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IV Jornada de Iniciação Científica - 2008

O PROCESSO DE VINCULAÇÃO DE UM MORADOR DE RUA: UMA HISTÓRIA


DE VIDA SOB A LUZ DA TEORIA DO APEGO

Adriana Mara Leopold (IC) e Maria Renata Coelho (Orientadora)


Apoio: PIVIC Mackenzie

Resumo

A Teoria do Apego procura explicar como se dá o processo de vinculação durante o desenvolvimento


do sujeito, com base na infância. Assim este artigo propõe a compreensão do processo de vinculação
de um indivíduo, morador de rua, sob a luz da Teoria do Apego de John Bowlby. Esta supõe a
existência de estruturas psíquicas inatas, ou seja, a predisposição intrínseca da espécie humana para
perceber, sentir e agir dentro de padrões vinculadores. Procura descrever e explicar como as
primeiras relações entre mãe – bebê fazem parte da origem da percepção de si mesmo e do outro,
assim como da capacidade de vincular-se e relacionar-se com a vida durante seu percurso.
Facilmente se encontram trabalhos sobre todas as etapas da vida e sua relação com a Teoria do
Apego, mas dificilmente pesquisas sobre os moradores de rua e o seu processo de vinculação
afetiva, que em situação de rua, a nosso ver, está desprovido de vínculos sociais. Esta é a proposta
deste trabalho, no qual os dados para o estudo foram coletados pela realização de uma entrevista,
com um adulto, morador de rua e coloca-se a analisar qualitativamente o processo de vinculação e o
padrão de apego desenvolvido por este indivíduo.

Palavras-Chave: apego; morador de rua; vinculo

Abstract

The Attachment Theory trys to explain how the attachment process occurs during the development of
the subject, based in childhood. So this article proposes an understanding of the process of tying an
individual, resident of the street considering the Attachment theory of John Bowlby. This implies the
existence of innate psychological structures, namely the inherent perception of the human species to
understand, feel and act within attachment patterns. Describing and explaining how the early
relationship between mother - baby are part of the origin of the perception of oneself and the other, as
well as a style and ability to bind to and relate to their lives during their journey. Works on all stages of
life and their relationship to the Attachment theory are easily found, but it is difficult you find research
on the residents of the street and its process of linking affective, which in street situation, in our view,
is devoided of social attachments. This is the proposal of this work, in which the data for the study was
collected for conducting an interview with an adult, who lived on the streets and there is a qualitatively
examine the process of attachment and standard developed by this commitment.

Key-words: Attachment; resident of the street; tie

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INTRODUÇÃO

Bowlby (1984) se dedicou ao estudo e a formulação da teoria do apego durante 40


anos, trazendo à Psicologia a importância do vínculo afetivo, principalmente durante a
infância, pois sendo o Ser Humano uma espécie que necessita de cuidados alheios se faz
necessária à proximidade entre o adulto e o bebê.

Muitos trabalhos foram realizados, desde a época de Bowlby, para estudar o


funcionamento psíquico através do processo de vinculação. Facilmente é possível encontrar
trabalhos sobre todas as etapas da vida e sua relação com a Teoria do Apego, entretanto
dificilmente encontram-se pesquisas sobre os moradores de rua no sentido de saber como
se deu o seu processo de vinculação afetiva e qual sua relação com a atual situação do
indivíduo.

Bowlby (apud Canavarro, 1999) escreveu que os comportamentos de apego


acompanham o indivíduo por toda sua vida, desde o nascimento até a morte. Apenas
diferenciando a relação de apego na infância caracterizada pela interação direta mãe-bebê e
na idade adulta os padrões de apego derivam dos modelos internos presentes
inconscientemente na formação do indivíduo, baseado nas experiências vivenciadas em sua
infância.

Trabalho como este se faz necessário a fim de compreender e amenizar o estigma


desta população que sofre tanto preconceito muitas vezes por uma visão equivocada da
sociedade que os associam a criminalidade.

A população moradora de rua, segundo Artes e Schor (2001), pode ser definida de
maneira ampla incluindo pessoas que sem moradia pernoitam pelas ruas da cidade, em
albergues, ou em qualquer lugar não destinado para moradia. Os mesmos autores incluem
outra definição mais restrita como sendo grupos de pessoas que pernoitam as ruas das
cidades ou albergados.

Os moradores de rua apresentam algumas características marcantes: como serem


pessoas que não possuem domicílio, local de trabalho reconhecido, pernoitam em praças,
embaixo de pontes e viadutos, avenidas, ruelas, cemitérios, ou outra forma improvisada,
porém tais características marcam o ponto de vista mais restrito da sua definição, advindas
dos resultados de pesquisas anteriormente realizadas. Outro fato constatado é que não é
raro averiguar é a utilização de pensões com pagamento diário e que alguns dormem em
casa de parentes ou amigos. Nem sempre se apresentam de aparência suja ou mal vestida,
muitos usam a rua para afastar-se da sociedade buscando uma vida anônima por problemas
com a lei, com a família ou dificuldades financeiras (Artes e Schor, 2001).

