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FELICIDADE EM SANTO AGOSTINHO

Roberto Ishara *

Resumo: Este Trabalho visa analisar o conceito de Felicidade segundo Santo


Agostinho como sendo “a posse de tudo que se quer e nada que seja mal”, ou seja, “a
posse de um Bem eterno: Sabedoria, Verdade, Deus”. A noção transcendental e
universal de Felicidade se encontra na Memória. A parte mais nobre da Alma é a
Razão ou Espírito, onde habita a Verdade eterna, imutável e transcendente, provando a
imortalidade da Alma, pois sem imortalidade não existe Felicidade plena. Deus é
Trindade, e a mesma tríade estrutural se encontra na Alma como Memória,
Inteligência e Vontade. Conclui-se a Alma como Imagem de Deus. Assim, o ponto de
partida para a Vida Feliz é o conhecimento de si mesmo como Imagem de Deus. A
relação do Homem numa conversão aos bens temporais e aversão ao Deus Criador,
somada à sua condição de existência efêmera, caracterizam o Mal e a infelicidade,
respectivamente. Neste contexto, a Esperança, Fé, Virtude, Boa Vontade, com a
confirmação da Graça, auxiliam o Homem rumo à posse da Sabedoria, Verdade, Deus.
Sabedoria como Justa Medida da Alma; Verdade eterna e transcendente como deleite;
e Deus como Verdade, Criador, “vivo e pessoal”, Sumo Bem, Sumo Ser e Trindade.
Santo Agostinho desenvolve ainda a idéia de Repouso em Deus. A verdadeira e plena
Vida Feliz nada mais é do que viver “em”, “de” e “por” Deus.

Palavras-chave: Felicidade. Alma. Razão. Sabedoria. Verdade. Deus.

1 Introdução
A Felicidade na contemporaneidade caminha na diversidade de meios na
busca e posse de bens temporais e passageiros, caracterizando o Homem pelo
consumismo, materialismo, imediatismo, hedonismo, utilitarismo, egoísmo; pela

*
Curso de Filosofia, 3º Ano (2007); Orientador: Prof. Osmar Ponchirolli.
primazia da corporeidade, exterioridade e artificialidade; pela instabilidade e
funcionalidade na relação humana. Acaba por fundamentar toda uma crise de
identidade do Homem consigo mesmo, com o mundo e com a Verdade. Tal
diversidade reflete uma falta de conhecimento do que seja a verdadeira e plena
Felicidade.
Santo Agostinho em seu conceito se contrapõe às compreensões atuais:
Felicidade é a busca e posse de um Bem eterno como Plenitude espiritual, ou seja,
posse da Sabedoria, Verdade, Deus. Ele ressalta a importância da interioridade da
Alma e o conhecimento de si mesmo, mas como Imagem de Deus. Demonstra a
imortalidade da Alma e sua superioridade em relação ao Corpo: a presença da noção
de Felicidade na Memória; a nobreza da Razão; a possibilidade da Felicidade numa
condição de existência temporal, mortal e mutável do Homem, na recuperação de
valores como Esperança, Fé, Virtude e Boa Vontade, no processo de busca de um Bem
que seja permanente.
A Felicidade é um Bem universal: todos desejam e buscam. Sua noção se
encontra na Memória. É o ponto de partida da investigação filosófica e o empenho de
Santo Agostinho na compreensão do que seja a verdadeira e plena Vida Feliz. A
Verdade imortal habita a Alma provando a imortalidade desta: sem imortalidade não
existe Felicidade. Na Alma, a Razão ou Espírito constitui sua parte mais nobre, capaz
de contemplar os Bens eternos. O conflito entre Razão mutável e Verdade imutável
demonstra a dependência da Razão e a transcendência da Verdade. A Metafísica em
seu pensamento não quer implicar dualismo, mas um pensamento progressivo,
hierárquico e ascendente. A abertura de acesso à transcendência dá-se pela Iluminação
e Participação nos âmbitos gnoseológico e ontológico, respectivamente. Ambas com
base na teoria da Criação. Este Deus Criador é também Trindade. E Santo Agostinho
ao constatar uma trindade na Alma como Memória, Inteligência e Vontade, afirma o
Homem como Imagem de Deus. Daí, o conhecimento de si mesmo como Imagem de
Deus, ponto de partida na busca da Felicidade plena.
Surge o aspecto moral de seu pensamento: Felicidade é “posse de tudo que se
quer e nada que seja mal”. O Mal tem sua origem na Vontade humana. Com isso,
acentua-se a importância da relação do Homem com os bens temporais em sua
condição de existência efêmera. A Felicidade nesta condição caracteriza-se por uma
busca através da Fé, Esperança, Virtude, Boa Vontade, e a confirmação da Graça.
A partir da intuição de Santa Mônica relacionando Felicidade com
“moderação do espírito”, ele define seu conceito de Sabedoria. A Verdade é de suma
importância em seu pensamento, por ser objeto de busca incessante e de experiência
pessoal de Felicidade no seu encontro com ela; e como prova da imortalidade da Alma
e de Deus. Deus, por sua vez, é esta Verdade que assume um caráter ontológico, além
de ser Criador, “vivo e pessoal”, transcendente, Sumo Ser, Sumo Bem e Trindade.
Santo Agostinho desenvolve ainda a idéia de Repouso em Deus.

