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LIMITE E CONTINUIDADE DE
FUNÇÕES
3.1 Limites
O desenvolvimento teórico de grande parte do Cálculo foi feito utilizando a noção de limite.
Por exemplo, as definições de derivada e de integral definida, independente de seu significado
geométrico ou físico, são estabelecidas usando limites.
Inicialmente desenvolveremos a idéia intuitiva de limite, estudando o comportamento de uma
função y = f (x) nas proximidades de um ponto que não pertence, necessariamente, ao seu
domínio. Por exemplo, seja
2 x2 − x − 1 (2 x + 1)(x − 1)
f (x) = = .
x−1 x−1
É claro que Dom(f ) = R − {1}. Estudaremos a função nos valores de x que ficam próximos de
1, mas sem atingir 1. Para todo x ∈ Dom(f ) temos que f (x) = 2x + 1. Vamos construir uma
tabela de valores de x aproximando-se de 1, pela esquerda (x < 1) e pela direita (x > 1) e os
correspondentes valores de f (x):
123
124 CAPÍTULO 3. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES
necessário que |x − 1| também seja pequeno. O número 3 é chamado limite de f (x) quando x
está próximo de 1. No exemplo, temos |f (x) − 3| = 2|x − 1|; logo, a distância de f (x) a 3 é igual
a duas vezes a distância de x a 1. É claro que quando x aproxima-se de 1, |x − 1| aproxima-se
de zero e consequentemente |f (x) − 3| também aproxima-se de zero. Mais ainda, poderemos
tornar f (x) tão perto de 3 quanto desejarmos, bastando para tal considerar x suficientemente
próximo de 1. Por exemplo, se desejarmos que |f (x) − 3| seja igual a 0, 2, basta considerar
|x − 1| = 0, 1; agora, se desejarmos que |f (x) − 3| < 0, 02, basta considerar |x − 1| < 0, 01.
De um modo geral, considerando qualquer número real positivo ε (letra grega epsilon), tão
ε
pequeno quanto se deseje e definindo o número real δ (letra grega delta), δ = , teremos que
2
a distância de f (x) a 3 é menor que ε, desde que a distância de x a 1 seja menor que δ. Então
para todo número real positivo ε existe outro número real positivo δ, que depende de ε, tal que
se 0 < |x − 1| < δ, então |f (x) − 3| = 2 |x − 1| < 2δ = ε. Note que todos os intervalos abertos
que contém 1 intersectam R − {1} de forma não vazia.
Figura 3.1:
Definição 3.1. Sejam f : A → R uma função e b ∈ R tais que para todo intervalo aberto I, contendo
b, tem-se I ∩ (A − {b}) 6= φ. O número real L é o limite de f (x) quando x aproxima-se de b quando
para todo número ε > 0, existe δ > 0 (δ dependendo de ε), tal que, se x ∈ A e 0 < |x − b| < δ então
|f (x) − L| < ε. A notação é:
lim f (x) = L
x→b
L+ε
L- ε
b- δ b b δ
Figura 3.2:
3.1. LIMITES 125
Exemplo 3.1.
Verifique que lim x2 = 16.
x→4
Pela definição temos que, dado ε > 0, devemos obter um δ > 0 tal que se 0 < |x − 4| < δ então
|x2 − 16| < ε. Mas |x2 − 16| = |x − 4||x + 4| e desejamos que este produto fique menor que
ε para x suficientemente próximo de 4. Intuitivamente, se x está próximo de 4, |x + 4| estará
próximo de 8 e |x−4| ficará próximo de zero. Logo |x−4||x+4| ficará próximo de zero; estamos,
pois em condições de tornar |x2 − 16| < ε desde que x fique suficientemente próximo de 4. A
primeira coisa a fazer é limitar o fator |x + 4|. Há várias maneiras de fazer isto. Por exemplo,
se 3 < x < 5, teremos −1 < x − 4 < 1 ou |x − 4| < 1; logo, |x + 4| = |x − 4 + 8| ≤ |x − 4| + 8 < 9
e |x − 4||x + 4| < 9|x − 4|. Portanto, dado ε > 0, considerando δ o menor entre os números 1 e
ε
, teremos que, se 0 < |x − 4| < δ, então |x2 − 16| < ε. É recomendável fazer uma tabela, como
9
no exemplo anterior.
Observe que o limite de uma função y = f (x) num ponto b, depende apenas dos valores que f
assume nas proximidades de b, ou seja, num pequeno intervalo aberto de centro b.
Proposição 3.1. Unicidade do limite Se lim f (x) = L1 e lim f (x) = L2 ; (L1 , L2 ∈ R), então
x→b x→b
L1 = L2 .
Em outras palavras se o limite existe (é um número real), ele é único. Para a prova veja o
apêndice.
Corolário 3.1. Se as funções f (x) e g(x) são tais que f (x) = g(x) exceto num ponto b, então:
Esta propriedade nos permite "simplificar"antes de calcular o limite, como no primeiro exem-
plo.
Exemplo 3.2.
2 x2 − x − 1
[1] Sejam f (x) = e g(x) = 2 x + 1.
x−1
Logo, f (x) = g(x) se x 6= 1; então, lim f (x) = lim g(x), como já foi verificado.
x→1 x→1
1
[2] lim sen não existe.
x→0 x
1 1
Se lim sen existisse, então para valores de x muito muito próximos de zero, a função sen
x→0 x x
deveria se aproximar de um valor fixo, que seria o limite. Mas isto não ocorre. De fato, consi-
2
derendo x = ∈ R, (n ∈ Z), x ficará próximo de zero se n for muito grande. Mas,
(2 n + 1) π
1 (2 n + 1) π π
sen = sen = sen n π + = cos(n π) = (−1)n ,
x 2 2
e a função ficará oscilando entre 1 (se n é par) e −1 (se n é ímpar). Logo, o limite de f não pode
existir.
126 CAPÍTULO 3. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES
-2 -1 -0.5 0.5 1 2
-1
1
Figura 3.3: Gráfico de sen( ).
x
[3] Se m, b, c ∈ R, então:
lim (m x + b) = m c + b.
x→c
De fato, devemos verificar que, para todo número ε > 0, existe outro número δ > 0, tal que:
|(m x + b) − (m c + b)| < ε se |x − c| < δ. Mas, |(m x + b) − (m c + b)| = |m||x − c|; logo basta
ε
tomar δ = , se m 6= 0. Se m = 0, todo δ > 0 serve. logo, por exemplo:
|m|
lim (8 x + 3) = 8 · 4 + 3 = 35.
x→4
[4] Seja (
x+5 se x 6= 1
f (x) =
2π se x = 1.
