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Civil- Parte Geral Embora o art.

2º, primeira parte do Código


Pablo Stolze Civil, aparentemente, houvesse abraçado a
pablostolze@terra.com.br corrente natalista, acaba por apresentar
“A vitória e a derrota pertencem aos uma contradição na 2a parte da norma ao
Deuses, comemoremos então a luta” admitir que o nascituro fosse titular direitos,
Aula 01 e não de mera expectativa.
Data: 09/02/07 - Teoria da Personalidade
Condicional: Defendida por
Personalidade jurídica: Arnoldo Wald, Serpa Lopes.
1. Conceito: Sustenta que o nascituro seria
Em teoria geral do direito, personalidade é apenas titular de direitos
a aptidão genérica para titularizar direitos e personalíssimos, apenas
contrair obrigações na ordem jurídica. Ou titularizando direitos
seja, é a qualidade necessária do sujeito de patrimoniais se vier a nascer
direito. com vida.
O sujeito de direito só é sujeito de direito Pablo entende que esta teoria é muito
por ser dotado de personalidade. O sujeito diplomática, uma vez que não tem coragem
de direito tanto pode ser uma pessoa física de dizer que nascituro é pessoa.
ou natural quanto uma pessoa jurídica. - Teoria Concepcionista:
Defendida por Teixeira de
2. Momento de aquisição: Freitas, Clóvis Beviláqua,
Em que momento a pessoa física adquire Limongi França, Silmara
personalidade jurídica? O art. 2º do Código Chinelato, Maria Berenice Dias.
Civil dispõe que a pessoa física adquire Afirma que o nascituro é
personalidade no momento do nascimento dotado de personalidade
com vida. jurídica, é considerado pessoa
Nascimento com vida significa desde a c oncepção, é sujeito
funcionamento do aparelho cárdio- de direito. Admitem ate alguns
respiratório. O exame mais famoso para a direitos patrimoniais do
comprovação do nascimento com vida é nascituro, a exemplo de
chamado de docimasia hidrostática de alimentos.
Galeno.
Nascendo com vida, adquire-se Nesse sentido, pode-se apresentar o
personalidade jurídica, e torna-se sujeito de seguinte quadro esquemático:
direitos. a) o nascituro é titular de direitos
No Direito Brasileiro, para efeito de personalíssimos (como o direito à vida, o
aquisição da personalidade não importa a direito à proteção, pré-natal etc.);
forma humana nem o tempo de sobrevida b) pode receber doação, sem prejuízo do
(em sentido contrário o art. 30 do Código recolhimento do imposto de transmissão
Civil da Espanha). inter vivos [Na minha opinião, ITD];
c) pode ser beneficiado por legado e
3. Nascituro: herança;
3.1 Conceito: d) pode ser-lhe nomeado curador para a
Segundo Limongi França nascituro é o ente defesa dos seus interesses (arts. 877 e
de vida intra-uterina, ou seja, é aquele que 878, CPC);
já foi concebido embora ainda não tenha e) o Código Penal tipifica o crime de aborto;
nascido. f) como decorrência da proteção conferida
Basicamente existem três teorias pelos direitos da personalidade, o nascituro
explicativas do nascituro: tem direito à realização do exame de
- Teoria Natalista: É a teoria DNA, para efeito de aferição de
tradicional, mais paternidade.
preponderante no Direito
Brasileiro. Defendida por Silvio 3.2 O nascituro teria direito a
Rodrigues, Eduardo Spínola, alimentos?
Vicente Ráo, Silvio Venosa. Os Tribunais Superiores (STJ e STF) não têm
Segundo esta teoria o acatado esta tese de forma pacifica, muito
nascituro não pode ser embora já existam precedentes
considerado pessoa, por ainda reconhecendo ao nascituro direito aos
não ter nascido com vida, de alimentos especialmente no Tribunal de
maneira que gozaria de uma Justiça do Rio Grande do Sul.
mera expectativa de direito.

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3.3 Qual é a diferença entre nascituro 4.4 Incapacidade:
e natimorto? Quando uma pessoa não gozar de
Natimorto é aquele nascido morto. A capacidade de fato haverá incapacidade.
jornada n.º 1 de Direito Civil afirmou que o Esta incapacidade pode ser absoluta
natimorto tem direito à sepultura, ao (representados) ou relativa (assistidos).
nome e a imagem.
O STJ tem admitido a tese de que o a) Incapacidade Absoluta (art. 3º do
nascituro tem direito a reparação por Código Civil):
dano moral. Esta tese parte da premissa I. Os menores de 16 anos:
que o nascituro sofreu este dano moral na Menores impúberes:
época em que ainda estava em gestação, II. Os que, por
posteriormente veio a luz e entrou com a enfermidade ou
ação indenizatória. O exemplo é que em deficiência mental, não
São Paulo uma pessoa ganhou indenização tiverem o necessário
por dano moral por ter sido um preso discernimento para os
político enquanto estava na barriga da mãe. atos da vida civil:
Procedimento por meio
4. Capacidade: do qual declara-se sua
4.1 Capacidade de Direito e de Fato: incapacidade é a
Adquirindo personalidade jurídica, adquire- Interdição, prevista no
se também capacidade de direito. É uma art. 1.177 do CPC. No
capacidade genérica momento em que o juiz
O único autor que diferenciou capacidade de direito profere uma
de direito e personalidade foi Teixeira de sentença de interdição
Freitas que dizia que a capacidade era a esta será publicada e
medida da personalidade, que a capacidade registrada em cartório,
é o poder de ação implícito no Poder da e qualquer ato que o
Personalidade. interditado pratique
Orlando Gomes disse que na atualidade será inválido, pois no
personalidade jurídica e capacidade de momento que a
direito se confundem. sentença é publicada
Alem da capacidade de direito, existe a passa a ter efeito
capacidade de fato ou de exercício. erga omnes.
Capacidade de fato é a aptidão para a Mesmo que o transtorno seja cíclico, a
prática pessoal de atos jurídicos. doutrina entende que, havendo sentença de
Quando a pessoa tem capacidade de direito interdição publicada, o ato praticado será
e de fato a pessoa passa a ter capacidade inválido, ainda que realizado em momento
civil plena. de lucidez.
Uma sentença de interdição é declaratória
4.2 Qual a diferença entre Capacidade e da incapacidade.
Legitimidade no Direito Civil? Obs.: O ato jurídico realizado por uma
A capacidade é genérica, ou seja, em tese pessoa portadora de uma incapacidade
capacidade é um conceito analisado em natural privativa de discernimento e ainda
geral. Já a legitimidade é uma pertinência não interditada pode ser invalidado? Há
subjetiva específica (Calmon de Passos). uma falha no sistema, pois o Código Civil
Falta de legitimidade significa a existência não regulou esta hipótese. O art. 503 do
de um impedimento específico para a Código da França admite a invalidação do
prática de determinado ato.exemplo: o ato realizado pelo não interditado, embora
tutor não pode adquirir bens do o nosso Código Civil tenha sido omisso a
tutelado, falta legitimidade para o ato, este respeito.
pois o art. 1749,I do Código Civil que O Direito Brasileiro segue a linha do código
impede o tutor de praticar este ato. Ele Francês e da doutrina Italiana, segundo
tem capacidade para realizar compras em Orlando Gomes, no sentido de também
geral, mas não tem legitimidade para admitir a invalidação do ato, desde que três
realizar essa compra específica. requisitos se conjuguem: a incapacidade de
entender ou querer; a demonstração de
4.3 Qual é a conseqüência jurídica da prejuízo ao incapaz e a má-fé da outra
pratica de um ato por uma pessoa não parte.
legitimada? A exigência da má-fé da outra parte é um
A conseqüência é a nulidade absoluta do requisito subjetivo, mas Silvio Rodrigues
ato praticado. pondera que esta pode derivar das
circunstâncias do negócio. Exemplo: se o

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processo houver prova que o incapaz sua incapacidade para evitar a
vendeu um Audi por R$5.000,00 responsabilidade civil.
É bom lembrar ainda que, declarada
judicialmente a incapacidade, não são III. Os excepcionais, sem
considerados válidos os atos praticados desenvolvimento mental
pelo incapaz mesmo nos intervalos de completo: Aqui se
perfeita lucidez. incluem os portadores
de Síndrome de Down.
III. Os que, mesmo por IV. Os pródigos: Tem muito
causa transitória, não mais que um habito
puderem exprimir a sua materialista ou
vontade: Se a causa for consumista, o pródigo
permanente, é claro que padece de um desvio
também gerará comportamental grave
incapacidade. Embora que a sua gastança
não haja previsão pode reduzi-lo a miséria.
específica para o surdo- Por se tratar de uma
mudo inabilitado p/ incapacidade relativa a
manifestar vontade, interdição do pródigo
podemos concluir que a é parcial (art. 1782 do
sua incapacidade está Código Civil), só o
implicitamente admitida privando de, sem
neste inciso III. curador, emprestar,
Um exemplo de causa transitória que gera transigir , dar quitação,
incapacidade absoluta é uma pessoa que alienar, hipotecar,
sofre um acidente e está em coma. demandar ou ser
Obs: Onde está a previsão legal do demandado e praticar
ausente? Não é considerado absolutamente os atos que não sejam
incapaz, o Código Civil tratou da ausência de mera administração.
como hipótese de morte presumida. [O Assim, o curador
ausente não perde a capacidade; ele perde precisa assistir o
a própria personalidade jurídica, deixa de pródigo apenas nos
ser pessoa, pois presumivelmente está atos de disposição ou
morto]. afetação patrimonial,
A vontade do absolutamente incapaz e não nos de mera
pode ser levada em conta? Sim, o administração.
enunciado n.º138 da 3a Jornada de Direito O curador precisa se manifestar no
Civil de autoria do Juiz Guilherme Calmon casamento do pródigo? Sim, no que
Nogueira da Gama, pontifica que a vontade tange ao aspecto patrimonial, ou seja, no
dos absolutamente incapazes pode ser regime de bens escolhido. O curador opina
levada em conta no que tange a situações no procedimento de habilitação.
existenciais a eles concernentes, e Silvícola significa os índios cuja capacidade
desde que demonstre algum discernimento. foi tratada no parágrafo único do art. 4 do
Código Civil atual que diz que esta será
b) Incapacidade Relativa (art.4º do regulada por lei especial. Capacidade esta
Código Civil): regulada pelo Estatuto do índio, lei 6001/73,
I. Os maiores de 16 e no seu art. 8º que aduz que o índio é
menores de 18 anos: absolutamente incapaz.
São os menores púberes
II. Os ébrios habituais, os 5. Questões especiais sobre
viciados em tóxicos e incapacidade:
aqueles que, por 5.1. O incapaz ainda goza do benefício da
deficiência mental, restituição in integro?
tenham o discernimento Este instituto, de origem romana reconhece
reduzido: ao incapaz o privilégio de anular qualquer
Obs.: Se a embriaguez impede o total ato praticado do qual decorreu prejuízo ou
discernimento a incapacidade é absoluta. por se sentir lesado.
Lembra-se Alvindo Lima que a Teoria da É a consagração da insegurança jurídica,
Actio Libera in Causa também se aplica no pois permitia que o incapaz tendo
âmbito do Direito Civil, ou seja, a pessoa celebrado um ato jurídico, que
que voluntariamente se intoxica para demonstrasse ao juiz que sofreu um
cometer um ato ilícito não pode invocar a prejuízo, uma lesão, poderia anular o

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negócio jurídico, ainda que estivesse relação ao prazo prescricional reduzido a
representado ou assistido. metade para menoridade (entre 18 e 21
Segundo Clóvis Beviláqua, em sua obra anos). Os benefícios continuam em vigor, à
“Theoria Geral do Direito Civil” (RED, 1999, luz dos princípios da individualização da
págs. 120-123), este instituto tem origem pena.
romana, consistindo “no benefício No Estatuto da Criança, com a maioridade
concedido aos menores e às pessoas que se civil reduzida para 18 anos, haveria uma
lhes equiparam, a fim de poderem anular revogação do artigo 121, parágrafo 5º que
quaisquer atos válidos sob outros pontos de diz que a internação só poderá antes os 21
vista, nos quais tenham sido lesadas” (pág. anos? O STJ no Habeas Corpus 28332/RJ,
121). Concedida a restituição, as partes firmou o entendimento de que o Novo
retornam ao estado anterior de coisas. Código Civil não teria revogado o art. 121,
O Código de 1916, em seu art. 8º acabava parágrafo 5º do ECA, de maneira que a
com este benefício. liberação compulsória do infrator continua
O novo Código Civil, na mesma linha, não tendo como limite os 21 anos.
tem dispositivo algum beneficiando No âmbito previdenciário, com a redução da
especificamente menores ou incapazes, maioridade civil aos 18 anos, os benefícios
razão por que entendemos continuar previdenciários também não sofrerão esta
extinto o instituto. redução. A Pensão por morte, por exemplo,
Afastada esta hipótese, previu o novo continua cessando aos 21 anos, e não aos
estatuto, outrossim, especial situação de 18. Isso porque o Governo federal, por meio
invalidade do negócio jurídico, para da Casa Civil, baixou uma nota n.º 42/03,
salvaguardar interesse do incapaz, quando instruindo que o pagamento destes
o seu representante praticar ato atentatório benefícios continua sendo regido pela lei
ao seu interesse: especial, até 21 anos de idade, salvo se o
Art. 119. É anulável o negócio concluído beneficiário for emancipado (contradição).
pelo representante em conflito de A redução da maioridade civil e o
interesses com o representado, se tal fato pagamento de pensão alimentícia: Já há
era ou devia ser do conhecimento de jurisprudência consolidada no STJ (Habeas
quem com aquele tratou. Corpus n.º 55065/SP; 55606/SP) no sentido
Parágrafo único. É de cento e oitenta de que a maioridade do credor não
dias, a contar da conclusão do negócio exonera automaticamente o devedor
ou da cessação da incapacidade, o de alimentos. (Informativo 232 do STJ).
prazo de decadência para pleitear-se a [Ou seja: a alteração da maioridade civil
anulação prevista neste artigo. apenas surtiu efeitos na legislação
processual, quanto à figura do curador do
5.2 O incapaz pode ser civilmente interrogatório do réu menor de 21 anos,
responsabilizado? que não existe mais. Isso porque a
A luz do art. 928, o Código Civil, inovando, capacidade civil coincide com a capacidade
passou a admitir a responsabilidade processual, tornando desnecessária a
subsidiária do incapaz (matéria a ser assistência. Já no campo do ECA, do Direito
desenvolvida no painel de responsabilidade Penal e do Direito Previdenciário, nada
civil). muda, pois os limites etários fixados nesses
ramos são autônomos, e nada têm a ver
6. Efeitos jurídicos da redução da com maioridade ou menoridade civil].
maioridade civil:
O Código Civil diz que a maioridade é Aula 02
atingida aos 18 anos completos. Segundo Data: 13/02/07
Washington de Barros Monteiro,
apresentando corrente majoritária, a Emancipação:
maioridade é atingida no primeiro 1. Conceito:
momento do dia em que se perfaz a Traduz a antecipação da capacidade
idade de 18 anos, ou seja, meia noite e plena, podendo ser: voluntária; judicial
um segundo. Se você nasceu no dia 29 de e legal.
fevereiro e você faz 18 anos em um ano Está prevista no parágrafo único do art. 5º
que não é bissexto, você completa 18 anos do Código Civil Brasileiro, que tem mais
no dia 1º de março. influência do Código Civil de Portugal.
No âmbito processual penal acabou a figura A emancipação antecipa a capacidade de
do curador do interrogatório do réu. exercício de direito. Mesmo emancipado o
No âmbito penal há um aspecto importante menor não tem imputabilidade penal e se
no que diz respeito a atenuante da cometer um crime (ato infracional)
menoridade (entre 18 e 21 anos), e em responderá pelo ECA.

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punibilidade será extinta por outra via –
2. Espécies: perdão do ofendido ou renúncia.
a) Voluntária: A união estável não foi contemplada como
Prevista na primeira parte do inciso I do causa extintiva da punibilidade, em uma
parágrafo único do art. 5º do Código Civil. É prova objetiva não se deve sustentar a
aquela concedida pelos pais, ou por um na possibilidade.
ausência do outro, por escritura pública, As pessoas que se casaram abaixo de 16
desde que o menor tenha 16 anos anos para evitar imposição e cumprimento
completos, e independentemente da de pena ou gravidez estariam
homologação judicial. emancipadas? Teoricamente estariam
O Código Civil de 1916 era inconstitucional, emancipadas, mas o juiz percebendo a
pois dizia que a emancipação voluntária era completa imaturidade da pessoa pode não
dada pelo pai, se morta a mãe. emancipá-la.
A Lei de Registro Público (6015/73) no art. Havendo a emancipação pelo
89 dizia que a emancipação voluntária era casamento se a pessoa se separar ou
um ato dos pais. divorciar o emancipado não retorna a
É um ato conjunto de quem detém o situação de incapacidade. Isso porque o
poder familiar. O fato de um dos pais decreto da separação ou do divórcio tem
ter a guarda não retira do outro a efeito ex nunc (para o futuro) não pode
prerrogativa. atingir a emancipação anterior.
É um ato irrevogável. Já a anulação ou nulidade do
É costume na doutrina sustentar que a casamento prejudica a emancipação
emancipação voluntária não retira dos pais legal. A emancipação cai, voltando a
a responsabilidade pelo ilícito cometido situação de incapaz com fundamento em
pelo filho. uma corrente forte na doutrina defendida
por Pontes de Miranda que alega que a
b) Judicial: sentença de anulação ou nulidade de um
Regulada na segunda parte do inciso I, casamento tem efeito ex tunc, retroagindo.
parágrafo único do art. 5º do Código Civil. É Este sentido cancela o registro do
aquela concedida pelo juiz, ouvido o casamento
tutor, desde que o menor tenha 16 A única ressalva é que o juiz pode
anos completos. manter os efeitos da emancipação na
O juiz ouve a opinião do tutor. Esta hipótese do casamento putativo (para
emancipação pode ser registrada de ofício, os cônjuges de boa-fé).
por ordem do juiz, caso este registro não - Exercício de emprego público efetivo:
tenha sido feito em 8 dias (art. 91 da LRP). Deve-se dar a interpretação extensiva que
engloba também o cargo público e
c) Legal: assunção em função pública efetiva. Ex.
Decorre da lei, de um fato previsto em lei assunção de aluno da função pública de
na forma dos incisos I a V, parágrafo único aluno oficial da academia militar aos 17
do art. 5º do Código Civil. Pode ser pelo: anos.
- Casamento: O art. 1571 do Código Civil - Colação de grau em curso de ensino
estabelece que a idade mínima, em regra, é superior.
de 16 anos tanto para o homem quanto - Estabelecimento civil, empresarial ou
para as mulheres. Entre 16 e 18 anos relação de emprego, desde que o menor
precisa das autorizações dos tenha 16 anos completos e tenha economia
representantes legais e do juiz. própria: Economia própria é um conceito
O NCC em caráter excepcional admite o abstrato (cabe ao juiz preencher no caso
casamento abaixo dos 16 anos, na forma do concreto). Independência patrimonial.
art. 1520 (para efeitos de imposição e O estabelecimento civil é aquele que não é
cumprimento de pena criminal ou em caso empresarial. Em regra é aquele de
de gravidez). prestação de serviços.
O art. 107 do CP foi derrogado pela lei A grande novidade trazida pelo NCC é a
11.106/05 estabelecendo que o casamento relação de emprego. Com 16 anos a luz da
não é mais causa extintiva de punibilidade. Constituição Federal pode manter relação
Obs.: Apesar de a lei 11.106/05 haver de emprego. Abaixo disto apenas na
derrogado o art. 107 do CP, não mais condição de aprendiz a partir de 14 anos.
contemplando o casamento como causa Não depende de sentença que declare.
extintiva da punibilidade em crimes sexuais Há uma independência jurídica, pois
sem violência real, é razoável sustentar ainda que este menor perca o emprego
que, em havendo o matrimônio, a não retorna a situação de

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incapacidade. Caso contrário haveria a b) Sucessão Provisória.
consagração da insegurança jurídica. Decorrido um ano da arrecadação dos
bens do ausente (se ele não deixou
3. Extinção da Pessoa Natural: mandatário) ou decorridos três anos (se
Está prevista no art. 6º do NCC. Opera-se ele deixou procurador, mas este não quis
por meio da morte. A morte ou não pôde assumir), poderão os
tradicionalmente é interpretada como a interessados requerer que se declare a
cessação do aparelho cárdio-respiratório. ausência e se abra provisoriamente a
No entanto, a medicina tem preferido sucessão.
utilizar como marco da morte a morte Por cautela, cerca-se o legislador da
encefálica por ser irreversível. exigência de garantia da restituição dos
Na forma da Lei de registro Público (arts. 77 bens, nos quais os herdeiros se imitiram
a 88) a morte deve ser atestada por um provisoriamente na posse, mediante a
médico ou por duas testemunhas na apresentação de penhores ou hipotecas
impossibilidade do profissional. equivalentes aos quinhões respectivos,
A morte se subdivide em morte real ou valendo-se destacar, inclusive, que o § 1º
morte presumida. do art. 30 estabelece que aquele “que
A morte real é aquela atestada pelo médico tiver direito à posse provisória, mas
diante da analise do cadáver. Já a morte não puder prestar a garantia exigida
presumida pode ser: ausência (2a parte do neste artigo, será excluído, mantendo-
art. 6º) e a do art. 7º do Código Civil. se os bens que lhe deviam caber sob a
A ausência é quando o juiz declara a administração do curador, ou de outro
ausência e, conseqüentemente declara herdeiro designado pelo juiz, e que preste
aberta a sucessão definitiva dos seus bens, essa garantia”.
declarando-o presumidamente morto. Esta razoável cautela de exigência de
O NCC reconhece a ausência como uma garantia é excepcionada, porém, em
morte presumida, em seu art.6º, a partir do relação aos ascendentes,
momento em que a lei autorizar a abertura descendentes e o cônjuge, uma vez
de sucessão definitiva, consoante vimos em provada a sua condição de herdeiros (§ 2º
sala de aula. do art.30), o que pode ser explicado pela
Para se chegar a este momento, porém, um particularidade de seu direito, em função
longo caminho deve ser cumprido, como a dos outros sujeitos legitimados para
seguir veremos. requerer a abertura da sucessão provisória,
a) Curadoria dos Bens do Ausente. ao qual se acrescenta o Ministério Público,
A requerimento de qualquer por força do § 1º do art.28 do NCC
interessado direto ou mesmo do Em todo caso, a provisoriedade da sucessão
Ministério Público, será nomeado é evidente na tutela legal, haja vista que é
curador, que passará a gerir os negócios do expressamente determinado, por exemplo,
ausente até o seu eventual retorno. que os “imóveis do ausente só se
Na mesma situação se enquadrará aquele poderão alienar, não sendo por
que deixou mandatário, mas este último se desapropriação, ou hipotecar, quando o
encontra impossibilitado, física ou ordene o juiz, para lhes evitar a ruína”
juridicamente (quando seus poderes (art.31), bem como que “antes da partilha,
outorgados forem insuficientes), ou o juiz, quando julgar conveniente, ordenará
simplesmente não tem interesse em a conversão dos bens
exercer o múnus. Um aspecto de natureza processual da mais
Observe-se que esta nomeação não é alta significação, na idéia de preservação,
discricionária, estabelecendo a lei uma ao máximo, do patrimônio do ausente, é a
ordem legal estrita e sucessiva, no caso de estipulação, pelo art.28, do prazo de 180
impossibilidade do anterior, a saber: dias para produção de efeitos da
1) o cônjuge do ausente, se não estiver sentença que determinar a abertura da
separado judicialmente, ou de fato por mais sucessão provisória, após o que,
de dois anos antes da declaração da transitando em julgado, proceder-se-á à
ausência; abertura do testamento, caso existente, ou
2) pais do ausente (destaque-se que a ao inventário e partilha dos bens, como se o
referência é somente aos genitores, e não ausente tivesse falecido.
aos ascendentes em geral); Com a posse nos bens do ausente,
3) descendentes do ausente, preferindo os passam os sucessores provisórios a
mais próximos aos mais remotos; representar ativa e passivamente o
4) qualquer pessoa à escolha do ausente, o que lhes faz dirigir contra si
magistrado. todas as ações pendentes e as que de
futuro àquele foram movidas.

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Na forma do art. 33, os herdeiros foi voluntária e injustificada faz com
empossados, se descendentes, que o ausente perca, em favor do
ascendentes ou cônjuges terão direito sucessor provisório, sua parte nos
subjetivo a todos os frutos e frutos e rendimentos (art.33, parágrafo
rendimentos dos bens que lhe couberem, único). Em função, porém, da
o que não acontecerá com os demais provisoriedade da sucessão, o seu
sucessores, que deverão, reaparecimento faz cessar imediatamente
necessariamente, capitalizar metade todas as vantagens dos sucessores
destes bens acessórios, com prestação imitidos na posse, que ficam obrigados
anual de contas ao juiz competente. a tomar medidas assecuratórias
Se, durante esta posse provisória, precisas, até a entrega dos bens a seu
porém, se prova o efetivo falecimento titular (art.36).
do ausente, converter-se-á a sucessão Se a sucessão, todavia, já for
em definitiva, considerando-se ela aberta, definitiva, terá o ausente o direito aos
na data comprovada, em favor dos seus bens, se ainda incólumes, não
herdeiros que o eram àquele tempo. Isto, respondendo os sucessores havidos
inclusive, pode gerar algumas pela sua integridade, conforme se
modificações na situação dos herdeiros verifica no art. 39, nos seguintes termos:
provisórios, uma vez que não se pode “Art. 39. Regressando o ausente nos dez
descartar a hipótese de haver herdeiros anos seguintes à abertura da sucessão
sobreviventes na época efetiva do definitiva, ou algum de seus descendentes
falecimento do desaparecido, mas que ou ascendentes, aquele ou estes haverão
não mais estavam vivos quando do só os bens existentes no estado em
processo de sucessão provisória. que se acharem, os sub-rogados em
seu lugar, ou o preço que os herdeiros
e demais interessados houverem
c) Sucessão Definitiva.
recebido pelos bens alienados depois
Por mais que se queira preservar o
daquele tempo. Parágrafo único. Se, nos
patrimônio do ausente, o certo é que a
dez anos a que se refere este artigo, o
existência de um longo lapso temporal, sem
ausente não regressar, e nenhum
qualquer sinal de vida, reforça as fundadas
interessado promover a sucessão definitiva,
suspeitas de seu falecimento.
os bens arrecadados passarão ao domínio
Por isto, presumindo efetivamente o seu
do Município ou do Distrito Federal, se
falecimento, estabelece a lei o momento
localizados nas respectivas circunscrições,
próprio e os efeitos da sucessão definitiva.
incorporando-se ao domínio da União,
De fato, dez anos após o trânsito em
quando situados em território federal.”
julgado da sentença de abertura de
sucessão provisória, ela se converterá
Já o art. 7º do Código Civil fala das
em definitiva – o que, obviamente,
hipóteses onde existe procedimento de
dependerá de provocação da manifestação
justificação. Estas hipóteses não derivam
judicial para a retirada dos gravames
da ausência:
impostos – podendo os interessados
I. Se for extremamente provável a morte
requerer o levantamento das cauções
de quem estava em perigo de vida;
prestadas.
Esta plausibilidade maior do falecimento II. Se alguém desaparecido em
presumido é reforçado, em função da campanha ou feito prisioneiro não for
expectativa média de vida do homem, encontrado até 2 anos ao término da
admitindo o art. 38 a possibilidade de guerra.
requerimento da sucessão definitiva, A sentença declaratória do óbito, nas
“provando-se que o ausente conta hipóteses do art. 7º, tem o mesmo efeito de
oitenta anos de idade, e que de cinco uma certidão de óbito comum dissolvendo o
datam as últimas notícias dele”. patrimônio.
O que é comoriência? Traduz a idéia de
d) Retorno do Ausente morte simultânea. Está prevista no art. 8º
Admite a lei a possibilidade de o ausente do Código Civil e diz que quando duas ou
retornar. mais pessoas morrem na mesma situação
Se este aparece na fase de há o interesse do direito de precisar o
arrecadação de bens, não há qualquer momento da morte para efeitos
prejuízo ao seu patrimônio, continuando sucessórios, uma vez que Saisine diz que
ele a gozar plenamente de todos os seus havendo a morte há a transmissibilidade do
bens. patrimônio de forma imediata.
Se já tiver sido aberta a sucessão
provisória, a prova de que a ausência

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A regra da comoriência somente é aplicada Jurídica é apenas um organismo ou célula
na hipótese de não haver indicação da de atuação social.
ordem cronológica das mortes. A Teoria da Realidade Técnica fica no meio
Alguns Códigos Civis do mundo, como o das teorias supracitadas, sofre influência
Francês, estabelece algumas presunções das duas.
sobre a comoriência. É adotada pelo Código Civil Brasileiro e
O Direito Brasileiro presume que os sustenta que a Pessoa Jurídica seria um
comorientes são simultaneamente mortos. sujeito de direito com atuação social, mas a
Na prática, a presunção de morte sua personalidade seria conferida pela
simultânea significa a abertura de cadeias técnica jurídica.
sucessórias autônomas e distintas (de O art. 45 do Código Civil deixa clara a opção
maneira que nenhum dos comorientes pela teoria da realidade técnica:
herda do outro). “Art. 45 – Começa a existência legal das
A regra da comoriência aplica-se no pessoas jurídicas de direito privado
pagamento de indenização de seguro com a inscrição do ato constitutivo no
de vida (Agravo de Instrumento 598569 respectivo registro, precedida, quando
952- TJ RS). necessário, de autorização ou aprovação do
poder executivo, averbando-se no registro
Pessoa Jurídica: todas as alterações por que passar o ato
1. Introdução: constitutivo.
O homem é gregário por excelência. O Parágrafo único – Decai em três anos o
homem por razões sociais é gregário direito de anular a constituição das
porque tem a natural tendência em viver pessoas jurídicas de direito privado, por
em bando. O direito personifica esses defeito do ato respectivo, contado o prazo
bandos. da publicação e sua inscrição no registro.”
A Pessoa Jurídica em um primeiro enfoque Começa a existência legal da Pessoa
sociológico decorre do agrupamento Jurídica de direito privado com registro dos
humano (Orlando Gomes, Caio Mário, atos constitutivos. Os atos constitutivos
Machado Neto), tendo o direito podem ser contrato social ou estatuto.
personificado tais grupos para permitir a Em regra o registro é feito no Cartório
realização das suas finalidades. de Registro Civil da Pessoa Jurídica ou
A Pessoa Jurídica é um grupo humano na Juntas Comercial.
personificado. O caput do art. 45 faz ressalva: o registro
As fundações complementaram este em alguns casos será precedido de
conceito, apesar de não serem formados autorização do Poder Executivo (ex.
por agrupamentos humanos. Bancos).
Denominação da Pessoa Jurídica: Segundo o Caio Mário lembra que para essas pessoas
Código Civil da Argentina Pessoa Jurídica é que precisam autorização especifica do
ente de existência real. Poder Executivo, a ausência da
autorização torna a pessoa jurídica
2. Teorias Explicativas da Pessoa Jurídica inexistente.
(Natureza Jurídica): O registro público da Pessoa Jurídica é
Subdividem-se em duas correntes: constitutivo com efeitos “ex nunc”.
Negativistas e Afirmativistas. Não é meramente declaratório. Não se
As Negativistas negam a Pessoa Jurídica adotou a teoria da realidade objetiva, mas
como sujeitos de direito. Autores sim a da realidade técnica.
negativistas: Brinz, Planiol, Ihering e Duguit. Enquanto não houver registro a sociedade é
Os seus argumentos são que a Pessoa despersonificada, que a doutrina clássica
Jurídica não seria sujeito de direito e sim (Valdemar Ferreira) costuma chamar de
condomínio. Outros diziam que era grupo sociedade irregular ou de fato.
de pessoas físicas reunidas. Estas teorias Sociedade irregular é diferente de
não conviveram. sociedade de fato. A sociedade de fato
As afirmativistas são três e todas diziam nem atos constitutivos possui. A
que a Pessoa Jurídica é sujeito de direito, irregular tem atos constitutivos, mas
mudando apenas os argumentos. São elas: eles não foram registrados. O art. 986
A Teoria da Ficção afirma que a Pessoa do Código Civil diz que as sociedades sem
Jurídica seria um sujeito de direito com registro são tratadas como sociedades
existência apenas ideal. irregulares.
A Teoria da Realidade Objetiva diz que a Nas sociedades irregulares ou de fato
Pessoa Jurídica é sujeito de direito. É uma todos os sócios respondem pessoal e
teoria organicista, sociológica. A Pessoa ilimitadamente pelos débitos sociais

8
(art. 990). Essas sociedades irregulares atingir o sócio fraudador. Acontece
podem figurar no pólo passivo. freqüentemente quando o cônjuge coloca
todos os seus bens no nome da Pessoa
3. Breve drama existencial do art. 2031 Jurídica visando a fraudar a meação.
do Código Civil:
O Código Civil mudou as regras dos Aula 03
associados, sociedades, fundações e Data: 01/03/07
empresários individuais. Abriu-se então o
prazo de 1 ano para estes se adequarem ao 5. Desconsideração da Pessoa
Novo Código Civil. Jurídica- Parte II:
Este artigo mais tarde sofreu algumas Sustenta o afastamento temporário da
mudanças. (VER ESTE TÓPICO NO personalidade jurídica. A 1a lei que cuidou
MATERIAL DE APOIO). do assunto foi o CDC, em seu art. 28.
Quem não se adaptou ao Código Civil? O Código Civil/16 não tratava do assunto. O
A Pessoa Jurídica que não se adaptou NCC tratou no art. 50. Assim, em relação
se tornou irregular, o que significa de consumo aplica o CDC e nas demais
impossibilidade de concessão de relações aplica-se o NCC.
crédito, impossibilidade de Os Fundamentos são a inadimplência e
participação em licitação e o Abuso nos casos de desvio de
possibilidade de responsabilização dos finalidade ou confusão Patrimonial.
sócios. Desvio de finalidade ocorre quando
determinada pessoa jurídica é constituída
4. Desconsideração da Personalidade para um fim e está sendo utilizada para
Jurídica- Parte I outro fim.
“Disregard Doctrine”- Esta doutrina foi Na doutrina brasileira este tipo de
desenvolvida a partir de um precedente desconsideração que exige, além da
britânico- Aron Salomon X Salomon Co. A insolvência da pessoa jurídica, outro
partir daí, doutrinadores como Rolf Serick fundamento legal, é chamado de Teoria
(Alemanha), Peiro (Itália) e Rubens Requião Maior da Desconsideração.
(Brasil) a consagraram. Observa-se que no direito do
Desconsideração é diferente de consumidor e no direito ambiental foi
despersonificação. A despersonificação é a adotada a Teoria Menor da
medida mais grave porque implica o Desconsideração, bastando que se
aniquilamento da Pessoa Jurídica. Significa prove que a empresa é insolvente.
extingui-la, cancelar a Pessoa Jurídica. Para a teoria menor, o risco empresarial
A teoria da desconsideração da Pessoa normal às atividades econômicas não
Jurídica pretende não a sua pode ser suportado pelo terceiro que
aniquilação, mas sim, o afastamento contratou com a pessoa jurídica, mas
temporário da personalidade jurídica, o sim pelos sócios e/ou administradores
afastamento temporário da personalidade desta, ainda que estes demonstrem
jurídica das entidades, em caso de abuso, conduta administrativa proba, isto é,
para permitir que os credores lesados mesmo que não exista qualquer prova
satisfaçam os seus direitos no patrimônio capaz de identificar conduta culposa ou
pessoal do sócio ou administrador. dolosa por parte dos sócios e/ou
Desconsideração também é diferente de administradores da pessoa jurídica.
responsabilidade pessoal dos sócios Obs.: O NCC, em seu art. 50, ao tratar
subsidiária. Neste ultimo não se tem da teoria da desconsideração, adotou
desconsideração, e sim ultra vires concepção objetivista, por influência do
societatis (responsabilidade subsidiaria). A pensamento de Fábio Konder Comparato
desconsideração pressupõe abuso. (obra: “O Poder de Controle na Sociedade
O Código Civil de 16 não previu a doutrina Anônima”, editora Forense). Ou seja,
da desconsideração da Pessoa Jurídica. A 1º quando o juiz desconsidera a
vez que houve previsão a respeito foi o CDC personalidade jurídica, não precisa
no art. 28. Também podemos citar a lei verificar o dolo específico do sócio-
Anti-truste (lei 8884/94) e a lei ambiental(lei administrador [há um menor grau de
9605/98). subjetividade].
O Novo Código Civil consagrou a doutrina Obra específica da desconsideração de
da desconsideração da personalidade personalidade jurídica: “O Novo Direito
jurídica no art. 50. Societário” de Calisto Salomão Filho.
O que é desconsideração inversa da A jurisprudência tem admitido a
Pessoa Jurídica? O juiz atinge o desconsideração incidental da pessoa
patrimônio da sociedade visando jurídica. Significa que a

9
desconsideração, uma vez respeitada o A associação tem como ato
devido processo constitucional, prescinde constitutivo o seu Estatuto, cujos
de ação autônoma (RO/Mandado de requisitos estão no art. 54 do NCC. É o ato
Segurança 14168/SP e RESP 332763/SP). A normatizador da associação.
desconsideração pode se dar no bojo de De acordo com o Novo Código Civil, o
qualquer processo: uma execução, no estatuto das associações conterá, sob
caso de uma liminar, com contraditório pena de nulidade (art.54):
posterior, e, inclusive, em um processo I - a denominação, os fins e a sede da
falimentar. associação;
O projeto 2426/03 visa a regulamentar a II - os requisitos para a admissão,
desconsideração da pessoa jurídica. Este demissão e exclusão dos associados;
projeto aduz que a desconsideração será III - os direitos e deveres dos associados;
aplicada em qualquer instancia ou juízo e IV - as fontes de recursos para sua
que se deve desconsiderar a pessoa manutenção;
jurídica direcionando ao sócio que V - o modo de constituição e
cometeu o ato abusivo ou a quem se funcionamento dos órgãos
beneficiou dele. deliberativos e administrativos;
V – o modo de constituição e de
6. Espécies de Pessoa Jurídica de funcionamento dos órgãos deliberativos;
Direito Privado (art. 44 do NCC): (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
O enunciado nº 144 das Jornadas de Direito VI - as condições para a alteração das
Civil (postulados doutrinários) dispõe que o disposições estatutárias e para a
rol de pessoas jurídicas do art. 44 não dissolução.
é exaustivo. São elas: VII – a forma de gestão administrativa e
- Associações: de aprovação das respectivas contas.
- Sociedades: (Incluído pela Lei nº11.127, de 2005)
- Fundações: Art. 55. Os associados devem ter iguais
- Organizações religiosas: direitos, mas o estatuto poderá
Acrescentado pela lei 10825. instituir categorias com vantagens
- Partidos Políticos: especiais.
Acrescentado pela lei 10825. Art. 56. A qualidade de associado é
As organizações religiosas e os intransmissível, se o estatuto não
partidos políticos, embora possam ser dispuser o contrário.
considerados, teoricamente, como Parágrafo único. Se o associado for titular
entidades associativas, foram de quota ou fração ideal do patrimônio da
destacados do conceito de associação associação, a transferência daquela não
pela Lei n. 10825/2003. importará, de per si, na atribuição da
qualidade de associado ao adquirente ou
a. Associações: ao herdeiro, salvo disposição diversa do
São entidades de direito privado, formadas estatuto.
pela união de indivíduos com o propósito O órgão máximo de uma associação é a
de realizarem fins não econômicos. Assembléia Geral, cuja competência
É uma entidade corporativa, por ser uma privativa está no art. 59 do Código Civil:
união de pessoas e sua característica destituir administradores e alterar o
teleológica de uma finalidade ideal (não estatuto. Este estatuto é registrado,
econômica). para que a associação adquira
O fato de uma associação não ter lucro personalidade jurídica, no Cartório de
não implica que ela não produza Registro Civil de Pessoa Jurídica.
renda. Só que esta renda é investida O art. 57 trouxe a exclusão de associado,
nela mesma. quando houver justa causa (conceito
As associações foram minuciosamente aberto, à luz do Princípio da Operabilidade
disciplinadas a partir do art. 53 do NCC. deve ser preenchido no caso concreto),
Não há entre os associados direitos reconhecida em procedimento que
recíprocos. assegure direito de defesa e de
O sindicato e as centrais sindicais têm recurso, nos termos previstos no Estatuto.
natureza associativa, consoante Caso uma associação seja dissolvida, o seu
reafirmado no enunciado 142 das jornadas patrimônio líquido poderá ser destinado a
de direito civil. outras entidades de fins não
Não cabe Mandado de Segurança econômicos, designadas no Estatuto,
contra ato de dirigente sindical, uma ou sendo omisso o Estatuto, os bens
vez que o sindicato é ente de direito podem ser arrecadados pela Fazenda
privado.

10
Pública, nos termos do art 61 [Os bens sociedades simples e toda sociedade
não são rateados entre os associados]. anônima é empresária.
Observa-se que continua em vigor a lei n.º
b. Sociedades: 5764/71, pois o NCC só trouxe regramentos
É matéria de Direito Empresarial, gerais referentes às cooperativas (arts.
estando disciplinada no Livro II, Título II: do 1093 a 1096).
Direito de Empresa. A cooperativa possui Estatuto (apesar
A doutrina comercial, a exemplo de Haroldo de ser uma sociedade). Entretanto, há uma
Vergosa, criticou o Código Civil alegando polêmica: o registro de uma cooperativa
que a matéria de direito empresarial não deve ser feito no Cartório de Registro de
poderia estar aí situada, uma vez que Pessoa Jurídica (como dispõe o CC), ou na
inviabilizará as mudanças de acordo com as Junta Comercial (como dispõe a lei
condições econômicas. 8934/94)? A opinião de Pablo é que
A sociedade, espécie de corporação, prevalece o CC, e o registro é no CRPJ.
dotada de personalidade jurídica própria, é Texto complementar no site: www.
instituída com o propósito de exercer jus.com.br, texto “As sociedades no NCC”.
atividade econômica e partilhar lucros. A sociedade entre cônjuges é lícita? O NCC
As sociedades são compostas de sócios traz, no art. 977, uma norma proibitiva
[não de associados] e seu ato das sociedades entre cônjuges nos
constitutivo é o Contrato Social [não o casos de regime da comunhão
estatuto, em regra], regulado pelo art. universal de bens ou de separação
981 e ss. obrigatória. O legislador nestes casos
O art. 982, refletindo a moderna teoria da supõe que haverá fraude ao regime de
empresa (comerciante substituído pelo bens. Para Pablo esta norma é
empresário), passou a dividir em inconstitucional por vulnerar os Princípios
sociedades simples e empresárias. da livre iniciativa, que também sustenta a
Pode-se dizer que, em linhas gerais, as ordem econômica, e o da Isonomia, já que
sociedades empresárias englobam as as pessoas estão sendo discriminadas, por
mercantis e as simples englobam as uma presunção de fraude. Fraudes não
civis. Todavia não existe propriamente podem ser presumidas têm que ser
uma identidade, mas sim uma semelhança. provadas.
Sociedades empresárias têm por Esta norma, segundo Pablo, não pode
objeto o exercício de atividade própria atingir sociedades anteriores, porque não
de empresário, sujeita a registro no se pode atingir um ato jurídico perfeito.
Registro Público de empresa (Junta O Departamento Nacional de Registro do
comercial), salvo as exceções legais. O Comércio, neste sentido, publicou uma
conceito de sociedade simples no NCC parecer jurídico n.º 125/03, afirmando que
se dá por exclusão. o art. 977 não atinge sociedades entre
Atividade típica de empresário, por sua cônjuges anteriores ao NCC.
vez, é, na forma do art. 966, aquela
atividade organizada que conjuga c. Fundações:
capital, trabalho, tecnologia e matéria Bibliografia para Ministério Público: “O
prima na produção de bens ou de Ministério Público e as Fundações de Direito
serviços. Privado”, de Lincol de Castro, Editora
As sociedades simples são aquelas que Freitas Bastos.
não realizam atividade empresarial
e/ou não têm registro na Junta 2.3.1 Conceito:
Comercial. Em gral, são prestadoras de As fundações resultam da afetação de um
serviços. As sociedades de advogados, patrimônio, por Testamento ou
por exemplo, jamais serão sociedade Escritura Pública, visando à realização de
de empresária, já que seu registro, por uma finalidade não econômica.
previsão legal, é na OAB. Tem uma característica muito próxima às
Qual a natureza jurídica das cooperativas? associações, qual seja, a finalidade ideal
Segundo Mariagela Monezi, as cooperativas (não lucrativa).
são sociedades em que as pessoas se Os bens afetados têm que ser livres e
obrigam a contribuir com bens ou serviços desimpedidos. As fundações podem ser
para o exercício de atividade econômica para fins religiosos, morais, culturais ou de
sem específico propósito de lucro. A idéia assistência, segundo o Código Civil.
geral é que nas cooperativas há uma O enunciado n.º 8 das Jornadas de Direito
divisão de ônus e encargos. No NCC as Civil conclui que as fundações
cooperativas são tratadas como cientificas, educacionais ou de
promoção do meio ambiente estão

11
compreendidas também no parágrafo - Aprovação de uma alteração
único do art. 62. do Estatuto.
O art. 67 e o art. 68 cuidam da alteração
2.3.2 Etapas para Constituição de uma do Estatuto de uma fundação. O art. 67
Fundação: exige que a reforma tem que ser
1a Afetação de bens livres e deliberada por 2/3 dos competentes
desimpedidos; para gerir e representar a fundação; a
2a A criação da entidade somente pode alteração não pode desvirtuar ou contrariar
se dar por Testamento ou Escritura a finalidade da fundação e precisa haver a
Pública (art.62 do NCC); aprovação do Ministério Público ou, caso ele
3a. Elaboração de um Estatuto. Este denegue, do juiz.
estatuto, segundo o art.65, pode ser A minoria vencida dos conselheiros
elaborado pelo seu instituidor (forma pode impugnar a alteração do estatuto
direta), ou por pessoa por ele designada no prazo de 10 dias, a partir da ciência
(forma indireta ou fiduciária). Se esta da alteração. [Esse prazo é decadencial].
pessoa não assim fizer, no prazo assinado O art. 69 cuida do destino do patrimônio da
pelo instituidor, ou não havendo prazo, o de fundação extinta. Incorporar-se-á, salvo
180 dias, o Ministério Público irá elaborá-lo. disposição em contrario no estatuto, em
Este último caso é excepcional. outra fundação com mesma finalidade.
3a Aprovação do Estatuto pelo
Ministério Público; 6. Extinção da Pessoa Jurídica.
4a Registro do Estatuto no Cartório de A dissolução da pessoa jurídica, segundo
Registro de Pessoa Jurídica. Somente classificação consagrada na doutrina,
com este registro a fundação passa a ter poderá ser :
existência jurídica. a) convencional;
b) administrativa;
2.3.3 Ministério Público e as Fundações: c) judicial.
- Ministério Público pode,
subsidiariamente, ser chamado Domicílio:
para fazer o Estatuto; 1. Conceito:
- Aprova o Estatuto; “Domus” em Roma significava casa, lugar
- É o órgão fiscalizador das do lar. É importante fixar o domicilio, pois é
fundações no Brasil. Segundo neste local que a pessoa costumeiramente
o CC, se as fundações é encontrada e será demandada.
estenderem as atividades Para entender o conceito de domicilio tem
por mais de um Estado, que se diferenciar domicilio, morada e
caberá o encargo, em cada residência:
um deles, ao respectivo A morada é uma estadia. É o lugar em que
Ministério Público. Atuando a pessoa se fixa temporariamente. Já a
no DF ou Território, quem residência é o lugar em que a pessoa é
fiscaliza seria o Ministério encontrada com habitualidade. Em outras
Público Federal, nos termos do palavras, a residência tem uma estabilidade
CC. que a morada não tem.
CESPE: O DF tem seu próprio Ministério O Domicílio é mais que a residência, uma
Público. O Conselho Nacional do Ministério vez que, a lei dá além estabilidade ou
Público ajuizou a ADIN 2794 para declarar a fixidez, deve haver um elemento
inconstitucionalidade do parágrafo 1º do psicológico: o animus definitivo de
art. 66 do Código Civil, alegando a ficar, transformando aquele local em
usurpação da atribuição constitucional do centro de sua vida jurídica. Está previsto
Ministério Público do Distrito Federal. Esta no art. 70 do Código Civil.
ADIN foi julgada procedente no dia O direito brasileiro segue o sistema
14/12/06. [Portanto, no DF, quem germânico, podendo uma pessoa ter
fiscaliza a regularidade das fundações mais de um domicilio. Se a pessoa tiver,
de direito privado será o MPDFT, e não alternativamente, mais de um domicílio,
o MPF, como aparentemente disposto para efeitos legais e inclusive processuais,
no CC. O MPF só fiscaliza – qualquer que será considerado seu domicílio qualquer
seja o Estado ou DF – se for uma fundação uma destas localidades.
pública federal, com recursos públicos O que é domicílio profissional? Está previsto
federais, e exclusivamente no que tange a no art. 72 do Código Civil, e é assim
supostas irregularidades na gestão desses considerado, para certos efeitos, aquele
recursos]. lugar onde a pessoa física exerce sua
atividade profissional.

12
O ministro Moreira Alves, em sua obra É aquele imposto por lei (art. 76 do Código
Comentários a Parte Geral, diz que este Civil).
artigo recebeu influencia do art. 84 do Incapaz: o de seu representante ou
Código de Portugal, que limita este assistente;
domicílio às relações profissionais Servidor público: onde exerce
correspondentes. permanentemente suas funções (função ou
Assim, o domicílio profissional não é um cargo efetivo);
domicílio geral, estando limitado aos Marítimo (particular) onde seu navio estiver
efeitos da profissão. registrado;
Se a pessoa exercitar profissão em Militar, onde está a servir, se for do
lugares diversos, cada um deles será exército. Se for da marinha ou da
considerado para as relações aeronáutica, é o local onde estiver
correspondentes. imediatamente subordinado;
O art. 74 trata da mudança de domicílio: Preso: onde estiver cumprindo pena. O
muda-se o domicílio transferindo-se a Código Civil prevê que se deve nomear um
residência com a manifesta intenção de curador para defender os interesses do réu
mudar. A prova da intenção resultará do preso.
que a pessoa declarar às municipalidades Art. 77. O agente diplomático do Brasil,
ou das circunstâncias da mudança. que, citado no estrangeiro, alegar
O art. 73 cuida do denominado extraterritorialidade sem designar
domicílio aparente ou ocasional. Este onde tem, no país, o seu domicílio,
último possui uma teoria desenvolvida pelo poderá ser demandado no Distrito
civilista belga Henri de Page. É uma ficção Federal ou no último ponto do
jurídica para pessoas que não têm o território brasileiro onde o teve.
domicílio certo, que são consideradas,
portanto, domiciliadas no lugar em que 3.3 De eleição:
forem encontradas. São exemplos os É aquele fixado por acordo de vontades no
profissionais do circo, caixeiros viajantes próprio negócio jurídico (art. 78 do Código
etc. É a chamada Teoria da Aparência. Civil e 111 do CPC).
Se este domicílio vier previsto em um
2. Domicílio da Pessoa Jurídica: contrato de adesão, especialmente de
Da União: DF; consumo, pode esta cláusula ser
Dos Estados: As capitais; considerada nula.
Dos municípios: Local onde funcione a A cláusula de eleição de foro prejudicial ao
administração municipal; consumidor, hipossuficiente na relação
Das demais pessoas jurídicas de direito jurídica (hipossuficiência pode ser
privado: Em regra está fixado no contrato econômica, técnica ou jurídica), tem sido
social ou estatuto. Se estes não considerada pelo STJ nula de pleno direito,
dispuserem, será o lugar onde funcionarem admitindo-se o seu reconhecimento de
as respectivas administrações: ofício (AG n.º 455965/MG; RESP 201.195/SP;
A súmula 363 do STF diz que a pessoa e RESP 121.796/MG).
jurídica de direito privado pode ser O CPC, por sua vez, adota a mesma linha
demandada no domicílio da agência favorável ao aderente e o juiz declarará de
em que praticou o ato. ofício a incompetência, declinando o
O CDC tem regras próprias e diz que se o processo para o domicílio do réu.
ato referir-se a um consumidor, a .
pessoa jurídica pode ser demandada Aula 04
no domicílio do consumidor. Data: 08/03/07

3. Espécies de Domicílio Bens Jurídicos:


3.1 Voluntário: 1. Conceito:
Fixado por ato de vontade. É o comum, o Orlando Gomes entende que bem é gênero
geral. e coisa é espécie. Maria Helena Diniz e
Qual a natureza do ato de fixação do Silvio Venosa, contrariamente, entendem
domicílio voluntário? Ato jurídico stricto que o conceito de coisa, por ser mais
sensu [A vontade está apenas em escolher extenso, abrange o de bens. Já Washington
praticar o ato, mas não em escolher as de Barros Monteiro acredita que pode haver
conseqüências que advirão desse ato, pois uma sinonímia.
essas conseqüências já estão estipuladas Bem jurídico é toda utilidade física ou
em lei]. ideal, que seja objeto de um direito
subjetivo. Assim, os bens podem ser
3.2 Legal ou Necessário: corpóreos ou ideais, mas o vocábulo

13
coisa é reservado apenas às utilidades provenientes da demolição de algum
físicas, materiais. prédio.
Obs.: O que é patrimônio jurídico? Em um
Bens fungíveis – são aqueles que podem ser
sentido clássico o patrimônio seria apenas a
substituídos por outros da mesma espécie,
representação econômica da pessoa; já em
qualidade e quantidade (dinheiro).
um sentido mais moderno, compreenderia,
Bens infungíveis – por sua vez, são aqueles
além das relações econômicas, os direitos
de natureza insubstituível. Exemplo: uma
da personalidade (patrimônio moral).
obra de arte.
Esta última tese é defendida por Carlos
No Código Civil:
Alberto Bitta, Cleyntom Reis, Augusto
Art. 85. São fungíveis os móveis que podem
Zenun, Rodolfo Pamplona Filho.
substituir-se por outros da mesma espécie,
A natureza jurídica do patrimônio é
qualidade e quantidade.
uma universalidade de direitos.
Bens consumíveis – são os bens móveis
A corrente preponderante, influenciada por
cujo uso importa destruição imediata da
Clóvis Belviláqua, é no sentido de que cada
própria substância, bem como aqueles
pessoa tem um único patrimônio, ainda que
destinados à alienação (um sanduíche).
os bens tenham origens diversas.
Bens inconsumíveis – são aqueles que
suportam uso continuado (um avião).
2. Revisão de alguns conceitos
No Código Civil:
básicos:
Art. 86. São consumíveis os bens móveis
BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS
cujo uso importa destruição imediata da
Bens imóveis – são aqueles que não podem
própria substância, sendo também
ser transportados de um lugar para outro
considerados tais os destinados à
sem alteração de sua substância (um
alienação.
terreno).
Bens divisíveis – são os que se podem
Bens móveis – são os passíveis de
repartir em porções reais e distintas,
deslocamento, sem quebra ou fratura (um
formando cada uma delas um todo perfeito
computador, v.g.). Os bens suscetíveis de
(uma saca de café).
movimento próprio, enquadráveis na noção
Bens indivisíveis – não admitem divisão
de móveis, são chamados de semoventes
cômoda sem desvalorização ou dano (um
(um cachorro, v.g.).
cavalo).
No Código Civil:
No Código Civil:
Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo
Art. 87. Bens divisíveis são os que se
quanto se lhe incorporar natural ou
podem fracionar sem alteração na sua
artificialmente.
substância, diminuição considerável de
Art. 80. Consideram-se imóveis para os
valor, ou prejuízo do uso a que se destinam.
efeitos legais:
Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis
I – os direitos reais sobre imóveis e as ações
podem tornar-se indivisíveis por
que os asseguram;
determinação da lei ou por vontade das
II – o direito à sucessão aberta.
partes.
Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:
Bens singulares – são coisas consideradas
I – as edificações que, separadas do solo,
em sua individualidade, representadas por
mas conservando a sua unidade, forem
uma unidade autônoma e, por isso, distinta
removidas para outro local;
de quaisquer outras (um lápis, um livro).
II – os materiais provisoriamente separados
Bens coletivos ou universalidades – são
de um prédio, para nele se reempregarem.
aqueles que, em conjunto, formam um todo
Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de
homogêneo (universalidade de fato – um
movimento próprio, ou de remoção por
rebanho, uma biblioteca; universalidade de
força alheia, sem alteração da substância
direito – o patrimônio, a herança).
ou da destinação econômico-social.
No Código Civil:
Art. 83. Consideram-se móveis para os
Art. 89. São singulares os bens que, embora
efeitos legais:
reunidos, se consideram de per si,
I – as energias que tenham valor
independentemente dos demais.
econômico;
Art. 90. Constitui universalidade de fato a
II – os direitos reais sobre objetos móveis e
pluralidade de bens singulares que,
as ações correspondentes;
pertinentes à mesma pessoa, tenham
III – os direitos pessoais de caráter
destinação unitária.
patrimonial e respectivas ações.
Parágrafo único. Os bens que formam essa
Art. 84. Os materiais destinados a alguma
universalidade podem ser objeto de
construção, enquanto não forem
relações jurídicas próprias.
empregados, conservam sua qualidade de
móveis; readquirem essa qualidade os

14
Art. 91. Constitui universalidade de direito o utilização do bem jurídico principal (ex.: a
complexo de relações jurídicas, de uma lâmpada em relação ao lustre).
pessoa, dotadas de valor econômico. Obs.: Não se consideram benfeitorias sem a
BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS intervenção do proprietário ou possuidor,
Principal - é o bem que existe sobre si, ou seja, toda benfeitoria é artificial.
abstrata ou concretamente (a árvore em Benfeitoria é diferente de acessão. A
relação ao fruto). benfeitoria é sempre uma reforma realizada
na coisa principal, não visa a aumentar o
Acessório – é o bem cuja existência supõe a
volume da coisa principal e toda benfeitoria
do principal (fruto em relação à árvore)
é sempre artificial. Já acessão visa a
São bens acessórios:
aumentar o volume da coisa principal,
A) os frutos – trata-se das utilidades
sendo disciplinada a partir do art. 1268 do
renováveis, ou seja, que a coisa principal
Código Civil. Acessão é um modo de
periodicamente produz, e cuja percepção
aquisição de propriedade imobiliária,
não diminui a sua substância (café, soja,
devendo ser registrada no Cartório
laranja).
Imobiliária e, diferentemente das
Classificam-se em:
benfeitorias, podem ser naturais, a exemplo
Quanto à sua natureza:
da avulsão.
a) naturais – são gerados pelo bem principal
BENS PÚBLICOS E PARTICULARES
sem necessidade da intervenção humana
Quanto ao titular do domínio, os bens
direta (laranja, café);
poderão ser públicos (uso comum do povo,
b) industriais – são decorrentes da atividade
uso especial e dominiais) ou particulares.
industrial humana (bens manufaturados);
Os bens públicos são estudados pelo Direito
c) civis – são utilidades que a coisa frugífera
Administrativo.
periodicamente produz, viabilizando a
No Código Civil:
percepção de uma renda (juros, aluguel).
Art. 98. São públicos os bens do domínio
Quanto à ligação com a coisa principal:
nacional pertencentes às pessoas jurídicas
a) colhidos ou percebidos – são os frutos já
de direito público interno; todos os outros
destacados da coisa principal, mas ainda
são particulares, seja qual for a pessoa a
existentes;
que pertencerem.
b) pendentes – são aqueles que ainda se
Art. 99. São bens públicos:
encontram ligados à coisa principal, não
I - os de uso comum do povo, tais como
tendo sido, portanto, destacados;
rios, mares, estradas, ruas e praças;
c) percipiendos – são aqueles que deveriam
II - os de uso especial, tais como edifícios ou
ter sido colhidos mas não o foram;
terrenos destinados a serviço ou
d) estantes – são os frutos já destacados,
estabelecimento da administração federal,
que se encontram estocados e
estadual, territorial ou municipal, inclusive
armazenados para a venda;
os de suas autarquias;
e) consumidos: que não mais existem;
III - os dominicais, que constituem o
patrimônio das pessoas jurídicas de direito
B) os produtos – trata-se de utilidades não-
público, como objeto de direito pessoal, ou
renováveis, cuja percepção diminui a
real, de cada uma dessas entidades.
substância da coisa principal (carvão
Parágrafo único. Não dispondo a lei em
extraído de uma mina esgotável).
contrário, consideram-se dominicais os
C) os rendimentos - são frutos civis, como
bens pertencentes às pessoas jurídicas de
os juros e o aluguel.
direito público a que se tenha dado
D) as pertenças – trata-se das coisas que,
estrutura de direito privado.
sem integrarem a coisa principal, facilitam
Art. 100. Os bens públicos de uso comum
a sua utilização, a exemplo do aparelho de
do povo e os de uso especial são
ar condicionado (art. 93 do CC).
inalienáveis, enquanto conservarem a sua
E) as benfeitorias – trata-se de toda obra
qualificação, na forma que a lei determinar.
realizada pelo homem na estrutura de uma
Art. 101. Os bens públicos dominicais
coisa, com o propósito de conservá-la
podem ser alienados, observadas as
(benfeitoria necessária – ex.: reforma em
exigências da lei.
uma viga), melhorá-la (benfeitoria útil –
Art. 102. Os bens públicos não estão
abertura do vão de entrada da casa) ou
sujeitos a usucapião.
embelezá-la (benfeitoria voluptuária – uma
Art. 103. O uso comum dos bens públicos
escultura talhada na parede de pedra do
pode ser gratuito ou retribuído, conforme
imóvel). Vide arts. 96 e 97 do CC.
for estabelecido legalmente pela entidade a
P) as partes integrantes – integram a coisa
cuja administração pertencerem.
principal de maneira que a sua separação
prejudicará a fruição do todo, ou seja, a
3. Bem de Família:

15
3.1 Histórico: houver fraude nesta instituição, os credores
O referencial histórico mais importante é o podem impugnar o ato. Agora para evitar
Homestead Act, do direito Texano. Foi uma esta fraude o Código Civil criou um limite
lei de 26/01/1`839 com a mesma idéia do de valor para o bem de família
bem de família que foi inaugurado no voluntário. Limite este que será de 1/3 do
Código Civil de 1916. patrimônio líquido dos instituidores
O Homestead Act era a impenhorabilidade (art. 1711).
por dívidas futuras do bem de família. Como se fará a fiscalização do respeito a
No Código Civil atual o bem de família foi este teto? No ato da constituição o
tratado na parte do Direito de família, ao instituidor deverá declarar, sob as penas
ver de Pablo erroneamente, uma vez que o das leis civis e criminais, que há o respeito
intuito do bem de família é proteger a ao teto. Se ele mentir, poderá responder
dignidade da pessoa humana. por falsidade ideológica e o ato poderá ser
Na teoria do patrimônio mínimo, pode-se invalidado.
dar o exemplo do bem de família, que O legislador ao regular o bem de família
protege este mínimo para dignidade da voluntário admitiu, inovando, que, na sua
pessoa humana. [Estatuto Jurídico do instituição, o instituidor pudesse afetar
Patrimônio Mínimo, de Luiz Edson Facchin]. rendas ou valores mobiliários. (art.1712).
Assim, a lei admite que na mesma
3.2 Espécies: escritura que há a instituição do bem
a) Voluntário (arts 1911 e ss do de família, afetem-se rendas e valores
Código Civil): mobiliários que servirão para
b) Legal (lei 8009/90): mantença deste bem, possibilitando uma
fraude, passível de impugnação pelos
3.3 Bem de Família Voluntário: respectivos credores.
3.2.1 Conceito: Obs.:Vale lembrar que o STJ em diversos
Bem de família voluntário, regulado a partir julgados (RESP 315.979/RJ e RESP
do art. 1911 do Código Civil, é aquele 439.920/SP) tem admitido, inclusive, que a
instituído no Cartório Imobiliário pelo casal, renda produzida por imóvel residencial
pela entidade familiar ou por terceiro, alugado também merece proteção
visando à proteção de imóvel jurídica em face das normas do bem de
residencial ou de valores mobiliários a família. Assim, a renda produzida pelo bem
ele concernentes. também possui proteção.
É instituído por ato de vontade. Nada O bem de família voluntário é
impede de haver uma doação com a administrado na forma do art. 1720,
instituição do bem como sendo de família. competindo, em regra, a ambos
cônjuges/companheiros. Com o
3.2.2 Efeitos: falecimento, competirá ao filho mais
Implica uma impenhorabilidade limitada velho, ou a seu tutor.
(art. 1715) e uma inalienabilidade relativa
(art. 1717). 3.2.3 Extinção:
A impenhorabilidade limitada significa Os arts. 1721 e 1722 aduzem que se
que do dia da instituição do bem para o extingue o bem de família voluntário
futuro este bem de família se torna com a morte de ambos os cônjuges,
impenhorável por dívida de qualquer com todos os filhos maiores, desde
natureza (efeito ex nunc). É a regra geral. que não estejam sujeitos as curatelas.
Esta impenhorabilidade é limitada, pois
alguns tipos de dívida derrubam o bem 3.4 Bem de Família Legal:
de família, admitindo a penhora do imóvel, 3.4.1 Conceito:
a exemplo das despesas de condomínio Diferentemente do voluntário, o bem de
e dívidas tributárias relativas ao família legal, regulado pela lei 8009/90,
imóvel (IPTU, ITR). dispensa a inscrição cartorária. De
Já a inalienabilidade relativa refere-se a modo que a impenhorabilidade do
impossibilidade de alienação. É uma patrimônio decorre diretamente da lei e
impossibilidade relativa, uma vez que em não possui o teto legal de 1/3 do
algumas circunstâncias é possível sua patrimônio líquido.
alienação, com autorização dos A proteção do bem de família legal será
interessados e, eventualmente, se sempre o de menor valor, a não ser
houver incapazes, com autorização do que a pessoa tenha inscrito o de maior
Ministério Público. valor como bem de família voluntário.
A pessoa pode instituir o bem de família
com o objetivo de fraudar credores e se

16
Se a pessoa inscrever como bem de família da residência, que são da sua
voluntário, há uma sobreposição das propriedade.
normas. A lei 8009/90 só traz um critério geral sobre
os bens móveis no art. 2º, excluindo os
3.4.2 Extensão (art. 1º da lei 8009/90): veículos de transporte, adornos
Não responde por qualquer tipo de dívida suntuosos e as obras de arte.
contraída pelos cônjuges, ou pelos pais ou Alguns exemplos de bens móveis
filhos que sejam seus proprietários, salvo as protegidos pela jurisprudência do STJ são
exceções legais (impenhorabilidade televisão, computador, geladeira e freezer,
limitada). ar condicionado, antena parabólica, e já
A impenhorabilidade, como dispõe o art. 3° houve proteção até de um teclado musical.
da Lei n. 8009/90, é oponível em qualquer Com o escopo socializante o STJ editou a
processo de execução civil, fiscal, súmula 205 admitindo a aplicação da lei
previdenciária, trabalhista, ou de outra 8009/90 mesmo para penhoras
natureza, salvo se movido (exceções à realizadas antes da sua vigência. Ou
impenhorabilidade legal): seja, admitiu a aplicação retroativa da
- em razão de créditos de trabalhadores lei.
da própria residência (trabalhadores O art. 3º admitiu as exceções ao bem de
domésticos ou contratados diretamente família legal, que na visão de Pablo também
para pequenas reformas pelo dono do se aplicam ao bem de família voluntário,
imóvel) e das respectivas contribuições em nome do interesse público. São elas:
previdenciárias; créditos de trabalhadores da própria
- pelo titular do crédito decorrente do residência e das respectivas contribuições
financiamento destinado à construção previdenciárias (o STJ no RESP 644.733
ou à aquisição do imóvel, no limite dos entendeu que esta exceção só se
créditos e acréscimos constituídos em aplica a empregados domésticos
função do respectivo contrato; stricto sensu, a exemplo da
- pelo credor de pensão alimentícia; empregada, secretária, motorista
- para a cobrança de impostos, predial particular); processo movido pelo titular
ou territorial, taxas e contribuições do crédito decorrente do financiamento do
devidas em função do imóvel familiar; imóvel; se o processo foi movido pelo
- para a execução de hipoteca sobre o credor de pensão alimentícia; cobrança de
imóvel, oferecido como garantia real pelo impostos predial ou territorial e taxas
casal ou pela entidade familiar; ou contribuição devidas em função do
- por ter sido adquirido com produto de imóvel (a jurisprudência do STF e STJ
crime ou para a execução de sentença entende que esta exceção compreende
penal condenatória a ressarcimento, as despesas do condomínio); processo
indenização ou perdimento de bens; movido em hipoteca oferecida pelo casal ou
- por obrigação decorrente de fiança entidade familiar; imóvel adquirido como
concedida em contrato de locação. produto de crime ou se ele for necessário a
O bem de família legal não é execução de sentença penal condenatória
inalienável [não há sequer (ressarcimento da vítima) ou perdimento de
inalienabilidade relativa]. bens; processo movido para cobrança de
A impenhorabilidade do bem de família fiança em contrato de locação.
legal compreende (parágrafo único do art. Esta última exação viola o Princípio da
1º) o imóvel, as plantações, as benfeitorias dignidade da pessoa humana, uma vez que
de qualquer natureza e todos os se o devedor principal (locatário) comprar
equipamentos, inclusive os de uso um bem ele poderá estar protegido pelo
profissional, ou os bens moveis que bem de família e o devedor acessório
guarneçam a casa, desde que quitados. (fiador) não gozará desta proteção. O
O STJ, interpretando o parágrafo único do Ministro Carlos Veloso em decisão
art. 1º, tem admitido o desmembramento monocrática pontificou como sendo
do imóvel para efeito de penhora (RESP inconstitucional a penhora do bem e família
207. 693/SC). [Exemplo: desmembrar o do fiador por violar o direito a moradia.
bem em casa propriamente dita e área da Infelizmente o Plenário derrubou esta
piscina/churrasqueira. Nesse caso, pode-se decisão e hoje o entendimento do STF é
penhorar apenas a parte voluptuária, que no sentido da possibilidade da penhora
será destacada da casa, sem gerar do imóvel do fiador.
relevante perda de valor ou prejudicar a O devedor solteiro também tem a
moradia da família]. proteção do bem de família (RESP 450.
O locatário tem proteção do bem de 989).
família no que tange aos bens móveis BEM DE FAMÍLIA E DEVEDOR SOLTEIRO

17
"PROCESSUAL – EXECUÇÃO - voluntariedade e consciência na
IMPENHORABILIDADE – IMÓVEL - direção do resultado que se pretende
RESIDÊNCIA – DEVEDOR SOLTEIRO E alcançar.
SOLITÁRIO – LEI 8.009/90. O comportamento é humano, mas não há
- A interpretação teleológica do Art. 1º, da intencionalidade, consciência, por isto que
Lei 8.009/90, revela que a norma não se fica entre o ato e o fato. Exemplo: louco
limita ao resguardo da família. Seu escopo foge do hospício, manipula argila
definitivo é a proteção de um direito instintivamente e, embora sem
fundamental da pessoa humana: o direito à intenção consciente, termina por criar
moradia. Se assim ocorre, não faz sentido uma obra de arte. Passa um especialista
proteger quem vive em grupo e abandonar em artes plásticas e entende que este barro
o indivíduo que sofre o mais doloroso dos é uma obra prima. O louco atuou de forma
sentimentos: a solidão. - É impenhorável, instintiva, mas este comportamento gerou
por efeito do preceito contido no Art. 1º da efeitos. Realizou um fato (sem vontade
Lei 8.009/90, o imóvel em que reside, e consciência), mas seus efeitos estão
sozinho, o devedor celibatário." (REsp pré-determinados na lei (ato).
450989/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES O ato-fato não possui plano de
DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em validade, logo não se pode dizer que ele é
13.04.2004, DJ 07.06.2004 p. 217) nulo. Não há vontade, então não há falar
em vontade válida ou inválida.
Aula 05
Data: 15/03/07 4. Ações Humanas:
Segundo os efeitos, dividem-se em lícitos
Fato Jurídico: que são chamados de atos jurídicos ou
1. Conceito: ilícitos que são chamados de atos ilícitos.
Em sentido amplo é todo acontecimento Os atos ilícitos estão regulados no Título III,
natural ou humano apto a criar, modificar separados dos atos jurídicos. Todavia, há
ou extinguir relações jurídicas. quem sustente que os atos ilícitos são
Fato jurídico, segundo Agostinho Alvin, é espécies de atos jurídicos.
todo acontecimento relevante para o Os Atos Jurídicos em Sentido Amplo (cujos
Direito. efeitos são lícitos) se dividem, por sua vez,
Fato jurídico em sentido amplo se subdivide em Ato Jurídico em Sentido Estrito e
em três espécies: Fato Jurídico em sentido Negócios Jurídico.
estrito, que pode ser ordinário ou
extraordinário; Ato-fato Jurídico (Pontes de 4.1 Ato Jurídico Em Sentido Estrito:
Miranda) e Ações Humanas, que podem ter Também chamado de ato não negocial.
efeitos lícitos (atos jurídicos) ou ilícitos (atos Trabucci, Caio Mário, José Abreu, Vicente
ilícitos). Ráo, Santoro Passarelli e Marcos B. de Mello
são autores que se dedicaram ao estudo
2. Fato Jurídico em Sentido Estrito: deste instituto.
É um acontecimento natural, independe Traduz um comportamento humano
diretamente da vontade do homem. Esta voluntário e consciente determinante
categoria não tem pressupostos de da produção de efeitos legalmente
validade, uma vez que é natural. Pode previstos, ou seja, não existe aqui
ser: liberdade negocial na escolha dos
- Ordinário: São fatos efeitos pretendidos, razão por que é
comuns, exemplo a morte, o decurso do correta a afirmação de Marcos Bernades de
tempo; Mello no sentido de que este tipo de ato
- Extraordinários: São apenas concretiza o pressuposto fático da
imprevisíveis ou inevitáveis, exemplo: norma. Está previsto no art. 185 do Código
uma enchente, um terremoto. Civil.
Para ser fato jurídico em sentido estrito Exemplos: caça (efeito da aquisição do
deve haver repercussão no mundo jurídico. animal é automático, não há liberdade para
escolhê-lo), pesca, ato de fixação do
3. Ato-Fato Jurídico: domicílio, a especificação (pega matéria
Pontes Mirando criou esta categoria. O prima de outra pessoa e transforma em um
Código Civil, todavia, não dedica nenhum bem, tem que pagar a matéria prima), atos
artigo para ele, mas este instituto é aceito de comunicação também chamados de
pela doutrina. participações (notificação, protesto,
Consiste no comportamento que, embora intimação etc: efeitos estão pré-
derive do homem produzindo efeitos determinados na lei, apenas de comunicar,
jurídicos, é desprovido de dar ciência).