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Assim, surgiu essa pesquisa que tem por intuito averiguar o funcionamento do
vínculo nessa população de rua, a partir de relatos e também do levantamento teórico sobre
a população moradora de rua.

REFERENCIAL TEÓRICO

Teoria do Apego

Breve Biografia de John Bowlby, construtor da Teoria do Apego:

Edward John Mostyn Bowlby nasceu em Londres em 1907, estudou medicina, e


depois interessou-se pelo movimento de educação progressiva. Começou seu treinamento
analítico em 1929 na Sociedade de Psicanálise Inglesa, acompanhado de análise com Joan
Riviere, uma seguidora de Klein, interessando-se por psiquiatria e psicanálise.

Realizou trabalhos no London Child Guidance Clinic, onde se tornou um dos


precursores da terapia em família, pois pôs em prática a terapia conjunta dos pais com a
criança; e em 1937 tornou-se membro da Sociedade de Psicanálise.

Bowlby discordava das proposições referentes à energia e força psicológicas, as


quais afirmam que os problemas emocionais das crianças são gerados exclusivamente por
conflitos internos entre impulsos agressivos e libidinosos e não por acontecimentos do
mundo externo. O mais relevante é dedicar-se às primeiras experiências infantis em relação
ao seu ambiente e as conseqüentes desordens psicológicas, observando o comportamento
da criança em relação à presença ou ausência de sua mãe. (Bowlby, 1984).

Em 1946, trabalhou como consultor da OMS (Organização Mundial da Saúde) na


clínica Tavistock, em Londres, realizando investigações relacionadas a crianças enfermas
institucionalizadas com a razão de ter perdido seus pais por causa da Segunda Guerra
Mundial, publicou Maternal Care and Mental Health, essa produção teve repercussão em
todo o mundo, sendo responsável por mudanças de hábitos, além de proporcionar um maior
interesse e um maior contato entre autores e pesquisadores de diversas áreas que lidavam
nesse terreno, favorecendo uma construção mais sólida da Teoria do Apego.

Na década de 60, Bowlby inicia sua obra mais importante que é a Trilogia de estudos
do Apego, composta pelos livros: “Apego” (Volume 1), “Separação” (Volume 2), “Perda”
(Volume 3). Esta trilogia tem como foco principal a Teoria do Apego que se constitui em
descrever os padrões de respostas que ocorrem regularmente no começo da infância e
assinalar como padrões semelhantes de resposta podem influenciar na personalidade,
partindo-se da premissa de um evento considerado potencialmente patogênico para o
desenvolvimento da personalidade e não de um determinado sintoma. Valoriza o ambiente e

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as experiências primitivas na infância e estabelece que o elemento básico da formação do


apego é seu valor de sobrevivência individual e da espécie e que possui um caráter
universal (Bowlby, 1984).

A teoria de Bowlby se revela de suma importância, pois apresenta mudança no


sentido de entender o processo de vinculação afetiva e sua importância para a formação da
personalidade (Eppel, 2005).

Sobre a Teoria do Apego

A Teoria do Apego supõe a existência de estruturas psíquicas inatas. A espécie


humana possui a predisposição intrínseca para perceber, sentir e agir dentro de padrões,
através das gerações e culturas. Tem como tema central descrever e explicar como as
primeiras relações mãe – bebê e de uma criança são a origem da percepção de si próprio e
do outro, assim como de um estilo e capacidade de amar e relacionar-se com a vida.

Bowlby (1984) diz ser o vínculo um laço afetivo relativamente duradouro que se
estabelece com o outro, pois para uma espécie que necessita do cuidado alheio, se faz
necessária à proximidade de outros indivíduos mais maduros que desempenhem o papel de
cuidador, fornecendo alimentação e segurança. O Apego, segundo Moura e Ribas (2004) é
fundamental no desenvolvimento dos seres humanos e é uma disposição para buscar
proximidade e contato com outro indivíduo específica, a fim de estabelecer sensação de
segurança, e é importante ressaltar que a qualidade das relações de apego depende
diretamente da relação mãe-criança.

O ser humano desenvolve vínculos ou apego, inicialmente entre a criança e seus


pais e mais tarde entre adultos e idosos. Os vínculos afetivos estão presentes e ativos
durante o ciclo vital, são constantes e duráveis. O padrão de apego é um modelo
internalizado que começa a se constituir na infância, mais precisamente nos primeiros anos
de vida. Está diretamente relacionado com a necessidade da criança de receber cuidados e
com a disponibilidade e maneira de cuidar dos pais.