Calcule lim f (x).
x→1
Observemos que f (1) = 2 π, mas o valor do limite da função quando x tende a 1 não depende
do valor da função no ponto 1, pois f (x) = x + 5 se x 6= 1; logo:
Proposição 3.2. Se lim f (x) e lim g(x), existem, então para todo α, β ∈ R:
x→a x→a
3.1. LIMITES 127
1. lim α f (x) + β g(x) = α lim f (x) + β lim g(x).
x→a x→a x→a
2. lim f (x) g(x) = lim f (x) lim g(x) .
x→a x→a x→a
n n
4. lim f (x) = lim f (x) , se n ∈ N.
x→a x→a
p q
n
5. lim f (x) = n lim f (x), se lim f (x) ≥ 0 e n é qualquer natural, ou lim f (x) positivo,
x→a x→a x→a x→a
negativo ou nulo e n é um natural ímpar.
6. lim ln f (x) = ln lim f (x) , se lim f (x) > 0.
x→a x→a x→a
7. Se lim h(x) = lim g(x) = L e existe δ > 0 tal que h(x) ≤ f (x) ≤ g(x), para 0 < |x − a| < δ,
x→a x→a
então lim f (x) = L.
x→a
Provas no apêndice.
Segue diretamente da proposição 10.3:
(a) Se P (x) é uma função polinomial, então:
P (x)
(b) Se f (x) = é uma função racional e a ∈ Dom(f ), então:
Q(x)
Exemplo 3.3.
x−5
[2] lim . Como lim (x3 − 7) = 20 6= 0, podemos aplicar a proposição 10.3; então,
x→3 x3 − 7 x→3
x−5 lim (x − 5) 1
x→3
lim = 3 =− .
x→3 x3 − 7 lim (x − 7) 10
x→3
x2 − 1
[3] lim . Como lim (x − 1) = 0, não podemos aplicar a proposição 10.3; mas fatorando o
x→1 x − 1 x→1
numerador:
x2 − 1 (x − 1) (x + 1)
= = x + 1,
x−1 x−1
128 CAPÍTULO 3. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES
3 x2 + a x + a + 3
lim
x→−2 x2 + x − 2
exista.
Note que x2 + x − 2 = (x + 2) (x − 1). Dividindo 3 x2 + a x + a + 3 por x + 2; obtemos,
3 x2 + a x + a + 3 = (x + 2) (3 x + a − 6) + (15 − a); logo, para que a divisão seja exata devemos
ter a = 15; logo, 3 x2 + a x + a + 3 = 3 (x2 + 5 x + 6) = 3 (x + 2) (x + 3):
3 x2 + a x + a + 3 x+3
lim 2
= 3 lim = −1.
x→−2 x +x−2 x→−2 x − 1
√
x+1−1
[5] lim .
x→0 x
Como lim x = 0, não podemos aplicar diretamente a proposição 10.3; mas racionalizando o
x→0 √ √
x+1−1 x+1+1 1
numerador: · √ =√ . Logo:
x x+1+1 x+1+1
√
x+1−1 1 1
lim = lim √ = .
x→0 x x→0 x+1+1 2
0.1666
√
x+1−1
Figura 3.5: Gráfico de f (x) = , perto da origem.
x
√
4
x−1
[6] lim √ .
x→1 5
x−1
Para calcular este limite façamos a mudança de variáveis x = t20 ; então:
√
4
x−1 t5 − 1 (t4 + t3 + t2 + t + 1) (t − 1)
√ = = .
5
x−1 t4 − 1 (t − 1) (t3 + t2 + t + 1)
Se x → 1, então t → 1; logo:
√
4
x−1 t4 + t3 + t2 + t + 1 5
lim √ = lim 3 2
= .
x→1 5
x − 1 t→1 t + t + t + 1 4
3.1. LIMITES 129
1
[7] lim x2 sen = 0.
x→0 x
1 1
De fato, −1 ≤ sen ≤ 1, para todo x ∈ R − {0}; logo −x2 ≤ x2 sen ≤ x2 , para todo
x x
x ∈ R − {0}. Como lim x2 = lim (−x2 ) = 0; pela proposição 10.3, temos:
x→0 x→0
1
lim x2 sen = 0.
x→0 x
0.01
-0.01
1
Figura 3.6: Gráfico de f (x) = x2 sen , perto da origem.
x
[8] Seja f (x) uma função tal que |f (x)| ≤ x2 ; então, lim f (x) = 0.
x→0
De fato. Pela proposição 10.3, ítem 7, temos: lim |f (x)| = 0, o que implica, lim f (x) = 0.
x→0 x→0
xn − an
[9] Verifique que lim = n an−1 , a ∈ R.
x→a x−a
Se n ∈ N, então:
xn − an
= xn−1 + a xn−2 + ..... + an−1 , x 6= a;
x−a
denotando por P (x) = xn−1 + a xn−2 + ..... + an−1 , temos:
xn − an
lim = lim P (x) = P (a) = n an−1 .
x→a x−a x→a
Definição 3.2.
1. Seja a ∈ R tal que existem b ∈ R e (a, b) ⊂ Dom(f ). O número real L é o limite à direita de f (x),
quando x se aproxima de a pela direita se para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que |f (x) − L| < ε, se
a < x < a + δ. Notação:
lim f (x) = L
x→a+
+
a
2. Seja a ∈ R tal que existem c ∈ R e (c, a) ⊂ Dom(f ). O número real L é o limite à esquerda
de f (x), quando x se aproxima de a pela esquerda se para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que
|f (x) − L| < ε, se a − δ < x < a. Notação:
lim f (x) = L
x→a−
−
a
Exemplo 3.4.
[1] Calcule lim f (x) e lim f (x), se:
x→2+ x→2−
x2 + 1 se x < 2
f (x) = 2 se x = 2
2
−x + 9 se x > 2.
3.2. LIMITES LATERAIS 131
Para calcular estes limites observemos que x → 2+ significa que x fica perto de 2, para valores
de x maiores que 2 e x → 2− significa que x fica perto de 2, para valores de x menores que 2.
Assim:
lim f (x) = lim (x2 + 1) = 5 e lim f (x) = lim (−x2 + 9) = 5.
x→2− x→2 x→2+ x→2
-1
Novamente, para calcular estes limites observemos que x → 0+ significa que x fica perto de 0,
para valores x maiores que 0 e x → 0− significa que x fica perto de 0, para valores x menores
que 0. Primeiramente, escrevamos a função da seguinte maneira:
(
1 se x ≥ 0
f (x) =
−1 se x < 0.
-3 -2 -1 1 2 3
-1
Calculando diretamente :
1 2 3 4 5 6
-2
-4
-6
lim L(v) = 0.
v→c−
ou se um dos limites laterais não existe, então lim f (x) não existe.
x→a
3.2. LIMITES LATERAIS 133
Exemplo 3.5.