18
Art. 112. Nas declarações de vontade se
4.2 Negócio Jurídico: atenderá mais à intenção nelas
O Direito Brasileiro, segundo Luiz Edson consubstanciada do que ao sentido literal
Fachin (Revista Trimestral de Direito Civil, da linguagem.
Volume 1, ano 2000, Editora PADMA),
adotou a Teoria Dualista, porque ao lado 4.2.1 Conceito:
do ato jurídico em sentido estrito (art. 185) Negócio Jurídico, em uma perspectiva civil-
consagrou também o Negócio Jurídico (arts constitucional, é toda manifestação de
104 e ss). vontade por meio da qual o declarante,
A Teoria do Negócio Jurídico foi exercendo a sua autonomia privada, regula
desenvolvida pela Escola Pandectista os efeitos jurídicos que pretende atingir,
Alemã. E as duas Teorias mais respeitando sempre os princípios da função
importantes do Negócio Jurídico são a social e da boa-fé objetiva.
Voluntarista (Willenstheorie) e a Caracteriza-se pela liberdade nos
Objetivista ou da Declaração efeitos do Negócio Jurídico pretendido.
(Erkalarungstheorie). Antes o Direito Civil só se preocupava com
A Teoria Voluntarista aduz que o Negócio autonomia privada, com o patrimônio, no
Jurídico fundamenta-se na vontade qual o contrato tinha força absoluta. Hoje
interna ou na intenção do agente. esta autonomia vem sofrendo contenção,
Já a Teoria Objetivista da Declaração diz limitação dos princípios da função social e
que não é a vontade interna que da boa-fé objetiva.
interessa e sim a vontade declarada.
Segundo Antônio Junqueira de Azevedo 4.2.2 Plano de Existência:
estas teorias não são divergentes, são Analisa a substância do Negócio Jurídico, ou
convergentes, ou seja, a vontade declarada seja, os elementos constitutivos do Negócio
deve espelhar a vontade interna, sob pena Jurídico. A falta de qualquer destes
de invalidade do Negócio. elementos resulta a inexistência do
Existem duas outras Teorias que explicam o Negócio. Como é inexistente não
Negócio Jurídico, sob o plano da eficácia e necessita, teoricamente, de nenhuma
da validade, que não têm tanta importância ação, para efetuar tal declaração. Na
quanto às supracitadas: a Teoria da prática ajuíza-se Ação Declaratória de
Pressuposição de Windscheid e da Teoria da Inexistência do Negócio Jurídico,
Base do Negócio Jurídico de Oertmann. havendo interesse processual, que é
A teoria da pressuposição sustenta que imprescritível.
um Negócio Jurídico só seria válido e São estes elementos:
eficaz se a certeza subjetiva do • Manifestação de Vontade: Esta
declarante fosse mantida mesmo após vontade é a soma da vontade interna com a
a celebração do Negócio. Exemplo: um vontade externa. Exemplo: contrato não
homem deixa uma herança em um assinado; uma coação física implica a
testamento para uma pessoa pressupondo ausência de vontade, pois não há opção;
que não tem filho. Se depois souber que ele Não se deve confundir a manifestação de
tinha um filho, a certeza subjetiva caiu e vontade com a forma. O autor que fez esta
então este Negócio poderia ser desfeito. O diferenciação foi Vicente Ráo aduzindo que
Direito Brasileiro não simpatiza com a forma é um elemento autônomo do
esta Teoria, pois gera uma incerteza Negócio Jurídico, porque a forma é apenas o
jurídica. Todavia, no exemplo citado revestimento exterior da vontade. A
(testamento), o Código Civil dispõe forma é apenas o meio pelo qual a vontade
expressamente a respeito. se manifesta.
A Teoria da Base do Negócio Jurídico tem O silêncio tem alguma eficácia jurídica?
uma tese quase idêntica a primeira e diz Segundo Caio Mário, o silêncio não traduz
que o Negócio Jurídico também forma de manifestação de vontade, ao
perderia a eficácia se a base do menos em tese. Em caráter excepcional,
negócio não fosse a mesma base do o silêncio pode ter repercussão jurídica
tempo da sua celebração. Esta teoria é o conforme foi previsto, inclusive, no art. 111
antecedente teórico moderno da do Código Civil “o silêncio importa
Teoria da Imprevisão. anuência, quando as circunstâncias e
Qual foi a Teoria que mais influenciou o os usos assim autorizarem e a lei não
Código Civil? A Teoria predominante no exigir manifestação expressa”. Ex. na
Direito Brasileiro, segundo o grande doação pura o silêncio do donatário
Eduardo Espínola, é a Teoria Voluntarista traduz aceitação (art. 539).
(art. 112).

19
O silêncio pode traduzir também a forma pode ser exigida como requisito de
invalidade do Negócio por quebra da validade do Negócio Jurídico (art.108).
boa fé objetiva (art. 147). Art. 107. A validade da declaração de
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o vontade não dependerá de forma especial,
silêncio intencional de uma das partes senão quando a lei expressamente a exigir.
a respeito de fato ou qualidade que a outra Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a
parte haja ignorado, constitui omissão escritura pública é essencial à validade dos
dolosa, provando-se que sem ela o negócios jurídicos que visem à constituição,
negócio não se teria celebrado. transferência, modificação ou renúncia de
• Agente Emissor da Vontade: Pode direitos reais sobre imóveis de valor
ser uma pessoa física ou jurídica; superior a trinta vezes o maior salário
mínimo vigente no País.
• Objeto: É o bem da vida. Exemplo:
Obs.: Em alguns casos a lei exige uma
Contrato de mútuo (de empréstimo de
forma para efeito de prova do Negócio
dinheiro) sem o objeto dinheiro;
Jurídico em juízo (ex. contrato com valor
• Forma: É o veículo de transmissão superior a 10 salários mínimos tem que ter
da vontade. forma escrita).
Obs.: Carlos Alberto Gonçalves acrescenta a Obs2.: Qualquer que seja o valor uma
finalidade do Negócio Jurídico como Promessa de compra e venda de
elemento. Todavia, Pablo discorda alegando imóvel pode ser celebrada por
que finalidade é causa. instrumento particular (art.1417).
O plano existencial é aceito no Brasil pela Obs.3: O enunciado 289 da 4a Jornada de
doutrina e pela jurisprudência, muito Direito Civil estabeleceu que o valor de 30
embora o Ministro Moreira Alves, autor da salários mínimos referidos no art. 108
Parte Geral do Código Civil, não tenha é o arbitrado pelas partes, e não pela
dedicado regulamentação para esta Administração Pública com finalidade
matéria. tributária.
Obs4.: Existe jurisprudência permitindo
4.2.3 Plano de Validade: adjudicação compulsória com base em
Está previsto no art. 104 e ss. A doutrina recibos.
costuma dizer que este art. 104 é um artigo
incompleto, pois o plano de validade é um 4.2.3.1 Defeitos do Negócio Jurídico:
plano adjetivo do plano substantivo da Estes defeitos interferem no Plano de
existência. Logo para se chegar ao plano de Validade. Concorrendo algum destes
validade basta qualificar o plano de defeitos o Negócio Jurídico será inválido.
existência. São estes elementos: A invalidade pode significar que o
Art. 104. A validade do negócio jurídico Negócio é nulo ou anulável.
requer: A simulação é o único defeito que no
I - agente capaz; Código Civil torna o Negócio Jurídico nulo.
II - objeto lícito, possível, determinado ou Todos os demais defeitos – erro, dolo,
determinável; estado de perigo, lesão, coação e fraude
III - forma prescrita ou não defesa em lei. contra credores – tornam o negócio apenas
• Manifestação de Vontade anulável, com prazo decadencial para que
Totalmente Livre e de Boa-fé: Os se exerça o direito de anular.
defeitos do Negócio Jurídico interferem no
plano da validade, atacando a manifestação Aula 06
de vontade livre e de boa-fé. Data: 22/03/07
• Agente Capaz e
Legitimado: Os defeitos do Negócio Jurídico são:
• Objeto Lícito (legalidade
a) Erro:
+ subsunção ao padrão médio de O erro, causa de anulação do Negócio
moralidade), Possível e Determinado Jurídico, regulado a partir do art. 138,
ou Determinável: traduz uma falsa representação positiva
da realidade.
• Forma Livre ou Prescrita A pessoa que incorre em erro atua de
em Lei: Caso o legislador prescreva maneira equivocada. Em nível teórico há
determinada forma como requisito de uma diferença entre erro e ignorância. A
validade, a sua inobservância gera um ignorância é uma situação negativa de
negócio que, embora exista, é nulo. desconhecimento, enquanto o erro é uma
O Princípio que rege o direito falsa representação positiva.
brasileiro é o da liberdade da forma
(art. 107), mas em caráter excepcional a

20
Na prática a conseqüência do erro e da compra e venda à vista, mas está fazendo
ignorância é a mesma: anulação do uma compra e venda a prazo, ou até uma
Negócio Jurídico. doação].
O que é erro impróprio? Trata-se de uma O erro sobre pessoa incide na identificação
construção desenvolvida na França ou características da pessoa com que se
segundo a qual haveria uma diferença entre celebra o negócio. A maior aplicação deste
erro-vício e erro-impróprio ou obstativo. O erro é no casamento, pois este erro sobre
primeiro atacaria o processo interno de pessoa pode gerar anulação de um
formação da vontade; ao passo que o casamento.
segundo atacaria a vontade declarada. Esta A jurisprudência exige que o erro sobre
doutrina não é aceita no Brasil, aqui não pessoa seja provado.
importa se o erro ataca a vontade O que é erro de direito? Clóvis Beviláqua
interna (erro-vício) ou externa (erro não aceitava a tese do erro de direito,
impróprio ou obstantivo): qualquer uma alegando que o erro sempre incidiria em
das modalidades implica anulabilidade do circunstâncias fáticas.
Negócio Jurídico. Eduardo Spínola, Carvalho Santos, Caio
A doutrina brasileira clássica (Clóvis Mário discordavam, defendendo a
Belviláquia, Orlando Gomes etc) costuma possibilidade de haver erro incidente no
afirmar que o erro só será causa de campo de atuação da norma jurídica (erro
anulação do negócio se concorrerem dois sobre a licitude do ato praticado).
requisitos: escusável ou perdoável e O erro de direito é um erro de
essencial ou substancial. interpretação da norma. O agente
Erro escusável é o erro que um homem de imagina ser permitido o que é
diligência média cometeria. Já erro proibido, não significando a recusa, o
essencial é aquele que ataca a substância desprezo à aplicação da lei brasileira.
do negócio, a sua essência. O Novo Código Civil acolheu a tese do
Todavia a doutrina moderna tem erro de direito no art. 139, III, que prevê
sustentado que o único requisito do erro como erro substancial (apto a ensejar a
deve ser o essencial, não devendo se anulação) aquele que, “sendo de direito, e
exigir a análise da escusabilidade do erro, não significando a recusa a aplicação da lei,
uma vez que isto é muito subjetivo. constitui fundamento do negócio”. [Note-se
O enunciado n.º 12 da 1a Jornada de que, pelo CC, esse erro de direito, erro de
Direito Civil concluiu que é irrelevante o interpretação da lei, torna o negócio apenas
erro ser ou não escusável, porque se anulável, e não nulo. Assim, em tese, pode
adota o Princípio da Confiança. [Note-se o negócio subsistir, se passar o prazo
que o art. 138 do CC dispõe: “São anuláveis decadencial].
os negócios jurídicos, quando as Qual a diferença entre erro e vício
declarações de vontade emanarem de erro redibitório? O vício redibitório é um
substancial que poderia ser percebido defeito oculto que prejudica a utilização ou
por pessoa de diligência normal, em face diminui o valor econômico da coisa. É
das circunstâncias do negócio”. Aqui, pode- objetivo, ou seja está na coisa. Quando o
se interpretar o seguinte: o CC não falou agente adquire um bem, celebra um
“erro substancial que poderia ser cometido negócio, o vício está na coisa (o prejudicado
por pessoa de diligência normal”. Falou entra com ação edilícia). O erro, por sua
apenas “erro substancial que poderia ser vez, é subjetivo, é psicológico, está dentro
percebido“ (pela outra parte), ou seja, erro do agente (caso de ação anulatória).
que tem alguma exterioridade, que não fica Obs: Erro e Abertura de Conta Corrente:
apenas na declaração posterior do indivíduo Para a repetição de indébito, nos
de que errou, sem qualquer elemento contratos de abertura de crédito em
objetivo para provar isso]. conta-corrente, não se exige a prova
Basicamente o erro pode ser sobre o objeto, do erro. (SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
o negócio e a pessoa. Estas modalidades de 23.11.2005, DJ 05.12.2005 p. 410)
erros estão previstas no art. 139 do Código Dispositivos do Código Civil:
Civil. Art. 138. São anuláveis os negócios
O erro sobre o objeto incide nas jurídicos, quando as declarações de
características ou qualidades do bem vontade emanarem de erro substancial que
jurídico. poderia ser percebido por pessoa de
O erro sobre o negócio incide na estrutura diligência normal, em face das
ou na tipologia do negócio que se realiza. circunstâncias do negócio.
Este tipo de erro é muito difícil de ser Art. 139. O erro é substancial quando:
observado, apesar de ser cobrado. [Ex.: a
pessoa pensa que está fazendo uma

21
I - interessa à natureza do negócio, ao Art. 146. O dolo acidental só obriga à
objeto principal da declaração, ou a alguma satisfação das perdas e danos, e é acidental
das qualidades a ele essenciais; quando, a seu despeito, o negócio seria
II - concerne à identidade ou à qualidade realizado, embora por outro modo.
essencial da pessoa a quem se refira a O dolo acidental apenas interfere em
declaração de vontade, desde que tenha características secundárias do negócio, de
influído nesta de modo relevante; maneira que mesmo em tendo havido o
III - sendo de direito e não implicando dolo, o dolo ainda interessa à vítima e o
recusa à aplicação da lei, for o motivo único negócio a seu respeito seria celebrado
ou principal do negócio jurídico. ainda que de outra maneira.
Art. 140. O falso motivo só vicia a Dolo negativo: Trata-se da situação de
declaração de vontade quando expresso omissão dolosa com quebra de boa-fé
como razão determinante. objetiva (art. 147).
Art. 141. A transmissão errônea da vontade Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o
por meios interpostos é anulável nos silêncio intencional de uma das partes a
mesmos casos em que o é a declaração respeito de fato ou qualidade que a outra
direta. parte haja ignorado, constitui omissão
Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou dolosa, provando-se que sem ela o negócio
da coisa, a que se referir a declaração de não se teria celebrado.
vontade, não viciará o negócio quando, por Dolo bilateral: Ocorre quando as duas
seu contexto e pelas circunstâncias, se partes atuam uma visando a enganar a
puder identificar a coisa ou pessoa outra, e tal situação é tratada no art. 150
cogitada. do Código Civil. Não existe compensação
Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza de dolos e se houver dolo bilateral a
a retificação da declaração de vontade. norma determina que nenhuma das
Art. 144. O erro não prejudica a validade do partes pode recorrer ao Poder
negócio jurídico quando a pessoa, a quem a Judiciário para anular o contrato. [Ou
manifestação de vontade se dirige, se seja: não importa se uma parte teve mais
oferecer para executá-la na conformidade prejuízo com o dolo do que a outra. O que
da vontade real do manifestante. [Ou seja: interessa é que ninguém pode se valer da
se a outra parte se oferecer para cumprir o própria torpeza e, portanto, alegar que “foi
negócio nas condições reais, o autor da mais enganado do que enganou” é inviável
manifestação de vontade não pode pleitear perante o Judiciário. Daí dizer-se que não há
a anulação, nem mesmo provando o erro]. compensação de dolos, e o negócios
subsistirá integralmente].
b) Dolo: Art. 150. Se ambas as partes procederem
O dolo, causa de anulação do Negócio com dolo, nenhuma pode alegá-lo para
Jurídico, é o erro provocado. Aqui uma das anular o negócio, ou reclamar indenização.
partes é vítima de um ardil, é ludibriada Dolo de terceiro: Provém de quem não foi
para realizar um ato jurídico prejudicial. parte no Negócio Jurídico, e anula este
O dolus malus é que vicia o Negócio negócio se a parte a quem aproveite
Jurídico. O dolus bonus é aquele utilizado deste dolo tivesse ou devesse ter
em campanhas publicitárias. conhecimento (tivesse como saber). Se a
Mensagens subliminares caracterizam parte beneficiária não tinha
ilegítima espúria, indução subconsciente de conhecimento, quem agiu com dolo
dolo não querido que se considera dolus responderá à parte que ludibriou.
malus. Está inclusive no Projeto para Assim, só se anula o Negócio Jurídico por
alterar o CDC para proibir a propaganda dolo de terceiro se houver cumplicidade
contendo este tipo de mensagem. entre o beneficiário e o terceiro.
O dolo, nos termos do art. 145, somente Art. 148. Pode também ser anulado o
anula o negócio se atacar a sua causa, negócio jurídico por dolo de terceiro, se a
ou seja, se for um dolo principal: parte a quem aproveite dele tivesse ou
devesse ter conhecimento; em caso
Art. 145. São os negócios jurídicos
contrário, ainda que subsista o negócio
anuláveis por dolo, quando este for a sua
jurídico, o terceiro responderá por todas as
causa.
perdas e danos da parte a quem ludibriou.
O dolo principal é diferente do dolo Art. 149. O dolo do representante legal
acidental. Este não anula o Negócio de uma das partes só obriga o
Jurídico, mas, apenas, impõe a representado a responder civilmente
obrigação de indenizar, nos termos do até a importância do proveito que
art. 146: teve; se, porém, o dolo for do
representante convencional, o

22
representado responderá
solidariamente com ele por perdas e d) Lesão:
danos. A lesão é um vício antigo. Os romanos
consideravam como lesão, por exemplo, um
c) Coação Moral: contrato que fosse superior ao preço justo
A coação que vicia o negócio é a moral em 50% ou mais. Se valia 10 e o contrato
porque a física atua no plano de existência. era 15 havia lesão.
Os romanos a denominavam de Vis Nas sociedades de massa, ambiente em
Compulsiva, a física era denominada de Vus que prolifera o contrato de adesão, a lesão
Absoluta. é bastante freqüente por estar conectada
Com base no pensamento de Francisco ao abuso de poder econômico.
Amaral, podemos afirmar que a coação A lesão, causa de invalidade do Negócio
moral é uma violência psicológica que Jurídico, manifesta-se no prejuízo
constrange a vítima a realizar negócio resultante da desproporção entre as
contrário a sua vontade interna. prestações pactuadas, em virtude do
Art. 151. A coação, para viciar a declaração abuso, da necessidade ou
da vontade, há de ser tal que incuta ao inexperiência de uma das partes.
paciente fundado temor de dano A lesão nasce com o contrato, invalidando-
iminente e considerável à sua pessoa, o.
à sua família, ou aos seus bens. A 1a lei no Brasil que cuidou da lesão foi a
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa lei criminal n.º 1521/51, no art. 4º (Lei de
não pertencente à família do paciente, o economia Popular).
juiz, com base nas circunstâncias, decidirá Na sistemática do Código Civil de 16, na
se houve coação. ausência de lei específica reguladora da
A coação pode ser dirigida a sua pessoa, a lesão, a jurisprudência forçava um
seus bens, ou a sua família ou até pessoa entendimento no sentido de considerar este
próxima. Ao apreciar a coação, não se tipo de contrato nulo por ilicitude do objeto
deve utilizar a figura do homem médio (RESP 434687- RJ).
(concurso de juiz), devem-se analisar as A 1a lei civil que tratou a lesão foi o CDC,
características concretas da vítima (art. que considerou como causa de invalidade
152). do contrato de consumo (arts. 6º, V, 39,V,
Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em 51, IV).
conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, A lesão no CDC é causa de nulidade
o temperamento do paciente e todas as absoluta do contrato e também é
demais circunstâncias que possam influir na objetiva.
gravidade dela. Os requisitos da lesão segundo a doutrina
Não se pode confundir coação com ameaça (Marcelo Guerra Martins) são:
de exercício regular de direito nem com - Elemento Objetivo: Sempre
temor reverencial (art. 153). a lesão terá este elemento, é a
Art. 153. Não se considera coação a desproporção entre as prestações
ameaça do exercício normal de um direito, pactuadas;
nem o simples temor reverencial.
Conforme a jurisprudência, inclusive, a
- Elemento Subjetivo: É a
necessidade ou a inexperiência da
ameaça de inserção na negativização
parte que se onera (em geral é um
do nome não é coação moral. Temor
hipossuficiente) e a doutrina clássica
reverencial é o respeito a autoridade.
costuma acrescentar que se de um lado
A coação também é causa de anulação do
você tem uma parte que é vítima de abuso
Negócio Jurídico e tanto pode provir de
de sua necessidade ou inexperiência; de
uma das partes como de terceiro (arts.
outro, tem-se a parte que abusa e se
154 e 155).
aproveita. Esta tem o chamado dolo de
Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação
aproveitamento. Este dolo é específico da
exercida por terceiro, se dela tivesse
parte que abusa, é a intenção de explorar
ou devesse ter conhecimento a parte a
economicamente.
que aproveite, e esta responderá
Diferentemente do CDC, o Código Civil de
solidariamente com aquele por perdas
2002 trata a lesão como causa de
e danos.
anulação do Negócio Jurídico (art. 157).
Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma
coação decorrer de terceiro, sem que a
pessoa, sob premente necessidade, ou
parte a que aproveite dela tivesse ou
por inexperiência, se obriga a prestação
devesse ter conhecimento; mas o autor da
manifestamente desproporcional ao
coação responderá por todas as perdas e
valor da prestação oposta.
danos que houver causado ao coacto.

23
§ 1o Aprecia-se a desproporção das nos termos do art. 156, o estado de perigo
prestações segundo os valores vigentes ao causa a anulação do Negócio Jurídico.
tempo em que foi celebrado o negócio Art. 156. Configura-se o estado de perigo
jurídico. quando alguém, premido da necessidade de
§ 2o Não se decretará a anulação do salvar-se, ou a pessoa de sua família, de
negócio, se for oferecido suplemento grave dano conhecido pela outra parte,
suficiente, ou se a parte favorecida assume obrigação excessivamente onerosa.
concordar com a redução do proveito. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não
O Código Civil não se refere ao dolo de pertencente à família do declarante, o juiz
aproveitamento no art. 157 de maneira que decidirá segundo as circunstâncias.
a doutrina de Moreira Alves é no sentido de A exigência de cheque caução para
que a lesão do Código Civil é Objetiva: atendimento em Hospital Médico para
dispensa o dolo de aproveitamento da salvar uma pessoa é um exemplo de
parte contrária. estado de perigo.
O ministro conclui que quando você afasta A resolução n.º 44/03 da Agência Nacional
o dolo de aproveitamento (a intenção) o de Saúde proíbe este tipo de caução,
defeito se objetiva. Apesar disso, continua orientando os lesados a formalizarem uma
se tendo de provar a inexperiência ou representação a ser encaminhada ao
necessidade (que são elementos subjetivos, Ministério Público Federal.
mas não têm o condão de “subjetivizar” o Em conclusão, vale acrescentar ainda que o
instituto como um todo). enunciado n.º 148 da 3a Jornada de
O enunciado n.º 290 da 4a Jornada de Direito Civil concluiu no sentido de que a
Direito Civil afirma que a necessidade ou anulação do Negócio Jurídico será
a inexperiência da vítima não se evitada se a outra parte oferecer
presume, devendo ser provada. suplemento suficiente ou aceitar a
A desproporção das prestações é apreciada redução do proveito. [Isso está previsto
segundo os valores vigentes ao tempo que expressamente em relação ao erro e à
foi celebrado o Negócio Jurídico. lesão e, segundo a doutrina, também se
O parágrafo 1º do art. 157 adotou um aplica analogamente ao estado de perigo.
sistema aberto de apreciação da lesão, Apenas não se aplica ao dolo, que envolve
uma vez que não utilizou critérios frontal má-fé do contratante e versa sobre a
matemáticos para a aferição do vício. própria essência do negócio].
Não se decretará a anulação do Negócio
Jurídico se for oferecido suplemento f) Simulação:
suficiente ou se a parte revisá-lo. Ou seja, Segundo Clovis Beviláqua, a simulação é
se as partes revisam e re-equilibram o uma declaração enganosa de vontade
contrato não haverá lesão. visando a produzir efeito diverso do
Qual é a diferença entre lesão e teoria da ostensivamente indicado. Em outras
imprevisão? Na teoria da imprevisão, palavras, a simulação é vício do Negócio
temos um contrato válido de execução Jurídico que se manifesta quando a
continuada ou diferida que se desequilibra declaração negocial é aparentemente
posteriormente, em virtude de normal, mas não visa a atingir o efeito que
circunstância superveniente, de maneira a deveria produzir.
permitir a sua revisão ou dissolução; Não há uma vítima nas partes, estas
diferentemente, a lesão é genética, ou comungam para prejudicar um
seja, nasce com o contrato já terceiro, ou seja, a simulação é
desequilibrado, de forma a permitir a bilateral.
sua invalidação. A doutrina brasileira diz que a simulação
pode ser absoluta ou relativa. Na
e) Estado de Perigo: absoluta, as partes realizam o Negócio
Configura-se o estado de perigo quando o Jurídico destinado a não produzir efeito
agente, diante de uma situação de perigo jurídico algum. Ex. o cônjuge, apavorado
de dano conhecida pela outra parte com a possibilidade da meação em
assume prestação excessivamente decorrência da separação, cria um negócio
onerosa, para salvar-se ou a outra pessoa transferindo seu patrimônio a um terceiro
próxima. que depois irá lhe entregar, não visando a
A outra parte do negócio assumido não produzir efeito algum, no plano dos fatos.
causou o estado de perigo mas dele Na simulação relativa, também chamada de
tinha ciência. dissimulação, as partes criam um Negócio
O estado de perigo é uma aplicação do Jurídico (máscara) com a finalidade de
estado de necessidade no Direito Civil e, encobrir um outro Negócio Jurídico que
produzirá efeitos proibidos na lei. Ex.:

24
cônjuge simula uma compra e venda a uma torpeza, mas se justifica porque agora a
amante sendo que na verdade mascara simulação é causa de nulidade absoluta e,
uma doação. como tal, pode ser alegada por qualquer
Uma outra maneira de se operar a pessoa, na forma de questão de ordem
simulação relativa é por interposta pessoa. pública].
Ex. cônjuge doa um apartamento a outra No momento em que a simulação se tornou
que, por sua vez, doa a amante do 1º. causa de nulidade absoluta, por Princípio de
A conseqüência da simulação absoluta Ordem Pública, qualquer pessoa pode
e da relativa é a mesma: invalidade do alegar nulidade em juízo, ate mesmo o
Negócio Jurídico. juiz pode conhecê-la de ofício.
A simulação relativa, em tese, a luz do Questões Especiais de Concurso:
Princípio da Conservação (Marcos 1a No direito de família, determinados
Bernades de Melo) pode resultar no comportamentos do cônjuge ou
aproveitamento do negócio subjacente se companheiro são repelidos pelo direito
válido for em sua substância e forma (art. por estarem muito próximos da
167). simulação ou da fraude.
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, A jurisprudência descobriu que uma das
mas subsistirá o que se dissimulou, se formas de fraudar o regime de bens é o
válido for na substância e na forma. Plano de Previdência Privada que, em
§ 1o Haverá simulação nos negócios regra, é intocável. A jurisprudência então
jurídicos quando: firmou o entendimento (Apelação Cível
I - aparentarem conferir ou transmitir 7000. 675. 7793) no sentido de que o
direitos a pessoas diversas daquelas às capital próprio aplicado pertence ao
quais realmente se conferem, ou investidor, mas os rendimentos, à luz
transmitem; do regime da comunhão, são divididos.
II - contiverem declaração, confissão, 2a O que é contrato vaca-papel? É uma
condição ou cláusula não verdadeira; patologia, trata-se de um contrato
III - os instrumentos particulares forem simulado de parceria pecuária por
antedatados, ou pós-datados. meio do qual as partes mascaram ou
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros encobrem um contrato de mútuo
de boa-fé em face dos contraentes do feneratício a juros extorsivos (mútuo
negócio jurídico simulado. feneratício – mútuo a juros). O rebanho
A simulação é o único defeito do Negócio emprestado é capital e os bezerros dados
Jurídico previsto no Código Civil que é causa de volta a mais são juros.
de nulidade absoluta do negócio. 3a O que é reserva mental? Pontes de
Na prova, ver a data que o Negócio Miranda diz que a reserva mental se
Jurídico foi celebrado para ver se se configura quando o agente emite
aplica o Código Civil velho (simulação declaração de vontade resguardando o
causa de anulação) ou Código Civil intimo propósito de não cumprir o fim a
novo (simulação causa de nulidade que se propôs.
absoluta). A reserva mental, enquanto incutida na
Antedatar ou pós-datar Negócio Jurídico é mente do agente, não tem repercussão
causa de simulação. para o direito. Mas no momento em que a
O NCC contemplou a simulação inocente? O reserva mental é manifestada e a outra
Código Civil de 16, no art. 103, admitia a parte dela toma ciência, passa a existir
simulação inocente que não traduzia vício repercussão jurídica:
do negócio como sendo aquela desprovida - Corrente n.º 1, defendida pelo
da intenção de prejudicar terceiro ou a lei. Ministro Moreira Alves e adotada no
O NCC desprezou a figura da simulação NCC (art. 110), sustenta que manifestada
inocente, razão por que o enunciado n.º a reserva o negócio se torna
152 da 3a Jornada de Direito Civil concluiu inexistente.
que “toda simulação, inclusive a Art. 110. A manifestação de vontade
inocente, é invalidante”. subsiste ainda que o seu autor haja feito a
Não existe no Código Civil novo artigo reserva mental de não querer o que
correspondente ao antigo 104 do CC/16 que manifestou, salvo se dela o destinatário
proibia qualquer dos simuladores a tinha conhecimento.
ingressar em litígio contra o outro. Hoje se - Corrente n.º 2, defendida por
entende que qualquer dos simuladores Caio Mário, Carlos Alberto Gonçalves,
pode alegar a simulação em juízo sustenta que manifestada a reserva
(enunciado n.º 294 da 4a Jornada de Direito mental o negócio se torna inválido por
Civil). [Isso é uma aparente negação ao dolo ou simulação. Professor entende que
princípio da não-alegação da própria esta corrente é a mais sensata.

25
Art. 159. Serão igualmente anuláveis os
Aula 07 contratos onerosos do devedor insolvente,
Data: 29/03/07 quando a insolvência for notória, ou
houver motivo para ser conhecida do
g) Fraude contra Credores: outro contratante.
Este defeito é antigo e social. Social 4a Quando houver antecipação de
porque ele não ataca o processo formativo pagamento feita a um dos credores
da vontade e sim uma determinada vítima. quirografários em prejuízo dos demais.
A vítima é certa, é o credor preexistente a Art. 162. O credor quirografário, que
fraude. receber do devedor insolvente o pagamento
Difere-se da simulação, porque esta da dívida ainda não vencida, ficará obrigado
não possui uma vítima especifica e a a repor, em proveito do acervo sobre que
simulação é camuflada. Ao contrario se tenha de efetuar o concurso de credores,
da fraude contra credores que tem aquilo que recebeu.
uma vítima especifica e preexistente e
é explicita. 5a Na outorga de garantia de dividas dadas
A fraude contra credores, defeito do a um dos credores em detrimento dos
Negócio Jurídico, traduz a pratica de um ato demais (doutrina entende que aqui também
negocial que diminui o patrimônio do a má-fé é presumida).
devedor insolvente, prejudicando credor Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos
preexistente. direitos dos outros credores as garantias
Só o devedor insolvente (passivo maior de dívidas que o devedor insolvente
que o ativo) comete fraude contra tiver dado a algum credor.
credores. Obs.: Vale lembrar que o Código Civil não
A doutrina predominante no Brasil sustenta esgota as hipóteses de fraude, a
que a fraude contra credores possui dois exemplo da fraude que pode ocorrer na
requisitos: instituição voluntária do bem de
- Consilium fraudis: É a má-fé família, tese defendida há décadas por
do devedor (elemento psicológico). É o Jorge Americano.
ardil. Parte da doutrina como Marcos Qual é a diferença entre fraude contra
Bernades Mello, Maria Helena Diniz e Pablo credores e fraude a execução? A fraude
Stolze, sustenta que a má-fé em alguns contra credores é um defeito do Negócio
casos é presumida, a exemplo dos Jurídico que na forma do Código Civil causa
negócios gratuitos (ex.: doação). a sua invalidade, demonstrada por meio da
- Eventus damni: Sempre tem ação pauliana. A fraude à execução, por
que estar presente e traduz o prejuízo sua vez, é instituto típico do CPC (art. 593),
sofrido pelo credor preexistente. sendo mais grave, uma vez que desrespeita
Hipóteses de fraude contra credores no a administração da justiça e por isto o juiz
Código Civil Brasileiro. Estas hipóteses não pode reconhecer de ofício a ineficácia
são exaustivas: desta fraude (já existe processo contra o
devedor capaz de reduzi-lo a insolvência. O
1a Negócio Jurídico da transmissão gratuitas marco é a citação).
de bens, a exemplo da doação (má-fé A ação que impugna a fraude contra
presumida): credores é a Ação Pauliana. A
Art. 158. Os negócios de transmissão legitimidade ativa é do credor
gratuita de bens ou remissão de dívida, se preexistente.
os praticar o devedor já insolvente, ou por Em geral, quem tem legitimidade é o credor
eles reduzido à insolvência, ainda quando quirografário. Agora o NCC deixa claro no
o ignore, poderão ser anulados pelos parágrafo 1º do art. 158 que o credor com
credores quirografários, como lesivos garantia também pode ter interesse na
dos seus direitos. ação pauliana, se a sua garantia se tornar
§ 1o Igual direito assiste aos credores insuficiente.
cuja garantia se tornar insuficiente. O enunciado n.º 151 da 3a Jornada de
§ 2o Só os credores que já o eram ao Direito Civil afirma que a insuficiência da
tempo daqueles atos podem pleitear a garantia dispensa prévio
anulação deles. reconhecimento judicial.
Por outro lado, a legitimidade passiva é
2a Remissão de dívidas (perdão - art. 158); o devedor insolvente e aquele que com
ele cometeu o ato fraudulento
3a Nos contratos onerosos do devedor (litisconsórcio necessário).
insolvente em duas situações: Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e
159, poderá ser intentada contra o devedor

26
insolvente, a pessoa que com ele celebrou industrial, ou à subsistência do
a estipulação considerada fraudulenta, ou devedor e de sua família.
terceiros adquirentes que hajam procedido
de má-fé. 4. 2.4 Teoria da Invalidade dos Negócios
Pode acontecer que o bem, objeto da Jurídicos:
fraude, já tenha sido alienado a 3º. A invalidade é um gênero do qual derivam a
Neste caso o 3º só poderá figurar no nulidade relativa (negócio anulável) e a
pólo passivo da ação pauliana se nulidade absoluta (negócio nulo).
estiver de má-fé. A doutrina de Ada Pelegrini Grinover, Cintra
Se ficar demonstrado que o 3º estava de e Dinamarco, na obra Teoria Geral do
boa-fé, o credor não poderá reaver a Processo, sustenta que o reconhecimento
coisa. da invalidade de um ato é um mecanismo
A ação pauliana é a ação típica de de reação defensiva do ordenamento
impugnação da fraude (súmula 195 do jurídico.
STJ). Esta ação é pessoal, não Assim a nulidade absoluta é mais grave que
dependendo, portanto, de outorga a nulidade relativa, no plano axiológico. Isto
uxória [mesmo que verse sobre porque o negócio nulo contém um vício
imóveis]. que afronta norma de ordem pública,
Esta ação tem o prazo decadencial de 4 ao passo que o negócio anulável contém
anos para sua propositura. O prazo é vício que afronta norma meramente
decadencial. dispositiva.
Qual é a natureza jurídica da sentença na Agora o juiz, a luz do Princípio da
ação pauliana? A doutrina clássica, desde Conservação, deve sempre tentar manter a
Clóvis Belvilaqua, chegando a Moreira validade do Negócio Jurídico ou sanar o
Alves, com reflexo no art. 165 do Código vício.
Civil, sustenta a natureza anulatória da O que é redução do Negócio Jurídico?
sentença. Opera-se a redução, à luz do Princípio
Art. 165. Anulados os negócios da Conservação, quando o juiz,
fraudulentos, a vantagem resultante podendo, extirpa a parte inválida do
reverterá em proveito do acervo sobre que negócio e mantém a parte válida. A
se tenha de efetuar o concurso de credores. redução veio prevista na 1a parte do art.
Parágrafo único. Se esses negócios tinham 184 do Código Civil.
por único objeto atribuir direitos Observa-se que não há nulidade sem
preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou texto de lei, seja esta nulidade absoluta
anticrese, sua invalidade importará ou relativa.
somente na anulação da preferência
ajustada. a) Nulidade Relativa ou Anulabilidade
Todavia, uma corrente forte, embora (art. 171):
minoritária, defendida por Yussef S. Cahali - Incapacidade Relativa do
e Nelson Hanada, discorda da tese Agente;
supracitada, sustentando que a sentença na - Vício resultante de erro,
ação pauliana é declaratória da ineficácia dolo, lesão, coação, estado de perigo e
relativa do negócio fraudulento. O negócio fraude de credores.
fraudulento não deve ser considerado As características do Negócio Jurídico
inválido, mas apenas ineficaz com anulável são:
relação aquele credor que se
prejudicou. (RESP 506312/MS).
- Em virtude do defeito ser
menos grave, o juiz não pode
Art. 160. Se o adquirente dos bens do
reconhecê-la do ofício, exigindo-se a
devedor insolvente ainda não tiver pago o
propositura de ação anulatória pelo legítimo
preço e este for, aproximadamente, o
interessado (art. 177).
corrente, desobrigar-se-á depositando-o em
Art. 177. A anulabilidade não tem efeito
juízo, com a citação de todos os
antes de julgada por sentença, nem se
interessados.
pronuncia de ofício; só os interessados a
Parágrafo único. Se inferior, o
podem alegar, e aproveita exclusivamente
adquirente, para conservar os bens,
aos que a alegarem, salvo o caso de
poderá depositar o preço que lhes
solidariedade ou indivisibilidade.
corresponda ao valor real.
Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e - A ação anulatória submete-se
valem os negócios ordinários a prazos decadenciais que no Código
indispensáveis à manutenção de Civil em geral são de 2 ou 4 anos (arts. 178
estabelecimento mercantil, rural, ou e 179).

27
Art. 178. É de quatro anos o prazo de negócio anulável produz antes da
decadência para pleitear-se a anulação do sentença anulatória.
negócio jurídico, contado:
I - no caso de coação, do dia em que ela Aula 08
cessar; Data: 03/04/06
II - no de erro, dolo, fraude contra
credores, estado de perigo ou lesão, b) Nulidade Absoluta (arts. 166 e
do dia em que se realizou o negócio 167):
jurídico; É nulo o Negócio Jurídico:
III - no de atos de (relativamente) I. Celebrado por pessoa absolutamente
incapazes, do dia em que cessar a incapaz;
incapacidade. II. Quando foi ilícito, impossível ou
Art. 179. Quando a lei dispuser que indeterminado seu objeto;
determinado ato é anulável, sem Ex. Contrato de namoro foi objeto do
estabelecer prazo para pleitear-se a IBDFam, reportagem de ½ pagina do jornal
anulação, será este de dois anos, a contar ATARDE, que seria uma declaração negocial
da data da conclusão do ato. do casal de que aquele relacionamento era
- O Negócio Jurídico anulável de caráter instável, visando a impedir as
admite confirmação expressa ou tácita regras da união estável (que é um fato da
(arts 172 a 174). A doutrina crítica a vida). É um contrato nulo, pois o objeto
expressão ratificação: deve-se falar em é impossível.
confirmação. A confirmação traduz um III. Quando o motivo determinante,
comportamento que chancela o negócio comum a ambas as partes for ilícito. É
anulável. a causa de nulidade por ilicitude da causa
Art. 172. O negócio anulável pode ser do Negócio Jurídico. Motivo determinante
confirmado pelas partes, salvo direito de comum é a causa do Negócio Jurídico.
terceiro. Obs.: Não se pode confundir Motivo e
Art. 173. O ato de confirmação deve conter Causa:
a substância do negócio celebrado e a Todo motivo é o intimo, psicológico, a causa
vontade expressa de mantê-lo. não. Se a causa é ilícita, o Negócio Jurídico
Art. 174. É escusada a confirmação é nulo. [Assim, quando se fala “motivo
expressa, quando o negócio já foi determinante, comum a ambas as partes”,
cumprido em parte pelo devedor, o significado é de motivo externalizado, de
ciente do vício que o inquinava. forma comum, ou seja: causa].
Washington de Barros faz uma observação Clóvis Beviláqua era Anti-Causalista. Ele
que hoje encontra eco no art. 172 do argumenta que a causa se confundia com
Código. Se a confirmação prejudica objeto. Juntamente com ele, eram anti-
direito de 3º, o negócio não pode ser causalistas, Laurent, Giorgio Giorgi, Marcel
confirmado. Por exemplo, um Planiol.
relativamente incapaz celebra um A doutrina moderna prefere autores
contrato, ao completar 18 anos celebra causalistas, como Pother, Cariota Ferrara,
um contrato vendendo o mesmo bem. Túlio Ascarelli, Robério de Ruggiera, e no
Depois este alienante não pode confirmar Brasil Torquato Castro. A causa é
o 1º contrato, pois caso isto pudesse importante elemento do negócio. Existem
acontecer prejudicaria o contratante do 2º duas correntes doutrinárias para explicar a
contrato; causa do Negócio Jurídico: a subjetivista e a
- A sentença anulatória do objetivista:
Negócio Jurídico produz efeitos ex tunc. A objetivista sustentava que a causa seria a
Embora a sentença seja função sócio-econômica do negócio.
desconstitutiva, gera efeitos Destarte, se o negócio tivesse uma função
retroativos, uma vez que as partes voltam tácita seria nulo.
a situação anterior e não sendo possível A corrente subjetivista da causa sustenta
serão indenizados pelo equivalente (art. que a causa é o motivo determinante ou a
182). razão típica do próprio negócio, não se
Art. 182. Anulado o negócio jurídico, confundido com a motivação psicológica.
restituir-se-ão as partes ao estado em que Foi esta adotada pelo inciso III do art. 166.
antes dele se achavam, e, não sendo Por exemplo, um seguro para casa de
possível restituí-las, serão indenizadas com prostituição: o objeto é a proteção
o equivalente. contra o sinistro, mas o motivo
declarado (ou seja, a causa: proteção
Obs. Pontes de Miranda chamava de da casa de prostituição) é ilícito, por
eficácia interimística os efeitos que o

28
isso incorre neste inciso, e o negócio é 1º Aproveitamento dos elementos
nulo. materiais do Negócio Nulo;
IV. Quando o contrato não revestir a 2º A intenção das partes no sentido de
forma prescrita em lei; aquiescerem com o negócio
V. Quando preterida alguma solenidade convertido, se houvessem previsto a
indispensável para validade. Ex. nulidade.
casamento a portas fechadas. Exemplo de conversão: aproveitamento
VI. Objeto fraudar a lei imperativa: de um contrato de compra e venda de
fraude a lei. Celebrar contrato para fraudar um imóvel por vício de forma, que é
o fisco, por exemplo, Doação à concubina convertido em uma promessa de
por casado. compra e venda.
VII. Quando a lei taxativamente Uma doação mortis causa pode ser
declarar nulo ou coibir a prática sem aproveitada como um legado.
cominar sanção: Toda vez que o
legislador disser “é inválido”, sem 4.2.5 Plano de Eficácia:
falar que é anulável, trata-se de Seus elementos são denominados de
negócio nulo (art. 548 do CC). acidentais, uma vez que não são
Art. 167: Negócio Jurídico simulado. obrigatórios, podendo ou não ocorrer. São
Características da Nulidade Absoluta: eles:
1a A nulidade absoluta pode ser argüida • Condição:
por qualquer interessado e pode ser Condição é todo acontecimento futuro e
reconhecida de ofício pelo juiz (art. incerto que interfere na eficácia jurídica do
168). negócio. Toda condição possui dois
Obs.: No Direito de Família, a nulidade requisitos básicos: a futuridade e a
absoluta do casamento não pode ser incerteza.
reconhecida de ofício pelo juiz. A condição sempre é um acontecimento
2a A nulidade absoluta não admite futuro. Fato passado não traduz
confirmação, nem convalesce pelo condição (Spencer Vampé). Ex. vou doar a
decurso de tempo. É imprescritível (art. metade do dinheiro da loteria que correu
169). O Negócio Jurídico nulo não pode ser ontem se tiver ganhado. Isto não é
confirmado pelas partes. condição, pois se relaciona a fato passado.
A imprescritibilidade refere-se à Toda condição é incerta quanto a sua
declaração da nulidade absoluta, e não ocorrência- incertus ”an”. A morte é uma
aos efeitos patrimoniais decorrentes, condição? Não, pois em regra temos
que são prescritíveis. A pretensão certeza quanto a sua ocorrência. Mas se
indenizatória prescreve. você limita no tempo a ocorrência da
3a A sentença que declara a nulidade do morte, ela pode se transformar em
Negócio Jurídico tem efeito “ex tunc” uma condição.
[assim como o da sentença anulatória]. Toda condição é sempre voluntária (art.
121 do Código Civil). Toda condição é
Conversão do Negócio Jurídico: exclusivamente estipulada pela vontade
Encontra referencia no Direito Comparado: das partes. O Novo Código Civil acabou
parágrafo 140 do Código da Alemanha; art. com as condições derivadas das leis,
42 do Código da Holanda; art. 293 do também chamadas de condiciones juris
Código de Portugal; art. 1424 do Código (condições necessárias).
Italiano. Art. 121. Considera-se condição a cláusula
A conversão é uma medida sanatória que, derivando exclusivamente da
por meio da qual aproveitam-se os vontade das partes, subordina o efeito do
elementos materiais de um negócio negócio jurídico a evento futuro e incerto.
nulo ou anulável, convertendo-o em Exemplo de uma condiciones juris antiga:
negócio válido de finalidade lícita. Alienação de um apartamento depende de
O art. 170 do Código Civil trata desta forma pública. Isto que a doutrina
hipótese. denominava de condiciones juris, Pablo
Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo entende que isto sempre foi pressuposto de
contiver os requisitos de outro, subsistirá validade.
este quando o fim a que visavam as partes Além do requisito da futuridade e a
permitir supor que o teriam querido, se incerteza um outro requisito é a
houvessem previsto a nulidade. voluntariedade.
Por meio da conversão admite-se o CLASSIFICAÇÃO DAS CONDIÇÕES:
aproveitamento do negócio jurídico desde a) Quanto ao modo e a atuação:
que dois requisitos sejam observados: - Suspensiva: É o acontecimento
futuro e incerto que subordina a produção

29
dos efeitos obrigacionais do Negócio Negócio Jurídico (nulidade absoluta, não
Jurídico. Contém os efeitos do negócio até podendo nem extirpar a condição).
que o acontecimento se implemente. Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos
Vale anotar que a condição suspensiva não que lhes são subordinados:
suspende apenas a exigibilidade do I - as condições física ou juridicamente
negócio, mas especialmente subordina os impossíveis, quando suspensivas;
direitos e as obrigações das partes (art. 125 II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa
do Código Civil). Enquanto a condição ilícita;
não se implementar, não há sequer III - as condições incompreensíveis ou
aquisição do direito. contraditórias.
Art. 125. Subordinando-se a eficácia do Dentre as condições ilícitas existem dois
negócio jurídico à condição suspensiva, tipos:
enquanto esta se não verificar, não se terá - Perplexas: É aquela
adquirido o direito, a que ele visa. contraditória em seus próprios termos, de
Se a condição suspensiva subordina os maneira a privar o negócio de todo efeito
direitos e obrigações do negócio, se jurídico. Ex. Celebro um contrato de locação
porventura o devedor pagar antes do e no contrato coloco a condição de que a
implemento da condição, terá o direito outra parte não pode morar lá, privando o
de exigir de volta aquilo que pagou efeito do negócio.
antecipadamente (exceto se o negócio foi - Puramente Potestativas: É a
feito por mera liberalidade). condição que deriva do exclusivo arbítrio de
Enquanto a condição suspensiva não se uma das partes. É uma condição ilícita já
implementa, lembra Caio Mário, não cabe que é arbitrária, tirânica. O RESP 220608/SP
pagamento antecipado, sob pena de traz o exemplo de uma condição puramente
haver enriquecimento sem causa. potestativa que diz sobre a cláusula no
- Resolutiva: É o acontecimento acordo de separação que os bens do casal
futuro e incerto que desfaz os efeitos do serão doados para os filhos, mas a qualquer
Negócio Jurídico. O negócio vai produzindo tempo podem os doadores revogar a
efeitos até o dia que a condição se doação.
concretize resolvendo os efeitos do negócio. Obs.: A condição puramente potestativa
A 2a parte do art. 128 quer dizer que é diferente da simplesmente
mesmo se implementando a condição potestativa. Apenas a puramente
resolutiva, devem ser respeitados os potestativa é ilícita. A simplesmente
atos praticados em face de terceiros potestativa é permitida pelo Direito e trata-
de boa fé. se da condição que, embora derive da
Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, vontade das partes não é arbitrária por se
extingue-se, para todos os efeitos, o direito conjugar a circunstâncias externas, por
a que ela se opõe; mas, se aposta a um exemplo, um treinador diz ao artilheiro que
negócio de execução continuada ou se ele fizer o milésimo gol, receberá cem
periódica, a sua realização, salvo disposição mil reais. É uma condição simplesmente
em contrário, não tem eficácia quanto aos potestativa porque não depende tanto da
atos já praticados, desde que compatíveis vontade do artilheiro quanto das
com a natureza da condição pendente e circunstâncias exteriores, em conjunto.
conforme aos ditames de boa-fé. [Outro exemplo: casar-se é condição
simplesmente potestativa e, portanto, lícita;
b) Quanto à licitude: escalar uma montanha também. Já
- Lícita: É aquela que está em “declarar expressamente que tem intenção
conformidade com a lei, a ordem pública e de se casar” é puramente potestativa].
os bons costumes (art. 122 do Código Civil). O que é condição promíscua? É aquela
Art. 122. São lícitas, em geral, todas as originariamente pactuada como condição
condições não contrárias à lei, à ordem simplesmente potestativa e que se
pública ou aos bons costumes; entre as impossibilita depois. Ex. um treinador diz ao
condições defesas se incluem as que artilheiro que se ele fizer o milésimo gol, ele
privarem de todo efeito o negócio doará cem mil reais e depois este jogador
jurídico, ou o sujeitarem ao puro quebra a perna, impossibilitando a
arbítrio de uma das partes. concretização. [Essa condição se inicia
- Ilícita: É a condição que viola a lei, a como possível, mas depois termina como
ordem pública e os bons costumes. Se impossível. Se isso ocorrer e a condição for
condição for considerada ilícita, nos suspensiva, o negócio se torna inválido].
termos do art. 123, invalida todo o Obs.: O art. 49 do CDC e os arts 509 a 512
do CC (prazo de reflexão e venda
sujeita a prova ou experimentação,

30
respectivamente) caracterizam § 2o Meado considera-se, em qualquer mês,
situações de exercício unilateral o seu décimo quinto dia.
exclusivo da vontade admitidas pelo § 3o Os prazos de meses e anos expiram no
ordenamento. Estas cláusulas não são dia de igual número do de início, ou no
abusivas porque a lei permite imediato, se faltar exata correspondência.
expressamente. § 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão
de minuto a minuto.
c) Quanto à origem: Classificação quanto à origem: Legal
- Casual: Depende de um evento (estipulado pela lei); Convencional (fixado
natural, alheio a vontade do homem. Ex. pelas partes); e de graça (estipulado pelo
vou comprar sua safra de soja se chover no juiz por decisão ou sentença).
semestre que vem;
- Potestativa: Deriva da vontade da • Modo/Encargo:
parte e pode ser simplesmente potestativa É um ônus atrelado a uma liberalidade.
(licita) e puramente potestativa (ilícita); Só pode, portanto, ser colocado em
- Mista: É a condição que deriva da negócios gratuitos.
vontade da parte e também da vontade de Ruggiero sustenta que este encargo pode
um terceiro. Ex. eu me obrigo a doar a você ter o mesmo peso do benefício. Para Pablo
15.000, se você constituir um negócio com isto não pode acontecer, pois o encargo é
meu irmão [Essa não é simplesmente apenas um ônus e não contraprestação.
potestativa porque não fala apenas O art. 136 do Código Civil estabelece que o
“constituir uma sociedade” (com qualquer encargo não suspende a aquisição nem
outra pessoa), e sim “constituir uma o exercício do direito, salvo quando
sociedade com meu irmão”, especificando o imposto como condição suspensiva.
outro indivíduo de cuja vontade depende o Art. 136. O encargo não suspende a
implemento da condição]. aquisição nem o exercício do direito, salvo
O direito brasileiro inspirou-se na doutrina quando expressamente imposto no negócio
alemã, contrapondo-se à francesa, no jurídico, pelo disponente, como condição
sentido da irretroatividade do implemento suspensiva.
da condição. Na França se o negócio for Se a parte não cumprir o encargo, este
celebrado hoje e a condição for pode ser executado ou a doação pode
implementada ano que vem , o negócio é ser desfeita. ASSUNTO DO MÓDULO
considerado perfeito desde hoje (retroage). REGULAR.
No Brasil, não. O negócio é considerado Considera-se não escrito o encargo
perfeito apenas a partir de hoje. ilícito ou impossível, salvo se constituir
causa (motivo determinante) do
• Termo: Negócio Jurídico, quando invalidará
É um acontecimento futuro e certo que todo o negócio. Ex.: Eu me obrigo a doar
interfere na eficácia jurídica do negócio. a você uma fazenda e estabeleço que a
Tendo então duas características básicas: a causa da doação é o encargo de você criar
futuridade e a certeza da sua ocorrência. O uma uma casa de prostituição. [Note-se a
termo é certus “an", certo quanto a sua diferença: no caso da condição e do termo,
ocorrência, mesmo que você não saiba o a ilicitude sempre gera invalidade; já a
dia (art. 131do CC). impossibilidade gera invalidade se for
Na forma do art. 131, o termo inicial não suspensiva e se considera não escrita se for
impede a aquisição de direitos e resolutiva. No caso do modo ou encargo,
obrigações, suspendendo apenas a por outro lado, tanto a ilicitude quanto a
exigibilidade (exercício) do negócio. [É impossibilidade não geram invalidade, salvo
o contrário da condição suspensiva]. apenas se o encargo ilícito ou impossível foi
Art. 131. O termo inicial suspende o a causa da liberalidade].
exercício, mas não a aquisição do direito.
O termo pode ser inicial (subordina o inicio Prescrição e Decadência – Parte I
dos efeitos do negócio) ou final. O período 1. Considerações Iniciais:
entre os dois termos é prazo (art. 132 “O tempo não pára”. O decurso do tempo é
do CC). base para analise da prescrição e
Art. 132. Salvo disposição legal ou decadência, pois o decurso do tempo é
convencional em contrário, computam-se os um fato jurídico ordinário apto a criar
prazos, excluído o dia do começo, e incluído (usucapião), modificar (capacidade) ou
o do vencimento. extinguir (prescrição e decadência)
§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, situações jurídicas.
considerar-se-á prorrogado o prazo até o A prescrição e a decadência existem por
seguinte dia útil. conta do Princípio da Segurança Jurídica. O

31
decurso do tempo aliado a inércia de seu O direito de anular o contrato por defeito no
titular pode ter o condão extintivo de negócio é um direito potestativo com prazo
direitos. decadencial legal.
A doutrina clássica (Clóvis Beviláqua, A decadência trata da perda de um direito
Carpenter, Eduardo Espínola, Silvio potestativo pelo seu não exercício dentro
Rodrigues, Orlando Gomes, Câmara Leal, do prazo legal ou convencionalmente
Carvalho Santos) costumava dizer que a fixado.
prescrição ataca a ação. Estes autores O direito potestativo não tem por conteúdo
adotavam a época a Teoria Imanentista do uma contraprestação. Ele traduz um poder
Direito Romano, que sustentava que o de interferência na esfera jurídica alheia.
direito material e o direito de ação seriam a O direito potestativo impõe apenas uma
mesma coisa. Então para eles o que sujeição, existindo até direitos potestativos
prescrevia era a ação materialmente ligada sem prazo para o exercício.
ao direito. Toda vez que um direito potestativo tiver
Aguinela Morim Filho, paraibano, escreveu prazo para o seu exercício necessariamente
um artigo na década de 60, que só agora foi este prazo é decadencial. Nunca será
consagrado por Miguel Reale, mostrando prescricional.
que não é correto dizer que a prescrição Estes prazos decadenciais podem ser legais
ataca a ação. ou convencionais. Ao contrario dos prazos
Hoje se sabe que direito material e direito prescricionais que são sempre legais.
de ação são coisas diferentes, são O direito que você tem de anular o contrato
autônomos. E hoje se sabe que o direito por vício de dolo, por exemplo, é um direito
de ação, de ir ao Judiciário não potestativo de desconstituir o negócio que
prescreve nunca. Se uma pessoa entra tem prazo decadencial legal de 4 anos.
com a ação depois de 25 anos, a o direito Agnelo Morim Filho (RT 300:7 e 711:725) foi
de ação não está prescrito. o responsável pela declaração de que o que
O que prescreve é a pretensão. A prescreve é a pretensão, a decadência
pretensão é o poder conferido ao credor interfere apenas no direito potestativo.
de coercitivamente exigir o
cumprimento da prestação: este poder 2. Características da Prescrição e da
nasce no dia da violação do seu direito e Decadência:
morre no ultimo dia do prazo prescricional. 1a Quanto à alteração dos prazos: Os
Obs.: Prescrição e Decadência são prazos prescricionais não podem ser
preliminares de mérito. alterados pelas vontades das partes (art.
O CDC foi, no campo do direito privado, a 1a 192). Neste diapasão os prazos
grande lei a adotar esta tese no art. 27, e o decadenciais legais também não podem,
Código Civil Novo, no art. 189, adota mas os convencionais admitem alteração.
também esta teoria. 2a Quanto à renúncia: Os prazos
A decadência ou caducidade, por sua prescricionais só podem ser renunciados
vez, não se relaciona com o direito à quando já consumados (art. 191); já os
prestação, não tendo relação também com decadenciais legais são irrenunciáveis (art.
a pretensão. A decadência relaciona-se 209). Apenas os prazos decadenciais
com o direito potestativo. convencionais, pela autonomia privada,
Direito Potestativo não é direito que tem podem ser renunciados.
conteúdo prestacional, é apenas um poder Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser
de interferência na esfera jurídica alheia, de expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita,
maneira que a pessoa que sofre o seu sem prejuízo de terceiro, depois que a
exercício nada pode fazer. Ex. o advogado prescrição se consumar; tácita é a renúncia
tem o direito potestativo de renunciar ao quando se presume de fatos do
mandato. interessado, incompatíveis com a
Existem direitos potestativos sem prazos prescrição.
para exercê-los como o de renunciar um Art. 209. É nula a renúncia à decadência
mandato. Mas existem outros que possuem fixada em lei.
prazo para serem exercidos, este prazo é Quem renuncia à prescrição é o devedor. A
sempre decadencial. E estes prazos prescrição é uma defesa. Se o prazo
decadenciais podem ser legais ou prescricional acaba, o credor não possui
convencionais. mais pretensão, mas o devedor pode
Os prazos prescricionais são sempre renunciar a sua defesa e pagar a dívida.
legais. O NCC admite a renúncia à prescrição
O prazo estabelecido em um contrato para desde que esta esteja consumada para
desistir deste é um prazo decadencial impedir a renúncia antecipada da
convencional. prescrição, e, conseqüentemente a

32
colocação de cláusulas em contratos prescricionais especiais) do Código Civil,
renunciando a prescrição desde o início. todos os demais são decadenciais.
A renúncia pode ser expressa ou tácita
(presume de fatos do interessado) e só Aula 09
valerá sem prejuízo de terceiros. Data: 12/04/07
3a Quanto ao reconhecimento: A Prescrição e Decadência- Parte II
prescrição, tradicionalmente, no direito 3. Causas Impeditivas, Suspensivas e
brasileiro, não podia ser reconhecida de Interruptivas da Prescrição:
ofício, salvo quando dissesse respeito a A regra geral é que estas causas se aplicam
interesse indisponível. aos prazos prescricionais (art. 207 do CC).
Com a entrada em vigor do NCC, se Art. 207. Salvo disposição legal em
estabeleceu que a prescrição até poderia contrário, não se aplicam à decadência as
ser reconhecida de ofício apenas quando normas que impedem, suspendem ou
favorecesse a um absolutamente incapaz. interrompem a prescrição.
A lei 11.280/06 da Reforma Processual A causa impeditiva é a mesma suspensiva
revogou o art. 194 para, dando nova do prazo prescricional. A diferença é o
redação, ao parágrafo 5º do art. 219 do momento que ela ocorre.
CPC, admitir que o juiz pronuncie de A causa impeditiva impede o início do prazo
ofício a prescrição em qualquer prescricional, é uma represa, ela obsta o
demanda. início do prazo prescricional. A mesma
A prescrição pode ser alegada em qualquer causa que impede pode ser suspensiva se
tempo e grau de jurisdição (art. 193) pela este prazo já estava correndo. O prazo fica
parte a quem aproveite. Professor entende congelado e finda a causa suspensiva ela
que se quiser alegar em RE e RESP você recomeça a correr, contado o prazo que já
deve pré-questionar a matéria. Mas o art. tinha corrido.
194 foi revogado pela 11.280/06, e o Já a causa interruptiva zera o prazo
parágrafo 5º do art. 219 do CPC prescricional.
estabeleceu a regra segundo a qual o juiz As causas supracitadas se aplicam tanto a
pronunciará de ofício a prescrição. pretensão extintiva quanto a prescrição
Esta idéia de análise de ofício já era aquisitiva (usucapião).
admitida pelo Direito Tributário, na lei de Excepcionalmente, poderão ocorrer
execução fiscal (n.º 6.830/80), quando estas causas para a decadência.
alterada pela lei 11.051/04 (art. 40,
parágrafo 4º). 3.1 Causas Suspensivas ou Impeditivas
A possibilidade de reconhecimento de (art. 197, 198 e 199 do Código Civil):
ofício da prescrição não pode impedir a Não corre (causa suspensiva ou impeditiva
renúncia do devedor que queira pagar sempre que falar “não corre”):
a dívida (Enunciado 295 da 4a Jornada de I. entre cônjuges, na constância da
Direito Civil). sociedade conjugal: O enunciado 296 da 4a
Antes de pronunciar a prescrição, a luz do Jornada de Direito Civil aplica esta regra
Princípio da Cooperatividade, e em respeito também para a união estável;
ao enunciado 295, deve o juiz conceder um II. entre ascendentes e descendentes,
prazo para que as partes, querendo, durante o poder familiar: Você não pode
manifestem-se. Caso o devedor permaneça usucapir um bem de seu pai enquanto você
silente pode o juiz pronunciá-la. for menor.
Tem que abrir o prazo para as duas partes III. entre tutelados ou curatelados e seus
em nome do Princípio do devido processo tutores ou curadores, durante o exercício
legal. da tutela ou curatela.
A decadência legal deve ser Repita-se a causa que impede, se ocorre no
reconhecida de ofício pelo juiz [até decurso do prazo irá suspender a
porque é irrenunciável], já a prescrição.
convencional precisa da manifestação Também não corre a prescrição:
da parte a quem aproveita, em I. contra os absolutamente incapazes: A
qualquer gral de jurisdição. favor dele o prazo corre: se ele for devedor
Obs.: Entendendo o art. 190 do Código Civil o prazo corre, agora se credor o prazo não
“a exceção prescreve no mesmo prazo da corre. [Contra os relativamente
pretensão”. incapazes, o prazo prescricional corre,
Exceção é a defesa. A defesa prescreve no sempre].
mesmo prazo do ataque. II. contra os ausentes do País em serviço
Dica: Os prazos prescricionais estão apenas público da União, dos Estados ou dos
nos arts. 205 (prazo prescricional geral e Municípios: a favor conta, se for devedor
máximo de 10 anos) e 206 (prazos conta a prescrição.

