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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio-ambiente

Ovo - Centro de Artes Performáticas.


Simbolismo, Paixão e Poesia no Porto do Rio de Janeiro.

TFG da Arquiteta Juliana Moreira - UFF.

O Quinto Elemento.
Avaliação do desempenho e dos benefícios no uso dos aditivos
redutores de água nos concretos “virados na obra”.

Augusto Cesar Abduche Corrêa | Eng. Civil MsC.

Restinga de Itacoatiara.
Um projeto de recuperação.
Eugênio Schitine - Arquiteto - Pres. da Soami - Gestão 2008/2009. MEMO online | 1
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE


Prof. Roberto de Sousa Salles - Reitor

Escola de Engenharia - TCE


Prof. Hermano José Oliveira Cavalcanti - Diretor
A Revista MEMO é uma publicação
Departamento de Engenharia Civil - TEC dedicada principalmente à Arquitetura, Engenharia
Prof. Eduardo Valeriano Alves - Chefe
e Meio-ambiente que faz a integração do meio
Diretor da Editora EDUFF:
acadêmico com o mercado. Isso é traduzido em
Prof. Mauro Romero Leal Passos
cada publicação, que terá em sua estrutura: artigos

Fundação Euclides da Cunha técnicos científicos, ensaios e resenhas, visando levar


Prof. Antônio Fontana - Presidente ao leitor assuntos abrangentes como novas técnicas,
Rua São Pedro 24 Grupo 801 projetos acadêmicos, profissionais e o cotidiano
Centro - Niterói / RJ - CEP: 24020-050
TEL: (21) 2109-1661 da construção, bem como aspectos voltados para

sustentabilidade e meio-ambiente.

A publicação é composta por uma equipe

de professores, estudantes, profissionais e técnicos

que buscam temas de interesse da sociedade, tendo

como berço o Departamento de Engenharia Civil -

TEC, da Escola de Engenharia TCE, da Universidade

Editor: Prof. Luiz Alberto Marques Braga Pardal Federal Fluminense - UFF e gerenciada pela Fundação
Conselho Editorial Presidente: Francisco José Varejão Euclides da Cunha - FEC.
Marinho, MSc (UFF), Antônio Carlos Moreira da Rocha,
Com 20.000 mil exemplares e distribuição
doutorando (UFRJ), Luciana Nemer Diniz, DSc (UFF)
nacional e internacional, também apresentada em
Manoel Isidro de Miranda Neto, DSc (UFF), Cláudio
Ribeiro Carvalho, DSc, Dalton Garcia de Mattos Junior, forma digital, com acesso pela web, a Revista MEMO é

DSc (UFF), Luiz Carlos Mendes, DSc (UFF), Marco apresentada em tamanho A4, com aproximadamente
Antonio Frota Lima, DSc (UFF).
96 páginas em policromia e papel de alta qualidade,
Tiragem: 20.000 mil exemplares
com tiragem prevista para dezembro de 2010.
Distribuição nacional e internacional, também
apresentada em forma digital, com acesso pela web.
Edição, texto e revisão: Jornalista Rafael Marques
Projeto gráfico, diagramação e capa: Cereja.net
Designer gráfico: Galiana Le Diagon
REVISTA MEMO
Produção gráfica: Carlos Falcão Rua Passo da Pátria 156, Bl. D, sala 461 - TEC -
São Domingos - Niterói - RJ
Fotógrafo: Leandro Cardoso cep 24210-240 - Tel.: 21 2629-5447
Assessor jurídico: Dr. Carlos Augusto Rabelo Vieira Email: revistamemo@gmail.com
www.revistamemo.com.br

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16. Dos barracos de madeira aos prédios de quitinetes | Professor Gerônimo Leitão.

22. O conceito de SUSTENTABILIDADE aplicado ao projeto de escolas objetivando aumentar o desempenho escolar

e a PRESERVAÇÃO AMBIENTAL | Professora Doutora A. L. T. Seroa da Motta.

26. MMM Roberto: Organização profissional, parcerias e o Edifício Marquês do Herval | Professor Luiz felipe Machado.

32. Paisagismo, cidades e jardins. Uma breve reflexão | Professor Jorge Batista.

38. Ovo - Centro de Artes Performáticas do Porto, Rio de Janeiro | Projeto de TFG da Arquiteta Juliana de A. Moreira.

50. Centros Unificados: nova tendência da educação brasileira | Arquiteto Mario Biselli.

54. O QUINTO ELEMENTO: Avaliação do desempenho dos concretos | Engenheiro Civil Augusto Cesar Abduche Corrêa.

58. Simulações Computacionais em Engenharia | Professor André Maués Brabo Pereira.

64. Restinga de Itacoatiara | Arquiteto Eugênio Schitine.

70. Desenvolvimento ou sustentabilidade? | Economista Luiz Fernando Fellipe Guida.

74. Sua marca só está protegida se for registrada no INPI | Professor Luiz Otávio Beaklini.

78. Sobre responsabilidade civil do construtor, prazo de garantia prescrição | Dr. Carlos Augusto Rabelo Vieira.

82. A atuação responsável das engenharias e arquiteturas brasileiras para a redução dos desastres naturais e

acidentes tecnológicos | Engenheiro Civil Gleudes Praxedes de Oliveira.


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favor mandar texto

Rua Passo da Pátria 156, Bl. D, sala 461 - TEC - São Domingos - Niterói - RJ
cep 24210-240 - Tel.: 21 2629-5447 | www.revistamemo.com.br

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favor mandar texto e uma


foto bonita da UFF para
substituir esta

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favor mandar texto e foto


caso julgar necessário

favor mandar texto e foto


caso julgar necessário

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No intuito de contribuir, somar e multiplicar conhecimento, toda a Revista MEMO além de distribuição gratuita,

também está disponibilizada na internet através do nosso endereço WWW.REVISTAMEMO.COM.BR, onde

você encontrará na íntegra todo o conteúdo das matérias e fotos de cada edição, além de detalhes de projetos

e publicações. Não deixe de nos acessar. Interaja e participe conosco!

Ovo - Centro de Artes Performá- O QUINTO ELEMENTO. Avaliação do

ticas do Porto, Rio de Janeiro. desempenho e dos benefícios no uso dos aditivos

Simbolismo, Paixão e Poesia no Porto do Rio. redutores de água nos concretos “virados na obra”.

Estas são as palavras que definem o Trabalho Final Apesar da evolução na tecnologia com a introdução

de Graduação da Arquiteta Juliana Moreira, recém- dos aditivos redutores de água plastificantes e

formada pela Escola de Arquitetura e Urbanismo da superplastificantes, os procedimentos ainda são os

Universidade Federal Fluminense. mesmos do início do século passado.

Paisagismo, cidades e jardins. Dos barracos de madeira aos


uma breve reflexão. prédios de quitinetes:
O paisagismo não pode ser inocentado quando se cinquenta anos de transformações da moradia na

detém com exclusividade nas questões dos jardins. favela da Rocinha.

Porém, o urbanismo precisa estar mais atento para Gerônimo Leitão, Professor da Escola de Arquitetura

com a paisagem e com os papéis estratégicos dos e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense no

jardins públicos. Rio de Janeiro.

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Um fulcro farol
Veridiana Chiari Gatto

Beira na baía
De oníricos pressentimentos
Fez-se UFF em minha vida.
Continental, fiz-me argonauta.
Fiz-te meu convés,
Não obstante, navego-te em paradoxo,
Mergulho em ti, cravada em ti,
Em tuas profundas institucionalizadas contradições
Onde me dilacero dionisíaca em seu território apolíneo.
Quando me desconstróis,
Sou eu quem ambiciona te desconstruir.
Na pretensão de fazer gaia tua ciência,
Percorro teus blocos preenchidos de
Senhores bonachões, pedantes: barbas e óculos.
Rapazes de olhos ávidos, ainda infantes: bárbaros ósculos.
Agudas senhoras, algumas fadigas, meninas em flor.
Eu também estou ali
Historicamente localizada
Em fluxos epistemológicos e herança platônica.
Alto do quarto andar, observo o pitoresco
Espetáculo que me propicia o crepúsculo no Gragoatá.
Por alguns instantes sou toda retina.
Aqui,
Meu espírito fluvial aprende a ser fluminense.
Sabendo-te meu devir, sabendo-me teu devir
Vamos de mãos dadas nessa dialética.
E o fardo que é o que te transcende
É facho de esperança em mim
De que o material com que me nutres
Não se encerre em teus limites.

“Ao Professor JOSÉ FERNANDES SENNA, do Departamento de


Engenharia Civil - UFF, o nosso reconhecimento e eterna gratidão.”
Poesia premiada com o 1º lugar no concurso da EDUFF. MEMO online | 13
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Dos barracos de madeira aos prédios de


quitinetes: cinquenta anos de transformações da
moradia na favela da Rocinha.
por GERÔNIMO LEITÃO | PROFESSOR
DA ESCOLA DE ARQUITETURA E
URBANISMO | UFF

Para uns, a Rocinha é a maior favela da

América Latina. Desde 1986, é uma das

regiões administrativas da cidade do Rio de

Janeiro. Muitos afirmam que é uma verdadeira

cidade, com vários “bairros”. Alguns chegam

mesmo a dizer que “a Rocinha é a segunda

maior cidade do Ceará, depois de Fortaleza”,

tal o número de “conterrâneos” que lá vivem.

São muitas as divergências quanto ao número

de moradores da Rocinha. Fontes distintas

apontam números que oscilam entre 45 mil e

200 mil habitantes.

Ocupando, atualmente, uma área de,

aproximadamente, 453 mil metros quadrados,

na encosta dos morros Dois Irmãos e

Laboriaux, e tendo como vizinhos os bairros

da Gávea e de São Conrado, a Rocinha

passou por muitas transformações, ao longo

dos últimos 50 anos: os precários barracos

de madeira – que ainda existem, porém

em número consideravelmente reduzido –

deram lugar à construções de alvenaria,

com cinco, seis e até sete pavimentos. Se,


de difícil acesso e desprovidas de infra-estrutura.
no passado, era possível, através de contatos
Como nas décadas de 1950 e 1960, ainda se
com parentes e amigos, chegar, demarcar um
constrói com o apoio de amigos e parentes, porém,
lote e construir um barraco, atualmente, para
cada vez mais, essa prática de construção por ajuda
morar na comunidade é preciso pagar – para
mútua convive com formas remuneradas – total ou
alugar ou comprar –, mesmo nas localidades
parcialmente – de produção da moradia. O uso

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exclusivamente residencial é agora compartilhado expressão crescente, com uma atuação que interfere

por uma diversificada atividade comercial, bem como significativamente no cotidiano da população local.

por serviços até então inimagináveis em uma favela. Nos últimos vinte anos, a relação dos moradores da

No que diz respeito à infraestrutura, a água, antes Rocinha com o poder público também mudou muito

captada em nascentes na encosta do morro, é – e, reconhecidamente, para melhor. As intervenções

atualmente distribuída por rede pontuais e de caráter clientelista – a chamada

pública, ainda que, em algumas “política da bica d’água” – deram lugar, a partir da

localidades, o abastecimento seja década de 1980, à ações regulares visando ampliar

precário e realizado por “sangrias” os serviços públicos prestados à população local.

feitas pelos próprios moradores ou, Porém, as características particulares do sítio, o porte

então, transportada morro acima em da comunidade e a complexidade dos problemas

latões. A “Comissão de Luz”, por a serem solucionados, fazem da urbanização da

sua vez, existe apenas no relato dos comunidade – a principal demanda dos moradores

moradores mais antigos: há vinte – um projeto complexo e de custo elevado, o

anos, teve início a implantação da

rede de distribuição regular de energia

domiciliar – o que não significa que

não existam ligações clandestinas

(os chamados gatos), sobretudo nas

áreas de ocupação mais recente. As

condições de esgotamento sanitário

permanecem precárias, e foram

agravadas, não só pelo extraordinário

adensamento populacional, ocorrido

ao longo das últimas duas décadas,

como, também, pela inexistência de

redes adequadas de coleta em toda

a comunidade. As vielas continuam

estreitas e sinuosas, porém, a maioria

encontra-se pavimentada, quase

sempre, graças à ação organizada dos próprios

moradores. que é reconhecido por lideranças comunitárias e

Nem todas as transformações ocorridas na Rocinha representantes do poder público.

podem ser, contudo, consideradas positivas para seus

moradores. A partir de meados da década de 1980, Neste quadro de transformações pelas quais a

a presença do narcotráfico na favela ganhou uma Rocinha passou deve ser destacado, ainda, o papel

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desempenhado pelo movimento associativo de marcante a inexistência de regras ordenadoras como

moradores, responsável por várias lutas pela melhoria aquelas vigentes na cidade oficial. Ou melhor

das condições de vida na favela. Da mesma forma, dizendo, existem regras, porém são poucas e flexíveis

na década de 90, deve ser, também, ressaltado o o suficiente para corresponder às necessidades/

surgimento de organizações não-governamentais, possibilidades de quem constrói. Estas regras não

voltadas para a implementação de diversos programas estão escritas e envolvem – basicamente – acordos

de promoção social na comunidade. com vizinhos, no sentido de estabelecer o que se

A Rocinha – assim como as outras favelas cariocas pode e o que não se pode fazer. São acordos que

– veio para ficar. Não pode mais ser considerada buscam resolver variadas questões. Nem sempre as

– como se imaginava até os anos 1960 – algo negociações são simples. Conflitos existem e são

transitório, uma etapa inicial no processo de chegada mediados pelas associações de moradores e, na

dos migrantes à “cidade grande”. Segundo essa Rocinha, a partir de meados da década de 80, pela

perspectiva, a favela desapareceria tão logo as administração regional. A mesma administração

condições econômicas permitissem a incorporação de regional que, desde o final da década de 90,

seus moradores à vida urbana. Esta visão, contudo, procura implantar normas edilícias que ordenem

pertence ao passado. Resultado de lutas históricas minimamente o processo de produção de moradias

por justiça social, o

reconhecimento do

caráter irreversível da

presença da favela no

cenário urbano, bem

como a determinação

política de promover

a integração desses

assentamentos

informais à cidade

oficial, impõe um novo desafio à sociedade. Além na comunidade – com resultados que deixam a

das intervenções urbanísticas que visam implantar desejar, apesar do empenho dos técnicos e outros

os serviços e a infraestrutura existente nos demais profissionais envolvidos.

bairros, é necessário que a legislação urbanística

seja estendida, também, à favela. E este é o desafio: A questão, portanto, permanece: é possível ordenar o

regular um processo de produção do habitat, cuja processo de uso e ocupação do solo em uma favela

dinâmica, embora, por vezes, se assemelhe ao como a Rocinha? É possível regular uma dinâmica

que ocorre na cidade oficial, apresenta, contudo, de produção da moradia que tem na “liberdade de

características tão particulares. construir” uma característica primordial? Porém, não

A produção da moradia na favela tem como aspecto existindo um ordenamento mínimo da ocupação e

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do uso do solo nas favelas, como assegurar que as na implementação desta política de ordenamento.
condições de habitabilidade não se tornarão ainda A legislação proposta pelo poder público deve
mais precárias, com a perspectiva de crescimento reconhecer as particularidades da morfologia
populacional desses assentamentos – sobretudo da favela e procurar ser simples, para que sua
após a implantação da infraestrutura de saneamento compreensão não envolva as mesmas dificuldades
necessária? que se têm ao consultar o código de obras da cidade
Essas considerações nos levam, portanto, a repensar dita oficial.
as possíveis normas de ordenamento do ambiente

construído na favela, de modo a evitar a criação de Definir, portanto, um conjunto de normas edilícias
“camisas de força” que impossibilitem práticas que básicas, amplamente discutidas e pactuadas pelos
asseguram, na construção da moradia, não apenas o diferentes grupos representativos da população
abrigo (a casa), mas, também, o trabalho (a birosca), favelada, poderá ser o primeiro passo. Viabilizar
os projetos futuros (o cômodo para o filho que casou) a implantação de programas de assessoria técnica
e, até mesmo, a aposentadoria (a renda do quitinete a quem constrói – com a participação ativa da
alugado) – práticas usuais que dão respostas às universidade pública e do Instituto de Arquitetos do
demandas e necessidades da população que vive na Brasil– é outra das ações possíveis.
favela. Por sua vez, o estabelecimento de parcerias com
Nos parece que conscientização e ações efetivas organizações não-governamentais, que já atuam
de fiscalização são de fundamental importância nas comunidades faveladas, poderá possibilitar

a difusão das informações referentes às normas

edilícias pactuadas, bem como a fiscalização do

cumprimento dessas regras. Nesse processo de

ordenamento do habitat da favela, a incorporação

das redes de organizações não-governamentais –

cuja atuação é cada vez mais relevante no cotidiano

de seus moradores – poderá levar à superação das

dificuldades de caráter operacional, observadas até

aqui nas iniciativas promovidas pelo poder público

municipal.