-2 -1 1 2 3 4 5
0
-1
onde c ∈ R. Logo, lim uc (x) = 0 e lim uc (x) = 1; logo, lim uc (x) não existe.
x→c− x→c+ x→c
-3 -2 -1 1 2 3
-1
-2
-3
Se k ∈ Z, lim [[x]] = k − 1 e lim [[x]] = k; logo, lim [[x]] não existe. Se k ∈ R − Z, então
x→k − x→k + x→k
lim [[x]] existe. (Por que?).
x→k
[6] Determine o valor da constante c tal que lim f (x) exista, se:
x→c
(
2 − x2 se x ≤ c
f (x) =
x se x > c.
Pelo teorema, devemos ter lim f (x) = lim f (x); logo, resolvemos a equação c2 + c − 2 = 0 de
x→c− x→c+
onde obtemos c = 1 e c = −2. Então, podemos definir:
( (
2 − x2 se x ≤ 1 2 − x2 se x ≤ −2
f (x) = ou f (x) =
x se x > 1 x se x > −2.
3
5
1 -4 -3 -2 -1 1 2
-2 -1 1 2 3
-5
-1
-2 -10
1. Seja f : (a, +∞) −→ R. Diz-se que lim f (x) = L quando para todo ε > 0, existe A > 0 tal
x→+∞
que |f (x) − L| < ε se x > A.
2. Seja f : (−∞, b) −→ R. Diz-se que lim f (x) = L quando para todo ε > 0, existe B > 0 tal
x→−∞
que |f (x) − L| < ε se x < −B.
Exemplo 3.6.
1
[1] Verifique que lim = 0.
x→+∞ x
1 1 1
De fato, pois para todo ε > 0 existe A > > 0, tal que se x > A, então < < εe
ε x A
1
− 0 = 1 < ε.
x x
1
[2] Verifique que lim = 0.
x→−∞ x
1 1
De fato, pois para todo ε > 0 existe B > > 0, tal que se x < −B, então 1/x = − < ε.
ε x
Observe que x → +∞ implica x > 0 e x → −∞ implica x < 0.
b
1. lim = 0.
x→+∞ xn
b
2. lim = 0.
x→−∞ xn
b
1. Devemos provar que para todo ε > 0 existe A > 0 tal que n < ε se x > A. De fato,
p p x p
b |b| n
|b| √ n
|b| n
|b|
= < ε se < n
ε, ou seja, se x > √ ; logo basta considerar A = √ . A prova
xn |x|n |x| n
ε n
ε
de 2 é análoga a do item 1.
1
Figura 3.15: Gráficos de f (x) = para diferentes n.
xn
136 CAPÍTULO 3. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES
Proposição 3.4. Se lim f (x) e lim g(x) existem, então, para todo α, β ∈ R:
x→±∞ x→±∞
1. lim α f (x) + β g(x) = α lim f (x) + β lim g(x),
x→±∞ x→±∞ x→±∞
2. lim f (x) g(x) = lim f (x) lim g(x) ,
x→±∞ x→±∞ x→±∞
Exemplo 3.7.
3
[1] Calcule lim +5 .
x→+∞ x3
De fato:
an−1 a0
xn an +
P (x) an xn + an−1 xn−1 + ........ + a0 + ........ + n
= = x x .
Q(x) bm xm + bm−1 xm−1 + ........ + b0 b m−1 b0
xm bm + + ........ + m
x x
Aplicando limite e as propriedades da proposição 3.4, obtemos o resultado. Para n > m, veja o
próximo parágrafo.
Exemplo 3.8.
x3 + 1
[1] Calcule lim .
x→+∞ x4 + 5x3 + x + 2
x3 + 1
Como n < m, temos: lim 4 = 0.
x→+∞ x + 5x3 + x + 2
2x + 3
[2] Calcule lim .
x→−∞ 3x + 2
2x + 3 2
Como n = m, temos: lim = .
x→−∞ 3x + 2 3
x+1
[3] Calcule lim √ .
x→+∞ x2 − 5
Neste problema, a função não é racional, mas utilizaremos a mesma idéia dos exercícios ante-
riores:
s s
x+1 (x + 1)2 x2 + 2 x + 1
lim √ = lim = lim
x→+∞ x2 − 5 x→+∞ x2 − 5 x→+∞ x2 − 5
s
x2 + 2 x + 1 √
= lim = 1 = 1.
x→+∞ x2 − 5
x+1
[4] Calcule lim √ .
x→−∞ x2 − 5
Aparentemente este limite é análogo ao do exemplo
√ [3]; mas devemos ter cuidado, pois, x →
−∞, significa que x < 0; logo, consideramos x = −x:
2
1
x+1 −1 − x
lim √ = lim q = −1.
x→−∞ x2 − 5 −x→+∞ 1 − 5
x2
[5] Fractal de Koch A seguinte curva é chamada de Koch e é obtida a partir da linha poligonal
constituída pelos lados de um triângulo equilátero de lado unitário. A cada passo substitui-se
o terço médio de cada segmento da linha poligonal por dois segmentos que formariam um
triângulo equilátero com o terço médio que foi retirado, conforme os desenhos abaixo:
Figura 3.17:
138 CAPÍTULO 3. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES
Denote por An a área comprendida pela linha poligonal após n passos; logo:
√ √ √ √ √
3 3 10 3 94 3 862 3
A0 = , A1 = , A2 = , A3 = , A4 = ,
4 3 27 243 2187
em geral: √
3 3 4 n
An = 1+ 1− ,
4 5 9
se n ≥ 0; então: √
2 3
A∞ = lim An = .
n→+∞ 5
Fica como exercício interpretar o limite.
Definição 3.4.
1. Diz-se que lim f (x) = +∞, quando para todo A > 0, existe δ > 0 tal que f (x) > A, se x ∈ D e
x→a
0 < |x − a| < δ.
2. Diz-se que lim f (x) = −∞, quando para todo B > 0, existe δ > 0 tal que f (x) < −B, se x ∈ D
x→a
e 0 < |x − a| < δ.
Exemplo 3.9.
1
[1] lim = +∞.
x→1 (x − 1)2
1 1 1
Como 2
> A, se (x − 1)2 < , isto é, se |x − 1| < √ , então para todo A > 0, existe
(x − 1) A A
1
δ = √ > 0 tal que f (x) > A se 0 < |x − 1| < δ.
A
1
[2] lim 2 = +∞.
x→0 x
1 1 1
Como 2 > B se |x| < √ , então para todo B > 0, existe δ = √ > 0 tal que f (x) > B se
x B B
0 < |x| < δ.
Analogamente podemos definir limites laterais infinitos. Assim:
Diz-se que lim f (x) = +∞, quando para todo A > 0, existe δ > 0 tal que f (x) > A se
x→a−
a − δ < x < a.
Diz-se que lim f (x) = −∞, quando para todo B > 0, existe δ > 0 tal que f (x) < −B se
x→a+
a < x < a + δ.