2 Desenvolvimento

A Felicidade é um Bem universal: todos desejam e buscam. Santo Agostinho


(1997a, p. 292 a 295) confirma sua noção presente na Memória, pois não se deseja
algo completamente esquecido ou não conhecido:

Onde a conheceram para assim a desejarem? [...] Estará na memória? Neste


caso, é porque já fomos alguma vez felizes. [...] De fato não a desejaríamos,
se já não a conhecêssemos. [...] Onde e quando experimentei a felicidade
para poder recordá-la, amá-la e desejá-la? [...] Como ninguém pode dizer
que nunca experimentou alegria, ela é encontrada na memória, e é
reconhecida sempre que se ouve a palavra felicidade (AGOSTINHO,
1997a, p. 292 a 295).
E a confirma como algo sentido na Alma: “E nunca vi, nem ouvi, nem cheirei,
nem saboreei ou apalpei minha alegria, mas sempre a experimentei na alma quando me
alegrei” (AGOSTINHO, 1997a, p. 294). Na obra “Sobre a Potencialidade da Alma”
define o que seja Alma † : “(...) é substância dotada de razão, apta a reger um corpo”


Pois é a alma, princípio formal, que vivifica os elementos do corpo, e o constitui numa unidade
harmônica (Genesi contra manichaeos 2, 7, 9). Cf. (FARIA, 1997b, p. 99, nota cap. 22).
(AGOSTINHO, 1997b, p. 67). Deduz sua imaterialidade por conseguir ver as
realidades imateriais:

Alguma vez conseguiu ver com os olhos do corpo a noção de ponto, linha
ou de latitude? Nunca, pois não é coisa corpórea. [...] E a alma, pela qual
vemos o incorpóreo e entendemos seu conceito, é preciso não seja corpo,
nem algo corpóreo (AGOSTINHO, 1997b, p. 66 e 69).
Para Santo Agostinho, “(...) se tudo o que é próprio do sujeito permanece para
sempre, é de necessidade que também o próprio sujeito permaneça” (AGOSTINHO,
1998, p. 87). Neste sentido, as leis matemáticas são Verdades eternas e imutáveis
contidas na Alma. Temos, portanto, que tais Verdades são provas da imortalidade da
Alma. Ele exorta a um “voltar-se para si mesmo”:

[...] Quer estejam as figuras geométricas na verdade, quer esteja a verdade


nelas, ninguém duvida que elas estão contidas em nossa alma, isto é, em
nossa inteligência; e daí se conclui que também a verdade está em nossa
alma. Se qualquer ciência está na alma como algo inseparável num sujeito, e
a verdade não pode perecer, por que, então, duvidamos da vida perpétua da
alma por influência não sei de que familiaridade com a morte? [...] Portanto,
a alma é imortal: creia em seus raciocínios, creia na verdade; ela clama que
habita em você, e que é imortal e que sua sede não lhe pode ser tirada pela
morte corporal. [...] Afasta-te de tua sombra; volta-te para ti mesmo; não
sofrerá distinção alguma a não ser esquecendo-te de que é algo que não
pode perecer (AGOSTINHO, 1998, p. 101, 102).
E na obra “A Trindade”, Santo Agostinho (1994, p. 410, 411) afirma que
querer ser feliz é aspirar à imortalidade. Para uma Vida Feliz é necessário que viva, e a
perda da vida é condição de infelicidade pela impossibilidade de conservá-la como
posse: sem imortalidade não existe Felicidade.
Na busca de compreensão da Memória, Santo Agostinho (1997a, p. 288 e
290) se coloca num paradoxo que o incomoda: a Memória, ao mesmo tempo que é tão
“próxima”, ou seja, própria da Alma, é uma realidade “distante” por ser
incompreensível em sua totalidade. É neste paradoxo que atesta a existência e
necessidade de uma realidade transcendental à própria Alma: é preciso ir além da
faculdade da Memória para se chegar à realidade suprema e à verdadeira e plena
Felicidade. Santo Agostinho (1997a, p. 297, 298) confirma, então, a presença de Deus,
da Verdade e Felicidade, mas como transcendência:
Eis o espaço que percorri em minha memória para buscar-te, Senhor, e não
te encontrei fora dela. [...] Onde encontrei a verdade, aí encontrei o meu
Deus, que é a própria verdade, da qual nunca mais me esqueci, desde o dia
em que a conheci. Desde então permaneces em minha memória, e aí te
encontro, quando me lembro de ti e em ti me alegro. [...] E enquanto todas
essas coisas são mutáveis, tu permaneces imutável acima de todas elas. E te
dignaste habitar na minha memória desde que te conheci. [...] E é aí que te
encontro quando me lembro de ti. [...] Onde, então, te encontrei, para
conhecer-te, senão em ti mesmo, acima de mim? (AGOSTINHO, 1997a, p.
297, 298).
A parte mais nobre da Alma é a mens ‡ ou Razão. Na obra “O Livre Arbítrio”,
Santo Agostinho (1995, p. 92) explica o motivo de tal nobreza: o homem possui uma
natureza que sabe que existe, sabe que vive e sabe que conhece. Esta Razão consegue
pelo fundamento da dúvida, provar a existência do ser pensante e de uma Verdade
certa, antecipando o “cogito ergo sum” cartesiano:

