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O plano de curso
O plano de curso deve ser (re)pensado a cada período, pois cada turma possui
características diversas. Ao fazê-lo, o professor deverá levar em conta a experiência
anterior dos alunos.
• básico ou iniciante
• intermeditário ou médio
• adiantado, avançado ou técnico.
Cada ano, ou período, deve estar ligado ao que o antecede e ao próximo. Não se
deve considerar uma parte do programa mais importante do que outra: cada período de
estudo é igualmente difícil e a habilidade dos alunos dependerá da soma de
conhecimentos adquiridos.
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É bom lembrar que, apesar do aluno ser observado dentro de uma individualidade,
as regras e os fundamentos são os mesmos para todos. Apenas, como as crianças não
são igualmente dotadas, o resultado ou o progresso nos estudos não será o mesmo para
todas; algumas não conseguirão atingir um alto grau técnico. Mesmo ciente disso, é dever
do professor fazer tudo que estiver ao seu alcance para ajudar os alunos menos dotados
a atingir melhores resultados.
Por outro lado, um programa de ensino, por mais completo que seja não relata
como montar uma aula, ou como desenvolver a musicalidade, por exemplo: o programa
não ensina a ensinar. Logo, o conhecimento docente virá por meio de livros didáticos, e
da experiência própria. Tudo isso deve motivar o futuro professor a estudar o programa
sistematicamente como forma de exercer sua profissão com mais competência e
confiança.
Por esta razão, o professor deverá usar sua própria individualidade criativa, basear-
se em suas próprias opiniões, usar seu próprio método de trabalho - desde que este 5
baseado em conhecimento minucioso, desenvolvido no campo da prática e da sua própria
vivência.
• Objetivos de curto prazo são quase imediatos, aqueles que se pretende alcançar
durante uma aula, uma conferência.
O currículo
Assim, todo currículo implica uma escolha, uma seleção. E, quando selecionamos
o que será incluído, obviamente estamos determinando o que será excluído.
Para que estas escolhas sejam acertadas, é necessário definir critérios, assim
como para obtermos uma estrutura curricular sólida é necessário estruturar os
conteúdos e a forma como serão ensinados. O quê ensinar está intimamente relacionado
ao como ensinar, já que a forma é a grande responsável pelo êxito no processo de
transmissão dos conteúdos.
Nos três meses seguintes, o professor pode ensinar elementos mais complexos 7
do programa, seguidos de combinações de mais difícil execução do que as praticadas nos
primeiros três meses.
O primeiro ano de estudo é uma exceção. Neste período, durante todo o ano serão
dados apenas os fundamentos da dança; a coordenação entre movimentos é o mais
simples possível. Trata-se do princípio básico do desenvolvimento do programa escolar, o
qual poderá sofrer pequenas modificações, dependendo da capacidade dos alunos de
absorver os ensinamentos. É preciso não ter pressa: uma injustificada aceleração nada
acrescentará ao processo de aprendizagem. Por outro lado, o esboço excessivo de novos
elementos causa monotonia e desinteresse nos alunos.
Mas, cada professor deve estabelecer seu próprio calendário, marcando prazos
para o cumprimento de todo o programa. Deste modo, o planejamento irá regular e dirigir
seu trabalho e este é o verdadeiro significado metodológico. Mesmo assim, uma agenda
bem planejada pode não produzir a qualidade desejada no trabalho, se o professor não
preparar a si próprio para cada aula.
O Conteúdo
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O êxito dos alunos vai depender não apenas da experiência do professor, seu
conhecimento e habilidade para dar aulas, mas do modo como cada aula foi planejada. 8
Ao preparar uma aula o professor deve primeiramente determinar seu conteúdo, isto é, o
objeto de ensino sobre a qual a aula é construída. Cada aula irá mudar, dependendo de
seus objetivos e das diferentes combinações a serem executadas.
Do mesmo modo, ao preparar a aula, deverá planejar toda teoria a ser ensinada
aos alunos, não apenas sobre técnica, mas sobre a arte da dança, criação, trabalho de
palco, música, gestual e outros pontos igualmente importantes à formação do bailarino.
Referências Bibliográficas
OLIVEIRA, João Batista Araújo e CHADWICK, Clifton. Aprender e ensinar. 2ª ed. São Paulo:
Global Editora, 2001.