3.4. LIMITES INFINITOS 139
1
1. lim = +∞.
x→0+ xn
(
1 +∞ se n é par
2. lim n =
x→0 x
−
−∞ se n é ímpar
Proposição 3.7. Sejam f (x) e g(x) funções tais que lim f (x) 6= 0 e lim g(x) = 0. Então
x→a x→a
f (x) f (x)
1. lim = +∞ se > 0 para valores de x próximos de a.
x→a g(x) g(x)
f (x) f (x)
2. lim = −∞ se < 0 para valores de x próximos de a.
x→a g(x) g(x)
Exemplo 3.10.
3x − 2
[1] Calcule lim .
x→1 (x − 1)2
Como lim (3x − 2) = 1 e lim (x − 1)2 = 0, observando que se x > 32 , mas x 6= 1, então 3x−2
(x−1)2
>0
x→1 x→1
3x − 2
e aplicando o teorema, logo: lim = +∞.
x→1 (x − 1)2
2x − 5
[2] Calcule lim .
x→2 (x − 2)2
Como lim (2x − 5) = −1 e lim (x − 2)2 = 0, observando que se x < 5
2, mas x 6= 2, então
x→2 x→1
2x−5 2x − 5
(x−2)2
< 0 e aplicando o teorema, temos: lim = −∞.
x→2 (x − 2)2
Analogamente podemos definir outros tipos de limites. Como exercício, defina os seguintes
limites:
lim f (x) = +∞, lim f (x) = −∞ e lim f (x) = +∞, lim f (x) = −∞.
x→+∞ x→+∞ x→−∞ x→−∞
Exemplo 3.11.
3 1 1
[1] lim x5 + 3x3 + x + 1 . Como lim + 4 + 5 = 1; temos,
2
1+
x→+∞ x→+∞ x x x
3 1 1
lim x5 + 3x3 + x + 1 = lim x5 1 + 2 + 4 + 5 = lim x5 = +∞.
x→+∞ x→+∞ x x x x→+∞
3 1 1
[2] lim x5 + 3x3 + x + 1 . Como lim 1 + 2 + 4 + 5 = 1; temos,
x→−∞ x→−∞ x x x
140 CAPÍTULO 3. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES
3 1 1
x5 + 3x3 + x + 1 = lim x5 1 + 2 + 4 + 5 = lim x5 = −∞.
lim
x→−∞ x→−∞ x x x x→−∞
1 1
[3] lim x6 + x3 + 1 . Como lim 1 + 3 + 6 = 1; temos,
x→−∞ x→−∞ x x
1 1
lim x6 + x3 + 1 = lim x6 1 + 3 + 6 = lim x6 = +∞.
x→−∞ x→−∞ x x x→−∞
5
x +1
[4] lim .
x→+∞ x + 5x3 + 2
4
x5 + 1
Como n > m, pelo corolário anterior: lim = +∞.
x→+∞ x4 + 5x3 + 2
[5] Na teoria da relatividade especial, a massa de uma partícula é função de sua velocidade:
c m0
M (v) = √ ,
c2 − v 2
onde m0 é a massa da partícula em repouso e c é a velocidade da luz. Logo,
em outras palavras, se a velocidade de uma partícula aumenta, sua massa aumenta em ralação
a sua massa inicial m0 .
[6] Considere o fractal de Koch e denote por Pn o perímetro da linha poligonal após n passos;
logo:
16
P0 = 3, P1 = 4, P2 = ;
3
4 n
em geral, An = 3 , se n ≥ 0; então, P∞ = lim Pn = +∞. Fica como exercício interpretar
3 n→+∞
o limite.
Exemplo 3.12.
1 1
[1] Se f (x) = 1 + e g(x) = , onde f e g são definidas em R − {1}, então,
(x − 1)2 (x − 1)2
1
[3] Se f (x) = e g(x) = ln(x), onde f e g são definidas para x > 0, então, lim f (x) = 0 e
x x→+∞
lim g(x) = +∞, mas lim f (x) g(x) = 0.
x→+∞ x→+∞
√ √ √ √
De fato, ln(x) < x para todo x > 0; então ln(x) = ln( x x) = 2 ln( x) < 2 x para x ≥ 1;
ln(x) 2
logo, 0 < < √ . Aplicando limite a ambas partes e usando o item [7] da proposição 10.3,
x x
válida também para limites no infinito, temos o resultado.
1 1
[4] Se f (x) = 2
e g(x) = x2 sen( ), onde f e g são definidas em R−{0}, então, lim f (x) = +∞
x x x→0
e lim g(x) = 0, mas lim f (x) g(x) , não existe.
x→0 x→0
T
P
Θ
O Q S
Figura 3.18:
Denotemos por A1 e A2 as áreas dos triângulos QOP e SOT respectivamente e por A a área do
π
setor circular SOP . Claramente A1 < A < A2 . Por outro lado, se 0 < θ < ,
2
1 1 1
A1 = sen(θ) cos(θ), A2 = sen(θ) sec(θ) e A= θ.
2 2 2
Então, da desigualdade acima: sen(θ) cos(θ) < θ < sen(θ) sec(θ); e, como sen(θ) > 0 se 0 < θ <
142 CAPÍTULO 3. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES
π
< , temos
2
θ sen(θ)
cos(θ) < < sec(θ), ou cos(θ) < < sec(θ)
sen(θ) θ
π
se 0 < θ < . Como lim cos(θ) = lim sec(θ) = 1, segue que lim sen(θ)
θ = 1.
2 θ→0+ θ→0+ θ→0+
sen(θ) sen(θ) sen(θ)
Por ser uma função par: lim = 1; logo, lim = 1.
θ θ→0 − θ θ→0 θ
1
sen(x)
Figura 3.19: Gráfico da função f (x) = x se x 6= 0 e f (0) = 1.
-4 -2 0 2 4
1 x
Figura 3.20: Gráfico de f (x) = 1 + para x 6= 0.
x
onde e ≃ 2.71828... é o número de Euler. A prova direta desta propriedade poderá ser encon-
trada na bibliografia intermediária ou avançada.
[3] Terceiro limite fundamental. Seja a ∈ R, a > 0, a 6= 1, então:
ax − 1
lim = ln(a)
x→0 x
ex − 1
lim = ln(e) = 1
x→0 x
Veja o próximo exemplo, item [7].