[...] Quem, porém, pode duvidar que a alma vive, recorda, entende, quer,
pensa, sabe e julga? Pois mesmo se duvida, vive; se duvida lembra-se do
motivo de sua dúvida; se duvida, entende que duvida; se duvida, quer estar
certo; se duvida, pensa; se duvida, sabe que não sabe; se duvida, julga que
não deve consentir temerariamente. Ainda que duvido de outras coisas não
deve duvidar de sua dúvida. Visto que se não existisse, seria impossível
duvidar de alguma coisa (AGOSTINHO, 1994, p. 327).
Mas, esta mesma Razão § mostra-se imperfeita por sua mutabilidade, apesar de
sua capacidade de perceber o eterno e imutável. É a necessidade da realidade
transcendente:

E até a própria Razão, por seu lado, que por vezes se esforça por chegar à
Verdade, por vezes, não [...], mostra-se seguramente estar sujeita a
mutações. [...] Mas por si mesma, ela percebe algo de eterno e imutável, é
necessário que a dita razão se reconheça, ao mesmo tempo, inferior a essa
realidade e que esse ser seja o seu Deus (AGOSTINHO, 1995, p. 93).
Em “O Livre Arbítrio”, Santo Agostinho (1995, p. 101) fornece um exemplo
das Verdades eternas e imutáveis que não provém dos sentidos corporais e que se
mostram eternas, imutáveis e universais, como são os números e as leis matemáticas:


Recebe o nome de mente, não a alma, mas o que nela é superior, a sua fina ponta. Entretanto, convém
advertir que na linguagem agostiniana esse termo “mens” é muito elástico. [...] Conforme o contexto,
teremos de traduzir a palavra mente por: mente, alma, espírito, inteligência ou razão. Cf. (OLIVEIRA,
1994, p. 626, nota 7, livro IX).
§
Não somos nós que determinamos que o eterno deve ser preferido ao temporal, ou que sete mais três
são dez [...]. É claro, outrossim, que tais verdades não se situam no mesmo plano da razão humana,
posto que esta é mutável, ao passo que aquelas são imutáveis. A razão progride no saber; elas, ao
contrário, são insuscetíveis de progresso. Cf. (BOEHNER; GILSON, 2000, p. 156).
[...] Sei com certeza que sete mais três são dez. E isso não somente agora,
mas para sempre. E que nunca, de modo algum, sete mais três cessaram no
passado e não cessarão no futuro de ser dez. Tal é pois uma verdade
inalterável dos números, que é, como disse, possuída em comum por mim e
por qualquer ser dotado de razão (AGOSTINHO, 1995, p. 101).
Em “A Cidade de Deus”, Santo Agostinho (1990, p. 48) afirma que a retidão
dos juízos e a medida da inteligência se dão por Iluminação ** e Participação †† na
Verdade eterna e imutável:

[...] Vários são dotados de vista mais aguda que a nossa, para ver a luz
sensível, mas não podem atingir a luz incorpórea, cujos raios nos iluminam
a alma, para assegurar-nos a retidão de nossos juízos. E a medida de nossa
participação nessa luz é a medida de nossa inteligência (AGOSTINHO,
1990, p. 48).
Os princípios da Iluminação e Participação acabam por solucionar o impasse
referente às Verdades eternas e imutáveis que se colocam acima da Razão e, ao mesmo
tempo, são percebidas e impressas na Alma. Ambos os princípios fazem o elo entre
Razão mutável e Verdades imutáveis, entre a subjetividade e a objetividade na
atividade racional e no conhecimento.
Deus é Trindade, ou seja, Deus uno como única Substância ou Essência, e
trino como três Pessoas na relação. Santo Agostinho (1994, p. 331 a 333) descobre a
mesma tríade estrutural na Alma como Memória, Inteligência e Vontade:

[...] Portanto, as três coisas: memória, inteligência e vontade, como não são
três vidas, mas uma vida; e nem são três almas, mas uma alma,
conseqüentemente, não são três substâncias, mas uma só. [...] Não somente
cada uma está contida em cada uma das outras, mas todas em cada uma. [...]
Concluindo, quando todas e cada uma das faculdades se contém
reciprocamente, existe igualdade entre cada uma e cada uma das outras, e
cada uma com todas juntas em sua totalidade. E as três formam uma só
unidade; uma só vida, uma só alma e uma só substância (AGOSTINHO,
1994, p. 331 a 333).

