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[Manoel Antônio de Almeida]

1. Enredo

Leonardo, o futuro sargento de milícias, filho de Leonardo -Pataca e de Maria -


da-Hortaliça, é o resultado das pisadelas, beliscões e outros atos similares
praticados pelo casal de imigrantes portugueses durante a travessia do
Atlântico rumo ao Rio de Janeiro.

Maria-da-Hortaliça sente enjôos logo ao desembarcar e sete meses depois


nasce um robusto menino, batizado com o nome do pai. A parteira - a comadre
- e o barbeiro - 'de defronte' foram os padrinhos do herói, que passa junto aos
pais os primeiros anos da infância. Leonardo -Pataca, que se tornara meirinho,
confirma certo dia as suspeitas de que sua mulher não mantinha a mesma
fidelidade que durante a viagem.

Em conseqüência, briga com ela, expulsa de casa o garoto com um enérgico


pontapé e sai em busca de consolo. Ao retornar à tarde, em companhia do
compadre e padrinho do menino, é informado de que Maria -da-Hortaliça,
saudosa da pátria, tinha fugido e embarcado novament e, rumo a Portugal, a
convite do capitão de um navio que partira pouco antes. Logo a seguir,
Leonardo-Pataca vai viver com uma cigana, que, por sua vez, também o
abandona.

Enquanto isso, Leonardo, o filho, adotado pelo padrinho, que muito se


afeiçoara a ele, vai crescendo e a cada dia se revela mais briguento e travesso,
prenunciando futuros envolvimentos com o famoso major Vidigal, que era o
terror de todos os malandros e baderneiros da época.

O padrinho, com infinita paciência, tenta encaminhar o menino na prática da


religião para qual este não revela grandes pendores. Coloca -o na escola e o
ensina a ajudar a missa. Se na escola se revela um péssimo aluno e colega, na
Igreja da Sé, onde consegue ser sacristão, vê a melhor oportunidade para
grandes travessuras, como o experimenta o mestre-de-cerimônias. Este, um
padre de meia idade, virtuoso por fora, mas bastante diferente por dentro,
envolve-se com uma cigana, a mesma, aliás, com quem Leonardo -Pataca
vivera depois da fuga de Maria -da-Hortaliça. O sacristão se vinga das
reprimendas que sofre por suas constantes travessuras levando os fiéis a
tomarem conhecimento dos fatos, o que faz com que seja expulso e deixe a
igreja da Sé.
Para desgosto do padrinho e da madrinha, que queriam encaminhá -lo em uma
profissão, Leonardo não demonstra qualquer interesse. Prefere a vida livre da
vadiagem e das brincadeiras. Certo dia, em casa de Dona Maria, uma mulher
das vizinhanças, conhece a sobrinha desta, Luisinha, sua futura mulher. Até
que o casamento se realizasse, porém, muita coisa, iria acontecer. Leonardo -
Pataca, depois de vencer o mestre-de-cerimônias na disputa pela cigana, é
abandonado novamente por esta e passa a viver com a filha da parteira,
Chiquinha. Daí nascem uma filha e grandes confusões, pois Chiquinha e
Leonardo se detestavam e a parteira é chamada continuamente para serenar
os ânimos. Por esta época aparece em cena José Manuel, um rival do futuro
sargento de milícias em seu amor por Luisinha. Apesar dos esforços da
comadre para afastá-lo do caminho, ela não tem sucesso. Além disso, a morte
do padrinho e as contínuas brigas com Chiquinha fazem com que Leonardo
saia de casa e passe a vagabundear pelos subúrbios da cidade, quando
conhece Vidinha, uma mulata sensual, de olhos pretos e lábios úmidos, pela
qual se apaixona imediatamente. Como Vidinha tinha outros pretendentes, cria -
se grande confusão, o onipresente major Vidigal intervém e Leonardo
consegue fugir, deixando -o furioso. Mas a vida continua e, com proteção da
comadre, o Leonardo entra para as hoste s do major Vidigal, não revelando,
naturalmente, grande amor por esta nova profissão e passando boa parte de
seu tempo na prisão por indisciplina. Sempre com a proteção da comadre, que
recorre à ajuda de Maria Regalada, um antigo amor de Vigida, Leonardo
supera todas as adversidade, chegando ao posto de sargento de milícias.

Assim, o final feliz se aproximava. José Manuel, o rival de Leonardo no amor


por Luisinha, revela-se péssimo marido e, além do mais, morre
providencialmente, deixando -a viúva e livre para casar com o sargento de
milícias. Passando o tempo indispensável do luto, Leonardo, em uniforme da
tropa, recebe Luisinha como mulher, na mesma igreja da Sé que fora palco de
suas grandes travessuras como sacristão.