Exemplo 3.13.
tg(x)
[1] Calcule lim .
x→0 x
tg(x) sen(x) sen(x) 1
lim = lim = lim lim = 1.
x→0 x x→0 x cos(x) x→0 x x→0 cos(x)
sen(2 x)
[2] Calcule lim .
x→0 sen(3 x)
sen(2 x) 2 sen(2 x) 3x 2
lim = lim ( ) lim ( )= .
x→0 sen(3 x) 3 x→0 2x x→0 sen(3 x) 3
1
[3] Calcule lim 1 + x x
. Seja x = 1t ; se x → 0 então t → ±∞; logo:
x→0
1 1 t
lim 1 + x x
= lim 1+ = e.
x→0 t→±∞ t
b x
[4] Calcule lim 1+ , onde b é um número real.
x→±∞ x
b x 1 t b
Seja xb = t, então: lim 1 + = lim 1 + = eb .
x→±∞ x t→±∞ t
1 x
[5] Calcule lim 1 + , onde b é um número real.
x→±∞ x+b
1 x 1 t−b
Seja x + b = t, então: lim 1 + = lim 1 + = e.
x→±∞ x+b t→±∞ t
[6] Sabemos que se uma quantia A0 é investida a uma taxa r de juros compostos, capitalizados
r mt
m vezes ao ano, o saldo A(t), após t anos é dado por A(t) = A0 (1 + m ) . Se os juros forem
capitalizados continuamente, o saldo deverá ser:
r mt r m t
A(t) = lim A0 1 + = A0 lim 1+ = A0 ert .
m→+∞ m m→+∞ m
x + 2 x+b
[7] Calcule lim , onde b é um número real.
x→±∞ x − 1
x + 2 x+b 3 x 3 b
lim = lim 1 + lim 1 + = e3 .
x→±∞ x − 1 x→±∞ x−1 x→±∞ x−1
ax − 1
[8] Verifique que lim = ln(a).
x→0 x
144 CAPÍTULO 3. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES
ln(t + 1)
Seja t = ax − 1; então ln(ax ) = ln(t + 1); logo x ln(a) = ln(t + 1) e x = . Quando x → 0
ln(a)
temos que t → 0 e:
ax − 1 t 1 1
lim = lim = ln(a) lim = ln(a) lim = ln(a).
t→0 1
1
x→0 x t→0 ln(t + 1) t→0 ln((1 + t) t )
ln(t + 1)
ln(a) t
ax − bx
[9] Calcule lim , onde a, b > 0 e a, b 6= 1.
x→0 x
ax − bx ax − 1 + 1 − bx ax − 1 bx − 1 a
lim = lim = lim − = ln(a) − ln(b) = ln .
x→0 x x→0 x x→0 x x b
a
[10] Se 2a + 2a−1 = 192 e lim (1 + )ax = L, determine ln(L).
x→+∞ x
2
Primeiramente, note que L = ea ; então, ln(L) = a2 . Por outro lado 2a + 2a−1 = 3 × 2a−1 ; logo,
3 × 2a−1 = 192, donde 2a−1 = 26 e a = 7. Portanto, ln(L) = 49.
3.7 Assíntotas
Definição 3.5. A reta y = b é uma assíntota horizontal ao gráfico da função y = f (x) se pelo menos
uma das seguintes afirmações é verdadeira:
Exemplo 3.14.
[1] Esbocemos o gráfico da função logística:
A
L(t) = onde A, B, C ∈ R.
1 + B e−Ct
A
Dom(L) = R e a curva passa por (0, ). Por outro lado lim L(t) = A; logo, y = A é uma
1+B t→+∞
assíntota horizontal. Por outro lado lim L(t) = 0; logo, y = 0 é uma assíntota horizontal. No
t→−∞
caso em que L = L(t) descreve o crescimento de uma população, o valor A é dito valor limite da
população e corresponde ao número máximo de indivíduos que um ecossistema pode suportar.
Definição 3.6. A reta x = a é uma assíntota vertical ao gráfico da função y = f (x) se pelo menos uma
das seguintes afirmações é verdadeira:
P1 (x)
onde f1 (x) = é uma função definida em a. Então lim |f (x)| = ∞.
Q1 (x) x→a±
Figura 3.22: Gráficos de f ao redor do ponto a, para k ímpar e k par e f1 (a) > 0.
Figura 3.23: Gráficos de f ao redor do ponto a, para k ímpar e k par e f1 (a) < 0.
Logo, a função possui uma assíntota vertical em cada raiz do polinômio Q(x).
146 CAPÍTULO 3. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES
Exemplo 3.15.
x
[1] Esboce o gráfico de y = .
x2 −1
f1 (x)
Dom(f ) = R − {−1, 1} e a curva passa por (0, 0). Por outro lado f (x) = , onde:
x−1
x
f1 (x) = ;
x+1
k = 1 e f1 (1) > 0; então,
1
Analogamente: f (x) = f1 (x), onde:
x+1
x
f1 (x) = ;
x−1
k = 1 e f1 (−1) > 0, então: lim f (x) = +∞ e lim f (x) = −∞; logo, x = 1 e x = −1
x→−1+ x→−1−
são assíntotas verticais. Por outro lado, lim f (x) = 0; logo, y = 0 é uma assíntota horizontal.
x→±∞
-4 -2 2 4
-1
-2
x
Figura 3.24: gráfico de y = x2 −1
.
x2
[2] Esboce o gráfico de y = .
x2 − 1
f1 (x)
Dom(f ) = R − {−1, 1} e a curva passa por (0, 0). Por outro lado f (x) = , onde:
x−1
x2
f1 (x) = ;
x+1
k = 1 e f1 (1) > 0; então,
1
Analogamente: f (x) = f1 (x), onde:
x+1
x2
f1 (x) = ;
x−1
3.8. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES 147
k = 1 e f1 (−1) < 0; então, lim f (x) = −∞ e lim f (x) = +∞; logo x = 1 e x = −1 são
x→−1+ x→−1−
assíntotas verticais. Por outro lado, lim f (x) = 1; logo, y = 1 é uma assíntota horizontal.
x→±∞
-4 -2 2 4
-1
-2
x2
Figura 3.25: gráfico de y = x2 −1 .
Nos parágrafos anteriores, estudamos o comportamento de uma função y = f (x) para valores
de x próximos de um ponto a. Pode acontecer que o limite de f (x) quando x tende a a exista,
mas que f não seja definida em a; ou ainda, pode acontecer que o limite seja diferente de f (a).
Estudaremos, agora, uma classe especial de funções, onde se verifica que:
Definição 3.7. Seja f uma função e a ∈ Dom(f ), onde Dom(f ) é um intervalo aberto ou uma reunião
de intervalos abertos. f é dita contínua em a, se:
Exemplo 3.16.
[1] Considere:
2
x − 1
se x 6= 1
f (x) = x − 1
1 se x = 1.
Figura 3.26:
Observe que se redefinirmos a função, fazendo f (1) = 2, a função será contínua em todos os
pontos de R. Verifique este fato.
[2] Seja:
(
1 se x ≥ c
uc (x) =
0 se x < c.
A função degrau unitário y = uc (x) não é contínua em c, pois não existe lim uc (x).
x→c
[4] O potencial φ de uma distribuição de carga num ponto do eixo dos x é dado por:
( p
se x ≥ 0
2 π σ x2 + a2 − x
φ(x) = √
se x < 0.