**
Na realidade, a doutrina agostiniana é a doutrina transformada com base no criacionismo e a
similitude da luz é aquela já usada por Platão em A República, conjugada com a da luz de que falam as
Sagradas Escrituras. Da mesma forma que Deus, que é puro Ser, com a criação transmite o ser às
outras coisas, assim, analogamente, enquanto é Verdade, transmite às mentes a capacidade de
conhecer a Verdade, produzindo uma metafísica marcada pela própria Verdade nas mentes. Deus cria
como Ser, ilumina-nos como Verdade, atrai-nos e nos dá a paz como Amor. Cf. (REALE; ANTISERI,
1990, p. 443).
††
A participação tem papel muito universal no agostianismo. Mostra estar em Deus o princípio de
todas as coisas. Tudo vive em sua dependência. Assim, tudo o que não é Deus, ele mesmo, participa
de Deus, seja no plano da existência, seja no do conhecimento ou do bem. Cf. (OLIVEIRA, 1995, p.
273, nota 56, livro II).
Santo Agostinho (1994, p. 449) na obra “A Trindade”, explica a função de
cada elemento. A Memória é onde se coloca o que informa o pensamento; o que faz a
alma se conhecer por si mesma, mesmo sem pensar; é o conhecimento implícito antes
do pensar. A Inteligência é a que reproduz as impressões da Memória; é o
conhecimento explícito; a informação do pensamento. A Vontade é Amor que une o
conhecimento que gera (Memória) e o que é gerado (Inteligência); é o que procura e
possui. Está caracterizada, portanto, a Alma como Imagem de Deus. Esta condição é
intrínseca à própria natureza da Alma e da Razão, que jamais se vê privada das
atividades desta trindade, ou seja, da consciência de si mesma, independentemente de
graus de nível racional ou capacidade intelectual:

[...] Não consigo compreender, porém, como a alma quando não pensa em
si mesma, não esteja presente a si, pois nunca pode ela estar separada de si
mesma, como se uma coisa fosse ela e outra a vista de sua presença. [...] Na
mente, a presença a si é algo pertinente à sua própria natureza; e quando
pensa em si mesma, ela volta-se para si mesma, em movimento incorpóreo
não em movimento espacial. [...] A alma humana está de tal modo
estruturada que nunca deixa de lembrar-se de si mesma, entender-se a si
mesma e amar-se a si mesma. [...] Contudo, em meio a tão grandes males
oriundos de sua fraqueza e erros, a alma não se vê privada da memória,
inteligência e amor inscritos em sua natureza (AGOSTINHO, 1994, p. 447,
448 e 464, 465).
A Alma humana como Imagem de Deus em sua parte mais nobre chega ao
seu desfecho: o conhecimento de si mesmo na posse da verdadeira e plena Felicidade.
Oliveira (1994, p. 643, nota 25, livro X) comenta:

“Conhece-te a ti mesmo”. [...] Trata-se de retirar da alma o que a encobre a


si mesma, para que possa se perceber intuitivamente, na perfeita
coincidência consigo mesma, e assim tornar-se transparente a si mesma.
Agostinho desenvolverá essa idéia, fazendo com que a busca da alma se
converta no movimento dirigido a Deus [...] (OLIVEIRA, 1994, p. 643,
nota 25, livro X).
Segundo Gilson (2006, p. 285), tal preceito socrático significa conhecimento
da natureza que Deus conferiu ao homem e o seu devido lugar no cosmo. Santo
Agostinho (1994, p. 319, 320) em “A Trindade”, afirma que o objetivo do preceito
dado à Alma visa, além de se pensar em si mesma, o viver no gozo de Deus e o deixar-
se governar por Ele, característica esta pertencente à sua própria natureza. E na obra
“A Verdadeira Religião” deixa sua célebre exortação ao retorno à interioridade da
Alma onde habita a Verdade, objeto de “deleite espiritual”, descobrindo-se como
natureza mutável, e ao mesmo tempo, capaz de harmonizar-se com tal Verdade
transcendente:

Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a Verdade habita no
coração do homem. E se não encontras senão a tua natureza sujeita a
mudanças, vai além de ti mesmo. Em te ultrapassando, porém, não te
esqueças que transcendes tua alma que raciocina. Portanto, dirigi-te à fonte
da própria luz da razão. Aonde pode chegar, com efeito, todo bom pensador
senão até a Verdade? Se a Verdade não é atingida pelo próprio raciocínio,
ela é justamente, a finalidade da busca dos que raciocinam. Eis a harmonia
que nada mais poderia ultrapassar. Harmoniza-te com ela. Confessa que tu
não lhe és idêntico, visto que ela nada precisa procurar para si mesma, ao
passo que tu vieste a ela, procurando-a, não a percorrer espaços, mas pelo
desejo de teu espírito. Foi ele que te fez encontrá-la, não com fruição carnal
e baixa, mas com sumo deleite espiritual. Tudo para que o homem interior
se harmonize com Aquele que nele habita (AGOSTINHO, 2002, p. 98, 99).
Em “A Trindade”, Santo Agostinho (1994, p. 405) oferece as condições de
Felicidade: “(...) não é feliz, senão aquele que possui tudo o que quer e nada que seja
mal” (AGOSTINHO, 1994, p. 405). E exprime, portanto, seu conceito como: a posse
de um Bem eterno que é a Sabedoria, Verdade, Deus.
Em “Confissões”, ele depara com um fator fundamental de infelicidade,
própria da condição existencial humana: o destino efêmero das criaturas, que implica a
temporalidade dos bens e o desejo do eterno e estável:

