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LUCIEN FEBVRE
A primeira acusação dos sociólogos contra a geografia humana é clara. Pode
traduzir-se por uma palavra. Acusam-na de ambição. Nada de mais estreito — dizem — e,
ao mesmo tempo, nada de mais ambicioso do que as suas concepções. Logo que estão
em face de um grupo de homens, de uma sociedade humana, pensam no solo sobre o
qual assenta materialmente esse grupo, essa sociedade. Para eles, esse suporte material,
esse substrato das sociedades não é de modo algum uma matéria inerte e sem ação. Atua
sobre os homens que suporta. «Influencia-os» tísica e moralmente. «Explica-os» no
conjunto e em pormenor. Explica-os, e até os explica por si só. Só ele atua sobre eles. Só
ele os influencia. Exclusivismo e preconceito normal: a deformação profissional do
especialista explica-o perfeitamente.
O geógrafo parte do solo, e não da sociedade. Sem dúvida que não chega ao ponto
de pretender que esse solo é a ‘causa’ da sociedade. RATZEL contenta-se com dizer que o
solo é «o único laço de coesão essencial de cada povo» (1). Mas é, antes de tudo, para o
solo que se dirige a sua atenção. A ação e a eficácia do fator geográfico é o que RATZEL
pretende esclarecer, precisar, mostrar bem claramente. «Em lugar de estudar o substrato
material das sociedades em todos os seus elementos e em todos os seus aspectos»,
censura-lhe Mauss, «é sobretudo sobre o solo que a sua atenção se concentra. E o solo
que está no primeiro plano da sua investigação». A morfologia social seria muito
diferente. Certamente que trataria também do substrato das sociedades, mas enquanto
um só dos elementos que ajudam a compreender a vida e os destinos dessas sociedades.
Não começaria por divinizar, por assim dizer, esse elemento privilegiado, por lhe atribuir
uma espécie de poder criador, por fazer dele o produtor e animador das formas sociais.
Tendo por objeto a «massa dos indivíduos que compõem os diversos grupos, a maneira
como são dispostos sobre o solo, a natureza e a configuração dos fatores de toda a
espécie que afetam as relações coletivas (3), esta disciplina tomaria lugar entre as
ciências especiais de que a sociologia, na opinião de DURKHEIM e FAUG0NNE-r(),
constitui, por assim dizer, o Corpus. Ora aquilo que o sociólogo, ao contrário do
geógrafo, põe no primeiro plano das suas preocupações não é a terra»—é a «sociedade».
Noutros termos, o problema não é o mesmo, conforme sejamos, nos consideremos, nos
proclamemos geógrafos ou morfólogos. E, em conseqüência disso, Mauss é levado a
dizer (1): «Se preferimos o termo morfologia social ao de antropogeografia para designar
a disciplina à qual se refere esse estudo, não é por um vão gosto de neologismo; é que
esta diferença de etiqueta traduz uma diferença de orientação». Com efeito, assim o
pensamos. Diríamos mesmo de bom grado: uma diferença tal que, na realidade,
morfologia social e geografia humana não podem, sem perigo, substituir-se uma à outra.
Mas o estudo «em ação>> das duas disciplinas rivais no-lo mostrará melhor que qualquer
discussão teórica.