O Padrão de Apego é um modelo internalizado que começa sua constituição nos


primeiros anos da infância, precisamente nos primeiros meses de vida. Está intimamente
relacionado às necessidades da criança de ser cuidada e a busca de aproximação; além da
maneira de cuidar dos pais e sua disponibilidade de fazê-lo. Bowlby (1989) aponta três
modelos de apego, que primeiramente foram classificados por Ainsworth e que se
desenvolvem de acordo com as condições familiares que os promoveram. O primeiro
modelo é o Padrão de Apego Seguro, no qual a criança está certa de que os pais (ou figuras
paternas) estarão disponíveis a ajudá-la em situações adversas e desagradáveis,

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provocando certeza e sentimento de segurança que a dispõe e encoraja a explorar o


mundo, a criança demonstra amor de forma não ambivalente, o que a torna mais capacitada
a tolerar melhor as frustrações, possuindo expectativas positivas em relação ao mundo.

O Padrão Resistente e Ansioso caracteriza crianças que estão incertas em relação à


disponibilidade de seus pais, ou seja, a criança fica em dúvida se irá ou não receber
resposta e ajuda quando solicitá-la. Isto gera ansiedade de separação e a criança tende a
tornar-se excessivamente apegada e ansiosa quanto à exploração do mundo. Esse modelo
é construído quando os pais mostram-se disponíveis em algumas situações e não
disponíveis em outras. A criança com esse padrão de apego tende a sobrecarregar os pais
com demandas excessivas de atenção e raramente mostra-se satisfeita. Possui baixa
tolerância à frustração e por parecer sempre insatisfeito pode desencadear sentimentos de
incompetência e baixa auto-estima ou reações de impaciência e rejeição naqueles que a
amam.

No Padrão Ansioso com Evitação a criança tem certeza plena de que não será
atendida e confortada quando necessário. Essa criança espera sempre ser rejeitada e ao
longo dos anos. Esse modelo pode ser causado por pais ou figuras parentais que estão
constantemente rejeitando as solicitações de ajuda da criança.

Vale ressaltar que esses padrões não são fixos, para Bowlby (1984), o modelo pode
ser atualizado ou revisado para que ocorra uma melhor adaptação do individuo a realidade,
isto acontece quando ocorrem grandes mudanças tais como uma paixão ou um luto.

Ainsworth é outro nome importante da Teoria do Apego que desenvolveu pesquisa


conhecida como “situação estranha”, que consiste em episódios onde a mãe e a criança
ficam juntas e depois são separadas e no lugar se coloca uma outra mulher, estranha à
criança, a partir disto eram feitas inferências que contribuíram para a formação da Teoria do
Apego (Moura e Ribas, 2004).

Segundo Ainsworth (1978), o Apego é um comportamento que promove uma


proximidade ou contato com uma ou mais figuras específicas, as quais chamou de figuras
de apego, à qual o indivíduo está vinculado. Este sistema se utiliza comportamentos de
manutenção de vinculação, os quais tendem a procurar proximidade à figura de apego e tem
a função de proteger o indivíduo.

Bowlby (1997) expôs sete características do comportamento de apego:

1) Especificidade: o comportamento de apego é dirigido para pessoas


específicas, com clara preferência.

2) Duração: o apego persiste, por grande parte do ciclo vital.

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3) Envolvimento Emocional: as emoções mais intensas surgem durante a


formação, manutenção, rompimento e renovação de relações de apego.

4) Ontogenia: quanto mais experiências de interação social um bebê tiver com


uma pessoa, maior será a probabilidade de apego com esta. Com isso torna-
se a principal figura de apego àquela pessoa com maiores cuidados com este
bebê.

5) Aprendizagem: recompensas e punições desempenham apenas um papel


secundário.

6) Organização: o comportamento de apego é mediado por sistemas complexos,


que são ativados por certas condições e terminados por outras, como fome,
cansaço e qualquer outra coisa que assuste. As condições terminais incluem
a visão ou som da figura materna e a interação com ela.

7) Função Biológica: o comportamento de apego ocorre em quase todas as


espécies de mamíferos e, em algumas persiste durante toda a vida adulta.

O apego começa a surgir no primeiro ano de vida, mais precisamente após o


segundo semestre. Permanece intenso ao longo da 1º infância e, posteriormente, aos três
ou quatro anos de idade tende a modificar suas formas de manifestação e a se organizar de
forma mais complexa.

Se a criança tem um modelo de apego seguro vai ter boas expectativas do mundo e
vão acreditar em sua satisfação, que pode acontecer. As crianças classificadas nesta
categoria demonstram ser ativos nas brincadeiras, buscar contato com a mãe após uma
separação breve e serem confortadas com facilidade, voltando a se envolver em suas
brincadeiras.
Agora, se tiver um modelo de apego menos seguro, passa a ter menos expectativas
do mundo e também da realização de suas necessidades. São estas que quando separadas
por um breve momento da mãe, evitam se reunir a ela quando de sua volta, ou oscilam
entre a busca de contado com sua mãe e a resistência de contato com esta. (Ganda, 2006).