Nascem e morrem; nascendo, começa a existir e a crescer para chegar à


maturidade; mas tudo morre. Portanto, no exato momento em que nascem e
começam a existir, quanto mais rapidamente crescem para o ser, tanto mais
correm para o não ser. [...] Elas caminham para o seu destino, para deixarem
de existir e repousar no objeto que ama. Mas ele não encontra lugar de
repouso nas coisas, porque não são estáveis: fogem (AGOSTINHO, 1997a,
p. 101).
Santo Agostinho (2002, p. 65, 66) ao referir-se aos bens temporais, não os
qualifica como males a serem desprezados, mas a insensatez reside no amor
preferencial ao fugaz em detrimento do eterno: “Têm amor ao fugaz e não querem que
passe aquilo que amam. São tão insensatos como alguém que, ao ouvir um poema
famoso, quisessem parar e ficar escutando indefinidamente uma só sílaba”
(AGOSTINHO, 2002, p. 66).
Em “A Vida Feliz”, Santa Mônica oferece a relação de Felicidade com a
“moderação de espírito”, mesmo na abundância dos bens temporais: “Não seriam essas
coisas que o tornariam feliz, mas a moderação de seu espírito” (AGOSTINHO, 1998,
p. 130). Almeida (1957, p. 19), no prefácio de “Contra os Acadêmicos” comenta: “(...)
Aplica-se reflexamente ao sábio modelar que se julgasse feliz embora despojado de
qualquer bem material; a sua felicidade estaria também na atitude racionalizada, não
na substancialidade do bem usufruído” (ALMEIDA, 1957, p. 19, prefácio).
Santo Agostinho (1997a, p. 103) conclui o verdadeiro modo de relação do
Homem com o mundo que é amar todas as coisas “na” Sabedoria, Verdade, Deus:

Se te agradam os corpos, louva a Deus por eles e dirige o teu amor a quem
os criou, para não lhe desagradares ao encontrar prazer em tais criaturas. Se
te agradam as almas, ama a elas em Deus, pois são também mutáveis e
somente nele tornam-se estáveis; de outro modo, passariam e pereceriam.
Portanto é em Deus que deves amá-las; [...] Ele está onde se saboreia a
Verdade. Ele está no íntimo do nosso coração; mas o coração se afastou
dele (AGOSTINHO, 1997a, p. 103).
Na busca e posse da Felicidade na condição temporal e mortal do Homem,
exige-se a Esperança, Fé, Virtude e Boa Vontade.
Santo Agostinho (1994, p. 408) afirma que a Felicidade nesta vida, somente
na Esperança, mas de melhor condição que na ausência da mesma. Esperança não
como “espera passiva” ou “deslocamento da Felicidade no tempo porvir”, pois o
fundamento da Esperança é a própria mutabilidade dos seres, como explica em “A
Trindade”:

O que a alma certamente não põe em dúvida é a sua própria infelicidade e o


fato de desejar ser feliz. Logo, o fundamento de sua esperança é a sua
natureza mutável. Se não fosse mutável, não poderia passar da felicidade a
desventura, como também da desventura para a felicidade (AGOSTINHO,
1994, p. 468).
O motivo da Fé na busca da Vida Feliz é a própria condição mortal do
Homem e seu desejo de imortalidade:

[...] É próprio de todos os homens quererem ser felizes, mas nem todos
possuem a fé para chegar à felicidade pela purificação do coração. [...] Não
obstante, há muitos que se desesperam de ser mortais e sem isso ninguém
pode ser feliz apesar de o desejar. Contudo quereriam ser imortais, se o
pudessem, mas não acreditando que o possam, não vivem de maneira a
poder sê-lo. Portanto, a fé é necessária para se alcançar a Felicidade em
relação a todos os bens da natureza, ou seja, em relação à alma e ao corpo
(AGOSTINHO, 1994, p. 433).
No aspecto do conhecimento, a Fé no pensamento agostiniano tem valor
cognocitivo como “pré-conhecimento” para uma posterior crítica pela Razão, como
explica Reale e Antiseri (2005, p. 88):