2 π σ x2 + a2 + x
a, σ > 0; φ é contínua em 0.
De fato, como lim φ(x) = lim φ(x) = 2 π σ a, lim φ(x) existe e lim φ(x) = φ(0). Então, φ é
x→0− x→0+ x→0 x→0
contínua em 0.
3.8. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES 149
[5] Seja
2 x − 2
se x < −1
f (x) = A x + B se x ∈ [−1, 1]
5x + 7 se x > 1.
20
15
10
-3 -2 -1 1 2 3
-5
-10
Figura 3.28:
2. f g é contínua em a.
f f
3. é contínua em a, se a ∈ Dom .
g g
Exemplo 3.17.
[1] Os polinômios são funções contínuas em R, pois são expressos por somas e produtos de
funções contínuas em R.
[2] As funções racionais são funções contínuas no seu domínio.
[3] As funções f (x) = sen(x) e f (x) = cos(x) são contínuas em R.
[4] As funções exponenciais são funções contínuas em R.
[5] As funções logarítmicas são funções contínuas em (0, +∞).
[6] A seguinte função é contínua em R:
x sen 1
se x 6= 0
f (x) = x
0 se x = 0.
0.8
0.6
0.4
0.2
-0.2
[7] A função f (x) = [[x]] é descontínua para cada x ∈ Z. Veja exercício 33 do capítulo anterior.
3
-3 -2 -1 1 2 3 4
-1
-2
-3
ln(x) + arctg(x)
[8] A função f (x) = é contínua em (0, 1) ∪ (1, +∞).
x2 − 1
De fato, ln(x) é contínua em (0, +∞) e arctg(x) é contínua em R, logo ln(x)+arctg(x) é contínua
em (0, +∞); o polinômio x2 − 1 possui raízes reais x = ±1 e −1 ∈ / (0, +∞), então f é contínua
em (0, 1) ∪ (1, +∞), que é o domínio de f .
3.8. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES 151
1 2 3 4
-1
-2
Figura 3.31:
Proposição 3.9. Sejam f e g funções tais que lim f (x) = b e g é contínua no ponto b. Então:
x→a
lim g ◦ f (x) = g lim f (x)
x→a x→a
Exemplo 3.18.
lim f (x)
lim ef (x) = ex→a .
x→a
[2] As funções g(x) = sen(x) e h(x) = cos(x) são funções contínuas em R; logo, se existe
lim f (x), então:
x→a
lim sen f (x) = sen lim f (x) ; lim cos f (x) = cos lim f (x) .
x→a x→a x→a x→a
[3] A função g(x) = ln(x) é contínua em (0, +∞); logo, se lim f (x) ∈ (0, +∞), então:
x→a
lim ln f (x) = ln lim f (x) .
x→a x→a
x5 + x3 + 1 x5 + x3 + 1 3
[4] lim ln 2
= ln lim 2
= ln .
x→1 x +1 x→1 x +1 2
π
[5] limπ ln sen(x) = ln limπ sen(x) = ln sen
= ln(1) = 0.
x→ 2 x→ 2 2
x2 −1 lim (x − 1)
[6] lim e x+1 = ex→1 = e0 = 1.
x→1
Teorema 3.4. Sejam f e g funções tais que g ◦ f esteja bem definida. Se f é contínua no ponto a e g é
contínua em f (a), então g ◦ f é contínua em a.
152 CAPÍTULO 3. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES
Prova: Im(f ) ⊂ Dom(g). Como g é contínua em b = f (a), para todo ε > 0 existe δ1 > 0 tal que
se y ∈ Im(f ) e |y − b| < δ1 , então |g(y) − g(b)| < ε. Por outro lado f é contínua em a; logo,
existe δ2 > 0 tal que se x ∈ Dom(f ) e |x − a| < δ2 , então |f (x) − f (a)| = |f (x) − b| < δ1 . Logo,
se x ∈ Dom(f ) ∩ (a − δ2 , a + δ2 ), |g(f (x)) − g(f (a))| < ε.
Exemplo 3.19.
[1] A função h(x) = |x2 +2x+1| é uma função contínua em R, pois h é a composta das seguintes
funções: f (x) = x2 + 2x + 1 e g(x) = |x|; ambas funções são contínuas em R. (Verifique !).
2 +5x+2
[2] A função h(x) = ex é contínua. (Verifique !).
x6 − x2
[3] A função h(x) = sen é contínua. (Verifique !).
x2 + 4
O teorema seguinte estabelece que com hipóteses adequadas, uma função f , definida num
intervalo fechado [a, b], assume todos os valores entre f (a) e f (b); em outras palavras, para
que f passe de f (a) a f (b) tem que passar por todos os valores intermediários. A definição
anterior de continuidade foi feita considerando como domínios intervalos abertos ou reunião
de intervalos abertos; então necessitamos da seguinte definição:
Exemplo 3.20.
3
Seja f : [−1, 1] → R tal que f (x) = x3 − cos(πx) + 1; então f assume o valor .
2
3
De fato f é contínua e 1 = f (−1) < < f (1) = 3; logo, do teorema, temos que existe c ∈ (−1, 1)
2
3
tal que f (c) = .
2
3.8. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES 153
1.5
1.0
0.5
Figura 3.32:
Corolário 3.6. Seja f : [a, b] → R uma função contínua em [a, b]. Se f (a) e f (b) tem sinais opostos,
ou seja f (a) f (b) < 0, então existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = 0.
c c
a c b
Figura 3.33:
Aplicações
Este resultado pode ser utilizado para localizar as raízes reais de um polinômio de grau ímpar.
De fato, seja
f (x) = xn + a1 xn−1 + ....... + an−1 x + an
uma função polinomial de grau n ímpar, ai ∈ R. Para os x 6= 0, escrevemos:
n a1 an
f (x) = x 1 + + ....... + n .
x x
a1 an
Como lim + ....... + n = 1; então,
1+
x→±∞ x x
pois, n é ímpar. Logo, existem x1 < x2 tais que f (x1 ) < 0 e f (x2 ) > 0. f é contínua no intervalo
[x1 , x2 ]; pelo corolário, existe c ∈ (x1 , x2 ) tal que f (c) = 0.
Se n é par, a conclusão é falsa. O polinômio f (x) = x2 + 1 não possui raízes reais.
Exemplo 3.21.
-2 -1 1 2
1
[2] A equação 2x ln(x2 + 1) + x3 log6 (e−x ) − = 0 possui pelo menos 4 raízes reais distintas
20
no intervalo [−1, 2].
1
De fato, a função f (x) = 2x ln(x2 + 1) + x3 log6 (e−x ) − é contínua em [−1, 2] e
20
f (−1) ≃ −0.26, f (−0.5) ≃ 0.072, f (0) = −0.05, f (0.5) ≃ 0.23 e f (2) ≃ −8.57;
então:
-1 1 2
1
[3] A função f (x) = 1 − 2 x2 − arctg(x), atinge o valor no intervalo [0, 1].
