSÉ DELGADO
RECORRENTE UNIÃO :
RECORRENTE :
AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES - ANATEL
PROCURADOR :
DANIEL MARCHIONATTI BARBOSA E OUTROS
RECORRIDO :
ASSOCIAÇÃO DE COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA EDUCATIVA E
CULTURAL ALEGRETE - POPULAR/FM
ADVOGADO : ERNI FAGUNDES WOLLENHAUPT
EMENTA
ADMINISTRATIVO. RÁDIO COMUNITÁRIA. PROCESSO ADMINISTRATIVO.
PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO. MORA DA ADMINISTRAÇÃO. ESPERA DE
CINCO ANOS DA RÁDIO REQUERENTE. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA
EFICIÊNCIA E DA RAZOABILIDADE. INEXISTÊNCIA. VULNERAÇÃO DOS
ARTIGOS 165, 458, I, II, II E 535, II DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
AUSÊNCIA DE INGERÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO NA SEARA DO PODER
EXECUTIVO. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO PELA ALEGATIVA DE
VIOLAÇÃO DOS ARTIGOS 2º DA LEI 9612/98 70 DA LEI 4.117/62 EM FACE DA
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO DOS DEMAIS ARTIGOS
ELENCADOS PELAS RECORRENTES. DESPROVIMENTO.
1. Cuida-se de recursos especiais (fls. 367/397 e 438/452) ) interpostos, respectivamente,
pela AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES - ANATEL e pela UNIÃO,
ambos com fulcro na alínea "a", sendo o da ANATEL baseado também na letra "c" do art.
105, III, da Constituição Federal de 1988, em face de acórdão proferido pelo TRF da 4ª
Região, assim ementado (fl.- 333-v)
"ADMINISTRATIVO. RÁDIO COMUNITÁRIA. FUNCIONAMENTO. PROCESSO
ADMINISTRATIVO. OMISSÃO DO PODER PÚBLICO. RAZOABILIDADE.
APREENSÃO. POLÍCIA FEDERAL. INTERFERÊNCIA.
1. O conteúdo da sentença apelada não implica em invasão da competência do
Poder Executivo pelo Judiciário, posto não conceder autorização para o
funcionamento, mas apenas impede que o funcionamento da Rádio Comunitária seja
perturbada enquanto não for examinado o pedido de autorização.
2. O cidadão tem direito a receber um tratamento adequado por parte do Ministério
das Comunicações, que deve responder as postulações feitas. Não o tendo feito no
prazo da lei que rege os procedimentos administrativos, está a desrespeitar o devido
processo legal e a razoabilidade.
3. Embora os fiscais da Agência Nacional de Telecomunicações não tenham poderes
para, administrativamente, proceder à apreensão de bens e equipamentos no âmbito
de sua competência, tendo em vista a suspensão da eficácia do art. 19, inc. XV, da
Lei nº 9.472/97, pela medida cautelar concedida pelo Plenário do STF na ADIn nº
1.688, tal vedação não atinge os agentes da Polícia Federal, que têm o dever de
apreender os instrumentos utilizados na prática de crimes.
4. No tocante às alegações de interferência dos equipamentos da rádio comunitário
no espectro eletromagnético, compete à União Federal a respectiva fiscalização,
procedendo às medidas necessárias para evitar interferência em outros sistemas de
telecomunicações.
5. Apelações cíveis da ANATEL e remessa de ofício improvidas. Apelação cível da
União Federal parcialmente provida.”
2. Recursos especiais apreciados conjuntamente já que ambas as recorrentes requerem a
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anulação do acórdão por violação do artigo 535, II, (omissão), sendo que a União aduz,
ainda, afronta aos artigos 165 e 458 e incisos por ausência de fundamentação e, no mérito,
o provimento para determinar a reforma do acórdão. Não existe afronta aos artigos 165,
458, I, II, III e 535, II do Código de Processo Civil quando o decisório combatido resolve
a lide enfrentando as questões relevantes ao deslinde da controvérsia. O fato de não emitir
pronunciamento acerca de todos os dispositivos legais suscitados pelas partes não é
motivo para decretar nula a decisão.
3. Merece confirmação o acórdão que julga procedente pedido para que a União e a
ANATEL se abstenham de impedir o funcionamento provisório dos serviços de
radiodifusão, até que seja decidido o pleito administrativo da recorrida que, tendo
cumprido as formalidades legais exigidas, espera já há cinco anos, sem que tenha obtido
uma simples resposta da Administração.
4. A Lei 9.784/99 foi promulgada justamente para introduzir no nosso ordenamento
jurídico o instituto da Mora Administrativa como forma de reprimir o arbítrio
administrativo, pois não obstante a discricionariedade que reveste o ato da autorização,
não se pode conceber que o cidadão fique sujeito à uma espera abusiva que não deve ser
tolerada e que está sujeita, sim, ao controle do Judiciário a quem incumbe a preservação
dos direitos, posto que visa a efetiva observância da lei em cada caso concreto.
5. O Poder Concedente deve observar prazos razoáveis para instrução e conclusão dos
processos de outorga de autorização para funcionamento, não podendo estes prolongar-se
por tempo indeterminado”, sob pena de violação dos princípios da eficiência e da
razoabilidade.
6. Recursos parcialmente conhecidos e desprovidos.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça prosseguindo no julgamento, após o
voto-vista do Sr. Ministro Luiz Fux, por unanimidade, conhecer parcialmente dos recursos especiais e,
nessa parte, negar-lhes provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Luiz
Fux (voto-vista) e Denise Arruda votaram com o Sr. Ministro Relator.
Não participou do julgamento o Sr. Ministro Teori Albino Zavascki (RISTJ, art. 162, § 2º,
primeira parte).
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Francisco Falcão.
Brasília (DF), 28 de junho de 2005 (Data do Julgamento).

MINISTRO JOSÉ DELGADO


Relator

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RECURSO ESPECIAL Nº 690.811 - RS (2004/0137418-0)

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO (Relator): Cuida-se de recursos especiais (fls.


367/397 e 438/452) interpostos, respectivamente, pela AGÊNCIA NACIONAL DE
TELECOMUNICAÇÕES - ANATEL e pela UNIÃO, ambos com fulcro na alínea "a", sendo o da
ANATEL baseado também na letra "c" do art. 105, III, da Constituição Federal de 1988, em face de
acórdão proferido pelo TRF da 4ª Região, assim ementado (fl. 333-v):

"ADMINISTRATIVO. RÁDIO COMUNITÁRIA. FUNCIONAMENTO. PROCESSO


ADMINISTRATIVO. OMISSÃO DO PODER PÚBLICO. RAZOABILIDADE.
APREENSÃO. POLÍCIA FEDERAL. INTERFERÊNCIA.
1. O conteúdo da sentença apelada não implica em invasão da competência do
Poder Executivo pelo Judiciário, posto não conceder autorização para o
funcionamento, mas apenas impede que o funcionamento da Rádio Comunitária seja
perturbado enquanto não for examinado o pedido de autorização.
2. O cidadão tem direito a receber um tratamento adequado por parte do Ministério
das Comunicações, que deve responder as postulações feitas. Não o tendo feito no
prazo da lei que rege os procedimentos administrativos, está a desrespeitar o devido
processo legal e a razoabilidade.
3. Embora os fiscais da Agência Nacional de Telecomunicações não tenham
poderes para, administrativamente, proceder à apreensão de bens e equipamentos
no âmbito de sua competência, tendo em vista a suspensão da eficácia do art. 19,
inc. XV, da Lei nº 9.472/97, pela medida cautelar concedida pelo Plenário do STF
na ADIn nº 1.668, tal vedação não atinge os agentes da Polícia Federal, que têm o
dever de apreender os instrumentos utilizados na prática de crimes.
4. No tocante às alegações de interferência dos equipamentos da rádio comunitária
no espectro eletromagnético, compete à União Federal a respectiva fiscalização,
procedendo às medidas necessárias para evitar interferência em outros sistemas de
telecomunicações.
5. Apelações cíveis da ANATEL e remessa de ofício improvidas. Apelação cível da
União Federal parcialmente provida."

Opostos embargos declaratórios pela União e pela ANATEL (fls. 338/341 e 343/348),
restaram os mesmos assim espelhados (fl. 364):

"PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. ENFRENTAMENTO DE


TODOS ARGUMENTOS. PREQUESTIONAMENTO NUMÉRICO.
O exame da questão ou ponto em discussão não implica menção explícita a todo e
qualquer dispositivo legal ou constitucional eventualmente aplicável ao caso, em
julgamento, de modo que descabem embargos declaratórios a pretexto de
prequestionamento numérico.
O juiz não está obrigado a enfrentar todo e qualquer argumento levantado pelas
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partes, podendo limitar-se àqueles considerados decisivos. Embargos não
providos."

Tratam os autos de ação ordinária proposta pela ASSOCIAÇÃO DE COMUNICAÇÃO


COMUNITÁRIA EDUCATIVA E CULTURAL ALEGRETE - POPULAR/FM contra a UNIÃO,
sendo posteriormente admitida como ré a AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES -
ANATEL, em virtude da sua presença no pólo passivo da ação cautelar anteriormente ajuizada.
Discute-se a possibilidade de manutenção em funcionamento de rádio comunitária cuja autorização
para funcionamento fora requerida mas ainda não outorgada pelo Ministério das Comunicações.

A exordial requereu (fls. 2/11): a declaração por sentença do direito da Rádio Comunitária
de permanecer operante na cidade de Alegrete/RS até a outorga final do Ministério das
Comunicações.