O plano de aula
O plano de uma aula de ballet objetiva auxiliar o professor a manter o foco sobre
aquilo que deseja trabalhar especificamente. Obviamente, sabemos que toda aula de 9
ballet obedece a uma seqüência pré-estabelecida de movimentos: iniciamos na barra com
demi-pliés,pliés, battements tendus, jetés e assim por diante. Sendo assim, não será
necessário o professor relacionar esses movimentos no plano de aula uma vez que eles
não diferem. Mas deve pensar naquilo que deseja trabalhar especificamente com os
alunos.
Exemplo: se o plano de curso determina que, naquele momento, deva iniciar sua
turma nas piruetas, será necessário pensar quais exercícios são aconselháveis para esse
fim e enfatizá-los até que tenha, minimamente, alcançado seus objetivos. Assim, deverá
intensificar os exercícios de transferência de peso, os relevés, equilíbrios no retiré,
preparações para deboullés etc.
Antes da elaboração do plano de aula, o professor deve ter bem claro o que
pretende, caso contrário dificilmente poderá avaliar se atingiu seus objetivos e se a
missão foi cumprida. Para isso, como mencionado, deve levar em conta os objetivos de
longo prazo declarados no plano de curso.
Depois de cada aula ministrada o ideal é rever e avaliar o que estava previsto,
assegurando-se de estar em dia com os objetivos traçados para não correr o risco de
terminar o semestre sem ter conseguido cumpri-los e sem tempo de voltar atrás para
dedicar-se mais àqueles com mais dificuldades.
O tempo máximo de duração de uma aula é de 2 horas, mas a maioria das escolas 10
oferece aulas de 1 hora de duração para os níveis básicos e de 1 hora e meia para os
níveis intermediário/adiantado.
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Planejamento de uma aula de Ballet
O timming da aula
Para evitar essa situação, o professor deve alternar períodos de esforço com
períodos de descanso. Isto possibilitará ao aluno recobrar suas força e tornar-se
preparado para a execução de passos mais difíceis. Entretanto, esta alternância deve ser
observada rigorosamente, uma vez que é isto que determina o andamento correto de uma
aula.
No adágio, por exemplo, onde o desgaste físico é grande, os alunos devem ser 12
divididos em 2 grupos. Assim, enquanto um grupo
trabalha o outro descansa.
execução.
Num adagio, por exemplo, uma posição tem que ser mantida por algum tempo, de
modo a fixar a posição correta dos braços, da cabeça, do corpo, de toda a estrutura da
posição. Mesmo as diferentes formas de tours não devem ser executadas inicialmente,
em tempo rápido. Primeiro o aluno tem que aprender a posição correta para executá-los
e, só então fazê-los no tempo apropriado.
Para melhor compreensão dos ensinamentos iniciais dos saltos, deve-se fazer o
aluno permanecer no demi-plié após cada salto e construir as combinações de modo a
reforçar esta intenção. Mas isto não significa que o estudante tenha que ficar um longo
tempo trabalhando em tempo musical ralentado: ao contrário, quando um exercício for
bem assimilado deve imediatamente ser executado em seu tempo correspondente.
Nas turmas de nível básico, todos os novos movimentos devem ser mostrados em
detalhes, lenta e repetidamente, até eles serem inteiramente compreendidos. Pode-se
também, é claro, reforçar com uma explicação teórica global. A demonstração de uma
seqüência já deverá ser feita sem repetições muito longas, para que a percepção visual
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A aula expositiva
No início da exposição, o professor deverá fazer uma introdução para deixar claro o
tema que irá abordar, seguindo com o desenvolvimento e a conclusão, como em um texto
escrito. Deixar claro os objetivos significa conduzir os alunos à percepção dos pontos
mais relevantes do assunto, cuidando para que se mantenham atentos ao foco principal,
inclusive durante as perguntas, evitando a dispersão.
Referências Bibliográficas
OLIVEIRA, João Batista Araújo e CHADWICK, Clifton. Aprender e ensinar. 2ª ed. São Paulo:
Global Editora, 2001.
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A aula é uma vitrine para o professor: nela ele demonstrará toda sua capacidade
de expressão e comunicação. Além de transmitir os conteúdos estará criando laços
afetivos entre ele e a turma – essenciais à fluência da comunicação – e servindo de
modelo para os alunos.