A solução de Agostinho, para usar uma expressão da teoria gnosiológica


moderna, é um “círculo hermenêutico”: este significa que todo
conhecimento pressupõe pré-conhecimento apreendidos por outro caminho,
que podem depois ser confirmados, desmentidos ou modificados. A fé é,
portanto, um pré-conhecimento em relação à razão (credo ut intelligam);
mas a razão depois pode e deve transpor criticamente as verdades de fé
(intelligo ut credam) (REALE; ANTISERI, 2005, p. 88).
A definição de Virtude nada mais é do que a reta Razão, como explica em
“Solilóquios”: “(...) O olhar da mente é a razão. Mas como não se segue que todo
aquele que olha vê, o olhar correto e perfeito, isto é, ao qual segue o ato de ver, se
chama virtude: a virtude é, então, a razão correta e perfeita” (AGOSTINHO, 1998, p.
31). E define as Virtudes como Prudência, Fortaleza, Temperança e Justiça:

Considera, agora, se a prudência não te parece o conhecimento daquelas


coisas que precisam ser desejadas e das que devem ser evitadas. [...] E a
força, não é ela aquela disposição da alma pela qual nós desprezamos todos
os dissabores e a perda das coisas que não estão sob nosso poder. [...] E
quanto à temperança, é ela a disposição que reprime e retém o nosso apetite
longe daquelas coisas que constituem uma vergonha o ser desejadas. [...] E
finalmente sobre a justiça, o que diremos ser ela, senão a virtude pela qual
damos a cada um o que é seu [...] (AGOSTINHO, 1994, p. 57, 58).
A Boa Vontade, com a confirmação da Graça ‡‡ , é necessária na passagem da
Alma dissipada pelo transitório até o retorno aos Bens eternos:

Se durante a etapa de sua vida humana, a alma vence as cobiças com que se
nutriu pelo gozo das coisas perecedoras, se ela crê que para as vencer, Deus
a ajuda com o socorro de sua Graça, e se submete a ele, em espírito e de boa
vontade, então, sem dúvida alguma, ela será regenerada. Da dissipação de
tantas coisas transitórias, voltará ao Uno imutável (AGOSTINHO, 2002, p.
48).
Segundo Santo Agostinho (1995, p. 195), o Mal tem sua origem na Vontade
humana dirigida a uma conversão aos bens temporais e aversão aos Bens eternos:

‡‡
Tal como ele concebe, a graça afeta profundamente o jogo do nosso livre-arbítrio. Não basta dizer
que ela se junta a ele como um poder complementar; ela modifica seu estado, na medida em que o
confirma e o cura. Com a graça, não temos nosso livre-arbítrio mais o poder da graça, mas é o próprio
livre-arbítrio que, pela graça, se torna potência e conquista sua liberdade. Cf. (GILSON, 2006, p. 386).
[...] E procurando o que era a iniqüidade compreendi que ela não é uma
substância existente em si, mas a perversão da vontade que, ao afastar-se do
Ser supremo, que és tu, ó Deus, se volta para as criaturas inferiores; e,
esvaziando-se por dentro, pavoneia-se exteriormente (AGOSTINHO, 1995,
p. 195).
Dentre os Bens eternos, a Sabedoria é a Plenitude ou Justa Medida da Alma,
partindo da intuição de Santa Mônica de “moderação do espírito”, como explica em
“A Vida Feliz”:

[...] A Sabedoria é simplesmente a moderação do espírito (modus animi).


Isto é, aquilo pelo que a alma se conserva em equilíbrio, de modo a não se
dispersar em excesso ou encolher-se abaixo de sua plenitude. [...] Então,
essa pessoa não teme mais a imoderação, nem carência alguma, e, por
conseguinte, nenhuma infelicidade. Concluamos, pois, que toda pessoa para
ser feliz deve possuir sua justa medida, isto é, possuir a sabedoria
(AGOSTINHO, 1998, p. 154, 155).
A Verdade é um Bem imortal. Supondo-se que a Verdade pereceu, é
verdadeiro afirmar que ela pereceu; mas só existe o verdadeiro pela Verdade; logo, a
Verdade permanece mesmo assim. Esta é a demonstração dada em “Solilóquios”:

[...] Concluímos que a verdade não pode perecer e que, se não só todo o
mundo venha a acabar, mas também a própria verdade venha a perecer,
então será verdade que todo o mundo como a verdade, terá perecido. Porém,
não pode haver nada de verdadeiro sem a verdade; portanto, de modo algum
a verdade perece (AGOSTINHO, 1998, p. 92).
Em “A Verdadeira Religião”, Santo Agostinho (2002, p. 81, 82) afirma a
Verdade transcendente como lei imutável e critério do espírito que julga a natureza
corpórea em sua Beleza, Igualdade e Unidade. Fundamenta também, a prova da
existência da Verdade absoluta pelas noções da matemática e geometria, como
comenta Oliveira (1995, p. 267, nota 35, livro II):