33
III. contra as pessoas que se acharam O prazo prescricional para indenização
servindo nas Forças Armadas, em tempo no CDC é de 5 anos. [No CC, é de 3 anos].
de guerra.
Não corre igualmente a prescrição: 3.2 Causas Interruptivas da Prescrição
I. pendendo condição suspensiva. Já que (art. 202 do Código Civil):
esta impede inclusive a aquisição dos Estas causas zeram o prazo prescricional. A
direitos. interrupção agora só pode ocorrer uma
II. não estando vencido o prazo; vez para evitar o abuso do direito do
III. pendendo evicção: Este artigo se aplica credor.
mais na pretensão aquisitiva. Por exemplo, Há um enunciado no TST 268 que dizia que
você compra um carro, contra o qual pende se a reclamação trabalhista é arquivada
uma ação de evicção (o carro era de outra interrompe o prazo prescricional. Os
pessoa, que não a que lhe vendeu), durante empregados forçavam a revelia do
esta ação, você não pode usucapir o bem. empregador, pois toda audiência que o
Art. 200. Quando a ação se originar de fato empregador estava presente, e o
que deva ser apurado no juízo criminal, não empregado o via no corredor ele ia embora.
correrá a prescrição antes da respectiva Até o dia que o empregador desistisse de ir
sentença definitiva. a audiência e o empregado conseguisse
Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de uma revelia. Agora não pode fazer mais
um dos credores solidários, só aproveitam isso, pois a interrupção da prescrição só
os outros se a obrigação for indivisível. [Ou pode ocorrer uma vez.
seja: não é a solidariedade que faz com que São elas:
a suspensão de prescrição para um I. por despacho de juiz, mesmo
aproveite aos demais. Na solidariedade, de incompetente, que ordenar a citação, se o
per si, cada um terá a prescrição de sua interessado a promover no prazo e na
parte na obrigação no seu momento. O que forma da lei processual. Este inciso deve
tem esse efeito é a indivisibilidade, pois aí ser interpretado conjuntamente com o art.
não dá para “cada parte” prescrever em 219, parágrafos 2º e 3º do CPC.
uma hora]. O art. 219 diz que a interrupção da
Obs.: Vale lembrar que o art. 26, parágrafo prescrição retroagirá à data da propositura
2º do CDC traz causas impeditivas do início da ação e que incumbe a parte promover a
do prazo decadencial para se reclamar por citação nos 10 dias subseqüentes ao
vício de qualidade do produto ou serviço despacho que ordene a citação
(Nelson Nery, Zeumo Denari e Rizzato (prorrogáveis por mais 90, se não tiver
Nunes). Quando há vício de qualidade o havido a citação), não ficando a parte
prazo é decadencial de 90 dias para prejudicada pela demora jurisdicional.
bens duráveis e 30 dias para bens não Assim, o efeito interruptivo da prescrição
duráveis. caso o interessado tenha adotado as
O prazo de garantia convencional providencias devidas (ex. pagou as custas)
(contratual) é complementar ao prazo retroagirá a data da propositura da ação.
de garantia legal! Em caso contrario, lembra Barbosa Moreira,
As causas que o CDC traz que impede este a interrupção só se dará com a efetiva
prazo legal são: citação do réu.
I A reclamação perante o fornecedor de II. por protesto, nas condições do inciso
produto/serviço, até a resposta antecedente. Este protesto é a medida
negativa correspondente, que deve ser cautelar de protesto (art. 867 do CPC),
transmitida de forma inequívoca. O ideal é porque demonstra que o credor está se
reclamar por escrito, se o vendedor não movimentando;
assinar o protocolo, você deve levar duas III. por protesto cambial. É o de titulo de
testemunhas. crédito. Este inciso derrubou a súmula 153
II. Vetado. Dizia que não começava correr o do STF, que dizia que “simples protesto
prazo decadencial se a reclamação fosse cambial não interrompe a prescrição”;
formulada perante órgão de proteção e IV. pela apresentação do título de crédito
defesa do consumidor. O presidente vetou. em juízo de inventário ou em concurso de
Ou seja, a reclamação formulada no credores. A habilitação do crédito no
PROCON lamentavelmente em virtude processo interrompe a prescrição.
deste veto não impede o curso do V. qualquer o ato judicial que constitua em
prazo decadencial (RESP 65498/SP). Mais mora o devedor, a exemplo de uma
seguro é ir direto ao Juizado. interpelação;
III. A instauração de inquérito civil, até VI. qualquer ato inequívoco, ainda que
seu encerramento. extrajudicial, que importe reconhecimento
do direito do credor.

34
O que é prescrição intercorrente? É aquela haveria lesão aos direitos do credor, que já
que se dá dentro de um processo que se rompeu regularmente a sua inércia].
paralisou. O direito tributário brasileiro
aceita a tese da prescrição intercorrente no 4. Contagem do prazo prescricional:
art. 40 da Lei de Execução Fiscal (6830/80), O art. 2028 do Código Civil traz uma regra
que foi alterado em 2004. transitória para a contagem dos prazos
No direito do trabalho a prescrição prescricionais. Serão os prazos da lei
intercorrente é polemica, pois há um anterior quando reduzidos pelo NCC e se na
conflito entre o enunciado 114 do TST e a data de sua entrada em vigor já tiver
súmula 327 do STF. transcorrido mais da metade do tempo pela
O enunciado nega a aplicação da prescrição lei revogada.
intercorrente na justiça do trabalho e a
súmula diz que se aplica sim. 5. Prazos Prescricionais:
A corrente majoritária hoje é que, como no Art. 206. Prescreve:
processo trabalhista de conhecimento os § 1o Em um ano:
atos são em sua maioria impulsionados pela I - a pretensão dos hospedeiros ou
própria secretaria, não se pode aqui [donos de restaurantes] fornecedores de
reconhecer a prescrição intercorrente, pois víveres destinados a consumo no próprio
seria reconhecer a mora do Judiciário. Agora estabelecimento, para o pagamento da
na execução, como os atos dependem mais hospedagem ou dos alimentos;
das partes, há decisões admitindo. II - a pretensão do segurado contra o
No processo civil a jurisprudência segurador, ou a deste contra aquele,
brasileira resiste a prescrição contado o prazo:
intercorrente, pois seria o descrédito a) para o segurado, no caso de seguro de
do Poder Judiciário. É a posição do STJ. responsabilidade civil, da data em que é
Art. 203. A prescrição pode ser citado para responder à ação de
interrompida por qualquer indenização proposta pelo terceiro
interessado. prejudicado, ou da data que a este
Art. 204. A interrupção da prescrição por indeniza, com a anuência do segurador;
um credor não aproveita aos outros; b) quanto aos demais seguros, da ciência
semelhantemente, a interrupção operada do fato gerador da pretensão;
contra o co-devedor, ou seu herdeiro, III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares
não prejudica aos demais coobrigados. da justiça, serventuários judiciais,
§ 1o A interrupção por um dos credores árbitros e peritos, pela percepção de
solidários aproveita aos outros; assim emolumentos, custas e honorários;
como a interrupção efetuada contra o IV - a pretensão contra os peritos, pela
devedor solidário envolve os demais e avaliação dos bens que entraram para a
seus herdeiros. [Aqui, é diferente do formação do capital de sociedade
impedimento e da suspensão. O anônima, contado da publicação da ata da
impedimento e a suspensão somente assembléia que aprovar o laudo;
aproveitam (ou prejudicam) aos demais se V - a pretensão dos credores não pagos
a coisa for indivisível, pois as causas de contra os sócios ou acionistas e os
impedimento e suspensão são liquidantes, contado o prazo da publicação
eminentemente pessoais. Já na interrupção, da ata de encerramento da liquidação da
o que marca é a quebra da inércia sociedade.
(elemento objetivo) em relação à cobrança § 2o Em dois anos, a pretensão para haver
do débito. Assim, em havendo credores ou prestações alimentares, a partir da data
devedores solidários, a inércia é de todos em que se vencerem.
conjuntamente, e a interrupção aproveita § 3o Em três anos:
ou prejudica a todos, mesmo que a I - a pretensão relativa a aluguéis de
obrigação seja divisível. Entretanto, se a prédios urbanos ou rústicos;
interrupção se der em relação a um II - a pretensão para receber prestações
herdeiro do devedor solidário, aí sim, não vencidas de rendas temporárias ou
se comunica, salvo apenas se for obrigação vitalícias;
indivisível]. III - a pretensão para haver juros,
§ 2o A interrupção operada contra um dos dividendos ou quaisquer prestações
herdeiros do devedor solidário não acessórias, pagáveis, em períodos não
prejudica os outros herdeiros ou devedores, maiores de um ano, com capitalização ou
senão quando se trate de obrigações e sem ela;
direitos indivisíveis. IV - a pretensão de ressarcimento de
§ 3o A interrupção produzida contra o enriquecimento sem causa;
principal devedor prejudica o fiador. [Senão, V - a pretensão de reparação civil;

35
VI - a pretensão de restituição dos lucros A relação obrigacional é horizontal e a real
ou dividendos recebidos de má-fé, é vertical.
correndo o prazo da data em que foi A natureza jurídica da relação que une o
deliberada a distribuição; credor ao devedor é pessoal.
VII - a pretensão contra as pessoas em Em geral as relações obrigacionais são
seguida indicadas por violação da lei ou complexas, ou seja, em geral em uma
do estatuto, contado o prazo: mesma relação obrigacional uma parte é
a) para os fundadores, da publicação dos simultaneamente credora e devedora da
atos constitutivos da sociedade anônima; outra. Por exemplo, João comprou um carro,
b) para os administradores, ou fiscais, da ele é devedor do preço e credor da coisa.
apresentação, aos sócios, do balanço Entre a relação jurídica obrigacional e a
referente ao exercício em que a violação relação jurídica real, existe um tipo de
tenha sido praticada, ou da reunião ou relação que é mista, denominada obrigação
assembléia geral que dela deva tomar propter rem ou Ob Rem ou Real.
conhecimento; Trata-se de uma obrigação de natureza
c) para os liquidantes, da primeira híbrida (real e pessoal), que se vincula a
assembléia semestral posterior à violação; uma coisa, acompanhando-a. É híbrida uma
VIII - a pretensão para haver o pagamento vez que é uma obrigação vinculada a uma
de título de crédito, a contar do coisa, e não importando quem seja o seu
vencimento, ressalvadas as disposições de titular este terá obrigação de cumpri-la. Por
lei especial; exemplo, obrigação de pagar taxas
IX - a pretensão do beneficiário contra o condominiais (STJ já decidiu). [Assim, quem
segurador, e a do terceiro prejudicado, no compra um imóvel com débitos de
caso de seguro de responsabilidade condomínio termina por contrair também
civil obrigatório [Seguro normal é de um esses débitos. Do mesmo modo, o débito
ano; seguro obrigatório, três anos]. relativo ao IPTU sobre um imóvel também
§ 4o Em quatro anos, a pretensão relativa pode ser definido como uma obrigação
à tutela, a contar da data da aprovação propter rem].
das contas. Há decisões do STJ dispondo que no caso de
§ 5o Em cinco anos: um promitente comprador que já esteja
I - a pretensão de cobrança de dívidas morando no imóvel, ele se obrigará nas
líquidas constantes de instrumento taxas condominiais. É uma tese nova do
público ou particular; STJ, mas minoritária.
II - a pretensão dos profissionais liberais Qual a diferença entre obrigação propter
em geral, procuradores judiciais, rem e obrigação com eficácia real? A
curadores e professores pelos seus obrigação com eficácia real é simplesmente
honorários, contado o prazo da conclusão aquela dotada de eficácia erga omnes, em
dos serviços, da cessação dos respectivos virtude do registro público (art. 8º da lei
contratos ou mandato; 8245/91- do inquilinato). Ex. do contrato de
III - a pretensão do vencedor para haver locação registrado na matrícula do imóvel.
do vencido o que despendeu em juízo.
Art. 207. Demais casos: 10 anos. 2. Sentidos da Palavra Obrigação:
A doutrina quando trata da palavra
obrigação faz um desmembramento entre
Civil- Parte Especial debitum e obligatio. Debitum traduz a
Pablo Stolze obrigação em sentido estrito, o dever.
pablostolze@terra.com.br Obligatio, por sua vez, é responsabilidade
patrimonial. Há situações em que a pessoa
Aula 10 só tem o debitum, sem a responsabilidade,
Data: 17/04/07 como o fiador e o avalista.
E há situações em que a pessoa tem a
Direito das Obrigações: obligatio, sem o debitum, no caso de
1. Conceito: dívidas prescritas.
É o conjunto de normas e princípios A palavra obrigação pode também ter um
reguladores da relação jurídica que vincula sentido amplo ou analítico. Neste sentido é
o credor ao devedor, impondo a este último a própria relação jurídica que une credor ao
uma prestação de dar, fazer ou não fazer. É devedor. É o vinculo de união entre o credor
uma espécie de direito pessoal, cuja outra e o devedor.
espécie é o direito da personalidade.
É diferente do direito das coisas que 3. Estrutura da Relação Obrigacional:
disciplina as relações jurídicas entre um São três os elementos desta estrutura:
sujeito e uma coisa.

36
- Subjetivo: São os sujeitos ativo Diante disso as fontes das obrigações
(credor) e passivo (devedor). Para que a podem ser:
obrigação tenha eficácia estes sujeitos a. Classificação Clássica:
devem ser determinados ou ao menos Feita por Gaio, as fontes das obrigações são
determináveis. Determinado é o sujeito o contrato, o quase-contrato (eram os
individualizado. negócios unilaterais como a promessa de
A indeterminabilidade, admitida pelo Direito recompensa), o delito (era o ilícito doloso) e
Brasileiro, é sempre relativa, ou seja é o quase-delito (era o ilícito culposo).
sempre temporária. Os Estados modernos não utilizam mais a
Exemplo de indeterminabilidade passiva: classificação de Gaio.
obrigação de pagar taxa de condomínio ou
IPTU (não importa quem seja o dono, quem b. Classificação Moderna:
for pagará). Orlando Gomes chama-a de Em geral, o Direito Moderno classifica as
obrigação ambulatória, que é aquela em fontes das obrigações em: atos negociais
que há mudança de sujeitos sem desvirtuar (quer sejam unilaterais ou bilaterais), atos
a obrigação. não negociais (ex. direitos de vizinhança) e
Exemplo de indeterminabilidade ativa: atos ilícitos.
Título ao portador e a Promessa de O Código Brasileiro regula as fontes das
recompensa (uma declaração unilateral de obrigações? Diferentemente do Código da
vontade). Espanha (art. 1089), o Código brasileiro não
- Objetivo: É também chamado traz dispositivo especifico para as fontes
de objeto direto ou imediato da obrigação. das obrigações. Muito embora da leitura
É a prestação. geral de suas normas podemos concluir que
O objeto da obrigação é a prestação, e não o Código do Brasil admite como fonte das
o bem da vida! A prestação é a atividade do obrigações o contrato, as declarações
devedor (de dar, fazer ou não fazer) com o unilaterais de vontade e o ato ilícito (é mais
objetivo de satisfação do crédito, claro quanto a estas hipóteses), não quer
respeitando sempre os princípios da função dizer que não haja outras.
social e da boa-fé objetiva (doutrina
constitucionalista do Direito Civil: uma 5. Classificação das Obrigações
obrigação também implica deveres anexos (APOSTILA):
ou deveres de proteção, que são deveres a. Classificação Básica:
de cunho ético e exigibilidade jurídica). Toma por critério metodológico a prestação.
Características da prestação: Lícita, Esta classificação subdivide a obrigação
possível, determinada ou ao menos em:
determinável. a) Positiva:
É possível haver obrigação sem caráter Pode ser de dar coisa certa ou incerta ou de
patrimonial. Em geral as obrigações tem a fazer.
característica da patrimonialidade, todavia A obrigação de dar tem por objeto
excepcionalmente se admite obrigação prestação de coisas e a palavra dar, em
desprovida desta nota. (Paulo Lôbo, Silvio Direito Civil, pode ter três sentidos:
Venosa e Pontes de Miranda). Por exemplo, transferir propriedade, entregar a posse (eu
a obrigação de fidelidade no casamento; ou alugo uma casa a você) ou a detenção da
a obrigação, em um testamento, de coisa ou restituir ao credor.
herdeiro cremar o corpo do testador. O Um Princípio básico da obrigação de dar
Código de Portugal, no art. 398, item II é coisa certa é no sentido de que o credor
claro ao admitir a tese de que pode haver não está obrigado a receber prestação
obrigação sem conteúdo patrimonial. diversa da que lhe é devida, ainda que
mais valiosa (art. 313 do CC).
- Imaterial ou Espiritual:
Na obrigação de dar coisa certa o acessório
Segundo Álvaro Vilaça Azevedo, é o próprio
segue o principal (art. 233 do CC). O art.
vínculo abstrato que une o credor ao
234 diz que se a coisa se perder antes da
devedor.
tradição, sem culpa do devedor, ou
Obs.: Toda relação obrigacional é
pendente uma condição suspensiva, fica
constituída por um fato jurídico denominado
resolvida a obrigação. Se o devedor já
fonte das obrigações.
recebeu alguma quantia, terá que devolver,
para evitar enriquecimento sem causa.
4. Classificação das Fontes:
Todavia, havendo culpa do devedor este irá
Fonte da obrigação, segundo Silvio
responder pelo equivalente mais perdas e
Rodrigues, é a lei. A lei é a fonte ultima,
danos.
mas entre a lei e a relação obrigacional
Dica: Em Teoria Geral das Obrigações, na
existe um fato.
grande maioria das vezes, em havendo

37
culpa da parte, haverá obrigação de pagar palavra gênero deve ser espécie. Por
perdas e danos. exemplo, arroz é a espécie, gênero é
Agora ocorrem situações em que a coisa cereal.
não é perdida, ela é deteriorada, aplicando- O nome que a doutrina deu a este ato de
se os arts. 235 e 236: não sendo o devedor escolha da qualidade da coisa,
culpado, o credor poderá resolver a transformando-a em coisa certa, é
obrigação ou aceitar a coisa, abatido do seu concentração do debito ou da prestação
preço o valor que perdeu; agora se o devida. Em geral, no direito das obrigações,
devedor for culpado, o credor poderá exigir quem efetua escolhas é o devedor (art. 244
o equivalente ou aceitar a coisa no estado do CC), salvo se o contrato dispuser em
em que se encontra, com direito a contrário. Todavia, a escolha deve ser feita
reclamar, em ambos os casos, indenização pela média, não se pode dar a pior nem se
das perdas e danos. está obrigado a dar a melhor.
O Código Civil trata ainda nos arts. 238 e Agora depois de efetuada a escolha,
239 do problema da percepção dos frutos cientificado o credor, rege-se pelas
nas obrigações de dar coisa certa: na obrigações de dar coisa certa.
obrigação de restituir, se a coisa se perder Obs.: Vale anotar o Princípio do Genus
antes da tradição, sem culpa do devedor, Nunquam Perit, que diz que o gênero não
sofrerá o credor a perda, ressalvado o perece nunca. Está previsto no art. 246 que
direito do credor até a perda (empresto diz “Antes da escolha não poderá o
uma vaca, se ela morrer e der a luz a um devedor alegar perda ou deterioração da
bezerro, este será meu. Essa é uma coisa, ainda que por caso fortuito ou força
exceção, pois, em regra, os frutos maior” [Não poderá o devedor usar esses
percebidos durante a posse de boa fé são argumentos para resolver o contrato].
do possuidor. Entretanto, como o Agora a doutrina que dá suporte ao projeto
proprietário já perdeu a coisa, ao menos o de lei 6960/02, que visa a reformar o
Direito lhe confere o benefício de ficar com Código Civil, pretende relativizar este
os frutos). Se houver culpa do devedor, princípio, para admitir a alegação de caso
responderá este pelo equivalente mais fortuito ou força maior, se se tratar de um
perdas e danos. [Já na obrigação de gênero limitado na natureza.
entregar coisa, se houver frutos antes da A obrigação de fazer tem por objeto a
entrega, eles são do anterior proprietário; prestação de um fato, ou seja, neste caso
depois da entrega, do novo proprietário; interessa a própria atividade do devedor e
pendentes, são também do novo esta obrigação de fazer poderá ser
proprietário]. [No que tange aos acréscimos personalíssima ou não personalíssima.
e melhoramentos da coisa, pode o devedor A personalíssima é infungível. A não
exigir um aumento do preço e, caso o personalíssima, por outro lado, é fungível. O
credor não aceite, poderá resolver o Código Civil regula a matéria nos arts. 247
negócio]. a 249.
No Direito Brasileiro as obrigações de dar Nos casos de obrigações de fazer
não têm eficácia real. [Geram apenas personalíssima, em que o devedor se
direito pessoal, não possuem eficácia erga recusa a fazer, a inexecução implica
omnes nem geram direito de seqüela]. Se obrigação de indenizar perdas e danos. Em
você celebra um contrato com obrigação de tese aqui cabe a tutela específica
dar, esta será eminentemente pessoal. Aqui processual.
para haver eficácia erga omnes tem que Agora se a prestação do fato se tornar
haver uma solenidade: tradição nos casos impossível sem culpa do devedor, resolve-
de bens moveis e o registro nos bens se a obrigação. Se por culpa dele não puder
imóveis. cumpri-la responderá por perdas e danos.
Na França se você celebra um contrato, ele Aqui pode caber, inclusive, multa
automaticamente produz efeitos reais, você cominatória.
já é dono. Agora se a obrigação for não
A obrigação de dar coisa incerta é também personalíssima, será livre ao credor mandar
chamada de obrigação genérica. Estas terceiro executá-la a custa do devedor,
obrigações têm por objeto uma prestação havendo recusa ou mora deste, sem
consistente na entrega de coisa indicada prejuízo da indenização cabível. Em caso de
apenas pelo gênero e pela quantidade. urgência, pode o credor,
Falta a ela a qualidade da coisa (art. 243 independentemente de autorização judicial,
do CC). Ex. obrigação de dar duas sacas de executar ou mandar executar o fato, sendo
café (que café é?). depois ressarcido. É uma forma de
A crítica a este artigo 243 é feita por Álvaro autotutela.
Vilaça Azevedo, sugerindo que em vez da

38
b) Negativa: solidários tem direito de exigir o
É a obrigação de não fazer, que tem por cumprimento da prestação por inteiro.
objeto uma prestação negativa, um Ex. de solidariedade ativa por força de lei:
comportamento omissivo ou uma art. 12 da lei 209/48, que trata de dívidas
abstenção do devedor. de pecuaristas.
Ex. Fulano assumiu uma obrigação de não Ex. de solidariedade ativa por força da
construir um muro. É uma servidão? vontade das partes: contrato de conta
Depende, se esta obrigação foi constituída corrente conjunta em solidariedade.
e levada a registro imobiliário, será uma Obs.: O STJ, nos RESP 708612/RO e
servidão (quanto ao aspecto eficacial) e 602.402/RS, tem entendido que a
também uma obrigação negativa (na solidariedade ativa vai somente até o
estrutura orgânica). limite do crédito depositado, de maneira
Está prevista nos arts. 250 e 251 do Código que o correntista que emitiu cheques
Civil. sem fundo responde pessoalmente
Extingue-se a obrigação de não fazer desde pelo título.
que sem culpa do devedor, se lhe torne O art. 269 diz que o pagamento feito a um
impossível abster-se do ato, que se obrigou dos credores solidários extingue a dívida
a não praticar. A obrigação é extinta se o até o montante que foi pago.
devedor, sem culpa, for compelido a fazer. O art. 272 dispõe que o credor que tiver
Agora praticado pelo devedor o ato, a cuja remido (perdoado) a dívida ou recebido o
abstenção se obrigara, com culpa, o credor pagamento responderá aos outros pelas
pode exigir dele que o desfaça, sob pena de partes que lhes caibam.
se desfazer a sua custa, ressarcindo o Com a morte do credor solidário a
culpado perdas e danos. Em caso de solidariedade desaparece para os herdeiros
urgência pode o credor, inclusive, (art. 270), e cada um só terá direito a
independentemente de autorização judicial, receber a quota de crédito que
executar ou mandar executar o fato, sendo corresponder ao seu quinhão hereditário,
depois ressarcido. É uma forma de salvo se a obrigação for indivisível. Isso
autotutela. porque a solidariedade não se presume, e
ela não foi expressamente disposta em
Aula 11 relação aos herdeiros, apenas em relação
Data: 24/04/07 ao credor solidário originário.
A solidariedade passiva opera-se quando há
b. Classificação Especial. Principais uma pluralidade de devedores, cada um
Modalidades: obrigado a toda dívida (art. 275).
I Quanto ao elemento subjetivo: As defesas (exceções) do devedor solidário
a) Obrigações Solidárias: estão reguladas no art. 281. O devedor
Existe solidariedade quando na mesma demandado pode opor as defesas pessoais
obrigação concorre uma pluralidade de e as comuns a todos, não lhe
credores ou de devedores, cada um com aproveitando as defesas pessoais dos
direito ou obrigado a toda a dívida. Assim, a demais devedores solidários.
solidariedade pode ser ativa (credores), Questões Especiais envolvendo
passiva (devedores) ou mista (ambos os Solidariedade:
pólos). 1a. Qual é a diferença entre obrigação
Solidariedade jamais se presume. solidária e obrigação indivisível? A
Resulta ou da lei ou da vontade das solidariedade refere-se aos sujeitos da
partes (art. 265). obrigação, já a indivisibilidade refere-se ao
Qual a diferença entre obrigação objeto da obrigação. Na obrigação solidária
solidária e obrigação in solidum? A a morte do devedor extingue a
obrigação in solidum é aquela em que os solidariedade [para os herdeiros], já na
devedores estão vinculados pelo mesmo obrigação indivisível isto não acontece. A
fato, sem que haja tecnicamente diferença final é que a obrigação indivisível
solidariedade entre eles, ex. uma casa é convertendo-se em perdas e danos é
objeto de um seguro de dano e João fracionada, na obrigação solidária não.
incendeia a casa, o proprietário pode [Mesmo que se converta em perdas e
demandar João (que se obriga pelo ato danos, essa indenização poderá ser cobrada
ilícito) ou a Seguradora (que se obriga pelo integralmente de qualquer um dos
contrato), há neste caso um fato que os devedores. Já na indivisível, se houver
vincula, mas não há relação entre eles. resolução em perdas e danos, só se poderá
A solidariedade é regulada a partir do art. cobrar a quota-parte de cada um, pois não
267 do Código Civil. Cada um dos credores há solidariedade].

39
Observa-se ainda que se a obrigação for devedores (A, B, C), a obrigação pode ser
solidária ativa e indivisível não necessita de cumprida por qualquer deles: ou A ou B ou
caução da ratificação, já que qualquer C.
credor pode receber a dívida toda. [Na
obrigação indivisível que não é solidária, o II Quanto ao elemento objetivo:
credor, para receber a coisa, tem de prestar
caução de ratificação, garantindo o direito a) Obrigações Alternativas:
às quotas-partes dos outros credores]. São aquelas que possuem objeto múltiplo,
2a. Qual a diferença entre solidariedade e de maneira que o devedor se exonera
subsidiariedade? A subsidiariedade é uma cumprindo apenas uma delas. A obrigação
obrigação solidária em que há preferência já nasce com este objeto múltiplo.
no pagamento. Por exemplo, o art. 928 do É diferente das obrigações genéricas.
Código Civil, que diz que no caso de atos Segundo Nestor Duarte a diferença está em
ilícitos praticados pelo filho incapaz que: na obrigação genérica a prestação é
responde preferencialmente o pai, se ele indicada apenas pelo gênero e pela
não puder por falta de condição econômica quantidade; na obrigação alternativa o
ou por não ter obrigação de indenizar a devedor deve optar por uma entre duas
vítima, responde o filho. A responsabilidade prestações.
do incapaz é subsidiaria. Um exemplo de Uma prestação pode ser genérica, mas não
um caso em que o representante não tem é comum, o comum é as prestações
obrigação de indenizar é o caso da medida alternativas sejam certas.
sócio educativa de reparação de dano. A escolha na obrigação alternativa deve ser
3a. A obrigação de pagar alimentos não feita pelo devedor (art. 252 do CC). Todavia
é solidária. Ela traduz uma não pode o devedor obrigar o credor a
complementaridade jurídica entre os co- receber parte em uma parte em outra.
obrigados. Caso os pais –devedores Nas obrigações periódicas, em cada período
principais- não possam pagar, os avós são será feita a escolha: a cada mês se faz uma
chamados em caráter complementar ou nova escolha.
subsidiário. No caso de haver mais de um optante, se
Todavia, se o alimentando for idoso, o não houver acordo unânime entre eles, o
STJ fala que, segundo o Estatuto do Idoso, juiz decidirá, findo o prazo assinalado por
há uma solidariedade passiva. ele para deliberação.
Se o título deferir a escolha a 3º, e este não
b) Obrigações Fracionárias: quiser ou não puder exercer , caberá ao juiz
Nas obrigações fracionárias, concorre uma decidir.
pluralidade de devedores ou credores, de No caso de impossibilidade do cumprimento
forma que cada um deles responde apenas da obrigação alternativa:
por parte da dívida ou tem direito apenas a - Se houver a impossibilidade
uma proporcionalidade do crédito. Uma total das prestações sem culpa do devedor
obrigação pecuniária (de dar dinheiro), em a obrigação é extinta (se o credor já tinha
princípio, é fracionária. pagado, o devedor devolverá para evitar o
enriquecimento sem causa);
c) Obrigações Conjuntas: - Em havendo impossibilidade
São também chamadas de obrigações total, com culpa do devedor, se a escolha
unitárias ou de obrigações em mão comum cabia ao próprio devedor, ele deverá pagar
(Zur gesamtem Hand), no Direito o valor da prestação que se impossibilitou
germânico. Neste caso, concorre uma por ultimo acrescidas de perdas e danos;
pluralidade de devedores ou credores, Mas se a escolhe cabia ao credor, este
impondo-se a todos o pagamento conjunto poderá exigir o valor de qualquer das duas
de toda a dívida, não se autorizando a um mais perdas e danos;
dos credores exigi-la individualmente. - No caso de impossibilidade
parcial, ou seja destruição de apenas uma
d) Obrigações Disjuntivas: das prestações, sem culpa do devedor,
Nesta modalidade de obrigação, existem concentra-se o debito na prestação
devedores que se obrigam subsistente;
alternativamente ao pagamento da dívida. - No caso de impossibilidade
Vale dizer, desde que um dos devedores parcial, com culpa do devedor, se a escolha
seja escolhido para cumprir a obrigação, os cabia ao próprio devedor concentra-se na
outros estarão conseqüentemente prestação subsistente. Agora se a escolha
exonerados, cabendo, portanto, ao credor a cabia ao credor, ele poderá exigir a
escolha do demandado. De tal forma, prestação remanescente ou o valor da que
havendo uma dívida contraída por três

40
se impossibilitou, acrescida de perdas e No caso de pluralidade de credores o
danos. devedor pode pagar conjuntamente aos 3
A lei não traz situação em que a credores, mas pode pagar a um só, uma
impossibilidade se dê por culpa do credor, vez que a obrigação é indivisível, (art. 260)
mas se isto acontecer a obrigação estará desde que este dê uma caução de
extinta. ratificação dos outros credores (é um
documento que os outros credores ratificam
b) Obrigações Cumulativas: que o devedor pode pagar a ele).
As obrigações cumulativas ou conjuntivas Se um só dos credores receber a prestação
são as que têm por objeto uma pluralidade por inteiro, a cada um dos outros assistirá
de prestações, que devem ser cumpridas dele a parte que lhe caiba em dinheiro (art.
conjuntamente. É o que ocorre quando 261).
alguém se obriga a entregar uma casa e Se existem 3 devedores de um cavalo a um
certa quantia em dinheiro. credor e antes da tradição o animal morre,
por caso fortuito, se extingue a obrigação.
c) Obrigações Facultativas: Mas, se houver culpa dos 3, responderão os
Não foi regulada pelo Código Civil Brasileiro, 3 por perdas e danos em partes iguais. Se a
diferentemente do Código Civil da culpa for de um só, só o culpado
Argentina que a regula a partir do ar. 643. A responderá pelas perdas e danos (art. 263).
obrigação é facultativa quando, tendo
objeto único, o devedor tenha faculdade de III Quanto ao conteúdo:
substitui-lo, não podendo o credor exigir o a) Obrigações de Meio/ Resultado:
cumprimento da prestação facultativa. Obrigação de meio é aquela em que o
É diferente de uma obrigação alternativa devedor não se obriga a um resultado final
que é genética, nasce com o contrato com esperado, por exemplo, os médicos e os
o objeto múltiplo. Por exemplo, o objeto da advogados assumem uma obrigação de
obrigação é a entrega do livro e o devedor, meio. Diferentemente a obrigação de
facultativamente, se quiser no dia do resultado é aquela em que o devedor
pagamento, entrega o celular. projeta e assume o resultado final. Por
A obrigação facultativa tem objeto exemplo, o empreiteiro construtor assume
único, por isto que se o livro for roubado o o resultado final de construção da obra.
credor não pode exigir o celular. O celular é Obs.: O cirurgião plástico estético é o
uma faculdade do devedor. Orlando Gomes único médico que assume a obrigação de
diz que se a principal se impossibilita, a resultado.
facultativa não pode ser exigida. Ressalta-se que redução de mama, por
O objeto facultativo é acessório. exemplo, pode não ser entendida como
estética (jurisprudência do STJ).
d) Obrigações Divisíveis/Indivisíveis: Cirurgia reparadora (face que foi queimada)
As obrigações divisíveis são aquelas que não é obrigação de resultado.
admitem o cumprimento fracionado da
obrigação. As indivisíveis, por sua vez, só Novidade: O STJ/RESP 50723 decidiu que o
admitem o cumprimento da prestação por herdeiro deve pagar aluguel aos
inteiro (arts. 257 e 258 do CC). outros por estar residindo no imóvel
Para doutrina brasileira a indivisibilidade do inventário a partir da notificação.
pode ser natural (decorre da própria
natureza do objeto da prestação, ex. a b) Obrigações de Garantia:
entrega de um cavalo vivo), legal (situações Tais obrigações têm por conteúdo eliminar
em que a própria lei estipula, na maioria riscos que pesam sobre o credor, reparando
das vezes por motivos econômicos, ex. o suas conseqüências.
módulo rural é a pequena propriedade Na exemplificação sobre a matéria, observa
indivisível) e convencional (decorrente da MARIA HELENA DINIZ:
vontade das partes, ex. as partes dispõem “Constituem exemplos dessa obrigação a
que o capital depositado só pode ser do segurador e a do fiador, a do
cumprido por inteiro). contratante, relativamente aos vícios
A obrigação pecuniária é divisível por redibitórios, nos contratos comutativos (CC,
excelência. arts.441 e s.); a do alienante, em relação à
O art. 259 dispõe que, havendo dois ou evicção, nos contratos comutativos que
mais devedores, se a prestação não for versam sobre transferência de propriedade
divisível, cada um será obrigado a dívida ou de posse (CC, arts. 447 e ss); a oriunda
toda, mas o devedor que paga a dívida sub- de promessa de fato de terceiro (CC, art.
roga-se no direito do credor em relação aos 439). Em todas essas relações
outros coobrigados. obrigacionais, o devedor não se liberará da

41
prestação, mesmo que haja força maior ou Esta sub-rogação não é observada na
caso fortuito, uma vez que seu conteúdo é hipótese de pagamento feito por 3º não
a eliminação de um risco, que, por sua vez, interessado.
é um acontecimento casual ou fortuito, Um 3º não interessado é aquele que não
alheio à vontade do obrigado. Assim sendo, tem interesse jurídico no pagamento. Seu
o vendedor, sem que haja culpa sua, estará interesse é metajurídico. Quando o 3º não
adstrito a indenizar o comprador evicto; interessado paga, duas situações podem
igualmente, a seguradora, ainda que, p. ex., ocorrer: se o 3º não interessado pagar em
o incêndio da coisa segurada tenha sido seu próprio nome, terá direito apenas ao
provocado dolosamente por terceiro, reembolso do que pagou; se o 3º não
deverá indenizar o segurado”. interessado pagar em nome do devedor não
terá direito a nada.
IV. Quanto ao elemento acidental: Para saber se o 3º não interessado pagou
a) Obrigações Condicionais. em nome próprio basta ver se o recibo está
Trata-se de obrigações condicionadas a no nome dele.
evento futuro e incerto, como ocorre O devedor pode se opor ao pagamento feito
quando alguém se obriga a dar a outrem por 3º? Sim, na forma do art. 306 do Código
um carro, quando este se casar. Civil, que diz que o pagamento feito por 3º,
com desconhecimento ou oposição do
b) Obrigações a Termo: devedor, não o obriga a reembolsar aquele
Se a obrigação subordinar a sua que pagou, se o devedor tinha meios
exigibilidade ou a sua resolução, outrossim, para elidir a ação. O devedor pode se
a um evento futuro e certo, estaremos opor, notificando o 3º para que ele não
diante de uma obrigação a termo. pague, porque a dívida já foi paga, está
prescrita ou com base nos direitos da
c) Obrigações Modais: personalidade (uma vez que o 3º pode
As obrigações modais são aquelas oneradas pretender pagar para humilhar o devedor).
com um encargo
- A quem se deve pagar (arts.
6. Teoria do Pagamento: 308 a 309)?
a. Conceito: O credor ou seu representante é o sujeito
O pagamento é o cumprimento voluntário passivo do pagamento. A lei admite o
da obrigação. Clóvis Beviláqua lembra que pagamento feito a 3º, nos termos do art.
pagar não é apenas dar dinheiro, você paga 308, ou seja, pode ser feito a 3º desde que
dando, fazendo ou não fazendo. o credor o ratifique ou tanto quanto se
reverta em seu proveito.
b. Natureza Jurídica: Assim, o pagamento ao 3º só terá eficácia
A natureza jurídica do Pagamento, segundo se o credor ratificar o pagamento ou então
a doutrina majoritária, é negocial. É um se houver prova de que este pagamento
Negócio Jurídico e por isto podem ser reverteu em benefício do credor.
aplicados a ele os vícios do Negócio, a Existe um tipo de 3º especial que é
exemplo do erro. chamado de credor putativo ou aparente. O
nome putativo vem do latim, putare,
c. Condições do Pagamento: imaginário. O Código fala que o pagamento
Podem ser subjetivas ou objetivas. feito ao credor putativo é válido. O Projeto
As subjetivas são: de Reforma pretende colocar o termo
- Quem deve pagar (arts. 304 a “eficaz”.
306)? Segundo Mauricio da Mota, a teoria da
O devedor ou seu representante é o sujeito aparência traduz um princípio geral do
ativo do pagamento. Só que a lei admite o direito, segundo o qual a aparência de uma
pagamento feito por um 3º (que não é parte situação jurídica deve ser confirmada por
da relação jurídica). conta da boa-fé da parte a quem aproveita.
Existem, todavia, o 3º interessado e o 3º A Teoria da Aparência foi desenvolvida na
não interessado. Interessado é aquele que França, Itália e Alemanha.
tem o interesse jurídico no pagamento, ele
vincula-se a obrigação, por exemplo, o Aula 12
fiador e o avalista. Data: 03/05/07
Quando o 3º interessado paga ao credor,
ele se sub-roga no crédito, privilégios e As condições objetivas do pagamento são:
garantias do credor originário. - Objeto do pagamento e a sua
prova:

42
O credor não é obrigado a receber desproporção manifesta entre o valor
prestação diversa da que é devida ainda devido da prestação e o valor real do
que mais valiosa (art. 313). momento da execução, o juiz poderá
Princípio da indivisibilidade, ou seja, o corrigi-lo, para garantir o valor real da
credor de obrigação divisível não é obrigado prestação É uma aplicação especial e
a receber por partes se assim não se particular da Teoria da Imprevisão
convencionou (art. 314). A teoria da imprevisão está regulada a
As obrigações em dinheiro devem ser pagas partir do art. 478 do Código Civil.
em moeda nacional (art. 315). Nenhum O art. 317 é um excesso de cautela, pois diz
credor é obrigado a receber cheque, pois a mesma coisa do art. 478. No art. 317 o
este não é dinheiro. O que tem curso legislador está fazendo uma espécie de
forçado é a moeda nacional. conexão.
Só podem ser pagos em moeda estrangeira O pagamento se prova por meio de um ato
contratos internacionais, por exemplo. É a jurídico denominado de quitação. A
exceção. quitação é um ato jurídico em sentido
O Código Civil admite o aumento estrito, uma vez que o efeito é automático:
progressivo de prestações sucessivas (art. a exoneração do devedor.
316). Pablo entende que esta regra em um Em geral, se guarda um recibo por 5 anos.
contrato de consumo é abusiva. Numa Banca de Concurso o que prova o
Os defensores da Tabela Price gostaram pagamento é a quitação (ato jurídico),
deste dispositivo. Esta tabela é também e não o recibo. O recibo é o
chamada de Sistema Francês de instrumento da quitação (documento).
Amortização. José Meschiatti é autor de um A quitação sempre poderá ser feita por
livro a respeito. instrumento particular. Mesmo que o ato
Ver a Apelação Cível: 1999.71.002467-9/RS principal seja por instrumento público,
que é uma aula sobre esta tabela. a quitação pode ser por instrumento
Esta tabela foi criada por um religioso particular.
chamado Richard Price que escreveu a obra Se o credor se recusar a emitir a quitação o
“Observations on Rversionary Payments”. devedor deve entrar com a Ação de
Criando uma tabela para cálculo de juros Consignação em Pagamento.
compostos. Requisitos da quitação (art. 319): valor e
Esta tabela é muito utilizada em espécie da dívida quitada; nome do
financiamentos. devedor ou quem por este pagou; o lugar e
Quando você contrai um financiamento e o o tempo do pagamento.
calculo é feito por esta tabela, você durante Todavia, ainda que não estejam presentes
todo o contrato paga o mesmo valor. todos os requisitos, a luz do Princípio da
Os mutuários têm a impressão que o saldo boa-fé ou da eticidade, a quitação valerá
devedor não diminui. mesmo que não observe todos os requisitos
Os críticos desta tabela argumentam que do art. 320.
esta forma de calculo mascara a prática de Existem situações em que, embora ausente
anatocismo e por isto não diminui o saldo a quitação, a lei estabeleceu presunções de
devedor. pagamento (arts. 322 a 324). Estas
Anatocismo é a capitalização de juros presunções são relativas, juris tantum: no
compostos (juros sobre juros). Em regra a pagamento em cotas periódicas, a quitação
prática de anatocismo é proibida no Brasil. da ultima estabelece a presunção de
Os juizes aplicam esta tabela, apesar da estarem solvidas as anteriores; sendo a
crítica. O art. 316 ao admitir o mais quitação do capital sem a reserva dos juros,
(aumento progressivo), admitiu também o estes se presumem pagos; e a entrega do
menos (aumento linear das prestações). título ao devedor firma a presunção de
O STJ, em mais de uma oportunidade, a pagamento, ficando sem efeito esta
exemplo do RESP 755.340/MG, RESP quitação se o credor provar em 60 dias
781.005/SC, tem adotado uma posição (prazo decadencial) a falta de
neutra. Orienta o juiz a analisar a pagamento.
ilegalidade da tabela no caso concreto. Este prazo de 60 dias não é prescricional
O art. 316 diz que é licito convencionar o para a cobrança da dívida, é decadencial
aumento progressivo das prestações. Logo, para que o credor busque a desconstituição
aqueles que defendem a tabela Price da quitação, demonstrando que a dívida
alegam que se é lícito o mais, é lícito o não foi paga. Pode ingressar com uma
menos que é adotar uma tabela de juros cautelar para produção antecipada de
compostos. provas.
O art. 317 aduz que, quando por motivos
(acontecimentos) imprevisíveis sobrevier - Tempo do pagamento:

43
Está regulado a partir do art. 331 do Código biblioteca limita o empréstimo de 4 livros
Civil. Regra geral o tempo do pagamento é por mês, e aos primeiros clientes ele deixa
o vencimento da obrigação. pegar 5 livros durante 4 anos. É uma forma
Salvo disposição legal em contrário, não de supressio, o dono não pode mais limitar
tendo sido ajustado vencimento certo, a os 4 aos primeiros clientes. Por outro lado
prestação é exigível de imediato. houve a surrectio pelos clientes.
As obrigações condicionais, todavia,
cumprem-se na data do implemento da d. Principais Formas Especiais de
condição, cabendo ao credor a prova de Pagamento:
que o devedor teve ciência desta a) Consignação em Pagamento
implementação. (Tema da Grade de Processo Civil);
Obs. No caso das dívidas de dinheiro,
aplica-se a regra especial do art. 592, II, b) Pagamento com Sub-rogação:
que estabelece, salvo disposição em A palavra sub-rogação vem de subrogatio
contrário, o prazo mínimo de 30 dias para o que traduz exatamente a idéia de
pagamento. substituição.
O Código Civil estabelece ainda hipóteses Existem dois tipos de sub-rogação: Real ou
especiais de pagamento antecipado (art. Objetiva e a Pessoal ou Subjetiva.
333), antes de vencido o prazo: no caso de A real ou objetiva é a sub-rogação de
falência do devedor ou de concurso de coisas. Dá-se quando se pede a substituição
credores; se os bens hipotecados ou do bem dado em garantia.
empenhados (dados em penhor) forem Na sub-rogação subjetiva ou pessoal há
penhorados por outro credor em execução; mudança de sujeitos na relação jurídica.
se cessarem ou se tornarem insuficientes O pagamento com sub-rogação subjetiva,
as garantias do débito (fidejussórias ou forma especial de cumprimento da
reais) e o devedor, intimado, se recusar obrigação, opera-se quando terceiro paga a
reforçá-las. dívida, sub-rogando-se nos direitos do
credor originário.
- Lugar do pagamento: É uma forma especial porque, em face do
A regra é que o pagamento deve ser feito credor que sai, a dívida está extinta.
no domicílio do devedor. São as dívidas Este pagamento com sub-rogação tem dois
quesíveis ou quérable (art. 327). efeitos: liberatório (libera o credor
Se o contrato estipular o contrário, a lei ou primitivo) e translativo (transfere ao 3º a
as circunstâncias, e o pagamento tiver que condição de credor).
ser feito no domicílio do credor, as dívidas Seria uma cessão de crédito? CUIDADO.
são portáveis ou portables. É em caráter Não são a mesma coisa. Entre as diferenças
excepcional. está que a cessão pode ser gratuita e o
Se o contrato previr dois locais de pagamento com sub-rogação jamais poderá
pagamento em alternância, quem fará a ser gratuito.
escolha? O credor. Existem duas espécies de pagamento com
Obs. Em havendo dois ou mais locais de sub-rogação: Legal (art. 346) e
pagamento a escolha caberá ao credor Convencional (art. 347).
(parágrafo único do art. 327). No Legal a substituição de credores opera-
Se o pagamento consistir na tradição de um se por força de lei: em favor do credor que
imóvel ou em prestações relativas a este paga a dívida do devedor comum; em favor
imóvel far-se-á no local do imóvel. Pablo do adquirente do imóvel hipotecado que
entende que esta norma é de ordem paga ao credor hipotecário e em favor do 3º
pública, fazendo um paralelo com o CPC. que efetiva o pagamento para não ser
O pagamento feito reiteradamente em privado de direito sobre o imóvel; em favor
outro local faz presumir renúncia do credor do 3º interessado que paga a dívida pelo
relativamente ao previsto no contrato. qual era obrigado em todo ou em parte
O que é a surrectio? Traduz uma situação (fiador).
constitutiva de direito que se opera quando Convencional: É aquele em que a
o individuo realiza reiteradamente substituição de credores decorre da
determinado comportamento ao arrepio da vontade das próprias partes. A substituição
norma jurídica. É como se houvesse uma de credores decorre de um Negócio Jurídico.
aceitação social. Contrato de empréstimo de coisa fungível:
Surrectio é a contra-face da Supressio. mútuo:
Neste caso o agente deixou de exercer - Quando o credor recebe o
determinado ato ou direito, não mais pagamento de 3º e expressamente lhe
podendo fazê–lo posteriormente, sob pena transfere seu crédito.
de violar a boa-fé. Exemplo, o dono de uma

44
- Quando 3a pessoa empresta ao credor, devido à mudança de seus
devedor a quantia precisa para solver a interesses pessoais].
dívida sob a condição expressa do 3o se
sub-rogar no seu crédito. c) Novação:
[Em suma: os casos de pagamento com Os romanos conheciam a figura da
sub-rogação legal são quando o terceiro novação. A palavra novação vem de novus,
interessado (que pode ter seu patrimônio traduzindo uma idéia de obrigação nova.
jurídico afetado pelo inadimplemento) paga Opera-se quando, por meio de um Negócio
a dívida. Já os casos de pagamento com Jurídico, as partes criam uma obrigação
sub-rogação convencional são quando o nova destinada a substituir e extinguir a
terceiro que pagou não é interessado (o obrigação primitiva.
que, em tese, o conduziria apenas ao Não existe no nosso sistema, pelo menos
direito de ser reembolsado), mas as partes para a doutrina dominante, não existe
fazem um negócio jurídico específico novação por força de lei. Toda novação
avençando a sub-rogação]. pressupõe consentimento, pois caso
Efeitos do Pagamento com sub-rogação contrário seria um atentado a autonomia da
(art. 349): vontade.
A sub-rogação transfere ao novo credor Com a novação, há a substituição da
todos os direitos, ações, privilégios e obrigação, logo novos prazos deverão ser
garantias do primitivo em relação a dívida observados, os juros passarão a ser
contra o devedor principal e seus fiadores. recontados, o prazo prescricional zera.
Pablo entende que este artigo faz Não é uma simples mudança de objeto e
referencia ao pagamento com sub-rogação sim a criação de uma obrigação nova.
legal, pois neste você pode afirmar Obs.: Uma especial aplicação da novação
categoricamente que o credor se sub-roga está na lei 9964/00 que estabeleceu o
em todos os direitos. No campo programa REFIS (Ver Agravo Regimental
convencional pode-se afastar esta norma. no Embargo de Declaração no RESP
Obs.: Uma especial aplicação da sub- 726.293/RS julgado em 15/03/07). A
rogação (RESP 705.231/RS) a luz do art. 20 aderência ao parcelamento segundo o
da lei 10.150/00 opera-se em favor do STJ caracteriza Novação.
adquirente de imóvel por meio de “contrato
de gaveta”, ou seja, aquele tipo de negócio Requisitos:
sem a anuência da instituição financeira. É - Existência de uma obrigação
o caso do repasse de financiamento sem a anterior: A novação pressupõe uma
anuência das instituições financeiras. obrigação primitiva juridicamente existente.
Limites do Crédito do Credor Sub-rogado: O art. 367 do Código Civil aduz que salvo as
A lei brasileira, no art. 350, na esteira do obrigações simplesmente anuláveis, não
art. 593 do Código de Portugal, limita o podem ser objetos de novação obrigações
direito do credor sub-rogado ao valor nulas ou extintas.
efetivamente pago por ele, a fim de evitar As obrigações anuláveis podem ser
enriquecimento sem causa. novadas, vez que os atos anuláveis podem
ser confirmados e, conseqüentemente,
Aula 13 novados.
Data: 10/05/07 As obrigações naturais podem ser
novadas? Obrigações naturais, pelos
Obs.: O enunciado n.º 18 da 1a Jornada de Alemães, eram denominadas de imperfeitas
Direito Civil dispõe que para efeito de prova (Sergio Covello- “A obrigação natural-
do pagamento admite-se a quitação Elementos para uma possível Teoria” -
eletrônica ou qualquer outro meio de Editora LEUD). É aquela desprovida de
quitação a distância. coercibilidade jurídica, embora contenha
O enunciado n.º 162 da 3a Jornada de fundamento ético para o seu pagamento (é
Direito Civil diz que, a luz do princípio da uma dívida de honra). São exemplos: dívida
boa-fé, a inutilidade da prestação que prescrita; dívidas de jogo ilícito. A obrigação
autoriza a recusa da prestação pelo credor tem um efeito jurídico: Soluti Retentio, ou
deve ser analisada objetivamente, e não seja, é a retenção do pagamento. Quem
segundo o interesse subjetivo do credor. pagou não pode exigir de volta o que pagou
Assim, quando o credor recusa o (art. 882). O art. 814, parágrafo 1º, abre a
recebimento de uma prestação esta recusa possibilidade de se sustentar tese de que
deve ser aferida objetivamente [A se pode novar obrigação natural [É
prestação tem de ter se tornado possível a novação. Agora, ela também será
objetivamente inútil para qualquer um, e uma obrigação natural, que não obriga ao
não subjetivamente inútil para aquele pagamento, embora permita a soluti

45
retentio, uma vez efetuado o pagamento Regra geral, operada a novação extingue-se
voluntário]. a obrigação primitiva, por conta da criação
Criação de uma obrigação nova, de uma obrigação nova, juntamente com
substancialmente diversa da primeira; seus acessórios (arts. 364 e 366). A não ser
- Elemento psicológico do que haja estipulação em contrário.
Animus Novandi, a intenção de novar: No Art. 365: Operada a novação entre o credor
art. 361 há uma falta de técnica pois se não e um dos devedores solidários, somente
há ânimo de inovar, não há uma 2a sobre os bens do que contrair a obrigação
obrigação, é continuação da 1a. subsistem as preferências e garantias do
Obs.: Não se deve confundir novação com a crédito novado. Os outros devedores
simples renegociação de dívida. Mudanças solidários ficam por este fato exonerados da
secundárias em um contrato (a exemplo da dívida.
dilatação de um prazo ou a anistia de uma Neste sentido não há mais ação regressiva,
multa) podem não caracterizar a novação, vez que uma obrigação nova foi criada.
que pressupõe a constituição de uma No caso de 3 credores solidários, se um
obrigação nova, liquidando a anterior, novar com o devedor, os outros credores se
segundo a vontade das partes (RESP voltarão contra aquele que novou pelas vias
685023/RS). ordinárias, mas a obrigação primitiva já
estará extinta.
Espécies:
- Objetiva (art. 360, I): Quando d) Transação (O Novo Código Civil
as mesmas partes criam uma obrigação tratou esta figura como contrato ex
nova visando a substituir e extinguir a espécie, razão por que o tema está inserido
anterior. no painel de Contratos do Curso Modular);
- Subjetiva (art. 360, II e III):
Pode ser ativa e passiva. Na ativa ocorre e) Dação em Pagamento:
uma mudança de credores, considerando- Conceito:
se criada uma obrigação nova no momento Segundo Antunes Varela, a dação em
em que surge um novo credor. pagamento (datio in solutum) consiste na
Na novação subjetiva passiva opera-se uma realização de uma prestação diferente da
mudança de devedores, considerando-se que é devida, com o objetivo de extinguir a
criada uma obrigação nova com o obrigação.
surgimento do novo devedor. Existem duas O credor aceita receber prestação diferente
maneiras de se efetivar a novação subjetiva da que é devida e extingue-se a obrigação.
passiva: Por delegação e Extromissão (art. Está prevista no art. 356.
362). Não é novação, pois não se constitui uma
Por delegação o devedor primitivo participa obrigação nova. Apenas se muda o objeto
do ato novatório autorizando e indicando da mesma obrigação.
outro devedor para o seu lugar. O Direito Tributário admite a dação em
Por extromissão o credor substitui o pagamento de bem imóvel, consoante fica
devedor primitivo independentemente do claro na leitura do RESP 884.272- RJ (CTN,
seu consentimento. art.156, XI).
Por uma perspectiva civil-constitucional Até no direito de família há aplicação da
pode o devedor se opor a extromissão dação em pagamento (Ver Habeas Corpus
alegando um justo motivo, mas em geral 20.317-SP).
não pode, pois o art. 362 fala
expressamente que o credor não precisa do Requisitos:
consentimento do devedor para substituí-lo, - Existência de uma dívida
novando a dívida. vencida;
Quer seja na novação subjetiva ativa ou - Consentimento do credor: Só
passiva, considera-se uma obrigação nova. se pode operar a dação em pagamento com
Uma novação objetiva mesclada com uma o consentimento do credor;
subjetiva implica uma novação mista. - Entrega de prestação diversa;
O art. 363 diz que se o novo devedor for
insolvente, não tem o credor que o aceitou
- Animus solvendi: É o ânimo de
solver, de pagar.
ação regressiva contra o primeiro, salvo se
O art. 359 diz que se o credor for evicto da
este agiu de má-fé sabendo da insolvência
coisa recebida em pagamento irá se
(se o antigo devedor indicou um devedor
restabelecer a obrigação primitiva, ficando
insolvente).
sem efeito a quitação dada, ressalvados os
direitos de 3º.
Efeitos da Novação:

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Evicção se opera quando o adquirente feita proporcionalmente em cada uma
perde a posse e a propriedade da coisa delas, sendo uma exceção da lei já que o
adquirida em virtude do reconhecimento credor não é obrigado a receber por partes.
judicial ou administrativo do direito anterior Este artigo encontra-se revogado, de modo
de terceiro. que existe uma lacuna no ordenamento
Vale observar que somente se restabelece jurídico. E como não pode o juiz deixar de
a obrigação primitiva, a luz do princípio da julgar, aplica-se a equidade (justiça do caso
boa-fé, se não houver prejuízo a direito de concreto). No caso concreto poderá imputar
3º. em qualquer uma delas.
Caso não se possa restabelecer a obrigação
primitiva, resolver-se-á em perdas e danos. g) Compensação:
O que é dação pró solvendo? Lembra-nos Conceito:
Antunes Varela a dação pró solvendo não é É uma forma de extinção das obrigações
uma efetiva forma de cumprimento em que as partes são simultaneamente
satisfativo da obrigação, mas é apenas um credora e devedora uma da outra (art. 368).
meio facilitador do pagamento. Por
exemplo, dação de títulos de crédito (art. Espécies:
358): a pessoa recebe em pagamento em - Judicial:É aquela que se opera
vez do bem previsto, um título de crédito por decisão judicial dentro do processo (art.
em face de outra pessoa, que não satisfaz a 21 do CPC).
obrigação de forma plena e imediata, pois - Legal: É aquela que reúne os
se terá que entrar com a execução. requisitos da lei, de maneira que o juiz,
Equivale a uma cessão de crédito. quando provocado, deve declará–la. Juiz
não pode fazer de ofício porque
f) Imputação do Pagamento: compensação é matéria de defesa indireta
Conceito: de mérito. É uma exceção.
Com base na doutrina de Álvaro Vilaça - Convencional: Quando se
Azevedo, a imputação do pagamento é a realiza, a luz do princípio da autonomia
determinação dentre dois ou mais débitos privada, e independentemente dos
ao mesmo credor, com o propósito de se requisitos da lei.
indicar qual deles será solvido.
Requisitos da Compensação Legal (art.
Requisitos: 369):
- Igualdade de sujeitos; - Reciprocidade das obrigações:
- Liquidez (certeza) e o A dívida e o crédito devem ser recíprocos
vencimento das dívidas. Obs.: O artigo 371, de redação truncada e
difícil, abre uma exceção a regra da
Regras Básicas: reciprocidade para permitir que o fiador, 3º
1a Em geral a escolha da imputação é feita interessado, possa efetivar a compensação
pelo devedor. por uma dívida que não é essencialmente
2a Se o devedor não fizer esta escolha, a sua. Assim o fiador poderá compensar, só
imputação será feita pelo credor, ao emitir que ele não é parte e por isto a exceção.
a quitação (art. 353). - Liquidez das dívidas: Significa
3a Se a imputação não foi feita pelo devedor dívidas certas.
nem pelo credor, aplicam-se as regras Convencionalmente poderá estipular
supletivas da imputação legal (arts. 354 e diferente na compensação, abrangendo
355): O art. 354 só é aplicado se ficar claro dívidas ilíquidas.
que uma das dívidas é de juros, pois
havendo capital e juros o pagamento
- Vencimentos das dívidas: Só se
podem compensar dívidas vencidas;
imputar-se-á aos juros e depois no
capital, salvo estipulação em contrário. - Homogeneidades das dívidas:
O art. 355 diz que a imputação será feita Significa dívidas da mesma natureza.
nas dívidas liquidas e vencidas em 1º lugar. Dinheiro só se compensa com dinheiro.
Se todas as dívidas forem vencidas na Café do tipo A só se compensa com café do
mesma data e todas forem liquidas, a tipo A. [Senão seria dação em pagamento].
imputação será feita na dívida mais onerosa Obs.: O art. 370 diz que embora do mesmo
(gravosa ao devedor). gênero as coisas fungíveis, objeto das duas
Se todas dívidas forem vencidas prestações, não se compensarão
simultaneamente e igualmente onerosas, verificando-se que diferem na qualidade
em qual delas será imputado o pagamento? quando estipulado em contrato.
Antigamente, por analogia, aplicava-se o
art. 433, item IV do Código Comercial. Era

47
Hipóteses de Impossibilidade de
Compensação: 7. Transmissão das Obrigações:
A proibição da compensação está no art. A obrigação funciona como se fosse um
373 do Código Civil. Diz que as diferenças processo, ou seja, a obrigação é dinâmica e
de causa nas dívidas não impedem a não estática.
compensação, exceto: Pelo fato de o Código de 16 ter sido gestado
- Se qualquer das dívidas em uma economia agrária e rudimentar, o
provier de esbulho, furto ou roubo (cabe legislador disciplinou apenas a cessão de
interpretação extensiva: se a dívida provier crédito.
de crime); O Novo Código Civil, por sua vez, disciplinou
- Se uma se originar de a cessão de crédito e débito.
comodato (empréstimo gratuito de coisa
infungível, é um contrato de confiança, logo a. Cessão de Crédito:
não se pode compensar), depósito Consiste em um Negócio Jurídico por meio
(também é um contrato de confiança) ou do qual o credor (cedente) transmite total
alimentos (indisponível, mas a ou parcialmente o seu crédito a um 3º
jurisprudência do STJ tem admitido em (cessionário), mantendo-se a mesma
caráter excepcional a compensação de relação obrigacional com o devedor
dívida alimentar para evitar enriquecimento primitivo (cedido).
sem causa- caso de alimento de marido em A forma mais comum de cessão de crédito
favor da esposa); [As dívidas provenientes é a onerosa, mas também pode haver
do depositário infiel ou dos alimentos não cessão gratuita.
são passíveis de compensação, pois elas Obs.: Não se pode confundir a cessão de
são especiais: podem ser cobradas crédito coma novação subjetiva ativa: a
mediante prisão civil do devedor. Na cessão de crédito conserva a mesma
mesma linha, o comodato, por também obrigação, sem animus novandi; já a
quebrar o princípio da confiança (assim novação subjetiva ativa extingue a
como o depósito infiel) não aceita obrigação anterior, criando uma nova
compensação]. (animus novandi).
No momento da cessão de crédito, a
- Se uma for de coisa
relação obrigacional é a mesma.
impenhorável, por exemplo o salário (a
Há semelhança com o pagamento com
jurisprudência do STJ não tem admitido,
sub-rogação. A diferença é que apenas a
inclusive, que o Banco retenha o
cessão de crédito pode ser gratuita, já
salário do cliente para compensar da
o pagamento com sub-rogação nunca
dívida deste em face de contrato de
pode ser gratuito (pois, naturalmente,
empréstimo em conta corrente
terá havido dispêndio do sub-rogado para
inadimplido).
pagar a dívida).
Obs.: Hoje os juros aplicados para o
Não é comum, mas é possível uma cessão
empréstimo consignado estão em 2.37% ao
de crédito gratuita.
mês.
A cessão do crédito vem regulada a partir
A lei de usura limita a taxa máxima de
do art. 286.
juros convencionais a 2%, mas esta lei
A cessão do crédito é proibida em três
não se aplica a Bancos.
situações:
A lei 10820/03 admite o empréstimo
consignado mediante desconto em folha - Quando a natureza do direito
(até o limite de 30 %) para os empregados constituir um óbice. Por exemplo, direitos
e aposentados. [É uma exceção, pois, se indisponíveis: o direito aos alimentos, os
não houvesse essa previsão legal, seria direitos da personalidade não são passíveis
impossível reter os recursos de natureza de cessão;
alimentícia para “compensar” dívidas que - Quando houver vedação legal
têm outra natureza]. à cessão. Por exemplo o art. 1749, III (tutor
não pode ser cessionário de crédito contra
h) Remissão: Ver Material de Apoio. É o menor);
o perdão da dívida. - Quando houver cláusula
i) Confusão: Ver Material de Apoio. É contratual proibitiva (“pacto de non
quando as figuras do credor e do devedor cedendo”). Para eficácia desta cláusula
se concentram na mesma pessoa, proibitiva exige-se que ela conste
extinguindo a obrigação. expressamente no contrato.
Art. 287: salvo em disposição em
Aula 14 contrário a cessão do crédito cede os
Data: 15/05/07 acessórios.