As formalidades do ballet não param por aí: muito ao contrário, elas começam bem
antes da aula, no momento em que o aluno escolhe a roupa adequada, arruma o cabelo,
calça as sapatilhas.
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Roupas de aula
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Nos ballets acadêmicos o corpo de baile se apresenta com o mesmo figurino; não há
destaques, nada deve sobressair ou saltar aos olhos de quem assiste, a não ser os
movimentos. Do mesmo modo, na sala de aula, o ideal seria o professor não ter sua visão
ofuscada por apelos visuais, cores agressivas, excesso de roupas e adereços, o que
facilitaria detectar uma posição errada, um pé mal trabalhado, um descompasso musical.
Sapatilhas
o calcanhar rente ao chão. O salto dá uma falsa flexibilidade de plié, sem contar os riscos
de torção pela falta de base sólida nos pés. 17
Cabelos
Mas, seja qual for o conceito adotado existem princípios interessantes de serem
observados:
1. O professor deve dar todos os exercícios, na barra e no centro, trabalhando
primeiro uma perna e depois a outra, de modo que o aluno ganhe a mesma força em
ambas.
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Apesar da aula ser sempre conduzida de frente para o espelho a fim de permitir o
aluno observar-se e corrigir a si próprio, é interessante, de tempos em tempos, trabalhar
de costas para o espelho. Essa mudança temporária dará aos alunos mais autocontrole e
os aproximará mais das condições do palco, onde não existem espelhos.
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Corrigir o mesmo aluno demais, faz com que o professor perca de vista o resto da
turma e, apesar de ser muito difícil olhar todos os alunos simultaneamente, o professor
deverá atentar, inicialmente, para os erros mais fundamentais cometidos por cada um.
Óbvio, não significa passar por cima dos detalhes, dos erros de menor importância: ao
contrário, o aluno deve saber e sentir que está sob constante supervisão e o menor de
seus erros não passará despercebido.
Criatividade e disciplina
Criatividade
Disciplina
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Defendemos a disciplina, em oposição ao que hoje é propalado por muitos como
liberdade artística, ou liberdade de expressão. A palavra disciplina advém da mesma raiz
que “discípulo”, cujo sentido original latino é igual ao do termo “ensino”, que “implica a
relação de mestre para o discípulo, de indicar, mostrar”.
O estudioso Herbert Read (1986: 63) alerta que liberdade, em educação, é uma
condição que só alcançamos após um longo período de treinamento, não sendo um meio,
mas o fim, estando, o valor da disciplina, exatamente na liberdade que ela confere 1.
[...] nada tem a ver com a atitude de laissez-faire em educação que com
tanta freqüência é chamada de “liberdade”. “Viva e deixe viver” é uma boa
divisa para adultos responsáveis, mas não tem função na escola, onde a
vida é um broto tenro, a ser protegido, resguardado, orientado e trazido para
a luz. (READ-1986: 63).
Referências Bibliográficas
READ, Herbert. A redenção do robô – Meu encontro com a educação através da arte. São Paulo:
Summus, 1986.
1
Exemplificando, Herbert Read menciona uma conferência de Freud onde este defende a necessidade de algum tipo
de repressão na educação; Rousseau, longe de dar “liberdade” a seus discípulos, propô-se cuidar deles e treiná-los
com solicitude diligente (Read, 1986: 63-64). Segundo o autor, a exemplo de Platão, Nietzsche propôs que olhássemos
para a natureza, que nos ensina a abominar o laisser-aller, a liberdade desmedida, e implanta a necessidade de
horizontes limitados, de deveres imediatos – que nos ensina o estreitamento de perspectivas.E mais: os momentos de
inspiração artística do artista, a prática da arte, para Nietzsche, só se consegue pela obediência do artista a mil leis [...]
deve ocorrer uma longa obediência no mesmo sentido; e dessa forma resulta, e sempre resultou a longo prazo, algo
que fez valer a pena viver, por exemplo, virtude, arte, música, dança, razão, espiritualidade – em suma, não importa o
quê, que seja transfigurante, refinado, insensato ou divino (Read, 1986: 90-91)
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Aula 8 – A avaliação
No livro Aprender e Ensinar, os autores, citados neste trabalho por várias vezes,
mencionam que estudos sobre auto-eficácia e sobre avaliação demonstram certa relação
entre os resultados de avaliações e a melhoria do desempenho dos alunos. Foi observado
que, sempre que as avaliações são mais freqüentes e valorizadas pelo professor, os
alunos mantêm seus estudos muito mais em dia (Oliveira e Chadwick, 2001: 340-345).