Bowlby (1969), propôs cinco classes de comportamento que podem ser tomados
como indicadores de apego, quando manifestados em relação a uma figura específica
(figura de apego):

a) Comportamentos que iniciam interação, tais como saudar, aproximar-se,


tocar, abraçar, chamar, sorrir para a figura de apego.

b) Comportamentos em resposta às iniciativas da figura de apego, os quais


servem para manter a interação.

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c) Comportamentos que têm o objeto de evitar separação, tais como seguir,


se agarrar e chorar.

d) Comportamentos exploratório, orientado com referência à figura de apego


(alternação entre explorar o ambiente e manter algum contato com a base
segura).

e) Medo ou comportamento de afastar-se, principalmente quando orientado


com referência à figura de apego (fugir do estímulo aversivo).

A mãe é funciona como ponto de referência para o seguro emocional da criança e a


partir dele que se inicia o comportamento exploratório no ambiente. A criança passa a usá-la
para explorar o ambiente que a rodeia mesmo que saia do seu alcance de visão; em tempos
em tempos, em pequenos intervalos, ela volta até a mãe para se certificar de sua presença.
Este comportamento exploratório é complementar ao comportamento de apego e, para que
um deles possa se manifestar o outro deve estar desativado, funcionando alternadamente
de acordo com o ambiente.
A criança, a partir dos 3 anos, começa a tolerar mais a ausência da mãe e se
ocupando mais com brincadeiras junto a outras crianças. Porém ainda mostra sinais de
insegurança frente a situações estranhas, e sob estas condições, mostra-se mais segura
com figuras de apego substitutas, de preferência pessoas com quem já esteja familiarizada
e/ou que tenha conhecido por meio da mãe (Ganda, 2006).
Durante o período da adolescência ocorrem mudanças drásticas nas relações de
apego. Nesta fase ocorre principalmente a tendência à autonomia e a afirmação da
identidade, questionando as regras que regem as relações familiares, as concepções sobre
si mesmo e sobre os pais. A relação pais-filho se move entre duas polaridades: crescente
autonomia e certo grau de adaptação às regras sociais e aos valores familiares.
O comportamento de apego na vida adulta é uma continuação direta do
comportamento na infância, basta observar as circunstâncias que levam o comportamento
de apego de um adulto a ser mais eliciado (Ganda, 2006).

Entretanto, com tantas mudanças, o apego continua sendo um sistema corrigido pela
meta. Quando o indivíduo percebe uma discrepância entre a disponibilidade desejada e as
condições atuais, ele tentará reduzir essa diferença de acordo com o que foi internalizado.

O processo de desligamento dos pais, como figuras de apego, é gradual e


influenciado pela idade da criança e pelas características da família. A criança, e
posteriormente o adolescente, passa a perceber os pais como humanos também frágeis e
vulneráveis.

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A desidealização se completa conforme a idade dos filhos, o sistema de apego sofre


profundas alterações funcionando integrado à sexualidade e dirigido para novos objetos fora
do lar. Na adolescência ocorre o desabrochar do romantismo e da sexualidade que instigam
o jovem para a busca de vínculos afetivos exogâmicos e, conseqüentemente, para busca da
autonomia. Os pais se mantêm como figuras de apego buscadas em momentos de
desamparo, aflição ou carência, transformados em amigos e companheiros.

Weiss (apud Montoro, 1994) propôs três critérios que nos ajudam a entender o
apego na vida adulta:

a) O primeiro tipo de vínculo é o mais freqüente, ou seja, a relação de amor


adulto. O apego está presente em todas as fases de um relacionamento,
desde o enamoramento até a estabilização do amor num relacionamento
mais duradouro, e manifesta-se de maneira diferente durante o curso do
mesmo.

b) O segundo tipo de vínculo que envolve apego é a ligação dos pais com os
filhos. É o processo no qual os filhos se transformam de objetos de
cuidado parental em objetos de apego do qual o adulto deriva sua
segurança. Esse processo é longo, gradual e perfeitamente normal e
saudável para o ciclo vital e familiar.

c) O terceiro tipo de vínculo é o de amizades íntimas ou entre irmãos.

O padrão de apego é um modelo internalizado que começa a se constituir na infância


e está diretamente relacionado com a necessidade da criança receber cuidados com a
disponibilidade e maneira de cuidar dos pais.

O comportamento de apego na vida adulta é uma continuação direta do


comportamento na infância, basta observar as circunstâncias que levam o comportamento
de apego de um adulto a ser mais eliciado. Em casos de doenças e calamidades, por
exemplo, os adultos tornam-se mais exigentes em relação às pessoas em torno dele; em
situações de perigo ou desastre súbito, o sujeito irá buscar proximidade de pessoas
conhecidas e que lhe transmite confiança.

Pode-se afirmar que o padrão construído a partir da inicial interação entre mãe-bebê
é mantido durante toda a vida do sujeito, a menos que tal processo sofra interferência de
algum fator que abale ou modifique o padrão até então estável.