2- Personagens principais

Leonardo
De menino traquinas, sempre pronto para fazer travessuras e vingar -se de
quem não o suportava, passa a sargento de milícias, posto de grande
responsabilidade, o que caracteriza a trajetória desordenada e contraditória de
um personagem que não controla o m eio em que se envolve e vai, pelo
contrário, deixando-se levar por ele. Leonardo é, indiscutivelmente, a figura
central do enredo, apesar de muitas vezes ser ofuscado pela ação de outros
personagens.

Leonardo-Pataca
Tendo conseguido chegar a meirinho, o q ue lhe garante uma vida de ócio,
Leonardo-Pataca é apresentado como o infeliz que é perseguido sempre pela
má sorte na vida pessoal, má sorte que, na verdade, é resultado da pouca
inteligência e do excesso de sentimentalismo amoroso. Mas a velhice o acalma
e, afinal, encontra a paz ao lado de Chiquinha.

A comadre
Como parteira, a comadre faz uso da influência e das informações que obtém
no exercício de sua profissão para organizar o mundo segundo interesses.
Nem sempre é bem-sucedida, mas a sorte a favorece e consegue ver o
afilhado bem casado e na posição de sargento de milícias.

O compadre
De bom coração, apesar do famoso arranjei -me, o compadre, o compadre
afeiçoa-se a Leonardo, no qual parece identificar -se, pois também fora um
menino abandonado que ti vera que enfrentar a vida sozinho. Não vive o
suficiente para ver o final feliz do afilhado.

Vidigal
O terror dos malandros e vagabundos, 'o rei absoluto, o árbitro supremo' e o
distribuidor dos castigos em uma sociedade em que a polícia ainda não estava
organizada, o major é visto de forma simpática, principalmente porque termina
sendo uma peça fundamental para que o destino de Leonardo, o herói central,
se encerre de forma favorável.

Vidinha
A 'mulatinha de 18 a 20 anos...de lábios grossos e úmidos' é o primeiro
personagem da ficção brasileira que aparece o estereótipo da mulata sensual
que enlouquece os homens com sua vida e sem compromissos.

3- Estrutura narrativa

Memórias de um sargento de milícias, a história do filho 'da pisadela e de um


beliscão', é narrado em 48 capítulos por um narrador onisciente que orienta a
leitura ao longo de toda a obra apontando e comentado as intrigas, os
sucessos e os fracassos dos personagens. Se a estrutura narrativa é frágil e
pouco organizada, dados os constantes sa ltos no tempo e no espaço, os
comentários do narrador, ora humorísticos, ora irônicos, lhe dão inegável
unidade, em que pesem alguns lapsos, como é o caso do personagem
Chiquinha, apresentada às vezes como sobrinha e às vezes como filha da
comadre.

Toda a ação do romance se desenvolve no Rio de Janeiro, 'no tempo do rei',


isto é, entre 1808 e 1821.
4- Comentário crítico

Esquecido durante muito tempo, reavaliado positivamente a partir de 1920,


Memórias de um sargento de milícias sempre constituiu um probl ema para a
visão tradicional da crítica literária brasileira, que, quase sempre mais
preocupada, em rotular e catalogar as obras a partir das concepções idealistas
próprias da periodização por estilos [romantismo, realismo, etc.] sentia -se
pouco à vontade diante da irreverência e da desordem próprias de Manuel
Antônio de Almeida. Irreverência e desordem que fizeram e fazem de
Memórias de um sargento de milícias um dos romances mais lindos de toda a
ficção brasileira do séc..

Como tantos outros romances de sua época, a obra de Manuel Antônio de


Almeida foi publicada originalmente em folhetins de jornal. Cada um de seus
capítulos, à semelhança das modernas telenovelas, devia provocar no leitor a
curiosidade sobre o desenrolar subseqüente da história.

Mas as semelhanças entre AM e os romancistas brasileiros seus


contemporâneos terminam aí. Ao contrário destes, que construíram mundo
ideais, impregnados dos valores da classe dominante brasileira da época, AM
centra sua atenção sobre um grupo social específico qu e poderia ser
identificado, forçando um pouco a expressão, como a classe média do Rio de
Janeiro de então.

Eram os homens livres, que, não sendo escravos mas também não dispondo
de poder econômico e político, viviam, ou sobreviviam, de acordo com suas
possibilidades, numa espécie de zona de penumbra na qual os limites entre os
valores da ordem vigente e da marginalização completa se tornavam bastante
tênues.

Por retratar com certa objetividade os costumes e hábitos deste grupo social, o
romance de MAA foi qualificado, ainda no século passado de realismo. Mais
tarde, por volta de 1920, ao ser reavaliado, o Memórias de um sargento de
milícias foi considerado um romance picaresco a partir do argumento de que
possuía as características das obras de ficção euro péia dos séculos XVI e XVII
assim denominadas: ausência de critérios morais rígidos, um herói central de
origem social pobre, uma visão de mundo ingênua e ao mesmo tempo satírica,
etc.