48
Não é necessário que o devedor cedido A cessão do debito exonera o devedor
autorize a cessão do crédito para que ela se primitivo, mas este poderá ser
efetive, mas ele deve ser notificado judicial responsabilizado novamente se o novo
ou extrajudicialmente para que a cessão devedor ao tempo em que assumiu o
surta efeitos em face dele (art. 290) debito era insolvente e o credor
Tem-se por notificado o devedor que por ignorava esta circunstância.
escrito publico ou particular se declarou Com o silêncio do credor presume-se
ciente da cessão feita. uma recusa (art. 299, parágrafo único).
O art. 292 diz que o devedor pagará ao O novo devedor não pode opor as defesas
cessionário que tenha sido indicado na pessoais que competiam ao devedor
notificação. Se houve várias cessões ele primitivo.
pagará ao ultimo que a ele foi informado. Art. 303. O adquirente de imóvel
No momento que o devedor é notificado, hipotecado pode tomar a seu cargo o
ele se vincula ao cessionário (novo credor), pagamento do crédito garantido. Se o
podendo inclusive opor a ele defesas que credor, notificado, não impugnar em trinta
lhe competirem, bem como as que, no dias a transferência do débito, entender-se-
momento em que veio a ter á dado o assentimento. [Essa é uma
conhecimento da cessão, tinha contra exceção legal, em que o silêncio o credor
o cedente (art. 294). importa anuência. Em geral, importa
Obs.: Cessão de direitos hereditários só se negativa. Só que, como o adquirente do
dá por instrumento público, nos termos de imóvel hipotecado é terceiro interessado,
normas especificas (art.s 1793 e ss). A ele poderia pagar a dívida de qualquer
corrente majoritária exige outorga uxória forma. A única diferença é que, fazendo
do cônjuge. assim, ele assume a dívida; e, se pagasse
Qual é a responsabilidade do antigo credor de uma vez, haveria pagamento com sub-
(cedente) na cessão feita ao cessionário? A rogação legal, e ele assumiria todos os
matéria é regulada pelos arts. 295 a 297 do direitos do credor perante o devedor
Código Civil. originário].
Pela lei brasileira, o antigo credor é
responsável pela existência do crédito, c. Cessão de Posição Contratual:
regra geral, nas cessões onerosas e nas Conceito:
gratuitas se houver procedido de má-fé Também conhecida de cessão de contrato.
(cessão pro soluto). Mas, O Código Civil não cuida desta cessão.
excepcionalmente, havendo estipulação em Diferentemente do que ocorre na cessão de
contrário (art. 296), o antigo credor pode crédito ou de debito, na cessão de contrato,
responder também pelo pagamento da opera-se a transferência global da posição
dívida (cessão pro solvendo). contratual do cedente para o cessionário
Na cessão pro solvendo, o antigo credor mediante a anuência da parte adversa.
responde pela existência do crédito e pelo Cede-se a posição na relação contratual. É
pagamento da dívida. [A cessão pro soluto a cessão do complexo de direitos e deveres.
é a regra. É uma cessão de “particípio”: o
credor cede, e a situação para ele está Requisitos:
“resolvida”. Já a cessão pro solvendo é a - Celebração de um Negócio
exceção. É uma cessão de “gerúndio”: o Jurídico entre cedente e cessionário;
credor cede e ainda continua “se - Transmissibilidade, não apenas
responsabilizando, acompanhando” a de um crédito ou de um debito, mas da
execução, pois ele responde não só pela posição no contrato;
existência do que ele cedeu, mas pelo - Consentimento da outra parte
próprio adimplemento por parte do (pois envolve também cessão de débito).
devedor]. Apesar do Código Civil não regular a cessão
de contrato, a jurisprudência do STJ (RESP
b. Cessão de Débito: 356.383/SP) tem admitido a cessão da
É também chamada de Assunção de Dívida. posição contratual.
Consiste em Negócio Jurídico por meio do Obs.: O Tribunal de Santa Catarina,
qual o devedor, com expresso julgando a Apelação Cível 2006.016. 374. 0
consentimento do credor, transmite a negou dano moral para casal que celebrou
um 3º a sua dívida. contrato de gaveta (repasse de contrato de
Na novação subjetiva passiva, no financiamento sem a anuência da
momento que o devedor assume considera- instituição financeira).
se uma obrigação nova.
Na assunção, quando o novo devedor 8. Cláusula Penal:
assume, mantém-se a mesma obrigação. Conceito:

49
É a mesma coisa tecnicamente de pena exigir indenização suplementar se
convencional. tiver havido previsão contratual. Se o
Na prática é muito comum denominar contrato não previu esta possibilidade ele
cláusula penal de multa, mas tecnicamente não tem direito a nada (art. 416, parágrafo
é diferente. único).
É um pacto acessório pelo qual as partes de Se tiver sido convencionada a indenização
determinado Negócio Jurídico fixam, suplementar, a pena convencional servirá
previamente, a indenização devida em caso como mínimo e a parte terá que provar o
de: inadimplemento da obrigação principal; prejuízo excedente.
demora; ou no caso de algum Art. 416. Para exigir a pena convencional,
descumprimento de uma das cláusulas do não é necessário que o credor alegue
contrato. prejuízo.
Cláusula Penal ocorre em caso de Parágrafo único. Ainda que o prejuízo
descumprimento culposo (caso fortuito e exceda ao previsto na cláusula penal, não
força maior excluem a responsabilidade) da pode o credor exigir indenização
obrigação principal, sendo chamada de suplementar se assim não foi
cláusula penal compensatória. convencionado. Se o tiver sido, a pena vale
E a cláusula pactuada em caso de mora é como mínimo da indenização, competindo
chamada de cláusula penal moratória. ao credor provar o prejuízo excedente.
Segundo Orlando Gomes, a cláusula penal
tem uma dupla função: Intimidatória Redução da Cláusula Penal:
(intimida a parte para que ela não Está prevista no art. 413 do Código Civil.
descumpra o contrato) e De economia São duas situações que autorizam o juiz a
Processual (permite a liquidação antecipada reduzir a cláusula penal:
das perdas e danos). 1a Se a obrigação já houver sido cumprida
A cláusula penal, constando no contrato, no em parte;
plano processual, permite ao credor 2a Se o valor da cláusula for
ingressar diretamente com demanda manifestamente excessivo .
executória ou monitória, dispensando Esta redução pode ser feita de ofício? Para
processo de conhecimento. uma Banca conservadora o juiz não pode
É regrada pelo Código Civil a partir do art. reduzir de ofício com base no Princípio da
408. autonomia privada. Mas a doutrina
Na prática não se vê diferença entre moderna e o enunciado n.º 356 da 4a
cláusula penal e multa. Mas tecnicamente a Jornada, invocando o Princípio da Função
multa é uma sanção contratual em face do Social do Contrato, autorizam o juiz a
comportamento inadequado de uma das reduzir a cláusula penal de ofício.
partes, [e a cláusula penal já é a Ainda com base no Princípio da Função
estipulação prévia do montante a ser Social o enunciado 355 da 4a Jornada
cobrado como indenização devido a esse considera abusiva (nula de pleno direito) a
comportamento inadequado]. cláusula contratual que estipule renúncia à
possibilidade de redução da cláusula penal.
Cláusula Penal Compensatória: Obs.: No que tange ao tema cláusula penal
É aquela estipulada para o caso de vale mencionar os enunciados 355 a 359 da
descumprimento completo da obrigação 4a Jornada de Direito Civil.
principal.
Nos termos do art. 412, esta cláusula não Consórcios:
pode superar o valor da obrigação principal. Pergunta-se: É valida a cláusula que
Vale lembrar que o art. 410 estabelece que estipula, a título de cláusula penal, a perda
a cláusula penal compensatória é uma de prestações do consorcio, em caso de
alternativa para o credor que pode, se desistência? No RESP 165.304 o STJ disse
assim o entender, não executá–la, mas sim que cabe retenção de valores apenas
ingressar com demanda autônoma de para ressarcimento de despesas
perdas e danos ou para forçar, mediante administrativas. Hoje, após o advento do
tutela especifica, o cumprimento da CDC, se qualquer contrato (não só o de
obrigação. consórcio) estipular como clausula penal a
Obs.: Sabemos que o valor da cláusula perda de todas as prestações já pagas, isso
penal, para evitar enriquecimento ilícito do é abusivo, a não ser que a outra parte
credor, não pode ultrapassar o valor (inversão do ônus) prove que o seu prejuízo
máximo da obrigação principal. Todavia, só será ressarcido com a perda de todas
caso o prejuízo do credor seja maior que o elas.
valor desta cláusula, teria ele direito à
indenização suplementar? Só poderá Aula 15

50
Data: 22/05/07 pressionando o STF e o STJ para que isto
aconteça.
9. Prisão Civil: A emenda 45 passou a dar subsídios para
Meio coercitivo de forçar o cumprimento da que esta prisão civil não seja aplicada, pois
obrigação. admite que os tratados internacionais sobre
Não é uma prisão-pena, uma sanção penal. direitos humanos, quando aprovados em 2
Houve até julgados em Tribunais do país turnos, pelo quorum de 3/5 serão
concedendo o regime aberto, mas este equivalentes às emendas constitucionais. E
regime não é cabível, pois esta prisão é a Convenção Interamericana de Direitos
diferente da do direito penal. Humanos não contemplou a prisão civil do
A Constituição Federal no art.5º, VII admite depositário infiel.
a prisão civil no caso de inadimplemento A discussão atual é se esta convenção, que
voluntário e inescusável de obrigação é anterior a emenda 45, entrou em nosso
alimentícia e no caso depositário infiel. ordenamento com força de emenda
A prisão civil do devedor de alimentos é a constitucional ou não.
prisão mais eficiente do direito brasileiro, A respeito da polêmica, há corrente
vez que respeita o Princípio da dignidade da doutrinária (Dirley da Cunha Jr) no sentido
pessoa humana do alimentando que, em de que a Convenção Interamericana de
geral, é o hipossuficiente. Este tipo de Direitos Humanos entra em nosso
prisão atende a condição de existência da ordenamento com força constitucional, a
criança. É também a única modalidade de luz do parágrafo 3º, do art. 5º, uma vez que
prisão civil protegida pela Convenção se inseriu no ordenamento em perfeita
Internacional dos Direitos Humanos (Pacto conformidade com a normatização da
de São José)- art. 7º, 7. época.
A prisão civil do devedor de alimentos é Já em relação à prisão civil na
instrumentalizada pelo art. 733 do CPC. Alienação Fiduciária, esta é
Aplica-se aos alimentos provisórios e inaceitável, conforme o STF.
definitivos, o devedor é citado para pagar O contrato de alienação fiduciária pode ter
em 3 dias, justificar a sua impossibilidade como objeto bens moveis e imóveis. Para
ou provar que já pagou. efeito de prisão civil só interessa os que
A prisão pode ser pelo período de 1 a 3 tem como objeto os bens moveis.
meses e o fato de ser preso não desobriga o Trata-se de um Negócio Jurídico bilateral,
Alimentante de pagar os alimentos. em que se pretende a transferência da
A súmula 309 do STJ relativiza a prisão civil propriedade de uma coisa ao credor de uma
do devedor de alimentos, limitando seu dívida, com a finalidade de garantir um
âmbito de aplicação ao debito que pagamento.
compreende as 3 prestações anteriores As leis que tratam da alienação fiduciária
ao ajuizamento da execução, e as que se são a n.º 4728/65, o DL n.º 911/69, a lei n.º
vencerem no decorrer do processo. 9514/97 e a lei n.º 10.931/04.
É defensável a tese, a luz do princípio da Se o devedor na alienação fiduciária deixar
solidariedade familiar, que o limite das três de pagar o financiamento, o Banco ajuíza
ultimas parcelas em atraso possa ser uma ação de busca e apreensão- não é a
flexibilizado se ficar demonstrada a cautelar e sim a especifica da alienação
condição econômica do réu aliada a sua fiduciária- pedindo a liminar para a
má-fé no não pagamento da dívida. apreensão do bem. Se o oficial de justiça
No que tange a prisão civil do depositário não encontrar o carro, ele certifica e neste
infiel esta é expressamente consagrada na momento, segundo o Decreto-lei, o Banco
Constituição Federal pode pedir a conversão da ação de busca e
Depositário infiel é a pessoa que é apreensão em ação de depósito.
incumbida da guarda, conservação e Esta conversão permite a prisão civil do
devolução de coisa móvel (arts. 901 a 906 devedor. O argumento dos Bancos é que
do CPC) e que descumpre o múnus, ele é o dono bem, o devedor fiduciante é
rompendo o Princípio da Confiança, ao não apenas o depositário do bem.
permitir a retomada da coisa pelo credor. Esta prisão não tem base constitucional. O
No RHC 90759/STF a 1a Turma do STF devedor fiduciante não é depositário, pois o
admitiu a prisão de um depositário depositário não pode usar o bem.
infiel. Atualmente, o STF por 8 ministros no
A posição atual admite a prisão do Plenário já votou contra a prisão civil na
depositário infiel, mas Pablo diz que talvez alienação fiduciária (RE n.º 466.343).
nos próximos 2 anos esta prisão civil não Esta prisão viola inclusive o Princípio da
será mais admitida no sistema brasileiro. Isonomia, pois os outros credores não
Pois existe uma corrente na doutrina possuem este direito.

51
Na alienação fiduciária, se o Banco é o Na forma mais comum opera-se quando o
proprietário, em nome do princípio res perit devedor atrasa o pagamento da obrigação.
domino (a coisa perece para o seu dono), se segundo Clóvis Belvilaqua os requisitos da
o bem viesse a se perder sem culpa do mora do devedor são:
devedor, o Banco deveria suportar o - Existência de uma dívida
prejuízo, como em toda obrigação de líquida e certa;
restituir. Mas isto não acontece, pois caso - Vencimento da dívida: No
isto ocorra o Banco executa o contrato. Brasil se a dívida tiver vencimento certo a
mora é automática. É a chamada mora ex
10. Mora: re. Esta não depende de notificação ou
a. Conceito: interpelação para constituir o devedor em
Ocorre quando o pagamento não é feito no mora. Aplica-se o princípio “dies interpellat
tempo, lugar e forma convencionados. pro homine” (o dia interpela pelo homem).
Neste caso, há o inadimplemento relativo No caso de alienação fiduciária, mesmo a
da obrigação. A mora pode ser do devedor mora sendo em decorrência de um
chamada debendi ou solvendi ou do credor vencimento certo, pode haver necessidade
denominada credendi ou accipiendi. de notificação. É uma exceção a regra,
Toda mora, lembra Caio Mário, pressupõe porque a lei assim determina.
uma atuação humana e diferentemente do Todavia não havendo vencimento certo ou
que muitos pensam, a mora do credor caso a lei assim o determine pode ser que o
existe. devedor precise ser constituído em mora.
Se houver necessidade de constituir o
b. Mora do Credor ou Accipiendi ou devedor em mora por interpelação ou
Credendi: notificação, a mora é chamada de ex
Apesar de alguns autores sustentarem tese persona.
contrária como Crome, citado por Roberto Obs.: O STJ reiteradamente tem decidido,
De Ruggiero, ela existe. com base na Teoria da Aparência, que o
Da mesma forma que ele tem um direito de aviso por carta não necessita ser
receber o devedor também tem o direito de firmada pelo próprio devedor (Ver RESP
pagar. 676207/RJ), ou seja, se o porteiro assinar
A posição que prevalece no direito um AR por exemplo o devedor estará
brasileiro admite a mora do credor. É constituído em mora.
defendida por Silvio Rodrigues e Luis - Culpa: Para que haja mora é
Roldão de Freitas. preciso necessariamente que o devedor
A posição majoritária sustenta que a mora seja culpado (art. 396).
do credor é objetiva, pois independe da Viabilidade no cumprimento tardio da
análise da sua culpa. Ou seja, se o devedor obrigação: se não houver mais viabilidade
faz ao credor uma oferta real de pagamento no cumprimento da obrigação, não se
e este credor sem justa causa nega o tratará de mora, e sim de inadimplemento
recebimento, sua mora será objetiva. completo. O critério, em homenagem ao
O devedor entrará com ação de princípio da boa-fé, há de ser o do interesse
consignação em pagamento. objetivo do credor. Não basta uma alegação
Está regulada pelo art. 400 do Código Civil subjetiva, e sim uma análise objetiva
que diz que os efeitos da mora do credor quanto à perpetuação da utilidade da
são: subtrai do devedor, isento de dolo, a prestação (3ª Jornada de Direito Civil). Se
responsabilidade pela conservação da não houver mais utilidade objetiva, o credor
coisa; obriga o credor a ressarcir as pode resolver o contrato inteiro e pedir
despesas empregadas a conservá-la; e perdas e danos; se ainda houver utilidade,
sujeita o credor a receber a coisa pela só pode pedir perdas e danos pela mora.
estimação mais favorável ao devedor se o Obs.: O que é a Teoria do Adimplemento
seu valor oscilar entre o dia estabelecido Substancial (Substantial Perfomance)?
para o pagamento e o da efetivação do Segundo Clóvis do Couto e Silva, trata-se de
pagamento. um adimplemento próximo do resultado
Estando em mora o credor, nos termos da final, que exclui a resolução do contrato,
ultima parte do art. 400, corre ele o risco de permitindo apenas o pagamento de perdas
pagar ao devedor o preço que lhe for mais e danos. Esta teoria, reconhecida no
favorável, se entre o dia do vencimento e o enunciado 361 da 4a Jornada de Direito
dia da efetivação e o da entrega efetiva Civil, evita a resolução do contrato,
houver oscilação. admitindo apenas uma indenização a ser
paga ao lesado.
c. Mora do devedor:

52
Efeitos da Mora do Devedor:
- Responsabilidade civil pelo 11. Teoria do Inadimplemento:
prejuízo causado ao credor (art. 395) + Inadimplemento significa descumprimento
juros, atualizações monetárias e honorários da obrigação e pode-se dar de duas
de advogados e pode ser compelido ainda a maneiras:
pagar uma cláusula penal moratória. - Fortuito: Em regra
- “Perpetuatio Obligationis”: É a simplesmente extingue a obrigação sem a
perpetuação da responsabilidade do conseqüente obrigação de indenizar. Houve
devedor durante o período da mora, nos aqui um evento não imputável ao devedor:
termos do art. 399, pela integralidade da caso fortuito ou força maior.
coisa. Esta responsabilidade permanece, Vale registrar que o Código Civil não
ainda que por caso fortuito ou força maior, diferencia no plano eficacial caso fortuito e
se tais fatos ocorrerem no período de mora. força maior (parágrafo único do art. 393).
Esta responsabilidade apenas não A regra é a não responsabilização por caso
permanece se o devedor comprovar que fortuito ou força maior, salvo se houver
não teve culpa no atraso (ou seja, que não uma estipulação em contrario, a exemplo
está em mora, pois só há mora com culpa) dos contratos de seguro, dos assaltos
ou se comprovar que, mesmo que ocorridos em um Banco.
houvesse cumprido a prestação no Obs.: O assalto dentro de veiculo
prazo, o dano ocorreria. [Isso é para coletivo, já decidiu firmemente a 2a Seção
evitar o enriquecimento sem causa do do STJ, constitui excludente de
credor. Contudo, exceto essas responsabilidade da empresa
circunstâncias, a mora do credor é uma transportadora (RESP n.º
exceção à regra geral do caso fortuito ou 768.855/Mandado de Segurança).
força maior, pois, nesse caso, o devedor - Culposo: Significa que houve
responderá, sim, por perdas e danos]. evento ou fato imputável ao devedor.
Art. 399. O devedor em mora responde pela Aplicam-se os arts. 389 e 402 do Código
impossibilidade da prestação, embora essa Civil. Impõe-se ao devedor, em face da sua
impossibilidade resulte de caso fortuito ou responsabilidade civil, a obrigação de pagar
de força maior, se estes ocorrerem durante perdas e danos.
o atraso; salvo se provar isenção de culpa, As perdas e danos que indenizam o credor
ou que o dano sobreviria ainda quando a devem compensar o dano emergente e o
obrigação fosse oportunamente lucro cessante (art. 402).
desempenhada.

Purgar ou Emendar a Mora:


É pagar com atraso. É previsto em leis Civil- Parte Especial
especiais. Pablo Stolze
Pablito.stolze@terra.com.br
Comentários a Súmula 284 do STJ: Aula 19
Esta súmula aduz que “A purga da mora Data: 19/06/07
nos contratos de alienação fiduciária só é
permitida quando já pagos pelo menos 40% Teoria Geral dos Contratos:
do valor financiado”. 1. Histórico:
O DL 911/69 dispunha que o devedor só Não se pode delimitar ou indicar na linha do
podia purgar a mora, se o devedor já tempo a origem do contrato. Porque a partir
houvesse pagado 40% do valor financiado. do momento que a sociedade começa e
Com advento do Código Civil a corrente evoluir, saindo do estágio de barbárie, o
consumerista argumentou que este limite contrato se faz presente, ainda que de
mínimo de 40% não foi previsto no CDC. forma rudimentar.
O STJ, com esta súmula, veio e ratificou o Orlando Gomes afirma que embora o
entendimento anterior. contrato houvesse experimentado o
Com o advento da lei 10.931/04, em seu desenvolvimento na Roma Clássica, é na
art. 56, houve a revogação o art. 3º do DL modernidade que seus contornos se tornam
911/69, não mais estabelecendo o limite mais definidos.
mínimo de 40% do valor financiado para O contrato ganhou contornos com o
purgação da mora. desenvolvimento do capitalismo.
O STJ, todavia, tem entendido que a No momento que a doutrina clássica toma
súmula 284 continua a ser aplicada aos conhecimento da igualdade das partes, se
contratos anteriores à lei 10.931/2004 dá como conseqüência o pacta sunt
(RESP 767.227/SP). Daqui para frente, a servanda, ou seja, o contrato faz lei entre
súmula não vale mais. as partes.

53
O século XX mudou completamente o trato Esses atos preparatórios, característicos da
jurídico do contrato. Raymon Saleilles em fase de puntuação, não se identificam com
1902 consagrou contrato de adesão. Assim o denominado contrato preliminar.
o século XX passou a ter como foco o A proposta de contratar, também
contrato de adesão, mudando a historia da denominada de policitação, consiste na
igualdade das partes. oferta de contratar que uma parte faz à
Hoje a liberdade de contratar é limitada outra, com vistas à celebração de
pelo princípio constitucional na função determinado negócio (daí, aquele que
social dos contratos. apresenta a oferta é chamado de
proponente, ofertante ou policitante).
2. Conceito: Trata-se de uma declaração receptícia de
É um Negócio Jurídico por meio do qual as vontade.
partes convergem os seus interesses O Código Civil, ao disciplinar o tema, na
patrimoniais, segundo a autonomia das Seção II, do Capítulo I, Título V (Da
suas vontades, limitada pelos princípios da Formação dos Contratos), embora não haja
função social e da boa-fé objetiva. elencado os seus elementos constitutivos,
regulou-a, nos seguintes termos:
3. Natureza Jurídica: Art. 427. A proposta de contrato obriga o
É de Negócio Jurídico em regra bilateral. proponente, se o contrário não resultar dos
O Princípio que vigora no Brasil é o da termos dela, da natureza do negócio, ou
liberdade das formas, exceto quando a lei das circunstâncias do caso.
estabelece uma forma predefinida.
Observe-se, portanto, que a proposta de
contratar obriga o proponente ou
4. Formação do Contrato:
policitante, que não poderá voltar atrás,
Contrato é formado de uma maneira
ressalvadas apenas as exceções
simples: uma parte aproxima-se da outra e
capituladas na própria lei (arts. 427 e 428).
depois de passarem pela fase preliminar
Cuida-se, no caso, do denominado princípio
(fase de puntuação), em dado momento
da vinculação ou da obrigatoriedade da
uma das partes faz uma proposta definitiva,
proposta, diretriz normativa umbilicalmente
que também é chamada de policitação.
ligada ao dogma da segurança jurídica.
A parte que faz a proposta é chamada de
Da análise desse dispositivo, concluímos
proponente ou policitante e a parte que
que o legislador reconhece a perda da
aceita é chamada de aceitante ou oblato.
eficácia cogente da oferta, nas seguintes
O contrato se forma quando as
situações especiais:
manifestações de vontade, em geral
a) se o contrário (a não-obrigatoriedade)
contrapostas, contemporizam-se,
resultar dos termos dela mesma – é o caso
conciliando os interesses divergentes, e
de o proponente salientar, quando da sua
formando o denominado consentimento.
declaração de vontade (oferta), que reserva
O consentimento das partes é a pedra de
o direito de retratar-se ou arrepender-se de
toque de todo contrato:
concluir o negócio. Tal possibilidade,
PARTE 1 ------------ CONSENTIMENTO
entretanto, não deverá existir nas ofertas
------------ PARTE 2
feitas ao consumidor, na forma da Lei n.
Na denominada “fase de puntuação”, as
8078/90 (CDC);
partes discutem, ponderam, refletem,
b) se o contrário (a não-obrigatoriedade)
fazem cálculos, estudos, redigem a minuta
resultar da natureza do negócio – cite-se
do contrato, enfim, contemporizam
como exemplo, seguindo o pensamento de
interesses antagônicos, para que possam
CARLOS ROBERTO GONÇALVES, “das
chegar a uma proposta final e definitiva.
chamadas propostas abertas ao público,
A característica básica desta fase é
que se consideram limitadas ao estoque
justamente a não vinculação das partes a
existente”;
uma relação jurídica obrigacional, muito
c) se o contrário (a não-obrigatoriedade)
embora possa, em tese, haver
resultar das circunstâncias do caso – nesse
responsabilidade civil pré-contratual por
caso, optou o legislador por adotar uma
quebra de boa-fé objetiva, caso haja lesão à
dicção genérica, senão abstrata, que dará
legítima e firme expectativa de contratar
ao juiz a liberdade necessária para aferir,
alimentada por uma das partes, à luz do
no caso concreto, e respeitado o princípio
princípio da confiança. Dependerá da
da razoabilidade, situação em que a
análise do caso concreto à luz da
proposta não poderia ser considerada
principiologia constitucional aplicada às
obrigatória.
relações de direito privado.
Nessa mesma linha, vale registrar ainda
que a proposta pode ter prazo de validade.

54
É o que dispõe o art. 428 do CC-02 ou modificações, importará em nova
(correspondente ao art. 1.081, CC-16): proposta. Ou seja, caso a aquiescência não
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a seja integral, mas feita intempestivamente
proposta: ou com alterações (restritivas ou
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, ampliativas), converter-se-á em
não foi imediatamente aceita. Considera-se contraproposta, nos termos do art. 431 do
também presente a pessoa que contrata Código Civil.
por telefone ou por meio de comunicação Nessa mesma linha, se a aceitação, por
semelhante; circunstância imprevista, chegar tarde ao
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, conhecimento do proponente, este deverá
tiver decorrido tempo suficiente para comunicar o fato imediatamente ao
chegar a resposta ao conhecimento do aceitante, sob pena de responder por
proponente; perdas e danos (art. 430).
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver Finalmente, vale salientar que a aceitação
sido expedida a resposta dentro do prazo poderá ser expressa ou tácita, consoante se
dado; pode concluir da análise do art. 432 do
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, Código Civil:
chegar ao conhecimento da outra parte a Art. 432. Se o negócio for daqueles em que
retratação do proponente. não seja costume a aceitação expressa, ou
Para que entendamos tais situações, é o proponente a tiver dispensado, reputar-
preciso definir o que se entende por se-á concluído o contrato, não chegando a
“pessoa presente” e “pessoa ausente”. tempo a recusa.
Presentes são as pessoas que mantém Por fim, importante questão a ser
contato direto e simultâneo uma com a enfrentada diz respeito à formação do
outra, a exemplo daquelas que tratam do contrato entre ausentes, especialmente o
negócio pessoalmente, ou que utilizam pactuado mediante correspondência
meio de transmissão imediata da vontade epistolar.
(como o telefone, por exemplo). Observe-se Aliás, como carecemos de uma disciplina
que, em tais casos, o aceitante toma específica dos contratos eletrônicos, a
ciência da oferta quase no mesmo instante matéria aqui exposta poderá, mutatis
em que a mesma é emitida. mutandis, ser adaptada àqueles negócios
Ausentes, por sua vez, são aquelas pessoas pactuados via e-mail.
que não mantém contato direto e imediato Fundamentalmente, a doutrina criou duas
entre si, caso daquelas que contratam por teorias explicativas a respeito da formação
meio de carta ou telegrama do contrato entre ausentes:
(correspondência epistolar). a) teoria da cognição: para os adeptos
Não tendo regulado os contratos dessa linha de pensamento, o contrato
eletrônicos, entendemos que tais regras, entre ausentes somente se consideraria
constantes no Código Civil, devem, mutatis formado, quando a resposta do aceitante
mutandis lhes ser aplicadas. chegasse ao conhecimento do proponente.
Nessa linha de raciocínio, poderemos b) teoria da agnição (dispensa-se que a
considerar, entre presentes, o contrato resposta chegue ao conhecimento do
celebrado eletronicamente em um chat proponente):
(salas virtuais de comunicação), haja vista b.1. _ sub-teoria da declaração
que as partes envolvidas mantêm contato propriamente dita – o contrato se formaria
direto entre si quando de sua formação, e, no momento em que o aceitante ou oblato
por outro lado, entre ausentes, aquele redige, datilografa ou digita a sua resposta.
formado por meio do envio de mensagem Peca por ser extremamente insegura, dada
eletrônica (e-mail), pois, nesse caso, a dificuldade em se precisar o instante da
medeia um lapso de tempo entre a emissão resposta.
da oferta e a resposta. b.2. _ sub-teoria da expedição - considera
Fora dessas hipóteses (arts. 427, segunda formado o contrato, no momento em que a
parte e art. 428), portanto, a proposta resposta é expedida.
obriga o proponente e deverá ser b.3. _ sub-teoria da recepção – reputa
devidamente cumprida, caso haja a celebrado o negócio no instante em que o
conseqüente aceitação. proponente recebe a resposta. Dispensa,
E o que se entende por aceitação? como vimos, que a leia. Trata-se de uma
Trata-se da manifestação de vontade sub-teoria mais segura do que as demais,
concordante do aceitante ou oblato que pois a sua comprovação é menos
adere à proposta que lhe fora apresentada. dificultosa, podendo ser provada, por
Cumpre-nos observar que se a aceitação for exemplo, por meio do A.R. (aviso de
feita fora do prazo, com adições, restrições, recebimento), nas correspondências.

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Mas, afinal, qual seria a teoria adotada pelo Nessa linha, inclusive, enunciado da
nosso direito positivo? Terceira Jornada sufraga a tese da
CLÓVIS BEVILÁQUA, autor do projeto do recepção, inclusive para a contratação pela
Código Civil de 1916 era, nitidamente, via eletrônica:
adepto da sub-teoria da expedição, por E. 173 – Art. 434: A formação dos contratos
reputá-la “a mais razoável e a mais realizados entre pessoas ausentes, por
jurídica”. meio eletrônico, completa-se com a
Por isso, boa parte da doutrina brasileira, recepção da aceitação pelo proponente.
debruçando-se sobre o art. 1086 do Código
revogado, concluía tratar-se de dispositivo 5. Principiologia Contratual:
afinado com o pensamento de BEVILÁQUA: 5.1 Princípio da Autonomia Privada:
Art. 1086 (caput). Os contratos por Todo contrato pressupõe a liberdade
correspondência epistolar, ou telegráfica, negocial.
tornam-se perfeitos desde que a aceitação O professor Arnold Wald traduz esta
é expedida, ... (grifamos) autonomia como sendo a liberdade de
Na mesma linha, se cotejarmos esse contratar e a liberdade contratual.
dispositivo com o correspondente do Código Liberdade de contratar é a liberdade para
em vigor, teremos a nítida impressão de contratar com quem quiser. Liberdade
que foi adotada a vertente teórica da contratual é a liberdade para ditar o
expedição: conteúdo do contrato.
Art. 434. Os contratos entre ausentes Mesmo no contrato de adesão há uma
tornam-se perfeitos desde que a aceitação autonomia privada na aderência. [Liberdade
é expedida, exceto: de contratar].
I - no caso do artigo antecedente; A professora Judite Martins prefere
II - se o proponente se houver denominar autonomia privada em solidária
comprometido a esperar resposta; vez que a liberdade de contratar é limitada
III - se ela não chegar no prazo pela função social.
convencionado. O enunciado 23 da 1a Jornada de Direito
Note-se, entretanto, que o referido Civil diz que a função social do art. 421 não
dispositivo enumera situações em que o elimina a autonomia contratual, mas a
contrato não se reputará celebrado: no caso atenua quando preserva interesses meta-
do art. 433; se o proponente se houver individuais e a dignidade da pessoa
comprometido a esperar a resposta (nesta humana.
hipótese, o próprio policitante
comprometeu-se a aguardar a 5.2 Princípio da Relatividade dos Efeitos do
manifestação do oblato); ou, finalmente, se Contrato:
a resposta não chegar no prazo assinado Sustenta que um contrato só gera efeitos
pelo policitante. obrigacionais entre as próprias partes. Esta
Ocorre que se nós observarmos a ressalva regra geral comporta algumas exceções,
constante no inciso I desse artigo, que faz por exemplo, o seguro de vida em favor de
remissão ao art. 433, chegaremos à 3º, contrato com pessoa a declarar.
inarredável conclusão de que a aceitação Obs.: O Princípio da Relatividade dos efeitos
não se reputará existente, se antes dela ou do contrato é mitigado hoje pelo
com ela chegar ao proponente a retratação reconhecimento ético da trans-
do aceitante. subjetividade da relação contratual
Atente para essa expressão: “se antes dela (Enunciado 21 da 1a Jornada de Direito
ou com ela CHEGAR ao proponente a Civil). Neste sentido os efeitos do contrato
retratação do aceitante”. podem transcender aos sujeitos do
Ora, ao fazer tal referência, o próprio contrato.
legislador acabou por negar a força
conclusiva da expedição, para reconhecer 5.3 Princípio da Força Obrigatória do
que, enquanto não tiver havido a Contrato ou do Pacta Sunt Servanda:
RECEPÇÃO, o contrato não se reputará Este também era encarado de forma
perfeito, pois, antes do recebimento da absoluta de acordo com a Teoria Clássica.
resposta ou simultaneamente a esta, Sustenta que o contrato faz lei entre as
poderá vir o arrependimento do aceitante. partes.
Dada a amplitude da ressalva constante no Hoje este princípio foi relativizado,
art. 433, que admite, como vimos, a especialmente no século XX, pela Teoria da
retratação do aceitante até que a resposta Imprevisão.
seja recebida pelo proponente, entendemos Tal teoria já encontrava raiz no Código
que o nosso Código Civil adotou a sub- Hamurabi.
teoria da recepção, e não a da expedição.

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Mas o referencial histórico da teoria da Todavia quando o Código Civil, no art. 478,
imprevisão é a clausula rebus sic stantibus regula a teoria da imprevisão,
do direito canônico. Esta cláusula lamentavelmente, exige que a outra parte,
sustentava que um contrato poderia ser para a sua configuração, tenha vantagem
modificado se a condição do tempo da sua exagerada.
execução não fosse a mesma do tempo da Art. 478. Nos contratos de execução
sua conclusão. Era uma cláusula de continuada ou diferida, se a prestação
equidade. de uma das partes se tornar
Final do século XVIII estava esquecida, pois excessivamente onerosa, com extrema
quando o movimento capitalista ganhou vantagem para a outra, em virtude de
força o contrato passou a ser imodificável. acontecimentos extraordinários e
Especialmente após a 1a Grande Guerra imprevisíveis, poderá o devedor pedir a
Mundial, muitos contratos precisaram ser resolução do contrato. Os efeitos da
revisados. sentença que a decretar retroagirão à
Foi graças a jurisprudência da França data da citação.
(Conselho de Estado) que se editou a 1a lei O art. 479 dá a entender que a revisão
no mundo admitindo a revisão dos contratual só é possível se o réu quiser.
contratos, a chamada Lei Falliot de 1918, Senão, haverá resolução.
desenvolvendo-se a partir daí a Teoria da Art. 479. A resolução poderá ser evitada,
Imprevisão. oferecendo-se o réu a modificar
A Teoria da Imprevisão admite a revisão ou eqüitativamente as condições do contrato.
a resolução do contrato, caso Em uma relação de consumo, aplicar-se-á o
acontecimento superveniente e imprevisível art. 6º, V do CDC, e a aplicação desta teoria
desequilibre a base econômica do negócio, no CDC, chama-se Teoria da
impondo prestação excessivamente Onerosidade Excessiva. Este nome se dá
onerosa a uma das partes. porque para o consumidor pleitear a
A doutrina moderna entende que todo revisão do contrato de consumo não
contrato deve guardar equivalência precisa comprovar a imprevisibilidade
material, ou seja, ter prestações do acontecimento superveniente.
equilibradas. Quando um acontecimento O STJ no caso do aumento abrupto do dólar
superveniente desequilibra deve-se impor a em 1999 entendeu que o consumidor pode
revisão ou a resolução do contrato. invocar a Teoria da Onerosidade Excessiva
É diferente da lesão, vez que neste há um para revisar o contrato, mas os encargos
desequilíbrio, mas a lesão é um defeito que desta revisão serão divididos entre o
nasce com o contrato, invalidando-o. Já a consumidor e o banco. O STJ entendeu que
teoria da imprevisão pressupõe um contrato o Banco também sofreu com este aumento
valido na origem, de execução continuada do dólar porque os bancos para alguns
ou diferida que se desequilibra depois. contratos fazem muita capitalização de
Elementos da Teoria da Imprevisão: dólar no exterior.
1º Superveniência de um acontecimento
imprevisível. 5.4 Princípio da Função Social do
2º Alteração da base econômica objetiva do Contrato:
negócio. Gustavo Tepedino em sua obra “Temas
3º Onerosidade excessiva imposta a uma Atuais de Direito Civil” lembra-nos que os
das partes. institutos de direito privado passam por um
Ruy Rosado (ex-ministro do STJ), Regina processo de funcionalização, como por
Beatriz Papa dos Santos e Otávio Luiz exemplo a função social da propriedade e
Rodriguez Jr sustentam que para se aplicar da empresa.
a teoria da imprevisão não é necessário a Neste diapasão a liberdade de contratar
vantagem, o enriquecimento sem causa de passou a sofrer uma contenção
uma das partes. principiológica baseada na sociabilidade.
O enunciado nº 365 da 4a Jornada de Direito O princípio da função social que traduz uma
Civil sustenta a natureza acidental da cláusula geral foi disciplinado no novo
extrema vantagem experimentada pela Código Civil no art. 421.
parte que não sofreu a incidência do Obs.: Cláusula Geral é uma disposição
acontecimento imprevisível. [Ou seja: essa normativa a ser observada pelo juiz na
vantagem não é essencial para que se regulação in concreto de determinada
configure a teoria da imprevisão. Em tese, relação de direito privado.
para se aplicar a teoria, basta que uma Conceito aberto integra clausulas gerais,
parte tenha prejuízo, onerosidade mas estas são comandos aos operadores do
excessiva, não sendo necessário que a direito.
outra tenha lucro desmedido].

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A função social é um limite a liberdade de um contrato gera também deveres anexos,
contratar. Segundo Paulo Roberto Nalin tais como o da eticidade, lealdade
este princípio projeta-se em dois níveis: recíproca, assistência, informação e sigilo.
- Intrínseco: Determina lealdade recíproca e A doutrina consubstanciada no Enunciado
respeito a direitos da personalidade. 24 da I Jornada de Direito Civil é no sentido
- Extrínseco: Determina o respeito aos de que a quebra dos deveres anexos
valores sociais objetivados. Exemplo destes decorrentes da boa-fé objetiva
valores: respeito ao consumidor; ao meio independe de culpa [ou seja, a quebra da
ambiente; à economia popular etc. boa-fé objetiva independe da quebra da
Diante deste princípio, pergunta-se: Como o boa-fé subjetiva. Pode haver a primeira,
STJ em sua jurisprudência sumulada o tem mesmo sem haver a segunda].
aplicado? A expressão que a doutrina usa para
Súmula n.º 302: É abusiva cláusula caracterizar o descumprimento dos deveres
contratual no plano de saúde que limita no anexos é violação positiva do contrato.
tempo a internação hospitalar do segurado Conceitos importantes ligados ao princípio
(plano extrínseco: respeito à saúde como da boa-fé:
um todo). - Venire contra factum proprium: vedação
Súmula n.º 308: A hipoteca firmada entre a do comportamento contraditório. Isso
construtora e o agente financeiro, anterior quebra, sem dúvida, a confiança. O
ou posterior a celebração da promessa de prejudicado pode invocar a seu favor a
compra e venda, não tem eficácia perante cláusula de stoppel, tendente a vedar o
os adquirentes do imóvel (plano intrínseco: comportamento contraditório.
impõe a lealdade negocial). 1. VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM
Outra aplicação no plano extrínseco em PROMESSA DE COMPRA E VENDA.
defesa dos consumidores em geral: CONSENTIMENTO DA MULHER. ATOS
Reconhecimento do adimplemento POSTERIORES. "VENIRE CONTRA FACTUM
substancial (Ver Recurso Especial n.º PROPRIUM ". BOA-FE. PREPARO.
469.577/SC). Ou seja o contrato não deve FERIAS. 1. TENDO A PARTE PROTOCOLADO
ser resolvido se o cumprimento da SEU RECURSO E, DEPOIS DISSO,
obrigação foi quase perfeito. RECOLHIDO A IMPORTANCIA RELATIVA AO
PREPARO, TUDO NO PERIODO DE FERIAS
5.5 Princípio da Boa-fé Objetiva: FORENSES, NÃO SE PODE DIZER QUE
Tem origem histórica na Bona Fides do DESCUMPRIU O DISPOSTO NO ARTIGO 511
direito romano. Ai a boa-fé traduzia uma DO CPC. VOTOS VENCIDOS.
ética comportamental subjetiva. 2. A MULHER QUE DEIXA DE ASSINAR O
Mas foram os alemães que desenvolveram CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E
a boa-fé objetiva como um princípio VENDA JUNTAMENTE COM O MARIDO, MAS
normativo de conduta, ao consagrem a DEPOIS DISSO, EM JUIZO, EXPRESSAMENTE
regra do “Treu Und Glauben“ no Código ADMITE A EXISTENCIA E VALIDADE DO
Civil Alemão que significa verdade, lealdade CONTRATO, FUNDAMENTO PARA A
e confiança. DENUNCIAÇÃO DE OUTRA LIDE, E NADA
Obs.: Qual é a diferença entre boa-fé IMPUGNA CONTRA A EXECUÇÃO DO
subjetiva e a objetiva? CONTRATO DURANTE MAIS DE 17 ANOS,
A boa-fé subjetiva é um estado psicológico TEMPO EM QUE OS PROMISSARIOS
que traduz inocência. É típica do CC/16, COMPRADORES EXERCERAM
mas persiste no novo ordenamento. PACIFICAMENTE A POSSE SOBRE O IMOVEL,
A boa-fé objetiva é uma cláusula geral que NÃO PODE DEPOIS SE OPOR AO PEDIDO DE
traduz um princípio de conteúdo ético e FORNECIMENTO DE ESCRITURA DEFINITIVA.
exigibilidade jurídica – artigo 422, CC. DOUTRINA DOS ATOS PROPRIOS. ART.132
O princípio da boa-fé regula também as DO CC. 3. RECURSO CONHECIDO E
fases pré e pós-contratual. PROVIDO. (REsp 95.539/SP, Rel. Ministro
Este princípio imprime eticidade nas RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA,
relações de direito privado. Tem, julgado em 03.09.1996, DJ 14.10.1996 p.
fundamentalmente, duas funções: uma 39015)
função interpretativa (artigo 113, CC) e - Tu quoque: traduz a idéia de que ninguém
uma função constitutiva de deveres anexos pode invocar uma norma jurídica após
ou de proteção. descumpri-la, porque isso quebra os
O princípio da boa-fé objetiva reconstrói a princípios da confiança e da boa-fé.
estrutura da relação obrigacional porque o Exemplo: exceção de contrato não
esquema clássico da relação obrigacional cumprido.
prevê que o contrato gera uma obrigação
principal, mas hoje, à luz deste princípio,

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6. Classificação dos Contratos: a.4) Contratos Paritários ou por Adesão - Na
a) Quanto à Natureza da Obrigação. hipótese das partes estarem em iguais
a.1) Contratos Unilaterais, Bilaterais ou condições de negociação, estabelecendo
Plurilaterais - na medida em que o contrato livremente as cláusulas contratuais, na fase
implique em direitos e obrigações para de puntuação, fala-se na existência de um
ambos os contratantes ou apenas para um contrato paritário, diferentemente do
deles, será bilateral (ex.: compra e venda) contrato de adesão, que pode ser
ou unilateral (ex.: depósito), podendo se conceituado simplesmente como o contrato
falar em contrato plurilateral ou multi- onde um dos pactuantes pré-determina (ou
lateral), na medida em que haja mais de seja, impõe) as cláusulas do negócio
dois contratantes com obrigações (contrato jurídico.
de constituição de uma sociedade ou de um a.5) Contratos Evolutivos - Classificação
condomínio); proposta pelo Prof. ARNOLDO WALD, para
a.2) Contratos Onerosos ou Gratuitos – se referir a figuras contratuais, próprias do
Quando a um benefício recebido Direito Administrativo, em que é
corresponder um sacrifício patrimonial (ex: estabelecida a equação financeira do
compra e venda), fala-se em contrato contrato, impondo-se a compensação de
oneroso. Quando, porém, fica estabelecido eventuais alterações sofridas no curso do
que somente uma das partes auferirá contrato, pelo que o mesmo viria com
benefício, enquanto a outra arcará com cláusulas estáticas, propriamente
toda obrigação, fala-se em contrato gratuito contratuais, e outras dinâmicas, impostas
ou benéfico (ex: doação pura (sem encargo) por lei. Os contratos administrativos seriam
e comodato). evolutivos, porque têm reequilíbrio
a.3) Contratos Comutativos ou Aleatórios. econônico-financeiro.
Quando as obrigações se equivalem, b) Classificação dos Contratos quanto à
conhecendo os contratantes, ab initio, as Disciplina Jurídica (civis, comerciais,
suas respectivas prestações, como, por trabalhistas, consumeristas e
exemplo, na compra e venda ou no contrato administrativos).
individual de emprego, fala-se em um c) Classificação dos Contratos quanto à
contrato comutativo. Já quando a obrigação Forma.
de uma das partes somente puder ser c.1) Solenes ou Não-Solenes - Quanto à
exigida em função de coisas ou fatos imprescindibilidade de uma forma
futuros, cujo risco da não ocorrência for específica para a validade da estipulação
assumido pelo outro contratante, fala-se em contratual;
contrato aleatório, previsto nos arts. 458 a c.2) Consensuais ou Reais - Em relação à
461, como é o caso, por exemplo, dos maneira (forma) pela qual o negócio jurídico
contratos de seguro, jogo e aposta, bem é considerado ultimado, ainda nesta
como do contrato de constituição de renda. classificação quanto à forma, os contratos
Sub-divisão dos Contratos Aleatórios: podem ser consensuais, se concretizados
a) Contrato de Compra de Coisa Futura, com a simples declaração de vontade, ou
com Assunção de Risco pela Existência reais, na medida que exijam a entrega da
(emptio spei): nessa primeira espécie, coisa, para que se reputem existentes.
prevista expressamente no art. 458, o d) Classificação dos Contratos quanto à
contratante assume o risco de não vir a Designação (nominados e inominados) -
ganhar coisa alguma, deixando à sorte pode-se falar na existência de contratos
propriamente dita o resultado da sua nominados e contratos inominados, na
contratação; medida em que tenham terminologia ou
b) Contrato de Compra de Coisa Futura, nomenclatura definida e prevista
sem Assunção de Risco pela Existência expressamente em lei ou, em caso
(emptio rei speratae): nessa segunda contrário, sejam apenas fruto da
hipótese, prevista no art. 459, CC-02 criatividade humana.
(art.1.119, CC-16), não há a assunção total e) Classificação dos Contratos quanto à
de riscos pelo contratante, tendo em vista Pessoa do Contratante.
que o alienante se comprometeu a que e.1) Pessoais ou Impessoais – Quanto à
alguma coisa fosse entregue; importância da pessoa do contratante para
c) Contrato de Compra de Coisa Presente, a celebração e produção de efeitos do
mas Exposta a Risco assumido pelo contrato, podem tais negócios jurídicos ser
Contratante: a última modalidade classificados em contratos pessoais ou
codificada é a que versa sobre a venda de contratos impessoais. Os primeiros,
coisa atual sujeita a riscos, prevista nos também chamados de personalíssimos, são
art.460. os realizados intuitu personae, ou seja,
celebrados em função da pessoa do

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contratante, que tem influência decisiva g) Classificação dos Contratos quanto à
para o consentimento do outro, para quem Disciplina Legal Específica (típicos e
interessa que a prestação seja cumprida atípicos) - Quando há uma previsão legal da
por ele próprio, pelas suas características disciplina de determinada figura contratual,
particulares (habilidade, experiência, estaremos diante de um contrato típico; na
técnica, idoneidade etc). Nessas situação inversa, ou seja, em que o contrato
circunstâncias, é razoável se afirmar, não esteja disciplinado/regulado pelo
inclusive, que a pessoa do contratante Direito Positivo, vislumbraremos um
torna-se um elemento causal do contrato contrato atípico.
(ex: contrato de emprego). Já os contratos h) Classificação pelo Motivo Determinante
impessoais são aqueles em que somente do Negócio (causais e abstratos) -
interessa o resultado da atividade Classificação que toma por base o motivo
contratada, independentemente de quem determinante do negócio, para dividi-los em
seja a pessoa que irá realizá-la. contratos causais e contratos abstratos. Os
e.2) Individuais ou Coletivos - Tem-se como causais estão vinculados à causa que os
parâmetro também o número de sujeitos determinou, podendo ser declarados
envolvidos/atingidos. No contrato individual, inválidos, se ela for considerada
sua concepção tradicional se refere a uma inexistente, ilícita ou imoral. Já os contratos
estipulação entre pessoas determinadas, abstratos são aqueles cuja força decorre da
ainda que em número elevado, mas sua própria forma, independentemente da
consideradas individualmente. Já no causa que o estipulou. São os exemplos dos
contrato coletivo, também chamado de títulos de crédito em geral, como um
contrato normativo, tem-se uma cheque.
transubjetivização da avença, alcançando i) Classificação pela Função Econômica (de
grupos não individualizados, reunidos por troca, associativos, de prevenção de riscos,
uma relação jurídica ou de fato. de crédito e de atividade)
f) Classificação dos Contratos quanto ao a) de troca: caracterizado pela permuta de
Tempo. utilidades econômicas, como, por exemplo,
f.1) Instantâneos (execução imediata ou a compra e venda;
execução diferida) - Por contratos b) associativos: caracterizado pela
instantâneos, compreendam-se as relações coincidência de fins, como é o caso da
jurídicas contratuais cujos efeitos são sociedade e da parceria;
produzidos de uma só vez (ex: compra e c) de prevenção de riscos: caracterizado
venda a vista de bens móveis, em que o pela assunção de riscos por parte de um
contrato se consuma com a tradição da dos contratantes, resguardando a
coisa). Tal produção concentrada de efeitos, possibilidade de dano futuro e eventual,
porém, pode se dar ipso facto à avença ou como nos contratos de seguro,
em data posterior à celebração (em função capitalização e constituição de renda;
da inserção de um termo limitador da sua d) de crédito: caracterizado pela obtenção
eficácia), subdividindo-se, assim, tal de um bem para ser restituído
classificação em contratos instantâneos de posteriormente, calcada na confiança dos
execução imediata ou de execução diferida. contratantes e no interesse de obtenção de
Essa subclassificação também tem uma utilidade econômica na transferência.
interesse prático, tendo em vista que, nos É a hipótese típica do mútuo feneratício (a
contratos de execução diferida, é aplicável juros);
a teoria da imprevisão, por dependerem de e) de atividade: caracterizado pela
circunstâncias futuras, o que, por óbvio, prestação de uma conduta de fato,
inexiste nos contratos de execução mediante a qual se conseguirá uma
imediata. utilidade econômica. Como exemplos,
f.2) De duração (determinada ou podem ser lembrados os contratos de
indeterminada) - Já os contratos de emprego, prestação de serviços,
duração, também chamados de contratos empreitada, mandato, corretagem.
de trato sucessivo, execução continuada ou j) Contratos Reciprocamente Considerados
débito permanente, são aqueles que se j.1. Classificação quanto à Relação de
cumprem por meio de atos reiterados, Dependência (principais e acessórios) – Os
como, por exemplo, o contrato de prestação contratos principais são os que têm
de serviços, compra e venda a prazo e o existência autônoma, independentemente
contrato de emprego. A duração pode ser de outro. Por exceção, existem
determinada ou indeterminada, na medida determinadas relações contratuais cuja
em que haja ou não previsão expressa de existência jurídica pressupõe a de outros
termo final ou condição resolutiva a limitar contratos, a qual servem. É o caso típico da
a eficácia do contrato.

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fiança, caução, penhor, hipoteca e definidas pelos contratantes, admissível
anticrese. desde que não se revista de ilicitude ou
j.2. Classificação quanto à Definitividade contrarie a ordem pública e os bons
(preliminares e definitivos) - Por fim, quanto costumes, a ele não se aplicando o regime
à definitivamente, podem ser os contratos legislativo concernente ao instituto do
classificados em preliminares e definitivos. condomínio. II -Contendo a inicial pedido
Os contratos preliminares (ou pactum de específico de divisão da quota social em
contrahendo), exceção no nosso quotas menores, não se há de ter por
ordenamento jurídico, nada mais são do implícito os pedidos de apuração de
que negócios jurídicos que têm por haveres ou de alienação da coisa comum
finalidade justamente a celebração de um pelo simples fato de haver nele referência à
contrato definitivo. extinção do condomínio.” ( STJ, Acórdão
RESP 61890/SP; RECURSO ESPECIAL
7. Contratos Atípicos: (1995/0010905-0) Fonte DJ
Por contratos típicos entendam-se aqueles DATA:22/03/1999 PG:00207, JSTJ
que têm previsibilidade legal, ou seja, que VOL.:00005 PG:00323, LEXSTJ VOL.:00120
são regulados pelo Direito Positivo, como a PG:00124, RT VOL.:00767 PG:00188,
compra e venda, a doação, a locação, o Relator Min. SALVIO DE FIGUEIREDO
depósito, o seguro, o comodato, o mútuo TEIXEIRA, Data da Decisão 18/06/1998,
etc. São, portanto, figuras com assento na Órgão Julgador QUARTA TURMA).
legislação em vigor. b) contratos atípicos mistos – são aqueles
Já os contratos atípicos, por sua vez, são formados pela conjugação de prestações
aqueles não regulados em lei, como, por típicas de outros contratos existentes.
exemplo, os contratos de hospedagem, Resultam, pois, da fusão de elementos de
factoring e ingeneering, dentre tantos outros contratos positivados, resultando em
outros. uma figura nova, dotada de autonomia
Segundo doutrina de ORLANDO GOMES, os jurídica e unidade sistêmica. É o caso do
contratos atípicos comportam uma contrato de hospedagem, que decorre da
subtipificação: conjugação de elementos de outros
a) contratos atípicos propriamente ditos – contratos como a locação, o depósito, a
são aqueles criados ou “inventados” pelas compra e venda etc.
próprias partes, que cuidam de celebrar um No que tange à disciplina jurídica dos
negócio jurídico inteiramente novo, com contratos atípicos, três soluções são
características específicas, e sem similar no sugeridas para a resolução do problema:
direito positivo. São fruto da autonomia a) teoria da combinação – neste caso,
privada, limitada, como vimos, pelos sugere-se que, ao interpretar o contrato
princípios superiores de índole atípico, deve o intérprete decompô-lo,
constitucional da função social do contrato aplicando-se a cada uma de suas partes as
e da dignidade da pessoa humana (este regras legais correspondentes ao contrato
último compreensivo da necessidade de que lhe é similar;
observância da boa-fé objetiva na relação b) teoria da absorção – aplicam-se as regras
negocial). legais correspondentes à prestação que lhe
Veja esta situação: seja preponderante (assim, se em
“DIREITO COMERCIAL E PROCESSO CIVIL. determinado contrato atípico prevalece a
CONSTITUIÇÃO DE SOCIEDADE. característica do depósito, aplicam-se-lhe
COMPARTILHAMENTO DE QUOTA SOCIAL as regras deste último);
INDIVISÍVEL. CONTRATO ATÍPICO. c) teoria da aplicação analógica – aplicam-
INAPLICABILIDADE DOS PRECEITOS se ao contrato atípico as regras legais do
CONCERNENTES AO CONDOMÍNIO. contrato que lhe seja mais próximo (por
REGÊNCIA PELAS REGRAS CONTRATUAIS analogia).
QUE NÃO CONTÉM ILICITUDE E NEM Nenhum desses critérios convence,
ATENTAM CONTRA A ORDEM PÚBLICA E OS devendo-se mencionar a advertência de
BONS COSTUMES. PRECEDENTE. PRINCÍPIO PEDRO VASCONCELOS: “Nos contratos
DA ADSTRIÇÃO. PEDIDO ESPECÍFICO. atípicos, o intérprete tem de contar mais
SENTENÇA QUE O ACOLHE PARCIALMENTE com as estipulações negociais e pode
PARA DETERMINAR PROVIDÊNCIA DIVERSA contar menos com o direito dispositivo”.
DA SOLICITADA. NULIDADE. RECURSO (VASCONCELOS, Pedro Pais de. Contratos
DESACOLHIDO. I –O compartilhamento de Atípicos. Almedina: Coimbra, 1995, págs.
quota de sociedade por quotas de 375-376).
responsabilidade limitada, criada com O novo Código, por sua vez, embora não
cláusula de indivisibilidade, constitui haja dedicado seção ou capítulo específico
contrato atípico, regido pelas regras

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para a sua disciplina, fez-lhe expressa na época em que se evenceu, e
menção em seu art 425: proporcional ao desfalque sofrido, no caso
Art. 425. É lícito às partes estipular de evicção parcial.
contratos atípicos, observadas as normas Exclusão da responsabilidade: artigo 448,
gerais fixadas neste Código. CC.
OBS.: Não devemos confundir os contratos A exclusão da responsabilidade pela
atípicos com a união ou coligação de evicção pode ser:
contratos, em que há pluralidade - legal;
contratual, como na situação muito comum - convencional.
e difundida em que um dono de posto de A exclusão legal é o caso em que a própria
gasolina celebra vários contratos coligados lei exclui a garantia pela evicção, nos
com a indústria de petróleo (compra do termos do artigo 457, Código Civil:
combustível, empréstimo das bombas, Art. 457. Não pode o adquirente demandar
aluguel dos equipamentos). Note-se, pois, pela evicção, se sabia que a coisa era
que, na coligação, não há unidade e sim alheia ou litigiosa.
pluralidade de figuras negociais, unidas
Admite-se, ainda, a exclusão convencional
entre si.
da garantia pela evicção (artigo 449, CC).
Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui
8. Evicção:
a garantia contra a evicção, se esta se der,
A evicção traduz uma garantia contratual
tem direito o evicto a receber o preço que
típica dos contratos onerosos, translativos
pagou pela coisa evicta, se não soube do
de propriedade, que se opera quando o
risco da evicção, ou, dele informado, não o
adquirente vem a perder a posse e a
assumiu.
propriedade da coisa, em virtude do
reconhecimento judicial ou administrativo A exclusão convencional da garantia
do direito anterior de outrem. da evicção, nos termos do artigo 449 do
Sujeitos: art. 447 do CC. No cenário da CC, só será total se o adquirente
evicção concorrem três personagens: expressamente tomar ciência e
- alienante: responsável pelos riscos da assumir o risco de perda da coisa.
evicção;
- evicto: quem perde a coisa; 9. Arras:
- evictor: é o terceiro que reclama a coisa. Também conhecidas por sinal.
Quem responde pela evicção em caso de Consistem num bem móvel (em geral
hasta pública em primeiro plano é o dinheiro) que uma parte entrega a outra
devedor executado, porque o bem saiu de visando a consolidar o início da execução
seu patrimônio. Mas se o devedor for do contrato – arras confirmatórias – ou para
insolvente, Araken de Assis sustenta que o resguardar direito de arrependimento –
credor pode ser responsabilizado, e Wilard arras penitenciais.
de Castro sustenta que, se o credor As arras confirmatórias marcam o início da
exeqüente não puder pagar, a execução do contrato (artigo 417, CC).
responsabilidade é do Estado, que levou o Art. 417. Se, por ocasião da conclusão do
bem a hasta pública. contrato, uma parte der à outra, a título de
A perda da coisa pode se dar também por arras, dinheiro ou outro bem móvel,
ato administrativo, não apenas por deverão as arras, em caso de execução, ser
sentença judicial. restituídas ou computadas na prestação
devida, se do mesmo gênero da principal.
O alienante responsável pela evicção deve
Nelas não existe direito de arrependimento.
pagar ao evicto, indenizando-o de que
Havendo descumprimento da obrigação,
maneira? Tem direito às disposições
aplica-se o disposto no artigo 418, CC.
constantes no artigo 450, Código Civil:
Art. 450. Salvo estipulação em contrário, Art. 418. Se a parte que deu as arras não
tem direito o evicto, além da restituição executar o contrato, poderá a outra tê-lo
integral do preço ou das quantias que por desfeito, retendo-as; se a inexecução
pagou: for de quem recebeu as arras, poderá quem
I - à indenização dos frutos que tiver sido as deu haver o contrato por desfeito, e
obrigado a restituir; exigir sua devolução mais o equivalente,
II - à indenização pelas despesas dos com atualização monetária segundo índices
contratos e pelos prejuízos que diretamente oficiais regularmente estabelecidos, juros e
resultarem da evicção; honorários de advogado.
III - às custas judiciais e aos honorários do As arras penitenciais garantem o direito de
advogado por ele constituído. arrependimento de qualquer das partes.
Parágrafo único. O preço, seja a evicção Aqui, quem se arrepende não é
total ou parcial, será o do valor da coisa,

62
inadimplente. O valor das arras serve de À luz do princípio da boa-fé, esta redução
consolo para o prejudicado do do prazo pela metade pressupõe prazo
arrependimento. Observe-se que aqui, no razoável para que o adquirente conheça a
entanto, não há direito a indenização coisa portadora de vício.
suplementar. Artigo 420, CC e Súmula Ver artigo 445, §1º, em caso de o vício se
412, STF. manifestar mais tarde:
Art. 420. Se no contrato for estipulado o § 1o Quando o vício, por sua natureza, só
direito de arrependimento para qualquer puder ser conhecido mais tarde, o prazo
das partes, as arras ou sinal terão função contar-se-á do momento em que dele tiver
unicamente indenizatória. Neste caso, ciência, até o prazo máximo de cento e
quem as deu perdê-las-á em benefício da oitenta dias, em se tratando de bens
outra parte; e quem as recebeu devolvê- móveis; e de um ano, para os imóveis. [O
las-á, mais o equivalente. Em ambos os prazo decadencial continua o mesmo: 30
casos não haverá direito a indenização dias para móveis e 1 ano para imóveis. A
suplementar. diferença é que, se o vício for oculto, esse
SÚMULA: 412 prazo decadencial começa apenas da
No compromisso de compra e venda com ciência, podendo o dies a quo se prorrogar
cláusula de arrependimento, a devolução até o máximo de 6 meses após o contrato,
do sinal, por quem o deu, ou a sua se o bem for móvel, ou 1 ano após o
restituição em dobro, por quem o recebeu, contrato, se o bem for imóvel].
exclui indenização maior a título de perdas
e danos, salvo os juros moratórios e os Em vários precedentes o STJ tem entendido
encargos do processo. que o agente financeiro é responsável
pelos vícios redibitórios do imóvel
10. Vício Redibitório: financiado.
O vício redibitório traduz um defeito oculto
que diminui o valor ou prejudica a utilização 11. Extinção dos Contratos:
da coisa recebida por força de um contrato a) resolução – traduz o desfazimento
comutativo (artigo 441, CC). contratual em caso de inadimplemento;
O STJ tem reforçado a necessidade de se b) resilição – traduz o desfazimento
tratar de vício oculto que acompanha a contratual por simples manifestação de
coisa, ou seja, o vício há de ser anterior ao vontade de uma (resilição unilateral) ou de
contrato. ambas as partes (resilição bilateral ou
Segundo Orlando Gomes, a previsibilidade distrato);
legal do vício redibitório traduz uma Em sentido predominante no Brasil: a
garantia contratual do adquirente da coisa, rescisão tem o mesmo sentido de
não se podendo confundir com a teoria do resolução (é por inadimplemento).
erro. A resilição não pressupõe inadimplemento.
Em havendo vício redibitório, o adquirente Resilição traduz uma forma de dissolução
pode ajuizar, em concurso de ações: ação contratual mediante denúncia consistindo
redibitória ou ação estimatória (ação quanti em uma simples manifestação contrária à
minoris), que são chamadas de ações manutenção do vínculo.
edilícias. A resilição é típica dos contratos de
À luz do artigo 443, o alienante somente atividade ou de prestação de serviços, não
pagará perdas e danos se houver procedido é cabível em qualquer contrato.
de má-fé, tendo ciência do vicio redibitório: c) rescisão – é comumente empregada no
Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou sentido de resolução, mas, no pensar de
defeito da coisa, restituirá o que recebeu doutrinadores clássicos, deveria ser
com perdas e danos; se o não conhecia, utilizada apenas para caracterizar o fim do
tão-somente restituirá o valor recebido, contrato em caso de lesão ou estado de
mais as despesas do contrato. perigo.
O prazo para o ajuizamento de ação edilícia
encontra-se no artigo 445, CC, qual seja,
prazo decadencial de 30 dias para bem Civil- Parte Especial
móvel e de 1 ano para bem imóvel, Pablo Stolze
contados da entrega efetiva, mas se o Pablito.stolze@terra.com.br
adquirente já tinha posse do bem, o prazo
conta-se da alienação reduzidos pela Aula 20
metade, porque a lei pressupõe que Data: 03/07/07
estando na posse, ele podia conhecer o
vício na coisa. Direitos Reais ou Das Coisas:

63
1. Conceito: não tendo o direito de seqüela o titular de
Os direitos reais, ramo do Direito Civil, direitos pessoais ou obrigacionais;
traduzem um conjunto de normas
reguladoras das relações jurídicas Posse:
referentes às coisas suscetíveis de 1. Teorias da Posse:
apropriação pelo homem, segundo uma A Teoria Subjetiva de Savigny dizia que a
finalidade social. posse resultava da conjugação de dois
elementos: animus e corpus. Uma pessoa
2. Características: Ver apostila para exercer posse tinha que conjugar
Os Direitos Reais ou Direito das Coisas, animus e corpus. O corpus seria a
enquanto ramo do Direito Civil, traduzem o apreensão física da coisa, o poder material
conjunto de normas e princípios sobre ela. O animus era a vontade de ter a
reguladores das relações jurídicas coisa como sua, a intenção de domínio.
referentes às coisas suscetíveis de A Teoria de Savigny influenciou vários
apropriação pelo homem, segundo uma países, tais como França, Portugal, Itália,
finalidade social. Espanha e Argentina. Esta teoria dizia que a
Sob outra perspectiva, com fundamento na posse tinha natureza jurídica considerada
doutrina do professor ARRUDA ALVIM, em si mesma, é um fato. Mas quanto aos
poderíamos enumerar as seguintes efeitos seria um direito.
características dos direitos reais, para Já a Teoria Objetiva de Ihering dizia que a
distingui-los dos direitos de natureza posse não precisava ser decomposta em
pessoal: dois elementos; a posse, objetivamente, é a
a) legalidade ou tipicidade – os direitos exteriorização da propriedade, ou seja,
reais somente existem se a respectiva possuidor é aquele que objetivamente
figura estiver prevista em lei (art. 1225, CC- imprime destinação econômica ao bem. Tal
02 e arts. 524 e 674, CC-16); teoria foi adotada na Alemanha, Suíça,
b) taxatividade – a enumeração legal dos China, México e Peru.
direitos reais é taxativa (numerus clausus), Para Ihering a posse tinha natureza jurídica
ou seja, não admite ampliação pela simples de um direito (interesse juridicamente
vontade das partes; tutelável).
c) publicidade – primordialmente para os
bens imóveis, por se submeterem a um 2. Natureza Jurídica:
sistema formal de registro, que lhes Professor Arruda Alvim entende que a posse
imprime esta característica; não é um direito real. É uma situação de
d) eficácia erga omnes – os direitos reais fato com repercussão jurídica.
são oponíveis a todas as pessoas, O art. 1196 do Código Civil expressa a
indistintamente. Ressalte-se, outrossim, Teoria de Ihering que foi reconstruída a luz
que esta eficácia erga omnes deve ser do Princípio da Função Social.
entendida com ressalva, apenas no aspecto Art. 1.196. Considera-se possuidor todo
de sua oponibilidade, uma vez que o aquele que tem de fato o exercício, pleno
exercício do direito real – até mesmo o de ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade, mais abrangente de todos – propriedade.
deverá ser sempre condicionado Orlando Gomes observa que embora o
(relativizado) pela ordem jurídica positiva e Código Civil tendesse a Teoria Objetiva, o
pelo interesse social, uma vez que não nosso Código sofre fortíssima influência da
vivemos mais a era da ditadura dos Teoria Subjetiva no art. 1238.
direitos; Vale observar o enunciado 236 da 3a
e) inerência ou aderência –o direito real Jornada de Direito Civil refere que
adere à coisa, acompanhado-a em todas as possuidor é também a coletividade
suas mutações. Esta característica é nítida desprovida de personalidade jurídica.
nos direitos reais em garantia (penhor, Obs.: Questões Especiais de Concurso:
anticrese, hipoteca), uma vez que o credor O que é fâmulo da posse? É o detentor.
(pignoratício, anticrético, hipotecário), Ele não tem animo de possuidor, tem
gozando de um direito real vinculado animus detinendi. Ex. caseiros, motorista
(aderido) à coisa, prefere outros credores particular.
desprovidos desta prerrogativa; O que é Constituto Possessório ou
f) seqüela – como conseqüência da Cláusula Constituti? Trata-se da operação
característica anterior, o titular de um jurídica que muda a titularidade na posse,
direito real poderá perseguir a coisa ou seja, aquele que possuía em nome
afetada, para buscá-la onde quer que se próprio passa a possuir em nome de
encontre, e em mãos de quem quer que outrem. Por exemplo eu sou proprietário,
seja. É aspecto privativo dos direitos reais, vendo a casa, e passo a alugá-la.

64
A situação contrária ao Constituto atos de violência, a posse injusta
Possessório, na qual o possuidor se torna começa a correr.
proprietário, denomina-se “Traditio brevi Exercida a posse injusta, depois do período
manu”. de ano e dia, se o proprietário vítima entrar
O “Traditio longa manu” é outra coisa. É com uma ação possessória não terá mais
uma tradição simbólica. É a entrega de uma direito a liminar. Mas poderá pedir Tutela
chave por exemplo. Antecipada [pelos requisitos gerais do art.
O que é autotutela da posse? Trata-se de 273, do CPC, que servem para qualquer
um meio legitimo de autodefesa, regulado ação].
no parágrafo 1º do art. 1210 que se opera
em duas situações: legítima defesa e 3.3 Posse Nova X Posse Velha:
desforço incontinenti. A posse nova é a que não tem ano e dia.
Ambos pressupõem moderação no uso dos A doutrina processual entende que, mesmo
meios. revogado o Código Civil velho, prevalece o
Art. 1210, §1º O possuidor turbado, ou art. 1924 do CPC que se refere à
esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se possibilidade de concessão de medida
por sua própria força, contanto que o faça liminar em favor do possuidor anterior, se a
logo; os atos de defesa, ou de desforço, posse atual tem menos de ano e dia.
não podem ir além do indispensável à A posse velha é a que tem mais de ano e
manutenção, ou restituição da posse. dia.
É possível haver posse de direitos? Os
países de tradição espanhola absorveram 3.4 Posse de Boa-fé X Posse de Má-fé:
esta tese com mais força. A classificação de justa e injusta é objetiva.
Esta tese de posse de direitos era muito Ao tempo que a posse de boa ou de má-fé o
forte no Brasil quando não havia o Mandado critério é psicológico, é subjetivo. [Só faz
de Segurança e as pessoas utilizavam as sentido falar em posse de boa-fé ou posse
ações possessórias. de má-fé se a posse for injusta, se houver
Hoje no Brasil preponderantemente algum vício nela. Isso porque possuidor de
entende-se que em geral não pode haver boa-fé é exatamente aquele que
posse de direitos. A posse só se refere a desconhece o vício de sua posse (injusta,
coisas corpóreas. portanto)].
Mas excepcionalmente a Possuidor de boa-fé é aquele que ignora o
jurisprudência tem aceitado a posse de vício da sua posse (o justo título firma
direitos. É o exemplo da súmula 193 do presunção de boa-fé); já o possuidor de má-
STJ que aduz que o direito de uso de fé tem ciência, conhecimento do vício da
linha telefônica pode ser adquirido por sua posse.
usucapião. Justo título é o título hábil a transferência
da posse, embora o possuidor desconheça o
3. Classificação: seu vício.
3.1 Posse Direta X Posse Indireta: Respeitando o princípio da função social e
Está previsto no art. 1197. Posse direta é da eticidade, os enunciados 302 e 303
aquele que tem contado físico, material, facilitam a interpretação jurídica da
direto com a coisa. É o caso do locatário. expressão justo título, para dispensar
Posse indireta é aquele que está afastado instrumento formal de transmissão da
da coisa, mas que imprime destinação posse.
econômica a ela. É o locador. O enunciado entende que justo título é justo
Qualquer dos possuidores pode ajuizar motivo.
ações possessórias, inclusive um contra Obs.: Toda vez que a posse é transmitida
o outro. [O locatário pode defender por herança, ela é transferida com as
sua posse contra uma intervenção mesmas características que a revestiam
indevida do locador, por exemplo]. antes da morte do de cujus [Se era posse
de boa-fé, continua assim; se era posse de
3.2 Posse Justa X Posse Injusta: má-fé, também continua de má-fé, ainda
Está no art. 1200 do Código Civil. que os herdeiros não conheçam o vício].
A posse é justa quando não for violenta,
clandestina ou precária. Ou seja, é injusta a 4. Quem Pode Adquirir a Posse:
posse violenta, clandestina ou precária. Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:
Durante o tempo em que houver atos de I – pela própria pessoa que a pretende ou
violência ou de clandestinidade, não há por seu representante;
posse por parte do que pratica a violência. II – por terceiro sem mandato, dependendo
Mas no momento em que cessam estes de ratificação. [É o caso do gestor de
negócios].

65
ser restituídos ao verdadeiro proprietário
5. Modos de Perda da Posse: Art. com base no art. 1232: “Os frutos e mais
1223. produtos da coisa pertencem, ainda quando
Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, separados, ao seu proprietário, salvo se,
mesmo contra a vontade do possuidor, o por preceito jurídico especial, couberem a
poder sobre o bem, ao qual se refere o art. outrem.”
1.196. Uma 2a corrente (Clóvis Beviláqua em sua
obra “Direito das Coisas”) sugere em favor
6. Posse Precária: do possuidor a aplicação analógica dos arts.
Segundo Beviláqua a concessão da posse referentes aos frutos (arts. 1214 a 1216).
precária é perfeitamente licita, pois é uma
posse a título de favor. Por exemplo, eu 7.2 Responsabilidade pela Perda ou
empresto minha casa de praia a um amigo. Deterioração da Coisa:
Este terá a posse precária. Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não
Uma posse precária pode durar muitos anos responde pela perda ou deterioração da
uma vez que não tem animus para coisa, a que não der causa. [Se for
usucapir. acidente, não responde. Só responde se for
A posse precária concedida a título de favor dolo ou negligência].
é licita e nunca gera usucapião. Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde
A concessão da posse precária, a título de pela perda, ou deterioração da coisa, ainda
favor é licita (Clovis Beviláqua); mas esta que acidentais, salvo se provar que de igual
posse se torna injusta e viciada (surgindo a modo se teriam dado, estando ela na posse
precariedade como um vício) no momento e do reivindicante. [Responde pelo acidente.
que há ”inversão da posse”. Só há uma exceção, para evitar o
O enunciado 237 faz referencia a inversão enriquecimento sem causa].
da posse. Ocorre quando o possuidor direto
enfrenta o proprietário. Neste momento a 7.3 Indenização pelas Benfeitorias
posse de favor licita se torna injusta, Realizadas e Direito de Retenção:
surgindo o vício da precariedade. Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem
direito à indenização das benfeitorias
7. Efeitos da Posse: necessárias e úteis, bem como, quanto às
7.1 Percepção dos Frutos e Produtos voluptuárias, se não lhe forem pagas, a
(arts. 1214 a 1216): levantá-las, quando o puder sem
Fruto é um bem acessório. É uma utilidade detrimento da coisa, e poderá exercer o
que se renova. Por exemplo o aluguel que é direito de retenção pelo valor das
um fruto civil. benfeitorias necessárias e úteis.
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão
direito, enquanto ela durar, aos frutos ressarcidas somente as benfeitorias
percebidos. necessárias; não lhe assiste o direito de
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao retenção pela importância destas, nem o de
tempo em que cessar a boa-fé devem ser levantar as voluptuárias.
restituídos, depois de deduzidas as
despesas da produção e custeio; devem ser Aula 21
também restituídos os frutos colhidos com Data: 10/07/07
antecipação.
O possuidor de boa-fé tem direito adquirido 8. Propriedade:
ao que colheu. 8.1 Conceito:
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde Trata-se de um direito real complexo,
por todos os frutos colhidos e percebidos, definido no art. 1228 do CC, e
bem como pelos que, por culpa sua, deixou compreensivo das faculdades reais de usar,
de perceber (Frutos Percipiendos), desde o gozar/fruir, dispor e reivindicar a coisa,
momento em que se constituiu de má-fé; segundo a sua função social.
mas tem direito às despesas da produção e Segundo Gustavo Tepedino, baseando-se
custeio [para evitar o enriquecimento sem em Perlingieri, a função social da
causa do proprietário]. propriedade constitui o título justificativo, a
Embora o art. 1216 não haja feito causa de atribuição dos poderes do seu
referência aos frutos pendentes, estes titular, de maneira que: “a propriedade,
devem ser restituídos com a coisa. portanto, não seria mais aquela atribuição
Obs.: Cuidado com o Produto que é uma de poder tendencialmente plena, cujos
utilidade que não se renova. confins são definidos externamente, ou, de
Há uma 1a corrente na doutrina (Arnoldo qualquer modo, em caráter
Wald) que sustenta que os produtos devem predominantemente negativo, de tal modo

66
que, até uma certa demarcação, o proprietário ou possuidor de um imóvel tem
proprietário teria espaço livre para as suas o direito de fazer cessar as interferências
atividades e para a emanação de sua prejudiciais à segurança, ao sossego e à
senhoria sobre o bem. A determinação do saúde dos que habitam, provocadas pela
conteúdo da propriedade, ao contrário, propriedade vizinha.”
dependerá de centros de interesses extra- “Parágrafo único. Proíbem-se as
proprietários, os quais vão ser regulados no interferências considerando-se a natureza
âmbito a relação jurídica de propriedade” da utilização, a localização do prédio,
(Temas Atuais de Direito Civil, Contornos atendidas as normas que distribuem as
Constitucionais da Propriedade Privada, Ed. edificações em zonas, e os limites
Renovar). ordinários de tolerância dos moradores da
vizinhança.”
8.2 Características: O uso anormal da propriedade pode causar
A) complexo – pois é formado por um plexo um dano individual ou coletivo. Se o dano
de poderes ou faculdades; repercutir na coletividade é caso de
B) absoluto – pois a sua oponibilidade é intervenção do Ministério Público.
“erga omnes”; Em havendo este prejuízo individual ou
C) perpétuo – uma vez que não se extingue coletivo o prejudicado pode exigir a
pelo simples não-uso; indenização como pode entrar com uma
D) exclusivo – nesse sentido é entendido, ação cominatória em vez de pedir
pois afasta o exercício do poder dominial de indenização para que o juiz imponha uma
terceiro sobre a mesma coisa, ressalvando- multa até que o autor do dano cesse o uso
se apenas a situação do condomínio, em anormal.
que há divisão ideal do bem; Obs.: Ao analisar quem tem direito, em
E) elástico - pois pode ser distendido ou havendo conflitos de interesses entre
contraído, para formar outros direitos reais, vizinhos, não se deve tomar como absoluta
sem perder a sua essência; a Teoria da Pré-ocupação (tem razão aquele
que construiu primeiro). Ao solucionar este
8.3 Extensão do Direito de conflito o juiz deve observar o interesse
Propriedade: social e o Plano Diretor do Município.
Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a O que é ação de dano infecto? Trata-se da
do espaço aéreo e subsolo ação judicial que visa a acautelar direito de
correspondentes, em altura e profundidade proprietário que esteja na iminência de
úteis ao seu exercício, não podendo o sofrer um prejuízo ocasionado por seu
proprietário opor-se a atividades que sejam vizinho. Exige-se para esta ação uma
realizadas, por terceiros, a uma altura ou garantia para que em havendo dano o
profundidade tais, que não tenha ele proprietário esteja coberto. Está no art.
interesse legítimo em impedi-las. 1280:
Art. 1.230. A propriedade do solo não “Art. 1.280. O proprietário ou o possuidor
abrange as jazidas, minas e demais tem direito a exigir do dono do prédio
recursos minerais, os potenciais de energia vizinho a demolição,ou a reparação deste,
hidráulica, os monumentos arqueológicos e quando ameace ruína, bem como que lhe
outros bens referidos por leis especiais. preste caução pelo dano iminente”.
Parágrafo único. O proprietário do solo tem
o direito de explorar os recursos minerais - Passagem Forçada:
de emprego imediato na construção civil, Não confundir direito de passagem forçada
desde que não submetidos a transformação com servidão. A servidão não é a passagem
industrial, obedecido o disposto em lei forçada.
especial. Tecnicamente direito de passagem e
servidão de passagem são diferentes.
9. Direitos de Vizinhança: Servidão é direito real na coisa alheia.
9.1 Modalidades: Não pressupõe um imóvel encravado e
- Repressão ao Uso Anormal da pode ser constituída livremente por
Propriedade: contrato.
O Código Civil novo fala em uso anormal, O direito de passagem forçada é um
diferente do anterior que falava uso nocivo. direito de vizinhança, pressupõe
Uso anormal da propriedade significa o uso sempre um imóvel encravado e
que viola o Princípio da Função Social da decorre diretamente da lei. Não pode
propriedade. Este uso anormal pode ser estipulado livremente em contrato.
resultar em danos morais ou materiais. A passagem forçada traduz o direito que
O Código Civil regula este uso anormal da assiste ao dono de um prédio encravado de
propriedade a partir do art. 1277 “O exigir de seu vizinho que permita

67
passagem, mediante pagamento de do vizinho. Por isso, pode ser aberto a
indenização. menos de um metro e meio tudo que não
É um ato licito que gera dê visão sobre o terreno alheio: porta
responsabilidade civil, estando prevista (porque fica fechada), janela de vidro
no art. 1285: opaco, circulação de ar e luz a mais de dois
Art. 1.285. O dono do prédio (imóvel) que metros do piso etc].
não tiver acesso a via pública, nascente ou Aberturas para circulação de luz e ar
porto, pode, mediante pagamento de podem ser abertas a menos de metro e
indenização cabal, constranger o vizinho a meio desde que se respeite o parágrafo 2º
lhe dar passagem, cujo rumo será do art. 1301:
judicialmente fixado, se necessário. § 2º As disposições deste artigo não
§ 1º Sofrerá o constrangimento o vizinho abrangem as aberturas para luz ou
cujo imóvel mais natural e facilmente se ventilação, não maiores de dez centímetros
prestar à passagem. de largura sobre vinte de comprimento e
§ 2º Se ocorrer alienação parcial do prédio, construídas a mais de dois metros de altura
de modo que uma das partes perca o de cada piso.
acesso a via pública, nascente ou porto, o
Obs.: Qual a distância mínima no caso de
proprietário da outra deve tolerar a
aberturas que propiciem visão obliqua ou
passagem.
indireta? Sabendo que não se pode abrir
§ 3º Aplica-se o disposto no parágrafo
uma janela com visão direta a menos de
antecedente ainda quando, antes da
metro e meio a pessoa resolve abrir uma
alienação, existia passagem através de
janela com visão obliqua a proibição
imóvel vizinho, não estando o proprietário
persiste? Orlando Gomes dizia que a lei
deste constrangido, depois, a dar uma
proíbe a visão direta e não a indireta.
outra.
Todavia o STF editou a súmula 414
Obs.: Na forma dos parágrafos 2º e 3º, em
proibindo a visão indireta ou obliqua “Não
havendo alienação parcial,
se distingue a visão direta da obliqua na
necessariamente a passagem deve ser
proibição de abrir janela ou fazer terraço,
concedida pelo alienante ou pelo
eirado ou varanda a menos de metro e
adquirente do imóvel.
meio do terreno vizinho”.
Um imóvel encravado é aquele que está
O Código Civil atual regulou a matéria no
sem saída. Todavia se um imóvel tiver uma
parágrafo 1º do art. 1301:
via de acesso, mas esta via for inadequada
§ 1º As janelas cuja visão não incida
cabe direito de passagem?
sobre a linha divisória, bem como as
A doutrina brasileira, seguindo Carvalho
perpendiculares, não poderão ser
Santos, é firme no sentido de reconhecer
abertas a menos de setenta e cinco
o direito de passagem forçada, mesmo
centímetros.
que exista passagem inadequada. (Ver
Vale lembrar que o proprietário prejudicado
enunciado 88 da 1a Jornada de Direito Civil).
pode embargar a obra por meio da ação de
nunciação de obra nova (enquanto a
- Direito de Construir: obra está sendo construída); Mas, como
Está disciplinado no Código Civil a partir do restou decidido no Recurso Especial
art. 1299. 311.507/AL, nos termos do art. 1302 do
Art. 1.299. O proprietário pode levantar Código Civil, se a obra estiver concluída, o
em seu terreno as construções que lhe proprietário prejudicado terá o prazo
aprouver, salvo o direito dos vizinhos e os decadencial de ano e dia para ajuizar
regulamentos administrativos. ação demolitória:
Art. 1.300. O proprietário construirá de Art. 1.302. O proprietário pode, no lapso
maneira que o seu prédio não despeje de ano e dia após a conclusão da obra,
águas, diretamente, sobre o prédio vizinho. exigir que se desfaça janela, sacada,
Art. 1.301. É defeso abrir janelas, ou fazer terraço ou goteira sobre o seu prédio;
eirado, terraço ou varanda, a menos de escoado o prazo, não poderá, por sua vez,
metro e meio do terreno vizinho. edificar sem atender ao disposto no artigo
Na zona rural a distancia mínima para se antecedente, nem impedir, ou dificultar, o
construir é de 3 metros (art. 1303). escoamento das águas da goteira, com
A jurisprudência tem admitido a prejuízo para o prédio vizinho.
abertura de porta a menos de 1 metro Parágrafo único. Em se tratando de vãos, ou
e meio. aberturas para luz, seja qual for a
Janelas com vidro opaco ou translúcido quantidade, altura e disposição, o vizinho
(vidro embaçado) podem ser abertos a poderá, a todo tempo, levantar a sua
menos de um metro e meio (súmula 120 do edificação, ou contramuro, ainda que lhes
STF). [A preocupação é com a privacidade vede a claridade.

68
O enunciado n.º 243 na linha desta
- Árvores Limítrofes: Arts. 1282 e ss; inconstitucionalidade sustenta que esta
- Passagens de Cabos e Tubulações: presunção de abandono não pode
Arts. 1286 e ss; significar Confisco. É uma presunção
- Das Águas: Arts. 1288 e ss; relativa, portanto. [Afinal, se fosse
- Limites e Direito de Tapagem: Arts. propriedade absoluta, como aponta a
1297 e ss. literalidade do artigo, ter-se-ia uma
fórmula: perda da posse + não-pagamento
10. Modos de Perda da Propriedade de tributos = perda da propriedade após 3
Imobiliária: anos, por presunção absoluta do abandono.
10.1 Modalidades: Isso viola a Constituição, pois é confisco e
Estão regulados no art. 1275 do Código desrespeita o devido processo legal. A
Civil: presunção é apenas relativa: é preciso
Não está neste rol por exemplo a apurar em juízo se a intenção do
usucapião. proprietário ao abandonar e deixar de
Art. 1.275. Além das causas consideradas pagar tributos foi, realmente, desfazer-se
neste Código, perde-se a propriedade: do bem].
I – por alienação;
II – pela renúncia (natureza jurídica: 11. Modos de Aquisição de
declaração negocial formal abdicativa de Propriedade Mobiliaria (Ver material de
direito. É uma forma de perda de Apoio):
propriedade imobiliária. Aplica-se Atenção: Um dos modos de aquisição
comumente no inventário –renúncia da cota mobiliaria é a Usucapião.
de herança se perde propriedade imobiliária O ladrão pode usucapir, mas o prazo só
uma vez que o direito a herança por força começa a correr depois da prescrição penal
de lei tem natureza imobiliária). ou do fim da ação penal. Pontes de Miranda
III – por abandono (ato informal de largar a escreveu sobre o assunto bem como Raul
coisa, é fático). Chaves na Obra “Usucapião e o crime”.
IV – por perecimento da coisa; A doutrina e a jurisprudência brasileiras
V – por desapropriação. admitem usucapião extraordinário de
Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, objeto adquirido criminosamente.
os efeitos da perda da propriedade imóvel Observa-se que o criminoso só terá o seu
serão subordinados ao registro do título direito reconhecido após a consumação da
transmissivo ou do ato renunciativo no prescrição penal, ou, caso tenha sido
Registro de Imóveis. deflagrada ação penal, esta tiver sido
Obs.: A alienação e a renúncia de direito extinta ou julgada improcedente por
imobiliário tem de ser registrada no qualquer motivo.
Cartório de Imóveis. Enquanto a ação penal estiver em curso
O imóvel urbano em caso de abandono este bem é produto de crime e pode ser
é arrecadado 3 anos depois pelo apreendido.
Município ou DF. Se o imóvel for rural
será arrecadado pela União. 12. Modos de Aquisição de
Art. 1.276. O imóvel urbano que o Propriedade Imobiliária:
proprietário abandonar, com a intenção de 12.1 Registro:
não mais o conservar em seu patrimônio, e Está regulado no art. 1245 do Código Civil.
que se não encontrar na posse de outrem, O Direito Brasileiro adotou o sistema
poderá ser arrecadado, como bem vago, e Romano, ou seja, no direito brasileiro a
passar, três anos depois, à propriedade do aquisição da propriedade exige, além de
Município ou à do Distrito Federal, se se um título, também uma solenidade.
achar nas respectivas circunscrições. Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a
§ 1º O imóvel situado na zona rural, propriedade mediante o registro do título
abandonado nas mesmas circunstâncias, translativo no Registro de Imóveis.
poderá ser arrecadado, como bem vago, e § 1º Enquanto não se registrar o título
passar, três anos depois, à propriedade da translativo, o alienante continua a ser
União, onde quer que ele se localize havido como dono do imóvel.
§ 2º Presumir-se-á de modo absoluto a § 2º Enquanto não se promover, por meio
intenção a que se refere este artigo, de ação própria, a decretação de invalidade
quando, cessados os atos de posse, deixar do registro, e o respectivo cancelamento, o
o proprietário de satisfazer os ônus fiscais. adquirente continua a ser havido como
O parágrafo 2º trata em verdade de um dono do imóvel.
Confisco sendo inconstitucional por violar o
art. 150, IV da Constituição Federal.

69
Enquanto o registro não for impugnado a As construções são reguladas no Código
pessoa cujo nome consta no registro é Civil a partir do art. 1253:
presumidamente dona. Art. 1.253. Toda construção ou plantação
No sistema brasileiro, regra geral, a existente em um terreno presume-se feita
veracidade do registro firma uma pelo proprietário e à sua custa, até que se
presunção relativa. prove o contrário.
Em caráter excepcional, considera-se É como se o solo tivesse uma força atrativa.
absoluta a presunção de veracidade do Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou
domínio do Registro Torrens (imóvel edifica em terreno próprio com sementes,
rural registrado no registro Torrens). plantas ou materiais alheios, adquire a
Este registro é muito difícil. Os requisitos propriedade destes; mas fica obrigado a
são mais complexos (lei de registro pagar-lhes o valor, além de responder por
público). perdas e danos, se agiu de má-fé.
Matrícula é o primeiro número que se dá a Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou
um imóvel, ela não muda. Agora a cada edifica em terreno alheio perde, em
nova alienação, o imóvel recebe um novo proveito do proprietário, as sementes,
número de registro. plantas e construções; se procedeu de boa-
Averbação é o nome que se dá a toda e fé, terá direito a indenização.
qualquer mudança objetiva ou subjetiva Obs.: O Código Civil inovou, no parágrafo
que repercuta no registro imobiliário. Por único do art. 1255 e nos arts. 1258 e ss (ver
exemplo, faz um 2º andar em uma casa apostila com orientação hermenêutica) no
tem que ser averbada no imóvel (mudança sentido de admitir que o dono da
objetiva), estado civil (mudança subjetiva). construção adquira a propriedade do solo,
a) matrícula – nome que se dá ao primeiro se o valor deste for inferior a obra realizada.
registro do imóvel; Art. 1255, parágrafo único. Se a
b) registro – anteriormente denominava-se construção ou a plantação exceder
“transcrição”. Trata-se do ato que consideravelmente o valor do terreno,
consubstancia a transferência de aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou,
propriedade. A cada registro, recebe-se um adquirirá a propriedade do solo, mediante
novo número; pagamento da indenização fixada
c) averbação – é qualquer alteração feita à judicialmente, se não houver acordo. [Isso é
margem do registro, para demonstrar uma exceção, e somente se aplica caso o
alterações sofridas pelo imóvel (uma indivíduo esteja de boa-fé].
construção, por exemplo). As modalidades de acessão natural são:
Art. 1.246. O registro é eficaz desde o - Formação de Ilhas: Art. 1249
momento em que se apresentar o título ao - Aluvião: Art. 1250; Por meio do
oficial do registro, e este o prenotar no acúmulo material orgânico. A aluvião
protocolo. imprópria resulta da retração de águas
Art. 1.247. Se o teor do registro não dormentes.
exprimir a verdade, poderá o interessado - Álveo Abandonado: Art. 1252
reclamar que se retifique ou anule. - Avulsão: Art. 1251.
Parágrafo único. Cancelado o registro,
poderá o proprietário reivindicar o Art. 1.249. As ilhas que se formarem em
imóvel, independentemente da boa-fé correntes comuns ou particulares
ou do título do terceiro adquirente. pertencem aos proprietários ribeirinhos
fronteiros, observadas as regras seguintes:
12.2 Acessão: I – as que se formarem no meio do rio
Acessão de per si já é um modo de consideram-se acréscimos sobrevindos aos
aquisição de propriedade, podendo ser terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as
averbada. margens, na proporção de suas testadas,
Diferentemente da benfeitoria que é até a linha que dividir o álveo em duas
sempre artificial, a acessão pode ser partes iguais;
artificial ou natural. II – as que se formarem entre a referida
A acessão, modo de aquisição de linha e uma das margens consideram-se
propriedade imobiliária, traduz a união acréscimos aos terrenos ribeirinhos
física de uma coisa a outra, aumentando o fronteiros desse mesmo lado;
volume da coisa principal. III – as que se formarem pelo
Acessão significa aderência aumentando o desdobramento de um novo braço do rio
volume de uma coisa principal. continuam a pertencer aos proprietários
A acessão artificial pode ser as plantações dos terrenos à custa dos quais se
ou as construções. constituíram.
DA ALUVIÃO:

70
Art. 1.250. Os acréscimos formados, - Coisa suscetível de ser usucapida:
sucessiva e imperceptivelmente, por Lembrar que bens públicos não podem ser
depósitos e aterros naturais ao longo das usucapidos, mas podem ser objeto de
margens das correntes, ou pelo desvio das posse.
águas destas, pertencem aos donos dos Bens inventários podem ser usucapidos se
terrenos marginais, sem indenização. preenchidos os requisitos legais.
Parágrafo único. O terreno aluvial, que se - Posse continua e com animus
formar em frente de prédios de domini;
proprietários diferentes, dividir-se-á entre - Decurso do Tempo: Contado dia a
eles, na proporção da testada de cada um dia por se tratar de prazo material.
sobre a antiga margem. A ação de usucapião hoje não tem nada de
DA AVULSÃO especial, uma vez que a única diferença era
Art. 1.251. Quando, por força natural uma audiência de justificação que hoje não
violenta, uma porção de terra se destacar existe mais.
de um prédio e se juntar a outro, o dono A sentença de usucapião é declaratória. É a
deste adquirirá a propriedade do acréscimo, própria declaração de usucapião que já
se indenizar o dono do primeiro ou, sem reconhece a aquisição de propriedade.
indenização, se, em um ano, ninguém O registro é apenas uma formalidade:
houver reclamado. a propriedade vem desde o
Parágrafo único. Recusando-se ao reconhecimento em sentença.
pagamento de indenização, o dono do A súmula 237 do STF reconhecendo a
prédio a que se juntou a porção de terra autonomia da Usucapião, admite a sua
deverá aquiescer a que se remova a parte alegação em matéria de defesa.
acrescida. Quem está usucapindo é denominado
DO ÁLVEO ABANDONADO prescribente.
Art. 1.252. O álveo abandonado de
corrente pertence aos proprietários c) Modalidades:
ribeirinhos das duas margens, sem que - Usucapião Extraordinária (art.
tenham indenização os donos dos terrenos 1238): Dispensa justo título e boa fé. Pode
por onde as águas abrirem novo curso, ser usucapida qualquer coisa do comercio
entendendo-se que os prédios marginais se jurídico.
estendem até o meio do álveo. Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos,
sem interrupção, nem oposição, possuir
como seu um imóvel, adquire-lhe a
12.3 Usucapião: propriedade, independentemente de
a) Conceito: título e boa-fé; podendo requerer ao juiz
A pedra de toque da usucapião é o decurso que assim o declare por sentença, a qual
do tempo. É uma forma de prescrição servirá de título para o registro no Cartório
aquisitiva em face do decurso do tempo. de Registro de Imóveis.
Com base na doutrina de Silvio Rodrigues, Parágrafo único. O prazo estabelecido neste
podemos afirmar que usucapião é um modo artigo reduzir-se-á a dez anos se o
originário de aquisição de propriedade, por possuidor houver estabelecido no imóvel a
meio da posse mansa, continua e com sua moradia habitual, ou nele realizado
animus domini (Savigny), por determinado obras ou serviços de caráter produtivo
tempo fixado na lei. (finalidade econômica ao imóvel que Miguel
Se a usucapião é uma forma de prescrição Reale denomina posse-trabalho).
aquisitiva, as causas que impedem, A jurisprudência predominante tem
suspendem e interrompem o prazo admitido usucapião de área comum de
prescricional também se aplicam à condomínio.
usucapião (art. 1244).
É possível na usucapião a soma de posses - Usucapião Rural ou Pró-labore:
(art. 1243). Art. 1.239. Aquele que, não sendo
Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim proprietário de imóvel rural ou urbano,
de contar o tempo exigido pelos artigos possua como sua, por cinco anos
antecedentes, acrescentar à sua posse a ininterruptos, sem oposição, área de terra
dos seus antecessores (art. 1.207), em zona rural não superior a cinqüenta
contanto que todas sejam contínuas, hectares, tornando-a produtiva por seu
pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com trabalho ou de sua família, tendo nela sua
justo título e de boa-fé. moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
A doutrina atual dispõe que se superior a 50
b) Requisitos Gerais da Usucapião: hectares a sentença é de improcedência.

71
Obs. No caso dos arts. 1239 e 1240, o 2. Usucapião Ordinária: 10 anos, com boa-
enunciado 313 impede o fé e justo título. Se pagou, havia registro
reconhecimento da Usucapião se a em nome do proprietário anterior, e
área for superior ao limite trabalhou ou morou, 5 anos.
constitucional. 3. Usucapião Especial Urbana: 5 anos,
independente de boa-fé, área de até 250
- Usucapião Urbana: (art. 1240 do m², para morar, sem ter outro imóvel
Código Civil e arts 9 e 10 do Estatuto da urbano ou rural.
Cidade): 4. Usucapião Especial Rural: 5 anos,
Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, independente de boa-fé, área de até 50 ha,
área urbana de até duzentos e para morar e trabalhar, sem ter outro
cinqüenta metros quadrados, por cinco imóvel urbano ou rural.
anos ininterruptamente e sem oposição, 5. Usucapião Indígena: 10 anos].
utilizando-a para sua moradia ou de sua
família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que 12.4 Comentários aos Polêmicos
não seja proprietário de outro imóvel Parágrafos 4º e 5º do art. 1228:
urbano ou rural. § 4º O proprietário também pode ser
§ 1º O título de domínio e a concessão de privado da coisa se o imóvel reivindicado
uso serão conferidos ao homem ou à consistir em extensa área (conceito
mulher, ou a ambos, independentemente aberto), na posse ininterrupta e de boa-fé
do estado civil. (conceito aberto), por mais de cinco anos,
§ 2º O direito previsto no parágrafo de considerável número de pessoas, e estas
antecedente não será reconhecido ao nela houverem realizado, em conjunto ou
mesmo possuidor mais de uma vez. separadamente, obras e serviços
Obs.: O STF, aplicando a usucapião considerados pelo juiz de interesse social e
urbana, no Recurso Extraordinário n.º econômico relevante.
305.416, em decisão do Ministro Marco § 5º No caso do parágrafo antecedente, o
Aurélio, admitiu a usucapião de juiz fixará a justa indenização devida ao
apartamento. proprietário; pago o preço, valerá a
O art. 10 do Estatuto da Cidade permite que sentença como título para o registro do
o juiz possa reconhecer a usucapião em imóvel em nome dos possuidores.
áreas de favela em uma usucapião A doutrina se controverte a respeito da
urbana coletiva (áreas urbanas com mais natureza jurídica deste instituto regulado
de 250 metros quadrados ocupadas por nos parágrafos supracitados: há quem
pessoas de baixa renda). entenda tratar-se de desapropriação judicial
(Mônica Aguiar); outros autores, por, sua
- Usucapião Ordinária: vez, entendem que se trata de uma
Possuidor tem boa-fé e justo título sendo modalidade especial de usucapião (Arruda
que a jurisprudência majoritária admite a Alvim, Eduardo Cambi, Teori Zawascki –
Promessa de Compra e Venda como justo ministro do STJ); finalmente há quem
título. sustente tratar-se de uma defesa de mérito
Art. 1.242. Adquire também a propriedade (Fredie Didier Jr).
do imóvel aquele que, contínua e Pablo entende que quando o possuidor é
incontestadamente, com justo título e boa- demandado ele pode alegar o presente
fé, o possuir por dez anos. instituto como matéria de defesa.
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo O problema é quando este possuidor está
previsto neste artigo se o imóvel houver na posição ativa.
sido adquirido, onerosamente, com base no A matéria é polêmica. Pode-se considerar
registro constante do respectivo cartório, usucapião pois se exige posse, e ela ainda é
cancelada posteriormente, desde que os de boa-fé. [Por outro lado, exige-se também
possuidores nele tiverem estabelecido a indenização, o que inexiste no caso da
sua moradia, ou realizado investimentos de usucapião propriamente dita. Sob esse
interesse social e econômico. aspecto, aproximar-se-ia mais da
desapropriação. Parece ser, portanto, um
- Usucapião Indígena: Está regulada instituto intermediário entre a
no art. 33 do Estatuto do Índio e tem o desapropriação judicial e uma usucapião
prazo de 10 anos em favor do índio peculiar].
possuidor da área. Arruda Alvim questiona como poderá um
[1. Usucapião Extraordinária: 15 anos, sem grupo de pessoas ocupar uma área que não
boa-fé nem justo título. Se morou ou tornou é sua de boa-fé. Pode-se interpretar como
produtiva, 10 anos. sendo uma área improdutiva e o grupo de

72
pessoas visa a efetuar uma destinação A responsabilidade civil é uma das
econômica à coisa. responsabilidades jurídicas que pode ser
O proprietário só perderá o imóvel se for penal, administrativa etc.
indenizado, mas quem pagará a A responsabilidade Civil é diferente da
indenização? penal. Segundo Miguel Fenech a diferença
O Código Civil quis resolver o problema da não está na conduta do agente, a diferença
posse coletiva, instituindo uma norma está no mecanismo sancionatório porque a
demagógica. resposta penal tende a ser mais repressora
Hoje a doutrina mais moderna tenta do que a resposta civil. Razão por que
responder esta pergunta em dois Nelson Hungria dizia que o Direito Penal é
enunciados ao Código Civil. um direito de reserva.
O Enunciado 84 c/c o enunciado 308 Uma outra diferença entre o campo Penal e
remete-nos a seguinte conclusão: se os Civil é a tipicidade que só é exigida em
possuidores não forem considerados Direito Penal.
de baixa renda eles mesmos pagarão a
indenização; todavia, se os 13. Conceito:
possuidores forem de baixa renda a A responsabilidade civil deriva da
indenização será paga pela transgressão de uma norma jurídica pré-
Administração Pública (absurdamente existente impondo ao infrator a obrigação
em nome do Princípio da legalidade e sob de indenizar a vítima pelo dano material ou
pena de violar a lei de responsabilidade moral sofrido.
fiscal). Obs.: O que é responsabilidade civil
pressuposta? Nesta tese de livre docência
(publicada pela editora Del Rey), a
Civil- Parte Especial Professora Giselda Hironaka, divergindo em
Pablo Stolze parte da doutrina predominante, sustenta
pablostolze@terra.com.br que a responsabilidade civil antecede a
lesão, de maneira que o dano ou prejuízo
Aula 16 apenas concretiza a obrigação de indenizar.
Data: 29/05/07 Em nome do Princípio da Dignidade da
Pessoa humana todo mundo já tem
Responsabilidade Civil responsabilidade.
12. Introdução: Esta hipótese facilita responsabilizar
“Toda manifestação do homem traz em si o alguém em caso de dano iminente.
problema da responsabilidade” José de Todavia a maioria da doutrina dispõe que a
Aguiar Dias. responsabilidade pressupõe uma norma
O Princípio do Talião da antiguidade do olho jurídica violada. A depender da natureza
por olho, dente por dente foi importante vez jurídica desta norma a responsabilidade
que consagrou o princípio da civil pode ser contratual ou extracontratual.
proporcionalidade. Quando a norma jurídica é legal a
O direito romano sem dívida foi um avanço responsabilidade é extracontratual ou
em termo de direito civil. A lei das 12 Aquiliana. Agora quando a norma jurídica é
Tábuas por exemplo regulava formas de contratual a responsabilidade é Contratual.
responsabilização, mas sofria uma crítica A contratual pressupõe uma violação a uma
pois ela não se preocupava em estabelecer norma de um contrato anterior. Neste caso
princípios, sendo muito casuística. há inadimplemento, descumprimento da
Quem deu um passo maior do que a Lei das obrigação. É regida pelos arts. 398 e ss e
12 Tábuas foi a Lex Aquilia. Esta instituía também 421 e 422 do Código Civil.
princípio de proporcionalidade e inclusive A responsabilidade contratual implica uma
instituía multa proporcional ao dano. imposição de indenizar muito mais
Depois do direito romano a grande facilitada.
referência do direito civil foi o Código Civil Os Civilistas, baseados em uma obra de
da França de Napoleão de 1804. A idéia de Menezes Cordeiro, descobriram que a
culpa é muito presente neste código. responsabilidade contratual não deriva
A responsabilidade do século XX afasta apenas quando a obrigação principal de
cada vez mais a noção de culpa. É o século dar, fazer ou não fazer é descumprida,
da responsabilidade civil baseada no risco. existindo também responsabilidade
Hoje convivem a responsabilidade clássica contratual, com base no Princípio da Boa-fé
subjetiva baseada na culpa e a objetiva objetiva, quando obrigações anexas,
especialmente baseada no risco. acessórias ou de proteção são
descumpridas (violação positiva do
contrato).

73
O artigo do Código Civil que serve de base a A passagem forçada, prevista no art. 1285
responsabilidade extracontratual ou do Código Civil, não é igual a servidão e sim
aquiliana é o 186, que define o ato ilícito. igual a direito de vizinhança, é um ato lícito
O art. 186 definidor do ato ilícito é a regra que gera obrigação de indenizar.
geral da responsabilidade civil no direito Obs.: Qual é a diferença entre ato ilegal e
brasileiro. ato ilícito? Esta questão foi levantada por
Este artigo traduz o Princípio do “Neminem Martinho Garcez Neto.
Laedere” que a ninguém é dado causar Este autor sustenta que o ato ilegal é
prejuízo a outrem. aquele que não atende a pressupostos
Art. 186: “Aquele que por ação ou normativos e que não implica
omissão voluntária, negligência ou necessariamente responsabilidade civil. Por
imprudência, causar dano a outrem, ainda exemplo, o ato nulo não é necessariamente
que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Todavia, o ato ilícito é desvalioso por
ilícito“. Este dispositivo engloba o dolo e a excelência resultando na responsabilidade
culpa. civil.
Logo, na dicção deste artigo estabeleceu-se O direito civil brasileiro não trata o ato nulo
uma ilicitude subjetiva, baseada na culpa ou anulável como ilícito.
(Daniel Boulos).
Todavia, vale lembrar que o Código 16. Nexo de Causalidade:
Brasileiro também admite ilicitude objetiva, Traduz o vinculo que une o agente ao
sem aferição de culpa, como se pode notar prejuízo causado. As três principais teorias
da leitura dos artigos 187 e 927, parágrafo explicativas do nexo de causalidade são:
único. a) Teoria da Equivalência de
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. Condições(da conditio sine qua non):
186 e 187), causar dano a outrem, fica Foi desenvolvida por um filósofo chamado
obrigado a repará-lo. Von Buri, na segunda metade do século XIX.
Parágrafo único. Haverá obrigação de Sustenta que todo antecedente que
reparar o dano, independentemente de concorra para o resultado é causa. Esta
culpa, nos casos especificados em lei, ou teoria é adotada pelo CP Brasileiro no art.
quando a atividade normalmente 13, com os temperamentos da imputação
desenvolvida pelo autor do dano objetiva.
implicar, por sua natureza, risco para Esta teoria tem um grande inconveniente
os direitos de outrem. pois se tudo aquilo que concorra para o
resultado é causa pode-se chegar ao
14. Elementos da Responsabilidade infinito.
Civil: No âmbito civil esta teoria não é aceita pela
a) Conduta Humana; doutrina majoritária que prefere adotar a 2a
b) Nexo de Causalidade; ou a 3a teoria.
c) Dano ou Prejuízo. b) Teoria da Causalidade Adequada:
É teoria que tem sido muito aceita pelos
15. Da Conduta Humana: civilistas a exemplo de Carbonnier,
É o 1º elemento da responsabilidade civil. Mazeaud e Tun (Franceses). No Brasil é
Martinho Garecez Neto observa que nas muito defendido por Cavalieri Filho e
Ordenações houve processos contra Washington de Barros Monteiro.
animais. Sustenta que nem todo antecedente é
A conduta humana é o comportamento causa, mas apenas aquele que, segundo
positivo ou negativo carregado de um juízo de razoabilidade e segundo a
voluntariedade. experiência comum da vida (Cavalieri
Toda conduta humana punível pressupõe Filho), é adequado para determinar o
ação volitiva positiva ou negativa. Por isto o resultado danoso.
sonâmbulo não pode ser responsabilizado. É uma teoria mais abstrata, mais refinada.
Muitos autores colocam como 1º elemento c) Teoria da Causalidade Direta e
conduta ilícita. Imediata:
Todavia a ilicitude não é uma característica Pablo perfilha desta teoria que é mais
sempre presente na responsabilidade civil, precisa e objetiva. É defendida por Gustavo
porque, ainda que em caráter excepcional, Tepedino e Carlos Roberto Gonçalves.
pode haver responsabilidade civil Consoante esta doutrina causa é apenas o
decorrente de ato licito (Von Tuhr, antecedente que determina um resultado
Windscheid, Demogue, Paulo Lobo). como efeito direto e imediato seu.
Por exemplo a desapropriação é um ato Não se tem que fazer juízo de probabilidade
lícito que gera responsabilidade civil. ou de se recorrer a experiência comum.

74
A jurisprudência confunde a 2a e a 3a Obs.: É uma situação excepcional, pois no
teorias. caso dos condomínios, em recente julgado,
Obs.: Muito embora as duas teorias o STJ entendeu que o condomínio só
guardem semelhanças, a da causalidade deve responder por furtos em áreas
direta é mais objetiva e explica melhor as comuns, se isto foi expressamente
concausas. Além disto a dicção normativa previsto na convenção. (ERESP
do art. 403 do Código Civil sugere uma 268.669/SP julgado em 08/03/06).
harmonia maior com a 3º teoria. A súmula 161 do STF estipula que em
contrato de transporte é inoperante a
17. Do Dano ou Prejuízo: cláusula de não indenizar.
Sem dano ou prejuízo não há
responsabilidade civil.
O mero aborrecimento, o percalço da vida
comum não gera responsabilidade civil.
Dano ou prejuízo traduz lesão ao interesse
jurídico tutelado material ou moral. Aula 17
Requisitos do Dano Indenizável: Data: 05/06/07
a) Violação a Interesse Jurídico: Por
isto que o dano afetivo de um término de 19. Causas Excludentes da
um namoro não é indenizável. Responsabilidade Civil:
b) Certeza do Dano: Inclusive o dano São os fundamentos da contestação do réu.
moral. O fato de o dano dever ser certo não Excluem a responsabilidade porque atacam
impede a responsabilidade civil pela perda ou neutralizam a ilicitude do ato ou o nexo
de uma chance. de causalidade. São elas:
c) Subsistência do Dano: O dano para a) Estado de Necessidade e
ser indenizável deve subsistir, ou seja, se já Legitima Defesa:
houve uma reparação judicial ou in natura No Estado de Necessidade, o agente atua
não há dano indenizável. removendo perigo visando a salvaguardar
Obs.: O que é dano reflexo ou em interesse jurídico seu ou de outrem; já na
Ricochete? É, segundo Caio Mário, certo e legitima defesa atua-se repelindo agressão
se configura na lesão sofrida pelo sujeito injusta atual ou iminente (art. 188, I 1a
ligado a vítima direta do ilícito (ver RESP parte e II do CC).
254. 418/RJ e AP Cível 598.060.713/RS). Quem atua em estado de necessidade e
É aquele que atinge indiretamente uma legítima defesa não pratica ato ilícito.
pessoa ligada a vítima. Por exemplo na Na legitima defesa o agente deve agregar
morte de uma mulher com 8 filhos, a mãe é responsabilidade em sua defesa.
a vítima direta e os filhos as vitimas Vale registrar que atuando em estado de
indiretas que sofrem danos reflexos. necessidade ou legitima defesa, caso seja
atingido 3º inocente, o agente deve
18. Cláusula de Não Indenizar : indenizá-lo cabendo ação regressiva
Cláusula de não indenizar traduz a contra o verdadeiro culpado (art. 929 e
estipulação negocial que afasta a 930 do CC). Neste caso a princípio há a
responsabilidade civil do infrator. No atual responsabilidade decorrente de um ato
sistema brasileiro, que contempla o lícito.
Princípio da Função Social do Contrato e em Se o verdadeiro culpado não tiver como
que na esmagadora maioria das relações indenizar, o agente não tem como resolver
negociais utiliza-se como técnica de isto.
contratação a proposta por adesão, por
conta da manifesta vulnerabilidade de uma b) Estrito Cumprimento do
das partes, esta cláusula pode ser Dever Legal e Exercício Regular de
considerada abusiva (art. 25 do CDC). Direito:
A vulnerabilidade não é tão somente a O estrito cumprimento do dever legal,
econômica como também técnica e jurídica. segundo José Frederico Marques, dispensa
Excepcionalmente, verificando-se paridade norma específica que o regule, uma vez que
de armas, pode-se manter a cláusula de se trata de uma manifestação de exercício
não indenizar. É o exemplo de decisões regular de direito.
encontradas com relação a condomínios Tanto isto é verdade que o Código Civil não
(RESP 168.346/SP) – se a convenção de traz uma norma especifica sobre o exercício
condomínio contiver esta cláusula, uma vez regular de um direito, mas este é previsto
que todos os condôminos são iguais, e no art. 188, I 2a parte (quando trata do
houver furto em áreas comuns o exercício regular de um direito).
condomínio não paga nada.

75
Por exemplo, policial que cumpre um civil do fornecedor, no campo do Direito
mandado de busca, arrombando uma porta Consumerista.
desde que não haja excesso. O assalto à mão armada, segundo a
O exercício regular de direito é o jurisprudência do STJ, é um fortuito
contraponto do abuso de direito. externo e exime a responsabilidade
Há jurisprudência no sentido que o guarda civil da empresa de transportes.
volumes de supermercado é um exercício Entende-se que a empresa também é
regular de direito do estabelecimento. Este vítima da falta de segurança pública.
exercício pressupõe civilidade. Assim como Obs.: Existe entendimento respeitável,
a porta giratória dos bancos traduz um embora não predominante, no sentido de
exercício regular de um direito. que, se o assalto é freqüente naquela linha,
A jurisprudência do STJ só tem acatado a haverá previsibilidade, e a empresa
tese do exercício regular de direito se transportadora será responsável por ele.
houver razoabilidade. (Tribunal de Rondônia e do Rio de Janeiro).

c) Caso Fortuito e Força Maior: d) Culpa Exclusiva da


Maria Helena Diniz sustenta que a força Vítima:
maior é um evento inevitável, um fato da Rompe o nexo de causalidade, excluindo a
natureza; diferentemente caso fortuito é o responsabilidade civil.
acontecimento imprevisível. Álvaro Vilaça Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello a
Azevedo, contrariamente, sustenta que o culpa exclusiva da vítima também pode ser
fortuito é um acontecimento da natureza e invocada no âmbito administrativo.
a força maior é um acontecimento ligado ao Também se invoca a culpa exclusiva da
homem. vítima em defesa do fornecedor no âmbito
Silvio Rodrigues, por sua vez, refere do consumidor.
doutrina que identifica o caso fortuito a O STJ tem entendido (RESP 439408/SP) que
força maior. não se presume a culpa exclusiva da
Predominantemente no Brasil segue-se a vítima, tendo esta que ser provada.
linha defendida por Maria Helena Diniz, Não confundir culpa exclusiva da vítima que
segundo a qual força maior é o afasta a responsabilidade civil com a
acontecimento inevitável e caso fortuito é o concorrência de culpas (compensação de
acontecimento imprevisível culpas) que apenas atenua a indenização
Mesmo sabendo que há esta divergência o sem excluir a responsabilidade.
Código Civil não distingue no plano eficacial No âmbito do consumidor não se aceita
o caso fortuito da força maior, tratando-os a concorrência de culpas para atenuar
no parágrafo único do art. 393 como o a indenização.
acontecimento que não se pode impedir.
A regra geral é a não responsabilização e) Fato de Terceiro:
salvo se houver disposição expressa em O fato de 3º também pode atacar o nexo
contrário, por exemplo, as seguradoras. jurídico de causalidade excluindo a
Obs.: Hipóteses legais de não exclusão da responsabilidade civil.
responsabilidade civil pelo caso fortuito ou A súmula 187 do STF proíbe o
força maior: no caso da mora (perpetuatio transportador de alegar fato de 3º,
obligationis – art. 399: devedor em mora com base no Princípio da Segurança.
responde pela integridade da coisa mesmo A clausula de segurança é implícita a
que haja caso fortuito ou força maior); do todo contrato de transporte.
Mandatário que agiu contra a proibição do
Mandante (art. 667, parágrafo 1º do CC); do Fato de Terceiro e Acidente Automobilístico:
Comodatário que salva 1º os seus bens (art. Existe corrente na jurisprudência (RT
583 do CC). [É também o caso do possuidor 646/89, RT 437127) no sentido de que, no
de má-fé]. acidente automobilístico, caso um dos
Qual a diferença entre fortuito interno e envolvidos atinja terceiro inocente deverá
externo? Fortuito interno não exime a parte indenizá-lo, cabendo ação regressiva em
da obrigação de indenizar, uma vez que o face do verdadeiro culpado.
acontecimento incide ou ocorre no processo A 2a corrente jurisprudencial que é a do STJ
de elaboração ou execução do produto ou (RESP 54444/SP) corretamente sustenta
serviço. Já o fortuito externo por não que a vítima deve demandar
participar do processo de elaboração ou diretamente o terceiro culpado.
execução do produto ou serviço, sendo Este fato de 3º também é chamado de
alheio à atividade do fornecedor, rompe o Teoria do Corpo Neutro.
nexo causal, excluindo a responsabilidade

76
20. Responsabilidade Objetiva e Obs.: Acidente de trabalho X Atividade de
Atividade de Risco: Risco:
A teoria do risco se baseia na idéia de que O NCC estabelece que o exercício de uma
aquele que realiza uma atividade perigosa atividade de risco pode configurar
deve responder por ela. responsabilidade objetiva.
No 1º momento existiam presunções de A posição que prevalece hoje no caso do
culpa na responsabilidade civil. Era a empregado exercente de uma atividade de
responsabilidade impura ou mitigada. risco, explorada economicamente pelo
A partir do século XX a responsabilidade empregador, é no sentido de que a
pura, que independe da análise da culpa, demanda indenizatória pode se basear na
passou a ganhar espaço. responsabilidade objetiva, uma vez que o
Para o STJ nas condutas omissivas a comando constitucional do inciso XXVII, art.
responsabilidade do Estado é 7º traduz um núcleo não necessário, ou
subjetiva. seja, no dizer de Arruda Alvim “um núcleo
O art. 927 do Código Civil consagrou no seu mínimo” (Ver Enunciado 377 da 4a Jornada
corpo normativo as duas espécies de de Direito Civil).
responsabilidade: subjetiva (caput ao se
referir ao art. 186) e objetiva (caput ao se 21. Responsabilidade pelo Fato da
referir ao art. 187 e parágrafo único). Coisa e do Animal:
O art. 186 ao definir ato ilícito consagra As coisas e os animais representam um
uma ilicitude subjetiva, baseada na culpa risco para o ser humano na vida moderna. A
(por exemplo nos acidentes de trânsito). responsabilidade pelo fato da coisa e do
Diferentemente o art. 187, ao definir o animal foi desenvolvida em um 1º momento
abuso de direito conforme assentado no na doutrina francesa por Planiol, Boulanger
enunciado 37 da 1a Jornada de Direito Civil, e Ribert.
consagrou uma ilicitude objetiva, Aqui no Brasil Teixeira de Freitas foi o 1º
utilizando o critério finalístico jurista no mundo que propôs a
desapegado da culpa. normatização desta responsabilidade.
As hipóteses de responsabilidade objetiva A teoria que fundamenta este tipo de
do parágrafo único do art. 927 devem ser responsabilidade indireta é a Teoria do
dimensionadas pelo juiz. Sob pena desta Guardião ou da Guarda. Segundo esta
norma ser interpretado de forma leviana. teoria, o responsável pelo fato da coisa e do
Responsabilidade objetiva: nos casos animal é a pessoa que detém poder de
previstos em lei e quando a atividade comando ou de direção (guardião). O
normalmente desenvolvida pelo autor do proprietário é o guardião presuntivo, mas
dano implicar, por sua natureza, risco para pode acontecer de o proprietário não ser
os direitos de outrem. responsabilizado pelo dano.
Não é qualquer atividade de risco que gera
responsabilidade objetiva e sim a atividade 22. Responsabilidade pelo Fato do
desenvolvida normalmente pelo autor do Animal:
dano e que implique, por sua natureza, O Código Civil/16 tratava da matéria no art.
risco para os direitos de outrem. É a 1527, fazendo referência à culpa, e
atividade rotineira, habitual. dificultando a reparação da vítima.
É preciso se ter parâmetros de No Novo Código Civil a responsabilidade
interpretação. pelo fato do animal é eminentemente
O Princípio da Operabilidade do Código Civil objetiva (art. 936).
aponta que o juiz para melhor aplicar o O detentor pode inclusive ser
direito deve preencher as cláusulas gerais, responsabilizado.
os conceitos abertos no caso concreto. A responsabilidade é objetiva salvo se
A atividade de risco que gera comprovado culpa exclusiva da vítima ou
responsabilidade objetiva deve expor a força maior.
vítima normalmente ao risco de dano maior
do que outros membros da coletividade 23. Veiculo Conduzido por Terceiro:
(enunciado 38 da 1a Jornada de Direito Se você empresta seu carro a uma
Civil). pessoa capaz e habilitada, você
O risco que justifica a responsabilidade transfere a guarda da coisa e a
objetiva é o denominado risco-proveito, responsabilidade será do condutor.
ou seja, justifica a responsabilidade sem O Código Civil não traz uma norma
culpa o exercício da atividade visando a especifica estabelecendo a
perseguir um proveito econômico. responsabilidade do proprietário por ato do
condutor.

77
Todavia o STJ em mais de uma Todas as responsabilidade por atos de
oportunidade tem discordado desta terceiros no Código Civil atual são de
doutrina entendendo que o responsabilidade objetiva nos termos do
proprietário responde solidariamente art. 933. Não obsta, entretanto, que o
com o condutor. responsável oponha defesas em face do
terceiro (não por aspecto da relação, mas
Aula 18 por exceções).
Data: 12/06/06 Obs.: A admissibilidade da ação regressiva
do representante em face do representado
24. Responsabilidade Civil por Fato da é regulada pelo art. 934: Não cabe ação
Coisa: regressiva se o causador do dano é
13.1 Ruína de Edifício ou Construção: descendente do representante,
A palavra ruína não quer dizer apenas absoluta ou relativamente incapaz ao
desabamento total, pois a ruína pode ser tempo do ilícito.
parcial. Art. 932: Hipóteses de Solidariedade Legal:
O Código Civil regula a ruína no art. 937: I Pais pelos filhos menores;
somente o dono (Proprietário) responde II. Tutor e Curador pelo Tutelado e
pelo dano que causar a terceiros. A Curatelado.
legitimidade é do dono. A lei que rege a responsabilidade civil é a
Essa responsabilidade pela ruína é lei do tempo do ato ilícito (tempus regit
objetiva, não se discutindo culpa. A actum): se foi à época do Código Civil/16,
doutrina entende que se houve dano, não este se aplica. Na vigência deste código os
se discute culpa: a responsabilidade é menores relativamente incapazes (de 16 a
do dono do prédio (se houve ruína o 21 anos) eram equiparados aos capazes
descuido é pressuposto). (respondiam sozinhos ou em solidariedade
Esta ruína atinge um 3º. Quando o com os pais). Já o absolutamente incapaz
proprietário sofre o dano o construtor era inimputável e só os pais respondiam.
que é responsável (será visto adiante). O Novo Código Civil mudou completamente
o panorama da responsabilidade civil no
13.2 Objetos lançados ou Caídos: Brasil , passando a admitir a
Está no art. 938 do Código Civil. A responsabilidade civil do incapaz nos
responsabilidade aqui também é objetiva. termos do art. 928, segundo o princípio da
A responsabilidade é muito mais elástica: a subsidiariedade. O incapaz responde
responsabilidade é de quem habita a subsidiariamente, vez que só responderá
unidade, é do habitante (dono do perante a vítima se o seu representante
apartamento, inquilino, usufrutuário, não dispuser de condições econômicas ou
comodatário). não tiver a obrigação de indenizar.
O nome da ação judicial que a vítima ajuíza Obs.: Quando é que um representante não
contra o autor é “actio de effusis et tem obrigação de indenizar a vítima,
dejectis”. É uma ação de reparação civil recaindo este dever no incapaz? O
com prazo prescricional de três anos. enunciado 40 da 1a Jornada de Direito Civil
Se não se sabe de onde partiu o projétil, a responde: no ECA, nas medidas sócio-
responsabilidade pela indenização é de educativas, já que uma das medidas é a
todo condomínio, excluindo-se os blocos ou reparação.
fachadas de onde seria impossível o O parágrafo único do art. 928 estabelece
arremesso, com base na teoria da que não pode privar do patrimônio mínimo.
causalidade alternativa (doutrina e Esta idéia, segundo a qual a execução não
jurisprudência são pacificas). pode esgotar o patrimônio do devedor
Teoria da Causalidade Alternativa: Segundo guarda conexão com a Teoria do Estatuto
Vasco Giustina, haverá causalidade Jurídico do Patrimônio Mínimo de Luiz Edson
alternativa quando qualquer dos autores Fachin, tese segundo a qual numa
possíveis, dentro de um grupo de perspectiva civil-constitucional, as normas
coletividade, puder ser responsabilizado de legislação ordinária devem resguardar a
pelo dano (Recurso Especial 64682/RJ e RT cada pessoa um mínimo para que tenha
530/213). vida.
O STJ (Recurso Especial 540.459/RS) tem
13.3 Responsabilidade por Ato de Terceiro: interpretado literalmente a
No Código Civil de 1916 eram baseadas em responsabilidade dos pais, de maneira que
presunções de culpa todas as hipóteses de o dever de indenizar recairá apenas
responsabilidade por atos de terceiros naquele que detinha a autoridade e
(culpa in vigilando/ culpa in eligendo). esteve com o incapaz em sua
companhia quando do ilícito.

78
“Mutatis Mutandis” Todas estas regras se
aplicam ao inciso II. 26. Dano Moral:
O inciso III trata da responsabilidade do Num primeiro momento na historia do
empregador ou comitente. direito o dano moral não admitia reparação
Obs: Uma vez que não há espaço para civil. Nesse momento o dano moral era
discussão de culpa do empregador na incerto. Repará-lo era dar poderes demais
escolha do empregado (responsabilidade ao juiz.
objetiva) está superada a súmula 341 A tese da reparação por dano moral chegou
do STF. aos poucos no Brasil por influência do
A lei diz que o empregador responde pelo direito francês. A reparação por dano moral
empregado em razão ou no exercício da quando começou a ser acatada estava
função. vinculada a um dano material sofrido, ou
A Teoria que explica a responsabilidade do seja, não havia autonomia.
empregador pelo ato do empregado é a A reparação do dano moral no Brasil só
Teoria da Substituição (entende-se que o ganhou autonomia com a Constituição
empregado substitui o empregador na Federal de 1988. (art. 5º, V e X).
conduta, e o empregador substitui o O STJ, diante da autonomia conferida à
empregado no pagamento à vítima). reparação por dano moral (Recurso Especial
O inciso IV trata da responsabilidade dos 251.719/SP) tem admitido inclusive a
donos de hotéis, hospitais, casas ou cumulação entre o dano moral e o
estabelecimentos onde se albergue dano estético sofrido.
dinheiro, por atos dos hospedes ou O Código Civil/16 não proibia o dano moral,
educandos. Estes são solidariamente mas também não o regulava.
responsáveis. No Brasil no que tange ao dano moral a
José de Aguiar Dias justifica a doutrina predominante sustenta que a
responsabilidade dos donos de hotéis e natureza do dano moral é
congêneres no dever de segurança e compensatória, que vem sofrendo uma
Cavalieri Filho complementa lembrando que reflexão à luz da Teoria do “Punitive
por se tratar de relação de consumo é Damage”.
objetiva. Dano moral é a lesão a direitos da
Aqui abrange também os donos de escola personalidade.
que são responsáveis por atos dos A maioria da doutrina e da jurisprudência
educandos menores, vez que o maior sustentam que Pessoa Jurídica pode
já tem responsabilidade jurídica sofrer dano moral, vez que sofre um
própria. abalo em sua honra objetiva, em sua
Se porventura o ato for causado por imagem (súmula 227 do STJ e art. 52 do
educando menor o dono da escola indeniza Código Civil).
e, em regra, não cabe ação regressiva Obs.: O que é dano moral “ïn re ipsa”? É
contra os pais da criança, vez que eles aquele que independe de
transferiram a guarda provisória à escola, a comprovação. Ex. inscrição indevida no
qual, por seu turno, falhou em seu dever de SPC/SERASA.
zelo. Existem dois sistemas de quantificação do
O inciso V trata de todos aqueles que se dano moral: o sistema aberto ou do
beneficiarem participando gratuitamente do arbitramento e o sistema fechado ou do
produto do crime. Exemplo receptador tarifamento legal. O sistema aberto ou do
responde solidariamente por isso. arbitramento é predominante no direito
brasileiro, aduz que o juiz deve, no caso
25. Responsabilidade Civil e Dano concreto, arbitrar o dano moral, com base
Empresarial (art. 931): na equidade (art. 4º da LICC e art. 126 do
Com o advento do novo Código Civil a CPC). A súmula 281 do STJ reforça o
relação entre empresários se tornou arbitramento, pois não aceita o
pautada pela responsabilidade objetiva. O tarifamento da lei de imprensa.
enunciado 378 da 4a Jornada de Direito Civil Há uma tentativa no CN de se consagrar o
reforça este entendimento. sistema fechado ou do tarifamento legal,
O dispositivo fala em produto, mas há um pretendendo tarifar o dano moral na lei (PL
projeto de reforma para incluir serviço. n.º 7.124/02).
Art. 931. Ressalvados outros casos Dano Moral e a “Teoria do Punitive
previstos em lei especial, os empresários Damage”: Boris Starck foi o 1º autor a
individuais e as empresas respondem desenvolver esta teoria que foi o ensaio de
independentemente de culpa pelos uma teoria geral da responsabilidade civil
danos causados pelos produtos postos considerado em sua dupla-função de
em circulação.

79
garantia e de pena privada. A reparação por Seguro de bagagens é facultativo. Mas se a
dano moral tem cunho pedagógico. empresa disser que vai fazer e não faz ela
O enunciado 379 da 4a Jornada de Direito se responsabilizará.
Civil suscita que o Código Civil não admite a O overbooking ocorre quando a
reparação por dano moral em caráter Companhia Aérea emite mais passagens do
pedagógico, ou seja, a indenização deve que a quantidade de assentos e tem sido
compensar a vítima e punir o defensor encarado pelo STJ como um ato ilícito
(Recurso Especial 860.705/DF). gerador de responsabilidade civil.
O projeto de reforma do Código Civil
pretende acrescentar um parágrafo ao art. 29. Responsabilidade do Construtor:
944 do Código Civil para constar que a É regulada pelo art. 618 do Código Civil que
reparação do dano moral deve compensar a dispõe que o empreiteiro responde,
vítima e desestimular o lesante. durante o prazo de 5 anos, pela solidez
Esta teoria serve para justificar a reparação e segurança da obra.
do dano moral por abandono afetivo. Este é o período de garantia da obra, e a
natureza do prazo é decadencial.
Aula 19 O parágrafo único do art. 618 diz que
Data: 19/06/07 decairá desse direito de garantia
durante os cinco primeiros anos o dono da
27. Responsabilidade das Locadoras obra que, no prazo de 180 dias seguintes
de Veículos: ao aparecimento do vício ou defeito, não
A súmula 492 do STF aduz que a empresa reclamar pelo desfazimento do negócio, ou
locadora de veículos responde civil e pela redução do preço, por exemplo. Este
solidariamente com o locatário pelos prazo de 180 dias não é prescricional de
danos por este causados a terceiros. reparação civil contra a construtora pelos
[Locadora é atividade de risco. O lucro da prejuízos sofridos, e sim é o prazo para
empresa advém do trânsito e, por exercer o direito potestativo de reclamar
conseguinte, da carga de risco inerente a por vícios de qualidade da obra (180 dias
esse trânsito. Assim, é natural que ela para rejeitar a coisa, pleitear um
responda juntamente com o locatário, abatimento, por exemplo).
quando o risco da sua atividade econômica Já o prazo prescricional para reclamar dos
se concretiza e causa lesão a alguém]. prejuízos, em havendo acidente, era de 20
Em relação à transferência de veículos, a anos nos termos da súmula 194 do STJ.
súmula 132 do STJ diz que mesmo que Esta súmula foi cancelada.
ainda não tenha havido registro no
DETRAN, a responsabilidade é do novo O prazo prescricional da pretensão
proprietário. Aplica-se a situação em que indenizatória por prejuízos, se a vítima
você assina o documento de transferência (adquirente da construção) for
em branco para que a concessionária possa consumidora, é de 5 anos, nos termos do
vender o veículo. art. 27 do CDC. Se a vítima não for
consumidora, o prazo é de 3 anos, na
28. Responsabilidade do forma do art. 206 do Código Civil
Transportador: (reparação civil).
A súmula 145 do STJ diz que no Mesmo que o vício ou o fato só tenha
transporte de simples cortesia, o aparecido depois dos 5 anos, o STJ tem
transportador só será civilmente entendido que pode haver responsabilidade
responsável por danos causados ao da construtora, desde que tenha havido
transportado quando incorrer em dolo prejuízo. Só não haverá pretensão
ou culpa grave. Portanto, em geral, o reparatória por esse prejuízo se a
transportador de cortesia não responde construtora provar, por exemplo, culpa
pelos danos sofridos pelo transportado. exclusiva da vítima, falta de conservação
Agora se o transporte for interessado esta do edifício etc. [Note-se portanto, que o
súmula não se aplica. Pode se aplicar, a prazo de garantia de cinco anos é apenas o
depender, o CDC. período em que, havendo vícios, a pessoa
No que tange ao transporte aeronáutico poderá rejeitar a coisa, reclamar
existe uma Convenção de Varsóvia que abatimento no preço, etc. É somente esse
disciplina o extravio de bagagens em direito potestativo de desconstituir ou
viagens internacionais, limitando a modificar o negócio realizado que decai em
indenização desta bagagem. O STJ tem 180 dias após a manifestação do vício, nos
entendido que esta Convenção não 5 primeiros anos. Já a pretensão reparatória
prevalece em relação ao CDC. pelo dano civil causado por vícios na
construção, esta só começa a correr a partir

80
do dano (ocorra ele nos 5 primeiros anos ou devia ser editado um Código Civil e um
não, pouco importa), e está sujeita a prazo Código Penal.
prescricional de 3 anos (para não- Apenas em 1855, Teixeira de Freitas foi
consumidores) ou 5 anos (para contratado para elaborar um projeto de
consumidores)]. Código Civil. Este esboço tinha 5000
artigos, ele unificava o direito privado,
30. abrangendo o direito civil e comercial. Este
esboço não serviu para o Brasil, era muito
avançado.
Em 1899, Beviláqua apresentou o 1º projeto
Direito Civil de Código Civil, que só foi aprovado em
Cristiano Chaves 1916 para entrar em vigor em 1917.
Aula 01 Ou seja, o Código Civil de 1916 é na
Data: 07/08/07 verdade de 1899. E a influência do código
Bibliografia: neste momento se deu através do código
- Direito Civil Brasileiro: Carlos francês e alemão.
Roberto Gonçalves; Neste sentido se o Código Civil francês era
- Gustavo Tepedino, Editora patrimonialista e individualista o Código
Renovar; Civil brasileiro assim também é.
- Cristiano Chaves e Nelson Um exemplo desta característica era o
Rosenvald. capitulo que cuidava da tutela que tinha 24
artigos, destes 24, 23 cuidavam do
Conteúdo do Direito Civil: patrimônio do tutelado.
1. Introdução: O Código Civil de 1916 era a norma
A história do direito civil remonta a uma regulamentadora do direito civil. Naquela
data importante, a saber o ano de 1804, época, o direito civil não fazia parte da
que foi o ano do 1o Código Civil Francês. ordem constitucional. A Constituição se
Neste momento o Direito Civil passa a se preocupava (1891, 1934, 1937 e 1969)
desatrelar do direito romano. apenas com o direito público.
Normalmente o direito civil é projeção do O Código Civil assumiu o papel de
direito romano. Todavia o direito romano constituição da vida privada e a
não é o único precedente histórico do constituição de carta política.
direito civil. Quando o Código Civil era omisso, era
Com o advento do Código Civil Francês se suprida a omissão por leis extravagantes,
tem o primeiro código da era moderna. formando microssistemas jurídicos
O Código Civil Francês advém na época da (pequenas normas que complementavam o
Revolução Francesa. E com os ideais da Código Civil).
revolução francesa se tem o propósito de Os microssistemas eram o Código de águas,
trazer para o campo jurídico os ideais da o Código de minas, o Estatuto da mulher
revolução: liberdade, igualdade e casada etc.
fraternidade. Com o tempo o Código Civil passou a deixar
A revolução francesa veio para combater o de influenciar as leis esparsas e somente
absolutismo, o estado centralizador e uma norma de cunho superior poderá
totalitário. estabelecer valores a toda uma sistemática.
Para o direito civil significa combater a idéia Esta norma superior só poderia ser a
do estado centralizador e assim implantar Constituição Federal de 1988.
novos ideais. Com a Constituição Federal de 1988 houve
Logo, se pode dizer que o código francês de a redefinição do modelo de direito civil.
1804 teve com característica ser Rompeu com a estrutura neutra e
patrimonialista (visava à proteção da indiferente das constituições antecedentes
propriedade, dizia que a propriedade era do e estabeleceu como meta, além de
particular, prestigiando a autonomia da organizar política e administrativamente o
vontade) e individualista. Estado, disciplinar o direito privado.
O 2º código da era moderna foi o Alemão Este movimento se chama
de 1809. A partir desta data o direito civil Constitucionalização do Direito Civil ou
se evolui na vontade de se afastar do Publicização da Relação Privada ou Direito
Estado e proteger a vontade do particular, Civil Constitucionalizado. Significa que os
particular protegido sob o cunho valores do direito civil agora são dados pela
patrimonialista. Constituição Federal.
O direito civil brasileiro se inicia em 1824, A constituição traz as diretrizes do contrato,
com o advento da 1a constituição brasileira, da propriedade e da família renovando o
a imperial, que estabelecia que em um ano direito civil.

81
O Código Civil atual teve como idéia vinculo afetivo é mais um critério da
compatibilizar a legislação privada com a filiação.
Constituição Federal de 1988. Hoje os Dentro deste novo conteúdo do direito civil
grandes valores do código, segundo Miguel a tutela da pessoa se sobressai à tutela do
Reale na Exposição de Motivos, são: patrimônio.
- Socialidade: Código Civil se
preocupa com o impacto social da 2. Conceito de Direito Civil:
norma de cunho privado, deixando Direito civil é o ramo que estuda as
de se preocupar somente com o relações entre particulares.
ser individualmente considerado. É o ramo da vida do homem. A vida
Ex. Função social do contrato (art. humana é regulamentada pelo direito civil.
421) e da propriedade (art. 1228). É a vida humana projetada juridicamente.
- Eticidade: Ninguém deve participar A parte geral se divide entre pessoas, bens
de uma relação privada sem e fatos jurídicos. Não diz respeito ainda ao
preocupar com a ética. Ex. Boa fé direito civil e sim às relações privadas.
objetiva (art. 422) traz os deveres É por isto que a parte geral tem aplicação
anexos que não precisam ser universal, inclusive, nas relações de direito
escritos: lealdade, eticidade etc. público.
A parte especial são os ramos de atuação
- Operabilidade: Direito Civil tem da relação jurídica de direito privado:
que ser facilmente operado, ou
relações de circulação de riquezas (trânsito
seja, ser de fácil compreensão dos
jurídico: direitos obrigacionais); relações de
institutos. Ex. Diferença entre a
apropriação (titularidade: direitos reais) e
prescrição e a decadência
as relações afetivas (direito de família).
Em verdade, nós não podemos dizer que a
Na parte geral se estuda a própria pessoa
constituição e o novo código alteraram a
humana. Ao se estudarem os elementos da
estrutura e o conteúdo do direito civil.
relação jurídica, se estuda a própria pessoa
Podemos dizer que a constituição e o novo
humana.
código alteraram o conteúdo dos institutos
Miguel Reale dizia que o direito é fato, valor
do direito civil.
e norma. O direito como fato é o
O direito civil continua sendo o grande
acontecimento da relação humana; como
ramo das relações privadas, estabelecido
valor, o direito são os princípios.
em dois diferentes eixos: parte geral e
Todo o sistema está conectado em valores.
parte especial. Agora esta divisão de eixos
O direito civil vai modificar a sua estrutura
ganha uma re-estruturação de seus
valorativa, pois no Código Civil de 1916
institutos.
havia uma estrutura que respeitava os
No CC/16 o contrato fazia lei entre as
valores patrimonialistas e individualistas e
partes. Hoje este contrato tem que
hoje a Constituição Federal de 1988 trouxe
respeitar ideais garantistas cujos valores
uma nova visão para o direito civil.
são a função social do contrato
Não se pensa que hoje há dois diferentes
(preocupação externa: do contrato para a
âmbitos do direito civil. Existe apenas um
coletividade) e a boa fé objetiva (proteção
direito civil, compreendido a partir da
interna: entre os contratantes).
constituição.
Mudou-se a estrutura da propriedade, uma
O Código Civil não é o mais importante do
vez que esta hoje tem que cumprir uma
Direito Civil e suas normas devem ser lidas
função social.
segundo a Constituição Federal.
Hoje se tem inclusive a função social da
O art. 1276, parágrafo 2º do Código Civil,
posse, admitindo proteção pela
por exemplo, trata da perda da propriedade
jurisprudência.
pelo abandono:
A função social da propriedade é o
§ 2o Presumir-se-á de modo absoluto a
verdadeiro conteúdo da propriedade.
intenção a que se refere este artigo,
Significa dizer que a propriedade que
quando, cessados os atos de posse, deixar
não cumpre função social não merece
o proprietário de satisfazer os ônus fiscais.
proteção.
Aduz que se você é dono de um imóvel e
A família, por sua vez, também teve sua
paralisa os atos de posse e deixa de pagar
estrutura modificada. Antes só existia a
os tributos durante 3 anos daquele imóvel,
família através do casamento. Hoje pode se
presume-se o abandono de modo absoluto
ter família pela união estável, pela família
e o Poder Público arrecadará esta
monoparental.
propriedade.
Logo, hoje o parentesco não é tão somente
Este artigo é incompatível com a
biológico, podendo também ser afetivo. O
Constituição Federal. Apesar de ter como
objetivo o Princípio da Função Social da

82
Propriedade, mas fere o Princípio do Devido despersonalizado, estes entes podem
Processo Legal (art. 5º, LVI). titularizar relações.
A teoria da interpretação conforme expõe Finalmente, hoje, o que é personalidade
que quando houver um dispositivo jurídica? Ter personalidade jurídica é ter
infraconstitucional de duvidosa direitos da personalidade. É ter proteção
interpretação se aplica de acordo com a diferenciada, decorrente dos direitos da
Constituição Federal. Logo, se o Poder personalidade.
Público em sede administrativa, antes de Agora capacidade jurídica é a possibilidade
arrecadar o bem, garantisse o devido de titularizar relações jurídicas em geral.
processo legal resolveria o problema? Não, Sendo igual ao sujeitos de direitos
pois este dispositivo viola a patrimoniais.
proporcionalidade e o art. 150 que veda o E ter capacidade de fato é titularizar
confisco. pessoalmente as relações patrimoniais.
É muito mais razoável penhorar o bem de Com isto uma criança de 5 anos de idade
família por falta do pagamento de tributos, tem personalidade, tem capacidade de
uma vez que a lei que trata do bem de direito, mas não tem de fato. O condomínio,
família permite tal possibilidade. por sua vez, não tem personalidade jurídica,
mas tem capacidade de direito e de fato.
Personalidade Jurídica: Se uma nota de jornal deprecia a
1. Conceito: figura do condomínio, ele não pode ser
Sempre foi definida na doutrina civilista sujeito de dano moral, pois este não
brasileira como sendo a aptidão para possui personalidade. O dano moral será
exercer atos da vida civil. sofrido pelos condôminos.
Sendo assim a personalidade jurídica A personalidade deixa de ser a aptidão para
sempre foi vista como a possibilidade de ser ser sujeito de direitos, se aproximando dos
sujeito de direitos. direitos da personalidade.
Capacidade, por sua vez, sempre foi a E o nascituro neste panorama?
medida da personalidade. E a capacidade O art. 2º do Código Civil diz que a
se desdobra em: capacidade de direito ou personalidade se inicia com o nascimento
de gozo e capacidade de fato ou de com vida, mas a lei põe a salvo os direitos
exercício. do nascituro.
Capacidade de direito sempre foi a Ou seja, o nascituro tem personalidade
possibilidade de titularizar relações, sendo jurídica pois ele tem direitos da
sinônimo de personalidade jurídica. personalidade. Mas ele não poderá
Capacidade de fato sempre foi a titularizar relações patrimoniais, pois
possibilidade de praticar pessoalmente os estas estão condicionadas ao seu
atos da vida civil. nascimento com vida. Segundo essa
Se a pessoa possuísse as duas capacidades, concepção, o nascituro tem personalidade
ela teria capacidade plena. jurídica, mas não tem capacidade de direito
Temos que refletir algumas situações e nem capacidade de fato.
importantes acerca destes conceitos É a maior prova de que os conceitos de
clássicos. personalidade e capacidade são distintos.
Podem existir situações em que um As teorias das incapacidades incidem sobre
ente pode ser sujeito, mas não tem a capacidade do fato.
personalidade. Pontes de Miranda sempre A capacidade de direito e a personalidade
chamou atenção do condomínio que não são ilimitadas.
tem personalidade jurídica, mas pode ser
sujeito de direitos. Outros exemplos são a 2. Legitimação:
massa falida, a herança vacante e jacente. Cristiano prefere chamar legitimação de
Assim, os entes despersonalizados são capacidade específica. É requisito
sujeitos de direitos sem ter personalidade especifico exigido para a pratica de um ato
jurídica. Ou seja, a capacidade de direito especifico.
não se confunde com personalidade. Pode- Logo, só se fala em capacidade especifica
se ter capacidade de direito para aqueles que detém capacidade jurídica
independentemente de ter plena. Somente estes poderão tratar da
personalidade jurídica. legitimação.
Existem já precedentes jurisprudenciais que Ex. uma pessoa maior, capaz tem
se pode penhorar bem de família para personalidade jurídica, capacidade de
pagamento de dívidas de condomínio. direito e de fato, mas pode não ter
Havendo possibilidade de registro do imóvel legitimidade, por exemplo, não poderá
adjudicado em nome do condomínio. É a alienar um imóvel sem o consentimento de
prova definitiva de que apesar de ser ente seu cônjuge. É um exemplo de

83
anulabilidade se o negócio for realizado Agora aduzem que os direitos da
sem a outorga do cônjuge (fiança e aval personalidade o nascituro já possui.
também exigem o consentimento do Ora, a 1a teoria e a 3a dizem a mesma coisa.
cônjuge e este requisito não se aplica a Afirmam os direitos da personalidade ao
união estável, vez que esta só possui nascituro e condicionam os direitos
efeitos entre as partes e não em relação a patrimoniais ao nascimento com vida. A
terceiros). diferença é que a 1a teoria já está mais
Obs.: A jurisprudência diz que neste caso o ligada ao conceito moderno de
companheiro pode se valer de medidas personalidade vinculando-a ao direito da
cautelares e de embargos de terceiro personalidade.
para proteger a venda deste bem. É indubitável que o nascituro tem direitos
A falta de legitimação implicará ou nulidade da personalidade e que seus direitos
ou anulabilidade a depender do caso patrimoniais estão condicionado ao
concreto. Ou seja, a falta de legitimação nascimento com vida. Ou seja, o nascituro
sempre será sancionada pelo ordenamento. pode receber herança e doação? Sim,
mas a herança e a doação ficam
3. Início da Personalidade: condicionadas ao nascimento com
Art. 2º A personalidade civil da pessoa vida. Se nascer com vida o nascituro
começa do nascimento com vida; mas a lei adquire retroativamente.
põe a salvo, desde a concepção, os direitos Direitos da personalidade do nascituro
do nascituro. desde a concepção: imagem, honra, direito
Requisitos da personalidade: nascimento e ao reconhecimento do pai, direito a
vida. alimentos (vez que alimentos são a
Nascimento com vida se dá pela presença materialização da vida).
de ar nos pulmões que pode ser provada Cristiano concorda com a 1a teoria. Dizer
através de perícia, testemunha etc. que a pessoa tem direitos da personalidade
O natimorto não adquiriu personalidade é dizer que ela tem personalidade jurídica.
jurídica, pois não nasceu com vida em linha Numa prova de marcar afirmar que a
de princípio. teoria é condicionalista, pois esta é
Quais os direitos resguardados ao majoritária.
nascituro? Existem inúmeros dispositivos no O art. 2º está errado. Quando ele fala a
Código Civil que reconhecem direitos ao personalidade jurídica começa com o
nascituro. nascimento com vida ele quer dizer
A grande discussão é o questionamento da capacidade jurídica de direito.
natureza jurídica do nascituro. Natimorto pela redação do art. 2º não teria
Natureza jurídica significa posição direito algum. Todavia como a proteção
topológica, ou seja, é a inserção de uma dos direitos da personalidade começa com
determinada matéria em uma determinada a concepção, o nascituro detém direitos da
ciência jurídica. personalidade.
Para explicar a natureza jurídica do A jornada n.º 1 de Direito Civil afirmou que
nascituro têm-se três teorias: o natimorto tem direito à sepultura, ao
1a Teoria Personalista ou Concepcionista: É nome e a imagem.
defendida por Teixeira de Freitas. Aduz que Qual a diferença entre feto, embrião e
o nascituro desde a concepção tem nascituro? Para o direito não há diferença
personalidade jurídica, mas a capacidade só vez que a lei protege os direitos da
é adquirida com o nascimento com vida. personalidade desde a concepção. Para a
Se nascer com vida adquire direitos ciência, embrião é até 3 meses, feto até 6
patrimoniais retroativamente. meses e em seguida nascituro.
2a Teoria Natalista ou Negativista: É O ordenamento jurídico diz que o embrião
defendida por Silvio Rodrigues. Aduz que o in vitro não tem a proteção do
nascituro não tem personalidade nem nascituro. Tem uma proteção
capacidade. Diz que todos os direitos do diferenciada pela lei de biossegurança.
nascituro estão condicionados ao A lei de biossegurança n.º 11.105/05 diz
nascimento com vida. que o destino do embrião laboratorial é a
3a Teoria Condicionalista: É a majoritária na pesquisa de células de tronco.
doutrina brasileira, a exemplo de Maria Concepturo é aquele não concebido ainda,
Helena Diniz, Washington de Barros mas que já está previsto em alguma
Monteiro, Caio Mario. Aduz que o nascituro relação jurídica. No direito sucessório
tem personalidade condicionada, admite-se o concepturo ao dispor que a
podendo receber direitos patrimoniais, herança pode ser destinada para o filho que
mas não ainda titularizá-los. Para alguém vai ter. O art. 1800, parágrafo 4º
tanto é preciso que nasça com vida. estabelece o prazo de 2 anos contados da

84
data da abertura da sucessão para o A dignidade da pessoa humana modela os
concepturo ser concebido, passando a ser direitos da personalidade, servindo como
nascituro, sob pena de decadência. cláusula geral de proteção, no Brasil, em
É o único caso de tutela jurídica do sede constitucional.
concepturo. O que é dignidade humana? É um conceito
O direito a herança pode ser deferido ao aberto a ser construído concretamente. Não
concepturo e ao nascituro. Em ambos casos há uma idéia previa sobre este conceito.
estão condicionados ao nascimento com A dignidade dependerá das circunstâncias
vida. de cada caso.
O embrião laboratorial pode ser objeto Dignidade não é um conceito juridicamente
de herança, uma vez que pode ser criado, não é dado. É um conceito
tratado como concepturo. construído a cada caso.
A pessoa pode em vez de conceber Existe pelo menos um conteúdo mínimo,
adotar? Em face do princípio quais sejam as condições de igualdade e
constitucional da igualdade dos filhos liberdade, integridade física e psíquica, e
não há problemas. Mas se o testador reconhecimento do mínimo existencial.
expressamente diz que tem que ser A dignidade da pessoa humana envolve
biológico não valerá a adoção, pois o que simultaneamente a proteção da integridade
vale é a vontade do testador. física e psíquica. Significa garantir o mínimo
de proteção quanto ao aspecto corporal e
Aula 02 quanto ao psicológico.
Data: 29/08/07 A lei 11346/06 reconhece pela 1ª vez no
Direitos da Personalidade: sistema o direito à alimentação adequada.
1. Conceito: Ou seja, além do direito aos alimentos,
Constituem uma gama de direitos estes devem ser adequados.
relevantes que são reconhecidos aos O STF no Habeas Corpus 71373-4 do RS fala
titulares de personalidade. São direitos que a proteção da dignidade da pessoa
essenciais, elementares, inderrogáveis e humana reconhece que ninguém pode
fundamentais. ser constrangido contra a sua vontade
O rol dos direitos da personalidade é a se submeter a exame pericial. A
exemplificativo. Se os direitos da dignidade protegida pela Constituição
personalidade compõem um rol Federal abrange a integridade física.
fundamental de direitos, é claro que é Este entendimento já implicou a posição do
impossível que o legislador esgote-os. STJ que fez uma ponderação presumindo a
Os direitos que não foram expressamente prova que se pretendia produzir pela recusa
previstos serão admitidos no ordenamento em se submeter à perícia (súmula 301 do
em virtude da cláusula geral de proteção da STJ).
personalidade. Ou seja, em face de um rol A garantia de liberdade e igualdade integra
exemplificativo há uma cláusula geral que também o conteúdo da dignidade.
sustenta os demais direitos da É uma proteção a igualdade substancial, ou
personalidade. Esta cláusula é a dignidade seja, todos são iguais perante a lei,
da pessoa humana. respeitando as suas diferenças.
Cláusula geral significa um substrato Esta dimensão da liberdade e igualdade é
elementar para proteção dos direitos não utilizada, inclusive, para o reconhecimento
previstos em lei. das uniões homossexuais.
A dignidade da pessoa humana é um O reconhecimento do mínimo especial
fundamento previsto no art. 1º da significa direito ao patrimônio mínimo. O
Constituição Federal. Estado irá proteger o mínimo do patrimônio
Em quase todos os ordenamentos livremente adquirido
democráticos a cláusula geral da dignidade Ter dignidade é ter o mínimo de patrimônio
está na Constituição Federal. para suprir necessidades existenciais e ter
Não tem como o ordenamento sustentar os uma vida digna.
direitos da personalidade num rol taxativo Exemplos:
por uma impossibilidade fática do - Art. 548 do CC que diz que ninguém pode
legislador. dispor de um volume tal de patrimônio que
O conceito de direitos da personalidade é comprometa a sua própria subsistência;
um conceito plástico, a ser construído no - Bem de família, protegendo, inclusive, a
caso concreto. família monoparental e o imóvel único do
Por exemplo no futuro pode se discutir se o devedor que não mora nele (embora a lei
acesso a internet é um direito da do bem de família proteja o imóvel em que
personalidade. o devedor reside, este imóvel continua

85
sendo protegido por continuar sendo o que direitos subjetivos: são direitos
patrimônio mínimo); existenciais.
- Lei 11382/06 modifica os arts. 649 e 650
do CPC trazendo os bens absolutamente 2. Direitos da Personalidade e
impenhoráveis e os relativamente Liberdades Públicas:
impenhoráveis, e os bens móveis que Direitos da personalidade são
guarnecem o imóvel necessários para cobrir compreendidos pela ótica privada, do
um padrão médio de vida digna não serão direito titularizado por alguém.
penhorados. Este dispositivo impõe que no As liberdades públicas são obrigações
caso de um bem de alto valor (por exemplo, positivas ou negativas impostas ao Poder
uma TV de plasma), que ele seja vendido e Público para atender os direitos da
comprado um de valor menor, protegendo o personalidade.
mínimo existencial do devedor e do credor. Alguns direitos da personalidade para
Obs.: O Presidente vetou a aplicação deste serem exercitados precisarão de uma
novo conceito de padrão médio de vida obrigação positiva ou negativa do Estado.
digna para bens imóveis. Por exemplo, o direito de locomoção é
O conceito de dignidade não é absoluto. um direito da personalidade, e o
Nenhum valor jurídico tem compreensão Habeas Corpus é uma liberdade
absoluta. pública.
Todos têm direito a uma vida digna. E o Os direitos da personalidade por
direito a vida digna pode se confrontar com sustentação constitucional mitigam o
a vida digna de outrem. Mitiga-se então a princípio da supremacia do interesse
dignidade humana. público sobre o privado, pois lastreiam
Esta colisão é resolvida pela técnica da as liberdades públicas, que têm
ponderação de interesses. exatamente esse conteúdo.
Os direitos fundamentais são o lastro básico
para os direitos da personalidade. Só se 3. Fontes:
justifica a proteção dos direitos da É a colisão entre duas teses: Jusnaturalista
personalidade pela proteção da dignidade. X Neopositivista.
No Habeas Corpus 82424-2 houve uma A maioria da doutrina brasileira entende
discussão no STF sobre um livro que os direitos da personalidade são inatos,
extremamente racista. E o autor defendeu ou seja, decorrem naturalmente da simples
que sua liberdade de expressão integra o condição humana. Decorrem de uma ordem
conceito de dignidade da pessoa humana. jurídica pré-concebida. Significa que a
O STF o condenou, dizendo que o autor maioria da doutrina é jusnaturalista.
não podia se escusar na sua dignidade Neste sentido estão Maria Helena Diniz e
para violar as dignidades de outras Silvio Rodrigues.
pessoas. É a técnica da ponderação de Todavia, uma parcela minoritária (Gustavo
interesses, resolvendo o caso concreto. Tepedino, Pontes de Miranda) sustenta que
No caso concreto admite-se a flexibilização os direitos da personalidade decorrem de
do conceito da dignidade para resolver um princípios acolhidos pela ordem jurídica.
conflito envolvendo também a dignidade. Defendem que os direitos da personalidade
Por conta da dignidade da pessoa humana não podem ser inatos, pois se assim fossem
as dúvidas sobre a aplicação dos direitos eles deveriam ser universais, o que não
fundamentais às relações privadas foram ocorre, por exemplo, em alguns paises se
dissipadas. admite pena de morte. Defendem que os
Antes se entendia que as relações privadas direitos da personalidade são uma opção
eram resolvidas pelo princípio da ideológica do sistema, não sendo inatos e
autonomia da vontade. sim adquiridos.
Mas a partir do conceito de dignidade O reconhecimento dos direitos da
conclui-se que os direitos fundamentais personalidade é um avanço cultural que
incidem nas relações privadas. O STF já implica reconhecer determinadas garantias
julgou a tese no RE 201.819/RJ. aos titulares.
Obs.: PGR: ler livro de Daniel Sarmento. Cristiano entende com os Neopositivistas.
A dignidade humana no âmbito do estado
limita o princípio da supremacia do 4. Características (art. 11 do CC):
interesse público e no âmbito das relações Art. 11. Com exceção dos casos previstos
privadas condiciona a sua validade. em lei, os direitos da personalidade são
Já se diz que no momento que os direitos da intransmissíveis e irrenunciáveis, não
personalidade se atrelam a um valor podendo o seu exercício sofrer
constitucional eles passam a ser mais do limitação voluntária.

86
4.1 Intransmissíveis e prevista neste artigo o cônjuge
irrenunciáveis: sobrevivente, ou qualquer parente em linha
São espécies do gênero Indisponibilidade. reta, ou colateral até o quarto grau.
Uma indisponibilidade relativa, vez que o Tradicionalmente no CC passado tínhamos
exercício dos direitos da personalidade uma estrutura jurídica voltada para a lesão-
admite restrição voluntária nos casos sanção. A cada lesão havia uma
previstos em lei e por vontade do titular correspondente sanção.
(por exemplo, cessão de imagem quando a Este esquema tradicional implicava uma
própria lei quiser). solução pela qual o sistema entendia que a
A frase mais correta é “os direitos da toda violação sempre correspondia uma
personalidade são relativamente sanção. Ai estava a clássica regra de que a
indisponíveis.” todo direito havia uma ação.
O enunciado n.º 4 das Jornadas de Direito A inteligência processual e os novos
Civil expõe que o ato de restrição aos sistemas protetivos inauguravam uma nova
direitos da personalidade é limitado, não ordem jurídica cujos referenciais foram o
podendo ser permanente, nem genérico, art. 84 do CDC e o art. 461 do CPC. Trouxe
nem violar a dignidade do titular. a concepção de que punir o agente é
garantir o interesse da vitima, implantando
As características não previstas no art. 11: uma tutela preventiva.
4.2 Absolutos: Antes de reparar, previne-se.
Significa que são oponíveis erga omnes. O CC no art. 12 consagra a tutela
preventiva (através da tutela especifica)
e/ou reparatória (através de indenização
4.3 Extrapatrimoniais:
por danos morais) dos direitos da
O conteúdo dos direitos da personalidade personalidade.
não é economicamente apreciável. Porém,
a sua eventual violação implica 5.1 Tutela Especifica:
responsabilidade pecuniária. É a tutela mais adequada para cada caso
concreto. É a obtenção de uma prestação
4.4 Imprescritíveis: jurisdicional adequada para cada caso
Não há prazo extintivo para reclamar a concreto.
proteção aos direitos da personalidade. O art. 461 do CPC consagra uma série
Todavia, há prazo para reclamar a infinita de possibilidades de prestação
reparação pecuniária devida que é de 3 jurisdicional. E nesta serie o juiz encontrará
anos (art. 206 do CC). a solução especifica para o caso especifico.
São inusucapíveis no sentido de que não O rol destas medidas do art. 461 é
admitem prescrição aquisitiva nem exemplificativo.
extintiva. O juiz pode aplicar ex ofício toda e qualquer
4.5 Inatos (para maioria da doutrina): medida. Um exemplo é a Astreinte, que é
4.6 Vitalícios: uma multa que não possui natureza penal,
Direito da personalidade se extingue com a ou seja, não é acessória e sim inibitória,
morte de seu titular. podendo até ultrapassar a obrigação
O art. 943 do CC diz: principal.
Art. 943. O direito de exigir reparação e a Outros exemplos: tutela substitutiva que
obrigação de prestá-la transmitem-se com a expõe que o juiz pode substituir a vontade
herança. do devedor no caso de um contrato de
Este dispositivo diz que o direito de promessa de compra e venda; tutela de
reclamar a indenização e a obrigação de remoção de ilicitude quando a própria
reparar um dano transmitem-se com a tutela já implica a suspensão do ilícito.
herança, nos limites de suas forças. Não Obs.: Mandado de distanciamento
implica que os direitos da personalidade consiste, através de tutela especifica, em o
são transmissíveis, mas tão somente a juiz determinar um distanciamento mínimo
reparação patrimonial. entre o lesado e o autor da lesão ou
possível lesão. Isso é possível.
5. Tutela Jurídica: Há limite para o juiz na concessão da tutela
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça específica? O juiz pode adotar qualquer
(tutela preventiva), ou a lesão, a direito da providencia para obtenção do resultado
personalidade, e reclamar perdas e danos equivalente (art. 461), mas este poder está
(reparatórias), sem prejuízo de outras limitado à dignidade. Não pode, para
sanções previstas em lei. proteger a dignidade de o autor, violar a
Parágrafo único. Em se tratando de morto, dignidade do réu.
terá legitimação para requerer a medida

87
Admite-se prisão civil como tutela São cumuláveis as indenizações por dano
especifica? material e dano moral oriundos do
1ª posição. Fredie entende que é possível, mesmo fato.
dizendo que a Constituição Federal trata da Ou seja, são cumuláveis as indenizações
prisão civil em razão de dívida civil, e no por dano moral e material e são
caso da tutela específica seria uma prisão cumuláveis as indenizações referentes
por descumprimento de obrigação civil. a diferentes danos morais.
2ª posição: entende que a Constituição Exemplos de danos morais:
Federal limitou as hipóteses de prisão civil, - Dano a integridade física: dano estético;
ela utiliza o dispositivo para tratar de - Dano a imagem: dano a imagem;
obrigação civil. [É a posição mais - Dano a honra: dano moral.
tradicional. Segundo Cristiano, essa seria a [Note-se que dano moral tanto é gênero
posição de Marinoni. De acordo com Fredie, quanto é espécie. Como gênero, ele
entretanto, a posição de Marinoni e de abrange o dano estético (aspecto
Pontes de Miranda é no sentido de permitir meramente físico), o dano à imagem
a prisão civil, conforme a primeira (aspecto social), o dano moral-espécie
corrente]. (dano à honra) e tantos outros]. O problema
Obs.: O STF vem entendendo que a é que no Brasil se chama dano moral o
prisão civil do fiel depositário não é gênero e a espécie. Melhor seria chamar o
compatível com o ordenamento em dano moral (gênero) de dano
face da Convenção Interamericana de extrapatrimonial.
Direitos Humanos - Pacto São José de Significa que o dano moral é cumulável. Por
Costa Rica. Já são dois acórdãos. exemplo, pode ser cumulado dano
O crime de desobediência (descumprir moral (espécie) com dano estético.
ordem judicial) é de menor potencial Admite-se o dano moral contratual
ofensivo, não ensejando prisão. E se o quando o inadimplemento violar a
Direito penal não quer prender, por que o dignidade do contratante. Por exemplo,
direito civil quer prender? Razão pela qual, suspensão indevida da energia elétrica,
para Cristiano, por uma interpretação contratação de bufet para formatura e a
sistemática, não cabe prisão civil como empresa não aparece.
tutela específica.
Ambas as concepções são claras em 6. Dano Moral Coletivo:
reconhecer que a tutela especifica é Permitir dano moral coletivo significa que
limitada pela dignidade humana. existem direitos da personalidade coletivos.
Está previsto no art. 1º da lei 7347/85 e no
5.2 Tutela Reparatória: art. 6º, VI do CDC.
É denominada de dano moral. Exemplo: dano ao meio ambiente,
Dano moral não é o sentimento negativo. improbidade administrativa, pichar
Este sentimento não é a causa e sim a sua prédios tombados de uma cidade
conseqüência. turística.
Dano moral é a efetiva violação aos direitos O STJ só tem um julgado e neste ele
da personalidade. Logo se os direitos da negou o dano moral coletivo, que não
personalidade são exemplificativos, os foi por unanimidade. Mas a lei o
danos morais também o são. permite.
O quantum reparatório, esse sim, pode ter Dano moral coletivo é diferente de dano
como relevantes as circunstancias moral individual homogêneo. O dano moral
negativas produzidas no sujeito. coletivo é o dano coletivo ou difuso e o
O simples fato de indevidamente estar com dano moral individual homogêneo é o dano
o nome no SPC implica dano moral e a causado a varias pessoas que se encontram
conseqüência negativa do dano influi na mesma situação (é um dano individual).
na quantificação, mas não na sua O dano moral coletivo reverte-se a um
caracterização. O STJ no RESP 506.437/SP fundo coletivo previsto no art. 13 da lei de
dispôs neste sentido. ACP e o individual homogêneo é
O aborrecimento por si só não gera dano revertido para as próprias vítimas.
moral, pois o mero aborrecimento não Hoje se admite a cobrança de dano
implica violação a direito da personalidade. moral individual homogêneo por meio
Para o STJ o dano moral não tem de ação coletiva. O CDC permitiu isto.
caráter punitivo e sim reparatório.
Professor concorda com Caio Mário dizendo Aula 03
que deveria ter caráter punitivo para servir Data: 05/09/07
como desestimulo.
A súmula 37 do STJ diz:

88
7. Tutela dos Direitos da O dispositivo expressa que os direitos da
Personalidade da Pessoa Morta: personalidade nasceram para tutelar a
Art. 12, Parágrafo único do CC. Em se pessoa natural em sua essência, mas
tratando de morto, terá legitimação para também são reconhecidos as pessoas
requerer a medida prevista neste artigo o jurídicas, no que couber.
cônjuge sobrevivente (ou companheiro), ou Os direitos da personalidade possuem um
qualquer parente em linha reta, ou colateral atributo de elasticidade, ou seja, embora
até o quarto grau. nascidos para proteger as pessoas
Este dispositivo também se aplica ao humanas, atingem a pessoa jurídica naquilo
ausente. que a falta de estrutura biopsicológica o
A pessoa morta não tem direitos da possa exercer.
personalidade, uma vez que a morte A pessoa jurídica pode sofrer dano moral
extingue a personalidade. (súmula 227 do STJ).
Existe uma tutela jurídica dos direitos da A diferença na prática entre dano moral da
personalidade da pessoa morta, tutela esta pessoa jurídica e lucro cessante é muito
reconhecida ao seu cônjuge/companheiro e tênue, pois a estrutura da empresa, ao
os demais parentes até 4º grau vivos. contrário da pessoa humana, é patrimonial.
Dentre os direitos da personalidade das O juiz deve estar atento a isto para evitar o
pessoas vivas está o direito de zelar pelos bis in idem.
valores personalíssimos dos seus parentes Alguns autores com base neste argumento
mortos. dizem que a pessoa jurídica não pode sofrer
Este artigo trata de uma legitimação dano moral, alegando também que estando
ordinária para o processo e não uma os direitos da personalidade baseados na
substituição processual, vez que o cláusula geral da dignidade da pessoa
parente protege em juízo um direito humana, não se aplicaria então a pessoa
próprio. Os parentes estão defendendo jurídica.
os seus próprios direitos da Neste sentido foi editado o enunciado 286
personalidade, e não os do de cujus. da Jornada de direito civil dizendo que os
Os lesados indiretos são o direitos da personalidade são essenciais a
cônjuge/companheiro e os parentes vivos pessoa humana decorrendo da dignidade,
que são atingidos por via obliqua. não sendo as pessoas jurídicas detentoras
Como todos os parentes estão defendendo de tais direitos.
direitos próprios, a este artigo não se Síntese: prova de marcar: pessoa jurídica
aplica a limitação da ordem de vocação tem direitos da personalidade. Em prova
hereditária (1º cônjuge e descendentes; discursiva discorrer conforme exposto
2º ascendentes e 3º os colaterais). Todos os acima.
parentes, então, possuem legitimação
concorrente. 9. Classificação:
Se a lesão ocorrer antes da morte, pode-se Os direitos da personalidade são
invocar este dispositivo, mas apenas em classificados de acordo com as nuances da
situações excepcionais. A proteção da pessoa humana: integridade física;
personalidade é personalíssima. Podem integridade psíquica e integridade
ocorrer as seguintes hipóteses: intelectual.
- Se o próprio lesado ajuíza a ação, ocorrerá A proteção da integridade física se
a sucessão processual e os parentes se materializa na tutela jurídica do corpo
habilitarão no processo; humano. A da integridade psíquica se dá
- Se ele tiver sido lesado quando era vivo e pela proteção aos valores subjetivos
só se descobrir a lesão após o seu óbito, (imagem, honra). Por fim a integridade
fica reconhecida a legitimidade dos lesados intelectual decorre da inteligência, por
indiretos. exemplo, o direito autoral.
- Se ele teve ciência e não promoveu a Orlando Gomes dentre outros fazem uma
ação, Cristiano entende que houve uma classificação binária: física e psíquica.
renúncia tácita, e não haverá legitimação Todavia, a evolução da sociedade impõe
dos lesados indiretos. esta classificação trinaria.
A integridade intelectual protege valores
8. Direitos da Personalidade e Pessoa distintos da psíquica.
Jurídica: Em cada um destes âmbitos está um rol
Pessoa jurídica tem direitos da exemplificativo e cada um está protegido
personalidade por força do art. 52 do CC: autonomamente.
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no Deste modo uma lesão ao corpo humano,
que couber, a proteção dos direitos da ainda que não implique lesão permanente
personalidade. (violação à integridade física), implica uma

89
indenização por dano moral (violação aos É possível ceder direito autoral na parte do
aspectos psicológicos do indivíduo). exercício (na parte patrimonial). A parte
9.1 Âmbito Intelectual: personalíssima não admite cessão nem em
São valores decorrentes da produção vida nem em morte.
intelectual da pessoa humana. É tudo aquilo Mesmo depois da morte do autor a
que a pessoa possa produzir. titularidade da criação é garantida, apenas
Direito autoral é um direito eclético, que a parte patrimonial será transmitida aos
traz ao mesmo tempo uma porção herdeiros.
personalíssima no que tange ao invento, a A cessão da parte patrimonial é
criação e uma parte patrimonial no que presumidamente onerosa (gratuidade tem
tange ao exercício. de ser expressa) e tem prazo máximo de
O exercício é um direito real de propriedade 5 anos. Nestes 5 anos admite-se rescisão
de direito autoral. contratual.
A lei 9610/98 fala que o direito da A transmissão da parte patrimonial por
personalidade referente ao direito autoral morte se dá pelo prazo de 70 anos,
refere-se apenas a uma parte. computados de 1º de janeiro do ano
São aspectos morais, ou seja, inerente a subseqüente a morte do autor. Findo este
personalidade, o direito a autoria da obra, o período a criação cairá em domínio público
direito ao ineditismo, o direito ao exemplar quando qualquer pessoa poderá explorá-la
raro ou único. sem pagar nada.
Por outro lado, pertence ao direito Se a obra é em co-autoria o prazo começa a
patrimonial a cessão, a exploração e o fluir de 1º de janeiro ao ano subseqüente a
direito a impedir o uso indevido por morte do ultimo autor.
terceiros. A lei prevê o pagamento de uma taxa pela
Apesar de possuir um aspecto patrimonial o execução pública de todo e qualquer direito
direito autoral não pode ser enquadrado autoral. A execução pública pode se dar a
como uma típica propriedade, por ser título oneroso ou gratuito.
simultaneamente um direito da Esta taxa é arrecadada por uma pessoa
personalidade. Por isto não se admite o jurídica de direito privado criada pela lei,
uso de ação possessória para a chamada ECADE (Escritório Central de
proteção do direito autoral. Arrecadação e Distribuição de Direitos
A defesa do direito autoral se dá pela Autorais).
tutela específica e ação indenizatória. Casamento, formatura, por exemplo,
É o que diz a súmula 228 do STJ: É incidirá esta taxa cobrada pelo ECADE que
inadmissível o interdito proibitório cobra por estimativa.
para a proteção do direito autoral. Muitos estabelecimentos retransmitem
Não se admite posse do direito autoral, logo rádio sem fazer prévia seleção de músicas
não se admite a usucapião do direito (motel, hotel, por exemplo), a súmula 63 do
autoral. STJ diz que estes estabelecimentos
Obs.: Exceção: a linha telefônica é a também deverão pagar esta taxa.
única exceção de usucapião de bem Súmula: 63
incorpóreo: súmula: 193 “O direito de uso São devidos direitos autorais pela
de linha telefônica pode ser adquirido por retransmissão radiofônica de musicas em
usucapião.” estabelecimentos comerciais.
Chegou-se a se dizer no Brasil que o direito O único estabelecimento que reproduz
autoral traria consigo uma presunção sem pagar a taxa são as lojas que
absoluta de propriedade decorrente do vendem CDs, por exemplo. A própria
registro. lei os exclui.
A lei 9610/98 afirmou, todavia, que esta Em Campina Grande da Paraíba, o ECADE
presunção é relativa. A propriedade é cobrou a taxa pela exposição em via
daquele que publicizou primeiro. pública do forró por 30 dias, e a prefeitura
A imagem da pessoa pode ser utilizada alegou em juízo que não deveria pagar,
como direito autoral. É o que se chama de tendo em vista que o objetivo da exposição
direito de arena que tem prazo máximo é de divulgação da festa. Então, o STJ
de 5 anos, renováveis. No RESP 46420 o decidiu que basta haver execução
STJ confirmou a proteção do direito de pública, independentemente de ser
arena pela lei de direito autoral. onerosa ou gratuita, para que se
Obs.: Hoje os contratos com jogadores de pague a taxa ao ECADE.
futebol já estabelecem também o direito de
arena, podendo então futuramente ser 9.2 Âmbito Psíquico:
discutido se esse direito é ou não Aqui se protege tudo aquilo que decorre
trabalhista. dos aspectos subjetivos. São os valores

90
imateriais do titular. Estes valores Quando alguém permite o uso de sua
imateriais podem ser exemplificados pela imagem este ato de disposição pode ser
honra, imagem, privacidade e nome. expresso ou tácito. Um exemplo de ato
a) Honra: tácito é o flagra no BANDFOLIA durante o
É a boa fama. É o conceito social que o carnaval.
titular tem perante a sua comunidade. É o Esta divisão da imagem decorre de previsão
valor que a pessoa possui perante os seus constitucional, pois o art. 5º, V e X, garante
semelhantes e perante si mesma. a proteção da imagem-retrato e da
A honra se desdobra em objetiva e imagem-atributo.
subjetiva. A objetiva é o que os outros Se uma mesma conduta violar a
pensam de você e a subjetiva é o que você imagem-retrato e a atributo, a
mesmo pensa de si. indenização será uma só, uma vez que
A honra objetiva traz o conceito público. violou apenas um bem jurídico (a
A violação da honra implica dano moral. imagem).
Não interessa a repercussão patrimonial (é O art. 20 do CC confunde honra e imagem.
direito autônomo, extrapatrimonial), vez Todavia, ressalva-se que são proteções
que a tutela da honra é personalíssima. autônomas.
Com a incidência da súmula 37 do STJ pode O respectivo parágrafo único também é
haver a cumulação com o dano material. desnecessário, vez que o art. 12 é genérico.
A honra não é absoluta, logo pode ser É um caso patológico em que o artigo
relativizada. Por exemplo, havendo específico é mais restritivo do que a norma
interesse público a honra pode ser geral.
afastada. O enunciado nº. 5 da Jornada de direito civil
Admite-se aqui a exceção da verdade. Não confirma a aplicação do art. 12 na proteção
haverá lesão a honra se provada a do direito a imagem.
veracidade do fato alegado, harmonizando- Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se
se a tutela civil com a penal. necessárias à administração da justiça ou à
manutenção da ordem pública, a
b) Imagem: divulgação de escritos, a transmissão da
É o direito a identificação da personalidade palavra, ou a publicação, a exposição ou a
de alguém. utilização da imagem de uma pessoa
A idéia da imagem é da projeção da poderão ser proibidas, a seu requerimento
personalidade. e sem prejuízo da indenização que couber,
Uma pessoa pode ser identificada de se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a
diferentes modos, além das características respeitabilidade, ou se se destinarem a fins
físicas. Podendo então a imagem ser comerciais.
desdobrada em imagem-retrato; imagem- Parágrafo único. Em se tratando de morto
atributo e imagem-voz. ou de ausente, são partes legítimas para
Imagem-retrato é aquilo que serve para requerer essa proteção o cônjuge, os
identificar alguém pelas características ascendentes ou os descendentes. [Aqui,
fisionômicas. É o pôster da pessoa, a forma como o direito à honra e o direito à imagem
de identificação pela fisionomia. É alguém são direitos da personalidade, aplica-se a
que tem um nariz enorme. regra geral do art. 12, e os colaterais até o
Imagem atributo é a identificação de 4º grau também podem ajuizar a ação,
alguém pelos seus valores, por suas apesar da não-previsão expressa neste
características subjetivas. É um aspecto parágrafo único].
valorativo. É muito mais comum para a [Diferença entre direito à honra e direito à
pessoa jurídica. É o exemplo de um imagem: no caso do direito à honra, não
determinado produto que serve para importa o que tenha sido divulgado: basta
caracterização da empresa. que haja violação ao conceito social sobre o
Imagem voz é a identificação pelo timbre indivíduo (honra objetiva) ou ao conceito do
sonoro. É o exemplo de Lombardi. indivíduo sobre si próprio (honra subjetiva).
A imagem, como já foi dito, pode ser Já no caso do direito à imagem, não importa
utilizada como direito autoral. É o típico a repercussão sobre o conceito do
exemplo do direito de arena. indivíduo: basta que tenha sido divulgado,
Há uma possibilidade de relativização dos sem autorização expressa ou tácita, um
direitos da imagem, sendo esta elemento identificador de sua
relativização acentuada nas pessoas personalidade (imagem-retrato, imagem-
públicas. atributo ou imagem-voz). Assim, pode
Por exemplo, pessoas que participam de haver violação simultânea à honra e à
eventos públicos; pessoas que ficam ao imagem, bem como pode haver violação da
lado de pessoas públicas. imagem sem afetar a honra, ou ainda

91
violação à honra por meios outros que não Segundo o art. 16 do Código Civil o nome é
a divulgação desautorizada da imagem]. composto do prenome e do sobrenome:
“Toda pessoa tem direito ao nome, nele
c) Privacidade: compreendidos o prenome e o sobrenome.”
Também é chamada de direito a vida O prenome indica a pessoa e o sobrenome
privada. É o resguardo das informações indica a origem familiar (nome
personalíssimas. Refere-se à proteção das patronímico).
informações que dizem respeito ao titular e O prenome pode ser simples ou composto e
a mais ninguém. o sobrenome indicará a origem ancestral
É um direito ao aspecto recôndito do ser. paterna e materna independente de ordem.
Desdobra-se em intimidade e segredo. O prenome é de livre escolha dos pais, e a
A intimidade são aqueles aspectos que lei apenas os obriga a usar prenomes
dizem respeito a ele e a mais ninguém, e duplos-diferenciados para os filhos gêmeos.
ele compartilha com quem ele quiser, Não gostando do prenome a pessoa
apenas se quiser. O segredo é aquilo que é tem direito à mudança ao atingir a
dele, mas eventualmente o interesse maioridade independentemente de
público pode obrigá-lo a compartilhar. motivo com o prazo decadencial de 1
Os dados telefônicos, por exemplo, fazem ano (iniciado da maioridade).
parte do segredo, pois podem envolver o A possibilidade de mudança imotivada do
interesse público. prenome é prova que o nome é direito da
A teoria dos círculos concêntricos é a personalidade.
compreensão dos direitos da personalidade O prenome e o sobrenome podem ter o
relativos à privacidade numa maior ou registro recusado pelo oficial quando
menor intensidade. É a intensidade da entender que o nome expõe o titular ao
proteção a informação. A partir desta teoria ridículo ou ofende a ordem constitucional
existe aquilo que é mais personalíssimo, brasileira. Neste caso surge o
incluindo aí a intimidade. Um pouco mais procedimento de dúvida, pelo qual o
para fora da intimidade vem o segredo e próprio oficial vai a juízo de registros
mais para fora está a privacidade ou vida públicos requerer que se dirima a dúvida, e
privada. então poderá ser compelido a lavrar o
A intimidade, portanto, é aquilo que se tem registro, se o juiz não entender que o nome
de mais personalíssimo. exporá o indivíduo a constrangimento.
A simples violação da privacidade A lei fala que o oficial é que deverá suscitar
enseja reparação de dano, mesmo que a dúvida, no entanto, não o fazendo,
não haja repercussão na honra. No permite-se que o próprio interessado o faça,
RESP 506.437 o STJ dispôs neste sentido. sendo chamada de dúvida inversa.
[São esferas de proteção autônomas, da O Ministério Público intervirá neste
mesma forma que a honra e a imagem. procedimento como custos legis.
Podem ocorrer simultaneamente, mas Da decisão que dirime a dúvida cabe
também podem ocorrer isoladamente, e Apelação, podendo requerer o interessado,
ainda assim ensejarão indenização]. o 3º interessado e o Ministério Público.
A violação indevida da privacidade O oficial do cartório não tem interesse
independe da veracidade do fato. No recursal.
RESP 58.101, o STJ confirmou que é Sendo um direito da personalidade o
irrelevante a veracidade do fato. Ainda sobrenome pode ser alterado para serem
que o fato seja verdadeiro gera acrescidos sobrenomes de ancestrais.
responsabilização. Também pode ser componente do nome o
Em síntese, honra, imagem e privacidade agnome que é partícula diferenciadora de
não se confundem e têm proteções pessoas que pertencem a uma mesma
autônomas e independentes. família e possuem um mesmo nome, por
exemplo Jr, sobrinho etc.
Não são componentes do nome títulos de
Aula 04 nobreza (por exemplo Duque), o
Data: pseudônimo ou heterônimo.
O pseudônimo apesar de não ser elemento
d) Nome: componente do nome, conforme expõe o
Nome é a identificação pessoal e no direito art. 19, gozará da mesma proteção do
brasileiro é direito da personalidade. nome:
Hoje estão superadas as dúvidas e entende- Art. 19. O pseudônimo adotado para
se que o nome não é direito da propriedade atividades lícitas goza da proteção que se
e sim da personalidade. dá ao nome.

92
Pseudônimo é o nome utilizado III - dano grave reconhecido na decisão
exclusivamente para fins profissionais judicial.
lícitos. § 1o O cônjuge inocente na ação de
Pseudônimo é diferente de alcunha notória separação judicial poderá renunciar, a
ou apelido notório (hipocorístico). Este é o qualquer momento, ao direito de usar o
nome pelo qual alguém é conhecido sobrenome do outro.
pessoalmente e profissionalmente, por § 2o Nos demais casos caberá a opção pela
exemplo XUXA. conservação do nome de casado.
O hipocorístico pode ser acrescido ao Os requisitos são: pedido expresso do
nome ou pode substitui-lo por força de interessado; não causar prejuízo a
decisão judicial. identificação do cônjuge; não causar
O pseudônimo, também conhecido prejuízo a identificação dos filhos; e
como cognome, jamais será acrescido demonstração da culpa grave (logo como só
sendo tão somente protegido. na separação se discute culpa, a ação
O nosso sistema acolheu o princípio da proposta pelo interessado será a de
inalterabilidade relativa, podendo o titular separação). [No caso de divórcio, não se
alterar o nome nos casos previstos em lei discute culpa, então será impossível obrigar
ou por decisão judicial. Ou seja, as o cônjuge a deixar de usar o nome do
hipóteses previstas em lei não são outro].
taxativas (art. 58 da lei de registros O STJ já ratificou este entendimento no
públicos). Recurso Especial 358.598/PR expondo a
A viúva, por exemplo, de acordo com a cumulatividade destes requisitos.
jurisprudência, pode retirar o nome do O ECA também permite a alteração do
cônjuge falecido. prenome e do sobrenome pela adoção
O sobrenome do padrasto também no art. 47, parágrafo 5º e o 1627 do Código
pode ser acrescido. O STJ já é pacifico. Civil.
Regra geral a alteração do nome depende No processo de aquisição da
de decisão judicial ouvido o Ministério nacionalidade brasileira é possível
Público, só não sendo preciso nas hipóteses alterar o nome para um correlato
previstas em lei por exemplo no casamento. (estatuto do estrangeiro- lei 6815/80).
O juízo competente é a vara dos registros A lei 9807/99 instituiu o programa de
públicos. proteção à testemunha e permitiu que
A mudança do nome pelo casamento está todo o núcleo familiar da testemunha
prevista no art. 1565, parágrafo 1º: altere o nome pelo tempo que perdure
Art. 1565, § 1o Qualquer dos nubentes, a proteção. Se a testemunha quiser
querendo, poderá acrescer ao seu o posteriormente pode readquirir o 1º do
sobrenome do outro. nome.
A pessoa pode retirar um nome para Além da proteção da pessoa física, também
acrescer o do cônjuge, só não podendo se protege o nome empresarial.
retirar todos de modo a retirar sua origem Protegendo-se os direitos da personalidade
ancestral. É uma mudança facultativa e a como também uma proteção patrimonial,
lei de registro público possibilita a vez que o nome pode integrar o patrimônio
mudança para a união estável. da empresa.
Este acréscimo implica adesão a
personalidade de quem acresceu. 9.3. Âmbito da Integridade Física:
Na separação e no divórcio a regra geral é A proteção do corpo humano se desdobra
que o cônjuge mantenha o sobrenome vez em proteção do corpo vivo e do corpo
que passou a ser seu direito da morto.
personalidade. A proteção do Código Civil é à integridade
O Código Civil resguarda contudo uma corporal, cuja lesão, se for permanente,
possibilidade de perda na hipótese do art. pode implicar o dano estético.
1578: Se não houver seqüela permanente, não se
Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na terá dano estético, mas, mesmo assim,
ação de separação judicial perde o direito pode-se pleitear indenização por dano
de usar o sobrenome do outro, desde que moral. No RESP 5576 o STJ reconheceu a
expressamente requerido pelo cônjuge indenização, vez que a proteção à
inocente e se a alteração não acarretar: integridade física não é só de seqüelas
I - evidente prejuízo para a sua permanentes (dano estético).
identificação; A clausula de não indenizar é uma clausula
II - manifesta distinção entre o seu nome de contratar que isenta os contratantes da
família e o dos filhos havidos da união obrigação de indenizar porventura surgida.
dissolvida;

93
Esta clausula é abusiva, violando a boa fé que o Ministério Público fiscalize o
objetiva. preenchimento dos requisitos.
O art. 13 protege a integridade do corpo O Ministério Público irá instaurar inquérito
vivo. E o parágrafo único refere-se à lei civil para confirmar o preenchimento dos
9434/97 que trata dos transplantes: requisitos. Caso não haja este
Art. 13. Salvo por exigência médica, é preenchimento o Ministério Público ajuizará
defeso o ato de disposição do próprio corpo, uma ação para impedir este transplante.
quando importar diminuição permanente Na hipótese de não se tratar de parente o
da integridade física, ou contrariar os Ministério Público pode intervir para impedir
bons costumes. uma mercancia de órgãos.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo Quando não se tratar de parente o
será admitido para fins de transplante, na médico só poderá realizar o
forma estabelecida em lei especial. [Ou transplante com autorização judicial.
seja: se houver exigência médica – para fins A intenção do legislador aqui é resguardar a
de transplante, por exemplo – é possível ilegalidade evitando um mercado de órgãos
haver a disposição do próprio corpo, mesmo humanos.
com diminuição permanente da integridade Entre pessoas mortas o transplante deve
física]. também ser gratuito, não havendo
O art. 14 cuida do corpo morto. É a tutela limitação de órgãos. Não se admite aqui
jurídica do cadáver. A pessoa viva dispõe do a escolha do beneficiário (testamento
seu corpo para depois da morte. vital).
Art. 14. É válida, com objetivo científico, O beneficiário do transplante post mortem
ou altruístico, a disposição gratuita do deve ser indicado por uma fila cujo critério
próprio corpo, no todo ou em parte, para é de urgência.
depois da morte. Pessoas não identificadas ou indigentes não
Parágrafo único. O ato de disposição pode podem realizar doações de órgãos.
ser livremente revogado a qualquer tempo. A disposição de vontade do titular para uma
Não se admite no Brasil a testamento doação pós-morte não altera a ordem da
vital (é quando a pessoa deixa em fila. Se a pessoa disser “deixo minha
testamento a manifestação de vontade de córnea para meu filho cego ou para
que em determinados casos ela prefere ninguém”, ela não será doada para
dispor de seu corpo ainda vivo, por exemplo ninguém.
a eutanásia). Vige a regra da doação expressa, ou seja,
O art. 15 trata do livre consentimento ninguém é doador presumido. Quem
informado para tutela de seu corpo, promove a doação é a família, ou seja, a
também chamado de autonomia do família deve ratificar.
paciente. Somente após a declaração médica de
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido morte encefálica é possível a doação de
a submeter-se, com risco de vida, a órgãos, dependendo da aquiescência dos
tratamento médico ou a intervenção familiares.
cirúrgica. Não se aplicam as disposições desta lei às
Diante desta sistemática do Código Civil, doações de leite, sêmen, sangue e cabelo.
surgem questões relevantes. Todavia, esta não incidência não é para
• Transplantes: permitir a onerosidade, e sim para não
Tecnicamente a expressão “doação de limitar aos requisitos supracitados.
sangue” é incorreta pois doação é um ato
pelo qual o doador dispõe gratuitamente de • Possibilidade de cirurgia do
seu patrimônio, sendo caso de dação. transexual:
A lei 9434/97 c/c o Decreto 2268/97 O transexualismo implica diminuição
regulamentam os transplantes, expondo permanente da integridade física, o que é
que há duas disciplinas de transplantes: proibido pelo art. 13 do Código Civil.
entre vivos e por morte. A posição que deve prevalecer é que o art.
Entre pessoas vivas somente se admite 13 ao invés de proibir, permite por fazer a
transplante de forma gratuita, de órgãos ressalva da exigência medica, sendo o
dúplices ou regeneráveis. O beneficiário transexual caso de exigência medica.
deve manter vínculo de parentesco com o A resolução 1652/02 do Conselho Federal
doador em regra. Aqui se pode escolher o de Medicina regulamenta a matéria e
beneficiário. permite expressamente a cirurgia citada.
Deverá haver a comunicação prévia deste Interserxual ou hermafrodita é aquele que
transplante ao Ministério Público. O médico tem uma sexualidade ambígua e por força
é obrigado a fazer esta comunicação para disto a medicina naturalmente trabalhará
para que a pessoa se define pela sua

94
sexualidade. Se porventura ele for Wannebes é uma pessoa que não aceita um
registrado com sexo errado será caso de determinado órgão de seu corpo e por isto
retificação prevista no art. 109 da LRP. tem a necessidade de fazer uma
Homossexualismo é uma orientação sexual. amputação.
Transexual é aquele que sofre de uma Esta matéria é muito recente na legislação
desconformidade fisio-psíquica. Há uma brasileira, mas o certo é que estes não
disfunção entre o fenótipo e o biótipo. É podem ser confundidos com os transexuais
aquele que tem características físicas (que possuem uma necessidade médica).
distintas das características psicológicas. Logo eles não poderão amputar órgãos vez
Aqui existe uma patologia e a medicina por que o art. 13 proíbe disposição do corpo
tal motivo dispõe sobre a necessidade da quando há redução permanente da
cirurgia se provada a irreversibilidade do integridade física.
quadro do transexual.
Esta resolução diz que para atestar esta • Integridade física e liberdade de
irreversibilidade o prazo é de 2 anos de religião:
tratamento psicológico e psiquiátrico. Pode É o caso da Testemunha de Jeová que
a cirurgia ser realizada em hospital público entende que não se deve receber
ou privado quando for de masculino p/ o transfusão de sangue.
feminino, mas quando de feminino para Os arts. 46 e 56 do Código de Ética Médica
masculino somente em hospitais públicos determinam que o médico deverá adotar
que mantenham escolas de medicina toda e qualquer providência para garantir a
(pesquisa cientifica). vida do paciente ainda que contra a
Assim esta cirurgia independe de vontade dele.
decisão judicial. Haverá então uma colisão de interesses no
Para o direito interessa que uma vez caso, pois o médico se não fizer a
realizada a cirurgia pode o transexual transfusão poderá incorrer em
requerer a mudança do nome e do responsabilidade administrativa e até
estado sexual do seu registro. A penal.
jurisprudência passou por três estágios. Em Por outro lado se fizer a transfusão poderá
um 1º momento era contrária. No final da incorrer em responsabilidade civil.
década de 90 a jurisprudência começou a A maioria da doutrina e da jurisprudência
oscilar ainda preocupada com terceiros, entende que é para fazer a transfusão,
permitindo a mudança desde que constasse alegando que no conflito vida X liberdade
uma indicação da origem da mudança. de religião prevalece a vida.
Hoje a maioria dos tribunais expõe que há o Cristiano entende que neste caso a
direito da mencionada mudança sem proteção deve ser à vida digna cujo
qualquer indicação da razão da mudança. conceito integra também a liberdade
Foi a solução do STJ ao homologar sentença religiosa.
estrangeira nº 1058 da Itália. Gustavo Tepedino, Celso Bastos e Manoel
Se uma pessoa casar uma pessoa Gonçalves sustentam que a testemunha de
transexual sem saber poderá anular o Jeová tem o direito de não aceitar a
casamento por erro. transfusão de sangue sob o ponto de vista
O próprio comitê olímpico permite que o que a liberdade religiosa integra o conceito
transexual, uma vez realizada a cirurgia, de dignidade da pessoa humana no caso do
poderá participar de competições no sexo testemunho ser maior, capaz e que não se
que passou a ter. encontra em uma situação de emergência.
No INSS prevalece o entendimento que A ponderação entre a crença religiosa e a
todos os efeitos passam a ser o do sexo que vida dependerá do caso concreto apesar de
a pessoa passou a ter. ambos serem protegidos
Se for transexual do feminino para o constitucionalmente.
masculino com mais de 18 anos terá, A liberdade de crença é o direito de auto-
inclusive, que se alistar. determinação religiosa.
Obs.: Transexual também é diferente do Adventista do 7º dia do por do sol da sexta
travesti. O transexual pode ou não ser ao por do sol do sábado não realiza
travesti. atividade que gera proveito próprio, dentre
os quais concurso público.
• Tatuagem, Piercing e Wannebes: No caso de o concurso ser marcado para o
Não há juridicamente nenhum obstáculo a sábado de manha pode o adventista se
possibilidade de tatuagens e piercings vez recusar? Existe ate uma lei estadual de SP
que não reduz a integridade física dizendo que os concursos devem ser aos
permanentemente nem contraria os bons sábados e há uma decisão no TJ do RS
costumes. expondo que não tinha como mudar a data

95
da prova no caso pois o tempo era exíguo, promover uma ação negatória de
mas que ele não deixava de reconhecer o paternidade e mesmo havendo exame de
direito a liberdade religiosa. DNA a ação será julgada improcedente.
Há também o caso dos rituais católicos que Obs: Só quem pode ser herdeiro são
implicam autoflagelação. É permitido aqueles que já foram concebidos ao tempo
porque aquilo é um ato de fé, devendo ser da morte, ou seja, se um pai doar sêmen
compreendido na dimensão constitucional e para sua mulher e morrer o filho será filho
não no caso do art. 16. pela presunção de paternidade, mas
Por fim há também o caso de um centro não será herdeiro por falta de
espírita celebrar casamento. No TJ da BA capacidade, vez que não estava
reconheceu-se a validade do casamento concebido. O pai poderia fazer um
celebrado no centro espírita, vez que testamento beneficiando a prole eventual,
embora o espiritismo possa não ser que teria o prazo de 2 anos.
considerado uma religião, o que a
Constituição Federal garante é a liberdade • Direito ao corpo de outrem:
de crença. Atrela-se a idéia do débito conjugal, que dá
idéia de coabitação prevista no art. 1566, II
• Barriga de aluguel: do Código Civil.
O nome técnico é gestação em útero alheio Coabitação tem um duplo sentido: morar
que está prevista na resolução 1352/92 do sob o mesmo teto (que não é indispensável
Conselho Federal de Medicina, permitindo para reconhecimento da união estável,
esta gestação desde que haja súmula 382 do STF) e ter relações sexuais.
gratuidade (o nome deveria ser barriga de A doutrina antiga, a exemplo de
comodato), comprovação da Washington de Barros Monteiro, entende
impossibilidade gestacional (afastando que os cônjuges teriam o direito de exigir a
a hipótese de utilização do procedimento manutenção das relações sexuais que seria
por estética), e o útero emprestado tem um direito ao corpo de outrem. Neste
que ser de parentes próximos (não sentido a violação deste dever geraria dano
havendo parentesco exige-se autorização moral.
judicial). A posição majoritária na doutrina e na
jurisprudência hoje é que não existe direito
• Procriação assistida: ao corpo de outrem. É o entendimento do
É o gênero da fertilização medicamente STJ.
assistida que, por sua vez, é gênero da
fertilização in vitro e inseminação artificial. • Esterilização humana:
A fertilização in vitro é chamada de Pode haver esterilização de acordo
fertilização na proveta e a concepção será com a lei 9263/96 cujos requisitos são:
laboratorial. pessoas que tenham mais de 25 anos
Já na inseminação artificial a concepção é ou mais de 2 filhos.
no próprio corpo da mulher. A esterilização pode ser inclusive a
Ambas podem ser heteróloga (material dispensa do Estado, tendo função de
genético de 3º) ou homológa (material planejamento familiar.
genético do casal). Chama-se vasectomia para homem e
O nosso sistema permite a fertilização esteroctomia para mulher.
assistida nos limites impostos pelo
Conselho de Medicina: será utilizada para 10. Direitos da Personalidade e as
pessoas que comprovem que necessitam. Celebridades:
A relação travada entre o médico e os Celebridades são as pessoas que por força
pais será de consumo na prestação de de seu ofício possuem sua vida pessoal
serviço da fertilização assistida. publicizada. Havendo uma relativização dos
O Código Civil não regulamentou a matéria, seus respectivos direitos da personalidade.
porém prevê efeitos jurídicos para a Os direitos da personalidade da imagem, da
fertilização assistida: presunção de vida privada sofrem uma relativização, uma
paternidade (os filhos nascidos de vez que a sua personalidade já é pública.
fertilização assistida possuem as mesmas Por exemplo, a imagem de um artista pode
presunções de paternidade exclusiva do ser veiculada sem a sua autorização.
casamento dos filhos decorrentes do Isso não implica que caso haja desvio de
mecanismo sexual – art. 1597). finalidade não haverá indenização.
A autorização dada pelo marido para que Ultrapassados os limites cabe reparação.
sua esposa se submeta a uma fertilização Se de um lado cabe indenização à pessoa
assistida tem natureza de reconhecimento pública se ultrapassados os limites da
de paternidade. Se posteriormente ele divulgação de sua imagem, também se

96
poderá falar em uma responsabilidade da Código Civil, é imprópria pois em nada
celebridade pela propaganda de introduz realmente ao Código Civil. Em
determinado produto, por força do art. 7º verdade esta lei é um código sobre normas
do CDC. (sobre como devem ser elaboradas,
Desta forma, a celebridade que se veicula, interpretadas as normas).
emprestando, por exemplo, o nome a A lei de introdução serve como um diploma
determinado produto, responde de elaboração normativa com aplicação
solidariamente pelos danos causados. universal.
Há um projeto de lei para alterar a lei de
11. Possibilidade de Colisão entre o introdução incluindo um novo nome qual
Direito da Personalidade e a Liberdade de seja Código Geral de Normas.
Imprensa:
Esta tensão é muito comum e ambos os Vigência das Normas:
bens jurídicos são constitucionalmente Está regulada nos arts. 1º e 2º da LICC, que
protegidos. devem ser interpretados com os art. 8º e 9º
Será resolvido a depender do caso concreto da LC 95/98.
através da técnica da ponderação de A norma legal existe a partir do momento
interesses (uso da proporcionalidade como de sua promulgação. Formalmente a lei
técnica de solução de conflitos). existe a partir da promulgação.
Admite-se a tutela preventiva e reparatória É certo que a partir da promulgação ela
no caso de a liberdade de imprensa existe, mas não significa que ela tem
sobrepuje os direitos da personalidade. É necessariamente vigência.
possível decisão judicial limitando a A partir da publicação no DO a lei será
liberdade de comunicação. válida, que também não significa que ela
A liberdade de imprensa é uma vertente da será vigente (será obrigatória).
liberdade de expressão. A norma terá vigência de acordo com a
Na hipótese de responsabilidade civil por data indicada no próprio texto legal.
conta de excesso da liberdade de imprensa O art. 1º diz que a própria lei indicará a sua
quem responderá será o autor e o dono do vigência. Todavia, sendo omissa ela terá
veículo (súmula 221 do STJ). Os dois vigência 45 dias após oficialmente
respondem juntos de forma solidária. publicada e três meses no território
Súmula 221: São civilmente responsáveis estrangeiro quando admitida aplicação da
pelo ressarcimento de dano, decorrente de lei brasileira.
publicação pela imprensa, tanto o autor do A lei entra em vigência em todos os
escrito quanto o proprietário do veículo de Estados-membros simultaneamente.
divulgação. Este prazo de 45 dias é supletivo, só sendo
A lei de imprensa dizia que todo e qualquer aplicado se outro prazo não estiver
dano gerado pela liberdade de imprensa expressamente previsto.
deveria ser quantificado de forma tarifada [Em suma: a existência é com a
entre 5 e 200 salários mínimos. O STJ e o promulgação; a validade é com a
STF entendem que esta tarifação é publicação; e a vigência é com o fim do
inconstitucional e toda a indenização por prazo de vacatio legis. Esse prazo, por seu
dano moral deverá ser proporcional a turno, deve ser estabelecido na lei. Se não
extensão do dano. for, adotar-se-á o prazo de 45 dias].
Os direitos da personalidade podem colidir Esta regra de vigência não se aplica aos
com outros valores, como por exemplo, a atos administrativos, que entrarão em vigor
liberdade de crença. A solução também na data da sua publicação. É o que diz o art.
dependerá do caso concreto. 5ºdo decreto 572/1890 (que continua em
vigor).
A LC 95/98 inovou a matéria no art. 8º ao
dizer que a vigência será disposta de forma
expressa na lei de modo a observar um
Aula 05 prazo razoável para que todos tenham
Data: conhecimento. Ou seja, toda norma legal
trará uma vacatio legis.
Lei de Introdução ao Código Civil: O art. 8º citado faz uma ressalva para as
1. Introdução: leis de pequena repercussão que poderão
A lei de introdução é o decreto 4657/42, entrar em vigor na data de sua publicação.
não se confundindo com o Código Civil. Ela O art. 1º da LICC não foi revogado pelo art.
não integra o Código Civil. 8º citado, mas se tornou residual. Assim, só
A terminologia utilizada pelo decreto se aplica o prazo de 45 dias quando o
supracitada, qual seja lei de introdução ao legislador não dispuser expressamente

97
sobre o prazo de vacatio e quando não se Posição do professor: se a própria lei
tratar de lei de pequena repercussão na revogadora dispuser expressamente sobre
qual o legislador tenha inserido a cláusula a lei anteriormente revogada, quem está
“entra em vigor na data de sua publicação.” em vigor é lei revogadora.
Não se aplica na contagem do prazo de Exceção: art. 27 da lei 9868/99: se a lei
vacatio a regra geral do art. 132 do Código revogadora for declarada inconstitucional
Civil. A regra a ser aplicada será a dos pelo controle concentrado, haverá efeito
parágrafos 1º e 2º do art. 8º que dizem que repristinatório. Ressalta-se que o STF pode
toda vacatio deverá ser expressa em modular os efeitos de suas decisões em
número de dias (não devendo ser indicado nome do interesse público e da segurança
meses ou anos) e seu período deverá ser jurídica pelo quorum de 2/3 (ex tunc, ex
contado com a inclusão da data da nunc ou pró-futuro).
publicação e do ultimo dia do prazo, porém Se o STF no controle declarar efeitos não
só começa a ter vigor no dia seguinte a retroativos, não haverá efeitos retroativos.
consumação integral do prazo. Não implica revogação de lei a publicação
Em síntese a regra é diferente da do Código de uma nova lei sobre a mesma matéria
Civil, mas na prática dá no mesmo. com disposições a par das existentes.
Durante a vacatio legis a lei já existe, logo
qualquer alteração nesta lei somente pode 2. Obrigatoriedade das Normas:
se dar por lei nova. Está prevista no art. 3º da LICC que faz
Há entretanto uma situação especial. Existe menção a proibição ao erro de direito ao
a possibilidade de se corrigir erros materiais estabelecer a obrigatoriedade da norma
ou mera retificações por meio de re- legal. A ninguém é dado alegar o
publicação da lei. Nestas hipóteses as desconhecimento da lei.
partes retificadas se submetem a uma O princípio da obrigatoriedade é a partir do
nova vacatio legis a partir da momento em que a lei ganhou vigência.
publicação, sem prejuízo da parte não Significa que no sistema brasileiro toda
alterada (que entrará em vigor a partir norma legal traz consigo uma presunção de
da 1a publicação). conhecimento.
Se a lei já estiver em vigor para fazer Esta presunção, todavia, comporta
alterações de erros materiais ou meras exceções:
retificações somente por lei nova (que • No Código Civil:
terá a sua própria vacatio legis). - Art. 139, III: “sendo de direito e
Uma vez em vigor a lei se submeterá ao não implicando recusa à aplicação
princípio da continuidade que dispõe que a da lei, for o motivo único ou
lei permanecerá vigendo até que lei principal do negócio jurídico”. Ou
posterior venha a revogá-la expressa ou seja, o erro de direito é admitido
tacitamente. como vício de vontade.
A regra acima, logicamente, não se aplica - Art. 1561: erro de direito para fins
às leis temporárias, uma vez que de casamento putativo.
possuem uma vigência previamente Casamento putativo é o
estabelecida. casamento nulo ou anulável
Não se admite a revogação pelo desuso. É a contraído de boa fé. Ex. não sabia
perda da vigência pelos costumes. que a lei proibia o casamento com
O art. 9º da LC 95/98 diz que a revogação meu irmão. Se de boa fé o cônjuge
deverá ser preferencialmente expressa, pode alegar tanto o erro de fato
mas é claro que todas as disposições em quanto o de direito para fins de
contrario serão revogadas tacitamente. putatividade.
Deve-se evitar a cláusula “revogam-se • No Direito Penal:
todas as disposições em contrário”, pois
tacitamente todas as disposições em
- Art. 8º da lei de contravenções
penais, permitindo que o juiz deixe
contrário estarão revogadas.
de aplicar a pena no caso de
A revogação pode ser total (ab-
ignorância da lei;
rogação) ou parcial (derrogação).
- Art. 65, II que fala da
No Brasil não existem efeitos
admissibilidade do erro de direito
repristinatórios (a revogação da lei
como circunstância atenuante para
revogadora não restabelece os efeitos da lei
fixação da pena.
revogada), salvo disposição em contrário
(art. 2º, parágrafo 3º da LICC). Ou seja, a lei
3. Integração das Normas:
pode expressamente prever este efeito
Está previsto no art. 4º da LICC.
repristinatório.

98
Ao juiz não é dado se eximir de julgar Já os princípios gerais de direito
alegando lacuna da norma. Proíbe-se o non corresponderão apenas a regras de
liquet ao obrigar o juiz a decidir em integração, sendo apenas três: não lesar
qualquer caso. a ninguém; dar a cada um o que é seu;
O art. 4º indica quais são os mecanismos de e viver honestamente.
integração que o juiz utilizará para suprir a O rol citado é taxativo e preferencial.
lacuna. São eles: O art. 337 do CPC estabelece uma exceção
1º Analogia: É a colmatação através da quando o juiz poderá determinar que a
comparação, podendo ser uma comparação parte faça a prova do direito quando ser
com uma outra norma legal aplicado a um tratar de direito estrangeiro, municipal e
outro caso ou através da comparação do consuetudinário.
sistema como um todo. O direito municipal e estadual que o juiz
A analogia legis é quando o juiz integra pode alegar que não conhece tem que ser
comparando a situação lacunosa com uma de outro lugar que não seja o de sua
norma legal existente para um outro fato. É jurisdição.
o exemplo das uniões homoafetivas onde Esta lei estrangeira também não pode ser
se podem aplicar as normas da união em relação aos paises do MERCOSUL, pois o
estável. Protocolo de Las Leñas estabelece que os
A analogia iuris é a comparação com o países integrantes deste bloco ficam
sistema como um todo. É o exemplo das dispensados de fazer prova do direito deste
uniões homo-afetivas que pode ser decidido bloco (extensível a tradução de documentos
segundo os princípios constitucionais. oficiais oriundos de paises integrantes do
O direito penal e o direito tributário obstam MERCOSUL).
o uso da analogia se importar agravamento Se a lei não for omissa, o caso é de
da situação do réu ou do contribuinte. interpretação, e não de integração.
2º Costumes: São os usos reiterados e Excepcionalmente admite-se o uso de uma
cotidianos. 4a modalidade de integração, qual seja a
Os costumes oscilam de um lugar para o equidade, que só é admitida quando
outro. houver previsão legal.
Há duas diferentes possibilidades de A equidade é a busca do equilíbrio, do justo.
costumes: praeter legem (são um Advém da obra de Aristóteles que diz que a
mecanismo integrativo) e secundum legem virtude está no meio, nem tanto ao mar,
(utilizados quando o próprio legislador nem tanto a terra, ou seja, o justo é o que é
determinar. Aqui não há lacuna, em equilibrado, que dependerá do caso
verdade, já que não houve omissão – art. concreto. É um conceito muito subjetivo.
445, parágrafo 2º do CC). Exemplos de hipóteses em que a lei deixa
O direito brasileiro não admite os costumes usar a equidade: art. 20, parágrafo 4º do
contra legem. CPC (fixação de honorários advocatícios);
3º Princípios Gerais de Direito: No direito art. 15 da lei de alimentos (fixação de
brasileiro tem que se observar que os pensão alimentícia); art. 194, parágrafo
princípios podem se apresentar como único da Constituição Federal (acesso à
princípios gerais (ou informativos) ou como saúde); art. 413 do CC (redução da cláusula
princípios fundamentais. penal) e art. 944, parágrafo único do CC
Os fundamentais correspondem aos valores (fixação da indenização – não cabe na
acolhidos pelo sistema. São as opções responsabilidade objetiva).
valorativas de um determinado sistema. Neste sentido o RESP 48176/SP o STJ disse
Já os princípios gerais são regras de que como a lei autoriza ao juiz reduzir
integração. São regras universais de eqüitativamente a cláusula penal, ele
desempate. poderá fazê-lo.
Canotilho ao dividir as normas em norma-
regra e norma-princípio implica que todo 4. Interpretação das Normas:
princípio tem força normativa. É um erro, Está no art. 5º da LICC.
pois o princípio geral não tem força Interpretar é dizer o sentido e o alcance.
normativa, servindo de integração. A interpretação é obrigatória. Numa lei
Os princípios que possuem força normativa clara se faz uma interpretação literal.
são os princípios fundamentais que valem Antes da aplicação da lei sempre há uma
mais do que as normas-regras, por interpretação.
exemplo, a função social da propriedade. “Na interpretação da lei o juiz deve levar
Tais princípios por representarem valores em conta a sua finalidade social e as
de um sistema podem estar previstos exigências do bem comum” (art. 5º da
expressa ou implicitamente neste sistema. LICC). Dispondo que na busca do sentido da
lei a interpretação será teleológica.

99
O STJ é firme em dispor sobre esta Lembrando que não existem direitos
finalidade da interpretação, como dispõe o adquiridos em face do poder
RESP 41110-6/SP (STJ permite a constituinte, inclusive no que tange ao
comprovação da condição de silvícola derivado (foi a posição do STF na
por testemunha atendendo a época da reforma da previdência).
finalidade social da norma, para fins A jurisprudência está admitindo a
previdenciários, apesar de a lei só permitir flexibilização da coisa julgada quando
esta prova documentalmente). confrontando com outros valores
A finalidade social da norma permite constitucionais. (RESP 226.436 do STJ).
interpretações. Não se confunde irretroatividade da norma
O resultado da interpretação da norma com ultratividade.
poderá ser ampliativo quando se tratar de A ultratividade é um fenômeno encontrado
direitos fundamentais; restritiva quando mais do Direito Penal e consiste na
houver redução no sentido e alcance, por aplicação de uma norma que já foi
exemplo na fiança, aval, privilégio e revogada, mesmo depois de sua revogação
renúncia (art. 114, 819 do Código Civil, 257 para efetivar casos realizados sob sua
do Código Comercial e súmula 214 do STJ); égide.
e declarativa quando se restringe a indicar Um exemplo de ultratividade no Direito Civil
o sentido simplesmente, por exemplo as é o direito sucessório, quando se aplicará a
normas de direito administrativo porque lei vigente a época da morte.
submetidas ao princípio da legalidade. Neste sentido a súmula 112 do STF: “O
Na interpretação extensiva amplia-se o que imposto de transmissão "causa mortis" é
já está escrito. Diferente da analogia em devido pela alíquota vigente ao tempo da
que se estende uma hipótese legal a um abertura da sucessão.”
fato que não possui norma
regulamentadora. 6. Aplicação da Norma no Espaço:
Submete-se ao princípio da territorialidade,
5. Aplicação da Norma no Tempo: ou seja, no espaço brasileiro se aplica a lei
Está no art. 6º da LICC que corresponde ao brasileira.
art. 5º, XXXVI da Constituição Federal. Excepcionalmente se admite que a lei
A aplicação da lei no tempo submete-se ao estrangeira seja aplicada no Brasil, por isto
princípio da irretroatividade. Ou seja, a lei se diz que a LICC nos arts. 7º e 8º acolheu o
se destina a aplicação dos casos princípio da territorialidade mitigada
pendentes e futuros. ou moderada quando autorizada por
Casos pendentes são as relações jurídicas lei.
de trato sucessivo, por exemplo, um É permitida a aplicação da lei estrangeira
contrato ou um casamento, que se nos casos em que a lei define uma regra de
submeterão a lei nova no que tange a conexão. Conexão é chamada de estatuto
eficácia daqui para frente, e se submeterão pessoal, que é a lei do domicílio do
à lei velha no que tange à existência e à interessado.
validade de sua constituição. Se uma Casos em que se aplica o estatuto
relação jurídica se constituiu sob a égide da pessoal: nome; capacidade;
lei velha se submeterá a lei nova no que personalidade; direito de família; bens
tange aos efeitos futuros, mas a existência móveis que a pessoa traz consigo;
e a validade continuam regidos pela lei penhor; capacidade sucessória.
velha. A aplicação do estatuto pessoal depende da
Por exemplo, uma pessoa que se casou compatibilidade com o ordenamento
sob a égide do Código Civil de 1916 interno. É o que se chama filtragem
poderá mudar o regime de bens constitucional, visando a impedir uma
segundo o novo Código Civil, desde violação da soberania brasileira.
que com a autorização do juiz Critérios específicos de aplicação da lei
(jurisprudência pacifica do STJ). estrangeira:
Com exceção de Maria Helena Diniz, toda a - Bens imóveis situados no
doutrina concorda com a interpretação do estrangeiro: lei do local onde o
STJ. imóvel estiver situado;
Admite-se a retroatividade da lei - Contratos: Local da residência
desde que haja expressa previsão legal do proponente.
e que não viole o ato jurídico perfeito, o O art. 435 do Código Civil todavia diz que o
direito adquirido e a coisa julgada. local do contrato é onde foi feita a
Direito adquirido é uma concepção proposta, regulando as relações
patrimonial. É aquilo que já se incorporou particulares no Brasil. A LICC regula os
ao patrimônio do titular. contratos internacionais. [Em sínteses: nos

100
contratos nacionais, as regras são as do alimentação. Necessita de expressa
local da proposta; já nos contratos previsão legal neste sentido (arts. 1704,
internacionais, as regras são as do local parágrafo único e 1694 parágrafo 2º).
da residência do proponente]. Art. 1.704. Se um dos cônjuges separados
- Lei sucessória mais favorável: judicialmente vier a necessitar de
Sucessão de bens de estrangeiro alimentos, será o outro obrigado a prestá-
com cônjuge, companheiro ou filho los mediante pensão a ser fixada pelo juiz,
brasileiro será regulada pela lei caso não tenha sido declarado culpado na
mais favorável. ação de separação judicial.
Também é possível cumprimento de Parágrafo único. Se o cônjuge declarado
decisão judicial, laudo arbitral e carta culpado vier a necessitar de alimentos, e
rogatória estrangeira desde que com o não tiver parentes em condições de prestá-
exequatur do STJ. los, nem aptidão para o trabalho, o outro
Condições do exequatur: compatibilidade cônjuge será obrigado a assegurá-los,
com a ordem interna; cumprimento fixando o juiz o valor indispensável à
das formalidades do 483 e 484 do CPC; e sobrevivência.
prova do trânsito em julgado (súmula O NCC fez com que o reconhecimento da
420 do STF). culpa não subtraia do cônjuge culpado o
Obs.: O art. 15, parágrafo único da LICC foi direito a alimentos, apenas modificando a
revogado tacitamente pelo CPC, pois o CPC sua natureza jurídica.
diz que é necessário o exequatur para Art. 1694, § 2o Os alimentos serão apenas
todas as decisões judiciais os indispensáveis à subsistência, quando a
estrangeiras, sem exceções. É o situação de necessidade resultar de culpa
entendimento do STF na petição avulsa de quem os pleiteia.
11/MG (Celso de Melo; informativo 121). Em toda e qualquer hipótese de culpa,
reconhecida judicialmente, o juiz fixará os
Aula 06 alimentos naturais, ou seja, meramente
Data: 30/10/07 para a subsistência.
b) Civis: É a regra geral, vez que
Alimentos: servem para a sobrevivência, para a
Bibliografia: manutenção e para a dignidade. Há uma
- Maria Berenice Dias: “Manual do Direito dupla função dos alimentos: mantém a vida
das Famílias”; e a pessoa. São necessários in persone
- Delmiro Pedro: “Alimentos”. (aquilo que é necessário para a pessoa). É
aquilo que se precisa para manter um
1. Noções Gerais: determinado padrão social.
Os alimentos trazem como fundamentação
a solidariedade humana. A obrigação é 2.2 Quanto à causa dos alimentos:
devida entre aqueles que estão na mesma a) Legais ou Legítimos: São os
família. decorrentes do direito de família. Somente
Os alimentos possuem a finalidade este admite a coerção através da prisão
específica de garantir o direito a vida digna. civil.
Significa a manutenção de alguém que não b) Convencionais: Quando decorrer
tem como subsistir com recursos próprios de ato de vontade das partes (inter vivos ou
fundamentada na solidariedade humana. causa mortis através de testamento).
Na ordem jurídica brasileira a expressão Conclui-se que o direito brasileiro admite o
“alimentos” possui diversos significados. legado por meio de alimentos (este não
Juridicamente alimentos é tudo aquilo que será herança, pois não está na
serve para a subsistência. universalidade).
Dentro do conceito de alimentos estão c) Reparatórios ou Ressarcitórios:
incluídos saúde, educação, moradia, lazer e Quando decorrerem de responsabilidade
cultura. civil.

2. Classificação: 2.3 Quanto à finalidade:


2.1 Quanto a sua natureza: a) Provisórios: São os alimentos
a) Naturais ou Congruos: Quando destinados a atender uma medida
forem somente para a sobrevivência. Não antecipatória. Estão submetidos ao art. 4º
se trata daquilo que se precisa para viver da lei 5478/68. São fixados liminarmente,
dignamente, mas tão somente para sempre que houver prova pré-constituída
sobreviver. É o necessário para ter vida. da obrigação alimentícia. Podem ser fixados
Não se incluem os alimentos para lazer, de ofício. Somente nas ações de alimentos
cultura, educação. Refere-se somente à

101
é que se permitirá a concessão de Art. 1.700 do CC A obrigação de prestar
alimentos provisórios. alimentos transmite-se aos herdeiros do
b) Provisionais: Serão provisionais devedor, na forma do art. 1.694.
quando tiverem natureza cautelar. Estão no Proferida a sentença de partilha não há
art. 852 do CPC. Assumem a função de mais no que se falar em transmissão da
resguardar a função de um outro processo. obrigação de prestar alimentos.
São medidas topologicamente cautelares, Obs. Posição de Cristiano e Veno Velozo
vez que estão inseridas nas medidas (Pará): Se o beneficiado do alimentando é
cautelares mas não possuem natureza herdeiro ele retirar do espólio não alimentos
assecuratória e sim satisfativa (em vista da e sim herança. Somente pode retirar
natureza irrepetiva- aquilo que se pagou, alimentos aquele que não participa do
não se repete). São concedidos por espólio como herdeiro.
sentença e submetidos a cláusula rebus sic
statinbus (manutenção da situação 4.2 Irrenunciabilidade:
momentânea). Súmula 379 do STF (a égide do CC velho):
O requisito do art. 806 do CPC não se No acordo de desquite não se admite
submete aos alimentos provisionais por renúncia aos alimentos, que poderão ser
terem natureza satisfativa. pleiteados ulteriormente, verificados os
São concedidos antes ou no curso de um pressupostos legais.
pedido principal. A Constituição Federal retirou a
c) Definitivos: Os alimentos competência do STF para matéria
definitivos também se submetem a cláusula infraconstitucional. O STJ passou a discordar
rebus sic stantibus, vez que a obrigação da súmula 379, passando a interpretar a
alimentícia permaneça no tempo enquanto irrenunciabilidade dos alimentos apenas em
perdurar a situação fática subjacente que relação ao parentesco. Admitindo-se a
ensejou os alimentos. irrenunciabilidade entre cônjuges e
companheiros.
3. Alimentos Transitórios: O art. 1707 do NCC vem então e
São aqueles fixados para perdurar durante restabelece o entendimento da súmula 379:
determinado lapso temporal. São alimentos Art. 1.707. Pode o credor não exercer,
resolúveis (com data certa para terminar). porém lhe é vedado renunciar o direito a
Os alimentos automaticamente perdem sua alimentos, sendo o respectivo crédito
eficácia na data fixada. Serve para atender insuscetível de cessão, compensação ou
a situações peculiares nas quais haveria penhora.
injustiças em função da cláusula rebus sic Todavia o STJ continua entendendo que
stantibus (por exemplo, mulher que não ente cônjuges e companheiros os alimentos
procura emprego). continuam admitindo renúncia.
É um conceito doutrinário. O STJ editou a súmula 336: A mulher que
Obs. A jurisprudência vem entendendo que renunciou aos alimentos na separação
os alimentos que venceram e não foram judicial tem direito à pensão previdenciária
pagos nem cobrados com o advento de por morte do ex-marido, comprovada a
uma sentença definitiva que reduz o valor necessidade econômica superveniente.(DJ
tais alimentos serão cobrados com o valor 07/05/2007).
reduzido. Esta súmula foi editada pela 3ª seção que
Os alimentos serão devidos desde a data da engloba a 5ª e 6ª Turma que engloba
citação (súmula 277 do STJ). Porem se a direito previdenciário. Esta seção é
sentença reduzir o valor dos alimentos diferente da que julga direito privado. Há,
também retroagirão à data da citação. portanto, uma colisão de jurisprudência.
Agora se o devedor paga os alimentos e Esta súmula 336 alcança exclusivamente
eles são reduzidos na sentença definitiva pensão previdenciária. Não se confundindo
não cabe repetição de indébito. com o entendimento pacífico da
possibilidade de renúncia entre
4. Características: cônjuges/companheiro.
4.1 Personalíssimos:
Destinam-se a resguardar a dignidade de 4.3 Imprescritibilidade:
alguém, levando em conta as Decorre da natureza personalíssima,
características particulares. podendo ser cobrados a qualquer tempo.
Apesar do caráter personalíssimo a A imprescritibilidade não alcança a
obrigação de prestar alimentos é pretensão executiva cujo prazo é de 2 anos
transmissível para os herdeiros do devedor (art. 206, parágrafo 2º).
nos limites das forças da herança e no
limite da sentença de partilha.

102
4.4 Impenhorabilidade, irrestitíveis e O art. 12 do Estatuto do Idoso traz a regra
incompensáveis: de solidariedade quando o alimentando for
Estas características se destinam a sua idoso. O STJ em poucos julgados confirma
finalidade qual seja a subsistência. esta solidariedade em favor dos idosos.
Excepcionalmente, poderão ser penhorados
ou compensados por outra obrigação da 5. Sujeitos da Obrigação de Alimentos:
mesma natureza. A partir do art. 1694 é possível concluir que
Para o CC os alimentos serão irrestituíveis os alimentos serão devidos por força do
sempre. Porem na doutrina brasileira vigora casamento, da união estável e do
o entendimento que excepcionalmente os parentesco.
alimentos poderão ser restituídos quando Assim, os sujeitos são os cônjuges,
recebidos ilicitamente (quando não há companheiros e parentes.
causa para a obrigação alimentícia, por Durante o casamento e a união estável não
exemplo, mulher que casa de novo e não há obrigação de alimentos e sim assistência
comunica ao alimentante) para impedir o material recíproca.
enriquecimento sem causa. Entre cônjuges e companheiros vem se
Obs.: A obrigação alimentícia é solidária? entendendo que a fixação de alimentos é
Qual a natureza do instituto do art. 1698 do excepcional, dependendo da
Código Civil? impossibilidade de se manter sozinho bem
O Código Civil aduz que a solidariedade não como a impossibilidade de se cobrar de
se presume. Ou seja, a obrigação de prestar parente mais próximo. A regra é a cessação
alimentos não é solidária por falta de do vínculo.
previsão legal. Ela é proporcional e Estes alimentos extinguem em face da
subsidiária. superveniência de uma formação de família
Será proporcional quando houver mais de se esta nova família é por parte de quem
um devedor. recebe os alimentos.
É subsidiária porque só se pode cobrar do Se a nova família é formada por quem
parente mais distante depois de cobrar do presta alimentos não extingue a obrigação,
parente mais próximo. A obrigação mas poderá ensejar a revisão do quantum.
alimentícia avorenga (dos avós) é A jurisprudência é pacífica no sentido do
subsidiária. direito a alimentos do nascituro,
Esta regra é confirmada pelo art. 1698: decorrendo, inclusive, do art. 7º do ECA.
Art. 1.698. Se o parente, que deve Somente os parentes naturais e linha reta
alimentos em primeiro lugar, não estiver ou em colateral até 2º grau são sujeitos da
em condições de suportar totalmente o obrigação alimentícia.
encargo, serão chamados a concorrer os de Maria Berenice observa que entre todos
grau imediato (subsidiariedade); sendo estes se aplica o princípio da reciprocidade
várias as pessoas obrigadas a prestar jurídica. O que não ocorre nas hipóteses
alimentos, todas devem concorrer na descritas no parágrafo abaixo, vez que na
proporção dos respectivos recursos, e, ausência de ascendente, descendente e
intentada ação contra uma delas, poderão cônjuge os parentes colaterais poderão
as demais ser chamadas a integrar a lide. receber herança (possuem o bônus), mas
A parte final do art. 1698 dispõe, não possuem a obrigação de prestar
indevidamente, sobre matéria processual. alimentos (não possuem o ônus).
Não se trata de Chamamento ao Processo, Não estão inseridos no âmbito da obrigação
vez que não há solidariedade. alimentícia os parentes colaterais do 3º e 4º
O posicionamento de Fredie Didier o grau e os por afinidade.
instituto deste artigo é uma hipótese de Os parentes não precisam ter menos de 18
litisconsórcio ulterior, formado anos. A obrigação de alimentos independe
exclusivamente pela vontade do autor. de idade.
Cássio Scarpinela Bueno, com a adesão da Enquanto os pais prestarem alimentos por
maioria dos civilistas (inclusive Maria força do poder familiar (até 18 anos) há
Berenice Dias) o instituto se trata de uma uma presunção de necessidade.
nova modalidade de intervenção de Serão devidos alimentos ainda no caso de
terceiros, podendo ser provocada, portanto, Guarda e Tutela do ECA embora não haja
pelo autor e réu. parentesco e nas uniões homoafetivas.
Cristiano concorda com o posicionamento
alegando que afirmar tratar-se de um 6. Ação de Alimentos:
litisconsórcio reduziria demais o alcance do Os arts. 15 e 16 da lei de alimentos e o art.
instituto, uma vez que somente o autor 1564 do Código Civil consagram regra de
poderia lançar mão do mesmo. equidade para fixação de alimentos.

103
Ou seja, para a fixação de alimentos o juiz A citação fixa o termo inicial da
levará em conta a capacidade contributiva exigibilidade dos alimentos.
de quem presta, necessidade de quem Em seguida há uma audiência única e uma.
recebe e proporcionalidade. A lei prevê uma única audiência para
No Brasil doutrina e na jurisprudência conciliação, instrução e julgamento.
admitem a teoria da desconsideração da O juiz só separará a audiência em virtude
personalidade jurídica prevista no art. 50 do de caso fortuito, força maior ou em virtude
Código Civil. Esta teoria é cabível para que de produção de uma prova específica.
o juiz possa fixar alimentos não em razão As partes devem levar suas testemunhas
da renda comprovada , mas em razão de independentemente de prévia comunicação
seu padrão de vida. do juízo.
Esta aplicação depende dos mesmos Nos termos do art. 7º da lei de alimentos o
fundamentos, portanto para que o juiz não comparecimento do autor implicará
desconsidere a personalidade jurídica da arquivamento e o não comparecimento do
empresa é preciso desvio da finalidade ou réu gera revelia e confissão ficta.
confusão patrimonial (por exemplo, E se o réu comparece sem advogado? STJ
alimentante prova renda de 2 salários entende que o réu poderá sozinho conciliar,
mínimos e seu cartão de crédito, sua mas frustrada a conciliação o juiz deverá
cobertura etc estão em nome da empresa). fixar sua revelia já que, mesmo presente,
A desconsideração, segundo Fabio Ulhoa é sem advogado ele não poderá se
inversa, e não pode ser de ofício. manifestar.
A ação de alimentos tem seu procedimento Concluída a audiência o Ministério Público
previsto na lei 5478/98. A doutrina costuma deverá intervir como fiscal da lei. Esta
dizer que este procedimento é sumaríssimo. manifestação do Ministério Público é livre.
Cristiano não gosta de usar esta expressão Súmula 99 do STJ: O Ministério Público tem
para evitar confusões de procedimento e o legitimidade para recorrer no processo em
denomina, então, de procedimento que oficiou como fiscal da lei, ainda que
concentrado (abreviado, célere). não haja recurso da parte.
A ação de alimentos terá uma concentração O art. 201, III do ECA reconhece a
de atos procedimentais. Por exemplo, legitimidade do Ministério Público para
conciliação, instrução e julgamento serão poderá ser autor em ação de alimentos em
feitos em um ato único. favor de criança e adolescente, não
Inicia-se o procedimento com a inicial que, havendo necessidade de outro promotor
excepcionalmente, não poderá estar funcionar como fiscal da lei.
subscrita por advogados. A lei de alimentos Finalmente, haverá a sentença fixando os
permite que a inicial seja reduzida a termo alimentos definitivos com a cláusula rebus
em cartório pelo escrivão sic stantibus.
independentemente da presença de Em ação de alimentos não há nulidade em
advogados. razão de uma sentença fixar alimentos em
O Estatuto da OAB, todavia, dispõe que quantia superior ao pleiteado na inicial em
todo ato processual deve ser praticado por virtude de sua indisponibilidade.
advogado, com exceção dos juizados Contra a sentença que defere alimentos
especiais e da justiça do trabalho. cabe Apelação sem efeito suspensivo sendo
Promovendo uma interpretação conforme, o que em razão do caráter irrestituível esta
entendimento que prevalece é que se execução será definitiva.
admite a inicial sem advogado, mas ao A coisa julgada na ação de alimentos é
despacha-la o juiz deverá encaminhá-la a material. O pedido e a causa de pedir da
Defensoria Pública ou a advogado. ação de alimentos e da revisão de
Em seguida há o despacho liminar quando o alimentos são autônomos.
juiz determinará a citação do réu e a É uma coisa julgada rebus sic stantibus,
fixação dos alimentos provisórios se houver permitindo revisão em razão de alterações
prova pré-constituída. de seus elementos.
O juiz somente não fixará os alimentos A competência da ação de alimentos é do
provisórios se não houver prova pré- domicílio do alimentando (credor dos
constituída ou se a parte disser alimentos), inclusive quando o pedido de
expressamente que não necessita. alimentos for cumulado com outra ação.
Nos termos do art. 13, parágrafo 2º da lei Súmula 1 do STJ: Foro do domicilio ou da
de alimentos os alimentos serão devidos residência do alimentando e o competente
desde a data da citação (mesmo quando os para a ação de investigação de
alimentos forem pedidos em outra ação – paternidade, quando cumulada com a de
súmula 277 do STJ). alimentos.

104
Esta regra de competência é relativa, O cumprimento do prazo de 60 dias, por
podendo o alimentando abrir mão de seu sua vez, não implica extinção da dívida.
foro, por exemplo. Cumprida a prisão integralmente significa
A competência para ação de alimentos não que a prisão não teve força coercitiva.
torna prevento o juízo para as ações de Lembrar que não se admite duas prisões
revisão, execução e exoneração de pelo mesmo período de dívidas. Por um
alimentos. novo período se admite uma nova prisão.
O STJ entende que somente é possível
7. Ações Típicas: prisão civil por dívida de alimentos atual.
Existem mais três ações atinentes aos Dívida atual refere-se aos três meses
alimentos: revisão, exoneração e oferta de anteriores a propositura da ação. O que não
alimentos. significa uma exoneração do restante da
A ação de revisão é promovida pelo credor dívida.
ou devedor para revisão do quantum por É o que dispõe a súmula 309 do STJ: O
força de fato superveniente. débito alimentar que autoriza a prisão civil
A ação de exoneração visa a extinção da do alimentante é o que compreende as três
obrigação. prestações anteriores ao ajuizamento da
A oferta de alimentos é a ação promovida execução e as que se vencerem no curso do
pelo devedor de alimentos em face do processo.
credor (art. 24 da lei de alimentos). Marinoni e Cristiano defendem que esta
A ação de revisão e a ação de oferta súmula é equivocada por partir da premissa
possuem o mesmo procedimento da ação que dívida atual é sempre as anteriores a
de alimentos (admitindo-se os alimentos três meses. O conceito de dívida atual
provisórios). Mas a ação de exoneração deveria ser elastecido, a depender do caso
possui procedimento ordinário (não concreto a partir da técnica de ponderação
trazendo a possibilidade de liminar, mas de interesses. É, contudo, uma posição
como a regra geral tem a possibilidade de isolada.
Tutela Antecipada). A posição predominante na doutrina e na
jurisprudência é no sentido da súmula 309
8. Execução de Alimentos (arts. 732 e do STJ.
733 do CPC): A jurisprudência tem admitindo contra
Pode-se dar por 4 diferentes formas em decisão que determina a prisão civil a
virtude da especial natureza dos alimentos: interposição simultânea de Agravo e
- Desconto em folha de pagamento: Habeas Corpus. O que implica uma
Empregador que não efetua o contradição, vez que o recurso e a ação
desconto ou retarda pratica crime constitucional não são julgadas pelo mesmo
(art. 22 da lei de alimentos). órgão.
Somente para os alimentos
vincendos. Aula 07
- Desconto em outros rendimentos: Data: 06/11/07
Somente para os alimentos
vincendos. Separação e Divórcio:
- Coerção Patrimonial: Bibliografia:
- Coerção Pessoal: Prisão Civil, não - Maria Berenice Dias;
se aplicando o princípio da - O Novo Procedimento da
execução pelo meio menos Separação e do Divórcio, Editora Lúmen
gravoso, permitindo que o meio Juris.
executivo seja escolhido pelo
credor. Esta prisão não tem 1. Aspectos Gerais da Dissolução do
natureza punitiva e sim coercitiva, Casamento (art. 1571 do CC):
o que implica que o pagamento da Art. 1.571. A sociedade conjugal termina
dívida implica automaticamente (põe fim aos direitos e deveres recíprocos,
liberação do preso. inclusive ao regime de bens):
O prazo máximo da prisão é de 60 dias. É o I - pela morte de um dos cônjuges;
que entende o STJ. II - pela nulidade ou anulação do
Esta prisão pode ser determinada de ofício casamento;
ou a requerimento do Ministério Público III - pela separação judicial; (OU
como fiscal da lei. EXTRAJUDICIAL)
Não se admite prisão especial para esta IV - pelo divórcio.
prisão civil, em virtude de sua natureza § 1o O casamento válido só se dissolve pela
coercitiva. morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio,

105
aplicando-se a presunção estabelecida Uma pessoa divorciada pode, inclusive,
neste Código quanto ao ausente. requerer a anulação do casamento em face
§ 2o Dissolvido o casamento pelo divórcio da diversidade dos efeitos decorrentes.
direto ou por conversão, o cônjuge poderá
manter o nome de casado; salvo, no 2. Características Comuns as Ações
segundo caso, dispondo em contrário a de Separação e Divórcio:
sentença de separação judicial. - São ações personalíssimas, ou
A liberdade de casar corresponderá a seja, só os próprios cônjuges tem
liberdade invertida qual seja a de não legitimidade para requerê-la.
permanecer casado. A lei do divórcio que está parcialmente
Casar e não permanecer casado são revogada pelo Código Civil (remanescem os
projeções do direito constitucional a dispositivos de ordem processual) no art.
liberdade (direito da personalidade da 3º, parágrafo 1º traz uma regra
autodeterminação). excepcionando este caráter personalíssimo
A dissolução do casamento no direito na hipótese de um dos cônjuges ser incapaz
brasileiro está submetida ao sistema que será representado por seu curador,
dualista. Este sistema faz como existam ascendente ou irmão, nesta ordem (rol
causas terminativas e causas dissolutivas. taxativo e preferencial).
As causas terminativas terminam mas não Se não possuir nenhum destes o juiz
acabam por dissolver somente a sociedade nomeará curador especial. É uma hipótese
conjugal. As causas dissolutivas terminam e de representação processual (atua em
acabam por dissolver além da sociedade nome de 3º, defendendo interesse de 3º).
conjugal, o vínculo. É possível ao representante em nome do
Extinguir a sociedade é por fim aos deveres representado celebrar separação
e direitos recíprocos. Já extinguir o vínculo consensual? A maioria da doutrina entende
elimina-se a relação jurídica. que não, pois tal separação implica
As hipóteses terminativas apenas põem fim transação e o representante não pode
aos direitos e deveres recíprocos entre os dispor daquilo que não é seu.
vínculos existentes entre os cônjuges. São A jurisprudência, todavia, permite a
elas: morte, divórcio, separação e anulação separação consensual que será
ou nulidade do casamento (art. 1571). obrigatoriamente em juízo com intervenção
As causas dissolutivas são a morte o do Ministério Público quando um dos
divórcio. cônjuges seja incapaz. Não se admite a
Não se tratando de hipótese dissolutiva de utilização da via administrativa. É uma
vínculo não se admite um novo casamento. posição minoritária.
Na anulação e na nulidade é possível um Se houver prejuízo do incapaz há a
casamento, vez que, uma vez declarado fiscalização do Ministério Público e a
nulo ou anulado, o casamento deixa de ter possibilidade do juiz não homologá-la com
validade. É dissolvido, desconstituído, fulcro no art. 34, parágrafo 2º da lei do
apagando todos os efeitos deste divórcio.
casamento. - Em face do caráter personalíssimo
A morte, por sua vez, poder ser a real ou não se admite litisconsórcio nem
por ausência conforme demonstra o intervenção de terceiros.
parágrafo 1º do art. 1571. - Possibilidade de separação e
Os efeitos da ausência decorrerão a partir divórcio (litigioso e consensual, inclusive o
da sucessão definitiva (art. 6º da CC). administrativo feito em cartório)
Numa prova escrita criticar alegando que independentemente de prévia partilha dos
em verdade o momento da dissolução do bens. Trata-se de uma novidade trazida
casamento se torna a partir da sucessão pela jurisprudência e acolhida pelo art.
provisória, pois para a sucessão definitiva 1581 do CC e pela súmula 197 do STJ.
precisa esperar 11 anos (dando tempo de Art. 1.581. O divórcio pode ser concedido
se fazer 5 divórcios diretos). sem que haja prévia partilha de bens.
Os efeitos que decorrem da sucessão Súmula 197 do STJ: O divórcio direto pode
definitiva são os patrimoniais. ser concedido sem que haja previa partilha
O sistema brasileiro permite também a dos bens.
morte real sem cadáver (são aquelas Neste caso o patrimônio comum permanece
mortes decorrentes de desastres, em condomínio até que se promova a
catástrofes – art. 7º do CC e art. 88 da LRP). partilha dos bens, quando se aplicarão as
É possível cumular pedido de separação e regras do arts. 1320 e 1321 do Código Civil
divórcio? Ou de anulação de casamento que, por sua vez, remetem a partilha
com divórcio? Sim, esta cumulação será sucessória.
eventual.

106
Se estes cônjuges casarem de novo, o - Admite-se o reconhecimento de
regime será o da separação obrigatória (art. união estável se um deles já tiver separado
1523, III do CC). A falta da partilha de Benz de fato (art. 1723, parágrafo 1º do CC).
é uma causa suspensiva do casamento. - Reconhecimento da separação de
Uma vez feita a partilha, poderá haver o fato como cessação do regime de bens (art.
requerimento da alteração do regime de 1642, V do CC). Depois de 5 anos separados
bens (provando que cessou a causa que de fato, cessa o regime de bens, todavia o
obrigava a separação obrigatória). STJ não estabelece prazo algum para tal
- As ações de família se submetem efeito.
ao regime de revelia (art. 320, II do CPC). A - Cessa o direito a herança e a
revelia será declarada sem os seus habitação se na abertura da sucessão já
regulares efeitos, não induzindo, portanto, a havia a separação de fato há mais de 2
confissão ficta. anos (art. 1830 do CC). Este artigo deve ser
A desnecessidade de intimação do revel interpretado conjuntamente com o art.
para os atos subseqüentes decorrerá nas 1723 e este feito deverá acontecer
ações de família. independentemente de prazo, pois antes de
- Foro competente destas ações é o 2 anos pode o cônjuge sobrevivente já estar
do domicílio da mulher (art. 100, I do CPC). em união estável.
Professor entende que este dispositivo não Mesmo depois dos 2 anos o dispositivo
foi recepcionado pela Constituição Federal estabelece que a herança e a habitação se
(posição minoritária). Para o STJ tal manterá se o cônjuge sobrevivente provar
dispositivo é constitucional, seguindo o que a separação de fato não decorreu de
entendimento de Nelson Nery (entende que culpa sua. Um absurdo!!!!!!
a mulher está numa posição desvantajosa
no momento da dissolução). Regra de 4. Divórcio:
competência relativa. É a ruptura do vínculo conjugal. A
Esta regra não se aplica a separação e Constituição Federal de 1988 estabeleceu
divorcio consensuais que podem ser duas espécies de divorcio:
promovidas em qualquer cartório, - Por conversão: Ë antecedido de 1
independentemente do domicílio. ano de separação judicial.
- Intervenção obrigatória do - Direto: É aquele antecedido de 2
Ministério Público como custos legis (art. anos ininterruptos de separação de fato. Ou
82, II do CPC). O Ministério Público intervem seja, a reconciliação do casal interrompe a
em decorrência destas ações serem de fluência do prazo.
estado. Silvio Rodrigues diz que encontros
Com o advento da lei 11441/07 dispensou- esporádicos não implicam reconciliação.
se a intervenção do Ministério Público nas A doutrina brasileira vem admitindo o
separações e divórcios feitas em cartórios. divórcio direto mesmo na pendência da
Por uma interpretação sistemática, separação judicial.
entende-se que é dispensada a intervenção O requisito constitucional para ambos foi o
do Ministério Público nas separações e lapso temporal, portanto, de índole
divórcios quando presentes os mesmos objetiva.
requisitos da separação/divórcio em Assim, no sistema brasileiro não se admite
cartório, quais sejam: for consensual, não discussão de culpa ou de outras causas na
haver interesses de incapazes e ambos os ação de divórcio. Seu objeto é restrito, vez
cônjuges forem maiores e capazes. que é exclusivamente o lapso temporal.
Quem quer discutir culpa tem que
3. Efeitos da Separação de Fato: promover obrigatoriamente a ação de
Hoje, depois de uma experiência separação judicial.
jurisprudencial, o próprio Código Civil Superou-se o inciso II do parágrafo único do
reconheceu efeitos a separação de fato. art. 36 da lei do divórcio que permitia na
Obs.: Há uma PEC que pretende acabar contestação a alegação de culpa no divórcio
com a dualidade do sistema da separação e por conversão.
do divorcio unificando em um único O descumprimento de obrigações
procedimento, qual seja, o divórcio que será pactuadas na separação não tem o condão
independentemente de prazo. É o divórcio de obstar o divórcio por conversão.
uptura (dissolução do afeto = dissolução do
casamento). 5. Separação Judicial:
Os efeitos são: Tal qual o divórcio a separação judicial
- Computo do prazo para o divórcio poderá ser litigiosa ou consensual.
direto (2 anos de separação de fato). 5.1 Litigiosa:
Existe uma conflituosidade de vontades.

107
Art. 1.572. Qualquer dos cônjuges poderá Art. 1.573. Podem caracterizar a
propor a ação de separação judicial, impossibilidade da comunhão de vida a
imputando ao outro qualquer ato que ocorrência de algum dos seguintes motivos:
importe grave violação dos deveres do I - adultério;
casamento e torne insuportável a vida em II - tentativa de morte;
comum. III - sevícia ou injúria grave;
§ 1o A separação judicial pode também ser IV - abandono voluntário do lar conjugal,
pedida se um dos cônjuges provar ruptura durante um ano contínuo;
da vida em comum há mais de um ano e a V - condenação por crime infamante;
impossibilidade de sua reconstituição. VI - conduta desonrosa.
§ 2o O cônjuge pode ainda pedir a Parágrafo único. O juiz poderá considerar
separação judicial quando o outro estiver outros fatos que tornem evidente a
acometido de doença mental grave, impossibilidade da vida em comum.
manifestada após o casamento, que torne Não há taxatividade na indicação das
impossível a continuação da vida em causas culposas.
comum, desde que, após uma duração de Quais os efeitos da culpa? O
dois anos, a enfermidade tenha sido reconhecimento da culpa implica tão
reconhecida de cura improvável. somente:
§ 3o No caso do parágrafo 2o, reverterão ao • Excepcional perda do nome de
cônjuge enfermo, que não houver pedido a casado (art. 1578): Os requisitos
separação judicial, os remanescentes dos para tanto são: pedido expresso;
bens que levou para o casamento, e se o não implicar prejuízo para sua
regime dos bens adotado o permitir, a identificação; não prejudicar a
meação dos adquiridos na constância da identificação dos filhos; culpa
sociedade conjugal. grave.
A separação litigiosa poderá ser: • Modificação da natureza dos
- Separação Remédio (parágrafo 2º alimentos (art. 1704, parágrafo
supra): Ocorre quando um dos único): Serão prestados apenas os
cônjuges esteja acometido de uma alimentos necessários a
doença mental grave de cura subsistência. O reconhecimento da
improvável ou impossível. culpa não implica a perda dos
Depende de prazo (2 anos) + causa alimentos, modificando apenas a
(doença mental). natureza da obrigação alimentícia.
Se esta doença mental for manifestada Se a petição inicial não discutir nenhum dos
antes do casamento não será hipótese de efeitos citados faltará interesse de agir na
separação remédio. separação sanção.
Agora se a doença se manifestar depois, Com o advento do Código Civil houve a
mas já existia antes será caso de anulação diminuição das conseqüências da culpa,
de casamento por erro (art. 1257). pois a doutrina (Gustavo Tepedino, Maria
Esta separação é obsoleta, pois o Código Berenice etc) e a jurisprudência questionam
diz que aquele cônjuge que tomar iniciativa a constitucionalidade da culpa. Entende-se
(aquele que não está doente) perderá o que a permissão na discussão da culpa
direito sobre os bens particulares do outro. viola a privacidade, a liberdade e dignidade
Este dispositivo só se aplica se o casamento humana.
era sob o regime da comunhão universal Se tal discussão não for inconstitucional,
(que é o único que permite a comunhão de será inútil pois os efeitos não decorrem
bens particulares). diretamente da culpa.
- Separação Falência (parágrafo 1º A jurisprudência do TJ/RS é pacífica e o TJ
supra): Ocorre quando há a de outros Estados (BA, RJ, SP) e acórdãos
ruptura da vida conjugal há mais do STJ dispondo que a discussão de culpa é
de 1 ano. Submete-se a um duplo irrelevante.
requisito: prazo (1 ano) + causa Para os autores supracitados deveria retirar
(ruptura da vida em comum). Ex. do sistema brasileiro a separação sanção.
abandono do lar. O Código Civil acolheu em parte a posição
Silvio Rodriguez diz que esta ruptura pode- da doutrina vez que atenuou as suas
se dá ainda que os cônjuges vivam sob o conseqüências.
mesmo teto. E se o autor não provar a culpa (causa de
- Separação Sanção (caput supra): pedir)? Para o STJ esta não comprovação
Submete-se apenas ao requisito da implica tão somente em não acolhimento
culpa. A culpa é a violação de da imputação. O juiz irá separar o casal
dever conjugal ou conduta com base na insuportabilidade da vida
desonrosa. conjugal.

