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APONTAMENTOS DE
ÁLGEBRA LINEAR E GEOMETRIA ANALÍTICA
(V. Vectores)
Índice
Segmentos orientados com a mesma direcção, mesmo sentido e mesmo comprimento representam o
mesmo vector. A direcção, o sentido e o comprimento do vector são definidos como sendo a direcção,
o sentido e o comprimento de qualquer um dos segmentos orientados que o representam.
Este facto é análogo ao que ocorre com os números racionais e as fracções. Duas fracções representam
o mesmo número racional se o numerador e o denominador de cada uma delas estiverem na mesma
proporção. Por exemplo, as fracções 1/ 2 , 2 / 4 e 3 / 6 representam o mesmo número racional. A
definição de igualdade de vectores também é análoga à igualdade de números racionais. Dois números
racionais a / b e c / d são iguais, quando ad = bc . Dizemos que dois vectores são iguais se possuem o
mesmo comprimento, a mesma direcção e o mesmo sentido.
Como vimos, os elementos dos espaços vectoriais são designados por vectores. Em tudo o que se segue
n
vamos considerar o espaço vectorial real (euclidiano) com n dimensões, que representa o espaço de
todos os n-uplos ordenados de números reais, n
= {( x1 , x2 ,..., xn ) : xi ∈ , i = 1, 2,..., n} . As definições e
n
os teoremas aqui apresentados poderão ser generalizados a , contudo os exemplos serão limitados a
2 3
ou , onde os vectores têm representação geométrica.
n
Os elementos de têm duas interpretações geométricas. Podem ser interpretados como pontos, neste
caso consideram-se x1 ,..., xn ∈ como as coordenadas do ponto, ou podem ser interpretados como
vectores, neste caso x1 ,..., xn ∈ são as componentes escalares do vector. Esta distinção é pouco
n
importante em termos matemáticos. Vamos representar os vectores de com uma seta por cima, por
exemplo, v (v1 ,..., vn ) , os pontos por letras maiúsculas e a origem por O = 0 = (0, 0,..., 0) .
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Vectores
Vamos começar por relembrar, de uma maneira sucinta, alguns conceitos sobre vectores. Para isso,
2
consideremos em o segmento [ AB ] , como se ilustra na figura1.
2
Figura1 – Representação de um segmento em
2
Figura2 – Representação de vectores em
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Vectores
Através da definição conclui-se que um vector v AB fica de totalmente definido se conhecermos:
i) o sentido, por exemplo, de A para B;
ii) a direcção, entre A e B;
iii) o comprimento, a distância entre os pontos A e B (ou seja, o comprimento do segmento [ AB ] , isto
é, AB ) dada pela norma do vector e representada por v , como veremos mais adiante.
Obs.2: O vector nulo é representado por 0 , uma vez que tem comprimento nulo. Note-se que 0 não
tem direcção (não está associada qualquer direcção).
O vector é “livre”, no sentido que não tem posição fixa, ao contrário do ponto e do segmento orientado.
Por exemplo, o vector v AB pode ser representado por um segmento orientado com origem no ponto
A. Mas, poderia ser representado por um segmento orientado cujo ponto inicial poderia estar em
qualquer outro lugar, deste que tenha a mesma orientação e comprimento.
2
Figura3 – Representação de vectores em
Todos os vectores da figura3 representam o mesmo vector, com excepção do vector v4 , que apesar de
ter a mesma direcção, tem sentido e comprimento diferentes dos demais.
Definição3: Vectores com a mesma direcção, o mesmo sentido e o mesmo comprimento, dizem-se
vectores equipolentes.
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Vectores
Como se pretende determinar um vector pelo seu comprimento, direcção e sentido, os vectores
equipolentes são considerados iguais mesmo que estejam situados em posições diferentes. Se u e v
são equipolentes então u v.
2
Figura4 – Adição de vectores em
A figura ilustra que, se u e v são dois vectores quaisquer, então a sua soma é determinada da maneira
que se segue: Colocar o vector v de maneira a que o seu ponto inicial coincida com a extremidade de
u . O vector w = u + v é representado pela seta que vai do ponto inicial de u ao ponto final de v .
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Vectores
2
Figura5 – Subtracção de vectores em
A discussão apresentada em cima, pode levar-nos a pensar no vector que vai da extremidade de v à
extremidade de u , como sendo u − v , e não apenas uma translação paralela de u − v . De facto, é
conveniente e útil pensar-se em termos de translações paralelas de um dado vector, isto é, vectores que
têm a mesma direcção e comprimentos, mas com as suas origem “fora” da origem do referencial, como
representando o mesmo vector, mas desenhados em diferentes partes do espaço.
2
Figura6 – Multiplicação escalar de um vector em
Sejam u e v dois vectores com a mesma direcção, é sempre possível determinar um escalar λ , tal
que u = λ v (designada por condição de colinearidade de dois vectores). Como vimos, u e v têm a
mesma direcção; e o mesmo sentido ou sentido contrário caso o escalar seja positivo ou negativo.
Obs.3: Um vector pode ser representado em notação matricial como uma matriz linha ou coluna.
2 3
Como e são espaços vectoriais, os seus elementos verificam os axiomas dos espaços vectoriais.
Por exemplo, a figura4, ilustra que w = u + v = v + u , a soma de vectores é comutativa.
n
Obs.4: Há uma infinidade de normas que podemos definir em . A norma euclidiana é motivada pela
fórmula do comprimento de um vector no plano, que se pode deduzir através do teorema de Pitágoras.
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Vectores
Para noções geométricas é a mais natural, por isso, no âmbito desta disciplina, consideramos apenas a
norma euclidiana. Esta generaliza o conceito de módulo em . Um espaço ao qual associamos uma
norma, designa-se por espaço normado.
n
Intuitivamente, pelo que foi apresentado, definir uma norma euclidiana em , permite-nos sempre,
definir uma distância (o reciproco não é verdadeiro). De facto, sejam P1 ( x1 , y1 , z1 ) e P2 ( x2 , y2 , z2 )
pontos de 3
, sabemos que a distância entre eles é d ( P1 , P2 ) = ( x2 − x1 ) 2 + ( y2 − y1 ) 2 + ( z2 − z1 ) 2 . Por
2 3
Como conclusão, pelo que foi apresentado, uma vez que, os elementos de e , podem ser
considerados vectores ou pontos, salientam-se duas situações:
• Se considerarmos pontos, a norma d ( P1 , P2 ) = P2 − P1 representa a distância entre dois pontos;
P1 e P2 , P1 P2 = P2 − P1 .
Por outro lado, efectuando uma translação do vector de maneira a que tenha origem na origem do
referencial, v = P2 − P1 = P3 = d (O, P3 ) (a norma de P3 representa a distância deste ponto à origem),
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Teorema1: Seja u = (u1 , u2 ,..., un ) e v = (v1 , v2 ,..., vn ) dois vectores de n
, 0 = (0, 0,..., 0) o vector nulo
e λ∈ (um escalar), então:
(i) u ≥ 0 (mais precisamente u > 0 sse u ≠ 0 e u = 0 sse u = 0 );
(ii) −u = u ;
(iii) u + v ≤ u + v , ∀u , v ∈ n
;
(iv) u − v ≥ u − v , ∀u , v ∈ n
;
(v) uv = u v , ∀u , v ∈ n
;
u u
(vi) = , ∀u , v ∈ n
com v ≠ 0 ;
v v
n
(vii) u n = u ∀u ∈ n
, ∀n ∈ ;
(viii) λu = λ u , ∀u ∈ n
, ∀λ ∈ .
A propriedade (iii) é conhecida como desigualdade triangular pois generaliza o resultado da geometria
euclidiana que diz que a soma dos comprimentos de dois lados de um triângulo é sempre maior ou
2
igual ao comprimento do outro lado. Pensando em termos de vectores de , ao considerar um vector
u , com a sua origem na origem do referencial, e um vector v , com a sua origem na extremidade de u ,
como dois lados de um triângulo, ver figura4, então o lado que sobra é dado por u + v , verificando-se a
desigualdade triangular. A igualdade é atingida quando u = λ v ou v = λ u , com λ > 0 .
Normalizar um vector é dividi-lo pela sua norma. Ao vector resultante dá-se o nome de versor. Seja por
v
exemplo, v , com v ≠ 1 , então vers (v ) = e vers (v ) = 1 (claro que, se v = 1 , então ver(v ) = v ).
v
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Definição9: Dado um vector v define-se versor de v , como sendo o vector unitário com a mesma
v 1
direcção e sentido de v . Portanto, vers (v ) = ⇔ vers (v ) = λ v com λ = .
v v
Da propriedade (viii), onde se vê que a norma da multiplicação de um escalar por u é o produto entre o
u 1 1 u
módulo do escalar e a norma de u , se u 0 , então vers (u ) = = u = u = = 1, e
u u u u
u
tem uma distância unitária a partir da origem, o que confirma o facto do versor ter comprimento 1.
u
A figura8 ilustra que a direcção de um vector é especificada pelo ângulo α que este faz com o eixo
das abcissas (eixo horizontal) ou pelo ângulo β que este faz com o eixo das ordenadas (eixo vertical).
2
Figura8 – Co-senos directores de um vector em
v1
Tendo em conta que o comprimento do vector e v é v , da figura8, vem cos α = = sin β e
v
v2
cos β = = sin α . Assim, apesar de nem cos α ou cos β , só por si determinarem a direcção do
v
vector, juntos determinam completamente essa direcção, são designados por co-senos directores de v .
v1 v2
Deste modo, a direcção do vector v em 2
pode ser determinada por u = (cos α , cos β ) = , .
v v
Portanto, pelo que foi dito, as componentes do vector u , os cosenos directores, são os cosenos dos
ângulos entre v e os eixos coordenados (entre os vectores da base canónica, porquê?). No espaço
vectorial 3
, os co-senos directores do vector v = (v1 , v2 , v3 ) são os co-senos dos ângulos entre v e
3
cada um dos três vectores unitários e1 , e2 e e3 que definem a base canónica de . Assim, o co-seno do
vi
ângulo entre o vector v e ei é cos α i = = ui , i = 1, 2,3 , e, analogamente a 2
, a direcção de um
v
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v1 v2 v3
vector não nulo de 3
é especificada por u = , , . A interpretação deste resultado tornar-se-
v v v
2 3
á mais clara quando se falar de ângulos em e .
n
Obs.5: Repare-se que se u = cos α i ei , u 1 , e que os cosenos directores coincidem com as
i =1
( )= ( ) +( )
2 2
especificada por u = 1
10
, −3
10
1
10
(1, −3) , repare-se que u = u12 + u22 = 1
10
−3
10
= 1+ 9
10
=1,
ou seja, u é um vector unitário, uma vez que o seu comprimento é igual à unidade.
2 3
Em e as noções habituais de ângulo e distância podem ser apresentados à custa do chamado
2
produto interno. Comecemos por considerar dois vectores de para deduzirmos a expressão do
produto interno, para depois a generalizarmos a n
. Suponha-se u = (u1 , u2 ) e v = (v1 , v2 ) dois vectores
de 2
, diferentes do vector nulo. Sejam α e β os ângulos entre u e v e a parte positiva do eixo
horizontal (das abcissas), respectivamente, medidos na direcção contrária à dos ponteiros do relógio
(directa). Supondo ainda que α > β , seja θ = α − β . Então, θ é o ângulo entre u e v medido na
direcção contrária à dos ponteiros do relógio, como ilustra a figura9.
2
Figura9 – Ângulo entre dois vectores de
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Em particular, se u e v forem vectores não nulos de um espaço bi-dimensional ou tri-dimensional, e
assumindo que esses vectores tem a mesma origem. Quando se refere ao ângulo entre u e v , queremos
dizer o ângulo θ determinado por u e v que satisfaça 0 θ π (o ângulo entre dois vectores é
definido como sendo o ângulo mais pequeno entre eles).
u1v1 + u2 v2 + u3v3
e se θ for o ângulo positivo mais pequeno entre u e v , então cos θ = .
u v
u1v1 + u2 v2 + ... + un vn
nulo e se θ for o ângulo positivo mais pequeno entre u e v , então cos θ = .
u v
Definição10: Sejam u e v dois vectores de um espaço vectorial E qualquer, define-se produto interno
entre estes dois vectores por u ⋅ v = u | v = u v cosθ , onde é o ângulo entre os vectores u e v .
Quando os vectores são dados em termos das suas componentes não conhecemos directamente o
ângulo entre eles. Por isso, precisamos de encontrar uma forma de calcular o produto interno que não
necessite do ângulo entre os vectores.
u1v1 + u2 v2 + ... + un vn
Caso u e v sejam dois vectores de n
, uma vez que, cos θ = , o produto interno
u v
n
Note-se que o produto interno entre dois vectores de é um escalar (um número que pertence a )e
não um vector. Por este motivo, ao produto interno também se dá o nome de produto escalar.
Principalmente na literatura inglesa pode aparecer a designação u , v .
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No teorema seguinte apresentam-se algumas propriedades, sem demonstração, do produto interno.
v) u | u = 0 sse u = 0 ;
n
Obs.8: Como foi referido, a norma euclidiana é a mais usada em , uma das razões disso, é o facto
2
de estar associada a um produto interno v | v = v ⇔ v = v | v , ∀v ∈ n
, de facto,
v | v = (v1 , v2 ,..., vn ) | (v1 , v2 ,..., vn ) = v12 + v22 + ... + vn2 ⇔ v | v = v12 + v22 + ... + vn2 = v .
2 3
5.3 Ângulo entre dois vectores de e
A definição de produto interno permitir-nos definir ângulos entre dois vectores quaisquer não nulos.
2 3
Vamos definir o ângulo entre dois vectores de e .
u |v
Tendo em conta que cosθ = , e, uma vez que, a desigualdade de Cauchy-Schwarz garante que
u v
u |v
−1 ≤ ≤ 1 (porquê?) para quaisquer vectores não nulos u e v de n
, ou seja, −1 ≤ cos θ ≤ 1 .
u v
u |v
θ = arccos , 0 ≤θ ≤π .
u v
Exemplo4: Cálculo do ângulo entre a diagonal de um cubo e uma das suas arestas.
Resolução: Seja k o comprimento de cada aresta, vamos considerar as seguintes coordenadas,
v1 = (k , 0, 0) , v2 = (0, k , 0) e v3 = (0, 0, k ) , como se ilustra na figura10.
k2
u e v2 é cos θ =
v2 | u
v2 u
v |e
= 2 2 =
v2 e2 k 3k 2
=
1
3
. Assim, θ = arccos ( ) ≈ 54, 74º.
3
3
Seja θ o ângulo entre u e v , recorde-se que 0 ≤ θ ≤ π . Portanto, se u e v forem vectores, não nulos
π
de 2
ou 3
, com u | v = 0 , então pela definção11, o ângulo entre u e v é θ = arccos(0) = , ou seja,
2
os vectores são perpendiculares, também designados por ortogonais. O que motiva a seguinte definição.
Definição12: Os vectores u e v de 2
ou 3
, dizem-se perpendiculares, u ⊥ v , sse u | v = 0 .
Como sabemos, dois vectores são paralelos quando um deles for um escalar múltiplo não nulo do outro.
A partir da demonstração da desigualdade de Cauchy-Schawrz, quando u e v são paralelos, então
u|v
u | v = u v (porquê?). Assim, se θ for o ângulo entre u e v , cosθ = = ±1 , donde, θ = 0 ou
u v
1
Exemplo5: Os vectores u = (1, −3) e v = (−2, 6) são paralelos uma vez que u = − v ( λ = − 12 ). Note-
2
se que u | v = −20 e u v = 10 40 = 20 , u | v = − u v . Resulta que o ângulo entre u e v é θ = π ,
ou seja, estes vectores têm a mesma direcção mas sentidos opostos (apontam em direcções opostas).
2 3
Dois resultados importantes sobre triângulos em e são a desigualdade triangular e o teorema de
Pitágoras, vamos ver de que maneira estão relacionados.
A desigualdade triangular foi apresentada como sendo a propriedade (iii) da norma euclidiana
(teorema1), cite-se, se u e v forem vectores de n
, então u +v ≤ u + v . Vamos demonstrar
2 2 2
u +v = (u + v ) | (u + v ) = u | u + 2(u | v ) + v | v = u + 2(u | v ) + v
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=( u + v )
2 2 2 2
u +v ≤ u +2 u v + v ⇔ u +v ≤ u + v .
2 2 2
Donde u + v = u + v sse u | v = 0 (porquê?), isto é, sse u ⊥ v . Resultando o seguinte teorema.
2 2 2
Teorema4 (teorema de Pitágoras): Os vectores u e v de n
são ortogonais sse u + v = u + v .
n
Obs9.: O teorema4 generaliza o teorema de Pitágoras a .
n
Definição13: Seja S um subespaço de . Uma base de V constituída por vectores ortogonais dois a
dois diz-se uma base ortogonal de V. Uma base ortogonal cujos vectores têm norma 1 diz-se uma base
ortonormada de V.
n
Uma condição necessária e suficiente para que os vectores v1 , v2 ,..., vn de constituam uma base
ortonormada é que
1, se i = j
vi | v j =
0, se i ≠ j
o que garante que os vectores são unitários, ortogonais dois a dois e formam um conjunto L.I..