Mas a definição não vingou, principalmente porque há uma diferença


fundamental entre Leonardo e os heróis do chamado romance picaresco
europeu: sua vida se limita ao espaço dos homens livres do século XIX, sem
transitar através de vários grupos sociais. Além disto, ciente da ineficiência dos
rótulos e catalogações da crítica tradicional, a concepção que predomina hoje
na análise da obra de MAA é a que, a partir de uma perspectiva histórica, vê
em Leonardo o primeiro grande 'malandro'
da ficção brasileira.

De fato, 'no tempo do rei' a ordem social definia -se a partir de dois pólos
extremamente rígidos: o escravo e o senhor -de-escravos. No meio, os homens
livres sem poder econômico e político representavam um grupo restrito mas,
certamente, de alguma importância em termos sociais. Sua ação era definida
fundamentalmente a partir da necessidade de sobreviver através de expediente
raramente ligados a uma atividade econômica específica. Caracterizavam -se
antes por exercerem ocupações ocasionais, pequenos serviços e alguns
cargos burocráticos subalternos: vendeiro, barbeiro, parteira , miliciano,
sacristão.

Leonardo, típico representante deste setor, tem como alternativa desempenhar


um destes papéis. Não chega, a rigor, a optar por um ou por outro. Vê -se,
antes, obrigado pelas circunstâncias, a aceitar ora esta, ora aquela ocupação.
Já de início, o compadre e a comadre, seus tutores, desejam para ele uma
carreira de mais destaque: advogado, padre ou algo semelhante. Leonardo
desaponta-os. Pensa em casar com Luisinha, moça de certas posses. Ela,
porém, escolhe alguém de nível social sup erior. Por fim, o 'malandro' Leonardo
vê-se obrigado a entrar para o serviço militar. Não se adapta à nova carreira
mas, depois de muita confusão, Vidigal, o terrível major, símbolo da ordem
constituída, incumbe-se de salvar-lhe a pele e coloca-o no confortável posto de
sargento de milícias. Isto não seria estranhável não fosse o fato de que a
artífice de tudo é Maria Regalada, a mulher que já fora de 'vida fácil', ou seja,
uma típica representante da desordem social, uma marginal.

Assim é que, entre a ord em constituída [representada por Vidigal] e a


desordem tolerada [Maria Regalada], quem sai beneficiado é Leonardo. E de
tudo isto, de acordo com a visão de mundo ingênua e sem conflitos que
impregna o romance, não resta qualquer sentimento de culpa, tanto que ao
final, em paz, o herói casa, é reformado e desfruta de cinco heranças!

O salto, em termos de enredo, pode ser um tanto brusco, mas o fato é que
Leonardo escolhe a ordem e suas vantagens. Afinal, não por nada resolve
esquecer Vidinha e seus encantos, aos quais faltava o charme da fortuna e do
reconhecimento social.

Neste sentido moderno, Memórias de um sargento de milícias poderia ser


qualificado de realista, pois MAA deixou registrado, tanto no personagem
central, como nos outros, a regra constitut iva dos valores do grupo social dos
homens livres do Brasil do séc. XIX: para eles ordem e desordem pouco
representavam. Sem trabalhar, o que era obrigação dos escravos, e sem estar
no poder, como os senhores-de-escravos, Leonardo passeia pelo mundo não
levando muito em conta as convenções sociais, a não ser quando funcionam
em seu próprio benefício.

Em conseqüência, sob hipótese alguma é possível aproximar Memórias de um


sargento de milícias dos romances e novelas que saíram da pena de Bernardo
Guimarães, Alencar e Macedo, cujos mundos ideais e quase sempre
rigidamente organizados em termos éticos, encarnam e reforçam a ordem
vigente. A obra de MAA encontra similar apenas nas peças de Martins Pena,
que, com uma visão crítica bem mais contundentes que a do criador de
Leonardo, também produziu verdadeiros instantâneos do Brasil urbano de
meados do séc. XIX.

5- Estilo de época

Apesar de estar classificado como romântico, o romance Memórias de um


sargento de milícias apresenta traços estéticos que ultrapassam o
Romantismo. Sua composição não segue a trilha deixada pelos demais
ficcionistas desse estilo. A fragmentação do enredo deixa margens de dúvida
se não seria um precursor do estilo digressivo e fragmentário de Machado de
Assis. Suas personagens passam longe das idealizações românticas, então
mais próximas do Realismo, não raro configurando tipos. A ausência de um
final feliz definitivo é outro elemento fora dos parâmetros românticos. Dentro
dos romances românticos, não se direciona especificamente para os romances
urbanos, que focalizam a sociedade burguesa, pois caracteriza a sociedade
suburbana, a gente humilde e trabalhadora.