[...] Agora, ele quer estabelecer de modo positivo que existem muitas
verdades absolutamente certas, as quais o homem é capaz de atingir e das
quais não pode duvidar. Tais verdades nos são fornecidas, por exemplo,
pelo estudo da matemática, da geometria, da lógica, da música, da estética e
da moral natural (OLIVEIRA, 1995, p. 267, nota 35, livro II).
Em “A Trindade” exclama Deus como Verdade: “Olhe bem, e compreende, se
o podes: Deus é verdade! (Sb 9,15)” (AGOSTINHO, 1994, p. 261). Comenta
Hirschberger (1959, p. 44, 45) que a Verdade assume uma realidade ontológica como
o “Ser em Verdade”, dado que “a Verdade é o que é”; e a verdade lógica é inferior à
Verdade eterna que tem sua essência na concordância com os exemplares primeiros na
própria mente divina, e não na concordância de juízos lógicos com a realidade:

Em geral se considera a verdade como a propriedade de um juízo e se lhe vê


a essência na concordância da nossa expressão com a realidade objetiva
(verdade lógica). [...] Mas essa verdade recua para um plano inferior, para
tornar-se visível o seu fundamento da verdade: as idéias eternas existentes
na mente divina. A verdade coincide com elas, as quais, rationes, ideae,
espécies aeternae, constituem propriamente a essência da Verdade. E
porque essas idéias são Deus mesmo, pode também ele dizer que Deus é a
Verdade. Mas então a Verdade vem assumir uma realidade ontológica: “a
Verdade é o que é” (verum est id quod est), onde o “o que é” já não
significa a concordância do juízo com a realidade, mas com os exemplares
primeiros na mente de Deus. Neles vê Agostinho, como Platão, o ser
verdadeiro, o “Ser em Verdade” (HIRSCHBERGER, 1959, p. 44, 45).
Deus em Santo Agostinho é “vivo e pessoal” como comenta Hirschberger
(1959, p. 46, 47), dado que é pela Alma “viva e pessoal”, o caminho para Deus, onde o
espírito não tem somente caráter lógico e impessoal, mas é Vida associada ao Logos:

E se ao mesmo tempo Agostinho atinge um Deus vivo e pessoal, isso não


significa solução de continuidade, pois o seu ponto de partida é a alma viva
e pessoal. O espírito para ele não é somente um valor lógico impessoal. [...]
O espírito no seu todo e na sua realidade é sempre um espírito vivo. Por
outro lado, Agostinho vê o seu parentesco com o Logos que a informa e,
particularmente, estrutura a vida da alma. E exatamente aqui descobre ele o
participar desta vida espiritual e o seu ato, da necessária, eterna e imutável
verdade de Deus. [...] Por isso mesmo é a alma viva caminho para o Deus
vivo (HIRSCHBERGER, 1959, p. 46, 47).
Deus é Criador e a partir do nada. A própria mutabilidade e contingência das
criaturas proclamam um Criador, onde toda criação, por estas características, não
podem provir da mesma substância divina ou de algo coexistente com Deus, como
explica Boehner e Gilson (2000, p. 174):

É evidente que as criaturas não podem provir da substância divina.


Agostinho ridiculariza a opinião que vê no mundo um ser vivo cuja alma
seria Deus. Tampouco o mundo pode ter sido feito de algo coexistente com
Deus. Pois o que existe por si mesmo é necessário, e, conseqüentemente, é
Deus, ou oriundo de Sua substância. Mas a mutabilidade das criaturas é
incompatível com a necessidade. Logo, devem ter sido feitas do nada
(BOEHNER; GILSON, p. 174).
Neste sentido, Gilson (2006, p. 182) comenta a noção agostiniana da Graça
como uma dependência necessária dos seres criados em relação ao seu Criador no
“preenchimento dos vazios”, tanto na ordem natural e existencial, como na ordem
sobrenatural e ontológica dos seres que não se “bastam” em si e por si mesmos:

A dependência sobrenatural dos seres na ordem da graça e sua dependência


natural dos seres na ordem da existência tendem, nele, a se prolongar por
uma estrita limitação da sua eficiência. Com isso, Santo Agostinho é o
ancestral legítimo de todos esses filósofos cristãos que se empenham em
desvelar na natureza os vazios que somente Deus pode preencher e cuja
presença em nós atesta a necessidade que temos dele. Quanto menos nós
nos bastarmos, mais ele será necessário (GILSON, 2006, p. 182).
Deus é o Sumo Bem, ou seja, o Bem em si e imutável que dá aos demais bens
transitórios, por Participação, a qualidade de bons. A insensatez está no amor a tais
bens num desprezo ao Bem em si, fonte desses mesmos bens, como explica Santo
Agostinho (1994, p. 264, 265):

[...] Não haveria bens transitórios se não existisse um Bem imutável. Eis
porque quando ouves falar, isto ou aquilo é bom, falas de coisas que
poderiam não ser boas. [...] Portanto, prescindindo desses bens, se o podes,
perceberás o Bem em si mesmo, e então verás a Deus. E se a ele aderires
pelo amor, serás feliz no mesmo instante. Seria vergonhoso amar as coisas
por serem boas, apegando-se a elas e não amar o próprio Bem, que as faz
ser boas (AGOSTINHO, 1994, p. 264, 265).
Deus é Sumo Ser e imutável, ou seja, o Ser em si não suscetível de acidentes e
mudanças:

