Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
CADERNO CIENTÍFICO
Unitermos - Torque; Força de mordida; Próteses e Implantes.
ABSTRACT
This paper analysed the quality of the torque recommended for the
prosthetics screws through a mechanical study, by comparing the
mastigatory strength, which acts on that component,to the pre-char-
ge strength which is produced internally in the screw by a torque.
Key Words - Torque; Bite force; Prostheses and Implants.
Introdução Proposição
Muitos são os modelos de fixações dentárias implan- A solução para os problemas expostos é imperativa
tares (implantes) e muitos são os pilares existentes para es- para o sucesso de alguns tratamentos reabilitadores com
sas fixações. O que demonstra uma aparente falta de con- implantes. Portanto, esta solução passa pela análise do tor-
senso entre os pesquisadores sobre o modelo básico de um que (pré-carga) recomendado pelo fabricante, pois se esta
implante1. Na sua grande maioria, a conexão do pilar pro- pré-carga não gerar forças internamente no parafuso pro-
tético ao implante se dá através de um encaixe em forma de tético maiores que as forças de origem mastigatória, esta
hexágono e fixação através de parafuso, sendo a coroa pro- pré-carga não está adequada. Para avaliar a qualidade do
tética cimentada ao pilar ou parafusada a ele. A coroa ci- torque (pré-carga) recomendada pelo fabricante foi desen-
mentada ao pilar protético surgiu para facilitar a técnica, volvido o seguinte estudo.
pois o cirurgião-dentista já estava habituado ao uso de ci-
mentação de coroas aos pilares dentários. As próteses ci- Materiais e Métodos
mentadas são, tecnicamente, mais simples de serem cons-
truídas2. Assim sendo, a prótese retida por cimento reduz o O procedimento experimental consistiu, inicialmente,
tempo clínico do profissional3. Além disto, a técnica cimen- na análise do parafuso protético através de um projetor de
tada eliminaria a necessidade de mais um parafuso no com- perfil (Nikon, modelo V.16, no de série 36914, Certificado RBC
plexo prótese-implante, o que diminuiria alguns problemas no 7463.1, calibrado em 29/3/04) para a obtenção dos seus
biomecânicos. Porém, em alguns casos reabilitadores com dados geométricos (Tabela 1). Em um segundo momento,
implantes, se faz necessário a recuperação e/ou a remoção foi obtida a resistência a tração dos parafusos protéticos de
da estrutura protética. ouro e de titânio (Tabela 2). Em uma nova etapa, partiu-se
Soluções através de cimento são recomendadas para para a construção do complexo implantar (Figura 1), estando
CADERNO CIENTÍFICO
serem usadas primeiramente em situações com fatores de este composto por fixação, pilar protético, parafuso do pilar,
carga limitados; se uma sobrecarga puder ocorrer, o siste- cilindro protético (níquel-cromo), parafuso de retenção e co-
ma recuperável é o que lida com o problema mais facil- roa protética. sendo que, a coroa protética e o cilindro de ní-
mente4. E é exatamente nestes casos que o uso de um para- quel-cromo foram seccionados no seu longo eixo (Figura 2),
fuso de união coroa-pilar protético do implante é recomen- possibilitando, assim, uma melhor identificação e definição
dado, porque o parafuso de união coroa-pilar protético apre- dos pontos de contato que ocorrem no interior do conjuga-
senta um ponto de fragilidade intencional, protegendo a do coroa-pilar protético e da área livre (sem contato) do
interface osso-implante de sobrecarga. Todavia, este para- parafuso de retenção protético.
fuso, que une a coroa ao pilar protético, tem apresentado
um número expressivo de falhas mecânicas, tais como fra-
turas, afrouxamento, desgaste das roscas no momento da
pré-carga5.
Um problema comum associado aos implantes com
coroas unitárias tem sido o afrouxamento ou fratura dos pa-
rafusos de retenção da coroa6. É descrito que 30,7% das pró-
teses em pacientes desdentados apresentavam o parafuso de
união ao pilar protético frouxo, aproximadamente duas se-
manas após a inserção7. Em estudo posterior é referido que
49% das maxilas e 20,8% das mandíbulas tratadas apresen-
taram próteses com o parafuso de retenção frouxo no pri- Figura 1
Complexo implantar.
meiro check-up anual8. Também foi documentado que 25%
dos pacientes tratados apresentaram falhas nos parafusos9.
A primeira razão para a fratura do parafuso se deve
ao afrouxamento indetectado do mesmo10. Para que falhas
clinicas não ocorram com o conjugado do parafuso as for-
ças de mastigação devem ser menores que a força de pré-
carga, criada dentro do parafuso, para evitar o afrouxamen-
to deste componente, porque o parafuso afrouxará somen- Figura 2
Corte longitudinal
te se as forças externas, que tendem a separar as partes, da coroa protética
forem maiores que a força que as mantém unidas11. e do cilindro protético.
CADERNO CIENTÍFICO
diâmetro menor Dr e o primitivo Dp que para roscas ISO
é: Dp = d – 0,649519p, Dr = d – 1,226869p, onde d = Dmax
e p = passo. Portanto, a força de pré-carregamento, pôde
ser comparada com a resultante da força mastigatória no
parafuso protético, que foi calculada anteriormente.
Figura 3
Cálculo dos vetores
Resultados
de força e momentos
que agem sobre o
parafuso de retenção. Analisando a geometria da junção formada pelo pa-
rafuso protético e o restante do complexo implantar, e con-
Além disto, foi calculada a força produzida no para- siderando-se uma carga mastigatória de 300 N na vertical
fuso protético pela aplicação de uma pré-carga (torque), que e 300 N a 45° com a horizontal, aplicadas na cúspide de
foi determinado como sendo 10 Ncm, que é o torque reco- maior altura, conforme mostrado na Figura 3, a transfe-
mendado pelos fabricantes. O torque total de aperto pode rência destas forças para a cabeça do parafuso resulta em
ser simplificado pela seguinte expressão: Tt = K.Fi.D, onde uma força vertical e um momento, no sentido de aplica-
K é uma função do atrito, Fi é a força de pré-carregamento ção das forças iniciais em torno da cabeça do parafuso pro-
e D é o diâmetro externo da rosca14. Para os casos em que o tético. Isto resulta em uma força tangencial total na cabe-
coeficiente de atrito entre os materiais é próximo a 0,15, ça deste parafuso de 513,9+2.263,0/2,32 = 1.489,4 N, nas
sugere-se que se use K = 0,2014. Desta forma, a expressão fibras sob compressão do parafuso, ou seja, do mesmo lado
passa a ser: Tt = 0,20.Fi.D. em que as forças mastigatórias aparecem. Porém, no lado
Mas a força de pré-carregamento não pode ultrapas- oposto aparecerá um alívio à pré-carga inicialmente dada
sar os limites do componente. no valor de 513,9-975,4 = -461,5N. A primeira, de com-
Estes limites são considerados em termos da tensão pressão que tende a apertar ainda mais a união, não re-
Força Mastigatória - P Resistência de prova / Fi (Força de Pré-Carga) T (Torque de Pré-Carga) Força Resultante Força Resultante
Limite de Escoamento no Material - FM no Parafuso - FP
461,5 86091 470,37 10,00 -65,54 527,04
sultando em problemas. A segunda, carga (461,5 N) de Esta informação tem sua relevância explicada pelo fato
tração que representa as forças mastigatórias que agem de que se o material (cilindro protético) estiver receben-
sobre o parafuso. Esta carga de tração pode resultar no do forças de magnitude positiva, isto indicará que o ma-
afrouxamento da união, podendo ocasionar situações de terial está sob tração e, portanto, estará gerando tensões
fadiga e trazer riscos à estrutura. sobre o parafuso.
Como a força resultante no parafuso protético é de O número, a posição, a dimensão e o desenho dos
470,4 N, segundo a expressão Tt = K.Fi.D, anteriormente implantes, como também, o desenho da prótese, são fato-
citada, os resultados obtidos demonstram que o torque re- res críticos a serem considerados durante a fase de plane-
comendado pelo fabricante está adequado, pois gera forças jamento do tratamento10. Além disto, a razão para a fratu-
internamente no parafuso protético maiores que as forças ra do parafuso é assumidamente o afrouxamento indetec-
de origem mastigatória. Porém, mesmo sendo a força gera- tado do mesmo, agravado pelos movimentos não axiais
da no parafuso protético pela aplicação de um torque (pré- durante o carregamento protético, culminando na fratura.
carga) maior que as forças de origem mastigatória, este com- E, embora, a tensão inicial gerada no parafuso protético
ponente do complexo implantar é que acaba absorvendo durante a pré-carga, no apertamento inicial, forneça re-
toda a força resultante (Tabela 3). Isto porque, a força no sistência mecânica contra as forças mastigatórias, sobre
material (cilindro protético) deve ser negativa, pois, assim, carregamento funcional, esta tensão inicial, pré-carga, é
este componente estará em compressão e não aumentará o perdida devido a um fator conhecido como fator de aco-
braço de alavanca que age sobre o parafuso. Isto levará à modação10. Além disso, as características apresentadas pelo
perda desta pré-carga, ou seja, ocorrerá o fator de acomo- parafuso também influenciarão nesta perda precoce da
dação. Porém, não se deve esquecer que este parafuso, quan- tensão gerada no seu interior pela aplicação de um tor-
do sobrecarregado, irá falhar para proteger o restante do que. Isto porque, parafusos fabricados por processos que
complexo implantar. não favoreçam o aumento da sua resistência ou com geo-
CADERNO CIENTÍFICO
Outro fator levantado através deste estudo é da metrias que não possuam raios de alívio para a dissipação
qualidade do coeficiente de atrito do parafuso. Quanto das tensões favorecerão a perda da tensão gerada no seu
menor for este coeficiente, maior poderá ser a tensão interior, através do torque (pré-carga) e o aparecimento
gerada internamente no parafuso pela aplicação de uma de trincas que levarão a fratura por fadiga.
pré-carga, pois para um mesmo valor de torque, ter-se-á Portanto, “componentes restaurativos dos implantes
um valor de força de pré-carga maior. Isto porque, o co- são claramente dependentes do material e do desenho” e
eficiente de atrito é uma grandeza inversamente propor- “força e resistência à falha por fadiga devem ser o foco de
cional a força resultante como pode ser verificado na ex- futuras pesquisas e desenvolvimento de componentes im-
pressão Tt = 0,20.Fi.D. plantares” 18.