2
1
Considere a função g(x) = f (x) − ; g é função contínua no intervalo [0, 1] e
2
π+6
g(0) g(1) = − ;
8
1
logo, existe c1 ∈ (0, 1) tal que g(c1 ) = 0, isto é, f (c1 ) = .
2
0.5
Figura 3.36:
O seguinte algoritmo serve para determinar aproximadamente as raízes de uma equação, uti-
lizando o corolário:
Seja f contínua em [a, b].
i) Se f (a) f (b) < 0, então, existe pelo menos um c ∈ (a, b) tal que f (c) = 0.
ii) Considere:
a+b
m1 = ;
2
se f (m1 ) = 0, achamos a raiz. Caso contrário, f (a) f (m1 ) < 0 ou f (m1 ) f (b) < 0.
iii) Se f (a) f (m1 ) < 0, então, f (x) = 0 tem solução em [a, m1 ]. Considere:
a + m1
m2 = ;
2
se f (m2 ) = 0, achamos a raiz. Caso contrário f (a) f (m2 ) < 0 ou f (m2 ) f (m1 ) < 0.
iv) Se f (m2 ) f (m1 ) < 0, então, f (x) = 0 tem solução em [m2 , m1 ]> Considere:
m1 + m2
m3 = ;
2
se f (m3 ) = 0, achamos a raiz. Caso contrário f (m3 ) f (m2 ) < 0 ou f (m3 ) f (m1 ) < 0.
Continuando obtemos mn tal que |f (c) − f (mn )| é menor que a metade do comprimento do
último intervalo.
156 CAPÍTULO 3. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES
Exemplo 3.22.
m1 + m2 13
m3 = = .
2 8
Assim, continuando podemos, por exemplo, obter:
27445 ∼
m14 = = 1.675109
16384
no intervalo [1.67504, 1.67517] e tal que f (m14 ) = −0.0000928.
3.9 Exercícios
1. Calcule os seguintes limites usando tabelas:
(x + 2)2
p
(a) lim (3x − 8) (e) lim x2 + 1
x→1 x→1 (i) lim
x→1 x
(b) lim (3x − 2) x3 − 2 x 2 + 5 x − 4 e2x
x→1 (f) lim (j) lim 2
x→1 x−1 x→0 x + 1
x−1 2x 3x − 1
(c) lim √ (g) lim x2 − (k) lim 2
x→1 x−1 x→0 1000 x→0 x + x + 2
5x + 2 tg(4 x) (x2 − 1)
(d) lim (h) lim (l) lim
x→4 2x + 3 x→0 x x→1 x − 1
x2 + x − 6 x2 + x − 6
(a) =x+3 (b) lim = lim (x + 3)
x−2 x→2 x−2 x→2
4x5 + 9x + 7 x3 + 3x2 − 9x − 2
(a) lim (b) lim
x→1 3x6 + x3 + 1 x→2 x3 − x − 6
3.9. EXERCÍCIOS 157
√
x2 − 9 x+4−2
(c) lim 2 (m) lim
x→3 x − 3x x→0 x
2x2 − 3x + 1 √
(d) lim 2− x−3
x→1 x−1 (n) lim
x→7 x2 − 49
x2 − a2
(e) lim 2 x4 + x3 − x − 1
x→0 x + 2 a x + a2 (o) lim
x→1 x2 − 1
x6 + 2
(f) lim x+2
x→0 10x7 − 2 (p) lim √
2−x
x→−2 x+2
(g) lim √ 1
x→2 2 − 2x
(q) lim p
x→0 2
cos (x) + 1 − 1
(t + h)2 − t2
(h) lim √ √
h→0 h x− a
4 (r) lim √
x −1 x→a x2 − a2
(i) lim √ √ √
x→1 3x2 − 4x + 1
x− a+ x−a
8 − x3 (s) lim √
(j) lim 2 x→a x2 − a2
x→2 x − 2x
x+1 x2 − x
(k) lim √ (t) lim
2 x→1 2 x2 + 5 x − 7
x→−1 6x + 3 + 3x
√
9 + 5x + 4x2 − 3 x3 + 8
(l) lim (u) lim √
x→0 x x→−2 x+2
x3 − 1 x−8
(a) lim (f) lim √
x→1 |x − 1| x→8 3
x−2
(b) lim |x − 3| (g) lim (cos(x) − [[sen(x)]])
x→3 x→0
x2 − 3x + 2 (h) lim (sen(x) − [[cos(x)]])
(c) lim x→0
x→1 x−1
x3 − 6 x2 + 6 x − 5 x b
(d) lim (i) lim
x→5 x2 − 5 x x→0+ a x
x2 + 3x − 4 x
(e) lim 3 (j) lim [[ ]]
x→−4 x + 4 x2 − 3 x − 12 x→0+ a
2x3 + 5x + 1 x
(a) lim (d) lim
x→+∞ x4 + 5x3 + 3
x→+∞ x2 + 3x + 1
√
3x4 − 2 x2 + 1
(b) lim √ (e) lim
x→+∞ x8 + 3x + 4 x→+∞ 3x + 2
√
x2 − 2x + 3 x2 + 1
(c) lim (f) lim
x→−∞ 3x2 + x + 1 x→−∞ 3x + 2
158 CAPÍTULO 3. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES
√ √ √
x+ 3x x−1
(g) lim (p) lim √
x→+∞ x2 + 3 x→+∞ x2 − 1
2 x2 − x + 3
p
(h) lim (x − x2 + 1)
x→+∞ (q) lim
r x→+∞ x3 + 1
x s
(i) lim 3 2 2
3 x + 8
x→−∞ x +3 (r) lim
√
3
x→+∞ x2 + x
x3 + 2x − 1
(j) lim √ 4x
x→+∞ x2 + x + 1 (s) lim
x→+∞ x2 − 4 x + 3
√ √
(k) lim ( x + 1 − x + 3) 3 x4 + x + 1
x→+∞ (t) lim
x→+∞ x4 − 5
x5 +1
(l) lim x5 + x4 + 1
x→+∞ x6 + 1 (u) lim 6
x→−∞ x + x3 + 1
x3 + x + 1
(m) lim √ x9 + 1
x→+∞ 3 x9 + 1 (v) lim 9
√ x→−∞ x + x6 + x4 + 1
x4 + 2 2 x + 11
(n) lim (w) lim √
x→+∞ x3 x→+∞ x2 + 1
r
x2 6 − 7x
(o) lim (x) lim
x→+∞ x3 + 5 x→−∞ (2 x + 3)4
x 2
9. Se f (x) = 3 x − 5 e g(x) = − , calcule:
2 3
(a) lim (f + g)(x) (f) lim (f f )(x) g(x)
x→1 x→1 (k) lim cos
x→ 34 f (x)
(b) lim (g − f )(x) (g) lim (f ◦ g)(x)
x→1 x→2 1
(c) lim (g f )(x) (h) lim (g ◦ f )(x) (l) lim x sen
x→1 x→2
x→0 g(x)
f (i) lim (f ◦ g ◦ f )(x) 1
(d) lim (x) (m) lim x tg
x→1 g x→− 23 x→0 g(x)
g (j) lim ln(|f (x)|) 1
(e) lim (x) x→2 (n) lim x cotg
x→1 f x→0 g(x)
3.9. EXERCÍCIOS 159
sen(3x) e2x − 1
(a) lim (k) lim
x→0 x x→0 x
x2 2
(b) lim ex − 1
x→0 sen(x) (l) lim
x→0 x
tg(3x)
(c) lim 5x − 1
x→0 sen(4x) (m) lim
x→0 x
1 − sen(x)
(d) limπ x
3 −1
x→ 2 2x − π (n) lim
x→0 x2
sen(x)
(e) lim eax − ebx
x→π x − π (o) lim , a, b 6= 0
1 x→0 sen(ax) − sen(bx)
(f) lim x sen( )
x→+∞ x (p) lim x cos2 (x)
x − tg(x) x→0
(g) lim
x→0 x + tg(x) tg2 (x)
(q) lim
2 x→0 x2 sec(x)
(h) lim (1 + )x+1
x→+∞ x 4 x+4
1 x (r) )
lim (1 −
(i) lim 1 + x→+∞ x
x→0 2x
1 1
(j) lim (1 + 2x) x (s) lim (1 − )x
x→0 x→−∞ x
f (x) − f (a)