A sentença (fls. 246/252), julgando conjuntamente a ação cautelar e a ordinária,


considerando que (fl. 250) "(...) a demandante, pretendendo operar, postulou administrativamente
a autorização para tanto, submetendo-se às normas legais. Ocorre que, passados, hoje, quase três
anos, do cadastramento do pleito administrativo, ainda não houve resposta.(...)" , avaliou como
inerte a Administração, ao impossibilitar o insurgimento da autora contra o indeferimento
administrativo, uma vez que inexistiu decisão, julgando procedentes os pedidos de ambas as ações.

Interpostas apelações (fls. 254/285 e 289/312) pela ANATEL e pela UNIÃO,


respectivamente, o Tribunal a quo, por maioria, vencido o voto que dava provimento a ambas e à
remessa oficial, negou provimento ao recurso da ANATEL e à remessa oficial e deu parcial
provimento à apelação da UNIÃO, por entender que (fls. 324/329-v e 332/333): a) não há nulidade
da sentença, uma vez que a mesma não concedeu alvará de funcionamento à autora, mas tão
somente declarou o seu direito de permanecer em operação até a outorga definitiva de autorização
ou expresso indeferimento; b) a sentença não é condicional, haja vista a possibilidade de se
proceder a regular fiscalização do serviço por parte das apelantes, caso existam outros óbices para o
funcionamento da emissora; c) não poderia a ANATEL, ainda que a apelada não possuísse
autorização de funcionamento, apreender quaisquer equipamentos da rádio, em razão da suspensão
do dispositivo determinada pelo Plenário do STF no julgamento da ADIN nº 1.688, não alcançando
tal vedação os policiais federais que atuem por motivo que não seja a falta da mencionada
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autorização; d) poderá a União proceder às medidas necessárias para evitar quaisquer interferências
em outros sistemas de comunicação, como o aéreo, por exemplo.

Opostos embargos declaratórios pelas apelantes (fls. 338/341 e 343/348) os mesmos


tiveram provimento negado (fl. 364).

Nesta via recursal, aponta-se negativa de vigência aos seguintes dispositivos, além de
dissídio jurisprudencial, por parte da ANATEL:

Recurso Especial da Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL (fls.


367/397):
- Do Código de Processo Civil
Art. 535. Cabem embargos de declaração quando:
II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal.

- Da Lei nº 9.612/98
Art. 2º O Serviço de Radiodifusão Comunitária obedecerá aos preceitos desta Lei e,
no que couber, aos mandamentos da Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962,
modificada pelo Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967, e demais
disposições legais. (Vide Medida Provisória nº 2.216-37, de 2001)
Parágrafo único. O Serviço de Radiodifusão Comunitária obedecerá ao disposto no
art. 223 da Constituição Federal. (Vide Medida Provisória nº 2.216-37, de 2001)
Art. 6º Compete ao Poder Concedente outorgar à entidade interessada autorização
para exploração do Serviço de Radiodifusão Comunitária, observados os
procedimentos estabelecidos nesta Lei e normas reguladoras das condições de
exploração do Serviço.
Parágrafo único. A outorga terá validade de dez anos, permitida a renovação por
igual período, se cumpridas as exigências desta Lei e demais disposições legais
vigentes.(Redação dada pela Lei nº 10.597, de 2002)

- Do Decreto nº 2.615/98 (Anexo)


Art. 9º Compete ao Ministério das Comunicações:
I - estabelecer as normas complementares do RadCom, indicando os parâmetros
técnicos de funcionamento das estações, bem como detalhando os procedimentos
para expedição de autorização e licenciamento;
II - expedir ato de autorização para a execução do Serviço, observados os
procedimentos estabelecidos na Lei nº 9.612, de 1998 e em norma complementar;
III - fiscalizar a execução do RadCom, em todo o território nacional, no que disser
respeito ao conteúdo da programação, nos termos da legislação pertinente;

- Da Lei nº 9.784/99
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Art. 49. Concluída a instrução de processo administrativo, a Administração tem o
prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorrogação por igual período
expressamente motivada.

Recurso Especial da União (fls. 438/452):


- Do Código de Processo Civil:
Art. 535. Cabem embargos de declaração quando:
II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal.
Art. 165. As sentenças e acórdãos serão proferidos com observância do disposto no
art. 458; as demais decisões serão fundamentadas, ainda que de modo conciso.
Art. 458. São requisitos essenciais da sentença:
I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do
réu, bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do
processo;
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as partes Ihe
submeterem.

- Da Lei nº 9.612/98
Art. 2º O Serviço de Radiodifusão Comunitária obedecerá aos preceitos desta Lei e,
no que couber, aos mandamentos da Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962,
modificada pelo Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967, e demais
disposições legais. (Vide Medida Provisória nº 2.216-37, de 2001)
Parágrafo único. O Serviço de Radiodifusão Comunitária obedecerá ao disposto no
art. 223 da Constituição Federal. (Vide Medida Provisória nº 2.216-37, de 2001)
Art. 5º O Poder Concedente designará, em nível nacional, para utilização do
Serviço de Radiodifusão Comunitária, um único e específico canal na faixa de
freqüência do serviço de radiodifusão sonora em freqüência modulada.
Parágrafo único. Em caso de manifesta impossibilidade técnica quanto ao uso desse
canal em determinada região, será indicado, em substituição, canal alternativo,
para utilização exclusiva nessa região.
Art. 6º Compete ao Poder Concedente outorgar à entidade interessada autorização
para exploração do Serviço de Radiodifusão Comunitária, observados os
procedimentos estabelecidos nesta Lei e normas reguladoras das condições de
exploração do Serviço.
Parágrafo único. A outorga terá validade de dez anos, permitida a renovação por
igual período, se cumpridas as exigências desta Lei e demais disposições legais
vigentes.(Redação dada pela Lei nº 10.597, de 2002)
Art. 24. A outorga de autorização para execução do Serviço de Radiodifusão
Comunitária fica sujeita a pagamento de taxa simbólica, para efeito de
cadastramento, cujo valor e condições serão estabelecidos pelo Poder Concedente.

- Do Decreto nº 2.615/98 (Anexo)


Art. 2º As condições para execução do RadCom subordinam-se ao disposto no art.
223 da Constituição Federal, à Lei nº 9.612, de 1998 e, no que couber, à Lei
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nº4.117, de 27 de agosto de 1962, modificada pelo Decreto-Lei nº 236, de 28 de
fevereiro de 1967, e à regulamentação do Serviço de Radiodifusão Sonora, bem
como a este Regulamento, às normas complementares, aos tratados, aos acordos e
aos atos internacionais.
Art. 9º. Compete ao Ministério das Comunicações:
I - estabelecer as normas complementares do RadCom, indicando os parâmetros
técnicos de funcionamento das estações, bem como detalhando os procedimentos
para expedição de autorização e licenciamento;
II - expedir ato de autorização para a execução do Serviço, observados os
procedimentos estabelecidos na Lei nº 9.612, de 1998 e em norma complementar;
III - fiscalizar a execução do RadCom, em todo o território nacional, no que disser
respeito ao conteúdo da programação, nos termos da legislação pertinente;

- Da Lei nº 4.117/62
Art. 33. Os serviços de telecomunicações, não executados diretamente pela União,
poderão ser explorados por concessão, autorização ou permissão, observadas as
disposições da presente lei.
§ 6º Dependem de permissão, dada pelo Conselho Nacional de Telecomunicações os
seguintes serviços:
a) Público Restrito (Art. 6º, letra b);
b) Limitado (Art. 6º, letra c);
c) de Radioamador (Art. 6º, letra e);
d) Especial (Art. 6º, letra f).

- Da Lei nº 9.784/99
Art. 49..Concluída a instrução de processo administrativo, a Administração tem o
prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorrogação por igual período
expressamente motivada.
Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por lei
própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei.

A ANATEL assim fundamenta o seu recurso: a) o acórdão atacado não se pronunciou


sobre os pedidos formulados nos embargos de declaração, a respeito da necessidade de ato político
por parte do Congresso Nacional para execução do serviço de radiodifusão comunitária, bem como
sobre a invasão da competência dos Poderes Executivos e Legislativo da União, além do
prequestionamento numérico pleiteado; b) o acórdão recorrido, ao impedir a fiscalização da
recorrente com o fim de interromper a execução do serviço de Radiodifusão Comunitária,
executado pela recorrida sem autorização, violou a Lei nº 9.612/98, que, por sua vez, remete à Lei
nº 4.117/62 e ao Decreto-Lei nº 236/67; c) tais dispositivos, em seu conjunto, estabelecem a
obrigatoriedade da autorização do Poder Concedente para execução do serviço de Radiodifusão
Comunitária, conforme se depreende da simples leitura dos artigos alegados; d) o prazo de trinta
dias mencionado pelo art. 49 da Lei nº 9.784/99 é aplicável após a instrução do processo
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administrativo; e) não foi demonstrada ou cogitada a inércia da Administração, simplesmente
impuseram-lhe a culpa pela demora; f) para iniciar a exploração do serviço de radiodifusão
comunitária o interessado deverá ter autorização do Ministério das Comunicações aprovada por
Decreto Legislativo; g) a imprescindibilidade da outorga decorre da preocupação da CF/88 com o
conteúdo da programação, o que somente pode ser analisado em juízo político, sendo totalmente
inoportuna a interferência do Poder Judiciário; h) chancelar o funcionamento da estação da autora
sem a devida comprovação da viabilidade de seu projeto técnico representa transferir à sociedade
riscos ambientais daí decorrentes; i) o acórdão criou situação de concorrência desigual com outras
emissoras, em razão do não-pagamento pela autora do preço público correspondente, tributos e
outros valores pagos pelas rádios regulares; j) o STJ tem decidido pela ilegalidade no
funcionamento de rádio comunitária, ainda que haja demora da Administração em julgar o pedido
de autorização (RESP nº 363.281/RN); l) reconhecida a mora, caberia ao judiciário apenas
determinar a análise do procedimento pela Administração, jamais inibir sua fiscalização ou, ainda,
determinar a indenização do prejudicado.