Discussão Conclusões
O trabalho apresentado possibilitou comparações Estando o torque recomendado pelo fabricante den-
entre as forças produzidas internamente no parafuso pro- tro das reais necessidades do conjugado, estudos que bus-
tético, pela aplicação de uma pré-carga (torque), com as quem analisar o parafuso protético quanto ao seu procedi-
forças de origem mastigatória. Esta comparação se faz mento de fabricação e a sua geometria devem ser foco de
importante, pois para que falhas clínicas não ocorram com estudos subseqüentes. Porque, desta forma, encontraremos
o conjugado do parafuso, as forças de mastigação devem respostas significantes para o entendimento das seguidas
ser menores que a força de pré-carga criada dentro do falhas deste componente protético das reabilitações dentá-
parafuso. O parafuso afrouxará somente se as forças ex- rias sobreimplantes.
ternas, que tendem a separar as partes, forem maiores
que a força que as mantêm unidas. Assim, foi possível Endereço para correspondência:
Gustavo Frainer Barbosa
levantar se o torque recomendado pelo fabricante, que é
Rua Itaborai 400/310 - Bairro Jardim Botânico
de 10 Ncm (tanto para o parafuso de ouro quanto para o 90670-030 - Porto Alegre - RS
de titânio), encontra-se dentro desta especificação. E que Tel.: (51) 3022-4981
este mesmo torque introduzirá forças de maior magni- gfraibar@yahoo.com.br
Referências
1. Jaarda MJ. Biomecánica. IN: Worthington P, Lang BR, Lavelle WE. Os- for failing screw joints in the Brånemark implant system. Clin Oral
seointegração na Odontologia, Uma Introdução. São Paulo, Quintes- Implants Res 1995; 6:47-53.
sence; 1996. 10. Nergiz I, Schmage P, Shahin R. Removal of a fractured implant abut-
2. Misch CE. Implantes dentários contemporâneos. São Paulo: Santos; ment screw: A clinical report. J Prosthet Dent 2004;91( 6): 513-7.
2000. 11. Alkan I, Sertgöz A, Ekici B. Influence of oclusal forces on stress distri-
3. Hebel KS, Gajjar RC. Restaurações implanto-suportadas retidas por bution in preload dental implant screws. J Prosthet Dent 2004; 91( 4):
parafusos vs cimentadas: obtenção de oclusão ótima e estética em im- 319-25.
plantodontia. J Clin Odontol Brasil 1998/1999; 2:14-23. 12. Craig RG, Powers JM. Restorative dental materials. 11th ed. St. Loouis:
4. Palacci P. Esthetic implant dentistry: soft and hard tissue management. Mosby; 2002. p. 68-9.
Illinois: Quintessence; 2001. 13. Yokoyama S, Wakabayashi N, Shiota M, Ohyama T. The influence of
5. Spiekermann H. Implantologia. Porto Alegre: Artes Médicas; 2000. implant location and length on stress distribution for three-unit im-
6. Aboyoussef H, Weiner S, Ehrenberg D. Effect of an antirotation resis- plant-supported posterior cantilever fixed partial dentures. J Prosthet
tance form on screw loosening for single implant-supported crowns. J Dent 2004;91(3): 234-40.
Prosthet Dent 2000; 83 ( 4): 450-5. 14. Shigley JE. Elementos de máquinas. Rio de Janeiro: LTC;1984. 1 v.: il.
7. Jemt T. Failures and complications in 391 consecutively inserted fixed 15. Lang LA, Kang B, Wang RF, Lang BR. Finite element analysis to deter-
prostheses supported by Brånemark implants in edentulous jaws: a minate implant preload. J Prosthet Dent 2003;90(6): 539-46.
study of treatment from the time of prosthesis placement to the first 16. Toparli M, Sasaki S. Finite element analysis of the temperature and
annual checkup. Int J Oral Maxillofac Implants 1991; 6: 270-6. thermal stress in a postrestored tooth. J Oral Rehabil 2003;30:921-26.
8. Jemt T, Lindén B, Lekholm U. Failures and Complications in 127 Con- 17. Jaarda MJ, Razzoog ME, Gratton DG. Ultimate Tensile Strength of Five
secutively Placed Fixed Partial Prostheses Supported by Brånemark Im- Interchangeable Prosthetic Retaining Screws. Implant Dent 1996;
plants: From Prosthetic Treatment to First Annual Checkup. Int J Oral 5(1):16-9.
Maxillofac Implants1992; 7(1): 40-4. 18. Taylor TD, Agar JR, Vogiatzi T. Implant Prosthodontics: current perspective
9. Wie H. Registration of localization, occlusion and occluding materials and future directions. Int J Oral Maxillofac Implants 2000;15(1): 66-75.
CADERNO CIENTÍFICO