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A questão do morador de rua

A população de rua não faz parte do censo realizado pelo IBGE por não ter domicílio,
esta prática dificulta a compreensão sobre esses indivíduos para a formulação de práticas
públicas voltadas a elas. Em São Paulo foi realizado o primeiro Censo nos anos de 2000 e
2003, que contabilizou os moradores de rua, trabalho realizado durante a noite, uma vez
que a circulação dessa população durante o dia é intensa (Catarino, 2005).

Esse primeiro censo feito em São Paulo dos moradores de rua foi realizado em
fevereiro de 2000 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), com o intuito
cumprir o artigo 7º da Lei Municipal 12.316/97 que obriga a publicação anual o censo da
população de rua, a fim de comparar as vagas oferecidas diante das necessidades. De
acordo com este levantamento foram recenseados 8.706 moradores de rua, entretanto o
Censo de 2003 revelou que 10.394 pessoas vivem em situação de rua, representando um
aumento de 19,3% (Ghirardi & cols, 2005).

Este primeiro Censo feito no ano de 2000 revelou que as regiões Central e Leste
apresentam maior concentração dessa população na cidade assim como o número de
albergues que também estão mais presentes nessas regiões.

Região Logradouros Albergues Total

Norte 288 230 518

Oeste 758 88 846

Centro 2810 1866 4676

Leste 554 1313 1867

Sul 599 196 795

Sem informação 4 - 4

Total 5013 3693 8706

Tabela 1: Distribuição da População Moradora de Rua por Região.


Fonte: FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), 2000.

No Censo de 2000 foi possível mensurar os moradores de rua e separar por sexo e
idade, já que notou-se a presença de crianças e idosos em situação de rua e nos albergues.

Na tabela a seguir os números apresentados acima foram divididos por sexo e idade.

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Idade Albergues Logradouros Total

Mulheres Homens Sem Mulheres Homens Sem


Inform. Inform.

0a3 15 17 - 19 23 1 75

4a6 10 7 - 7 10 - 34

7 a 14 25 31 1 42 136 - 235

15 a 17 7 10 1 49 98 - 165

18 a 25 31 248 - 118 333 2 732

26 a 40 120 1.221 4 236 1.285 2 2.868

41 a 55 83 1.143 2 162 1.105 4 2.499

56 ou + 65 463 3 60 344 1 936

Sem inform. 16 78 92 216 726 34 1.162

TOTAL 372 3.218 103 909 4.060 44 8.706

Tabela 2: Distribuição da População de Moradores de Rua por Sexo e Idade.

A população de rua pode ser definida como àquelas pessoas que, sem moradia,
pernoitam nas ruas da cidade, em albergues ou outros lugares não destinados à habitação.
Incluem-se também pessoas ou famílias que perderam sua moradia por despejo e
encontram-se de forma provisória em abrigos privados, públicos ou que estejam morando
em domicílios de terceiros (Artes e Schor, 2001).

Quadro 1 – Crescimento da População de Rua na cidade de São Paulo.

Ano Pop. de Rua (total) Utiliza albergue Abriga-se na rua

1991 3.852 460 3.392

1994 4.449 1.749 2.800

1996 5.334 1.913 3.421

1998 6.453 3.416 3.037

2000 8.706 3.693 5.013

2003 10.394 6.186 4.208

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Este quadro demonstra o crescimento da população de rua nos respectivos anos de


1991, 1994, 1996, 1998, 2000 e 2003 em estudo realizado pelo FIPE e SAS (Secretaria de
Assistência Social) do município de São Paulo.

Entre os que moram na rua, encontra-se facilmente a utilização de termos como


“maloqueiro”, que surgiu como referência àqueles que utilizam a “maloca” ou “mocó” (lugar
onde permanecem durante o dia ou usado para dormir sobre colchões velhos e com espaço
reservado para seus pertences ou objetos de uso pessoal).Para aqueles que fazem uso do
albergue são comumente chamados como usuário de albergue ou albergado (Adorno e
Varanda, 2004).

Oliveira (2001) apud Ferreira & Matos (2005) estudou a questão dos idosos que
vivem em situação de rua, estes já advinham de uma situação familiar com poucos recursos
e sempre precisaram trabalhar, desde a infância, processo reproduzido durante toda a vida.

O trabalho desempenha o papel primordial para a pessoa por promover a


subsistência física, ou seja, promover a sobrevivência em nossa sociedade, e subsistência
simbólica, devido a importância dada a esta atividade como instrumento que é na
construção da identidade do individuo (Ferreira & Matos, 2005).