Por sua vez, o apelo extremo da UNIÃO, afirma que: a) o aresto atacado não se
manifestou sobre a incidência das regras constitucionais e legais que impedem a outorga judicial do
serviço, a despeito da ausência de procedimento licitatório, havendo total impropriedade do pedido
formulado na inicial; b) a exigência de completa instrução do processo administrativo para
autorização do serviço de comunicação possui assento legal nas disposições da Lei nº 9.612 e no
Decreto nº 2.615, dentre outros diplomas legais; c) a outorga é ato discricionário da Administração,
após análise dos pressupostos de conveniência e oportunidade; d) a alegada liberdade de expressão
não tem o condão de afastar a exigência de delegação formal do Poder Público; e) não havendo
revogação da Lei nº 4.117/62 pela 9.612/98 prevalece o crime descrito no art. 70 da primeira
norma, tendo o aresto recorrido ferido tal dispositivo; f) os Tribunais pátrios, inclusive o STJ, já
pacificaram entendimento no sentido da impossibilidade de funcionamento de emissoras de rádio
sem autorização do Poder Público.

Não foram apresentadas contra-razões (Certidão de fl. 469).

Interpostos Recursos Extraordinários pela ANATEL (fls. 407/432) e pela UNIÃO (fls.
453/467).

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Decisões da Vice-Presidência do TRF da 4ª Região, às fls. 470/473-v, admitindo os


Recursos Especiais e os Extraordinários.

É o relatório.

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ADMINISTRATIVO. PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO. MORA DA
ADMINISTRAÇÃO. ESPERA DE CINCO ANOS DA RÁDIO
REQUERENTE. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA EFICIÊNCIA E DA
RAZOABILIDADE. INEXISTÊNCIA. VULNERAÇÃO DOS ARTIGOS 165,
458, I, II, II E 535, II DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. AUSÊNCIA DE
INGERÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO NA SEARA DO PODER
EXECUTIVO. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO PELA ALEGATIVA
DE VIOLAÇÃO DOS ARTIGOS 2º DA LEI 9612/98 70 DA LEI 4.117/62 EM
FACE DA AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO DOS DEMAIS
ARTIGOS ELENCADOS PELAS RECORRENTES. DESPROVIMENTO.
1. Cuida-se de recursos especiais (fls. 367/397 e 438/452) ) interpostos,
respectivamente, pela AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES -
ANATEL e pela UNIÃO, ambos com fulcro na alínea "a", sendo o da ANATEL
baseado também na letra "c" do art. 105, III, da Constituição Federal de 1988, em
face de acórdão proferido pelo TRF da 4ª Região, assim ementado (fl.- 333-v)
"ADMINISTRATIVO. RÁDIO COMUNITÁRIA. FUNCIONAMENTO.
PROCESSO ADMINISTRATIVO. OMISSÃO DO PODER PÚBLICO.
RAZOABILIDADE. APREENSÃO. POLÍCIA FEDERAL. INTERFERÊNCIA.
1. O conteúdo da sentença apelada não implica em invasão da competência do
Poder Executivo pelo Judiciário, posto não conceder autorização para o
funcionamento, mas apenas impede que o funcionamento da Rádio
Comunitária seja perturbada enquanto não for examinado o pedido de
autorização.
2. O cidadão tem direito a receber um tratamento adequado por parte do
Ministério das Comunicações, que deve responder as postulações feitas. Não o
tendo feito no prazo da lei que rege os procedimentos administrativos, está a
desrespeitar o devido processo legal e a razoabilidade.
3. Embora os fiscais da Agência Nacional de Telecomunicações não tenham
poderes para, administrativamente, proceder à apreensão de bens e
equipamentos no âmbito de sua competência, tendo em vista a suspensão da
eficácia do art. 19, inc. XV, da Lei nº 9.472/97, pela medida cautelar
concedida pelo Plenário do STF na ADIn nº 1.688, tal vedação não atinge os
agentes da Polícia Federal, que têm o dever de apreender os instrumentos
utilizados na prática de crimes.
4. No tocante às alegações de interferência dos equipamentos da rádio
comunitário no espectro eletromagnético, compete à União Federal a
respectiva fiscalização, procedendo às medidas necessárias para evitar
interferência em outros sistemas de telecomunicações.
5. Apelações cíveis da ANATEL e remessa de ofício improvidas. Apelação
cível da União Federal parcialmente provida.”
2. Recursos especiais apreciados conjuntamente já que ambas as recorrentes
requerem a anulação do acórdão por violação do artigo 535, II, (omissão), sendo que
a União aduz, ainda, afronta aos artigos 165 e 458 e incisos por ausência de
fundamentação e, no mérito, o provimento para determinar a reforma do acórdão.
Não existe afronta aos artigos 165, 458, I, II, III e 535, II do Código de Processo
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Civil quando o decisório combatido resolve a lide enfrentando as questões
relevantes ao deslinde da controvérsia. O fato de não emitir pronunciamento acerca
de todos os dispositivos legais suscitados pelas partes não é motivo para decretar
nula a decisão.
3. Merece confirmação o acórdão que julga procedente pedido para que a União e a
ANATEL se abstenham de impedir o funcionamento provisório dos serviços de
radiodifusão, até que seja decidido o pleito administrativo da recorrida que, tendo
cumprido as formalidades legais exigidas, espera já há cinco anos, sem que tenha
obtido uma simples resposta da Administração.
4. A Lei 9.784/99 foi promulgada justamente para introduzir no nosso ordenamento
jurídico o instituto da Mora Administrativa como forma de reprimir o arbítrio
administrativo, pois não obstante a discricionariedade que reveste o ato da
autorização, não se pode conceber que o cidadão fique sujeito à uma espera abusiva
que não deve ser tolerada e que está sujeita, sim, ao controle do Judiciário a quem
incumbe a preservação dos direitos, posto que visa a efetiva observância da lei em
cada caso concreto.
5. O Poder Concedente deve observar prazos razoáveis para instrução e conclusão
dos processos de outorga de autorização para funcionamento, não podendo estes
prolongar-se por tempo indeterminado”, sob pena de violação dos princípios da
eficiência e da razoabilidade.
6. Recursos parcialmente conhecidos e desprovidos.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO (RELATOR): Em exame dois recursos


especiais.

O recurso especial da ANATEL apresenta pedido do seguinte teor (fls. 396/397):

“...requer seja o presente recurso especial :


1. conhecido, por divergência de interpretação da legislação federal e
violação ao art. 2º, seu parágrafo único, ao art. 6º da Lei 9.612/98, ao art. 9º do
Decreto 2.615/98 e ao artigo 49 da Lei 9.789/99, e provido, para julgar
improcedentes os pedidos formulados nas ações ordinária e cautelar, condenando a
autora/recorrida em honorários advocatícios e demais ônus de sucumbência,
conseqüentemente afastando aqueles impostos à recorrida;
2. conhecido, por violação ao art. 535, inciso II, do CPC, caso não o seja
conhecido o pedido anterior por falta de prequestionamento, para determinar ao
Tribunal Regional Federal da Quarta Região, por seu órgão fracionário, que supra
as omissões na fundamentação do julgado recorrido, analisando os seguintes pontos
cuja análise foi requerida e negada em embargos de declaração:
a. a necessidade de ato político por parte do Congresso Nacional para
execução do serviço de radiodifusão comunitária;
b. invasão da competência dos Poderes Executivo e Legislativo da União.
c. prequestionamento numérico da violação ao art. 223, § 3º e art. 2º da
Constituição da República e ao art. 2º e seu parágrafo único e art. 6º da Lei
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Superior Tribunal de Justiça
9.612/98 e ao art. 9º do Decreto 2.615/98.
3. conhecido, por violação ao art. 535, inciso II, do CPC, caso o Superior
Tribunal de Justiça adentre o mérito do recurso quanto ao pedido n.º 1 e não lhe dê
provimento, para determinar ao Tribunal Regional Federal da Quarta Região, por
seu órgão fracionário, que supra as omissões na fundamentação do julgado
recorrido, analisando os pontos a e b do pedido n.º 2 (matéria constitucional).”

Por sua vez o pedido do recurso especial da União é para (fl. 452):

“Diante do exposto, a União requer Vossas Excelências admitam e dêem


provimento ao presente Recurso Especial, decretando a nulidade do v. acórdão e
determinando o retorno dos autos à origem, para adequada apreciação da pretensão
de prequestionamento, aviada nos embargos de declaração.
Caso superada essa preliminar, requer, sucessivamente, o provimento deste
recurso e conseqüente reforma do v. acórdão recorrido, revogando-se a autorização
judicial para operação da rádio comunitária e, com isso, restaurando-se a plena
vigência do direito federal violado.”

Da leitura dos pedidos acima sinalizados, depreende-se em síntese, que ambas as


recorrentes pretendem a anulação do acórdão por violação do artigo 535, II, por omissão, sendo que
a União aduz ainda afronta aos artigos 165 e 458 e incisos por ausência de fundamentação ou, caso
ultrapassadas essas preliminares, o provimento para determinar a revogação da autorização judicial
de funcionamento da rádio comunitária.

Sendo assim, analisarei os recursos conjuntamente.

Pela letra “a”, os recursos especiais podem ser conhecidos apenas quanto à afronta aos
artigos 2º da Lei 9.612/98 e 70 da Lei 4.117/62 em face da ausência de prequestionamento dos
demais artigos elencados pelas recorrentes. Também merece conhecimento o recurso pela aludida
divergência suscitada pela ANATEL.

É de se afastar, desde já, a alegativa de violação dos artigos 165, 458, I, II III e 535, II do
Código de Processo Civil, uma vez que o acórdão vergastado decidiu fundamentadamente a lide,
apreciando as questões relevantes ao deslinde da controvérsia, destacando-se o fato de não estar o
julgador adstrito a responder um a um os quesitos formulados pelas partes.