Sem dúvida, a situação é controversa. Devemos enxergar a presente obra


como um romance de costumes, que apresenta também tendênci a à novela
picaresca, pela presença do anti -herói Leonardinho.

Cabe ressaltar que alguns críticos enxergam na obra uma percursora do


Realismo no Brasil. Há, sem dúvida, elementos realistas, mas ainda
predominam componentes românticos, já que não mostra ní tida intenção
realista. O elementos considerados realistas presentes nessa obra filiam -se à
narrativa picaresca espanhola, que tem por preocupação retratar naturalmente
os costumes populares sem idealizá-los.

6- Estilo individual

Como vimos, a presente obra foge das características gerais do Romantismo,


apresentando características próprias. O estilo da obra, bem como de seu
autor, apresenta tendências bem pessoais e marcantes. Destaquemos algumas
dessas tendências:
a. Emprego de linguagem bem coloquial, marcada por incorreções e linguajar
lusitano, interiorano ou das periferias de Lisboa, lembrando que boa parte das
personagens são imigrantes portugueses ou gente simples do povo.

b. Ausência de personagens idealizadas e de análise psicológica: o romance


prefere focalizar os costumes, hábitos e cacoetes das pessoas de camadas
sociais inferiores, numa construção mais realista da sociedade suburbana do
início do século XIX.

c. Presença do humorismo, do ridículo e do burlesco: o tom geral da obra


segue a tendência da gozação, marcado que está pela construção de
personagens que tendem para o caricatural, para o mais absoluto ridículo. A
essa tendência chamamos carnavalização.

d. Presença da ironia.

e. Presença da linguagem: A obra volta -se para si mesma, comentando os


procedimentos que estão sendo empregados: palavras utilizadas, explicações
sobre capítulos ou personagens que desaparecem de cena.

f. Presença de digressões: a narrativa não segue a ordem linear dos fatos, é


episódica e, não raro, foge da hist ória para comentar fatos paralelos ou para
dar explicações sobre o próprio livro.

g. Presença do narrador intruso, que o tempo todo se intromete para dar


explicações, analisar fatos ou personagens e conversar com o leitor.

h. Presença do leitor incluso, com quem o narrador procura estabelecer


conversação: 'Pôr estas palavras vê-se que ele suspeitaria alguma coisa; e
saiba o leitor que suspeitara a verdade'.

A obra deixa transparecer a presença de diversas figuras de linguagem, bem


como, hipérboles, comparações, metáforas, perífrases, trocadilhos,
metonímias, linguagens forenses, sarcasmos, barbarismos, etc...

7- Problemática e principais temas

Mesmo com o risco de nos tornarmos repetitivos, retomamos a problemática


central da presente obra. Afinal, temo s ou não uma obra que foge uma rígida
classificação? Sem dúvida a resposta a esta questão é evidente uma vez que a
obra apresenta elementos que escapam à típica caracterização dos moldes em
voga no Romantismo, mas não atende de forma direta às perspectivas do
Realismo, que sequer havia começado na Europa. É um romance que
apresenta variáveis, tais como: novela picaresca, romance de costumes e
romance de aventuras, sendo considerado por alguns um romance anti -
romântico, o que implicaria em tendências precurs oras do Realismo, que só se
confirmaria a partir das Memórias Póstumas de Brás Cubas [1881], de
Machado de Assis. A presença da realidade objetiva é inquestionável, mas
apenas isto não configura o Realismo na linha flaubertiana.

A obra é fundamentalmente humorística, estabelecendo contatos com gênero


picaresco espanhol através do protagonista, que traz em si toda esperteza e
picardia de um anti-herói, Leonardinho foi o antecessor em linhagem direta de
Macunaíma, de Mário de Andrade e o continuador, no Bras il, de Dom Quixote
de La Mancha, de Miguel de Cervantes.

Retrato vivo dos costumes bem brasileiros do início do séc. XIX, romance
focaliza um sem número de tipos populares do RJ suburbano. Esse painel
pitoresco retrata a alegria de viver, a malícia da épo ca, as fofocas, as beatices,
as crendices, as festas, as profissões, os costumes e hábitos de nosso povo.
Leonardinho é o típico malandro carioca, cheio de picardia, esperteza,
sarcasmo e desejo de vingança.

Podemos destacar entre as temáticas fundamentai s as críticas ao


aurtoritarismo policial, à religião, ao clero imoral, ao interesse econômico, ao
casamento como meio de ascensão social e à vadiagem como meio de vida.
Há, ainda, uma espécie de paródia do próprio Romantismo, montado nessa
obra às avessas, abandonando os adocicados finais felizes para deixar nas
entrelinhas uma sucessão de fatos tristes que poderiam vir a acontecer.

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