Estas são algumas das ações que poderão contribuir

para a implementação de uma legislação urbanística

adequada às características particulares das favelas

cariocas, o que – ao lado de outras ações de

promoção social e da implantação de infra-estrutura

– poderá aproximar duas cidades tão iguais e, ao

mesmo tempo, tão distintas.

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O conceito de SUSTENTABILIDADE aplicado


ao projeto de escolas, objetivando aumentar o

desempenho escolar e a PRESERVAÇÃO AMBIENTAL.


por PROFESSORA DOUTORA A. L. T. SEROA DA MOTTA | UFF.

INTRODUÇÃO
Frequentemente, arquitetos e engenheiros envolvidos com o projeto de escolas discutem
a inserção dos princípios da sustentabilidade aliados ao alto desempenho de escolas,
principalmente quando é necessário estabelecer uma ligação entre o edifício, a saúde dos
ocupantes e a qualidade das atividades escolares.
Atualmente, busca-se adequar as construções aos novos conceitos de sustentabilidade. Em
outras palavras, seria a proposta de empregar nas edificações os meios de re-configurar
a civilização e as atividades humanas, de tal forma que a sociedade, seus membros e a
economia possam preencher suas necessidades e expressar seu maior potencial no presente,
e ao mesmo tempo preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais, planejando e
agindo de forma a atingir pró-eficiência na manutenção indefinida desses ideais.
Em arquitetura, para ser sustentável, um assentamento ou empreendimento humano necessita
atender a certos requisitos básicos. Estes devem ser em sua plenitude: ecologicamente
corretos; economicamente viáveis; socialmente justos; e culturalmente aceitos. Edificações
sustentáveis são aquelas que incluem decisões de projeto que levem às construções mais
saudáveis, menos poluentes, e mais eficientes no dispêndio de insumos.
No que se refere aos edifícios escolares, este texto ressalta as escolas de alto
desempenho. Elas devem apresentar um desenho integrando estratégias de conforto ambiental
aliadas a todas as técnicas construtivas voltadas para as edificações que comumente são
designadas sustentáveis.

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EDIFÍCIO SUSTENTÁVEL
Qual seria a definição de edifício sustentável mais características devem ter as construções nacionais
adequada ao clima e as características construtivas para serem qualificadas como sustentáveis. Estas
no nosso país? características dependem do clima local, da
Edifícios sustentáveis são aqueles que incorporam disponibilidade de materiais construtivos de cada
esforços para aumentar a eficiência da edificação região geográfica, da tipologia da edificação, de
através de decisões de projeto que reduzem o uma agenda ambiental estabelecendo prioridades,
consumo de energia, de água, e de materiais entre outros fatores.
poluentes, objetivando minimizar o impacto destes Com relação aos edifícios escolares vale ressaltar as
na saúde dos ocupantes e no meio ambiente. O diretrizes para a construção das escolas qualificadas
conceito está relacionado com fatores que envolvem como de alto desempenho como um modelo a
desde a escolha do terreno, o projeto, a construção, ser seguido. Elas são descritas em diversos textos
assim como o uso e a sua manutenção. Isto é, deve internacionais como sendo além de sustentáveis,
incorporar todo o ciclo de vida da edificação. grandes aliadas na transmissão de conhecimentos e
Não existe até o momento consenso sobre quais na formação de novos cidadãos.

DIRETRIZES DO FUNDO DE FORTALECIMENTO


DA ESCOLA - FUNDESCOLA
No Brasil, os Manuais do FUNDESCOLA, publicado de sustentabilidade e precisa ser ampliado para
pelo Ministério de Educação em dois volumes, incorporar seus conceitos. Descreve, de forma sucinta,
descrevem as configurações mais apropriadas questões relativas ao planejamento do prédio escolar,
para a construção de uma escola urbana ou rural. mas não aprofunda a questão. Acredita-se que a
Ele se utiliza de fichas técnicas para apresentar os principal razão seja a carência de diretrizes nacionais
aspectos ergométricos, recomendações sobre taxa para se alcançar padrões de sustentabilidade nas
de renovação de ar, proteção contra o excesso de edificações. Aborda detalhadamente os tipos de
insolação, emprego de ventilação natural cruzada, macro-clima encontrados nas diversas regiões do
de luminotécnica mencionando o uso de iluminação país. Entretanto, ao se correlacionar com o projeto,
natural e de acústica, para cada um dos espaços não se aponta para o fato do micro-clima no terreno
propostos. Indica as principais características dos ser bem mais importante para o desempenho
revestimentos tais como estanqueidade, cor e da construção. Trata da implantação no terreno,
consequentemente o grau de reflexão da luz, e a sempre objetivando um melhor aproveitamento das
resistência mínima aos impactos. condicionantes climáticas, mas, novamente, o texto
Uma comparação entre as recomendações para as foca no macro-clima, quando é o micro-clima que
escolas urbanas e as escolas rurais permite verificar vai influenciar a construção.
que são praticamente iguais. Somente com relação Numa comparação com as diretrizes apresentadas
ao espaço mínimo por aluno, ao comprimento útil e em outros países, observa-se que a abordagem é
a resistência aos impactos dos pisos existem algumas outra. Nos textos correlatos encontram-se critérios
diferenças. Portanto, nota-se a existência de material para aperfeiçoar as escolas ditas tradicionais através
técnico que se repete o que pode acabar confundindo da procura para definir os critérios que norteiam
o leitor. uma escola de alto desempenho. Qualificam como
A abordagem do Manual editado pelo FUNDESCOLA, lembretes as informações dadas sobre os resultados
embora tenha uma preocupação com o conforto esperados num projeto de escola de alto desempenho,
ambiental, está bem distante da descrição acima minimizando a importância de estabelecerem

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diretrizes específicas de projeto. Enquanto os manuais do FUNDESCOLA apresentam soluções prontas, as


quais quando conjugadas, não permitem inovar ou criar ao se projetar esta tipologia de edificação, os
similares encontrados em outros países buscam descrever os resultados a serem alcançados.

ESCOLAS DE ALTO DESEMPENHO

São consideradas escolas de alto desempenho as Uma escola de alto desempenho deve ser:
construções que protegem a saúde dos estudantes, • Saudável;
professores e funcionários, e ao mesmo tempo • Confortável do ponto de vista térmico,
reduzem o consumo de energia, e outros insumos. acústico e visual;
Estas escolas devem possuir custos operacionais • Eficiente no consumo de energia;
baixos, preservar o ambiente natural e permitir uma • Eficiente no consumo de água;
alta performance escolar. Requerem um projeto • Empregar materiais apropriados;
interligado, onde todos os subprojetos de instalações • Ter um esquema de manutenção simplificado;
e os sistemas tecnológicos selecionados sejam • O entorno ambientalmente preservado;
pensados ao mesmo tempo, desde o início do projeto, • Ser um elemento de auxílio na transmissão
permitindo sua otimização ao se considerar seus de conhecimentos;
impactos nos níveis de conforto e na produtividade • Ser segura e não oferecer nenhum risco aos
dos estudantes e professores de forma integrada. ocupantes e, principalmente;
• Possuir uma arquitetura estimulante.

Conclusões
Embora descreva níveis de desempenho a serem adotados na construção das
escolas para as diversas variáveis de projeto, é interessante notar que, salvo
quando descrevem parâmetros de ergonomia e de acessibilidade, os manuais se
limitam a fazer correlação com as normas brasileiras. E necessário que um projeto
de escola tenha como objetivo atender as necessidades do indivíduo e busque
definir os critérios que norteariam uma escola de alto desempenho nacional, isto
é, uma escola que proteja a saúde dos estudantes, professores e funcionários, e
ao mesmo tempo reduza o consumo de energia, e outros insumos. Para serem
sustentáveis as escolas devem se adequar às agendas ambientais locais, possuindo
custos operacionais baixos, preservando o ambiente natural e permitindo um alto
desempenho escolar.

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MMM Roberto: Organização profissional, parcerias e o

Edifício Marquês do Herval.


por LUIZ FELIPE MACHADO | ARQUITETO URBANISTA.

No início da década de 1940, a marca MMM Roberto formado, também projetava, ocupando-se mais dos

Arquitetos iniciava suas atividades. Os irmãos Marcelo edifícios residenciais . A divisão do trabalho entre eles

Roberto (1908-1964) e Mílton Roberto (1914- era muito clara. O horário de trabalho de Marcelo

1953), associados, desde 1935, para o concurso era diferenciado dos demais, chegava mais tarde,

da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), do qual logo antes do almoço. Ele lia e trabalhava à noite

foram vitoriosos, recebiam, em 1941, o reforço do em casa.

caçula. Maurício seguia então o exemplo de seus O espaço da Rodrigo Silva media aproximadamente

irmãos mais velhos na adoção do nome Maurício cem metros quadrados e era dividido em três peças. A

Roberto (1921-1996). sala de entrada ao final de uma escadaria, ocupada

No endereço à Rua Rodrigo Silva, quase esquina pelo auxiliar direito de Marcelo, José Baesso, servia de

com a Rua da Assembleia, os Roberto ocuparam recepção. Ainda à direita, duas portas davam acesso

o segundo andar de uma casa. Segundo Marcelo às salas que se abriam para a rua, a de desenho e
Graça Couto Campello, estagiário do escritório a de Marcelo ao fundo. A sala de desenho, maior,

desde 1942, “era um escritório grandão, e só tinha comportava oito pranchetas altas com tecnígrafos,

uma sala separada para Marcelo.” Nessa sala, além de arquivos. Na sala de Marcelo, havia uma

Mílton e Maurício reuniam-se com o primogênito bela mesa desenhada por ele, três cadeiras e uma

para definir projetos. Os dois trabalhavam na sala grande estante com livros e revistas.

de desenho, junto aos demais arquitetos. Campello, A primeira auxiliar direta na área de projeto era a

ainda referindo-se à fase inicial de MMM Roberto, arquiteta Estefânia Ribeiro Paixão, colega de turma

afirma que os três irmãos eram muito diferentes no de Maurício; Antônio Augusto Dias relacionava-se

trabalho. Marcelo era o “dono da bola”; era ele principalmente com a execução de obras. Na jovem

quem fazia o risco principal, enquanto Mílton cuidava equipe havia estrangeiros: dois arquitetos búlgaros,

dos desenhos, da apresentação. Maurício, depois de Jorge Sirakof e Ivan Romanoff, e um português,

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Joaquim Silva. Havia outros estagiários e arquitetos, Ao final da década de 1950, por conta do aumento

dentre os quais destaca-se Élida Engert, que se das atividades, os Roberto decidiram buscar um

transformou no braço direito dos Roberto na área de imóvel maior para ampliar suas instalações. Na Rua

projeto. Valdemar Lício de Jesus era um desenhista do Ouvidor 54, alugaram o quinto andar do edifício

profissional. de escritórios de propriedade da firma de engenharia

Dentre os projetos realizados nesse endereço Pires & Santos, uma área de cerca de 180 m2.

destacam-se a ABI, de 1935 e o terminal de Em um espaço alongado, a organização funcional

passageiros e hangares do aeroporto Santos Dumont, era semelhante à do endereço anterior. O acesso,

de 1937; e também o plano urbanístico para a cidade por elevadores, dava em um corredor que distribuía

de Niterói, de 1938; a sede do Instituto de Resseguros à direita, em direção à Rua do Ouvidor, para salas de

do Brasil (IRB), de 1941; a colônia de férias do IRB reuniões e a de Marcelo, cujo acesso fazia-se através

e a sede do Instituto dos Industriários, ambos de de uma ante-sala ocupada por Baesso; e à esquerda

1943; as instalações industriais da SOTREQ, de para a de desenho, cuja área de aproximadamente 60

1944; a escola de formação profissional Mecânica metros quadrados abrigava cerca de 16 pranchetas,

do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial arquivos de desenhos e mesas para o corte e para a

(SENAI), de 1946; a escola de formação profissional finalização das pranchas.

de Carpintaria Naval do SENAI – Niterói, de 1948; As pranchetas de desenho, menores, mais baixas,

o edifício Seguradoras e a escola de formação horizontais e equipadas com réguas T, constituíam

profissional de Carpintaria e Tecelagem do SENAI – uma novidade para a época, pois os escritórios

Vassouras, ambos de 1949; a escola de formação de arquitetura ainda dispunham de mesas altas,

profissional, Tecelagem, SENAI – Petrópolis, de 1950. reguláveis e com tecnígrafos. A produção gráfica do

escritório era cuidadosa, as pranchetas em grupos

de cinco eram apoiadas lado a lado sobre estruturas

metálicas alongadas, havendo espaço destinado à

guarda de papéis e de material de desenho.