12. Se |f (x) − f (y)| ≤ |x − y|2 , para todo x, y ∈ R, verifique que: lim = 0.
x→a x−a
√ √
q q
13. Verifique que lim ( x + x − x − x) = 1.
x→+∞
14. No problema 51 do capítulo II, foi visto que o custo para remover x% de resíduos tóxicos
0.8 x
num aterro é dado por S(x) = , 0 < x < 100.
100 − x
(a) Calcule lim S(x).
x→100−
15. Suponha que 2000 reais são investidos a uma taxa de juros anual de 6% e os juros são
capitalizados continuamente.
(b) Que quantia deveria ser investida hoje a uma taxa anual de 7% de juros capitalizados
continuamente, de modo a se transformar, daqui a 20 anos, em 20000 reais?
16. Durante uma epidemia de dengue, o número de pessoas que adoeceram, num certo
100000
bairro, após t dias é dado por L(t) = .
1 + 19900 e−0.8t
(a) Determine a quantidade máxima de indivíduos atingidos pela doença.
x
(c) f (x) = (d) f (x) = |sen(x)|
x4 + 1
21. Determine o valor de L para que as seguintes funções sejam contínuas nos pontos dados:
2
x − x
se x 6= 0
(a) f (x) = x , no ponto x = 0.
L se x = 0
2
x − 9
se x 6= 3
(b) f (x) = x − 3 , no ponto x = 3.
L se x = 3
(
x + 2L se x ≥ −1
(c) f (x) = , no ponto x = −1.
L2 se x < −1
(
4 3x se x < 0
(d) f (x) = , no ponto x = 0.
2 L + x se x ≥ 0
x
e − 1 se x 6= 0
(e) f (x) = x , no ponto x = 0.
L se x = 0
(
4 − x + x3 se ≤ 1
(f ) f (x) = , no ponto x = 1.
9 − L x2 se x > 1
1−x
x 6= 1 [[x + 3]] x<0
(c) f (x) = 1 − x3 (g) f (x) = (x + 1)3 − 1
1 x=1 x>0
x
24. Verifique se as seguintes equações admitem, pelo menos, uma raiz real:
(a) x3 + x2 − 4x − 15 = 0 (d) 2x + x2 = 0
(b) cos(x) − x = 0 (e) x5 − x3 + x2 = 0
(c) sen(x) − x + 1 = 0 (f) x7 + x5 + 1 = 0
1
25. Seja f (x) = 1 − x sen , x 6= 0. Como escolher o valor de f (0), para que a função f seja
x
contínua em x = 0?
1
26. Sendo f (x) = arctg , x 6= 2, é possível escolher o valor de f (2) tal que a função f
x−2
seja contínua em x = 2?
1 − cos(x)
(a) f (x) = ; (b) f (x) = x ln(x + 1) − x ln(x − 1);
x2
c) f (x) = x cotg(x).
1 se
x>0
28. A função sinal de x é definida por: sgn(x) = 0 se x=0
−1 se x < 0.
30. Verifique que a equação x = tg(x) tem uma infinidade de raízes reais.
x3 7
31. Seja f (x) = − sen(π x) + 3. A função f atinge o valor no intervalo [−2, 2]? Justifique
4 3
sua resposta.
32. Uma esfera oca de raio R está carregada com uma unidade de eletricidade estática. A
intensidade de um campo elétrico E(x) num ponto P localizado a x unidades do centro
da esfera é determinada pela função:
0 se 0 < x < R
1
E(x) = 2
se x = R
3x
x−2 se x > R.
(
0 se t < 0
H(t) =
1 se t ≥ 0
(a) Discuta a contínuidade de f (t) = H(t2 + 1) e de g(t) = H(sen(π t)). Esboce os respec-
tivos gráficos em [−5, 5].
(b) A função R(t) = c t H(t) (c > 0) é chamada rampa e representa o crescimento gradual
na voltagem ou corrente num circuito elétrico. Discuta a continuidade de R e esboce seu
gráfico para c = 1, 2, 3.
34. A aceleração devida a gravidade G varia com a altitude em relação à superfície terreste.
G é função de r (a distância ao centro da terra) e, é dada por:
(
gMr
3 se r < R
G(r) = g RM
r2
se r ≥ R,
35. Seja f : [0, 1] −→ [0, 1] contínua. Verifique que existe x0 ∈ [0, 1] tal que f (x0 ) = x0 .
36. Sejam f, g : [a, b] −→ R contínuas tais que f (a) < g(a) e f (b) > g(b). Verifique que existe
x0 ∈ [a, b] tal que f (x0 ) = g(x0 ).
37. A população (em milhares) de uma colônia de bactérias, t minutos após a introdução de
uma toxina é dada pela função:
(
t2 + 7 se t < 5
f (t) =
−8t + 72 se 5 ≤ t.
Explique por que a população deve ser de 10000 bactérias em algum momento entre t = 1
e t = 7.
x3
38. Verifique que a função f : R −→ R definida por f (x) = − sen(π x) + 3 assume o valor
4
4
.
3
164 CAPÍTULO 3. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES