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Filosofia e Cidadania
Melhor do que apenas não aceitar doutrinas que neguem a liberdade de outrem,
injuriando a dignidade humana e engendrando a barbárie, é, além disso, promover uma
reflexão filosófica que afirme a liberdade eticamente exercida de outrem, que suporte
conceitualmente o ético exercício da liberdade humana, contribuindo com a afirmação
da cidadania. Assim, ao lado da crítica que desvenda mecanismos alienadores e
opressivos afirmam-se elementos filosóficos que permitem considerar a construção de
novas relações humanas que ampliem as liberdades de todos.
Como nenhum preconceito deve servir de referência para decidir sobre quais temas
algum filósofo possa trabalhar, nada impede que um filósofo tome, como tema de sua
investigação, questões éticas, estéticas, políticas, semióticas, gnosiológicas, entre tantas
outras que emerjam da práxis social, com vistas à construção da cidadania. Como é de
consenso na comunidade filosófica, não cabe à filosofia tornar-se baluarte na defesa de
sistemas ideológicos e políticos. Pelo contrário uma de suas possíveis tarefas é criticar
tais sistemas, como objetivo de produzir conceitos que permitam às pessoas viverem
com sabedoria, ampliando e fortalecendo o exercício das liberdades públicas e privadas,
considerando criticamente os elementos éticos, estéticos, políticos, semiológicos,
gnosiológicos e tantos outros que perpassam as relações sociais.
Esta idéia basilar é um dos fundamentos da assim chamada filosofia da libertação que
destaca a necessidade de refletir-se filosoficamente a práxis social, considerando em
particular as situações que caracterizam fenômenos de injustiça e opressão, a fim de
promover a ampliação das liberdades públicas e privadas em sua máxima extensão
possível, tendo a consciência de que, sendo a liberdade um exercício historicamente
condicionado, não haverá jamais uma libertação total nem tampouco uma dominação
absoluta, havendo sempre a possibilidade de os seres humanos decidirem libertar-se não
apenas daquilo que os oprime, como também dos limitados horizontes de conhecimento
nos quais se movem, a fim de poderem realizar aquilo que os humanize cada vez mais.
Esse conjunto de elementos, que não pretende ser exaustivo mas apenas indicador do
perfil das questões às quais prioritariamente se volta esta reflexão, possibilita considerar
que os temas a serem refletidos advenham da práxis social que busca construir espaços
mais amplos de exercícios de liberdade.
A argumentação que articula filosofia e cidadania também está presente em um dos
movimentos pela reintrodução da filosofia no ensino médio brasileiro, que,
considerando a educação pública, gratuita e de qualidade como condição do exercício
da cidadania, destacará a necessidade do ensino de filosofia no segundo grau como
elemento da formação humanística necessário ao fortalecimento da democracia.