Por certo que nos parece bem escolhido o livro de que partiram. A Antropogeografia
é a obra-prima de Ratzel, e quando Mauss, depois de Durkheim, chama ao seu autor o
(fundador da antropogeografia), exagera—mas que é (um dos fundadores, é verdade. Não
obstante, não se deve considerar a geografia humana sinônima de Ratzel e seus
discípulos. Evidentemente a escola francesa não ignora quem foi o padrinho da
antropogeografia. Quando, em 1891, foram criados os Anais de Geographie, um dos
primeiros fascículos da nova revista continha um longo, preciso e copioso resumo das
idéias mestras, dos temas favoritos do geógrafo alemão: resumo, aliás, nitidamente
crítico, notemo-lo, da autoria de L. Ravenau e com o título de "O elemento humano na
geografia". Mais tarde, quando apareceu a Politische Geographie, Vidal de La Blache
assinalou pessoalmente o seu valor e aproveitou a ocasião para, por sua vez, definir a
Geografia Política. Finalmente, depois disso, M. G. HUCKEL resumiu, sempre nos Anais, e
dirigindo-se aos leitores franceses, as linhas fundamentais da Geografia da Circulação
segundo Ratzel. Contudo, apesar destes repetidos testemunhos, seria bastante inexato
fazer depender de RATZEL todo o esforço, tão vivo, tão curioso, tão interessante, dos
geógrafos franceses. Muitos estranhariam semelhante influência e talvez confessassem
conhecê-lo muito vagamente. De fato, o que antes de mais nada lhes interessa é a
monografia regional. As obras teóricas, os livros de conjunto sobre o objeto, intenções e
método da geografia humana são muito raros em França. Somente podemos citar os
artigos tão sugestivos, vivos e originais, de VIDAL DE LA BLACHE; o grande livro, de valor
desigual e débil contextura, mas abundante em referências, de J. Brunhes e, finalmente,
revelando de forma muito sensível a influência de Ratzel, mas não sem que lhe faça as
suas reservas, quer dizer, não sem crítica ou atualização, os dois livros de Camile
Vallaux: La Mer e Le Sol et l’Êtat, dois volumes recentes (1908 e 1911) da pequena
Encyclopedie scientifique Doin. É tudo e é pouco. Mas no conceito dos geógrafos
franceses é bastante. Na sua opinião, a geografia humana é demasiado jovem, tem muito
que trabalhar, muito que adquirir, muito que tentear, para poder, desde já, pensar em
definições ou em delimitações eficazes. Pretendendo-se precipitadamente delimitar o seu
campo, não se correria o risco de deixar fora dele o melhor, o mais puro da geografia
humana? Em qualquer caso, é um ponto de vista, e é preciso ainda acrescentar que em
Inglaterra, nos Estados Unidos, na Itália, ou ainda noutros pontos, há "geógrafos
humanos" cuja obra ou tendências nada têm de ratzeliano. Em França o raizelianismo foi
talvez um estado de prestígio—mas não uma realidade.
Outra coisa ainda: mesmo no tempo em que DURKHEIM denunciava a
Antropogeografia, do mestre alemão, como um esforço, sem dúvida quimérico, para
«estudar todas as influências que o solo pode exercer sobre a vida social em geral, já
VIDAL DE LA BLACHE escrevia, nos Anais de Geographie: (Restabelecer na geografia o
elemento humano, cujos títulos parecem esquecidos, reconstituir a unidade da ciência
geográfica na base da natureza e da vida: tal é, sumariamente, o plano da obra de um
RATZEL. Os dois juízos diferem muito sensivelmente. Será falso um deles?
De fato, no próprio momento em que RATZEL parecia preocupado, antes de mais,
em definir a influência dessas condições geográficas sobre os destinos, e particularmente
sobre a história dos homens, esforçava-se afinal, rico e seguro dos seus conhecimentos
infinitamente variados, por mostrar no homem um dos mais poderosos fatores da
geografia: quer dizer, procurava fundar, criar realmente a geografia humana. A obra do
professor de Leipsig não é das que se deixam encerrar numa fórmula única. DURKHEIM
assim o viu e referiu. Na Antropogeografia de RATZEL há três espécies de questões
diferentes — escreve Durkheim nessa referência crítica a que frequentemente temos
aludido(’). Em primeiro lugar, RATZEL preocupa-se em estabelecer, com o auxilio de
mapas - e, neste aspecto, fiel às diretrizes de Humboldt, que em 1836 orientava a
publicação do Atlas físico de BERGHAUS —, qual a forma como os homens se encontram
distribuídos e agrupados sobre a Terra. Em seguida procura explicar essa distribuição,
essa repartição, enquanto resultante dos incessantes movimentos de toda a natureza e
origem que se sucederam no decurso da história. Finalmente — e só finalmente —,
entende dever estudar os diversos efeitos que o meio físico pode produzir nos indivíduos
e, por seu intermédio, no conjunto da sociedade. Ora esta última ordem de problemas é
muito diferente das duas outras; aliás, no seu livro, ocupa somente uma parte restrita;
quase só os dois últimos capítulos lhe são particularmente consagrados; segundo a
confissão do próprio autor, estas questões estão somente no limiar da antropogeografia)
(2. Por nossa conta, acrescentaremos que esta terceira parte da Antropogeografia,
dominada por preconceitos de ordem pessoal, políticos ou outros. não é certamente a
mais fecunda. E não é menos verdade que é só sobre essa parte, ou quase só sobre ela,
que incide a critica de DURKHEIM e que, apontada antecipadamente à atenção do leitor
pelo subtítulo do primeiro volume: «Princípios da aplicação da geografia à história), ela
parecia atrair e provocar essa censura geral de ambição que, através de RATZEL,
DURKHEIM havia de dirigir a toda a jovem geografia.