Por outro lado, talento sem uma atitude objetiva em direção ao trabalho, é uma
perda. Talento é um potencial incomum, raro. Uma atitude séria do aluno em direção
às suas obrigações diárias, depende, em grande parte, do professor. Seu exemplo
pessoal, sua experiência, suas correções, sua pedagogia apurada, deverão
direcionar seus alunos ao trabalho e, ao final, refletir em seu progresso.
• Avaliação Diagnóstica
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O que é? 26
A avaliação diagnóstica verifica o domínio dos pré-requisitos por parte do aluno e
em que nível estão os seus conhecimentos. Analisa também como se dá sua interação
dentro e fora da sala de aula. Por meio da avaliação diagnóstica é possível ainda detectar
problemas físico-mentais.
Como é feita?
A avaliação diagnóstica geralmente é realizada por meio de testes, entrevistas,
jogos pedagógicos e em consulta ao histórico escolar do aluno.
• Avaliação Formativa
O que é?
Constitui-se em um processo diário de observação do desempenho, por meio de
provas ou outras aferições. A avaliação formativa confere o conhecimento retido pelo
aluno e analisa seu rendimento segundo os objetivos a serem alcançados no período.
Essa nota intermediária é muito importante, pois é através dela que o professor irá
basear suas conclusões em relação ao progresso dos alunos. Permite também ao
professor observar a tempo um aluno que teve um progresso pequeno até então, causado
por motivo de doença, por exemplo, e ajudá-lo a recuperar-se.
Como é feita?
As primeiras notas não devem ser excessivamente altas ou baixas. Avaliando o
progresso inicial do aluno, o professor deve considerar não apenas sua habilidade de
execução, mas seu conhecimento teórico, o que é determinado por avaliações teóricas.
Essas questões podem ser relacionadas à música, à teoria da técnica etc.
Sem uma avaliação teórica é mais difícil estabelecer quando o estudante executa
conscientemente ou intuitivamente um movimento. Fora isso, o professor deve observar a
pronúncia correta dos termos e aplicar conhecimentos de terminologia e da grafia
francesa dos termos do ballet – o que é essencial nos cursos profissionalizantes.
• Avaliação Somativa 28
Feedback
Além do Professor avaliar os alunos, ele deve também fazer uma auto-avaliação
sobre o seu desempenho e suas capacidades, que intimamente estão ligadas ao
desempenho de seus alunos.
A Auto-avaliação do Professor
O bom professor deve, além de ensinar sua matéria, ajudar o aluno a desenvolver-
se dentro de princípios éticos. E deverá ter humildade suficiente para, antes de corrigir os
alunos, analisar seu próprio trabalho.
Deve-se observar como o corpo do aluno está alinhado - braços, pernas, cabeça,
tronco - e se os erros que possam ocorrer são ocasionais, decorrentes das próprias
dificuldades de execução do movimento ou vêm a partir dos fundamentos do ballet que
foram negligenciados, ou não foram suficientemente assimilados.
Alguns mestres afirmam que não se pode ter o domínio pedagógico se não se
nasce com ele. É claro, talento é bom para toda profissão, mas junto ao talento deverá
estar o conhecimento profissional sólido, cultura e suor. Ter talento é possuir uma dádiva
preciosa, mas tem que estar embasado nos princípios da educação.
Além disso, há que haver criatividade: cada professor deverá buscar a criação
própria, sem imitações e desenvolvê-la independentemente, diferindo em estilo ou método
na condução do seu processo de ensino.
Referências Bibliográficas
OLIVEIRA, João Batista Araújo e CHADWICK, Clifton. Aprender e ensinar. 2ª ed. São Paulo:
Global Editora, 2001.
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Na cena, a presença do corpo de baile seria de fundo plástico para a dança. Fora
isso, homens e mulheres começam a dividir os palcos, colhendo os louros entre platéia e
crítica.