Para a sociedade, de acordo com Ferreira & Matos (2004), por não realizarem
atividades formais do ponto de vista do trabalho, o morador de rua é visto como improdutivo,
inútil, preguiçoso e vagabundo. Além desse discurso há outro fator presente no senso
comum sobre essa população: a de que a loucura é fator desencadeante para a
mendicância, já que tal situação é tida como anormal para os padrões da sociedade. Outro
discurso assimilado ao morador de rua é de que são pessoas dignas de piedade, explicadas
do ponto de vista religioso como uma punição aos erros cometidos em vidas passadas e
que o sofrimento pode levar à salvação.

A ruptura vivenciada pelo sujeito que ingressa no mundo da rua é, de certa forma,
abrupta com os alicerces que o mantinham anteriormente, ao qual se denomina ruptura ou
rualização (Matos, 2003 apud Ferreira & Matos, 2004).

Ghirardi e cols. (2005) utilizam o termo “cair na rua” que usualmente é utilizada por
essa população para definir o rompimento com o mundo no qual viviam, para a realidade
das ruas, que os coloca invisíveis ao dia a dia das pessoas nas grandes metrópoles. Esta foi
a alternativa de muitos desses indivíduos que um dia também estiveram do outro lado. Os
mesmos autores discorrem sobre a dificuldade enfrentada diariamente por essa população
que deve adaptar-se ao no meio, desenvolvendo novas estratégias de sobrevivência,
principalmente em situações de violência.

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Morar na rua, não significa que o sujeito perca o contato com as pessoas com quem
convivia anteriormente, o que lhes permite conseguir um emprego mantendo alguns
colegas. Com o passar do tempo este sujeito começa um processo de identificação com o
novo ambiente, construindo uma nova rotina a partir desse novo referencial que se
estabelece como uma nova rede de relações que acabam por substituir a anterior.

Ghirardi e cols. (2005) afirmam que a adaptação à situação de rua se dá em três


diferentes momentos: o ficar na rua, estar na rua e ser da rua, trata-se da idéia de que algo
que é provisório ao longo de um processo vai se tornando permanente. O ficar na rua
significa ainda preservar uma rede de relações que com o tempo e a identificação do
indivíduo com a rua vai se diluindo sendo criada uma nova, quando o sujeito passa estar na
rua estabelecendo uma nova rede social. A adesão aos códigos da rua permite uma
articulação do cotidiano em torno da nova realidade onde a rua constituiu-se como local de
trabalho e moradia, que é o ser da rua.

Esse movimento do indivíduo caracteriza-se por um processo de desfiliação (Castel,


1995 apud Ghirardi e cols., 2005) no qual a pessoa vem de um processo de inclusão social
(família, trabalho, moradia) indo para uma situação de perdas de direitos sociais e
progressivas rupturas de redes sociais.

Domingues Jr. (2003) apud Ghirardi e cols. (2005) descreve que o dia a dia desta
população, em geral, gira em torno da busca pela manutenção de suas necessidades mais
básicas, como alimentação e higiene pessoal, por exemplo, e também em busca de
trabalhos temporários. Entretanto, os instrumentos que os auxiliam, de certa forma,
contribuem para sujeição desses indivíduos nesta situação, assim como a dependência de
tais equipamentos não contribui para sua autonomia. Isso, segundo o autor, interfere na
auto-estima colaborando para a “fragmentação de sua identidade” (p. 602).

Entretanto, Nasser (1996) apud Ferreira & Matos (2004) discutem sobre o termo “sair
no mundo”, cheio de significado psicológico para o “momento de ruptura” regado pela idéia
constante de recomeçar em busca de trabalho e condições de vida favoráveis, sendo que é
importante ressaltar que desses planos não faze parte a rede familiar, então “sair no
mundo”, param muitos nessas condições significa romper com a família e buscar novos
horizontes e condições melhores de trabalho.

A família, no Brasil, exerce papel da rede de proteção social, a desvinculação desta é


bastante representativo na ida para a rua (Sarti, 2003 apud Adorno e Varanda, 2004). A
desestabilização das relações com o outro, a situação de fragilidade – como diminuição da
renda, por exemplo – e a ruptura dos vínculos sociais identificam um processo de

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desclassificação social nos quais as pessoas vão se deparando com grau crescente de
marginalidade.

Compensar as perdas utilizando –se de outros recursos de sobrevivência e assimilar


novas formas de organização que permitem a satisfação das necessidades e superação dos
obstáculos da cidade são processos enfrentados por entrar na rua. Moradia e pobreza são
questões que se cruzam e convivem com o conceito de marginalidade e com a dependência
institucional. A convivência com a criminalidade pode ser um agravante no meio em que o
sujeito dos familiares facilitando a transição para a rua (Adorno e Varanda, 2004).

Cantarino (2005), em seu artigo, aponta que a crescente violência contra o morador
de rua pode ser explicada sob a perspectiva de que eles representam ameaças a certos
valores sociais, uma vez que seu modo de viver incomoda a sociedade preconceituosa e
higienista dos grandes centros urbanos, que os vêem como parasitas.

MÉTODO

Devido à dificuldade de se encontrar bibliografia sobre o processo de vinculação dos


moradores de rua, esta pesquisa foi realizada com o intuito de averiguar a história de vida e
o apego desenvolvido no indivíduo pesquisado.

O instrumento utilizado foi entrevista semidirigida, as perguntas foram feitas de forma


a levantar dados sobre como se deu o vínculo afetivo do indivíduo desde a infância e como
este se dá na vida adulta. A escolha do participante foi através da indicação de uma pessoa
conhecida da pesquisadora, o artigo mantém anônima a identidade do sujeito, assim como
sua localização, entretanto ressalta-se que foi realizada onde o próprio sujeito se localizava,
não sendo necessário seu deslocamento, e a duração da entrevista foi aproximadamente
cinqüenta minutos. O sujeito de pesquisa é um morador de rua que apresentou condições
psicológicas e disponibilidade para pesquisa após esclarecimento sobre a finalidade deste
encontro, sendo adotados os padrões éticos de leitura e assinatura do Consentimento Livre
e Esclarecido.

Assim, segue abaixo o roteiro de perguntas de base destinadas ao pesquisando:

1) Qual a sua idade atual?

2) Há quanto tempo e por que você mora na rua?

3) Onde você costuma dormir?

4) Onde você nasceu?

5) Você pode falar sobre sua infância, com quem você morava, se tem irmãos?

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

6) No que sua família trabalhava?

7) Gostaria que você descrevesse seu relacionamento com seus pais.

8) Já foi casado (a)? Como foi? Por que se separou?

9) Tem filhos? Como é sua relação com eles?

10) Com quem você convive hoje?

11) Já perdeu algum amigo muito querido? Como você reagiu?

12) Quando você se sente triste ou angustiado com alguma coisa com quem conversa?

13) Como é sua relação com esta (s) pessoa (s)?

14) Há quanto tempo se conhecem?

Este é o roteiro que foi seguido pela entrevistadora/pesquisadora, com supervisão da


professora que orienta tal pesquisa, a fim de obter os dados que indiquem o funcionamento
do vínculo deste indivíduo. Os dados serão coletados e analisados de forma qualitativa
estabelecendo-se a relação com a Teoria do Apego.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos dados será qualitativa, a entrevista segue em forma de relato com
base nas respostas dadas pelo sujeito.

J., 32 anos, nascido em São Luiz, no Maranhão, é o filho mais novo de cinco irmãos.
Mora na rua desde 2004, desde ficou desempregado e não podendo mais pagar o aluguel,
foi morar com uma pessoa com quem se relacionava na época. Porém, o relacionamento
acabou, J. começou a dormir em albergues. A partir disso, saía quase diariamente para
procurar emprego, mas começou a beber e dormir na rua. Tinha dificuldades para encontrar
um trabalho remunerado, conseguiu uma vaga de faxineiro, mas que tornou-se insustentável
depois que descobriram sobre sua homossexualidade, não pela empresa, e sim pelos
colegas de trabalho, com quem não se envolvia e começou a ter vários conflitos. Atualmente
faz alguns “bicos” para conseguir dinheiro, costuma catar latinhas de alumínio para reforçar
a renda.

Em relação a sua família, J contou que seu pai tinha um bar, em São Luiz, e faleceu
quando ele tinha 8 anos de idade, porém recorda-se de um pai alcoólatra e violento quando
bebia. Sua mãe não trabalhava e cuidava dele e dos irmãos, quando o pai de J veio a
falecer, ela deixou os mais velhos com sua mãe e veio com ele para São Paulo.

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IV Jornada de Iniciação Científica - 2008

Quando sua mãe descobriu que ele era homossexual, o expulsou de casa. Porém J
voltou a morar com sua mãe meses depois e com uma tia e se mudaram para uma cidade
do interior do Estado. Entretanto, se sentia muito discriminado pela família e quando perdeu
o emprego as coisas ficaram piores, brigavam diariamente, então decidiu retornar para São
Paulo.

Sobre suas relações interpessoais, J contou que namorou um rapaz durante dois
anos, tinha o sonho de viver com ele durante sua vida, pois gostava de estar perto dele, mas
a infidelidade do parceiro lhe incomodava muito, então resolveu abandoná-lo, antes que
este o fizesse. Atualmente tem contato com os outros freqüentadores do albergue, mas sem
intimidades, pois não gosta das brincadeiras que fazem com ele, prefere ficar sozinho “não
me relaciono, as pessoas não valem a pena” (sic). J disse não ter ninguém para contar suas
angústias, tem dificuldade em confiar e medo de ser discriminado, e sua maneira de lidar
com seus problemas é escrevendo, para ele é a maneira de “colocar para fora” tudo aquilo
que sente.

A análise dos dados foi feita de forma qualitativa, e seria necessária a aplicação de
instrumentos específicos para categorizar um Padrão de Apego específico do sujeito. Sendo
assim, tal análise propõe relacionar os aspectos da vida, da personalidade ou do
comportamento do sujeito que apontam para um Padrão de Apego.