Estaria um pouco fora do nosso tema presente averiguar como é que Ratzel se pôde
expor, plena e conscientemente, a tais criticas. Investigador com uma formação de
ciências naturais, tinha mais que qualquer outro essa idéia mestra da unidade terrestre,
cuja concepção, em 16õ0, por BERNARD VARENIUS bastou para que este seja hoje
saudado como o verdadeiro fundador da geografia científica. Geógrafo, no decurso da
sua vida e em todo o desenvolvimento da sua obra procurou manter a geografia humana
em contato estreito, em permanente solidariedade com a geografia física. Qual a razão
por que RATZEL parece desviar-se assim da sua habitual prudência, perder de vista os
próprios princípios da sua investigação e dar apoio a esses ambiciosos, que de bom
grado sonhariam com uma filosofia da geografia, tal como outros, em tempos passados,
já tinham concebido uma filosofia da história, ou então a esses outros espíritos
resignados que colocam a geografia no nível de uma humilde serva, ou, como se disse(5),
como gata borralheira da história. Se é verdade — e é — que no primeiro volume da
Antropogeografia a idéia central sofre grandes eclipses; se é verdade que a dialética de
Ratzel não tem receio das mais flagrantes contradições: terá interesse explicar tudo por
meio destes enfraquecimentos de doutrina? Não pensamos que assim seja. Na nossa
opinião, o erro de RATZEL foi ter aceitado com demasiada facilidade certos problemas na
própria forma como eram postos pela tradição. O seu vício foi o de não pensar em rever
com seriedade os seus termos e o seu enunciado. Ele e os seus discípulos, assim como os
geógrafos de outras escolas, na medida em que merecem e justificam as críticas acima
reproduzidas, são talvez, e antes de mais, somente vítimas: vítimas de circunstâncias de
ordem cronológica independentes da sua vontade; mais claramente, vitimas da história.
Como parece, estaremos nós muito longe, quer de RATZEL, quer do debate entre a
morfologia social e a geografia humana e, afinal, do próprio objeto deste livro? Não o
pensamos.
Por certo, as nossas concepções de história e de geografia estão hoje muito
modificadas.
Já não nos esforçamos pacientemente por reconstituir somente a armadura política,
jurídica e constitucional dos povos antigos ou as suas vicissitudes militares ou
diplomáticas. E toda a sua vida, toda a sua civilização material e moral, é toda a evolução
das suas ciências, das suas artes, das suas religiões, das suas técnicas, das suas trocas,
das suas classes e dos seus agrupamentos sociais. Bastará encarar a história da
agricultura e das classes rurais, nos seus esforços de adaptação ao solo, no seu longo
trabalho descontínuo de desbravamento, de abatimento de florestas, de drenagens, de
povoamento: quantos problemas não levanta cuja solução depende, em parte, de estudos
geográficos? Alargamento da história, desenvolvimento da geografia: combinem-se os
efeitos desta dupla revolução, tal como aqui indicamos; e compreender-se-á que o velho
problema das relações do solo e da história já se não pode pôr para nós como se punha
para os homens de 1830 ou de 1860.