Nesse endereço, a arquiteta Élida Engert tornou-

se mais importante. Na porta de entrada lia-se:

MMM Roberto Arquitetos – Antônio Augusto Dias,

Arquiteto Associado. A equipe havia crescido e

incorporado alguns outros estrangeiros além dos já

citados búlgaros, como: os alemães Hans Butter e

Relativamente aos edifícios residenciais coletivos, o Franciska Buckmann, os portugueses José Eduardo

edifício MMM Roberto, de 1945; o edifício Júlio Coelho e Eduardo Anahory, o suíço Jean Kubler, o

Barros Barreto, de 1947; o edifício Piancó, de 1949; grego Sthefano Eleutiríadis, especialista em pré-

e os edifícios Mamanguape e Guarabira, ambos do fabricação que, tendo chegado como um consultor,

ano de 1950. acabou efetivado e dedicado às obras. Os já

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citados Marcelo Graça Couto Campello e Marcelo Relativamente aos edifícios residenciais, Dona Fátima

Fragelli, contemporâneos de Élida Engert, tornaram- e Finúsia, João Mendes Magalhães, Sadock de Sá,

se colaboradores frequentes. Dentre os estagiários, Almirante Sadock de Sá, Sambaíba, Angel Ramirez,

alguns nomes de destaque no cenário futuro da Panorama, Parque, Dalton Barão de São Clemente,

arquitetura carioca, como Matias Marcier, Jayme São Joaquim, Guarapes, Bela Vista, Salvador e

Zetel e Mauro Guaranis. Verlaine foram realizados no período compreendido

Ainda nesse endereço, os Roberto constituíram uma entre 1951 e 1966.

Divisão de Engenharia, sob a chefia do engenheiro Embora a pretendida Divisão de Engenharia não

Arézio Fonseca, auxiliado pelos estagiários Moacyr tenha vingado conforme pretensão dos Roberto,

Gomes de Almeida - futuro sócio de uma das maiores o cálculo estrutural e as instalações prediais eram

empresas incorporadoras da cidade, a Gomes de intermediadas por eles, permitindo um desejado

Almeida Fernandes (GAFISA) - e Agostinho Camargo controle de qualidade dos projetos, além do aumento

- futuro calculista dos Roberto. de faturamento. Pela variedade de contratos, essa

Dentre os projetos realizados ali, destacam-se a situação conviveu com outros modelos de parceria.

residência Arthur Monteiro Coimbra e o edifício Nos casos de empreendimentos de maior vulto ou

Marquês do Herval, ambos de 1952; a escola de relacionados com interesses específicos de empresas

construtoras, quando os responsáveis pelos projetos

complementares eram impostos pelos clientes, a

atuação profissional dos Roberto limitava-se e à

compatibilização dos projetos e à supervisão da

execução da obra. Dentre as empresas de engenharia

que se relacionaram continuamente com os Roberto,

pode-se destacar a Pires & Santos, responsável pela

construção de, entre outros, o edifício Marquês do

Herval.

O prédio é reconhecido como uma das realizações

formação profissional, Construção Civil, SENAI, e mais extraordinárias dos Roberto, uma demonstração

o pavilhão Lowndes Fazenda Sambaíba, Petrópolis, de eficiência construtiva através de uma expressão

ambos de 1954; o plano turístico para a região instigante para a época. Pode-se classificar, através da

de Cabo Frio-Búzios, de 1955; o plano piloto de observação do conjunto da obra, e particularmente

Brasília, e a escola de formação profissional em deste exemplo, até então, a produção dos Roberto

Mecânica de Automóveis do SENAI, ambos de 1956; como uma acumulação evolutiva, pelo domínio

o plano de extensão marítima da cidade de Tunis adquirido através do fazer contínuo, de técnicas e de

– Tunísia, de 1957; a sede da Companhia Souza conceitos sem que estes se cristalizassem, evitando

Cruz de Cigarros, de 1958; o complexo residencial que se tornassem ultrapassados.

Alberghioro – Riviera del Poente, Itália, de 1962. No edifício Marquês do Herval, a expressão

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de movimento das fachadas atinge o auge, através de angulações horizontais e verticais e do sofisticado

sistema de brises móveis; a partir do nível da rua, uma rampa de acesso helicoidal descendente comprova

definitivamente a tese da continuidade entre os espaços edificados e urbanos. Marcelo fala do edifício: “o

destino do arquiteto é inventar”. Os parapeitos inclinados provocam uma sensação estranha à primeira

vista, mas a sensação, depois, torna-se agradável. Os brises móveis em alumínio com o desenho resultante

de um gráfico de visibilidade são pura invenção. O que importa são as sensações provocadas, as verdades

subjetivas. A arquitetura não é bidimensional e as fachadas não podem ser como simples composições de

Mondrian. Assim, seguiram Borromini, ondulando as fachadas, pois a arquitetura é mais arte do tempo do

que do espaço. O edifício move-se verticalmente atraindo o interesse do olhar. O olhar humano é sucessivo,

e não simultâneo e, na relação entre tempo e espaço, o que existe são as verdades subjetivas.

No início da década de 1950, o escritório encontrava-se no auge de sua produção. O edifício Marquês do

Herval, um dos projetos mais importantes dos Roberto, e cuja autoria é atribuída a Mílton, acaba por ser

estigmatizado como o “edifício maldito” por ter marcado a morte do ente querido. A morte de Mílton, em

1953, abala Marcelo a ponto de afastá-lo do escritório por um período de três meses.

No entanto, a marca MMM Roberto, continuou a existir até a morte de Marcelo, em 1964. A partir desta data,

o escritório passa a ser M Roberto sob a direção de Maurício, mas já estava finda a melhor fase da união

fraterna, a dos três irmãos, e sua parceria com os grandes profissionais da engenharia nacional.

LUIZ FELIPE MACHADO


Arquiteto Urbanista formado pela FAU/
UFRJ; Doutor em História da Arte, Universiré
Paris I – Sorbonne; Mestre (DEA) em História
da Arquitetura Moderna e Contemporânea,
Université Paris I – Sorbonne; Mestre em
Arquitetura, PROARQ, FAU/UFRJ; Especialista
em Materiais para Engenharia Civil e Arquitetura,
EE/UFRJ. Professor, desde 1979, da USU, UFRJ,
UNESA e PUC. Atualmente, Professor Adjunto
da EAU/UFF. Atuante nas áreas de projeto e de
construção com cerca de 160 realizações em
programas diversos.

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Paisagismo, cidades e jardins.


uma breve reflexão.

O paisagismo não pode ser inocentado quando se por todos. A partir da segunda metade do século

detém com exclusividade nas questões dos jardins. XIX, surge um processo de renovação conceitual

Porém, o urbanismo precisa estar mais atento para e metodológica trazido por questionamentos dos

com a paisagem e com os papéis estratégicos dos médicos higienistas.

jardins públicos. As primeiras crises socioambientais urbanas,

O jardim é um espaço de fascínio para diversas decorrentes da primeira fase da revolução industrial,

culturas humanas e parece um estar de bem bilateral determinam o surgimento dos grandes jardins

com a natureza. É talvez o lugar mais próximo para públicos na maioria das grandes cidades. É através do

a celebração de em esperado contrato natural. discurso médico que surgem os chamados pulmões

Está associado à gênese e ao final dos tempos - verdes nas cidades, em busca da assepsia solar e

caminhamos nos mitos e nas religiões, de um jardim do ar puro. O jardim torna-se uma das estratégias

paraíso perdido para um paraíso que podemos para a sobrevivência social no urbano. Nessa mesma

conquistar individualmente. época, o urbanismo se impõe como método e como

Por ser fonte de riquezas como flores raras, frutos ciência.

e matrizes estéticas, medicinais e aromáticas, além De infinitos particulares, os jardins também passam

de trabalhoso, efêmero e custoso, é, ao longo da a se tornam públicos e parecem gostar de se exibir

história, privilégio de poucos, fechado e guardado para as cidades. Na literatura dos flanairs, palavras

como tesouro. Paraíso particular existente desde as diversas afirmam os jardins como lugares para as

mais antigas civilizações, o jardim é murado como longas contemplações e absorções de tempo, em

no Egito, nos jardins persas e nos giardinos secrettos deleites do avistamento que não aponta apenas a

da Itália renascentista (Jellicoe, Susan & Jellicoe, estética estabelecida para o belo, o bom e o sublime.

Geofrey,1995). Jardins podem sugerir paraísos, mas também podem

Em tempos de dispersão do poder e medo, o jardim ser intencionalmente feios, lúgubres, grotescos,

se encafua no centro das construções, como nos assustadores, ou ainda práticos, descuidados, e

hortus conclusus dos mosteiros e abadias da Idade trabalhosos. Jardins podem ser até proibidos e

Média. Em outros tempos, se esparrama horizonte perseguidos como foram os jardins das “feiticeiras”

afora nas grandes propriedades, possibilitadas pelas medievais. Podem ainda ser afirmadores da memória,

acumulações de riqueza, prestígio e poder: desde educativos e culturais.

faraós, imperadores romanos, mecenas italianos, Ainda que Proust, citado em Rykwert (2003:4), tenha

atingindo seu ápice de monumentalidade nos jardins observado que paraísos devam ser necessariamente

franceses barrocos dos reis absolutistas. Todavia, perdidos, vivencia-se um período em que paraísos

mesmo a tirania de tais períodos não impede que de diferentes tipologias são anunciados e vendidos.

os jardins sejam sempre cobiçados e admirados Atualmente o turismo elege e produz lugares que

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funcionam como “paraísos terrestres”, na medida podem ser até mesmo rurais (Azevedo, 2008). Na

em que ali o cotidiano se encontra em aparente dimensão pública, os jardins também acompanham

suspensão. O consumo desses locais envolve questões a lógica perversa da distribuição de renda, vide o

que transcendem as carências existenciais das classes caso do Rio de Janeiro, mesmo quando maltratados,

sociais mais abastadas. O cotidiano e seus tempos os jardins dos bairros ricos são exuberantes obras de

velozes, seus riscos e sua competitividade atinge a paisagistas famosos e nos bairros pobres inexistem

todos os que vivem e trabalham nas cidades. No ou são escassos e empobrecidos.

bojo da atual complexidade ambiental e do avanço Paralelo à consolidação da idéia generalizada da

tecnológico, podemos considerar que muitos dos urbanização no Brasil, nas últimas décadas, foram

lugares preservados para tais fins - como praias, notórios os avanços dos estudos paisagísticos das

montanhas, áreas rurais, florestas e remanescentes de áreas urbanas. Deve-se destacar, nesse sentido, o

paisagens naturais - são novos jardins que o homem trabalho pioneiro de profissionais como Roberto

cultiva e preserva de diversas das suas próprias Cardoso e Roberto Burle Marx, sendo este, quem, de

ações. As conhecidas contradições do capitalismo se fato, cria o jardim tropical e notabiliza o Paisagismo

renovam nesses novos jardins da sociedade urbana. brasileiro para todo o mundo. O trabalho de Burle

Em tais locais, por exemplo, se cuida com esmero da Marx traz preocupações ecológicas, com suas

natureza que é destruída em tantas outras partes. composições vegetais que, dentro das cidades,

Os jardins também são realizados sem arquitetos recriam associações naturais de um repertório

e urbanistas, paisagistas, sem desenhos pré- botânico da flora brasileira até então renegado

concebidos, como demonstram os jardins populares (Motta, 1983). Tal valorização do paisagismo traz

cariocas até mesmo em espaços livres urbanos. Estes, inúmeras publicações sobre Desenho, representação

quase sempre, são obras abertas, permitindo inclusive e aplicações do Paisagismo, em praças, parques,

a adoção de manifestações e coparticipações da water-fronts, vazios urbanos, ao longo de rodovias,

própria natureza e de outras pessoas, como plantas distribuindo conceituações, teorias, métodos

novas que surgem trazidas por vento ou pássaros, de análise e intervenção para diversas cidades,

fruteiras e flores que são plantadas por conhecidos. metrópoles e, inclusive, investigações sobre sítios

Jardins que somam frutos e flores, que aprontam urbanos históricos. São valiosas contribuições para

surpresas e nesse sentido não são cenários. E, o avanço e consolidação do estudo do Paisagismo

apesar da sociedade associar que o belo é o que urbano no Brasil.

custa dinheiro, pessoas simples podem saber ver e O termo paisagismo ecológico é empregado em

criar belezas em suas modestas formas do habitar e, experiências que remontam da década de setenta.

também, em seus jardins. No Brasil, o trabalho mais divulgado e de grande

Tais espaços populares são, por vezes, aparentemente consistência é a obra Paisagismo e Ecogênese

tão desordenados que nem parecem jardins, que de Fernando Chacel. A ecogênese pressupõe a

mais parecem quintais e, portanto, ainda que no concepção de projetos com a utilização de espécies

caso brasileiro os jardins tenham nascido urbanos, locais, na medida em que as cidades avançam sobre

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diversos ecossistemas. Essa proposta além de preservar, também aponta uma alternância para um paisagismo

homogeneizante praticado com um elenco fechado de tipologias vegetais.

Junto ao movimento ecológico, ao crescimento demográfico e ao adensamento e expansão das metrópoles,

aumenta o reconhecimento da importância do paisagismo e sua visibilidade. As políticas de cunho neoliberal

também utilizam maciçamente o paisagismo e seus jardins como um aliado poderoso para a promoção

das reformas fachadistas de áreas urbanas, estratégia capitalista avançada em que a própria cidade vira

mercadoria. São exemplos de vitrines urbanas como o Pelourinho em Salvador, na Bahia, e Parati, no Rio de

Janeiro, que trazem intervenções de caráter cenográfico e jogam para fora tudo o que incomoda, e como num

eterno ritornelo histórico, o que incomoda são as classes sociais desfavorecidas.

Como contraponto ao crescimento da violência e das desigualdades sociais, o paisagismo, especialmente

aquele que utiliza a vegetação e os jardins, ameniza a frieza e a rigidez das paisagens urbanas, em suas

escalas públicas e privadas, oferecendo, por vezes, elementos para lazer e encontros. Entretanto, muitas

vezes, tal amenização se limita na prática a uma simples confortância do olhar e na produção de paisagens

de passagens fugidias e vazias, numa lógica que parece ter horror à permanência e convívio. Como nem tudo

são flores, brotam como jardins sem vidas, ordenados e assépticos. Todo jardim é cenário quando limita as

possibilidades experimentais do usuário e esgota a possibilidade de brechas para reinvenção do humano. A vida

precisa de surpresas, a cenarização

aponta para um mundo virtual não

porque deixe de ser real, mas sim por

ser um real previsível

A violência urbana, a dificuldade de

locomoção e o estresse dos grandes

centros urbanos impelem as pessoas

de volta aos seus lares e nesse

processo, evocações românticas e

nostálgicas promovem para os que

podem pagar por isso, mecanismos

estéticos de compensação face ao

estranhamento que a cidade impõe

(Carlos, 2001). Hoje, o paisagismo

nos espaços urbanos contemporâneos

tem responsabilidades sociais para

muito além dos jardins e que não cabem nessa breve discussão. Entretanto, o jardim público em especial,

como espaço privilegiado do convívio social nas cidades deveria ser estrategicamente mais considerado por

aqueles que acreditam que, um novo mundo só será possível com a valorização das práticas coletivas em

detrimento dos valores individualistas que imperam em nossa sociedade.

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por JORGE BATISTA | PROF.


ARQUITETURA DA UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSE

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trabalho final de graduação


Ovo - Centro de Artes Performáticas
do Porto, Rio de Janeiro.
Projeto TFG de Juliana de A. Moreira.

Simbolismo, Paixão e Poesia no Porto do Rio

Estas são as palavras que definem o Trabalho Final de Graduação da Arquiteta

Juliana Moreira, recém-formada pela Escola de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal Fluminense. O local escolhido para a implantação do Centro

de Artes Performáticas foi a região portuária do Rio de Janeiro pela sua vocação

como área de realização de eventos culturais e artísticos. A união de diversos

elementos materializou a intenção de criar uma arquitetura imponente e ao mesmo

tempo carregada de poesia e simbolismo que se destacasse na paisagem.