Passo ao exame merital.

Entendo não merecer reparos o acórdão atacado.

Não vislumbro no decisório guerreado qualquer prática invasiva na seara da


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Superior Tribunal de Justiça
Administração ou violação do princípio da autonomia dos Poderes, porém, a escorreita aplicação da
lei que determina sejam os pedidos administrativos julgados em sessenta dias.

Senão vejamos.

Assinala o artigo 49 da Lei 9784/99:

“Art. 49. Concluída a instrução do processo administrativo, a administração tem o


prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorrogação por igual período
expressamente motivada.”

Na verdade, não há escusas para a demora no julgamento do pleito administrativo da


recorrida, a qual desde 29 de setembro de 1998 espera uma manifestação do Ministério das
Comunicações que, em verdadeiro desrespeito ao direito subjetivo do cidadão, não se decide a
respeito da autorização para o funcionamento da Rádio Comunitária, quer de forma positiva, quer
negativa.

Ora, essa omissão administrativa expõe o cidadão a uma espera abusiva que não deve ser
tolerada e que está sujeita, sim, ao controle do Judiciário, a quem incumbe a preservação dos
direitos, posto que visa a efetiva observância da lei em cada caso concreto, quando reclamado por
seus beneficiários, especialmente, tendo a recorrida observado todos os trâmites legais necessários à
outorga da autorização requerida, aguardando uma simples resposta já há cinco anos.

A atitude da Administração contraria o princípio da eficiência que como leciona Hely


Lopes Meirelles “...É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta
em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público
e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros” e que,
conseqüentemente, deve atentar ao acurado exame dos processos de autorização de execução de
serviços de radiodifusão comunitária aliado ao atendimento de um prazo razoável na prolação da
resposta esperada pelo requerente.

Impende salientar, ainda, que a Lei 9.784/99 foi promulgada justamente para introduzir no
nosso ordenamento jurídico o instituto da Mora Administrativa como forma de reprimir o arbítrio
administrativo, posto que a discricionariedade de que se reveste o ato de autorização impõe que este
seja praticado de acordo com a conveniência e interesse públicos, mas dentro dos limites da
legalidade.

Portanto, não adiantam argumentos tais como, “excesso de atribuições e variedade de

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problemas que o Poder Público tem que enfrentar”, ou outros como, “o pedido não foi solucionado
em vista da complexidade do procedimento legal a ser adotado...”, pois incumbe à Administração
providenciar os meios necessários à consecução dos seus fins, para isto que é dotada de atributos
específicos como imperatividade, legitimidade, auto-executoriedade.

Por último, é relevante registrar que o aresto objurgado não concedeu a autorização para o
funcionamento da recorrida, contudo, julgou procedente o pedido para que as recorrentes se
abstenham de impedir o funcionamento provisório dos serviços de radiodifusão, até que seja
decidido o pleito administrativo da recorrida, como se infere do inteiro teor do voto condutor de
fls. 332/333:
"Peço vênia ao Eminente Relator para divergir do entendimento adotado.
Inicialmente, afasto as preliminares de nulidade da sentença recorrida,
argüidas pela ANATEL e pela União Federal.
Isto porque a decisão apelada não concedeu alvará de funcionamento à
Associação de Comunicação Comunitária Educativa e Cultural Alegrete, mas tão
somente declarou o seu direito de permanecer em operação até a outorga definitiva
de autorização ou expresso indeferimento, determinando às rés que se abstivessem
de apreender ou lacrar os equipamentos da emissora, uma vez que, caso o processo
administrativo n° 53.790.001274/1998 seja julgado improcedente, não haverá que se
falar em revogação de qualquer alvará ou permissão, estando impedida a apelada
de prestar o serviço de rádio comunitária.
Por outro lado, a sentença recorrida não é condicional, ao contrário do
alegado pela União Federal. Caso existam outros óbices para o funcionamento da
rádio, que não a ausência de autorização, não estarão impedidas as apelantes de
proceder à regular fiscalização do serviço. O objeto da ação limita-se ao pedido de
funcionamento temporário da rádio comunitária, até que o Ministério das
Comunicações decida sobre o processo administrativo. Quaisquer outras situações
que possam impedir o funcionamento da rádio não estão abrangidas pela eficácia da
sentença apelada, o que não significa que esta seja condicional.
Passo agora à análise do mérito propriamente dito. A associação recorrida é
entidade sem fins lucrativos, regularmente registrada e com estatuto próprio.
Encaminhou, em 29.09.1998, solicitação ao Ministério das Comunicações
objetivando concessão para executar serviço de radiodifusão comunitária na cidade
de Alegrete/RS. Cerca de um ano após o pedido administrativo, sem qualquer
resposta do Ministério das Comunicações, colocou no ar a Rádio Popular FM,
ajuizando a ação declaratória n° 1999.71.03.001455-4 e a ação cautelar n°
1999.71.03.001292-2 de modo a permitir o seu funcionamento.
A Lei n° 9.612/98, editada com o intuito de regular e estimular a criação das
rádios comunitárias como meio de integração de toda a comunidade, não afasta a
necessidade da outorga do Poder Executivo, consagrada no art. 223 da Constituição
Federal, para a prática da atividade em questão (art. 2º, parágrafo único).
Sobre o tema, já me posicionei no sentido de reconhecer o direito de
funcionamento de rádio comunitária quando a ausência da concessão
governamental decorrer exclusivamente da conduta manifestamente protelatória e
omissa do Poder Executivo através do Minicom. No caso específico dos autos, já

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decorreram quase cinco anos desde o protocolo do pedido administrativo, sem que
houvesse a Associação obtido qualquer resposta ao seu pedido. De acordo com o
Sistema de Acompanhamento e Controle de Processos – SICAP, constante da página
do Ministério das Comunicações na internet, a última movimentação do processo
administrativo n° 53.790.001274/1998 é de 04.05.1999 (Órgão: CGL; Situação:
Tramitando).
Sirvo-me, portanto, do voto por mim proferido nos autos da Apelação Cível
97.04.52066-2/SC, do qual transcrevo algumas palavras, verbis:
“(...)
Trata-se de ação declaratória de existência de relação jurídica ajuizada
pela Associação de Radiodifusão Comunitária de Jaguaruna e Sangão
contra a União Federal visando o reconhecimento do direito ao
funcionamento da rádio comunitária “Sambaqui”.
(...)
O cidadão tem direito a receber um tratamento adequado por parte do
Ministério das Comunicações, que deve responder as postulações feitas.
Não o tendo feito no prazo da lei que rege os procedimentos
administrativos, que é de trinta dias para o pronunciamento da
Administração, demorando-se mais de 1 ano, parece-me que também
está a desrespeitar o devido processo legal e a razoabilidade.
(...)
Assim, deve ser considerado que há norma regulamentadora, que a
autora preenche os requisitos do art. 9º da Lei nº 9.612, que existe
omissão prolongada do poder executivo, e principalmente a necessidade
de democratização dos meios de comunicação, permitindo o acesso às
fontes de cultura nacional a todos os brasileiros, especialmente neste
caso, pois, é o único meio de comunicação dos municípios e
comunidades envolvidas.
Isto posto, dou provimento ao apelo, invertidos os ônus sucumbenciais.”
Ademais, ainda que a apelada não possuísse autorização administrativa de
funcionamento, não poderia a ANATEL, através de sua fiscalização apreender
quaisquer equipamentos da Rádio Popular FM de Alegrete/RS, não obstante o
disposto no art. 19, inc. XV, da Lei n° 9.472/97:
Art. 19. À Agência compete adotar as medidas necessárias para o
atendimento do interesse público e para o desenvolvimento das
telecomunicações brasileiras, atuando com independência,
imparcialidade, legalidade, impessoalidade e publicidade, e
especialmente:
(...)
XV – realizar busca e apreensão de bens no âmbito de sua competência;
Tal dispositivo, contudo, foi suspenso pelo Plenário do Supremo Tribunal
Federal, na sessão do dia 20.08.1998, em razão de medida liminar parcialmente
concedida nos autos da ADIn n° 1.668 (DJU de 31.08.1998), não havendo mais a
possibilidade, até o julgamento definitivo da ADIn, da busca e apreensão de bens
pelos próprios fiscais da ANATEL.
Entretanto, tal vedação alcança tão somente os fiscais da ANATEL, mas não
os agentes da Polícia Federal, no exercício de suas atribuições funcionais.
Imagine-se, por exemplo, que os equipamentos de telecomunicações utilizados pela
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Associação de Comunicação Comunitária Educativa e Cultural Alegrete tivessem
sido importados pela apelada, iludindo o pagamento de direito ou imposto devido
pela entrada no país, o que em tese enquadrar-se-ia na conduta tipificada como
crime no art. 334 do Código Penal. Não há dúvida acerca da possibilidade da
apreensão dos referidos instrumentos pela Polícia Federal.
Da mesma forma, a instalação ou utilização de telecomunicações sem
observância da legislação de regência, é tipificada no art. 70 da Lei n° 4.117/62,
sendo lícita a apreensão, pelos órgãos policiais, dos instrumentos do crime. Assim,
deve ser afastada a vedação de apreensão dos equipamentos da apelada pela Polícia
Federal, desde que por motivo diverso do objeto da presente ação.
Finalmente, quanto à alegação de que haveria risco nas comunicações de
navegação aérea em razão das transmissões da rádio comunitária, assevero que não
está impedida a União de proceder às medidas necessárias para evitar quaisquer
interferências em outros sistemas de comunicação.
Isto posto, nego provimento à remessa ex officio e à apelação da ANATEL, e
dou parcial provimento à apelação da União Federal, tão somente para permitir que
os agentes da Polícia Federal apreendam eventuais equipamentos da apelada nos
casos acima referidos. Tendo em vista que a apelada decaiu de parte mínima do
pedido, ficam mantidos os ônus sucumbenciais.
É o voto."

Evidenciada a afronta aos princípios da eficiência e da razoabilidade, é forçoso o


pronunciamento adverso à pretensão de reforma do decisório impugnado cujo pronunciamento não
implicou indevida ingerência do Poder Judiciário, porém, ao contrário, homenageou, em
providência indispensável, o salutar restabelecimento da legalidade que deve permear todo o
proceder administrativo.

Postas essas considerações, conheço parcialmente dos recursos e nego-lhes provimento.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
PRIMEIRA TURMA

Número Registro: 2004/0137418-0 RESP 690811 / RS

Números Origem: 199971030012922 199971030014554


PAUTA: 14/12/2004 JULGADO: 22/03/2005

Relator
Exmo. Sr. Ministro JOSÉ DELGADO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro LUIZ FUX
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOÃO FRANCISCO SOBRINHO
Secretária
Bela. MARIA DO SOCORRO MELO
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : UNIÃO
RECORRENTE : AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES - ANATEL
PROCURADOR : DANIEL MARCHIONATTI BARBOSA E OUTROS
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO DE COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA EDUCATIVA E
CULTURAL ALEGRETE - POPULAR/FM
ADVOGADO : ERNI FAGUNDES WOLLENHAUPT
ASSUNTO: Administrativo - Ato - Autorização - Radiodifusão

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do Sr. Ministro Relator conhecendo parcialmente de ambos os recursos e,
nessa parte, negando-lhes provimento, pediu vista o Sr. Ministro Luiz Fux. Aguarda a Sra. Ministra
Denise Arruda.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Francisco Falcão e Teori Albino Zavascki.

Brasília, 22 de março de 2005

MARIA DO SOCORRO MELO


Secretária

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RECURSO ESPECIAL Nº 690.811 - RS (2004/0137418-0)

EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC.
INOCORRÊNCIA. ADMINISTRATIVO. RÁDIO
COMUNITÁRIA. DEMORA INJUSTIFICADA DA
ADMINISTRAÇÃO NA OUTORGA DA AUTORIZAÇÃO
DEFINITIVA. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
RAZOABILIDADE.
1. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC, quando o Tribunal de origem,
embora sucintamente, pronuncia-se de forma clara e suficiente sobre a
questão posta nos autos. Ademais, o magistrado não está obrigado a
rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os
fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a
decisão.
2. O Decreto 2.615/98 atribuiu competência exclusiva ao Ministro de
Estado das Comunicações para decidir acerca do pedido de
autorização para funcionamento no termos do disposto na Lei nº
9.612/98 que instituiu o Serviço de Radiodifusão Comunitária.
3. Nada obstante, os arts. 48 e 49 da Lei nº 9.784/99 dispõem que,
finalizado o processo administrativo, a Administração tem o prazo de
até 30 dias para decidir, salvo prorrogação, por igual período, desde
que, efetivamente motivada. Depreende-se do citado dispositivo legal
que a sua ratio essendi está consoante o princípio da eficiência,
prestigiado pelo STJ, mercê da liberdade de a autoridade máxima
decidir ao seu alvitre.
4. Destarte, a demora do Poder Concedente, na apreciação de pedido
de autorização para funcionamento de rádio comunitária, autoriza
excepcional autorização emanada do judiciário, por força dos
princípios da legalidade, da moralidade, da eficiência, da
impessoalidade e da finalidade. Precedentes jurisprudenciais do STJ.
5. Acompanho o voto do Ministro Relator no sentido de que o Poder
Concedente deve observar os prazos para instrução e conclusão dos
processos de outorga de autorização para funcionamento de rádio
comunitária, sob pena de violação aos princípios da eficiência e da
razoabilidade, para negar provimento a ambos recursos especiais

VOTO VISTA

EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX: A UNIÃO FEDERAL, e a ANATEL


interpuseram recursos especiais, com fulcro, respectivamente, na alínea "a" e nas alíneas "a" e
"c", do inciso III, do art. 105, da Constituição Federal contra acórdão proferido pelo Tribunal
Regional Federal da 4ª Região assim ementado:
"ADMINISTRATIVO. RÁDIO COMUNITÁRIA.
FUNCIONAMENTO. PROCESSO ADMINISTRATIVO.
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OMISSÃO DO PODER PÚBLICO. RAZOABILIDADE.
APREENSÃO. POLÍCIA FEDERAL. INTERFERÊNCIA.
1. O conteúdo da sentença apelada não implica em invasão da
competência do Poder Executivo pelo Judiciário, posto não conceder
autorização para o funcionamento, mas apenas impede que o
funcionamento da Rádio Comunitária seja perturbada enquanto não
for examinado o pedido de autorização.
2. O cidadão tem direito a receber um tratamento adequado por parte
do Ministério das Comunicações, que deve responder as postulações
feitas. Não o tendo feito no prazo da lei que rege os procedimentos
administrativos, está a desrespeitar o devido processo legal e a
razoabilidade.
3. Embora os fiscais da Agência Nacional de Telecomunicações não
tenham poderes para, administrativamente, proceder à apreensão de
bens e equipamentos no âmbito de sua competência, tendo em vista a
suspensão da eficácia do art. 19, inc. XV, da Lei n° 9.472/97, pela
medida cautelar concedida pelo Plenário do STF na ADIn n° 1.668,
tal vedação não atinge os agentes da Polícia Federal, que têm o dever
de apreender os instrumentos utilizados na prática de crimes.
4. No tocante às alegações de interferência dos equipamentos da rádio
comunitária no espectro eletromagnético, compete à União Federal a
respectiva fiscalização, procedendo às medidas necessárias para
evitar interferência em outros sistemas de telecomunicações.
5. Apelações cíveis da ANATEL e remessa de ofício improvidas.
Apelação cível da União Federal parcialmente provida."

Trata-se, originariamente, de Ação Ordinária ajuizada pela Associação de


Comunicação Comunitária, Educativa e Cultural Alegrete-Popular FM contra a União e a
ANATEL objetivando a declaração do direito de permanecer irradiando sinais radiofônicos
no Município de Alegrete-RS até outorga final da licença a ser concedida pelo Ministério das
Comunicações, nos termos da Lei n.º 9.612/98.

O pedido de liminar foi deferido e em sede de sentença, que analisou em


conjunto a ação cautelar e a ordinária, foi julgado procedente o pedido.

Irresignadas, a União e a ANATEL apelaram tendo o Tribunal de origem, por


maioria, negado provimento ao recurso da autarquia e dado parcial provimento ao apelo da
União, tão-somente, para autorizar a apreensão, pela Polícia Federal, de equipamentos
radiofônicos em caso de infringência da Lei n.º 4.117/62, nos termos da ementa
supratranscrita.

Opostos embargos de declaração, restaram os mesmos rejeitados, nos seguintes


termos:
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"PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS.


ENFRENTAMENTO DE TODOS ARGUMENTOS.
PREQUESTIONAMENTO NUMÉRICO.
. O exame da questão ou ponto em discussão não implica menção
explícita a todo e qualquer dispositivo legal ou constitucional
eventualmente aplicável ao caso em julgamento, de modo que
descabem embargos declaratórios a pretexto de prequestionamento
numérico.
. O juiz não está obrigado a enfrentar todo e qualquer argumento
levantado pelas partes, podendo limitar-se aqueles considerados
decisivos.
. Embargos não providos."

A União, em suas razões recursais, alega, preliminarmente, ofensa ao art. 535,


do CPC. No mérito aduz violação aos seguintes dispositivos legais:

Lei 9.612/98:

“Art. 2º. O Serviço de Radiodifusão Comunitária


obedecerá aos preceitos desta Lei e, no que couber, aos
mandamentos da Lei n.º 4.117, de 27 de agosto de 1962
modificada pelo Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967, e
demais disposições legais.

Art. 5º. O Poder Concedente designará, em nível


nacional, para utilização do Serviço de Radiodifusão Comunitária,
um único e específico canal na faixa de freqüência do serviço de
radiodifusão sonora em freqüência modulada.
Parágrafo único. Em caso de manifesta
impossibilidade técnica quanto ao uso desse canal em determinada
região, será indicado, em substituição, canal alternativo, para
utilização exclusiva nessa região.

Art. 6º. Compete ao Poder Concedente outorgar à


entidade interessada autorização para exploração do Serviço de
Radiodifusão Comunitária, observados os procedimentos
estabelecidos nesta Lei e normas reguladoras das condições de
exploração do Serviço.
Parágrafo único. A outorga terá validade de dez anos,
permitida a renovação por igual período, se cumpridas as
exigências desta Lei e demais disposições legais vigentes.”

Decreto 2.615/98:

“Art. 2º. As condições para execução do RadCom


subordinam-se ao disposto no art. 223 da Constituição Federal à
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Superior Tribunal de Justiça
Lei n.º 9615 de 1998 e no que couber, à Lei n.º 4117, de 27 de
agosto de 1962, modificada pelo Decreto-Lei n.º 236, de 28 de
fevereiro de 1967, e à regulamentação do Serviço de Radiodifusão
Sonora, bem como a este Regulamento, às normas
complementares, aos tratados, aos acordos e aos atos
internacionais.
Art. 9º. Compete ao Ministério das Comunicações:
(...)
II. expedir ato de autorização para a execução do
Serviço, observados os procedimentos estabelecidos na Lei n.º
9612 de 1998, e em norma complementar.”

Lei 4.117/62:

“Art. 33. Os serviços de telecomunicações não


executados diretamente pela União, poderão ser explorados por
concessão, autorização ou permissão, observadas as disposições
da presente lei.
§ 6º. Dependem de permissão, dada pelo Conselho
Nacional de Telecomunicações os seguintes serviços:
a) Público Restrito (Art. 6º, letra b);
b) Limitado (Art. 6º, letra c);
c) Radioamador (Art. 6º, letra e);
d) Especial (Art. 6º, letra f).
(…)
Art. 70. Constitui crime punível com pena de detenção
de 1 (um) a 2 (dois) anos, aumentada da metade se houver dano a
terceiro, a instalação ou utilização de telecomunicações sem
observância do disposto nesta Lei e nos regulamentos.”

Lei n.º 9.784/99:

“Art. 49. Concluída a instrução do processo


administrativo, a administração tem o prazo de até trinta dias
para decidir, salvo prorrogação por igual período expressamente
motivada.
(...)
Art. 69. Os processos administrativos específicos
continuarão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas
subsidiariamente os preceitos desta Lei”.

Ao final requer o provimento do recurso para declarar a nulidade do acórdão


hostilizado que, no seu entender, deferiu o pedido de permissão de uso, por particular, de
serviço de radiodifusão sonora, sem o cumprimento das exigências legais.

A ANATEL, por sua vez, sustenta em sua irresignação especial,

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preliminarmente, a violação ao art. 535, do CPC, e no mérito aos arts. 2º, Parágrafo Único, e
6º da Lei n.º 9.612/98, ao art. 9º, do Decreto n.º 2.615/98 e ao art. 49, da Lei n.º 9.784/99,
além de apontar dissídio jurisprudencial com julgado de outro Tribunal.

Realizado o juízo de admissibilidade positivo de ambos apelos extremos na


instância de origem, ascenderam os autos ao E. STJ e foram distribuídos ao Ministro José
Delgado que proferiu voto nos termos da seguinte ementa:

"ADMINISTRATIVO. RÁDIO COMUNITÁRIA. PROCESSO


ADMINISTRATIVO. PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO. MORA DA
ADMINISTRAÇÃO. ESPERA DE CINCO ANOS DA RÁDIO
REQUERENTE. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA
EFICIÊNCIA E DA RAZOABILIDADE. INEXISTÊNCIA.
VULNERAÇÃO DOS ARTIGOS 165, 458, I, II, II E 535, II DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. AUSÊNCIA DE INGERÊNCIA
DO PODER JUDICIÁRIO NA SEARA DO PODER EXECUTIVO.
RECURSO ESPECIAL CONHECIDO PELA ALEGATIVA DE
VIOLAÇÃO DOS ARTIGOS 2º DA LEI 9612/98 70 DA LEI
4.117/62 EM FACE DA AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO DOS DEMAIS ARTIGOS
ELENCADOS PELAS RECORRENTES. DESPROVIMENTO.
1. Cuida-se de recursos especiais (fls. 367/397 e 438/452) )
interpostos, respectivamente, pela AGÊNCIA NACIONAL DE
TELECOMUNICAÇÕES - ANATEL e pela UNIÃO, ambos com
fulcro na alínea "a", sendo o da ANATEL baseado também na letra
"c" do art. 105, III, da Constituição Federal de 1988, em face de
acórdão proferido pelo TRF da 4ª Região, assim ementado (fl.- 333-v)
"ADMINISTRATIVO. RÁDIO COMUNITÁRIA.
FUNCIONAMENTO. PROCESSO ADMINISTRATIVO.
OMISSÃO DO PODER PÚBLICO. RAZOABILIDADE.
APREENSÃO. POLÍCIA FEDERAL. INTERFERÊNCIA.
1. O conteúdo da sentença apelada não implica em invasão da
competência do Poder Executivo pelo Judiciário, posto não
conceder autorização para o funcionamento, mas apenas
impede que o funcionamento da Rádio Comunitária seja
perturbada enquanto não for examinado o pedido de
autorização.
2. O cidadão tem direito a receber um tratamento adequado por
parte do Ministério das Comunicações, que deve responder as
postulações feitas. Não o tendo feito no prazo da lei que rege os
procedimentos administrativos, está a desrespeitar o devido
processo legal e a razoabilidade.
3. Embora os fiscais da Agência Nacional de Telecomunicações
não tenham poderes para, administrativamente, proceder à
apreensão de bens e equipamentos no âmbito de sua
competência, tendo em vista a suspensão da eficácia do art. 19,
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Superior Tribunal de Justiça
inc. XV, da Lei nº 9.472/97, pela medida cautelar concedida
pelo Plenário do STF na ADIn nº 1.688, tal vedação não atinge
os agentes da Polícia Federal, que têm o dever de apreender os
instrumentos utilizados na prática de crimes.
4. No tocante às alegações de interferência dos equipamentos da
rádio comunitário no espectro eletromagnético, compete à
União Federal a respectiva fiscalização, procedendo às medidas
necessárias para evitar interferência em outros sistemas de
telecomunicações.
5. Apelações cíveis da ANATEL e remessa de ofício improvidas.
Apelação cível da União Federal parcialmente provida.”
2. Recursos especiais apreciados conjuntamente já que ambas as
recorrentes requerem a anulação do acórdão por violação do artigo
535, II, (omissão), sendo que a União aduz, ainda, afronta aos artigos
165 e 458 e incisos por ausência de fundamentação e, no mérito, o
provimento para determinar a reforma do acórdão. Não existe
afronta aos artigos 165, 458, I, II, III e 535, II do Código de Processo
Civil quando o decisório combatido resolve a lide enfrentando as
questões relevantes ao deslinde da controvérsia. O fato de não emitir
pronunciamento acerca de todos os dispositivos legais suscitados
pelas partes não é motivo para decretar nula a decisão.
3. Merece confirmação o acórdão que julga procedente pedido para
que a União e a ANATEL se abstenham de impedir o funcionamento
provisório dos serviços de radiodifusão, até que seja decidido o pleito
administrativo da recorrida que, tendo cumprido as formalidades
legais exigidas, espera já há cinco anos, sem que tenha obtido uma
simples resposta da Administração.
4. A Lei 9.784/99 foi promulgada justamente para introduzir no nosso
ordenamento jurídico o instituto da Mora Administrativa como forma
de reprimir o arbítrio administrativo, pois não obstante a
discricionariedade que reveste o ato da autorização, não se pode
conceber que o cidadão fique sujeito à uma espera abusiva que não
deve ser tolerada e que está sujeita, sim, ao controle do Judiciário a
quem incumbe a preservação dos direitos, posto que visa a efetiva
observância da lei em cada caso concreto.
5. O Poder Concedente deve observar prazos razoáveis para
instrução e conclusão dos processos de outorga de autorização para
funcionamento, não podendo estes prolongar-se por tempo
indeterminado”, sob pena de violação dos princípios da eficiência e
da razoabilidade.
6. Recursos parcialmente conhecidos e desprovidos."

Requeri vistas dos autos para melhor exame da matéria.

É o breve relatório.

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Superior Tribunal de Justiça
Deveras, tendo em vista a similitude das alegações deduzidas nos recursos
especiais, os mesmos serão analisados em conjunto.

Com efeito, a violação do art. 535 do CPC, não restou configurada, uma vez
que o Tribunal de origem, embora sucintamente, pronunciou-se de forma clara e suficiente
sobre a questão posta nos autos. Saliente-se, ademais, que o magistrado não está obrigado a
rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados
tenham sido suficientes para embasar a decisão, como de fato ocorreu na hipótese dos autos.
Neste sentido, os seguintes precedentes da Corte:

"AÇÃO DE DEPÓSITO. BENS FUNGÍVEIS. ARMAZÉM GERAL.


GUARDA E CONSERVAÇÃO. ADMISSIBILIDADE DA AÇÃO.
PRISÃO CIVIL. CABIMENTO. ORIENTAÇÃO DA TURMA.
NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INOCORRÊNCIA.
RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA/STJ.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PROCESSO EXTINTO SEM
JULGAMENTO DE MÉRITO. APLICAÇÃO DO § 4º DO ART. 20,
CPC. EQÜIDADE. RECURSO DO BANCO PROVIDO. RECURSO
DO RÉU DESACOLHIDO.
(...)
III - Não padece de fundamentação o acórdão que examina
suficientemente todos os pontos suscitados pela parte interessada em
seu recurso. E não viola o art. 535-II o aresto que rejeita os embargos
de declaração quando a matéria tida como omissa já foi objeto de
exame no acórdão embargado.
(...)" (REsp 396.699/RS, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ
15/04/2002)

"PROCESSUAL CIVIL. DECISÃO UNA DE RELATOR. ART. 557,


DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INTELIGÊNCIA A SUA
APLICAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO
RECORRIDO. MATÉRIA DE CUNHO CONSTITUCIONAL
EXAMINADA NO TRIBUNAL "A QUO".
(...)
3. Fundamentos, nos quais se suporta a decisão impugnada,
apresentam-se claros e nítidos. Não dão lugar, portanto, a
obscuridades, dúvidas ou contradições. O não acatamento das
argumentações contidas no recurso não implica em cerceamento de
defesa, posto que ao julgador cabe apreciar a questão de acordo com
o que ele entender atinente à lide.
4. Não está obrigado o Juiz a julgar a questão posta a seu exame
conforme o pleiteado pelas partes, mas, sim com o seu livre
convencimento, utilizando-se dos fatos, provas, jurisprudência,
aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável
ao caso.
(...)
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Superior Tribunal de Justiça
9. Agravo regimental não provido. " (AGA 420.383, Rel. Min. José
Delgado, DJ 29/04/2002)

"PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.