O Padrão de Apego apreendido na infância, é fator determinante no desenvolvimento


dos vínculos afetivos na vida adulta, o Quadro 2 apresenta os três conceitos que se
relacionam e modificam aspectos do apego do indivíduo, estes foram apresentados por
Bowlby e Ainsworth, como dito anteriormente, e são formados a partir da relação cuidador-
cuidado. Este quadro ilustra tais conceitos, para que mais para frente no texto, possam ser
correlacionados a entrevista.

Quadro 2 – Conceitos básicos sobre o desenvolvimento do Apego.

Apego Seguro - Distância Segura - Base Segura - Esperança: A criança está certa de que seus
pais estarão disponíveis a ajudá-la em situações adversas e desagradáveis.

Apego Ansioso com Evitação: A criança tem plena certeza de que não será atendida quando
necessitar de ajuda.

Ansiedade de Separação: Medo - insegurança no rompimento do vínculo mãe-bebê.

O apego desenvolve-se na infância e sofre atualizações durante as etapas da vida, e


a questão feita por esta pesquisa é de como esse processo ocorre com uma pessoa que
vive às margens da sociedade, e que muitas vezes passam despercebidas no dia a dia das
pessoas que vivem nas grandes cidades.

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

Os pais são figuras de apego que para a criança e têm a função de acolhimento nos
momentos de aflição ou carência, transformando se em amigos e companheiros, tais
experiências primárias tendem a corresponder às expectativas na vida adulta.

Observar como uma pessoa regula seu afeto, como decorrem suas relações e como
este indivíduo lida com as situações de separação e perda é uma maneira de averiguar o
apego, como afirma Sonkin (2005). Assim, é importante a observação das relações na vida
adulta para melhor compreensão de como este percebe o vínculo estabelecido entre ele e o
outro.

J. com sua história parecida com a de tantos outros, não apresenta traços em sua
personalidade que demonstram Padrão de Apego Seguro, onde ele poderia se sentir
protegido em situações desagradáveis, de tal modo que sua própria família tornou-se um
lugar inóspito desde a infância, com a violência vivida pelo pai e as brigas com a mãe que
pioraram durante sua adolescência, apresentando, assim, nota-se em seu relato situações
em que demonstra Padrão Ansioso com Evitação que com o passar dos anos foi fixando-se
na personalidade do entrevistado, devido aos relacionamentos que se seguiram após o
rompimento com a família, com os quais ele não acredita que terá seu pedido atendido, se
precisar.

O Padrão Ansioso com Evitação de Apego significa que a criança tem certeza plena
de que não será atendida e confortada quando necessário, podendo tornar-se
emocionalmente suficiente ao longo de sua vida.

A teoria pensa o padrão de apego na vida adulta como uma continuação do


comportamento na infância. A maioria dos indivíduos aprendeu a manejar ansiedade em sua
infância de certa maneira que será permanente em sua vida adulta, a menos que haja uma
mudança das circunstâncias que envolvam experiências muito diferentes (Sonkin, 2005). E
mesmo depois de adulto, em seu último relacionamento, J. acreditava não poder contar com
o parceiro, uma vez que este lhe era infiel. Com o passar dos anos a descrença nas
pessoas aumentou, que o fez isolar-se quase integralmente.

Segundo Castel, 1995 apud Ghirardi e cols.(2005), morar na rua significa que o
indivíduo passa por um processo de perda de relações sociais e afetivas, nomeado de
desfiliação. J passou por este processo ao deixar sua família para viver em São Paulo

Assim como J., existem outros com histórias parecidas de abandono, com uma figura
de apego na infância que não pode ajudá-lo a construir um padrão de apego seguro. Não se
pode afirmar que todos os indivíduos que estão em situação de rua tenham histórias de
abandono, negligência e violência, assim como existem diversos motivos que levam uma
pessoa a tais condições.

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CONCLUSÃO

Existem histórias diferentes de diferentes moradores de rua, infelizmente não é


possível conhecer todas. Através do relato de J. pôde-se notar que desde a infância, a
relação com as pessoas com quem mantinha vínculo afetivo era conturbado, podendo-se
inferir, através no que demonstra em seu relato que J desenvolveu um Padrão Ansioso com
Evitação ou Inseguro. Tal comportamento reflete-se na vida adulta, onde J consegue sentir-
se emocionalmente independente do outro, entretanto evita contato com as pessoas. Isso
poderia ter acontecido mesmo se ele não morasse na rua, entretanto é passível de
compreensão que tal padrão tenha se fixado após tornar-se o que Ghirardi e cols. (2005)
afirmam “ser da rua”, o processo de adesão aos códigos da rua que permite articular o
cotidiano em torno da nova realidade, onde a rua passa a ser o local de trabalho e moradia.

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Contato: adriana.leopold@yahoo.com.br e renapin@uol.com.br

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