A forma do complexo reúne uma


série de símbolos e referências tanto
às artes quanto às características
da região.

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Planta de Implantação de dois eixos principais que se cruzam formando

uma praça central coberta. O pedestre é valorizado


Inicialmente povoada por portugueses que com o posicionamento das entradas de veículos em
desembarcavam no cais do porto, a região teve via secundária, possibilitando a formação de uma
papel fundamental na estruturação da malha urbana, grande esquina-praça entre as vias principais.
identidade cultural e história popular da cidade do

Rio de Janeiro. Após o quadro de decadência e Concebido como um centro onde as artes em geral,
abandono que se criou desde a segunda metade como teatro, dança e música, serão planejadas,
do século XX, a região portuária do Rio de Janeiro produzidas, apresentadas e apreciadas. É o local onde
está prestes a ser revitalizada com o projeto Porto serão ainda criadas e experimentadas novas formas
Maravilha. E é neste contexto que se insere o projeto, de arte. Local onde a vida se manifestará através
considerando os novos projetos de alinhamento e a da arte e onde esta será concebida, desenvolvida,
instalação de linhas de VLTs. aprimorada.
Localizado em um terreno de 14.518 m², no bairro

do Santo Cristo, o projeto se desenvolve em torno


O trabalho da Juliana Moreira demonstra sua

capacidade de enfrentamento de diferentes

questões contemporaneas que se justapoem

na área do Porto do Rio de Janeiro.O partido

arquitetonico adotado

propõe uma área de convivência no nível do

acesso principal de pedestres, o que o torna

convidativo e acolhedor, permitindo clara

identificação dos espaços e funções no seu

interior. O projeto funciona como um belvedere


que favorece a autonomia nas escolhas do

público, surpreendendo-os com solucoes técnicas

inovadoras e qualidades plástica que os fazem

sonhar! Afinal, dos sonhos nascem os

grandes projetos!

Professora Laura Elza Gomes | Arquiteta

orientadora

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trabalho final de graduação

O complexo teatral é composto por dois teatros de porte médio, um teatro tradicional de palco italiano e um

teatro laboratório flexível configurado para abrigar os mais diversos tipos de manifestação artística e abrir

perspectivas para possibilidades de uso ainda não conhecidas e que estimulem a pesquisa na área.

Os blocos dos teatros localizam-se lado a lado de modo a compartilhar seus foyers, um bistrô-bar e a praça

central valorizando a convivência. Os urdimentos dos teatros se destacam pela altura e formato inclinado que

compõe com o restante da fachada lembrando a silhueta de um navio e representando assim as atividades

portuárias ora tão importantes na região.

No segundo nível as varandas-platéia além de serem corredores de passagem abrem espaço para a criatividade

na utilização da praça central como área de apresentações. Podem ser utilizadas como um segundo nível de

platéia ou mesmo um segundo nível de palco com artistas saindo de ambos os teatros.

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Perspectiva Praça Central e Teatro Tradicional


O bloco de exposições/salas de aula se desenvolve em uma grande lâmina horizontal apoiada pelas

extremidades, posicionada de forma que a partir dos foyers é possível observar os artistas durante as aulas.

Totalmente revestida em aço corten, ela surge como uma referência ao Elevado da Perimetral, que constitui

um marco da regfião que será demolido.

Apoiando a grande lâmina em uma de suas extremidades, surge do solo um pilar esférico de superfície

espelhada. Sua forma representa a capacidade do ser humano de refletir o mundo real em suas criações

artísticas. A arte como um espelho da nossa interpretação do mundo.

Perspectiva vista do foyer para as salas de aula


Os bloco suspenso do auditório juntamente com as passarelas suspensas do lado oposto fazem a interligação

entre os blocos principais. O auditório é dotado de um sistema de abertura do seu palco para o exterior de

modo a ser utilizado para apresentações ao ar livre e instalação de tela de projeção de dentro para fora

transmitindo eventualmente as performances dos teatros para um público maior na área externa ou eventos

que estejam ocorrendo em outros locais como um jogo de copa do mundo, por exemplo.

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Perspectiva praça externa


Na parte posteiror do terreno estão a administração

e as oficinas-escola diversas, como serralheria,

carpintaria, adereços e etc, que darão suporte

a ambos os teatros, produzindo todos os ítens

necessários à apresentação de uma performance. O

bloco é organizado em torno de um jardim central

que o transforma na área mais fresca do complexo.

Vista Posterior jardim


Ao redor de grande parte da fachada envidraçada surgem brises móveis em formato triangular e material

isolante térmico, controlados eletronicamente, capazes de abrir ou fechar a fachada, girar horizontalmente ou

verticalmente formando desenhos diversos evidenciados à noite através da luz oriunda do interior do edifício.

Função e arte.

Perspectiva noturna
Na cobertura do edifício estão localizados os sistemas de captação de energia solar e captação de água da

chuva para irrigação de jardins.

Um equipamento como este é capaz de trazer grande valorização a área e induzir a sua ocupação de forma

natural e mais acelerada, fazer com que a utilização da área se torne mais intensa em diversos horários do

dia e da noite transformando a atual aparência de abandono, desertificação e tristeza em uma aparência de

movimento, alegria, vida!

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trabalho final de graduação

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trabalho final de graduação

Perspectiva Principal

Perspectiva Secundária

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Porque Ovo?
O que há em um nome?

Aquela a que chamamos rosa

Por outro nome qualquer, igual perfume exalaria.

William Shakespeare

Romeu e Julieta, Ato II, Cena I

Um nome é capaz de impregnar um objeto e criar


símbolos que influenciam todos os sentidos

humanos e transmitem determinada energia.

O nascimento do mundo a partir de um ovo constitui

símbolo compartilhado por várias civilizações.

Seu significado remete à ideia universal do ato da criação,

refletindo a capacidade do homem em reinventar o cotidiano

e superar os desafios.

As pessoas absorveram essa energia sentindo-se

renovadas, cheias de novas idéias e inspiração durante

suas atividades e mesmo ao sair.

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Corte AA

Corte BB

Corte CC

Corte DD

Planta 1o. Pavimento

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Planta 2o. Pavimento Planta 3o. Pavimento

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Centros Unificados: nova tendência da


educação brasileira, por MARIO BISELLI.

O Brasil desponta atualmente como gestão de Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo,

uma das maiores economias do sob a liderança do arquiteto Alexandre Delijaicov.

mundo, cenário que começou a O Centro de Arte e Educação dos Pimentas

se consolidar, a partir do final dos pertence à prefeitura de Guarulhos, e foi concebido,

anos 90, quando a democracia inicialmente, como um Centro de Arte e Educação.

reconquistada, em meados dos Sob a nova administração municipal, foi adaptado

anos 80, finalmente se encontrou, já ao programa de CEU´s, sob o modelo de São Paulo

nos anos 2000, com uma razoável e de acordo com a política do partido, tendo como

estabilidade econômica e com um resultado um exemplar distinto daqueles produzido

cenário econômico internacional como padrão, o qual apresenta uma nova visão

favorável. Nesta primeira década sobre este programa arquitetônico.

do milênio, em função destes fatos, O referido Centro localiza-se no bairro dos Pimentas,

o Brasil começou a colocar em um local carente de equipamentos comunitários

ato o que já conhecíamos como voltados ao ensino, lazer e esporte. O projeto

potencia, ou seja, desfrutar de seus configura-se em uma linha, materializada em uma

incomensuráveis recursos naturais grande cobertura metálica que abriga nas bordas

e humanos para a produção de de sua dimensão longitudinal os diversos usos,

riquezas. articulados por um vazio central que culmina na área

Em contraste com estes avanços dedicada ao uso esportivo. O conjunto aquático

notáveis, o Brasil tem problemas localiza-se fora deste eixo, em área externa. A

sociais históricos que precisam ser topografia plana e a forma linear do terreno foram

atacados com urgência: o combate determinantes para este partido.

à pobreza em seus mais variados Os diversos usos se distribuem em blocos, ora em

aspectos e, fundamentalmente, o concreto pré-fabricado, ora em concreto moldado in-

problema da educação, que tem loco. Biblioteca, salas de aula e refeitório se localizam

sido prioritário para várias gestões no lado oeste do eixo. No lado oposto, localizam-se

públicas em nível nacional, estadual os volumes das salas de aula, ginástica olímpica,

e municipal. Estes três níveis de dança e auditórios.

governo no Brasil têm projetos O vazio central é a praça. Sem programa

específicos para o mesmo problema, previamente definido, articula e dá continuidade

do qual destaco como o mais à programação ao seu redor através de percursos

completo o modelo de Centros de sugeridos no térreo e pontes no primeiro pavimento,

Educação Unificados, produzido na acolhendo permanências e usos diversos ao longo

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de seus bancos espaços livres. Contribuem para essa O escritório


diversidade e atmosfera lúdica, as cores escolhidas Mario Biselli, nascido em São Paulo, Brasil, em 1961,

para as fachadas internas, que variam do verde ao estudou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da

amarelo, em diversas matizes. Universidade Mackenzie onde se formou em 1985. Em


2000 obteve sua titulação de Mestre em Arquitetura e
Urbanismo na mesma instituição. Atualmente, cursa
Acessibilidade
o Doutorado na mesma instituição. Acreditando que
O edifício é implantado em topografia plana, o que é
a prática da arquitetura deve estar sempre permeada
uma grande vantagem em relação à acessibilidade –
pela reflexão acadêmica, iniciou, a partir de 1992,
o pavimento térreo encontra-se em apenas uma cota. sua carreira como professor do Departamento de
O acesso ao segundo pavimento e ao pavimento Projeto da Faculdade de Belas Artes de São Paulo
inferior realiza-se por rampas de suave inclinação, e, desde 1999, integra o corpo de professores do

atendendo às normas específicas, absolutamente Departamento de Projeto na Faculdade de Arquitetura


e Urbanismo da Universidade Mackenzie.
incorporadas aos espaços. No caso deste projeto, as
Artur Katchborian, nascido em São Paulo, Brasil,
rampas assumem papel protagonista na solução da
em 1958, estudou na Faculdade de Arquitetura e
maior parte dos fluxos internos; as escadas são apenas
Urbanismo da Universidade Mackenzie onde se
estruturas auxiliares para as grandes circulações.
formou em 1985. Desde a fundação do escritório,
tem dedicado sua atividade exclusivamente a
Materiais este, coordenando integralmente as atividades de
Por ser um espaço de uso público intensivo, a escolha gerenciamento técnico e gestão administrativa para

dos acabamentos foi simplificada, focando em além de suas ações de projeto.

soluções básicas e de fácil manutenção (exemplos: O escritório de Mario Biselli e Artur Katchborian
foi fundado em 1987. Com uma arquitetura que
pisos em concreto aparente, paredes com pintura
procurou compreender e responder às transformações
comum, forros em placas nas salas de aula, estrutura
econômicas e culturais brasileiras, Mario Biselli e
aparente na rua interna).
Artur Katchborian têm projetado, em todas as escalas
O eixo central foi o ambiente mais explorado no aspecto e temas, desde um sem número de residências,
da escolha das cores. Foi elaborado um cuidadoso edifícios públicos e privados, residenciais, comerciais
estudo cromático para que este grande eixo não se e de serviços, edifícios de interesse social como

tornasse um espaço monótono e não convidativo. escolas, centros esportivos e templos religiosos, até

Foi enfatizada a constante transformação deste projetos de escala urbana, tanto através de clientes
privados como de concursos públicos, nos quais,
espaço, através da variação de cores e alternância
recentemente, obtiveram premiações de destaque.
de trechos abertos (sheds) e fechados na cobertura.
Atualmente, desenvolvem o projeto para o novo
Ele, na verdade, é o grande local de permanência do
Terminal 3 de Guarulhos.
projeto – além dos intervalos de aulas e atividades,

ele funciona realmente como uma praça.

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O QUINTO ELEMENTO. Avaliação do desempenho


e dos benefícios no uso dos aditivos redutores de
água nos concretos “virados na obra”.
por AUGUSTO CESAR ABDUCHE CORRÊA | ENG. CIVIL MsC .

Os traços de concreto confeccionados dos grãos de cimento, que promove uma repulsão

em canteiros de obra, na maioria eletrostática entre estes grãos, entre si, e também

dos casos, são compostos de com a água.

cimento, areia, brita e água. Apesar Desde o início da reação, as cargas positivas do

de toda a evolução na tecnologia cimento passam a combinar quimicamente com

do concreto, com a introdução as cargas negativas do aditivo e, enquanto houver

dos aditivos redutores de água predominância de cargas negativas aderidas às

plastificantes e superplastificantes, paredes dos grãos de cimento, haverá repulsão entre

os procedimentos de confecção de essas partículas e também entre esses grãos e a água.

concreto em canteiros de obra ainda Essas ações de repulsão vão promover uma maior

são os mesmos do início do século dispersão entre o cimento, agregados, e a água,

Figura 1 - Representação do sistema cimento, água e aditivo redutor de água.


passado. Os engenheiros de obra o que aumenta a plasticidade da mistura e evita a

ainda não perceberam os enormes formação de grumos com um maior envolvimento da

benefícios dos aditivos redutores de água ao redor dos grãos de cimento, resultando em

água como um quinto elemento na um melhor grau de hidratação. Quando as reações

composição do traço, com ganhos de combinação destas cargas negativas do aditivo

principalmente na qualidade do com as cargas positivas do cimento são esgotadas,

concreto, na segurança das dosagens termina o efeito dispersante do aditivo e inicia o

em canteiro, na redução no custo, processo de hidratação.

e ainda, nos benefícios ecológicos O aumento da plasticidade do concreto, devido à

gerados pelo produto. dispersão promovida pelo aditivo, possibilita que se

Os aditivos redutores de água agem obtenham concretos com abatimentos de tronco de

quimicamente no concreto, criando cone (slump) superiores ao dobro e até ao triplo de

uma cadeia bipolar (-) em volta um concreto com a mesma composição sem aditivo.

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Figura 2 - Representação da ação do aditivo interagindo com o cimento e a água.