A revolução feminina
Marie Sallé
2
Les Indes Galantes, trata-se, na verdade, de um ballet d’entrée, dividido, inicialmente, em 3 entradas. Rameau
ambientou a primeira parte na Turquia; a segunda, entre os incas peruanos e a terceira é uma festa na Pérsia. Dado ao
sucesso, posteriormente, o ballet foi acrescido de uma outra entrée, um drama ambientado na selva americana, onde a
principal figura é uma jovem que vive segundo os preceitos sugeridos por Rousseau (Salazar, 1962: 149).
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Maria Camargo criou um estilo muito seu, que lhe servia para todos os
gêneros possíveis da dança nobre, os minuetos e os passepiés (...) As
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Ainda segundo Salazar, Camargo foi a primeira que se atreveu a encurtar sua
túnica, o que causou escândalo público. Ela é responsabilizada, também, pela adoção
dos caleçons de précaution para mais livremente executar seus cabrioles e entrechats
(Idem: 162).
3
Gargouillade (= movimento de patinhar, espalhar água), também chamado rond de jambe double. Trata-se de um salto
dos mais complexos da técnica do ballet, quando as duas pernas, ao iniciar o salto, executam pequenos círculos no ar,
simultaneamente, para os lados. Este movimento consta das variações masculinas e femininas de solistas em vários
ballets de repertório. Atualmente as bailarinas vêm negligenciando o apuro dos allegros e movimentos como este estão
sendo substituídos por outros de menor grau de dificuldade – ou por considerarem, como Camargo, não serem tão
apropriados à técnica feminina.
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o sentido relacional entre corpo e alma, sentimento e razão, defendendo uma ampla
reforma do ballet, pretendendo, principalmente, libertá-lo do que chamou de 34
divertissements.
(...) o ballet, como sinto e tal qual deve ser, pode com justa razão ser
chamado de ballet; aqueles que ao contrário são monótonos e sem
expressão, que só apresentam cópias mornas e imperfeitas da natureza,
apenas podem ser chamados de divertimentos tediosos, mortos e
inanimados (Noverre, carta 3, apud Monteiro, 1998: 205-206).
Mesmo que as idéias de Noverre tenham sido defendidas amplamente por outros
renomados artistas como Carlo Blasis e Salvatore Vigano, elas não foram bem aceitas por
serem consideradas revolucionárias, o que o fez sair da França para organizar os teatros
da corte vienense, a convite da Imperatriz Maria Teresa. De volta à França, lecionou
dança por sete anos à Maria Antonieta, retirando-se definitivamente para escrever Lettres
sur la danse et sur le ballet.
Ainda como nos mostra a autora Marianna Monteiro (1998: 48), se a dança era um
simples fetiche da corte, certamente o era pelo fato de atender ao gosto rebuscado da
época. E, se os divertissements já não eram vistos com bons olhos, era porque haviam
ocorrido mudanças na estrutura social.
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Mudanças de perspectivas
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Para melhor entendermos essas mudanças, devemos verificar as transformações
que ocorreram desde o momento em que a dança passou a ser praticada nos teatros,
saindo dos salões para ser assistida por um público muito maior, afirmando-se
profissionalmente como produção artística.
Referências Bibliográficas
MONTEIRO, Marianna. Noverre: cartas sobre a dança. São Paulo: Edusp / Fapesp, 1998.
SALAZAR, Adolfo. História da dança e do ballet. México: Realizações Artis, 1962.
4
Os tipos de palco são: italiano, elisabetano e de arena. O palco italiano é um espaço retangular em forma de
caixa, fechado nos três lados e aberto na parte anterior, formando uma quarta parede frontal visível ao público através
da boca de cena. É provido de moldura, chamada boca de cena, e geralmente possui bastidores laterais, bambolinas –
varas onde são presos elementos cênicos – e cortina (ou pano de boca). Possui também um espaço à frente da boca de
cena, chamado proscênio. O palco italiano dividiu com o palco elisabetano a preferência no teatro brasileiro. O espaço
elisabetano, cujo proscênio é bastante alongado, avançando até quase o meio da edificação, tem até três níveis
diferentes, de modo que várias cenas sejam representadas simultaneamente. O público, que o cerca pelos três lados,
tem boa visibilidade. Ao fundo, uma cortina modifica o ambiente. A arena é um espaço coberto ou não, com um palco
abaixo do nível da platéia, que o envolve totalmente. Pode ser circular, semicircular, quadrado, ovalado etc. Foi o
espaço teatral predominante entre os gregos da Idade Média.
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