[...] Outras substâncias ou essências admitem acidentes, causas de pequenas


ou grades mudanças. Deus, porém, não é suscetível de acidentes, e por isso,
nele existe unicamente uma substância ou essência imutável. [...] Tudo o
que muda não conserva o ser em si mesmo e o que pode mudar, mesmo que
não mude, pode ser o que antes não tinha sido. Assim, somente ao que não
muda e não pode de forma alguma mudar, pode-se afirmar, sem escrúpulo,
que verdadeiramente é o Ser (AGOSTINHO, 1994, p. 193).
O Repouso em Deus é a consideração de que tudo procede de Deus e para Ele
se dirigi: “Firmai-vos ele e sereis estáveis. Repousai nele e terei paz. (...) O bem que
amais procede dele, mas só é bom e suave quando para ele é dirigido” (AGOSTINHO,
1997a, p. 103). E exclama: “(...) fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração,
enquanto não repousa em ti” (AGOSTINHO, 1997a, p. 19). Em “A Verdadeira
Religião” expõe a idéia de Repouso como pensamento libertado do espaço que
apresenta bens inferiores, e do tempo que leva aquilo que amamos, causas de
inquietude na Alma:
Não se trata do repouso da ociosidade, mas do repouso do pensamento,
libertado do espaço e do tempo. O turbilhão das imaginações soltas impede
ver a unidade inalterável. O espaço apresenta-nos objetos a amar. O tempo
arrebata o que amamos, não deixando na alma senão multidão de imagens
que excitam a cupidez, em todos os sentidos. A alma torna-se então
inquieta, atormentada no seu ardente, mas inútil desejo de possuir os objetos
que a possuem. A alma é convidada ao repouso, isto é, a não amar objetos
os quais não poderiam amar sem penar. Pois ela poderá se tornar senhora
deles. Em vez de ser possuída, ela se possuirá (AGOSTINHO, 2002, p. 90,
91).
Santo Agostinho (1998, p. 16, 18) afirma Deus como a própria Felicidade:

[...] Deus Felicidade, em quem, por quem e mediante quem são felizes todos
os seres que gozam de Felicidade. [...] Onde há plena concórdia, total
evidência, total constância, suma plenitude e vida plena. Em quem nada
falta, nada sobra (AGOSTINHO, 1998, p. 16, 18).
Por fim, a verdadeira e plena Felicidade como posse e gozo da Sabedoria,
Verdade, Deus, nada mais é do que viver “em”, “de” e “por” Deus:

Há uma alegria que não é concedida aos ímpios, mas àqueles que te servem
por puro amor: essa alegria és tu mesmo. E esta é a felicidade: alegrar-nos
em ti, de ti e por ti. É esta a felicidade, e não outra. Quem acredita que
exista outra felicidade, persegue uma alegria que não é a verdadeira
(AGOSTINHO, 1997a, p. 295).

3 Conclusão

A concepção do Homem agostiniano é otimista e positiva: o Homem é imortal


e Imagem de Deus na sua parte mais nobre que é a Razão ou Espírito. A Verdade
imortal habita na Alma imortal. A dignidade de ser Imagem de Deus não é conquista
meritória e exclusiva de sua capacidade racional e intelectual, mas tem caráter
irremovível, intrínseca à sua própria natureza, mesmo em qualquer condição em que a
Alma ou a Razão se encontram.
A verdadeira e plena Felicidade implica a posse da Sabedoria, Verdade, Deus,
tendo como ponto de partida a própria interioridade da Alma e o conhecimento de si
mesmo como Imagem de Deus. A máxima socrática ganha sentido de introversão
como um salto para a transcendência em Deus que é Sabedoria e Verdade. É somente a
partir da fruição nessa Verdade transcendente e objetiva que o Homem se conhece na
sua Verdade própria como pessoa única e irrepetível: descobre sua verdadeira
identidade e sua dignidade dentro da harmonia da criação; conhece-se a verdade da
essência e existência da Alma; retira-se dela o que encobre a si mesma, tornando-a
transparente; vive-se de acordo com a natureza; adquire-se a autoconsciência. Da
mesma maneira, constata-se que o Homem não é Deus, em todos os aspectos.
Tanto os bens temporais como a condição de existência mortal devem ser
consideradas e amadas, mas em vista da posse dos Bens eternos como Felicidade em
sua plenitude.
Concluindo, a relação do Homem consigo mesmo, com o próximo, com a
natureza, com a Verdade, com a Vida, sofre significativa transformação quando esta é
realizada “na” Sabedoria, Verdade, Deus. É o Amor por todas as coisas “em Deus”,
considerando-as cada uma na sua dignidade própria e devido posto na harmonia do
universo. A verdadeira e plena Vida Feliz nada mais é do que viver “em”, “de” e “por”
Deus, como posse amorosa.

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