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Em Campinas, lugar bastante típico dos municípios de grande lavoura da época, essa
cifra atingia 80%. Nas propriedades maiores, a taxa de africanidade era ainda mais alta;
em Campinas, no ano de 1829, 89% dos adultos em plantéis com dez escravos ou mais
provinha da África. (pag 250).
Após 1850, a mortalidade entre os africanos, ao lado da introdução cada vez maior de
escravos “crioulos”(nascidos no Brasil) via tráfico interno, reduziu rapidamente a
presença de estrangeiros”na população cativa. Mesmo assim, havia ainda em 1861 uma
proporção bastante alta de escravos adultos africanos em Campinas. (pag 250)
No tráfico de escravos para o Sudeste e sobretudo para o Oeste paulista, tanto antes
quanto depois de 1850, os homens predominavam largamente sobre as mulheres. (pag
251)
Era importante para os donos de escravos conservar o campo de força e favor que
cercava as mulheres cativas como um feudo, reduto da vontade do proprietário. (264)
Geralmente os senhores que libertavam escravos em testamento eram os que não tinham
herdeiros necessários, sem obrigações e a quem deixar sua herança. (267)
Os dados sobre essas fazendas sugerem que os escravos teciam laços de ajuda mútua
dentro da senzala; mas tais laços, que incluíam alguns cativos (preferencialmente
aqueles com recursos) e não outros, também constituíam redes de exclusão. Por outro
lado, a formação de laços frequentemente extrapolava os limites do cativeiro. Não há
nenhum caso nessas fazendas de um escravo que conseguiu criar uma relação de
compadrio com o proprietário. Contudo, o raciocínio que pauta a escolha de compadres
– a necessidade, num mundo hostil, de criar laços morais com pessoas de recursos, para
proteger-se a si e aos filhos – em nada difere da lógica intuída a partir da história de
Joana e Francisco Velho. 271
O caso do escravo alforriado no arraial do divino espírito santo deve ser de um escravo
nascido já com este senhor e possuir laços com este.
Por outro lado, o ardiloso engenho montado pelos senhores voltou-se contra seus
criadores. A política que incentivava a criação de famílias, visando produzir reféns,
também garantia aos escravos um certo espaço de autonomia. ... A família escrava,
nuclear, extensa, incorporando compadres e malungos (companheiros “do mesmo
barco”), provavelmente serviu como instituição importante para a amálgama dessas
culturas centro-africanas, para o encontro entre tradições africanas e européias, e para a
transmissão de reflexões sobre vivências e memórias entre as gerações. 282.
Um dos temas principais do belo livro de Warren Dean sobre o município de Rio Claro,
localizado a oeste de Campinas, é justamente a tendência dos fazendeiros de dar aos
trabalhadores imigrantes o mesmo trato que concediam aos escravos. 283/284
... a força senhorial a pesar sobre o imigrante, bem como o favor, continuou existindo.
Ambos, porém, tiveram de ser adaptados às novas condições. 284
Quando chegaram os imigrantes, pelo menos alguns fazendeiros tentaram alojá-los em
antigas senzalas. Os colonos, no entanto, não gostaram do plano arquitetônico,
semelhante ao de uma cadeia, e insistiram em mudanças. 284