Assim se compreenderá — mas nem todos o compreenderam tão depressa nem tão
completamente quanto seria necessário. A tal ponto o homem é um ser de tradições!
Quando, pouco a pouco a geografia humana se criava e organizava como ciência, os
historiadores puderam pensar em solicitar colaboração aos representantes da nova
ciência, que, interpelados diretamente sobre questões, ao que parecia, de ordem
geográfica por homens de quem muitas vezes sofriam o prestígio, não se deram
imediatamente conta de que corriam o risco, ao desertar do seu domínio próprio, de se
deixarem conduzir como reféns ou como prisioneiros para um terreno que não tinham
escolhido e que não era o seu. O erro tem explicação, mas era pesado.
Com efeito, onde não há plena iniciativa para o sábio não há ciência. Não se faz
uma ciência respondendo simplesmente a um questionário formulado do exterior, em
nome e no interesse estrito de uma outra ciência. Colaborar assiduamente no
iritermédiaire des chercheurs eI des curieux, responder aí, em consciência, ás perguntas
de outrem, não é constituir uma ciência. Os historiadores podem à vontade perguntar,
em seu nome pessoal e sob a sua responsabilidade qual foi o papel das condições
geográficas no desenvolvimento deste ou daquele povo, supondo antecipadamente essas
condições como dadas de uma vez para sempre e formando uma espécie de bloco de
efeitos, permanentes e sempre semelhantes: os geógrafos não deviam, não deveriam ter
limitado as suas ambições a satisfazer ingenuamente semelhantes curiosidades. E como
se pode pretender que não o fizeram?
Fizemos atrás referência à confusão, inicialmente tão vulgar e, aliás, tão natural,
entre as divisões políticas e as divisões propriamente geográficas. Mas acaso não
considerava um geógrafo, ainda há pouco, como quadro de um estudo «de geografia
física e de civilizações indígenas (era o subtítulo da obra), os limites políticos, ou, antes,
administrativos, de um fragmento de uma seção de colônia francesa, sem qualquer
preocupação em procurar. para sua delimitação e caracterização, o que poderia haver de
«regiões naturais>> no vasto território que assim se submetia á observação?
Já fizemos também referência ao preconceito gráfico», se assim se pode dizer, de
um Ritter quando compara contornos sem se preocupar nada com a sua gênese, «da
mesma forma que, em etnografia, se falaria dum negro ou, em botânica, de uma
palmeira. Mas nos nossos dias, e regularmente — ainda há pouco tempo um geógrafo
chamava a atenção para o processo e o denunciava, não vimos nós comparar entre si
regiões tão diferentes como, por exemplo, a Itália e a Coréia ? Encantado da vida, o
amador de formas segue nos mapas de pequena escala, nos Atlas escolares, os
contornos dessas duas penínsulas; vê-as, descreve-as como igualmente alongadas,
orientadas de modo semelhante, cortadas da mesma forma por uma cadeia de
montanhas, e, para completar o paralelo, compara, pela sua posição, Seul e Roma, os
dois centros políticos.
Havíamos feito, para terminar, referência ao preconceito de predestinação. Mas
quantos livros não há ainda em França, Inglaterra, Itália, Espanha onde se descrevem
estes países como outros tantos seres geográficos. onde se faz salientar a sua
homogeneidade verdadeiramente providencial, enquanto a Lorena, Borgonha, Franco-
Condado, Provença representam, por sua vez, regiões naturais, quadros fabricados por
toda a eternidade para alojar as províncias? Como se nós não devêssemos examinar com
a mais minuciosa atenção crítica a lista dos próprios países, essas unidades de base,
velhíssimas unidades terrestres, designadas, por vezes, por remotíssimos nomes!
Assim se perpetuam velhos preconceitos. Assim se continuam a formular, na forma
tradicional, problemas que o tempo renova sempre. E precisamente o erro de Ratzel —na
medida em que há erro — reside aí. O autor da Antropogeografia não se libertou
inteiramente de uma tradição bastarda; ou, mais exatamente, depois de lhe ter dado, na
parte mais fecunda e propriamente geográfica da sua obra, o golpe mais importante, não
a soube repelir por completo.
E receamos bem que não suceda assim só na Antropogeografia, mas talvez mesmo
na Politische Geographie. Não é este, evidentemente, o lugar próprio para renovar uma
crítica muitas vezes feita — e bem feita — às idéias ramalhudas e por vezes
contraditórias de Ratzel sobre o papel predominante que na vida dos organismos
políticos representaria o espaço puro, o espaço tomado em si mesmo e
independentemente dos caracteres geográficos que nós julgávamos serem inseparáveis
desses mesmos organismos. Mas se RATZEL elaborou esta teoria, a tal ponto criticável
que ele mesmo, no seu próprio livro, por outra via, a destruiu, fe-lo levado por uma idéia
política; é que se lhe impunha uma concepção tradicional; é que, abrangendo numa visão
global todos os Estados dispersos à superfície do globo, reduzia-lhes a sua vida múltipla,
rica e variada a uma única manifestação; ao desejo, à esperança, à permanente avidez de
extensão—termo científico para designar simplesmente a ambição conquistadora, esse
sinal essencial, segundo RATZEL, esse critério infalível da vitalidade e grandeza dos
Estados. Mas quem não reconhece aqui, apesar de uma transposição sábia e muito
filosófica, a velha atitude que há pouco caracterizamos, a preocupação predominante e
simplista das formas exteriores, dos limites graficamente definidos, dos <<contornos>>
— a docilidade, numa palavra, às sugestões da história política e territorial?
Ao fazer referência a um livro de ARNOLO GUY0T, J.J.Ampere escrevia que GUYOT
tentou explicar a história pela geografia. Vigorosamente, VIDAL DE LA BLACHE, que cita a
frase, declara que essa pretensão, se fosse desenvolvida, não seria mais razoável do que
a de dispensar a geografia na explicação da história. Nada mais exato. Fatos históricos e
fatos geográficos são hoje, para nós, duas ordens distintas de fatos. É impossível, é
absurdo querer intercalar uns na série dos outros, como outros tantos elos de anéis
intermutáveis. Há dois encadeamentos; que permaneçam separados; porque, de
contrário, que necessidade há de os distinguir?
Apreender e revelar, em cada momento da sucessão, as complexas relações que os
homens, autores e criadores da história, mantêm com a natureza orgânica e inorgânica,
com os múltiplos fatores do meio físico e biológico. é o papel característico do geógrafo
quando se aplica aos problemas e às investigações humanas; vamos tentar mostrá-lo de
urna forma mais ampla. E mesmo essa a tarefa do geógrafo. Só terá outras por usurpação
e capitulação. No início, em plenos meados do século, os historiadores não viam com
nitidez que assim era. E onde o poderiam ter apercebido? A geografia — que só existia
como ciência descritiva, como nomenclatura — punham somente questões no exclusivo
interesse dos seus trabalhos. E eles mesmos respondiam, a maior parte das vezes, como
historiadores: aliás, os geógrafos do seu tempo não teriam respondido de outra forma.
Mas quando hoje há geógrafos que, esquecidos dos progressos realizados pelo seu
próprio esforço, se demoram ainda em semelhantes problemas, sempre postos de
maneira tradicional — e quando há sociólogos (com reserva de algumas restrições e
delimitações "razoáveis") que se tornam, no fundo, pura e simplesmente candidatos à sua
sucessão —, é, sem dúvida, fácil de apreender simultânea- mente a origem e o vício de
semelhante situação. Assim como claramente se vê que o debate sobre o método e a
própria historização dos fatos tem mais valor do que uma simples curiosidade.
Capítulo 1 do livro "A Terra e a Evolução Humana", Ed. Cosmos, Lisboa, 1955