Exemplo6:
n
1) A base canónica de é uma base ortonormada;
2) As bases {(2, 0), (0,3)} e {(2,1), (3, −6)} são bases ortogonais de 2
, mas não são ortonormadas.
u . Por outro lado, sabemos que w2 = v − w1 . Como ilustra a figura11, os vectores w1 e w2 são,
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w2 = v − w1 , vem w2 = v − proju v . O teorema6 fornece fórmulas para se calcular estas duas igualdades.
v |u
ii) w2 = v − proju v = v − 2
u , vector componente de v ortogonal a u .
u
Obs.10:
(i) A projecção ortogonal de um vector v sobre um vector u não depende da norma de u , ou seja, para
qualquer λ > 0 , projλu v = proju v .
(ii) Dados três vectores u , v e w , tais que w ≠ 0 , então projw (u + v ) = projw u + projw v .
Exemplo7: Sejam v = (−1, 2,1) e u = (1, −1, −2) . Calcule a projecção ortogonal de v em u e o vector
componente de v ortogonal a u .
Resolução:
v |u (−1, 2,1) | (1, −1, −2)
i) A projecção ortogonal de v em u é proju v = 2
u= 2
(1, −1, −2) = − 56 (1, −1, −2) .
u (1, −1, −2)
ii) O vector componente de v ortogonal a u é v − proju v = (−1, 2,1) + 56 (1, −1, −2) = 16 (−1, 7, −4) . Claro
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Uma fórmula para o comprimento da projecção ortogonal de v ao longo de u pode ser obtido
v |u v |u |v |u | |v |u |
escrevendo w1 = proju v = 2
u = 2
u = 2
u ⇔ proju v = . Considerando θ o
u u u u
Exemplo8: Sejam v = (2, −1, 3) e u = (4, −1, 2) . Encontre dois vectores w1 e w2 tais que v = w1 + w2 ,
w1 é paralelo a u e w2 é perpendicular a u .
2
Resolução: Como u | v = 15 e u = 21 , vem
v |u
w1 = proju v = 2
u = ( 15
21
)(4, −1, 2) = ( 207 , − 75 , 107 ) e w2 = v − w1 (2, −1,3) − ( 207 , − 57 , 107 ) = (− 67 , − 72 , 117 ) .
u
3
5.8 Produto externo ou produto vectorial entre dois vectores de
3
Em muitas aplicações de vectores de a problemas de engenharia, geometria e física,..., tem
interesse construir um vector que é perpendicular a dois vectores dados. Como foi visto, não existe uma
n
generalização para se definir o operador multiplicação de vectores em , onde o produto resultante
seja um vector da mesma dimensão. Vamos definir um tipo de multiplicação entre dois vectores, cujo
3
resultado é um vector (chamado produto externo ou vectorial), apenas com aplicação em .
vectores de 3
, não paralelos. Queremos encontrar um terceiro vector w = ( w1 , w2 , w3 ) perpendicular a
u1 w1 + u2 w2 + u3 w3 = 0
v1 w1 + v2 w2 + v3 w3 = 0
u1 u2 u3
A=
v1 v2 v3
u1 u2
∆2 = ≠ 0,
v1 v2
assim, vamos considerar como principais as incógnitas w1 e w2 e como livre a variável w3 (poderiam
ser outras). Como não há determinantes característicos e existem incógnitas não principais o sistema é
possível e indeterminado (tem mais incógnitas do que equações). Pelo que foi dito
u1 w1 + u2 w2 + u3 w3 = 0 u1 w1 + u2 w2 = −u3 w3
⇔ ,
v1 w1 + v2 w2 + v3 w3 = 0 v1 w1 + v2 w2 = −v3 w3
u1 u2 −u3 w3
a matriz ampliada do sistema é [ A | B ] , onde A = | A |= u1v2 − u2 v1 e B = , portanto
v1 v2 −v3 w3
−u3 w3 u2 u1 −u3 w3
| A1 |= = (−u3 v2 + u2 v3 ) w3 e | A2 |= = (−u1v3 + u3 v1 ) w3 .
−v3 w3 v2 v1 −v3 w3
| A1 | (−u3 v2 + u2 v3 ) w3 | A2 | (−u1v3 + u3 v1 ) w3
Vindo, pela regra de Cramer, w1 = = e w2 = = , como
| A| u1v2 − u2 v1 | A| u1v2 − u2 v1
−u3 u2 u1 −u3
w1 = −u3 v2 + u2 v3 = e w2 = −u1v3 + u3 v1 = .
−v3 v2 v1 −v3
único. Define-se w como sendo o produto externo ou vectorial entre u e v , relembre-se que este
vector é ortogonal a u e v , por hipótese.
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Como mnemónica para a expressão u × v , pode usar-se o “determinante simbólico” que passamos a
deduzir. Como sabemos, os vectores da base canónica, e1 = (1, 0, 0) , e2 = (0,1, 0) e e3 = (0, 0,1) são
vectores unitários (de norma igual um) e paralelos aos eixos coordenados. Todo o vector v = (v1 , v2 , v3 )
3
de pode ser escrito como combinação linear de e1 , e2 e e3 , pois
u × v = (u2 v3 − u3v2 , u3v1 − u1v3 , u1v2 − u2 v1 ) = (u2 v3 − u3v2 )e1 + (u3v1 − u1v3 )e2 + (u1v2 − u2 v1 )e3 ,
que é equivalente a
u2 u3 u1 u3 u1 u2
u×v = e1 − e2 + e.
v2 v3 v1 v3 v1 v2 3
Resultado obtido como consequência da aplicação do teorema de Laplace à primeira linha do seguinte
determinante
e1 e2 e3
u × v = u1 u2 u3 .
v1 v2 v3
Obs.11: Não se trata de um verdadeiro determinante, já que na primeira linha temos os vectores e1 , e2
3
e e3 da base canónica de e não números.
u1 u2 u3
Outra maneira de determinar as componentes de u × v é através da matriz A = .
v1 v2 v3 (2×3)
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Existe uma diferença importante entre o produto interno e o produto externo de dois vectores de 3 .
Enquanto o primeiro é um escalar, o produto externo (vectorial) é um vector. No teorema seguinte,
dão-se algumas relações importantes (sem demonstração) entre o produto interno e o produto externo.
3
Teorema7 (Relações envolvendo o produto interno e o externo): Sejam u , v e w vectores de :
(i) u | (u × v ) = 0 , ( u × v é ortogonal a u , u × v ⊥ u ).
(ii) v | (u × v ) = 0 , ( u × v é ortogonal a v , u × v ⊥ v ).
2 2 2
(iii) u × v = u v − (u | v ) 2 (identidade de Lagrange).
(iv) u × (v × w) = (u | w)v − (u | v ) w .
(v) (u × v ) × w = (u | w)v − (v | w)u .
Obs.12: As propriedades (i) e (ii) significam, que w = u × v é perpendicular ao plano formado pelos
vectores envolventes u e v .
Note-se que, u | (u × v ) = (1, 2,3) | (5, 2, −3) = 5 + 4 − 9 = 0 e v | (u × v ) = (1, −1,1) | (5, 2, −3) = 5 − 2 − 3 = 0 ,
o que mostra que u ⊥ (u × v ) e v ⊥ (u × v ) . É também de interesse verificar que
3
Relativamente aos vectores da base canónica de , a partir da definição de produto externo podemos
obter as seguintes relações:
isto é, o produto externo entre dois vectores da base canónica dá o outro vector ou o seu simétrico.
Tem-se, ainda, que e1 × e1 = 0 , e2 × e2 = 0 e e3 × e3 = 0 , uma vez que os vectores são colineares entre si.
Tendo por base, os resultados do produto externo entre os vectores da base canónica, apresentam-se,
sem demonstração, algumas propriedades do produto externo.
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Teorema8: Para quaisquer vectores u , v e w de 3
e um número real λ . Tem-se
(i) u × v = −(v × u ) (o produto externo não é comutativo, é anti-comutativo).
(ii) u × (v + w) = (u × v ) + (u × w) e (u + v ) × w = (u × w) + (v × w) (o produto externo é distributivo em
relação à soma de vectores).
(iii) λ (u × v ) = (λ u ) × v = u × (λ v ) .
(iv) u × 0 = 0 × u = 0 .
(v) u × u = 0 , ou, u × v = 0 ⇔ u = λ v v = λu .
e1 e2 e3
v×w= 1 −1 1 = −2e1 + 2e3 = (−2, 0, 2) ,
1 1 1
obtemos (u × v ) + (v × w) = (5, 2, −3) + (−2, 0, 2) = (3, 2, −1) . Por outro lado, como,
v × (u + w) = (1, −1,1) × (2,3, 4) = (−7, −2, 5) ,
sai, (u × v ) + (v × w) ≠ v × (u + w) , basta ter em conta a propriedade (ii) do produto externo. O correcto é
(u × v ) + (v × w) = (u × v ) − ( w × v ) = (u − w) × v , ou (u × v ) + (v × w) = −(v × u ) + (v × w) = v × (−u + w) .
Tem-se, portanto
2 2 2
u ×v = u v sen 2 θ ,
desembaraçando de quadrados, e, tendo em conta que sin θ ≥ 0 , uma vez que por definição de ângulo
entre dois vectores, 0 ≤ θ ≤ π , tem-se o seguinte resultado.
Obs.15: Atenção que u × v = u v sen θ não faz sentido, uma vez que u × v é um vector (produto
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Definição15: Sejam u e v dois vectores de 3
. Definimos o produto externo u × v , como sendo o
vector com as seguintes características:
(i) Tem direcção perpendicular a u e v ;
(ii) Tem o sentido dado pela regra da mão direita.
(iii) Tem comprimento u × v = u v sen θ .
Pelo que foi dito, dados dois vectores u e v , é sempre possível determinar a orientação de u × v . Para
se identificar completamente u × v , geometricamente, necessitamos apenas saber o seu comprimento.
Deste modo, como a área de um paralelogramo é dada pelo produto entre os comprimentos da base e da
altura, é igual a A = u v sin θ , e pelo teorema9 u v sin θ = u × v = A .
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3
Teorema10: Sejam u e v dois vectores de . Então a área do paralelogramo com lados adjacentes
u e v é numericamente igual à norma de u × v , A = u × v .
3
Corolário1 Sejam u e v dois vectores de . Então a área do triângulo com lados adjacentes u e v é
1
numericamente igual a A = u ×v .
2
Exemplo11: Calcule a área do paralelogramo definido pelos vectores u = (1,1,1) , v = (−1, −1, 2) .
Resolução: Como vimos pelo teorema10 a área do paralelogramo definido por u e v é numericamente
igual ao comprimento de u × v .
que u | v = (1,1,1) | (−1, −1, 2) = 0 , ou seja, os vectores são perpendiculares e sin θ = π2 ⇔ θ = 1 . Logo,
quadrado e A = u × v = u v , por outro lado, o triângulo definido por estes vectores é rectângulo e
A = 1
2 u ×v = 1
2 u v .
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2
Exemplo12: Calcule a área de um paralelogramo definido em utilizando o produto externo.
Resolução: Considere-se um paralelogramo P no plano com vértices em (1,1) , (3, 2) , (4, 4) e (2,3) ,
representado na figura17.
Dois lados adjacentes são dados pelos vectores, de (1,1) a (3, 2) , isto é, u = (3, 2) − (1,1) = (2,1) , e de
(1,1) a (2,3) , isto é, v = (2,3) − (1,1) = (1, 2) . Como, estamos a trabalhar com dois vectores de 2
,e
não de 3
, não se pode calcular o seu produto externo. Consideramos os vectores w = (2,1, 0) e
O exemplo12 motiva o seguinte resultado que serve como interpretação geométrica para os
determinantes 2 × 2 . Considere-se um paralelogramo definido em 2
pelos vectores u = (u1 , u2 ) e
e1 e2 e3
u u2
estendido a 3
. O produto externo, usando determinantes, é u × v = u1 u2 0 = e3 1 ,
v1 v2
v1 v2 0
u1 u2 u1 u2
donde A = u × v = e3 = abs , uma vez que e3 = 1 .
v1 v2 v1 v2
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Teorema11: Sejam u e v vectores de 2
e M a matriz ( 2 × 2 ) cujas colunas (ou linhas) são as
componentes de u e v . Então, a área de um paralelogramo definido em 2
é A =| det( M ) | .
2
Exemplo13: Calcule a área de um paralelogramo definido em com vértices (1,1) , (3, 2) , (4, 4) e
(2,3) utilizando um determinante de ordem 2.
Resolução: Pelo exemplo12, dois lados adjacentes do paralelogramo são dados pelos vectores
2 1
u = (2,1) e v = (1, 2) (porquê?), logo a área do paralelogramo é A = = 3.
1 2
3
Teorema12: Se os vectores u e v de formam um conjunto linearmente independente, o
determinante da matriz ( 3 × 3 ) cujas colunas (ou linhas) são u , v e u × v , respectivamente, é positivo.
Obs.16: Esta quantidade não é nula porque o conjunto dos vectores é linearmente independente.
Definição16: Sejam u , v e w ∈ 3
vectores L.I., representados por segmentos orientados a partir da
origem. Dizemos que estes três vectores (por esta ordem) formam um triedro directo se a rotação mais
curta do vector u que o leva a sobrepor-se ao vector v é feita, para um observador com os pés na
origem e a cabeça na extremidade de w no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio (ver figura18).
3
Obs.17: Os vectores e1 , e2 e e3 da base canónica de formam um triedro directo.
Obs.18: Prova-se que, se u e v forem ortogonais com norma unitária, então u , v e u × v constituem
uma base ortonormada.
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3
5.9 Produto misto em
3
Pode estender-se os resultados do teorema10 para se calcular o volume de um paralelepípedo em .
Suponha-se u , v e w as arestas adjacentes do paralelepípedo P, como se ilustra na figura19. Sabemos
que o volume V de P é igual ao produto da área da base, u × v , pela altura correspondente de P, ou
3
Definição17: Dados três vectores u , v e w de , aplicados num ponto A (vértice do paralelepípedo
definido pelos três vectores), a quantidade w | (u × v ) (que é um escalar) denomina-se por produto
misto de u , v e w (por esta ordem), e, o seu módulo é numericamente igual ao volume do
paralelepípedo definido por esses vectores.
3
Vamos deduzir a expressão cartesiana do produto misto em (sistema ortonormado). Como sabemos
3
os vectores de podem ser escritos como combinação linear dos vectores da base canónica, ou seja,
w | (u × v ) = ( w1e1 + w2 e2 + w3e3 ) | [ (u2 v3 − u3v2 )e1 + (u3v1 − u1v3 )e2 + (u1v2 − u2 v1 )e3 ] =
u1 u2 u3
= (u2 v3 − u3v2 ) w1 + (u3v1 − u1v3 ) w2 + (u1v2 − u2 v1 ) w3 = v1 v2 v3 ,
w1 w2 w3
ou seja,
u1 u2 u3
w | (u × v ) = v1 v2 v3 .
w1 w2 w3
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Exemplo14: Calcule o volume de um paralelepípedo cujas as arestas são definidas pelos vectores
u = (1, 4,1) , v = (−3,1,1) e w = (0,1,5) .
Resolução: O paralelepípedo P cujas arestas são definidas pelos vectores u = (1, 4,1) , v = (−3,1,1) e
w = (0,1,5) é apresentado na figura20. O módulo do produto misto é, numericamente igual ao volume
do paralelepípedo cujas arestas são definidas pelos vectores u , v e w .
Como u × v = (4 − 1, −3 − 1,1 + 12) = (3, −4,13) , V =| w | (u × v ) |=| (0,1,5) | (3, −4,13) |=| 0 − 4 + 65 |= 61 , o
1 −3 0
volume de P é 61. Ou, através do cálculo do determinante A = 4 1 1 V =| det( A) |= 61 .
1 1 5
Por outro lado, a fórmula V = w | (u × v ) permite verificar se três vectores pertencem ao mesmo plano.
Uma vez que três vectores que não estejam no mesmo plano determinam um paralelepípedo com
volume positivo, então V = w | (u × v ) = 0 se e só se u , v e w estiverem no mesmo plano.
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Apresentamos de seguida, sem demonstração, algumas propriedades do produto misto.
3
Teorema16: Sejam u , v e w vectores de . Então
(i) Pela comutatividade do produto interno, tem-se w | (u × v ) = (u × v ) | w .
(ii) o produto misto é nulo, quando um dos vectores for nulo, quando os três vectores forem
complanares, ou quando dois vectores forem colineares (paralelos).
• w | (u × v ) = 0 , se u = 0 v = 0 w = 0 , quando um dos vectores for nulo;
(v) O produto misto não se altera por permutação circular dos três vectores, ou seja,
w | ( u × v ) = u | ( v × w ) = v | ( w × u ) (uma vez que, os determinantes que representam estes produtos
(viii) w | (u × v ) não se altera se a um factor se adiciona uma combinação linear dos outros dois (por
exemplo, w | (u × v ) = w | (u × (v + α u + β w)) ).
w | (u × (α v1 + β v2 )) = w | (u × α v1 ) + w | (u × β v2 ) = α w | (u × v1 ) + β w | (u × v2 )
e
(α w1 + β w2 ) | (u × v ) = α w1 | (u × v ) + β w2 | (u × v ) .
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Obs.22: As propriedades (v) e (vi) acima podem ser memorizadas observando-se a figura21.
Considerando o produto misto de u , v e w , por esta ordem, w | (u × v ) , seguindo as setas, obteremos o
sinal de +. Considerando o produto misto em sentido contrário ao das setas, obteremos o sinal de − .
Qualquer produto “num mesmo sentido” é o oposto do produto “em sentido contrário”, por exemplo,
u | (v × w) = −v | (u × w) .
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