VIOLAÇÃO AO ART. 464, II, DO CPC. INOCORRÊNCIA.
APELAÇÃO. DECISÃO POR MAIORIA. RECURSO ESPECIAL.
I - Os embargos de declaração possuem finalidade determinada pelo
artigo 535, do CPC, e, exepcionalmente, podem conferir efeito
modificativo ao julgado. Admite-se também embargos para o fim de
prequestionamento (Súmula 98-STJ). Exigir que o Tribunal a quo se
pronuncie sobre todos os argumentos levantados pela parte
implicaria rediscussão da matéria julgada, o que não se coaduna com
o fim dos embargos. Assim, não há que se falar em omissão quanto
ao decisum vergastado, uma vez que, ainda que de forma sucinta,
fundamentou e decidiu as questões. O Poder Judiciário, para
expressar sua convicção, não precisa se pronunciar sobre todos os
argumentos suscitados pelas partes.
(...)
Recurso especial não conhecido. " (Resp 385.173, Rel. Min. Felix
Fischer, DJ 29/04/2002)

Quanto ao mérito, verifica-se que a matéria veiculada nos recursos especiais


foram devidamente prequestionada pelo Tribunal a quo, muito embora de modo implícito,
consoante se colhe do voto-condutor do aresto recorrido:

" P e ç ovênia ao Eminente Relator para


divergir do entendimento adotado.
Inicialmente, afasto as preliminares de nulidade da sentença
recorrida, argüidas pela ANATEL e pela União Federal.
Isto porque a decisão apelada não concedeu alvará de
funcionamento à Associação de Comunicação Comunitária Educativa
e Cultural Alegrete, mas tão somente declarou o seu direito de
permanecer em operação até a outorga definitiva de autorização ou
expresso indeferimento, determinando às rés que se abstivessem de
apreender ou lacrar os equipamentos da emissora, uma vez que, caso
o processo administrativo n° 53.790.001274/1998 seja julgado
improcedente, não haverá que se falar em revogação de qualquer
alvará ou permissão, estando impedida a apelada de prestar o serviço
de rádio comunitária.
Por outro lado, a sentença recorrida não é condicional, ao
contrário do alegado pela União Federal. Caso existam outros óbices
para o funcionamento da rádio, que não a ausência de autorização,
não estarão impedidas as apelantes de proceder à regular
fiscalização do serviço. O objeto da ação limita-se ao pedido de
funcionamento temporário da rádio comunitária, até que o Ministério
das Comunicações decida sobre o processo administrativo. Quaisquer
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Superior Tribunal de Justiça
outras situações que possam impedir o funcionamento da rádio não
estão abrangidas pela eficácia da sentença apelada, o que não
significa que esta seja condicional.
Passo agora à análise do mérito propriamente dito. A
associação recorrida é entidade sem fins lucrativos, regularmente
registrada e com estatuto próprio. Encaminhou, em 29.09.1998,
solicitação ao Ministério das Comunicações objetivando concessão
para executar serviço de radiodifusão comunitária na cidade de
Alegrete/RS. Cerca de um ano após o pedido administrativo, sem
qualquer resposta do Ministério das Comunicações, colocou no ar a
Rádio Popular FM, ajuizando a ação declaratória n°
1999.71.03.001455-4 e a ação cautelar n° 1999.71.03.001292-2 de
modo a permitir o seu funcionamento.
A Lei n° 9.612/98, editada com o intuito de regular e estimular
a criação das rádios comunitárias como meio de integração de toda a
comunidade, não afasta a necessidade da outorga do Poder
Executivo, consagrada no art. 223 da Constituição Federal, para a
prática da atividade em questão (art. 2º, parágrafo único).
Sobre o tema, já me posicionei no sentido de reconhecer o
direito de funcionamento de rádio comunitária quando a ausência da
concessão governamental decorrer exclusivamente da conduta
manifestamente protelatória e omissa do Poder Executivo através do
Minicom. No caso específico dos autos, já decorreram quase cinco
anos desde o protocolo do pedido administrativo, sem que houvesse a
Associação obtido qualquer resposta ao seu pedido. De acordo com o
Sistema de Acompanhamento e Controle de Processos – SICAP,
constante da página do Ministério das Comunicações na internet, a
última movimentação do processo administrativo n°
53.790.001274/1998 é de 04.05.1999 (Órgão: CGL; Situação:
Tramitando).
Sirvo-me, portanto, do voto por mim proferido nos autos da
Apelação Cível 97.04.52066-2/SC, do qual transcrevo algumas
palavras, verbis:
“(...)
Trata-se de ação declaratória de existência de
relação jurídica ajuizada pela Associação de
Radiodifusão Comunitária de Jaguaruna e Sangão contra
a União Federal visando o reconhecimento do direito ao
funcionamento da rádio comunitária “Sambaqui”.
(...)
O cidadão tem direito a receber um tratamento
adequado por parte do Ministério das Comunicações, que
deve responder as postulações feitas. Não o tendo feito no
prazo da lei que rege os procedimentos administrativos,
que é de trinta dias para o pronunciamento da
Administração, demorando-se mais de 1 ano, parece-me
que também está a desrespeitar o devido processo legal e
a razoabilidade.
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Superior Tribunal de Justiça
(...)
Assim, deve ser considerado que há norma
regulamentadora, que a autora preenche os requisitos do
art. 9º da Lei nº 9.612, que existe omissão prolongada do
poder executivo, e principalmente a necessidade de
democratização dos meios de comunicação, permitindo o
acesso às fontes de cultura nacional a todos os
brasileiros, especialmente neste caso, pois, é o único meio
de comunicação dos municípios e comunidades
envolvidas.
Isto posto, dou provimento ao apelo, invertidos os
ônus sucumbenciais.”
Ademais, ainda que a apelada não possuísse autorização
administrativa de funcionamento, não poderia a ANATEL, através de
sua fiscalização apreender quaisquer equipamentos da Rádio Popular
FM de Alegrete/RS, não obstante o disposto no art. 19, inc. XV, da Lei
n° 9.472/97:
Art. 19. À Agência compete adotar as medidas
necessárias para o atendimento
do interesse público e para o desenvolvimento das
telecomunicações
brasileiras, atuando com independência,
imparcialidade, legalidade,
impessoalidade e publicidade, e especialmente:
(...)
XV – realizar busca e apreensão de bens no âmbito
de sua competência;
Tal dispositivo, contudo, foi suspenso pelo Plenário do Supremo
Tribunal Federal, na sessão do dia 20.08.1998, em razão de medida
liminar parcialmente concedida nos autos da ADIn n° 1.668 (DJU de
31.08.1998), não havendo mais a possibilidade, até o julgamento
definitivo da ADIn, da busca e apreensão de bens pelos próprios
fiscais da ANATEL.
Entretanto, tal vedação alcança tão somente os fiscais da
ANATEL, mas não os agentes da Polícia Federal, no exercício de
suas atribuições funcionais. Imagine-se, por exemplo, que os
equipamentos de telecomunicações utilizados pela Associação de
Comunicação Comunitária Educativa e Cultural Alegrete tivessem
sido importados pela apelada, iludindo o pagamento de direito ou
imposto devido pela entrada no país, o que em tese enquadrar-se-ia
na conduta tipificada como crime no art. 334 do Código Penal. Não
há dúvida acerca da possibilidade da apreensão dos referidos
instrumentos pela Polícia Federal.
Da mesma forma, a instalação ou utilização de
telecomunicações sem observância da legislação de regência, é
tipificada no art. 70 da Lei n° 4.117/62, sendo lícita a apreensão,
pelos órgãos policiais, dos instrumentos do crime. Assim, deve ser
afastada a vedação de apreensão dos equipamentos da apelada pela
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Superior Tribunal de Justiça
Polícia Federal, desde que por motivo diverso do objeto da presente
ação.
Finalmente, quanto à alegação de que haveria risco nas
comunicações de navegação aérea em razão das transmissões da
rádio comunitária, assevero que não está impedida a União de
proceder às medidas necessárias para evitar quaisquer interferências
em outros sistemas de comunicação.
Isto posto, nego provimento à remessa ex officio e à apelação
da ANATEL, e dou parcial provimento à apelação da União Federal,
tão somente para permitir que os agentes da Polícia Federal
apreendam eventuais equipamentos da apelada nos casos acima
referidos. Tendo em vista que a apelada decaiu de parte mínima do
pedido, ficam mantidos os ônus sucumbenciais.
É o voto."

Consectariamente, ambos recursos merecem ser conhecidos pela alínea "a", do


permissivo constitucional, e o apelo extremo da ANATEL, também, pela alínea "c",
porquanto devidamente demonstrado o dissídio jurisprudencial.

Conforme se verifica, in casu, a disposição contida no art. 9º do Decreto nº


2.615/98 determina a competência exclusiva do Ministério das Comunicações para expedir
ato de autorização para a execução do radiodifusão comunitária.

Deveras, o Decreto 2.615/98 atribuiu competência exclusiva ao Ministro de


Estado das Comunicações para decidir acerca do pedido de autorização para funcionamento
no termos do disposto na Lei nº 9.612/98 que instituiu o Serviço de Radiodifusão
Comunitária.

Nada obstante, os arts. 48 e 49 da Lei nº 9.784/99 dispõem que, finalizado o


processo administrativo, a Administração tem o prazo de até 30 dias para decidir, salvo
prorrogação, por igual período, desde que, efetivamente motivada. Depreende-se do citado
dispositivo legal cuja a ratio essendi está consoante o princípio da eficiência, já prestigiado
pelo STJ, mercê da liberdade de a autoridade máxima decidir ao seu alvitre. Os aludidos
dispositivos legais dispõem o seguinte:
Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamente
emitir decisão nos processos administrativos e sobre solicitações
ou reclamações, em matéria de sua competência.
Art. 49. Concluída a instrução de processo
administrativo, a Administração tem o prazo de até trinta dias
para decidir, salvo prorrogação por igual período expressamente
motivada.

Acerca da obediência da Autoridade Pública ao princípio da eficiência previsto


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Superior Tribunal de Justiça
no art. 37 da Carta Maior, confira-se o seguinte precedente da Egrégia Primeira Seção do
Superior Tribunal de Justiça que, mutatis mutandis , revela-se aplicável ao caso sub examine:
"ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.
ATO OMISSIVO. AUTORIZAÇÃO. EXECUÇÃO DE SERVIÇOS
DE RADIDIFUSÃO COMUNITÁRIA.
1. O exercício da atividade administrativa está
submetido ao princípio da eficiência, nos termos do art. 37, caput,
da CF/88.
2. Configura-se ofensiva ao princípio da eficiência a
conduta omissiva da autoridade competente, que deixa transcorrer
longo lapso temporal sem processar pedido de autorização de
funcionamento de rádio comunitária.
3. Ordem parcialmente concedida."(MS 7.765/DF, Rel.
Min. Paulo Medina, DJ 14/10/2002)

Destaque-se, pela juridicidade de suas razões, os fundamentos desenvolvidos


pelo Ministro Paulo Medina no voto condutor do MS nº 7.765/DF, litteris :

"A Administração Pública e, conseqüentemente, os


seus agentes, desimportante o seu nível hierárquico, estão
adstritos, por expressa disposição constitucional (art. 37, caput), à
observância de determinados princípios, dentre os quais se
destaca o princípio da eficiência, inserido no dispositivo em
virtude da alteração procedida pela Emenda Constitucional n.
19/98.

A atividade administrativa, dessa forma, deve


desenvolver-se no sentido de dar pleno atendimento ou satisfação
às necessidades a que visa suprir, em momento oportuno e de
forma adequada. Impõe-se aos agentes administrativos, em outras
palavras, o cumprimento estrito do "dever de boa administração".

No caso em apreço, a eficiência da atividade


administrativa implica, necessariamente, criteriosa análise dos
processos de autorização de execução de serviços de radiodifusão
comunitária conjugada com a observância de prazo razoável para
a emanação do ato pretendido (autorização).

A legislação regente da matéria não fixa prazo


determinado para a instrução e conclusão do procedimento
administrativo em questão, o que não significa, entretanto, possa a
autoridade postergar a sua prática indefinidamente, frustrando o
exercício do direito.

Salienta Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo

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Superior Tribunal de Justiça
Brasileiro, 19 a edição, p. 98:

"Quando não houver prazo legal, regulamentar ou


regimental para a decisão, deve-se aguardar por um tempo
razoável a manifestação da autoridade ou do órgão competente,
ultrapassado o qual o silêncio da Administração converte-se em
abuso de poder, corrigível pela via judicial adequada, que tanto
pode ser ação ordinária, medida cautelar, mandado de injunção
ou mandado de segurança. Nesse caso, não cabe ao Poder
Judiciário praticar o ato omitido pela Administração, mas, sim,
impor sua prática, ou desde logo suprir seus efeitos, para
restaurar ou amparar o direito do postulante, violado pelo silêncio
administrativo".

Agride o princípio da eficiência, de maneira


inquestionável, a demora injustificável da tanto do processamento
do requerimento quanto da apreciação do pedido pela autoridade
coatora, decorridos quase 04 (quatro) anos do protocolo do pleito.
A justificar a desídia, despiciendas as alegações da autoridade
coatora acerca da existência de outras entidades interessadas no
serviço, bem como do excessivo número de processos submetidos a
sua apreciação, sendo o prazo decorrido mais do que suficiente ao
implemento das providências pertinentes.

Geraldo Ataliba, em seu República e


Constituição, obra de referência obrigatória, alerta para o papel
determinante dos princípios constitucionais como condicionantes
da interpretação e eficácia das demais regras e para a gravidade
da violação a estes impingida. Apoiado em lição de Celso Antônio
Bandeira de Mello, consignou o autor:

"Princípio é, pois, por definição, mandamento nuclear


de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental
que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e
servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência,
precisamente porque define a lógica e a racionalidade do sistema
normativo, conferindo-lhe a tônica que lhe dá sentido harmônico"
(...)´qualquer disposição, qualquer regra jurídica (...)
para ser constitucional, necessita estar afinada com o princípio
(...) realizar seu espírito, atender à sua direção estimativa,
coincidir com seu sentido axiológico, expressar seu conteúdo .
Não se pode entender corretamente uma norma constitucional
sem atenção aos princípios consagrados na Constituição e não se
pode tolerar uma lei que fira um princípio adotado na Carta
Magna. Violar um princípio é muito mais grave que transgredir
uma norma. A desatenção ao princípio implica ofensa não
apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o
sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou
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Superior Tribunal de Justiça
inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio violado,
porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão
de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu
arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra ." (Ataliba,
República e Constituição, Malheiros Editores, 1998, p.34/35).

Patenteado o desrespeito ao princípio da eficiência


pela autoridade coatora, sem justificativa plausível, impositivo se
torna o pronunciamento judicial favorável à pretensão da
impetrante, sendo certo que o "controle dos atos administrativos
pelo Poder Judiciário está vinculado a perseguir a atuação do
agente público em campo de obediência aos princípios da
legalidade, da moralidade, da eficiência , da impessoalidade, da
finalidade e, em algumas situações, o controle do mérito " (REsp
169.876/SP, Rel. Min. José Delgado, DJ de 21.09.98).

O pronunciamento judicial, in casu, para não estar


inócuo, deve assinalar, fundado em critérios decorrentes da
observância do princípio da razoabilidade , prazo máximo para
conclusão do processo e pronunciamento da autoridade coatora
sobre o pedido. Tal providência não importa indevida ingerência
do Poder Judiciário, consubstanciando-se, ao revés, em
providência indispensável ao restabelecimento da legalidade,
posto que, como assinalado, o decurso de quase 04 (quatro) anos
afigura-se, à toda evidência, excessivo.

Assevera Celso Antônio Bandeira de Mello:

"Não se imagine que a correção judicial


baseada na violação do princípio da razoabilidade invade o
´mérito´do ato administrativo, isto é, o campo de liberdade
conferido pela lei à Administração para decidir-se segundo uma
estimativa da situação e critérios de conveniência e oportunidade.
Tal não ocorre porque a sobredita ´liberdade´ é liberdade dentro
da lei, vale dizer, segundo as possibilidades nela comportadas.
Uma providência desarrazoada, consoante dito, não pode ser
havida como comportada pela lei. Logo, é ilegal: é desbordante
dos limites nela admitidos." (grifei)(Curso de Direito
Administrativo, 14a edição, 2002, p. 92)."

Destarte, depreende-se do citado dispositivo que a sua ratio essendi está


consoante o princípio da eficiência, já prestigiado pelo STJ, mercê da liberdade de a
autoridade máxima decidir ao seu livre alvitre, in verbis :

"Art. 48. A Administração tem o dever de


explicitamente emitir decisão nos processos administrativos e
sobre solicitações ou reclamações, em matéria de sua
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Superior Tribunal de Justiça
competência.
Art. 49. Concluída a instrução de processo
administrativo, a Administração tem o prazo de até trinta dias
para decidir, salvo prorrogação por igual período expressamente
motivada."

Com efeito, esta Corte, no julgamento de hipóteses análogas, firmou


entendimento de que a demora na apreciação do pedido de autorização para funcionamento de
rádio comunitária, autoriza excepcional autorização emanada do judiciário, ante a ratio
essendi dos princípios da legalidade, da moralidade, da eficiência, da impessoalidade, da
finalidade.
Nesse sentido confira-se, recente julgado de relatoria da Ministra Eliana
Calmon, no RESP nº 549.253/RS, publicado no DJ de 15.12.2003, verbis :

"ADMINISTRATIVO – SERVIÇO DE
RADIODIFUSÃO – OUTORGA DE RÁDIO COMUNITÁRIA: LEI
9.612/98 E DECRETO 2.615/98.
1. A Lei 9.612/98 criou um novo sistema de
radiodifusão, facilitou a concessão, mas não dispensou a
autorização prévia, que é obrigatória.
2. Déficit na estrutura administrativa, com excessiva
demora na apreciação dos pedidos de autorização, ensejando o
excepcional consentimento judicial para o funcionamento.
3. Exame da legalidade no moderno direcionamento,
que não pode ser entendido como submissão absoluta à lei.
4. Recurso especial improvido.

Ex positis , acompanho o voto do Ministro Relator no sentido de que o Poder


Concedente deve observar os prazos para instrução e conclusão dos processos de outorga de
autorização para funcionamento de rádio comunitária, sob pena de violação aos princípios da
eficiência e da razoabilidade, para negar provimento a ambos recursos especiais.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
PRIMEIRA TURMA

Número Registro: 2004/0137418-0 REsp 690811 / RS

Números Origem: 199971030012922 199971030014554


PAUTA: 14/12/2004 JULGADO: 28/06/2005

Relator
Exmo. Sr. Ministro JOSÉ DELGADO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro LUIZ FUX
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. .
Secretária
Bela. MARIA DO SOCORRO MELO
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : UNIÃO
RECORRENTE : AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES - ANATEL
PROCURADOR : DANIEL MARCHIONATTI BARBOSA E OUTROS
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO DE COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA EDUCATIVA E
CULTURAL ALEGRETE - POPULAR/FM
ADVOGADO : ERNI FAGUNDES WOLLENHAUPT
ASSUNTO: Administrativo - Ato - Autorização - Radiodifusão

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Luiz Fux, a Turma, por
unanimidade, conheceu parcialmente dos recursos especiais e, nessas partes, negou-lhes
provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Luiz Fux (voto-vista) e Denise Arruda votaram com o Sr. Ministro
Relator.
Não participou do julgamento o Sr. Ministro Teori Albino Zavascki (RISTJ, art. 162, § 2º,
primeira parte).
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Francisco Falcão.

Brasília, 28 de junho de 2005

MARIA DO SOCORRO MELO


Secretária

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