Isto representa uma redução na quantidade de água não interferências de grumos na mistura.

e, consequentemente, no consumo de cimento. Figura 2– Estrutura dos grãos de cimento em forma

Pequenas dosagens de aditivos plastificantes, de castelo de cartas.

ou polifuncionais, podem alterar o slump de um Outro fator que pode ter muito mais impacto

concreto, aumentando-o de 60 mm para 120 mm, sobre a qualidade do concreto “virado na obra”

o que já torna o concreto muito mais plástico. A é o controle da dosagem de água no canteiro.

medida permite que o material se adeque a maior Na maioria das obras, a responsabilidade pela

parte das aplicações em canteiro de obras e, se consistência do concreto, ou seja, a quantidade de

ainda houver exigência de concretos especiais, com água a ser adicionada ao traço, é do encarregado

slumps mais elevados, o aumento de dosagens, com pela betoneira. Este operário, muitas das vezes, não

acompanhamentos de ensaios, poderá ser explorado. é orientado adequadamente sobre os riscos de uma

O objetivo desse artigo, no entanto, é mostrar os dosagem excessiva de água, e que mesmo 10% a

benefícios do uso de aditivos em “concretos virados” mais do líquido pode reduzir a resistência do concreto

na obra, com o aumento da plasticidade e também na mesma proporção. Quando no canteiro de obras,

da qualidade do concreto. o concreto não apresenta a plasticidade adequada

A força de repulsão entre os grãos promovida pelos à aplicação a que se destina, ao primeiro sinal de

aditivos elimina as forças de atração de Van der contestação da frente de trabalho, o operador da

Walls, comuns em misturas de pós muito finos, como betoneira, na maioria das vezes, atenderá prontamente

o cimento. Essas misturas tendem a formar grumos às solicitações com “um pouco” mais de água. Todo

na forma conhecida como “castelo de cartas”, que, esse risco pode ser reduzido e até eliminado com

por sua união, impedem a hidratação completa das a adoção de concretos com boa trabalhabilidade,

superfícies dos grãos. O maior grau de hidratação com maior plasticidade, através do uso de aditivos

de cimento promovido pelos aditivos reflete no plastificantes e polifuncionais no canteiro de obras.

incremento das resistências mecânicas do concreto, Com respeito à qualidade e desempenho das

em muitos casos, em mais de 10%. Além do ganho resistências, tem que se observar que, como todo

de resistências mecânicas, a melhor condição de produto químico, as dosagens de aditivos redutores de

hidratação dos grãos de cimento tem ainda muita água tem que obedecer a limites em função de efeitos

influência sobre a regularidade dos resultados de secundários, como o excessivo retardamento de pega

traços de concreto de uma mesma obra, devido a e a incorporação de ar no concreto. A partir de certas

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dosagens de aditivos, o desempenho das resistências capacidade de redução de água de cada aditivo,

mecânicas pode ser afetado. As dosagens ideais de pois para um mesmo fator água/cimento e mesma

cada aditivo para um determinado concreto vão consistência, um concreto com aditivo redutor de água

depender das características físicas dos agregados, diminui o consumo do líquido, e, consequentemente,

das características físico/químicas do cimento, e das o consumo de cimento, em no mínimo 6% para

condições de aplicação no canteiro, porém trabalhos os aditivos plstificantes. No caso dos aditivos

tem demonstrado que as dosagens de referência polifuncionais, esta redução é superior a 10%.

para um teste inicial no concreto da obra devem ser Além de todos os benefícios técnicos e econômicos

de cerca de 0,4% em peso de aditivo sobre o peso citados, deve-se destacar ainda que o uso de aditivos

de cimento, para os aditivos plastificantes, e de 0,6% reduz o consumo e, consequentemente, a produção

para os aditivos polifuncionais. A partir dos testes de cimento Portland. Apesar de ser o responsável por

realizados com estas dosagens, que apresentam já cerca de 7% das emissões globais de CO2, o produto

um bom desempenho de incremento de plasticidade ainda é indispensável - e de mais fácil obtenção -

e um baixo risco de retardamento e incorporação para atender às necessidades do homem de moradia

de ar, para a maioria das marcas de aditivos do e construções em geral.

mercado, pode-se chegar a uma dosagem ideal para

as condições da obra. Augusto Cesar Abduche Corrêa, Engenheiro


civil, MsC,
Avaliando-se os aditivos sob a ótica dos custos do
especialista em materiais, patologia e
concreto na obra, a conta a ser feita é relativa à recuperação estrutural.

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Simulações Computacionais em Engenharia.


por ANDRÉ MAUÉS BRABO PEREIRA | PROF. DO DEPTO DE ENG. CIVIL, D.S.C UFF.

O Brasil está passando por um Portanto, é indiscutível que investimentos em

momento singular de crescimento pesquisas e na formação de recursos humanos

acelerado, com expectativas, cada são extremamente necessários para dar suporte ao

vez maiores, de crescimento. Para crescimento do país.

acompanhar este crescimento, é Desta forma, baseando-se nas experiências e

imprescindível investir maciçamente trabalhos desenvolvidos pelo autor, levantam-se

na infraestrutura do país, assim alguns potenciais e carências em cada um dos

como na capacitação de recursos setores estratégicos mencionados anteriormente,

humanos para atender as demandas que justificam a demanda de novas tecnologias

e a carência de pessoas qualificadas para o desenvolvimento desses setores. No setor

em todos os ramos e setores de Petróleo e Gás, destacam-se as aplicações

estratégicos. relacionadas com a exploração da nova reserva

A grande preocupação atual é que petrolífera no litoral brasileiro, que passou a ser

o Brasil não tem infraestrutura para conhecida como “pré-sal”.

crescer, e os principais gargalos No setor de Transporte, destaca-se que o domínio da

estão nos setores estratégicos. Este tecnologia de construção de túneis é estrategicamente

fato já tem exigido e demandado essencial para o desenvolvimento da infraestrutura

o desenvolvimento de novas básica de cidades e estados, pois além do impacto

tecnologias, principalmente, nos sócio-político-econômico devido ao encurtamento

setores de Petróleo e Gás, Transporte, de distâncias, soluções baseadas em túneis geram

Energia e Telecomunicações. o menor impacto ambiental possível. Já nos setores

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de Energia e Telecomunicações, destacam-se os poder computacional disponível atualmente, ainda

problemas encontrados na operação e manutenção assim, é uma tarefa desafiadora desenvolver e

de linhas de transmissão de alta-voltagem e em torres implementar rápidos métodos numéricos capazes

de telecomunicações, devido, em grande parte, ao de resolver problemas multi-físicos e de multi-escala

fato destas estruturas serem, permanentemente, com um alto grau de confiança e precisão.

sujeitas a efeitos meteorológicos. Um dos fatores Diversos problemas reais de engenharia são sistemas

mais importantes que devem ser considerados na que sempre envolvem a interação e acoplamento de

análise de segurança de uma torre, refere-se à diferentes domínios físicos (tais como: transferência de

solicitação provocada pelo vento, visto que se estes calor, elasticidade, fluido-dinâmica, eletromagnetismo,

efeitos não forem controlados através de medidas eletroquímicos, etc.), o que não é uma tarefa simples,

apropriadas, as vibrações podem levar à destruição inclusive se efeitos de não linearidades precisarem ser

de componentes das estruturas por fadiga durante a levados em consideração.

vida útil destes. Os métodos numéricos mais conhecidos e aplicados

Porém, sem a utilização maciça de recursos nas modelagens de sistemas de engenharia são: o

computacionais, torna-se inviável o desenvolvimento Método das Diferenças Finitas (MDF) e o Método dos

acelerado de novas tecnologias e de soluções para os Elementos Finitos (MEF). Ambos métodos de domínio,

problemas levantados. Este fato retrata a importância fundamentam-se na discretização do domínio do

das simulações computacionais na solução da problema, Figura 1(a-b). Nos últimos anos, uma

maioria dos problemas de engenharia. Logo, o meio alternativa que vem ganhando muito espaço é o

acadêmico tem um papel muito importante, e pode Método dos Elementos de Contorno (MEC), que é

dar uma grande contribuição no desenvolvimento de um método de superfície, ou seja, fundamenta-se

novas tecnologias e avanços na área de simulações na discretização apenas do contorno do problema,

computacional aplicada a esses problemas. Figura 1(c). O MEC é uma ferramenta muito útil nas

Nas últimas décadas, as simulações computacionais modelagens numéricas, devido à simplicidade da

vêm adquirindo crescente importância em, geração das malhas dos modelos e a aplicação em

praticamente, todas as áreas de engenharia. Ao problemas consistindo em domínios infinitos ou semi-

longo da maioria dos processos de desenvolvimento infinitos. Essas são algumas das principais vantagens

de novos produtos, uma redução considerável de do MEC sobre os outros métodos numéricos.

custo, tempo e recursos consumidos em ensaios e Ainda mais recente, o Método dos Elementos Discretos

testes experimentais pode ser obtida com a utilização (MED) vem ganhando bastante espaço, e vem sendo

de simulações numéricas. Isso significa que o produto aplicado com sucesso em diversos problemas de

completo deve ser modelado e seu comportamento engenharia. O MED tem sido empregado para

simulado. Tal simulação deve considerar não simular o movimento de partículas de materiais

apenas estruturas complicadas, mas também uma granulares e rochosos, mas tem se tornado popular

combinação de diferentes fenômenos físicos e como um método para representar materiais sólidos,

escalas. Portanto, mesmo com o impressionante e para o estudo de problemas de fluxo. Porém, a

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caracterização das propriedades mecânicas microscópicas das partículas, necessária para o

entendimento do comportamento da interação entre elas, é uma tarefa muito complexa.

Figura 1: Métodos numéricos aplicados na solução de problemas de engenharia:

(a) MDF; (b) MEF; e (c) MEC.

Mesmo na tentativa de se explicar, da forma como os problemas da Mecânica dos Sólidos) são

mais objetiva e simples possível, as principais governados por um conjunto ou sistema de equações

diferenças na formulação dos métodos diferenciais. Essas equações diferenciais podem ser

numéricos mencionados anteriormente, expressas e resolvidas tanto na forma forte (devem ser

exige-se um conhecimento mínimo de satisfeitas ponto a ponto) como na forma fraca (devem

alguns conceitos matemáticos fundamentais ser satisfeitas na média, que pode ser estabelecido

(ver Figura 1). Sabe-se que os problemas por meio de um funcional e métodos de energia).

da Mecânica dos Meios Contínuos (assim A diferença básica do MDF para os outros métodos

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numéricos é que no MDF exige-se que a equação equações algébricas onde as variáveis são os valores

que governa o problema seja satisfeita em cada nodais, e a matriz do sistema é conhecida como a

ponto da discretização do domínio (geralmente uma matriz de rigidez do modelo, Figura 1(b). Portanto,

grade regular de pontos). Ao aplicar as equações em assim como no MDF, quanto maior a discretização

cada ponto do domínio e expressando as derivadas do problema no MEF, mais precisa será a solução do

por diferenças, obtém-se um sistema de equações problema.

algébricas, cujo grau de precisão da solução vai O MEC utiliza as mesmas ideias chaves do MEF,

depender de quão próximo estão esses pontos (ou porém o seu diferencial principal está na formulação

seja, do grau de refinamento da grade), Figura 1(a). integral do problema.

Já no MEF, como é um método que busca a solução Nas formulações variacionais clássicas, integra-se a

dos problemas satisfazendo as equações na média, equação que governa o problema junto com uma

ele resolve os problemas por meio de integrações, função resíduo. No caso do MEF, esses resíduos podem

ao invés de aproximar as derivadas por diferenças. ser grandezas virtuais nas formulações clássicas, ou

A idéia chave por traz do método parte do princípio até mesmo, as próprias funções de forma, como nas

que se conhece o comportamento da grandeza formulações de Galerkin. Já no MEC, estes resíduos

básica do problema em pequenas porções de seu são escolhidos de forma especial, ou seja, são as

domínio, por meio de interpolação de variáveis conhecidas Soluções Fundamentais do problema,

nodais (no caso de elasticidade a grandeza básica é que são soluções das equações diferenciais para

o campo de deslocamento, e as variáveis nodais são, funções delta de Dirac. A utilização de Soluções

portanto, deslocamentos nodais). Logo, as funções Fundamentais como resíduos ponderados, junto

de interpolação são os elementos fundamentais do com diversas manipulações matemáticas, faz com

método, e são comumente chamadas de funções que todas as integrais de domínios desapareçam,

de forma. A partir disso, divide-se o domínio do resultando apenas em equações integrais de

problema em pequenas partes (geralmente em contorno. Portanto, discretizando o contorno em nós

triângulos, em problemas bidimensionais, e em e elementos, de forma análoga ao MEF, porém com

tetraedros, em problemas tridimensionais) que são uma dimensão menor do problema, aplicam-se as

chamadas de elementos finitos onde a variação do equações integrais de contorno em cada nó, gerando

campo da grandeza básica é conhecida. dessa forma um sistema de equações algébricas,

Dessa forma, a integral de domínio é obtida por onde as incógnitas são as variáveis desconhecidas

integrais nos elementos finitos, gerando um sistema de no contorno, Figura 1(c).

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Na Figura 2, ilustram-se dois modelos para um bloco de fundação enterrado no solo com o MEC e com o

MEF. Com estes modelos, é possível comparar as malhas utilizadas por cada método. No caso de simulações

de propagação de ondas em meios elásticos, o MEC satisfaz naturalmente as condições de radiação com as

Soluções Fundamentais, porém com o MEF é necessário uma discretização considerável do domínio para que

não ocorram ondas espúrias em virtude do truncamento da malha.

Figura 2: Modelos de um bloco de fundação enterrado no solo com o: (a) MEC e (b) MEF.

Por último, o MED possui um tratamento diferenciado mencionados, precisa-se formular técnicas que
dos outros métodos, visto que a sua formulação possibilitem combinar/acoplar um método ao
se baseia na aplicação direta da Terceira Lei de outro, de modo a empregar cada um de forma
Newton, com caçulo de velocidades dos elementos que ele possa oferecer o seu melhor. A maioria das
e verificação do contado entre os elementos, que técnicas de acoplamento encontradas na literatura
representa, portanto, um processo interativo. (também conhecidas como técnicas de subestrutura,
Cada método numérico tem suas vantagens e decomposição de domínio e problemas de multi-
desvantagens. Para se explorar e se beneficiar regiões), baseia-se nas abordagens diretas e fortes.
das vantagens de cada um dos anteriormente De forma geral, nas abordagens diretas, o problema

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é resolvido de forma conjunta (geralmente por um Outro ponto importante nas simulações
sistema único de equações), enquanto que nas computacionais é a associação de um programa que
abordagens iterativas os sistemas de equações de simule problemas por meio de métodos numéricos
cada método são resolvidos independentemente. com sistemas gráficos, pois permite não apenas a
Nas abordagens fortes, assume-se que as condições criação da geometria dos modelos, mas também a
de equilíbrio e compatibilidade devem ser satisfeitas visualização do comportamento e das repostas dos
nó a nó, enquanto que nas abordagens fracas, essas modelos em estudo, consistindo em uma ferramenta
condições devem ser satisfeitas na média, ou seja, muito útil para a engenharia civil, engenharia
para interface de acoplamento. mecânica, engenharia geotécnica, engenharia
As técnicas de acoplamento são também exploradas química, entre outras áreas do conhecimento,
como método de multi-regiões para modelagem de sendo, portanto, bem abrangente. Para ilustrar
materiais seccionalmente heterogêneos, presentes, essa potencialidade, apresenta-se, na Figura 3, a
por exemplo, em problemas contendo falhas e visualização dos deslocamentos vertical e longitudinal
descontinuidades. para o problema da Figura 2, para uma simulação

Figura 3: Visualização das respostas em deslocamento vertical (esquerda) e longitudinal (direita).

de propagação de ondas em meios elásticos com o novas tecnologias, os experimentos representam um

MEC. passo indispensável na compreensão e entendimento

Não se deve esquecer que, em contrapartida, as da física que governa os problemas. É importante

análises experimentais são fundamentais e de extrema ressaltar que neste artigo se expressa a opinião do

importância para calibrar, aferir e validar os modelos autor, baseadas nas suas experiências com a área de

numéricos. Além disso, quando se propõe desenvolver modelagem numérica de problemas de engenharia.

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Restinga de Itacoatiara.
por EUGÊNIO SCHITINE - ARQUITETO & URBANISTA | PRESIDENTE DA SOAMI - GESTÃO 2008/2009.

Itacoatiara, recanto natural

eleito uma das sete

maravilhas da cidade, possui

uma exuberante beleza,

com seus morros invadindo

o mar e sua praia de fortes

ondas e águas cristalinas.

Um verdadeiro fascínio

para surfistas e amantes

da natureza. Escolher esse

pequeno paraíso para

morar ou visitar não é

apenas para contemplação.

É preciso responsabilidade
entre a Sociedade dos Amigos e Moradores de
e comprometimento.
Itacoatiara (Soami), a Companhia de Limpeza Urbana
Precisamos cuidar desse patrimônio
de Niterói (Clin), e a Secretaria municipal de Meio
e deixá-lo preservado para que
Ambiente. Começava assim o combate ao processo
as gerações futuras possam dele
de degradação da área e a sua manutenção, para
desfrutar.
que o habitat em questão reagisse e voltasse a ser
A restinga vinha sofrendo uma
como era antes da intervenção humana.
degeneração gradativa com a
Era preciso limpar, diminuir os acessos para aumentar
ocupação urbana. Durante anos,
a massa de vegetação, retirar as plantas invasoras,
serviu de depósito de lixo de todo
replantar as espécies nativas e, o mais importante,
tipo. Lixo orgânico, restos de
divulgar e conscientizar os usuários da preservação do
obras, resíduos de alimentos e uma
bioma. Dada à exuberância da sua beleza, Itacoatiara,
infinidade de outros materiais. O

aparecimento de plantas invasoras,

seja por meio do depósito das

podas de jardins ou por plantio

direto, contribuiu também para a

degradação desse bioma.

O projeto de preservação da restinga

foi desenvolvido por uma parceria

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além de ser um balneário residencial, recebe muitos restinga era inferior ao alto da duna. Nesta época

visitantes. O pisoteio constante da restinga abriu foi realizado o arruamento, em saibro. No topo da

várias descidas para a praia fracionando assim o duna foi feita a Avenida Beira Mar, com sistema de

ecossistema, e fragilizando-o contra agressões da drenagem das águas pluviais para a restinga. Dava-

própria natureza, tais como ventos e marés. se início ao processo de adubagem e irrigação da

restinga; e de forma acelerada, pois o calcário

é ótimo catalisador na reação de absorção dos

nutrientes pelos vegetais. Instalava-se a distorção de

cada uma das espécies da restinga com aumento da

pujança e da altura das mesmas.

Dez anos depois, começaram a surgir casas no bairro.

Aquelas dispostas na Avenida Beira Mar funcionavam

como anteparos para os fortes ventos de sudoeste,

A vegetação auxilia na estabilidade das areias que até então faziam as “podas” naturais, ao queimar

(MENEZES & ARAÚJO, 1999 apud FEVEREIRO E completamente a parte superior da vegetação de

GUERRA, 2001). Ela cria obstáculos com suas raízes, restinga. Quanto mais casas surgiam na Beira Mar,

ramos e folhas que barram, ou redirecionam, os ventos menos podas eólicas ocorriam e, consequentemente,

que as carregam, impedindo, assim, que cheguem mais alta tornava-se a restinga.

ao asfalto e até mesmo ao interior das residências, Durante o processo de limpeza, retiramos da restinga

causando transtornos tanto para a comunidade local aproximadamente 50 caminhões de lixo. Havia detritos

e visitante, quanto para as autoridades competentes. de todos os tipos, desde restos de podas até entulho

Em Itacoatiara, este efeito é maximizado pelos de reformas das residências da Av. Beira Mar. Para

frequentes ventos de sudoeste, que atingem o bairro cobrir o buraco que surgiu após a limpeza, colocamos

frontalmente, arrancando grande quantidade de areia doada de outros lugares. Esse material antes

areia, e lançando-a em direção à Avenida Beira Mar. de ser depositado foi analisado por coloração e,

A maior parte desta areia é contida pela restinga, principalmente, tamanho de granulação. O material

enquanto ela sobreviver. foi depositado na Av. Beira Mar para posterior

Na década de 40, a altura máxima da vegetação de distribuição nos locais mais agredidos. Ficamos sem

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os tratores para a remoção da areia, e a sociedade, Talvez o item mais difícil seja a educação e a

desconhecendo o projeto, reclamava das dunas conscientização da população em geral.

artificiais. Contratamos um trator e colocamos mãos O descaso ainda persiste e, principalmente, a

à obra para não atrasar mais o cronograma, uma agressão, seja por lixo deixado na praia ou diretamente

vez que as mudas estavam prontas para o plantio, na restinga. Temos que transmitir às futuras gerações

e já estava passando o período para fazê-lo. Vale que a vida em harmonia com a natureza é benéfica e

ressaltar a dificuldade que tivemos em conscientizar a duradoura para a manutenção de todas as espécies

população que todo aquele transtorno provisório era existentes.

para o bem da restinga.

ANTES DEPOIS

Eugênio Schitine |
é Arquiteto & urbanista | Presidente da Soami -
Gestão2008/2009.

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Desenvolvimento ou sustentabilidade?
por LUIZ FERNANDO FELLIPE GUIDA. ECONOMISTA E CONSULTOR.

Uma simples caminhada pela Avenida do Brasil, certamente responderá que é São Paulo.

Paulista, centro nervoso e econômico Por isso, é importante ajudarmos na reflexão quanto

do País, nestes tempos de proibição à qualidade de vida da população que vive na cidade

de fumo em ambientes fechados, mais desenvolvida do Brasil.

mostra que a falta de educação O modelo paulistano leva a sistemas de trânsito e

de fumantes despeja nas calçadas transportes, por exemplo, quase irresponsáveis. A

centenas de restos de cigarros por maior parte da população é transportada como gado,

minuto. Claro, vai tudo pelo ralo. Vai em ônibus ou trens lotados, com horários irregulares,

tudo parar no Rio Tietê. sem ar-condicionado no calor, ou sem calefação no

A cidade toda asfaltada, frio. Uma senhora idosa tem que fazer ginástica para

impermeabilizada, coberta por areia subir os degraus dos ônibus, que deveriam estar na

e cimento, com córregos e rios altura do meio-fio. Os motoristas são mal treinados,

abarrotados de lixo, recebendo as e trabalham em condições ruins. E por aí vai.

chuvas mais constantes e intensas


Na questão da Saúde o quadro é ainda
de todos os tempos, devido também,
pior, até pela essência do próprio tema. A população,
sem dúvida, à bagunça que
estressada, respirando muita poluição, sendo
provocamos no clima do Mundo,
agredida constantemente, em todos os sentidos,
vive sendo inundada.
acaba ficando mais doente. Não há UPA, hospital,
Esta receita continua sendo
ou posto de saúde que dê conta.
experimentada de norte a sul do

Brasil, como se fosse um sucesso. E quanto à geração de


Cada uma, em maior ou menor empregos?
proporção, claro, vai sofrendo Outro dia, numa palestra, numa escola em Rio
também consequências semelhantes. das Ostras (RJ), um aluno me perguntou o que eu
Mas parece que toda cidade almeja sugeriria para geração de empregos numa cidade
ser uma pequena São Paulo! como a sua, e se incentivar a construção civil seria
Em todas, se luta por mais asfalto, uma boa alternativa. Obra gera emprego enquanto
mais shoppings, mais edifícios existe a obra. Se não houver outra, em seguida,
altos. Como se coisas deste tipo gera desempregados. Até mais desempregados do
fossem marcas de desenvolvimento. que já havia, vindos de outros lados em busca de

Desenvolvimento? colocação. Muitas vezes, engrossam favelas ou criam

Qualquer jovem indagado a respeito novas, até para ficarem por perto das possibilidades

de qual a cidade mais desenvolvida de ocupação, gastarem menos em transportes, etc.

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Me lembrei do exemplo da construção de uma e metrôs deveriam estar acontecendo. Fora os


hidrelétrica lá no norte do Brasil, no meio da Floresta reacertos e adaptações nos sistemas de transportes
Amazônica, para gerar energia, não para a gente urbanos tradicionais.
de lá, mas para as indústrias de São Paulo (mais Voltando à questão da saúde, além da melhoria dos
desenvolvimento para o estado). Uma construção salários e das condições de trabalho dos profissionais
gigante daquelas atrai gente de todos os cantos da área e do reaparelhamento e modernização
para trabalhar. E quando acaba a obra? Favelização das redes, falta lembrar da saúde preventiva. Se
na Amazônia, insegurança, núcleos urbanos sem as crianças começarem a comer menos veneno no
qualquer infraestrutura, sem lei. Alguma dúvida? alface e tomate, por exemplo, terão menos câncer e

outras doenças quando crescerem. Implantação de


A Universidade Federal Flumi-
agricultura orgânica, familiar, urbana, peri-urbana,
nense (UFF) tem estudos que mostram que semi-rural, de todas as formas, pode ajudar. Pode-
a região onde se localiza Rio das Ostras, ao lado se começar substituindo o veneno de cada dia nas
da agora famosa Macaé, tem vento forte e constante creches e escolas. Melhora a saúde e gera empregos
durante quase todo o ano. Além disto, faz sol, novos.
por lá, constantemente. Por que não se dissemina A grande questão, citada lá no primeiro parágrafo, é
naquelas cidades energia eólica e solar? Por que
a questão Educação. A pessoa educada
é caro, tem que importar. Então sugiro incentivos
consegue entender direitos e deveres, escolhe melhor.
para a construção de fábricas de componentes para
Se tivéssemos Educação de boa qualidade, em tempo
fabricação de hélices e turbinas para energia eólica e
integral, disseminada pelo Brasil, como há vinte anos
placas para energia solar, ora.
pregavam Brizola e Darcy Ribeiro, a situação dos
Na questão dos transportes, é mais jovens hoje seria bem melhor.
do que claro, para quem pensa um pouquinho à frente,
WWW.REVISTAMEMO.COM.BR
que a melhoria dos sistemas passa por mudanças
radicais. Difícil lutar contra o poderio econômico e,

por conseguinte, infelizmente, político, do setor. Mas

não impossível, se os próprios empresários também

forem chamados para discutirem a questão e, quem

sabe, passarem a investir em alternativas diferentes.

As águas, calmas durante quase todo o ano,


da Baía da Guanabara, por exemplo, deveriam ser

muito mais usadas por barcos-taxi ou barcos-ônibus

intermunicipais. Toda cidade deveria lutar para ter

seu sistema cicloviário, com ciclofaixas, ciclovias,

vias preferenciais para ciclistas e bicicletários.

Investimentos urgentes para implantação de ferrovias

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Sua marca só está protegida se for


registrada no INPI, por LUIZ OTÁVIO BEAKLINI.
Para iniciar as atividades de qualquer firma, é necessário obter um sem número de autorizações,

registros e alvarás. Ao criá-la, no entanto, o profissional não se dá conta de que um de seus

principais bens é deixado completamente desprotegido: sua marca.

Em geral, para se evitar dores de cabeça futuras, vai-se buscar ajuda de um contador,

profissional que, acredita-se, ser plenamente capaz de nos ajudar através dessa selva

de normas e regramentos. O contador vai providenciar tudo o que é necessário para a

legalização daquela atividade. Ao menos assim ele crê. E é assim que a maioria das firmas

é aberta no Brasil.
Entre estas regularizações, está o registro da firma na Junta Comercial, selando a sensação

de que, a partir daí, minha firma é a única a poder usar o nome que escolhi. O que a maioria

dos contadores não sabe e, portanto, não prevê, é a necessidade de também registrar a

marca – o nome fantasia da firma – no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

Este registro não é obrigatório, já que, de fato, qualquer um pode usar sua marca sem que a

mesma tenha sido registrada no INPI. Ao contrário de tanta coisa no Brasil, o registro é uma

opção, cabendo ao gestor da marca optar por fazê-lo ou não. Mas há um problema aí: se por

um lado eu posso usar a minha marca que eu não registrei, por outro lado não posso usar a

marca que tenha sido registrada por outra firma.

O registro na Junta Comercial é estadual, e apenas garante não haver outra firma cuja

identidade – o nome de registro – seja idêntico naquele estado do Brasil. A Junta nada

tem a ver com o uso de nomes fantasia ou com a identidade visual incrementada de uma

marca. Já no INPI, o registro protege em âmbito nacional, evitando que, mais cedo ou mais

tarde, eu possa a vir a ter sérios problemas futuros, sendo obrigado a cessar o uso da minha

identidade.
Como diz a sabedoria popular, é melhor prevenir do que remediar. Mas como posso registrar

minha marca? Isso é caro? Complicado? Demora? A resposta é a mesma pra todas as

questões: não. Este artigo visa explicar como fazer para saber se uma determinada marca

está sendo solicitada ao INPI, ou ainda, se a mesma já está registrada em nome de terceiros.

A seguir, um passo a passo do que deve ser feito.

Investimento inicial: Procedimento:


depositar um pedido de marca vai TUDO é feito online, então, assim que você decidir

custar menos de R$ 500. Depois qual é sua marca, é só preparar a respectiva arte

terão outros valores, mas é disso que final, gerando uma figura de 8 x 8 cm em um arquivo

você precisará no primeiro ano. tipo “JPG”.

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Depois disso, acesse <www.inpi.gov.br>, gere e Se o nome escolhido tivesse sido, por exemplo,

imprima a guia de pagamento relativo a esse depósito. “Landscape” para sua nova empresa de jardinagem,

Providencie o respectivo pagamento, entrando no a pesquisa ficaria assim:

sistema do INPI para efetuar seu depósito. Tudo isso

não vai tomar mais que duas ou três horas, contando

com a leitura dos manuais.

Mas antes de começar o procedimento de depósito,

você precisa ver se a marca que você escolheu está

livre, ou seja, se você é realmente o primeiro a solicitá-

la. Para isso, ainda no site do INPI, faça uma busca Clique em “pesquisar” e veja o resultado:

de arquivos. O Instituto não vai conceder a você uma

marca que já tenha sido solicitada por outro.

Como fazer a busca:


Clique na aba “Pesquisa”, e, em seguida, em

“Pesquisar Base de Marcas”. Digite a palavra

desejada e clique no botão “acessar”.


Estude o que encontrou. No exemplo, há uma marca

homônima, processo nº 816667632, que já está

registrada. Agora é com você: ou pode comprar

aquela marca do seu atual detentor, ou procurar

outra para si. Mas melhor saber agora do que daqui

a alguns anos.

Assim como é fácil saber se uma marca está registrada


Na página de pesquisa clique em “Marca”, e digite o
no INPI, também é fácil depositar e acompanhar seu
nome (ou parte dele) que pretende registrar. Você vai
pedido, mas disso, falaremos em outra hora.
obter melhores resultados se trocar “pesquisa exata”

por “pesquisa radical”. A segunda fornece uma visão

mais abrangente do que já foi solicitado, ou já está

registrado no INPI.
Luiz Otávio Beaklini é especialista em Propriedade
Em seguida, você deve indicar a classificação de Industrial. Engenheiro Civil e Mestre em Engenharia
sua atividade. Clique em “Classificação de Nice” Civil formado pela UFF, onde administra Introdução
à Propriedade Industrial, trabalha no INPI há
para abrir uma lista com 45 classes. As classes 35
mais de 30 anos. É examinador de patentes, foi
a 45 são para os serviços - aí incluídas as firmas
chefe de divisão, Diretor de Patentes e Presidente
de arquitetura, engenharia, consultoria, projetos, e do INPI. Atualmente é o Coordenador-Geral da
treinamento. Escolha a que mais se ajusta ao seu Qualidade do INPI.

negócio, feche esta página, e digite o número na

quadrícula respectiva.

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Responsabilidade civil do construtor, prazo de


garantia, prescrição e decadência.
por DR. CARLOS AUGUSTO RABELO VIEIRA.

Impõe-se-me, proelmialmente, trazer a lume, sem imodéstia ou falsa modéstia, elementos que
jamais integraram meu perfil de “modus vivendi” e que não há de se transmudar na provecta idade
cronológica que ora ostento, com imensa alegria de viver, a honra pelo convite recebido pelos dirigentes
e mentores intelectuais da REVISTA MEMO, para colaborar com meus razoáveis conhecimentos de direito
imobiliário, reservando-me tão valioso espaço neste órgão de comunicação de qualidade ímpar.
Todavia e bem por essa razão, peço vênia pelo espaço ocupado com o intróito supra que, apesar da
exiguidade desta página, jamais me permitira omiti-lo e, assim sendo, vou direto ao ponto tema deste artigo.

Apesar do estabelecimento de controvérsia doutrinária e jurisprudencial acerca da matéria, enquanto vigente

o Código Civil, de 1916, que disciplinava a matéria “sub exame” em seu art. 1.245, a novel legislação,
atualmente em vigor, a partir de 2002 cristalizou definitivamente o assunto, da maneira como há muito já

sustentávamos em seu art. 618 e seu § único.

A discussão antiga se devia ao fato de que o art. 1.245 do C.C de 1916 dispunha, tão somente, a respeito do

prazo de GARANTIA da obra, a cargo do construtor, deixando a matéria relativa à PRESCRIÇÃO dos direitos

do contratante da construção para tratamento legal no capítulo específico de fixação dos prazos prescricionais

que, “in casu”, pela peculiaridade de tal direito, era de 20 anos.

Por essa razão, durante décadas, persistiu o enfrentamento, doutrinário e pretoriano, quanto ao prazo

prescricional do direito de indenização por defeitos da construção, pelo contratante da mesma contra

o construtor, sustentando o primeiro, tratam-se de prescrição vintenária e o último, por razões óbvias, a

quinquenária.

Pondo fim, definitivamente, às mais diversas tendências hermenêuticas até então aplicadas, após o

amadurecimento da matéria no âmbito jurisprudencial, surgiu a súmula 194 do Egrégio Superior Tribunal

de Justiça firmando o entendimento de que “PRESCREVE EM VINTE ANOS A AÇÃO PARA OBTER, DO

CONSTRUTOR, INDENIZAÇÃO POR DEFEITOS DA OBRA”.

Diante de tal sólido entendimento de uma das consa-gradas fontes do direito, vale dizer, a JURISPRUDÊNCIA,

curvando-se, “comme il faut”, o legislador ao elaborar o novo Código Civil em vigor, acertadamente, cuidou

de reunir as matérias, indiscutivelmente conexas (garantia, decadência e prescrição), em dois dispositivos

legais, quais sejam, os arts. 618 e seu único § e o art. 205 do mesmo diploma legal, que assim dispõem:

“Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o empreiteiro
de materiais e execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança
do trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo. (GARANTIA)

“Parágrafo único. Decairá do direito assegurado neste artigo o dono da obra que não propuser a
ação contra o empreiteiro, nos cento e oitenta dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito.”
(DECADÊNCIA)

“Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.”
(PRESCRIÇÃO)

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Como se pode perceber, de maneira clara, o novo Código Civil, de 2002, ancorado na Súmula 194 do STJ

(editada na vigência do C.C. de 1916), lançou a última “pá de cal” sobre as dúvidas e divergências antigas

sobre a matéria, tendo apenas reduzido de 20 para 10 anos o prazo prescricional.

Por fim, faz-se necessário chamar a atenção do leitor para um fato de extrema relevância: qual seja o defeito

da obra, para ser passível de indenização pelo construtor, há de ter sua ocorrência, comprovadamente,

detectada nos 5 (cinco) primeiros anos, contados a partir da entrega da obra pelo construtor, e o recebimento

da mesma pelo contratante, igualmente comprovado.

Sendo assim, o contratante da obra não terá qualquer dificuldade senão aquelas decorrentes, infelizmente, da

pública e notória morosidade do Poder Judiciário, em buscar seu direito à reparação devida pelo construtor,

até que se expirem os prazos legais acima apontados.

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A atuação responsável das engenharias


e arquiteturas brasileiras para a redução
dos desastres naturais e acidentes
tecnológicos.
por GLEUDES PRAXEDES DE OLIVEIRA | UFF.

A apatia, a desinformação, a impactos e injúrias ao meio ambiente. Por isso,

escassez de recursos e o excesso o conceito de Defesa Civil não deve parecer um

de confiança, não devem ser simples meio para recorrermos às providências que

obstáculos ao estabelecimento de devamos tomar para socorrer, proteger e assistir

compromissos com a preservação comunidades nas situações emergenciais e/ou

da vida, a segurança pública, a de calamidade pública, decorrentes de desastres

conservação saudável do meio naturais ou acidentes tecnológicos. Cabe a cada

ambiente e a proteção do patrimônio. um de nós, pela informação, divulgar e promover

É universalmente reconhecido, que a prevenção, através de um processo esclarecedor

todo acidente, qualquer que seja educativo e reflexivo, com o objetivo de contribuir

sua causa, sempre ocasiona fortes voluntariamente na superação das dificuldades, para

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que se assegure que a comunidade seja contemplada mundo, danos, perdas e contaminação equivalentes

com planos de prevenção, proteção e segurança, aos últimos 500 anos de desenvolvimento tecnológico.

comprovadamente eficientes, para atendimentos às Tudo isso, atingindo diretamente a saúde, o meio

Situações Emergenciais. ambiente, a infraestrutura, e a economia das

populações dos países envolvidos. Desastres naturais,

Considerando que os “desastres naturais” atingem assim como acidentes tecnológicos, não respeitam

a saúde, o meio ambiente, a infraestrutura, e a limites geográficos, domínios políticos, nem classes

economia das nações afetadas, têm sido numerosas sociais.

as perdas humanas e materiais, sofridas em âmbito

mundial nos últimos anos, em decorrência desses Com o propósito de prevenir, visando identificar os

eventos. Nos países em vias de desenvolvimento, perigos e avaliar riscos, propõe-se, desde então, a

dentre os quais se encontra o Brasil, os efeitos desses adoção de procedimentos para prevenção, proteção

desastres se configuram na subtração de parte dos já e segurança, através de soluções técnicas que

escassos recursos disponíveis, os quais são desviados incrementam a conscientização sobre a existência

para atenção e recuperação dos danos. Por isso, a dos perigos a que cada cidadão está sujeito. Esses

prevenção dos desastres passa, forçosamente, pela procedimentos não visam evitar as catástrofes, e sim

educação – reflexiva, esclarecedora, e formadora buscam a existência de meios de atendimento nas

da consciência do cidadão - sobre a existência dos emergências, para que suas consequências sejam

riscos e, portanto, das consequências às quais estão minimizadas. O perigo deve ser sempre entendido

sujeitos. como uma fonte de risco, enquanto que o risco

está sempre relacionado com a possibilidade da

Em razão do que ocorre quando acontece um ocorrência das consequências do perigo em questão.

desastre natural, existe a necessidade da prevenção Quanto a sua forma de expressão quantitativa os

de acidentes e redução dos desastres em geral. Dessa riscos podem ser classificados em: riscos sociais e

forma, a minimização de riscos se faz através da riscos individuais.

conscientização dos segmentos sociais da população

sobre a importância de evitar, prevenir e preparar- O risco social representa o potencial da possibilidade

se para enfrentar emergências e desastres, fazendo de perdas para a sociedade como um todo,

com que as pessoas reflitam sobre a necessidade de constituindo-se assim numa perda coletiva. Este tipo

estarem permanentemente, em alerta, preparadas, e mede o impacto sobre a sociedade, a conturbação,

protegidas para enfrentar as situações emergenciais, e a perturbação social, portanto, os governos

sinistros, desastres e catástrofes. tendem a dedicar maior interesse sobre os valores

desse questionamento, e tomá-los como base para

Segundo estatísticas publicadas pela Organização das o desenvolvimento da estrutura da Defesa Civil,

Nações Unidas (ONU), somente na década de 80, e definição de seus critérios de regulamentação.

os desastres produzidos pelo homem impuseram, ao Contudo, o risco individual é de maior importância

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para o homem. A degradação socioeconômica gera disponibilidade de investimentos e uma qualidade de

a pobreza. Dela decorre a migração de grande vida inferior. Essas observações deveriam servir para

parte da população para áreas de risco, como que as autoridades, os diversos segmentos sociais,

por exemplo, terrenos geologicamente instáveis, e a iniciativa privada entendessem que medidas

encostas, planícies costeiras desprotegidas, bacias esclarecedoras e uma atuação responsável poderiam

fluviais inundáveis, e locais insalubres ou impróprios ser adotadas, contribuindo para a redução dos

para a habitação. Esta atitude torna essas massas desastres Naturais e dos acidentes tecnológicos, e

demográficas potencialmente expostas à ocorrência garantindo uma condição melhor de sobrevivência a

de desastres e catástrofes. toda produção mundial, protegendo o nosso meio.

Quando um trabalhador é

admitido numa empresa,

traz consigo uma gama

de características

comportamentais, que

se traduzem como

positivas e negativas.

Por princípios vários ao

longo de sua vida, e pela

influência de diversos

fatores hereditários,

educacionais, oriundos

dos ambientes sociais

e familiares, onde esse

indivíduo habitou e se

Sessenta por cento da população pobre do mundo desenvolveu, se refletem em qualidades e defeitos que,

ocupa (habita) terras marginais vulneráveis a geralmente, constituem e definem sua personalidade.

desastres. Sabemos que certas alterações ambientais Algumas dessas características podem se constituir

podem ocorrer, e ocorrem, sem a interferência do em razões para a prática de atos inseguros ou para a

homem. Contudo, à medida que a degradação criação de condições inseguras.

ambiental se implementa, e cresce fisicamente, numa

região ocupada e explorada pelo homem, a sua Devido aos traços negativos de sua personalidade,

produtividade tende a se reduzir, e a qualidade de o homem, seja qual for a sua posição hierárquica,

vida diminui intensamente. Então, ele tende a ocupar pode cometer falhas durante a execução de tarefas

novas áreas num processo repetitivo e determinante no exercício do trabalho, as quais resultarão numa

de destruição, que resulta sempre numa maior casualidade de perdas. Não é o conhecimento da

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causa e nem o efeito da sequência, é a falta de recomendados para cada caso. Após a construção,

controle que dá início à perda. A causa básica é a os desastres podem ser reduzidos em função

condição ou fator que originou o ato inseguro, ou seja, de um planejamento construtivo tecnicamente

a causa imediata do acidente. Certamente sempre delineado, de um rigoroso gerenciamento, e da

que existirem atos inseguros, como consequência, adequada operacionalização das obras, de acordo

ocorrerá pelo menos um acidente. Toda vez que isso com as especificações de segurança. O grau de

acontece, corre-se o risco de que o trabalhador venha responsabilidade técnica na especificação dos

a sofrer lesões, e assim, se caracterizará o “acidente materiais e dos equipamentos, e das técnicas a serem

de trabalho”, embora possam ocorrer outros tipos de desenvolvidas em todas as fases da construção é

perdas que não provoquem lesões. determinante. É indispensável que o uso de insumos e

Entre os vários estudos desenvolvidos

no campo da Segurança do Trabalho,

encontra-se a “Teoria de Heinrich”.

Essa teoria mostra que todo acidente

é causado, ele nunca simplesmente

acontece. É causado porque o

homem não se encontra devidamente

preparado e comete atos inseguros,

ou porque existem condições inseguras

que comprometem a segurança

do trabalhador. Heinrich procurou

demonstrar a ocorrência de acidentes

e lesões com o auxílio de cinco pedras de dominó. A equipamentos diferentes dos especificados podem ser

primeira representando a personalidade, a segunda, mais baratos, mas, por não serem adequados e nem

as falhas humanas no exercício do trabalho, a estarem em conformidade, sem dúvida, resultarão

terceira, as causas de acidentes, a quarta, o acidente, numa preocupante redução dos itens de segurança

e a quinta, as lesões. das construções.

Uma etapa extremamente importante na fase do

Os desastres relacionados com a construção planejamento de obras é a previsão de vias de

civil podem ocorrer durante a construção e após acesso e rotas de fuga devidamente dimensionadas.

a conclusão das mesmas. Durante a obra, as Elas devem ser previstas para facilitar a evacuação e

possibilidades de que ocorram desastres podem rápida mobilização dos meios de ataque aos sinistros,

ser reduzidas com a aplicação prática das normas principalmente nas fases iniciais desses acidentes.

técnicas e procedimentos na execução e, em Além da preocupação com a segurança, as obras

paralelo, atendendo aos parâmetros de segurança devem ser planejadas, buscando garantir sempre o

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máximo de proteção e prevenção contra os perigos qualquer orientação técnica, e se tornaram vulneráveis

e riscos, com o objetivo de se evitar a generalização à danificação e à destruição, em consequência de

dos desastres. eventos adversos, inclusive de pequenas magnitudes.

São áreas naturalmente expostas aos riscos

Os grandes acidentes no campo da construção permanentes, que em consequência dessas más

civil são relacionados a danos ou à destruição de condições, são potencialmente sujeitas a desastres

habitações. Essas perdas são consequências naturais tais como, deslizamentos e escorregamentos de terra,

da construção de unidades residenciais em áreas ruptura e afundamentos de solos, rolamentos de

impróprias, inseguras, e em desacordo com as normas rochas, enxurradas e inundações.

técnicas e com os padrões de segurança construtiva.

O que está contribuindo para o agravamento desse

problema, é a intensa migração de populações de

baixa renda, cujo fluxo predominante se desloca

para áreas sem infraestruturas urbanas, em busca de

maiores oportunidades de trabalho.

A crise econômica que se desenvolveu sobre o

país, a partir do final da década de setenta, gerou

reflexos altamente negativos sobre o processo

de desenvolvimento social. A intensificação das

desigualdades e desequilíbrios aumentou os

movimentos migratórios internos e o êxodo rural,

provocando o crescimento desordenado das cidades,

e intensificando o desenvolvimento de cinturões e

bolsões de pobreza, no entorno das mesmas.

O crescimento desordenado das cidades, a redução

do estoque de terrenos em áreas seguras e a

consequente valorização dos mesmos, associados A Organização dos Estados Americanos (OEA)

a um relaxamento dos órgãos responsáveis pela realizou uma série de estudos que demonstrou

segurança das construções, provocaram o surgimento que, nos centros urbanos da América Latina, para

de novas favelas, o crescimento das já existentes, cada duzentas unidades habitacionais, apenas 51

e o adensamento dos estratos populacionais mais foram construídas por empresas especializadas em

vulneráveis, em áreas de riscos maiores. Pela construção civil e, nestes casos, muito provavelmente,

necessidade de obter um abrigo, muitas unidades foram edificadas de acordo com as normas técnicas

residenciais foram erguidas em locais impróprios sem e posturas de segurança, atendendo às prescrições

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dos Códigos municipais de Obras. Continuando planejadas, são executadas por leigos e curiosos, ou

o estudo, constatou-se que 98 dessas unidades seja, com mão de obra despreparada e materiais de

habitacionais foram construídas à margem do qualidade inferior, e com dosagens insuficientes para

mercado construtor, sendo construções irregulares o fim a que se destinam, tudo isto se convertendo

sobre diversos aspectos, que vão desde a fase de em riscos permanentes que se apresentam através de

licenciamento para a obra, como também para a processos construtivos sem qualidade.

obtenção do “habite-se”. Por isso, é pouco provável

que as normas técnicas e os Códigos municipais de Por esses motivos, é que eventos naturais de

Obras tenham sido respeitados. pequena magnitude e curto tempo de duração

podem causar catástrofes ou provocar desastres de

Outro dado interessante, grande intensidade. Esses impactos extremamente

obtido nesta pesquisa, é que adversos ocorrem com maior frequência nos países

51 unidades já haviam sido pouco desenvolvidos e nos estratos populacionais

ampliadas e alteradas sem marginalizados econômica e socialmente. Nas

qualquer orientação e apoio sociedades mais desenvolvidas, é evidente que

de firmas especializadas, esses acidentes assumem características de desastres

e também sem considerar mistos. Podem ser provocados por vários tipos de

as normas de segurança fenômenos naturais, sempre causando uma série de

estabelecidas. Verificou-se perdas, sejam danos materiais ou até mortes. Para

também que as unidades combater essas possibilidades as quais estão bastante

residenciais construídas e e particularmente expostos os agrupamentos urbanos

ampliadas pela indústria que habitam as reconhecidas e denominadas “Áreas

da construção civil, embora de Risco”, é imprescindível que exista um sistema

representassem apenas integrado de Vigilância, Fiscalização e Defesa Civil,

(25,5%) do setor pesquisado, que atue com responsabilidade social, de maneira

consumiram aproximadamente permanente, contribuindo com ações que possam

92% dos recursos aplicados melhorar as condições de segurança das habitações.

nas atividades construtivas Sem dúvida, a existência e o funcionamento desse

residenciais, enquanto 74,5% das unidades sistema dependem, acima de tudo, da vontade

habitacionais construídas ou ampliadas sem qualquer política, para impedir que obras irregulares, em locais

orientação e acompanhamento técnico, consumiram impróprios, inseguras ou em não Conformidade com

apenas 8% destes recursos. Esses levantamentos as normas técnicas, e com os padrões prescritos e

permitem concluir que aproximadamente 75% das estabelecidos pelas autoridades, sejam executadas

habitações são construídas e ampliadas com apenas em áreas definidas como non aedificandi.

8% dos recursos gastos no setor. Por essas condições, a Existem muitas áreas que não conseguiram evitar

conclusão óbvia é que as mesmas além de não serem que estas obras fossem executadas, neste caso,

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deverão estar previstas atividades de monitoramento técnica dos Conselhos Regionais de Engenharia,

permanente das condições climáticas, que permitam Arquitetura e Agronomia (CREA), da Associação

detectar situações de pré-impacto e, com isso, acionar Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), com as

planos de emergência devidamente projetados Associações Empresariais da Indústria de Construção,

para cada um desses locais, e promover as ações como órgãos de Defesa Civil e do Corpo de

de redução dos impactos maiores, com o grau de Bombeiros Militares e dos engenheiros responsáveis

antecipação possível. Dessa maneira, é indispensável pela fiscalização de obras das prefeituras. Para

que existam disponibilidades de recursos humanos, conseguirmos construir comunidades mais seguras

é necessário atuar com

rigor para a liberação das

obras e as inspeções das

mesmas, durante o processo

construtivo e por ocasião

da emissão do “habite-se”,

priorizando a segurança

construtiva. E considerando

a questão da construção

de habitações seguras,

destinadas às famílias de

baixa renda, é necessário

que se invista em pesquisa

para o desenvolvimento de

tecnologias de baixo custo.

A redução dos custos dessas

obras pode ser obtida com

a prática dos regimes de

mutirão, mas, que mesmo

equipamentos e técnicas e que as áreas de risco sem o destaque justo e merecido, sejam pelo menos

sejam conhecidas, destacando os pontos vulneráveis, reconhecidas as importantes contribuições de

para serem inspecionadas frequentemente. engenheiros e arquitetos.

Contudo existem áreas habitadas em que, pelos

riscos que representam, devem ser previstos projetos Gleudes Praxedes de Oliveira, Engenheiro
Civil, Calculista de Estruturas, Engenheiro de
para transferir essas comunidades para locais onde
Segurança do Trabalho, Perito e Especialista em
os níveis de segurança sejam comprovadamente Transporte de Produtos Perigosos.
maiores. Dessa forma, é determinante a orientação

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Ação de campos elétricos e térmicos


espúrios impactantes na manutenção
da vida operacional de produto eletro/
eletrônico – VOPE – ou condição crítica específica
em operação de dispositivos eletro/eletrônicos.
Por BELMIRO IVO LUNZ PROFESSOR DA ESCOLA DE ENG. DA UFF.

ABSTRACT

An electrical/electronic device of any kind in operation apparently ‘normal’ may


be being subjected to conditions of Thermal and electric fields, which will affect

their future either fully or partially operational performance. Prophylactic actions

must be taken to minimize the occurrence of these situations.

Keywords: telecommunications; electromagnetic radiation; environment.

RESUMO

Um dispositivo eletro/eletrônico de uso padrão. Circunstancialmente, essas condições

qualquer natureza em funcionamento adequadas de uso estabelecidas pela engenharia de

aparentemente ‘normal’ pode estar projeto poderão não ser preenchidas pelo usuário. Os

sendo submetido a condições de efeitos adversos decorridos do mau uso impactarão

campos elétricos e térmicos que vão então na vida do produto, abreviando-a.

afetar, parcial ou plenamente, seu Produtos eletrônicos, em especial, sofrem negativa e

futuro comportamento operacional. pronunciadamente a ação de campos espúrios, tanto

Medidas profiláticas devem ser de natureza elétrica como térmica. Isso é natural e

tomadas de forma a minimizar a fácil de intuir, uma vez que sistemas eletrônicos são

ocorrência destas situações. operacionalmente sensíveis a comandos elétricos de

Palavras Chaves: telecomunicações; entrada. Se fenômenos elétricos intrusos conseguirem

radiações eletromagnéticas; meio chegar por caminhos alternativos a circuitos sensíveis

ambiente. principais, com certeza por este ato, de forma

não prevista, afetará negativamente o equilíbrio

I. INTRODUÇÃO da unidade, que responderá à interferência com

A extensão da vida operacional de prejuízo à sua operação normal. Aliás, fenômenos

um produto, VOP, está condicionada prejudiciais desses campos chegam a afetar a vida

certamente ao cumprimento das biológica conforme presumem muitos pesquisadores.

condições especificadas para o seu Campos térmicos têm efeitos similares, uma vez que

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a temperatura afeta a concentração de portadores Atividades elétricas impactantes estão presentes de

na banda de condução, implicando em perturbação forma negativa na maioria destes casos.

elétrica nos semicondutores associados no projeto.

Grandezas em geral, não somente elétricas e térmicas, Na terra

mas também campos magnéticos, eletromagnéticos, Em processos industriais, as condições de normalidade

radiações mistas de origem nucleares do ambiente operacionais são supervisionadas em última

próximo ou com origem na alta atmosfera ou mesmo instância por sistemas eletrônicos. Uma situação de

do espaço profundo e vibrações mecânicas, podem alerta amarelo deve prover, adequadamente, ao

interferir em modo de transferência na operação de pessoal de operação as condições necessárias de

um componente, modificando-os de forma transitória manobra para controle de um processo negativo

ou permanente. em evolução, como tempo preventivo e informações

da situação. Falhas no sistema conduzem a situações

II. CONFIABILIDADE E PERDAS DE CONTROLE como as de Bopal, na Índia, de Chernobyl na

A ação dessas grandezas de influências acaba Ucrânia, de Three Mille Island nos Estados Unidos e

criando situações patológicas na operação do do VLS brasileiro na Barreira do Inferno. Tudo pode

produto. Aquelas manifestadas que danificam começar em um transistor!

inteiramente o componente são consideradas, entre

todas, ironicamente, as de menor importância pelos E dentro de nós!

especialistas. Casos onde a ação dos danos desses Bem vindos à geração Cyborg. Um usuário

componentes se manifeste por e com intermitência de marcapasso cardíaco dispõe de carteira de

ou comprometa parcialmente o comportamento do identificação que o autoriza a usar entradas não

sistema a qual pertencem, mas cuja identificação guarnecidas de detetores eletrônicos de armas,

é difícil de ser estabelecida, consiste na principal em bancos, aeroportos e lugares de segurança

preocupação da área técnica, pois reduz a ostensiva. A ideia de usar outra entrada é impedir

confiabilidade da instalação. que campos espúrios venham a causar danos,

perturbando o funcionamento normal do marcapasso.

No espaço Normas técnicas de eletrônica embarcada e outras

Medidas extraordinárias podem ser tomadas de forma documentações preveem que um componente do

a prevenir, mais que o trivial, os componentes vitais sistema deve evitar que outros componentes sejam

em um sistema. Alguns satélites em órbita terrestre afetados. Também deve ser robusto na sua relação

são desativados em períodos de atividades solares passiva no sistema. Tudo indica que, nesse caso,

intensas. A agência de navegação espacial japonesa a norma que cuida da eletrônica embarcada é

já informou perdas de satélites devido às condições adequada às próteses de aplicação humana. A

extremas do clima espacial. No segundo semestre intensidade da dependência humana em relação a

de 2010 o satélite europeu GOSE por razões de esses fatores cresce com o uso da tecnologia. Mais

falha em componentes eletrônicos entrou em pane. intensamente, as próteses tendem a ser cada dia

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mais dependentes do processamento externo (nas semicondutores em geral não podem operar a

nuvens), aumentando sua abrangência de controle, temperaturas muito maiores que 80, 100 ou 150

principalmente as próteses neurais. graus na escala Celsius, dependo do tipo e da

natureza do semicondutor utilizado.

III. COMPONENTES SEMICONDUTORES Os materiais semicondutores mais importantes ainda

Os semicondutores são componentes que são o silício e o germânio, este último em menor

desempenham as mais diversas e variadas funções em escala. A temperatura de junção de um transistor

um sistema. Eles são responsáveis pela qualidade da de germânio torna crítico seu comportamento aos

energia no suprimento da alimentação dos circuitos 90 graus e os de silício dos 110 aos 150. O valor

em geral. Eles são responsáveis pela ação lógica e depende da técnica de sua construção e do seu

sucesso da programação em um computador. Nada projeto de materiais.

se faz em um sistema de medição e controle moderno A quantidade de calor liberada de um componente

sem os semicondutores. É claro e não é ficção é dada pela potência que o alimenta. O produto da

que estas funções podem ser desempenhadas por tensão elétrica pela corrente elétrica [VxI] define o

computadores pneumáticos. Embora “sejam práticos” ponto de operação do semicondutor. Esta potência

eles não são econômicos, não são nada pequenos, é em principio constante. É estabelecida no projeto

fazem muito barulho, ou seja têm dedicação do circuito segundo as recomendações existentes

específica para certos casos. Então, na prática e aos nos manuais técnicos fornecidos pelos fabricantes.

custos do dia a dia, a tecnologia a semicondutores é A manutenção do nível de potência depende da

imprescindível . estabilidade do circuito. Este valor pode oscilar

Os semicondutores têm um problema complicado. em torno do ponto de operação, resultando numa

São muito vulneráveis à temperatura. Diferentes variação média nula. Uma ocorrência de variação da

da válvula termiônica que ocupava seu lugar no potência com um viés de crescimento positivo é uma

segundo terço do século passado e que funcionava situação anormal, devido sempre a algum processo

com temperaturas internas de 800 graus, os elétrico espúrio.

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IV. MECANISMO DE DANOS

A potência desenvolvida [VxI] no interior do O componente pode entrar em processo cumulativo

semicondutor passa para o exterior atravessando a de dano ou ser afetado imediatamente cessando sua

resistência térmica existente entre o centro térmico c e vida útil no ato.

a superfície s do semicondutor [Rt(c, s)] segue, pela Isso implica na existência de um valor máximo, Tamax,

resistência térmica [Rt(s, a)] entre esta superfície s e que a temperatura ambiente pode atingir:

o ambiente livre a que está a temperatura ambiente Ta =Tcmax – VI {Rt(c,s) + Rt(s,a)} < Tamax

[Ta]. Nesse percurso a potência desenvolve uma

queda de temperatura promovendo uma temperatura Revisitando o modelo

média central no semicondutor [Tc] dado por (1): Oriundas do limite máximo da temperatura no

Tc = VI {Rt(c,S) + Rt(s,a)} + Ta (1) interior, duas condições podem conduzir a danos

na operação do semicondutor segundo o modelo

Segundo esse modelo a temperatura central [Tc] do estabelecido.

semicondutor é afetável pelo par de elementos da

forma (2) : 1) Acidentes elétricos que causem um crescimento

Tc=f(VI,Ta) < Tcmax (2) na potência de alimentação do semicondutor,

onde Tcmax é a temperatura máxima central do estabelecendo a condição:

semicondutor, que depende da natureza do material VI >VI Max= Tcmax / {Rt(c,S) + Rt(s,a)} + Tamax

de que é constituído o componente sendo especificado

no manual do fabricante. A temperatura máxima 2) Aumento da temperatura ambiente

para um dado componente não deve ser atingida. Ta> Tamax

V. CONCLUSÃO

Equipamentos eletro-eletrônicos, assim como qualquer produto do gênero, seja ele um

simples computador, um satélite artificial, um sistema de controle industrial, ou a eletrônica

embarcada em uma nave espacial, num veiculo terrestre ou numa prótese humana

está sujeito a ser impactado por campos espúrios de natureza elétrica, eletromagnética,

estando estes termicamente manifestados ou não.

Belmiro Ivo Lunz Professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal


Fluminense, Presidente e orientador científico do Centro de Valorização do Homem
e da Natureza – CVHN e do Instituto Ambiental Conservacionista Quinto Elemento
– IAC5E.

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