108
Para os processualistas clássicos seria o ratificação das cláusulas. Em seguida ouve-
caso de uma sentença nula (extra petita). se o Ministério Público e em seguida há a
A jurisprudência vem exigindo para o sentença.
reconhecimento de culpa recíproca a O acordo de divorcio e separação
presença da reconvenção. consensuais se torna irretratável depois da
O ordenamento jurídico restringe direitos no audiência (súmula 305 do STF).
1º ano do casamento. A única hipótese de O art. 34, parágrafo 2º da lei do divórcio
dissolução do casamento com a imputação torna esta súmula estranha pois este diz
de culpa. que o juiz poderá indeferir o pedido de
separação/divórcio consensual quando
5.2 Consensual: perceber que não há preservação suficiente
O CPC contempla um procedimento dos filhos ou se não resultar de vontade
especial de jurisdição voluntária para a livre e desembaraçada dos cônjuges.
separação consensual (arts. 1121 a 1124). Maria Berenice propõe uma interpretação
A doutrina e jurisprudência entendem que constitucional, alegando sua
este procedimento também se aplica ao inconstitucionalidade por ferir a liberdade
divórcio consensual. das partes.
Aqui se exige a inexistência de conflito.
Este procedimento pode ser obtido por 6. Separação e Divórcio Consensual
petição inicial conjunta ou através de em Cartório (art. 11441/07):
conversão do juiz na separação litigiosa. O art. 1124A do Código de Processo Civil
O sistema exige que o casal deverá estar permite a separação/divórcio consensual
casado em pelo menos 1 ano. Para o em cartório sem intervenção do Ministério
divórcio consensual os prazos são os Público e sem necessidade de homologação
constitucionais. judicial.
É preciso que estejam presentes os Art. 1.124-A. A separação consensual e o
requisitos do art. 1121: divórcio consensual, não havendo filhos
Art. 1.121. A petição, instruída com a menores ou incapazes do casal e
certidão de casamento e o contrato observados os requisitos legais quanto aos
antenupcial se houver, conterá: prazos, poderão ser realizados por escritura
I - a descrição dos bens do casal e a pública, da qual constarão as disposições
respectiva partilha; relativas à descrição e à partilha dos bens
Requisito mitigado pela súmula 197 do stj e comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao
pelo art. 1581 do código civil. acordo quanto à retomada pelo cônjuge de
II - o acordo relativo à guarda dos filhos seu nome de solteiro ou à manutenção do
menores e ao regime de visitas; (Redação nome adotado quando se deu o casamento.
dada pela Lei nº 11.112, de 2005) (Incluído pela Lei nº 11.441, de 2007).
Porque no nosso sistema direito de visita § 1o A escritura não depende de
não é dos pais e sim dos filhos. homologação judicial e constitui título hábil
III - o valor da contribuição para criar e para o registro civil e o registro de imóveis.
educar os filhos; (Incluído pela Lei nº 11.441, de 2007
IV - a pensão alimentícia do marido à § 2o O tabelião somente lavrará a escritura
mulher, se esta não possuir bens suficientes se os contratantes estiverem assistidos por
para se manter. advogado comum ou advogados de cada
§ 1o Se os cônjuges não acordarem sobre a um deles, cuja qualificação e assinatura
partilha dos bens, far-se-á esta, depois de constarão do ato notarial. (Incluído pela Lei
homologada a separação consensual, na nº 11.441, de 2007).
forma estabelecida neste Livro, Título I, § 3o A escritura e demais atos notariais
Capítulo IX. (Renumerado do parágrafo serão gratuitos àqueles que se declararem
único, pela Lei nº 11.112, de 2005) pobres sob as penas da lei. (Incluído pela
§ 2o Entende-se por regime de visitas a Lei nº 11.441, de 2007)
forma pela qual os cônjuges ajustarão a O uso da via administrativa depende dos
permanência dos filhos em companhia seguintes requisitos:
daquele que não ficar com sua guarda, - Assistência obrigatória por
compreendendo encontros periódicos advogado ou defensoria pública;
regularmente estabelecidos, repartição das - Capacidade de ambas as partes;
férias escolares e dias festivos. (Incluído - Inexistência de interesse de filhos
pela Lei nº 11.112, de 2005) incapazes;
Acresce a esta separação o requisito da Cristiano entende que a lei veda tão
regulamentação do uso do sobrenome. somente a separação/divórcio quando o
Recebida a inicial, há a audiência acordo versar sobre interesses de
obrigatória para tentativa de conciliação e incapazes. Mas se tais interesses já foram

109
regulamentados em juízo não há óbice. É A historia do direito e família é feita com a
uma posição minoritária. ruptura de valores. Por isto sua
- Acordo necessariamente deve compreensão depende do lugar e do tempo.
versar sobre partilha de bens, uso do Assim, a família do CC/16 é diferente da
sobrenome, e ajustes de alimentos. É atual. Os valores são distintos uma vez que
possível a inserção de outras clausulas a própria concepção de família evoluiu.
facultativas, quaisquer que sejam elas Os paradigmas do direito de família são
(desde que não sejam de direitos da modificados.
personalidade). O direito de família é um ramo que cuida as
A súmula 197 do STJ se aplica também a relações familiares afetivas.
separação/divórcio em cartório, podendo o No CC/16 o primeiro paradigma era que o
casal silenciar acerca da partilha de bens. direito de família era matrimonial. Só o
Manter ou não o sobrenome dependerá casamento fundava a família legítima.
exclusivamente da vontade do cônjuge que Além disto, a família era patriarcal, o chefe
adotou o sobrenome do outro. Trata-se de da família era o homem.
direito da personalidade. A família também era hierarquizada com a
Havendo renúncia dos alimentos esta será existência do pátrio poder.
válida e eficaz. A família era biológica. A adoção se
O tabelião lavrará a escritura pública. extinguia com a morte do adotante ou do
As partes podem dispor de gratuidade adotado para que apenas os filhos
neste procedimento tal qual a gratuidade biológicos tivessem direito sucessório.
em juízo dependerá apenas da declaração. A família era também heteroparental.
É a posição do STJ. Toda família nesta construção era
O uso da via administrativa é facultativa institucional. Ou seja, a família merecia
nos termos do CPC. Existem hipóteses de proteção por si mesmo e não pelas pessoas.
obrigatoriedade no uso da via judicial: A família merecia proteção apenas pelo fato
- Quando houver interesse de de ser família.
incapaz ou quando um dos cônjuges for Os novos referenciais do direito de família
incapaz; são:
- Quando o juiz obtiver a - Multiplicidade, deixando de ser
separação/divórcio consensual na exclusivamente matrimonial. Além dos
conversão do litigioso; casamentos há outras formas de família;
- Quando houver estipulação de - Democracia: homem mulher exercem com
obrigação alimentícia entre os cônjuges. igualdade seus direitos;
STJ entende neste sentido, pois só cabe a - Igualitária substancialmente: Nascendo as
prisão civil em alimentos estipulados justificativas ideológicas para a criação do
judicialmente. ECA e do Estatuto do Idoso;
Cristiano entende que deveria ser - Reconhecimento da possibilidade da
obrigatória alegando a falta de interesse de filiação a partir d afeto (desbioligização).
agir na ida ao Judiciário. - Hetero ou Homoparental: Dentro da
Não há intervenção do Ministério Público no homoparental está o caso da família
procedimento administrativo. monoparental.
Se o oficial do cartório recusar o Hoje a família é instrumental. Ou seja, hoje
procedimento será caso de procedimento não se prioriza o casamento. A felicidade é
de dúvida suscitada para o juiz da Vara dos o objetivo, sendo a família apenas o meio.
Registros Públicos sem prejuízo do uso do O direito de família protege as pessoas que
Mandado de Segurança. compõem a família.
O prazo de divórcio e o de separação Os pilares de sustentação desta nova
devem ser comprovados. Esta comprovação família são fé, ética, solidariedade e
pode se dar através de declarações das dignidade dos membros da família.
testemunhas. Não interessa o tipo de instituição e sim
Admite-se também a separação/divórcio por que as pessoas merecem proteção.
representação dos cônjuges. Obs.: Pais e filhos podem ser identificados
por três diferentes critérios (art. 1597):
Aula - Presunção: O filho de uma mulher casada
Data: 27/11/07 é presumidamente do marido dela. É um
critério exclusivo do casamento, não se
Evolução da Família e Paradigmas: aplicando a união estável (sem lógica). É
O direito de família sofre ingerência dos uma presunção relativa e a impugnação de
direitos sociais. Assim, o conceito de família paternidade é imprescritível.
é dinâmico.

110
A presunção de paternidade inicia-se 180 confundindo com o casamento e com a
dias a partir do casamento e vai até 300 união estável.
dias após seu término. O entendimento minoritário (Maria Helena
Presume-se também a paternidade dos Diniz e Gonçalves- sinopse) não reconhece
embriões excedentários. A lei de bio- a união homo-afetiva como instituição
segurança diz que o médico só é obrigado a familiar, sendo mera sociedade de fato.
guardar o embrião por 2 anos. O posicionamento majoritário é pela união
A presunção de paternidade atinge a homo-afetiva como idade familiar sob o
concepção biológica e a artificial. argumento de que o art. 226 é
Obs. Só tem capacidade sucessória (aptidão exemplificativo e includente.
para ser sucessor) aquele que tem O STF nunca se manifestou sobre a matéria.
personalidade na data da abertura da Já o STJ está para se manifestar em um
sucessão. As três exceções são: criação de pedido de reconhecimento de união homo-
fundação (pessoa jurídica constituída com o afetiva (voto do relator favorável).
patrimônio a ser transmitido); nascituro e O TSE no voto de Gilmar Mendes foi pela
prole eventual ou concepturo com inelegibilidade eleitoral alcança a união
testamento o beneficiando. homo-afetiva.
- Biológico: Verificado através do DNA. O STJ já se manifestou pela partilha de
O DNA não é obrigatório (STF) em função patrimônio comum, mas estes julgados não
da garantia da privacidade. servem porque o tribunal não se manifestou
A recusa ao DNA gera presunção relativa da sobre a entidade familiar. A partilha do
paternidade (súmula 301 do STJ). patrimônio comum é normal a qualquer
O beneficio da justiça gratuita abrange sociedade.
também o DNA (art. 3 da lei 107). Família reconstituída ou ensamblada: São
Se a parte não requerer o DNA o juiz deverá as relações decorrentes do refazimento
determinar de ofício. familiar. São as pessoas que são
O STJ vem entendendo que se o processo divorciadas e se restabelecem (homem
chegar em recurso especial sem a divorciado com filho se casa com uma
determinação de ofício e sem requerimento mulher divorciada com filha).
da parte, o STJ deverá converter o feito em A única coisa que está impressa no CC é o
diligencia para que o juiz de primeiro grau impedimento matrimonial decorrente da
determine. família reconstituída.
O STJ entende que o PJ não pode compelir o Os impedimentos matrimoniais se manem
PE a pagar o exame de DNA (sem lógica p/ mesmo com o fim do casamento.
variar). Entende que sempre que não for A doutrina propugna por outros efeitos, por
possível o DNA (sem recusa da parte) o juiz exemplo, alimentos (Maria Berenice: pedir
deverá julgar com base em prova alimentos ao padrasto), direito de visitas e
testemunhal. irmãos por afinidade como impedimento
- Sócio-afetivo: O juiz determinará a filiação matrimonial (mesmo ambiente familiar).
com base no afeto que une e determina a
filiação. Só poder ser alegado para 2. Igualdade entre Homem e Mulher:
determinar a filiação e não para negá-la. Marido e mulher são iguais em direitos e
Nenhum dos critérios possui prioridade deveres.
axiológica. A prevalência de um dependerá O art. 100 do CPC que trata do foro
do caso concreto. privilegiado da mulher para ações de
divórcio e de anulação de casamento,
Princípios Constitucionais do Direito de segundo Câmara, não foi recepcionado pela
Família: CF.
1. Pluralidade das Entidades O STJ acolheu o entendimento de Nelson
Familiares: Nery vem entendendo que este artigo é
É o caput do art. 226 da CF. Os seus constitucional sob o argumento da
parágrafos são exemplificativos. igualdade substancial.
A família, seja qual for o seu modelo, está
protegida pelo Estado. 3. Igualdade entre os Filhos:
Uma conseqüência desta nova concepção é Possui duas vertentes:
a ampliação da proteção do bem de família. - Igualdade patrimonial: Não pode haver
Hoje até a pessoa que mora sozinha (single discriminação sucessória.
– família unipessoal) tem proteção do bem - Igualdade existencial: Possibilidade de
de família segundo o STJ. reconhecimento da filiação sócio-afetiva.
São família também as uniões homo-
afetivas (união erótica ou parceria), não se 4. Facilitação da Dissolução do
Casamento:

111
A partir da lei do divorcio foi admitido a O STJ no RESP 757411/MG negou a
dissolução de casamento em caráter indenização, ou seja, concorda com a
excepcional. segunda posição.
Para a CF a liberdade de casar deve
corresponder a liberdade de não Abuso do Direito no Direito de Família:
permanecer casado. A concepção de ato ilícito é subjetiva por
A não comprovação da causa de pedir depender da culpa em lato senso (dolo ou
alegada na inicial da petição de separação culpa que o Direito Civil não faz distinção).
não implica improcedência do pedido. O juiz O art. 187, por sua vez, traz um novo tipo
deverá dissolver o casamento com base na de ilicitude. Ao lado do ato ilícito clássico o
insuportabilidade da vida comum CC não exigiu o elemento subjetivo.
(jurisprudência dominante do STJ). A doutrina apelidou o ato ilícito objetivo do
Outro efeito deste princípio é o isolamento art. 187 de abuso do direito que implica
da culpa. A culpa na dissolução somente responsabilidade objetiva (vez que
produz duas conseqüências: excepcional independe de culpa).
perda do nome de casado (art.1578) e a Assim, mesmo quando o titular não tenha
modificação da natureza dos alimentos intenção ele poderá cometer ato ilícito
(apenas para subsistência – art. 1704, quando abusar do direito. É o exercício
parágrafo único). irregular do direito. É exercer o direito
Alguns autores defendem a excedendo os limites impostos pela boa fé e
inconstitucionalidade da redução da culpa pela função social.
por violar a privacidade. O leading case deste ato ilícito ocorreu na
Franca.
5. Filiação Responsável e O abuso do direito é uma clausula geral
Planejamento Familiar: cujos contornos só podem ser precisados no
No Brasil planejamento familiar ficou caso concreto.
restrito ao controle de natalidade (lei Abuso de direito é matéria de ordem
9263/96). pública, logo se tal abuso for numa relação
Requisito para se submeter ao controle de negocial haverá uma nulidade (art. 51 do
natalidade pelo SUS: maior de 25 anos ou CDC). Dispõe neste sentido a súmula 130
com dois ou mais filhos vivos e intervalo do STJ.
mínimo de 60 dias entre a data da Qualquer tipo de direito pode ser exercido
manifestação de vontade e do abusivamente.
procedimento cirúrgico. Os efeitos do abuso do direito, seja no CC
Paternidade responsável é a exigência da ou no CDC, são os mesmos.
responsabilidade patrimonial e pessoal dos O fundamento axiológico do abuso do
pais sobre os filhos. direito é a boa fé objetiva. É a boa fé de
Discute-se segundo este princípio a comportamento.
possibilidade de responsabilidade civil entre O abuso do direito também se aplica nas
pai e filho. É possível cobrar dano moral de relações de família. São exemplos:
um pai que não gosta do filho? 1. Exercício do poder familiar: pai e mãe no
Negativa de afeto gera ou não o dano exercício do poder familiar não podem
moral? obstar direito de visitas de avós.
Há a responsabilidade civil no direito de 2. Mudança de regime de bens se houver a
família sempre que houver ao ilícito na vontade de ambos os cônjuges com
forma do art. 186 do CC. autorização judicial ouvido o MP em
A dúvida é se a negativa de afeto gera procedimento de jurisdição voluntária e
ilicitude. desde que não cause prejuízos a eles
Parcela de autores entende que a negativa mesmos e a terceiros (art. 1639, parágrafo
de afeto geraria ilicitude e, 2). A mudança tem efeito ex nunc para
consequentemente, dano moral. proteger a boa fé objetiva.
Gustavo Tepedino entende que não gera O art. 2039 do CC diz que o regime de bens
dano moral porque dar ou não afeto não nos casamentos celebrados na vigência do
estaria enquadrado na negativa da CC anterior é o por ele estabelecido
personalidade. É também a posição de insinuando a impossibilidade de mudança
Cristiano (afeto não pode ser de regime. Todavia não é este o
patrimonializado). entendimento. O artigo refere-se a
Cristiano aduz então que entender no validade. No que tange a eficácia do
sentido contrario implicaria também o casamento (relação continuativa) passa a
questionamento do padrão de qualidade do observar a lei nova.
afeto. O STJ confirmando a posição doutrinária
dispôs que é possível a mudança de regime

112
de bens mesmos para as pessoas que É o próprio vennire aplicado no âmbito
casaram antes do CC/02. negocial.
As modalidades de abuso do direito são: Nos contratos enquanto um contrante não
- Venire contra factum próprio: cumprir suas obrigações não pode exigir a
Proibição de comportamento contraditório. obrigação do outro. É a generalização da
É a teoria dos atos próprios do direito exceção de contrato não cumprido para
público. qualquer contrato.
Cristiano denomina o venire de tutela da A exceção do contrato não cumprido só é
confiança. aplicada nos contratos bilaterais e
Ocorre quando a pessoa cria em outrem a onerosos. É uma modalidade de tu coque.
confiança de que não irá exercer A exceção do contato não cumprido é tácita
determinado direito e de repente, de modo podendo ser afastada pela cláusula solve et
surpreendentemente, o exerce. Protege a repet. Com esta clausula se permite que
boa fé objeiva. qualquer dos contrates exija o cumprimento
É diferente de “ninguém pode se valer da do outro independentemente de ter ou não
própria torpeza” que protege a boa fé cumprido a sua parte.
subjetiva. Obs: outras aplicações da boa fé objetiva no
O STJ no RESP 93539/SP dispõe sobre o direito de família:
venire. Toda relação de família traz efeitos
O art. 1707 do CC que trata da existências e patrimoniais e a confiança se
irrenunciailidade de alimentos. Se mulher aplica a ambos os efeitos.nas relações
renuncia alimentos no divórcio e depois vai existenciais a confiança se chama afeto e
cobrar alimentos alegando o art. 1707. nas patrimoniais se chama boa fé objetiva.
No momento em que ela renuncia os Por exemplo, enteado pode acrescer nome
alimentos cria a expectativa de que não vai do padrasto (RESP 66643/SP). É a confiança
mais cobrá-los. sob forma de afeto.
O STJ entende que a renuncia de alimentos Prova de marcar: não existe união estável
ente cônjuges é válida e eficaz. Somente putativa porque só pode ser união estável o
não podem ser renunciados os alimentos que pode ser convertido em casamento.
entre parentes. Únicas exceções: separado de fato e
A preclusão lógico no processo civil a separado judicialmente podem ser união
depender do caso concreto pode ser um estável mesmo impedida de casar.
venire. Mas a pessoa pode estar em união estável
com uma pessoa casada. Aqui a violação da
- Supressio/Surrectio: boa fé implica a união estável putativa. É a
São o verso e reverso de uma mesma tese da Maria Berenice.
moeda e constituem um tipo especifico de No âmbito patrimonial – exemplos:
venire. - Efeito jurídico da separação de fato:
Aqui há uma criação de que um Pessoa separada de fato que constitui novo
determinado direito não será exercitado patrimônio. O art. 1642, V diz que os bens
porque o titular permite que este direito adquiridos depois da separação de fato até
será exercido por alguém. Então ele cria em o prazo de 5 anos (prova de marcar). Só
alguém a expectativa de que este alguém que o STJ entende que a simples separação
irá exercer um direito que é seu e em seu de fato em nome da boa fé objetiva é
lugar. suficiente para cessar o regime de bens.
Para o titular ocorre supressio e para o - Concessão de fiança ou aval sem
terceiro ocorre surrectio. consentimento do cônjuge: A anulação
Exemplos: prejudica o credor, por isto o STJ entende
* Art. 330 do CC: Pagamento reiterado em que não gera a anulabilidade e sim a
outro local faz presumir ao credor a ineficácia. Ou seja, ajuizada a ação não se
renuncia do que dispõe o contrato. anulará a fiança/aval, mas e declarará a
Supressio para o credor e surrectio para o ineficácia em relação aos bens do cônjuge
devedor. que não autorizou.
* Condomínio edilício: Condomínio permite Súmula 332 do STJ: a fiança prestada sem
que o condômino use uma área comum e autorização de um dos cônjuges implica a
depois de 10 anos quer tirar. ineficácia total da garantia.
Condomínio cria a expectativa de um direito - Perda de uma chance: Uma nova
para o condômino. Há a supressio para o categoria do dano que relativiza o nexo
condomínio. causal do art. 403. Ex. candidato a concurso
que em virtude de um atraso de vôo perde
- Tu coque: a prova. Como a vitória no concurso não é

113
certa, ele receberá a indenização por 3. Procedimento de Inventário:
perder uma chance. Este procedimento no Brasil é obrigatório.
Perda de uma chance é a indenização pela In venire em latim significa localizar os bens
subtração de uma oportunidade de tentar deixados para declarar a transmissão.
algo ou de eliminar um dano. Outro No CPC o procedimento do inventário está
exemplo é o advogado que culposamente em um procedimento especial de jurisdição
perde um prazo de recurso. contenciosa. Ainda que as partes acordem,
a jurisdição é contenciosa.
Aula Hoje pode ser feito em cartório quando se
Data: 27/12/07 tratarem de partes maiores, capazes e seja
esta a vontade. É uma partilha amigável
Inventário e Partilha: através de escritura pública.
1. Morte e seus efeitos: Através do inventário há a partilha dos bens
A morte no Brasil submete-se a um critério e o pagamento das dívidas.
(lei 9434/97) encefálico. A lei 6858/80, regulamentada pelo Decreto
No instante em que se der a morte, abre-se 858451/81, prevê o alvará judicial. Este é
automaticamente a sucessão (regra de um procedimento de jurisdição voluntária
saivini): através do qual permite-se as partes a não
Art. 1784:Aberta a sucessão, a herança realização do inventário, desde que o
transmite-se, desde logo, aos herdeiros falecido tenha deixado unicamente valores
legítimos e testamentários. pecuniários depositados a que título for e
De acordo com Saivini a morte é o esta quantia não seja superior a 500 OTN
momento da sucessão. Assim o inventário e (+- R$ 20.000,00). É uma exceção a
a partilha só possuem efeitos declaratórios, obrigatoriedade do inventário.
uma vez que a transmissão se operou com O alvará é um procedimento substitutivo do
a morte. São declaratórios da constituição inventário. É sua facilitação.
do patrimônio. Cristiano entende que é possível o
Este princípio implica uma mutação levantamento com base no art. 5º da LICC é
subjetiva automática dos bens do falecido. possível o levantamento do inventário de
A vontade do falecido prevalece em três bens desde que sejam limitados a R$ 20.
casos: testamento, codicilo e ato de 000,00. é uma interpretação construtiva,
disposição de última vontade. pois pela letra da lei só se pode levantar
por alvará judicial quantias pecuniárias.
2. Herança X Espólio X Inventário X Partilha: Pode haver ainda o Alvará incidental dentro
O art. 80 do CC confirma que a herança é do inventário. São levantamentos de
um bem imóvel, universal e indivisível quantias dentro do inventário. Este alvará
(mesmo quando composta de bens móveis, concedido dentro do inventário nada mais é
singulares e divisíveis), consistente no do que uma antecipação de tutela.
conjunto de relações patrimoniais O inventário é um procedimento judicial
transmitidas pelo falecido. É uma dividido em duas fases:
universalidade. 1ª Inventário Propriamente Dito:
A herança é o complexo de relações Arrolamento dos bens. Esta fase pode ser
econômicas titularizadas pelo falecido. simplificada. Esta simplificação, por sua
Processualmente a herança é representada vez, pode assumir a feição de arrolamento
pelo espólio. comum ou de arrolamento sumário.
O espólio só representa a herança nas Quando se apresentar como arrolamento
relações patrimoniais. Uma ação de sumário estaremos nos arts. 1031 e 1032
investigação de paternidade pós morte, por do CPC e o arrolamento comum no art.
ser uma relação jurídica existencial, deverá 1036.
ser proposta contra os próprios herdeiros. O arrolamento será sumário quando todos
O inventário é um procedimento judicial os herdeiros forem maiores e capazes e
obrigatório pelo qual se pretende extinguir estiverem de acordo com a partilha,
a universalidade patrimonial (herança) independentemente do valor a ser
através das cotas. transmitido. O juiz vai direto para a
O inventário tende a descrever os bens e segunda fase, não havendo a participação
sequência partilhá-los. do MP.
Sucessão é a sub-rogação subjetiva por O arrolamento comum está restrito a um
força da morte de seu titular. Podendo se valor.
dar a título universal (herança) e singular Art. 1.036. Quando o valor dos bens do
(legado: bem certo e determinado deixado espólio for igual ou inferior a 2.000 (duas
para pessoa certa e determinada). mil) Obrigações do Tesouro Nacional - OTN,
o inventário processar-se-á na forma de

114
arrolamento, cabendo ao inventariante O juízo do inventário dirimirá todas as
nomeado, independentemente da situações de fatos e de direitos, uma vez
assinatura de termo de compromisso, que ali se instala o juízo universal. Só não
apresentar, com suas declarações, a decidirá as questões de alta de indagação,
atribuição do valor dos bens do espólio e o como por exemplo a qualidade de
plano da partilha. (Redação dada pela Lei herdeiros, ou aquelas para as quais não
nº 7.019, de 31.8.1982) possua competência.
§ 1o Se qualquer das partes ou o Ministério Art. 984 do CPC. O juiz decidirá todas as
Público impugnar a estimativa, o juiz questões de direito e também as questões
nomeará um avaliador que oferecerá laudo de fato, quando este se achar provado por
em 10 (dez) dias. (Incluído pela Lei nº documento, só remetendo para os meios
7.019, de 31.8.1982) ordinários as que demandarem alta
§ 2o Apresentado o laudo, o juiz, em indagação ou dependerem de outras
audiência que designar, deliberará sobre a provas.
partilha, decidindo de plano todas as O prazo do inventário está no art. 983 do
reclamações e mandando pagar as dívidas CPC:
não impugnadas.(Incluído pela Lei nº 7.019, Art. 983. O processo de inventário e
de 31.8.1982) partilha deve ser aberto dentro de 60
(sessenta) dias a contar da abertura da
§ 3o Lavrar-se-á de tudo um só termo, sucessão, ultimando-se nos 12 (doze)
assinado pelo juiz e pelas partes presentes. meses subseqüentes, podendo o juiz
(Incluído pela Lei nº 7.019, de 31.8.1982) prorrogar tais prazos, de ofício ou a
§ 4o Aplicam-se a esta espécie de requerimento de parte. (Redação dada pela
arrolamento, no que couberem, as Lei nº 11.441, de 2007).
disposições do art. 1.034 e seus parágrafos, Este prazo de 60 dias é impróprio, não
relativamente ao lançamento, ao sendo nem de prescrição, nem decadência,
pagamento e à quitação da taxa judiciária e nem preclusão.
do imposto sobre a transmissão da A consequência da abertura de inventário
propriedade dos bens do espólio. (Incluído fora deste prazo de 60 dias é uma multa
pela Lei nº 7.019, de 31.8.1982) fiscal que dependerá da legislação de cada
§ 5o Provada a quitação dos tributos estado.
relativos aos bens do espólio e às suas Neste sentido a súmula 542 do STF: Não é
rendas, o juiz julgará a partilha. (Incluído inconstitucional a multa instituída pelo
pela Lei nº 7.019, de 31.8.1982) Estado-Membro, como sanção pelo
Arrolamento sumário e comum não são retardamento do início ou da ultimação do
novos procedimentos e sim simplificações inventário.
da primeira fase. Esta multa só pode ser aplicada se houver
2ª Partilha: culpa da parte.
A competência para processar e julgar o Esta multa também só pode ser aplicada se
inventário é exclusiva da justiça brasileira o juiz não prorrogar tais prazos conforme o
para bens situados no Brasil segundo o art. art. 983 dispõe.
89, II do CPC. Todavia, a lei a ser aplicada Se o inventário não for requerido no prazo
não será necessariamente a brasileira, de 60 dias o juiz deverá requerer de ofício.
conforme o art. 10 da LICC. É uma exceção ao princípio da inércia.
Em favor do herdeiro brasileiro aplica-se
sempre a lei mais favorável. 4 Legitimidade:
O STJ não homologa sentença estrangeira Art. 987. A quem estiver na posse e
de partilha de bens situados no Brasil. administração do espólio incumbe, no prazo
A regra de competência exclusiva da justiça estabelecido no art. 983, requerer o
brasileira não se aplica para partilhe inter inventário e a partilha.
vivos. Parágrafo único. O requerimento será
Na competência interna se aplica o art. instruído com a certidão de óbito do autor
1.785 do CC: A sucessão abre-se no lugar da herança.
do último domicílio do falecido. Art. 988. Tem, contudo, legitimidade
Se houver a pluralidade de domicílios do concorrente:
falecido aplica-se a regra da prevenção. I - o cônjuge supérstite; (por possuir
Se o falecido não tinha domicílio a interesse meatório e sucessório).
competência será do local do óbito ou de Cristiano aduz a legitimidade também do
qualquer lugar em que ele tinha bens. companheiro, uma vez que este também
A competência interna é territorial, logo possui direito a meação e a herança.
relativa, ou seja, o juiz não pode reconhecer II - o herdeiro; (legítimo ou testamentário)
de ofício (súmula 33 do STJ). III - o legatário;

115
IV - o testamenteiro; (pessoa nomeada pelo Se várias pessoas estiverem na posse,
testador para fazer cumprir a sua vontade – todos eles serão administradores
somente na sucessão testamentária e provisórios.
quando houver indicação, uma vez que esta Eventualmente, o inventariante pode não
indicação não é obrigatória) ser herdeiro ou legatário. Em razão disto,
Se o testamenteiro não for nem herdeiro na hipótese dativo ou judicial (ou seja não
nem legatário ele terá direito a uma ter interesse no espólio) a representação do
remuneração denominada prêmio ou espólio será feito por todos eles (tem que
vintenda. citar todos- art. 12 do CPC).
V - o cessionário do herdeiro ou do legatário O rol do inventariante está no art. 990 do
(o cessionário não tem direito de reclamar CPC. Este rol é taxativo e preferencial,
evicção, uma vez que o negócio é aleatório) todavia a jurisprudência dispõe que o juiz
Vl - o credor do herdeiro, do legatário ou do pode inverter o rol, desde que
autor da herança; justificadamente.
Vll - o síndico da falência do herdeiro, do Incapaz pode ser inventariante desde que
legatário, do autor da herança ou do representado ou assistido. Já a pessoa
cônjuge supérstite; jurídica não pode ser inventariante.
Vlll - o Ministério Público, havendo No caso de inventários conjuntos (morre o
herdeiros incapazes; marido e no decorrer do seu inventário
IX - a Fazenda Pública, quando tiver morre a mulher) o inventariante deverá ser
interesse. sempre o herdeiro comum a ambos os
Art. 989. O juiz determinará, de ofício, que inventários.
se inicie o inventário, se nenhuma das Art. 990. O juiz nomeará inventariante:
pessoas mencionadas nos artigos I - o cônjuge sobrevivente casado sob o
antecedentes o requerer no prazo legal. regime de comunhão, desde que estivesse
convivendo com o outro ao tempo da morte
5. Valor da Causa: deste;
A meação do cônjuge sobrevivente não é Obs.: O novo CC reconhece direito a
computado no valor da causa, uma vez que herança ao cônjuge casado sob regime de
não é transmitida, já pertencendo ao separação.
cônjuge sobrevivente de acordo com seu E súmula 377 do STF dispõe: No regime de
regime de bens. separação legal de bens, comunicam-se os
Sobre este valor incide as custas. adquiridos na constância do casamento.
II - o herdeiro que se achar na posse e
6. Questões de Alta Indagação: administração do espólio, se não houver
O juízo do inventário, segundo o art. 984 do cônjuge supérstite ou este não puder ser
CPC, não resolve as questões de alta nomeado;
indagação. III - qualquer herdeiro, nenhum estando na
Tais questões são questões de alta posse e administração do espólio;
complexidade fática. IV - o testamenteiro, se Ihe foi confiada a
Vedação ao non linquet significa que o juiz administração do espólio ou toda a herança
não pode deixar de julgar alegando estiver distribuída em legados;
desconhecimento da lei. V - o inventariante judicial, se houver;
A decisão que reconhece uma questão VL - pessoa estranha idônea, onde não
como alta indagação desafia agravo de houver inventariante judicial.
instrumento. Parágrafo único. O inventariante, intimado
Um exemplo de questão de alta indagação da nomeação, prestará, dentro de 5 (cinco)
é a comoriência (que só ocorre entre dias, o compromisso de bem e fielmente
pessoas que possam transmitir direitos desempenhar o cargo.
entre si). O inventariante, uma vez nomeado, tem
que prestar compromisso no prazo de 5
7. Inventariante: dias e o advogado pode prestar este
É o administrador e o representante do compromisso.
Espólio em juízo e fora dele. Atribuições do inventariante:
Não existem direitos diferenciados e tão Art. 991. Incumbe ao inventariante:
pouco qualificação para o inventariante. I - representar o espólio ativa e
Da decisão que nomeia o inventariante passivamente, em juízo ou fora dele,
cabe agravo. observando-se, quanto ao dativo, o disposto
Enquanto não for nomeado o inventariante no art. 12, § 1o;
o espólio será representado e administrado II - administrar o espólio, velando-lhe os
pelo administrador provisório que será bens com a mesma diligência como se seus
aquele que estiver na posse dos bens. fossem;

116
III - prestar as primeiras e últimas 7. Fase de avaliações na forma dos
declarações pessoalmente ou por arts. 681 a 683 do CPC;
procurador com poderes especiais; 8. Recolhimento de tributos (súmula
IV - exibir em cartório, a qualquer tempo, 112 do STF) e pagamentos de
para exame das partes, os documentos dívidas;
relativos ao espólio; O credor pode se habilitar ou propor ação
V - juntar aos autos certidão do testamento, autônoma (FP obrigatoriamente tem que
se houver; propor a execução fiscal).
Vl - trazer à colação os bens recebidos pelo 9. Últimas declarações;
herdeiro ausente, renunciante ou excluído; 10. Prazo de 10 dias para os demais
Vll - prestar contas de sua gestão ao deixar interessados impugnar as últimas
o cargo ou sempre que o juiz Ihe declarações;
determinar; 11. Partilha
Vlll - requerer a declaração de insolvência Súmula 114 do STF: O imposto de
(art. 748). transmissão "causa mortis" não é exigível
Art. 992. Incumbe ainda ao inventariante, antes da homologação do cálculo.
ouvidos os interessados e com autorização Súmula 115 do STF: Sobre os honorários do
do juiz: advogado contratado pelo inventariante,
I - alienar bens de qualquer espécie; com a homologação do juiz, não incide o
II - transigir em juízo ou fora dele; imposto de transmissão "causa mortis".
III - pagar dívidas do espólio;
IV - fazer as despesas necessárias com a Aula 10
conservação e o melhoramento dos bens do Data: 20/12/08
espólio.
O art. 992 exige a autorização do juiz por Sucessão Testamentária:
repercutir no patrimônio de terceiros. Sem 1. Introdução:
esta autorização o ato é nulo, sem prejuízo A sucessão testamentária tem caráter
das penalidades ao inventariante e sua residual porque só incide sobre o que
destituição. restou da sucessão legítima.
Obs.: Remoção X Destituição: A pessoa só pode dispor de 50% do seu
Remoção é uma punição aplicada ao patrimônio por testamento. Tem-se que
inventariante por ter descumprindo alguma proteger a legítima.
função. Pode ser aplicada de ofício Testamento é um negócio jurídico pelo qual
Na destituição o juiz afasta o inventariante o seu titular dispõe do seu patrimônio para
por haver alguma incompatibilidade com o depois da morte.
exercício do cargo. O conceito de testamento do CC velho é
Da decisão de remoção e de destituição incompleto. A lei não deve dar conceitos,
cabe agravo. estes devem ser trabalhados e construídos.
A decisão que destitui ou remove deve Pode haver no testamento outras
nomear outro inventariante. manifestações de vontade, como por
O art. 998 obriga o inventariante removido exemplo o reconhecimento de um filho.
ou destituído entregar a posse e a Cada uma das manifestações de vontade
administração de todos os bens do espólio possui efeitos autônomos. Ou seja, a
sob pena de busca e apreensão ou imissão eventual nulidade, anulabilidade ou
na posse. revogação de uma parte do testamento não
Caso o inventariante não restitua a coisa afetará a outra.
pode-se falar em prisão civil? Não, por não As regras dos negócios jurídicos em geral
se tratar de depósito. disciplinam a parte não patrimonial do
A remoção não implica afastamento do testamento.
direito sucessório do inventariante.
2. Características:
8 Procedimento do Inventário Comum: É um negócio personalíssimo (considerado
1. Petição inicial pelos legitimados; as características pessoais de quem elabora
2. Nomeação do inventariante; e quem recebe) e unilateral (somente
3. Prestação do compromisso em 5 depende a declaração de vontade para uma
dias; parte e só gera obrigação para uma delas).
4. Primeiras declarações em 10 dias; Todo e qualquer testamento conjuntivo
5. Citações (MP somente será intimado (testamento simultâneo, recíproco ou co-
se houver incapaz ou declarações de respectivo) é nulo. O testador não pode
última vontade); deixar que
6. Prazo de impugnações (art. 1000 do É um negócio jurídico solene, revogável e
CPC) de 10 dias; causa morte.

117
O direito brasileiro proibiu o pacto Art. 1.802. São nulas as disposições
sucessório, ou seja, a sucessão contratual testamentárias em favor de pessoas não
(art. 426 do CC). É a vedação ao pacto legitimadas a suceder, ainda quando
corvina. simuladas sob a forma de contrato oneroso,
O CC permite, todavia, as doações anti- ou feitas mediante interposta pessoa.
nupciais entre cônjuges. Parágrafo único. Presumem-se pessoas
interpostas os ascendentes, os
3 Pressupostos: descendentes, os irmãos e o cônjuge ou
Para que haja a sucessão testamentária é companheiro do não legitimado a suceder.
preciso alguns elementos:
− Limite da legítima (50%) cujo cálculo 4. Espécies de testamento:
ocorre no momento da abertura da No direito brasileiro há duas formas de
sucessão sobre o patrimônio líquido testamento: ordinários e especiais.
existente;
− Respeito às formalidades; Testamentos ordinários podem apresentar
− Capacidade testamentária (de quem três diferentes fases: público, cerrado ou
elabora e de quem recebe). particular.
Os especiais podem ser
A capacidade testamentária ativa é aferida marítimo/aeronáutico ou militar.
no momento da elaboração do testamento
e a passiva na abertura da sucessão. 4.1 Testamento Público:
A capacidade testamentária difere da É aquele elaborado de viva voz, que
capacidade jurídica. decorre de uma manifestação de vontade
A capacidade testamentária ativa é verbal perante uma autoridade pública
adquirida aos 16 anos e o testador tem que (qualquer servidor com função notarial, por
estar no gozo de suas faculdades mentais. exemplo, os cônsules).
Já a passiva se desdobra na capacidade Cegos e analfabetos só podem elaborar
para suceder (aquele que pode receber a testamento sob a forma pública.
herança, ou seja, aquele que tem sobrevida A autoridade pública reduz a termo a
ao falecido; com exceção das pessoas declaração de vontade em registra em livro
jurídicas a serem constituídas com o próprio.
patrimônio do falecido – fundação-o Após reduzir a termo a autoridade lê e
nascituro e a prole eventual) e a todos assinaram a ata. Se o testador for
observância das limitações do art. 1801: cego ou analfabeto uma pessoa assinará a
Art. 1.801. Não podem ser nomeados seu rogo.
herdeiros nem legatários: O conteúdo deste testamento deve ser
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o elaborado em português e é acessível a
testamento, nem o seu cônjuge ou todos.
companheiro, ou os seus ascendentes e
irmãos; 4.2 Cerrado:
II - as testemunhas do testamento; É o testamento de conteúdo sigiloso.
III - o concubino do testador casado, salvo É elaborado pelo testador e lacrado. Após é
se este, sem culpa sua, estiver separado de entregue ao oficial público para que ele
fato do cônjuge há mais de cinco anos; certifique a entrega e o guarde.
Este inciso há um erro pois pode-e É elaborado unilateralmente pelo testador e
caracterizar uma união estável de um ele deixa sigiloso até a abertura da
separado de fato, independentemente de sucessão.
prazo. Logo, neste caso não será concubina Só o juiz pode abri-lo e e alguém o
e não implicará esta vedação. dilacerou, automaticamente, ocorre a
O homem casado não pode testar para os caducidade.
ascendentes da concubina ou para os Pode ser elaborado pelo surdo-mudo mas
descendentes unicamente dela. Se os filhos não pelo cego e analfabeto.
também forem dele ele poderá testar em Pode ser feito por quem sabe ler mas não
seu favor, uma vez que a CF proíbe toda e pode ou não sabe escrever.
qualquer discriminação entre os filhos.
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o 4.3 Particular:
comandante ou escrivão, perante quem se É o único testamento que exige três
fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testemunhas (todos os outros exigem 2).
testamento. É um testamento de forma livre.
O art. 1802, parágrafo único também O particular pode ser em língua estrangeira
estabelece uma presunção de simulação: deste que as três testemunhas conheçam a
língua estrangeira.

118
A novidade do novo CC é a possibilidade de Somente quem tem capacidade
elaboração de testamento sem testemunha testamentária pode elaborar codicilo.
quando ele declara na cédula testamentária
que ele se encontra em determinada 6. Cláusulas Testamentárias:
circunstância em face da qual não existe São cláusulas que constituem o patrimônio
qualquer testemunha. Se comprovada a do falecido.
circunstância, o juiz poderá homologar o São os benefícios patrimoniais que o
testamento. testador deixou em favor de alguém.
Tais cláusulas podem ser puras e simples
4.4 Marítimo/Aeronáutico: ou submetidas a elementos acidentais.
Elaborado a bordo de embarcações ou O testamento admite encargo, condição,
aeronaves que estejam em viagens. mas não admite termo pois esta admissão
Elaborado por uma pessoa que não pode implicaria em uma violação no caráter
esperar o desembarque. Ela irá elaborar o perpétuo da propriedade, criando uma
testamento de forma pública ou cerrada e espécie de propriedade resolúvel não
entrega ao comandante. prevista em lei.
Exige duas testemunhas. Quando submetida a condição, o
Este testamento ficará registrado no livro herdeiro/legatário somente quando
de bordo da embarcação ou aeronave cumprida a condição poderá reclamar o
assinalando sua existência. benefício. Antes deste cumprimento não há
Só se justifica este testamento se houver que se falar em aquisição de direitos.
uma situação de perigo. Admite-se cautelar para preservar o
benefício caso a condição ainda não tenha
4.5 Militar: sido cumprida.
Elaborado por pessoa que está em preça Caução Mussiana é uma garantia real ou
sitiada ou em tempo de guerra. fidejussória prestada pelo interessado em
Pode ser feito por militares ou civis. receber, de logo, o benefício que está
Será elaborado também de forma pública submetido a condição.
ou cerrada e entregue ao comandante que Não são permitidas as cláusulas
irá registrar a ocorrência em livro próprio. derrogatórias (aquela que retira a
Obs. O testamento especial caducará se possibilidade de revogação do testamento)
não houver a morte do testador na ou aquelas que violem o caráter
circunstância especial ou se ele não ratificar personalíssimo do testamento. Tais
em 90 dia depois de fina esta circunstância. cláusulas são nulas.
Obs. Testamento Nuncupativo: Assim como É possível cláusula com beneficiário
o CC permite o casamento nuncupativo, ele indeterminado porém determinável e
permite uma hipótese de testamento cláusula com motivo determinado
nuncupativo, qual seja, o militar. O testador (beneficia alguém em razão de determinado
está morrendo (tem que está ferido em motivo, comprovado a falsidade do motivo
combate) e de viva voz resolve declarar sua a cláusula automaticamente caduca).
vontade a duas testemunhas. Dependerá É possível as cláusulas restritivas que
da homologação do juiz, ouvida das podem ser de impenhorabilidade,
testemunhas. incomunicabilidade e inalienabilidade.
Lembrar que a testemunha e seus parentes Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade,
não possuem capacidade testamentária. imposta aos bens por ato de liberalidade,
As testemunhas testamentárias devem ter implica impenhorabilidade e
mais de 16 anos. incomunicabilidade.
Parágrafo único. No caso de desapropriação
5 Codicilo: de bens clausulados, ou de sua alienação,
É um pequeno testamento. São disposições por conveniência econômica do donatário
específicas acerca de pequenos legados ou ou do herdeiro, mediante autorização
disposições de última vontade. judicial, o produto da venda converter-se-á
O conceito de pequenos legados varia de em outros bens, sobre os quais incidirão as
uma pessoa para outra e o juiz que fixará. restrições apostas aos primeiros.
A jurisprudência fixou o limite do codicilo A súmula 49 do STF (“cláusula de
em no máximo 10% do patrimônio do inalienabilidade inclui a incomunicabilidade
testador. dos bens”) perdeu o objeto, uma vez que o
Pode-se fazer um testamento e um codicilo, art. 1911 é mais amplo.
pois eles possuem objetos distintos. A cláusula restritiva tem como prazo
Não tem forma prescrita em lei, logo pode máximo uma geração.
assumir qualquer forma, seja pública ou A gravação da cláusula restritiva na
particular. segunda geração é nula de pleno direito.

119
O testador pode estabelecer cláusulas
restritivas temporárias. 7. Testamenteiro:
O CC/02, acolhendo a jurisprudência do STJ, Pessoa nomeada para dar cumprimento a
impõe caráter relativo nas cláusulas sua declaração de vontade. Não é
restritivas. Ou seja, o juiz pode suspender, obrigatória sua presença.
sub-rogar ou eliminar cláusulas restritivas, O testamenteiro tem que aceitar sua função
desde que haja requerimento da parte e para assumir responsabilidades.
seja ouvido o MP (procedimento de O CC dispõe que se o testamenteiro não for
jurisdição voluntária na Vara de Registros nem herdeiro nem legatário ele faz jus a
Públicos). uma remuneração, denominada prêmio ou
Pode incidir cláusula restritiva sobre a vintena. Esta será fixada pelo juiz e não
legítima? Nos termos do art. 1848 é pode ultrapassar 5% do patrimônio líquido
possível desde que exista justa causa se outro não for o valor fixado pelo
declarada no testamento e comprovado testador.
judicalmente. Os critérios que o juiz utilizará são os
Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, mesmos utilizados para fixar os honorários
declarada no testamento, não pode o advocatícios.
testador estabelecer cláusula de
inalienabilidade, impenhorabilidade, e de 8. Substituição Testamentária:
incomunicabilidade, sobre os bens da O beneficiário não é obrigado a receber a
legítima. herança ou legado. Ai surge a hipótese de
§ 1o Não é permitido ao testador substituição.
estabelecer a conversão dos bens da O testador então pode já indicar substituto
legítima em outros de espécie diversa. no testamento.
§ 2o Mediante autorização judicial e O CC prevê quatro possibilidades de
havendo justa causa, podem ser alienados substituição:
− Simples: É aquele em ordem sucessiva e
os bens gravados, convertendo-se o
produto em outros bens, que ficarão sub- ilimitada.
− Recíproca: É a substituição quando,
rogados nos ônus dos primeiros.
Orlando Gomes entende que esta cláusula havendo mais de um beneficiado, um
restritiva violaria a constituição porque o substitui o outro.
− Fideicomissária: Só existirá quando a
seu art. 5º garante o direito a herança.
Caso contrário a herança se transformaria herança ou legado for transmitida sob
em usufruto. É o entendimento minoritário. condição. O substituto receberá uma
Redução de cláusula testamentária é propriedade resolúvel. (testador =
matéria de ordem pública desde que as fideicomitente; beneficiário sob
disposições do testamento excedam a condição= fideicomissário; substituto
legítima. =fiduciário).
A redução se dá a partir de duas regras: Se o fideicomissário não cumpre a
1. Havendo herança e legado reduz condição, a propriedade do fiduciário
primeiro a herança e depois o transforma-se em perpétua.
legado; A substituição fideicomissária somente
2. Havendo só herança ou só legado a pode ter como condição a prole eventual.
redução será proporcional. Art. 1.952. A substituição fideicomissária
Acréscimo de cláusula testamentária ocorre somente se permite em favor dos não
a depender da natureza da cláusula. concebidos ao tempo da morte do testador.
As cláusulas testamentárias podem ter Parágrafo único. Se, ao tempo da morte do
natureza conjuntiva quando beneficia duas testador, já houver nascido o
ou mais pessoas em conjunto ou disjuntivas fideicomissário, adquirirá este a
quando há um benefício isolado. propriedade dos bens fideicometidos,
Não há problemas de interpretação nas convertendo-se em usufruto o direito do
cláusulas disjuntivas, pois cada um só fiduciário.
receberá a sua parte. É pacífico na jurisprudência a permitir o
Agora quando a cláusula é conjuntiva e um fideicomisso em atos inter vivos, não se
dos beneficiário não pode ou não quer submetendo a limitação do art. 1952 que
receber e não há substituto nomeado surge está fundado na autonomia da vontade.
o problema. Aqui ocorrerá o direito de No fideicomisso existem direitos sucessivos
acrescer. sobre a coisa: primeiro o titular depois o
O direito de acrescer é o direito de um dos fiduciário depois o fideicomissário. Já no
beneficiários que quer e pode receber usufruto as pessoas exercem direitos sobre
acrescer o direito de outro que não quer ou a coisa simultaneamente.
não pode.

120
Não se admite fideicomisso de 3º grau, ou nem dar posse, uso ou gozo dela a
seja, substituto do substituto. estranhos, sem o consenso dos outros.
O co-proprietário, independentemente de
− Conteriosa: Ocorre toda vez que o sua cota, pode exercer seu direito sobre o
testador perceber que na substituição todo e ajuizar medidas judiciais para
fideicomissária o fiduciário pode não defender o todo.
querer ou não poder. Então ele nomeia Um condômino pode ajuizar medida
o substituto do substituto para caso o contra outro, só que neste caso o
fiduciário não possa ou não queira. condômino só poderá se valer de ações
A nomeação de um substituto simples para possessórias e jamais reivindicatórias.
o fiduciário caracteriza esta substituição. É possível gravar a coisa em garantia. Só
que o bem condominial só pode ser dado
Aula 11 em garantia por todos. Agora, a cota parte
Data: 21/12/07 do condômino pode ser dada em garantia
independentemente da aquiescência dos
Condomínio: demais.
1. Introdução: Art. 1.420. Só aquele que pode alienar
Todas as regras de condomínio derivam da poderá empenhar, hipotecar ou dar em
combinação do CC e da lei 4591/64. anticrese; só os bens que se podem alienar
Alguns artigos do CC derrogaram parte da poderão ser dados em penhor, anticrese ou
lei em comento. hipoteca.
Condomínio se caracteriza pela pluralidade § 1o A propriedade superveniente torna
de sujeitos e unicidade de objeto. eficaz, desde o registro, as garantias reais
Condomínio também é chamado de co- estabelecidas por quem não era dono.
propriedade. § 2o A coisa comum a dois ou mais
Como justificar o condomínio se a proprietários não pode ser dada em
propriedade traz como um dos seus garantia real, na sua totalidade, sem o
atributos a exclusividade? Esta idéia de consentimento de todos; mas cada um
exclusividade surge para o titular, mas não pode individualmente dar em garantia
para somente uma pessoa. Várias pessoas real a parte que tiver.
são titulares. O CC estabelece a responsabilidade de
No condomínio existem direitos cada condômino pelos frutos que recebeu
qualitativamente iguais e sozinho da coisa. Logo, ele responde pelo
quantitativamente diferentes. rateio destes frutos em relação aos demais,
Condomínio é o exercício simultâneo de rateio este que dependerá da cota parte de
mais de uma pessoa sobre uma única coisa. cada um.
O direito de dispor integra o direito de
2. Tipos: propriedade.
No Brasil o condomínio pode ser comum Quando o direito de disposição for exercido
(tradicional ou ordinário) ou edilício (por a título gratuito ele será livre, ou seja, cada
unidades autônomas ou horizontal). condômino tem assegurada a livre
2.1 Comum: disposição gratuita.
É a co-propriedade exercida sobre o mesmo Agora quando o direito de disposição for
bem. É reconhecer o exercício do direito de oneroso, tem-se que respeitar o direito
propriedade por duas ou mais pessoas de preferência ou prelação dos demais.
sobre a mesma coisa. Art. 504. Não pode um condômino em coisa
Sob o ponto de vista subjetivo o condomínio indivisível vender a sua parte a estranhos,
tradicional pode ser chamado de comum. se outro consorte a quiser, tanto por tanto.
É uma comunhão de direitos e indivisão do O condômino, a quem não se der
objeto. conhecimento da venda, poderá,
Todos os condôminos independente de depositando o preço, haver para si a parte
sua cota exercerão simultaneamente os vendida a estranhos, se o requerer no
mesmos direitos: prazo de cento e oitenta dias, sob pena
Art. 1.314. Cada condômino pode usar da de decadência.
coisa conforme sua destinação, sobre ela Parágrafo único. Sendo muitos os
exercer todos os direitos compatíveis com a condôminos, preferirá o que tiver
indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender benfeitorias de maior valor e, na falta
a sua posse e alhear a respectiva parte de benfeitorias, o de quinhão maior. Se
ideal, ou gravá-la. as partes forem iguais, haverão a
Parágrafo único. Nenhum dos condôminos parte vendida os comproprietários, que
pode alterar a destinação da coisa comum, a quiserem, depositando previamente o
preço.

121
Havendo mais de um condômino todos Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao
terão direito de preferência na proporção condômino exigir a divisão da coisa comum,
de seus quinhões. respondendo o quinhão de cada um pela
Se não for observado o direito de sua parte nas despesas da divisão.
preferência haverá a ineficácia relativa § 1o Podem os condôminos acordar que
quanto aos condôminos preteridos. fique indivisa a coisa comum por prazo
Estes condôminos preteridos podem não maior de cinco anos, suscetível de
depositar o valor do negócio com o 3º mais prorrogação ulterior.
as despesas do registro e requerer a § 2o Não poderá exceder de cinco anos
adjudicação compulsória no prazo a indivisão estabelecida pelo doador
decadencial de 180 dias. ou pelo testador.
A alienação onerosa sem o respeito ao
direito de preferência gera um negócio § 3o A requerimento de qualquer
jurídico existente, válido porém ineficaz em interessado e se graves razões o
relação aos condôminos preteridos. aconselharem, pode o juiz determinar a
O 3º adquirente deve então requerer que o divisão da coisa comum antes do prazo.
alienante dê a preferência aos demais. E o Cada um tem direito de exigir a divisão e
CC não indica um meio de prova para se responde com as custas na proporção
comprovar isto. Logo, tem-se que usar a de cotas. Para tanto deverá ajuizar uma
analogia: a lei de locações de imóveis ação de divisão de terras.
urbanos que diz que se prova o respeito à Art. 1.321. Aplicam-se à divisão do
preferência por meio de notificação judicial condomínio, no que couber, as regras de
ou extrajudicial. partilha de herança (arts. 2.013 a 2.022).
O direito de preferência é exclusivo do A aquisição será por quem der mais.
condomínio tradicional, não existindo Se o 3º der mais ele passa a ter
no condomínio edilício. preferência.
Haverá sempre rateio das despesas e O valor será partilhado na proporção
presumidamente será dividido em partes dos quinhões.
iguais (presunção relativa).
Art. 1.315. O condômino é obrigado, na 2.2 Edilício:
proporção de sua parte, a concorrer para Aqui existem duas porções distintas:
as despesas de conservação ou divisão da partes comuns e unidades autônomas.
coisa, e a suportar os ônus a que estiver As partes comuns são as áreas de uso de
sujeita. todos. Sobre ela não há posse com
Parágrafo único. Presumem-se iguais as exclusividade.
partes ideais dos condôminos. O CC proíbe a posse exclusiva sobre as
Art. 1.316. Pode o condômino eximir-se do partes comuns. Já as unidades autônomas
pagamento das despesas e dívidas, geram exercício com exclusividade.
renunciando à parte ideal. O STJ no Resp 1902/RJ diz que se devem
aplicar às vilas de casa as regras dos
§ 1o Se os demais condôminos assumem as condomínios edilícios, uma vez que lá
despesas e as dívidas, a renúncia lhes também existe a combinação de partes
aproveita, adquirindo a parte ideal de quem comuns e unidades autônomas.
renunciou, na proporção dos pagamentos Todo e qualquer sistema composto de
que fizerem. [Ou seja: na proporção de suas comuns e unidades autônomas de forma
cotas ideais, pois, conforme a lei, os indissolúvel pode estar submetido às regras
pagamentos são proporcionais às cotas]. dos condomínios.
§ 2o Se não há condômino que faça os Não possível a usucapião em
pagamentos, a coisa comum será dividida. condomínio edilício (nas partes
Espécies de condomínio tradicional: comuns), pois o CC proíbe a posse com
a) Legal: exclusividade.
Este legal pode ser ainda forçado (árvores Já no tradicional é possível se um dos
limítrofes, regime de bens, por exemplo) ou condôminos tiver posse com
fortuito. exclusividade.
O condomínio legal forçado é indissolúvel. Agora, é possível usucapir unidade
b) Voluntário: autônoma. Pois o STJ decidiu que o
Se dá pela vontade das partes. condomínio pode, omissivamente e
Com exceção do legal forçado que não se reiteradamente, deixar de promover a ação
extingue, todos os demais se extinguem. adequada e cabível, contra aquele
O prazo de divisão do condomínio condômino que exerce a posse com
tradicional é de 5 anos prorrogáveis exclusividade (supressio decorrente de
por igual período. abuso de direito).

122
Há aqui a impossibilidade de entravamento Tais condomínios podem sofrer restrições
de unidades comuns. no horário de funcionamento pela
O terraço e a cobertura, em regra geral, convenção. A jurisprudência entende que
pertencem ao condomínio, salvo se a essa restrição não implica violação ao
própria incorporação mobiliária já acresceu direito de propriedade.
o terraço ou cobertura a uma unidade No que tange ao condomínio edilício não se
(normalmente o último andar). aplica a regra da gravitação (o acessório
Se a incorporação não previu o acréscimo, segue o principal), pois aqui o condomínio
este acréscimo só poderá ser feito não é acessório.
posteriormente por unanimidade dos A titularidade do condomínio faz
condôminos. presumir a titularidade do solo.
No que tange às garagens, pode haver dois Esta regra é para impedir que o credor do
regimes jurídicos: pode ser que a garagem solo execute o condomínio. Neste sentido a
pertença a própria unidade autônoma (a súmula 308 do STJ: A hipoteca firmada
própria incorporadora acresce a garagem à entre a construtora e o agente
unidade autônoma) e caso não haja este financeiro, anterior ou posterior à
acréscimo as garagens pertencerão às celebração da promessa de compra e
áreas comuns e seu uso será disposto pela venda, não tem eficácia perante os
convenção. adquirentes do imóvel.
Art. 1.331. Pode haver, em edificações, O contrato entre as partes não pode
partes que são propriedade exclusiva, e prejudicar terceiros. É a função social do
partes que são propriedade comum dos contrato.
condôminos. Assim, a natureza jurídica do condomínio
§ 1o As partes suscetíveis de utilização não é acessória.
independente, tais como apartamentos, O condomínio, apesar de ter CNPJ, não
escritórios, salas, lojas, sobrelojas ou tem personalidade jurídica. Apesar de
abrigos para veículos, com as respectivas poder ser sujeito de relações jurídicas.
frações ideais no solo e nas outras partes Assim, o condomínio não tem
comuns, sujeitam-se a propriedade personalidade, mas tem capacidade. Ou
exclusiva, podendo ser alienadas e seja, o condomínio não possui direitos da
gravadas livremente por seus proprietários. personalidade.
§ 2o O solo, a estrutura do prédio, o Registro decorrente da adjudicação de
telhado, a rede geral de distribuição de imóveis pelo condomínio: A ação de
água, esgoto, gás e eletricidade, a cobrança do condomínio pode chegar a
calefação e refrigeração centrais, e as uma penhora e poderia o condomínio então
demais partes comuns, inclusive o acesso adjudicar? Neste caso ele registraria em
ao logradouro público, são utilizados em nome de quem, já que ele não tem
comum pelos condôminos, não podendo ser personalidade jurídica?
alienados separadamente, ou divididos [em Em linha de princípio não seria possível.
nenhum momento. É diferente do Mas a jurisprudência de SP começa a
condomínio tradicional, em que a indivisão aceitar e dispor que se deve fazer um
tem prazo certo de 5 anos]. registro especial já que o condomínio pode
ser sujeito de direitos.
§ 3o A cada unidade imobiliária caberá, Aplicação das regras de condomínio Time
como parte inseparável, uma fração ideal Share (Tempo compartilhado):
no solo e nas outras partes comuns, que O time share é um condomínio do tempo e
será identificada em forma decimal ou não do espaço. É uma nova forma de
ordinária no instrumento de instituição do propriedade.
condomínio. (Redação dada pela Lei nº Foi criado originariamente pela Europa e
10.931, de 2004) EUA e passa a permitir a determinadas
§ 4o Nenhuma unidade imobiliária pode ser pessoas manter casas de praia, daí a
privada do acesso ao logradouro público. pessoa adquire o direito de usar aquela
§ 5o O terraço de cobertura é parte comum, casa tantos dias do ano (ela é proprietária
salvo disposição contrária da escritura de daquela casa por tantos dias do ano).
constituição do condomínio. O time share é chamado multi propriedade
É possível alugar vagas de garagem, salvo imobiliária e a ela se aplicam todas as
disposição em contrário da convenção. regras de condomínio edilício. Sempre
Neste caso haverá a preferência dos haverá aqui uma administradora.
condôminos. O STJ diz que entre o condômino e a
Horário de funcionamento dos Condomínios administradora aplica-se o CDC.
comerciais: Elementos Constitutivos do Condomínio
Edilício:

123
Os elementos concorrentes são: áreas houverem por bem estipular, a convenção
comuns e unidades autônomas. Já os determinará:
constitutivos são atos de incorporação I - a quota proporcional e o modo de
imobiliária, convenção de condomínio e pagamento das contribuições dos
regimento interno. condôminos para atender às despesas
Ato de incorporação: Ato entre vivos ou ordinárias e extraordinárias do condomínio;
testamento. A jurisprudência diz que a taxa de
Art. 1.332. Institui-se o condomínio edilício condomínio deve ser proporcional aos
por ato entre vivos ou testamento, serviços oferecidos.
registrado no Cartório de Registro de II - sua forma de administração;
Imóveis, devendo constar daquele ato, III - a competência das assembléias, forma
além do disposto em lei especial: de sua convocação e quorum exigido para
I - a discriminação e individualização das as deliberações;
unidades de propriedade exclusiva, IV - as sanções a que estão sujeitos os
estremadas uma das outras e das partes condôminos, ou possuidores;
comuns; V - o regimento interno.
II - a determinação da fração ideal atribuída § 1o A convenção poderá ser feita por
a cada unidade, relativamente ao terreno e escritura pública ou por instrumento
partes comuns; particular. [A convenção, mesmo tendo que
III - o fim a que as unidades se destinam. ser registrada no Cartório de Registro de
(se é residencial, comercial ou misto). Imóveis, pode ser feita por instrumento
Todas as matérias que constam do ato particular].
de incorporação só podem ser § 2o São equiparados aos proprietários,
alteradas por unanimidade. [A para os fins deste artigo, salvo disposição
destinação, as partes comuns, as unidades em contrário, os promitentes compradores
autônomas e as frações ideais das unidades e os cessionários de direitos relativos às
autônomas, por exemplo]. unidades autônomas.
A jurisprudência entende que caso um faça Somente por maioria de 2/3 será possível
uma objeção imotivadamente é caso de alterar as regras da convenção.
abuso de direito. A convenção pode estipular a elaboração do
Convenção do Condomínio: Tem que ser regimento interno.
subscrita por 2/3 das frações ideais e deve Regimento interno:
ser registrada para ter efeitos em relação a É o manual de instruções do condomínio.
terceiros. Será aprovado e alterado por maioria
É a constituição. O ato que disciplina a simples, por isto ele trata de matérias
normatividade interna. corriqueiras.
Art. 1.333. A convenção que constitui o [Ato Institutivo: cria o condomínio.
condomínio edilício deve ser subscrita pelos Convenção: 2/3. Regimento Interno: maioria
titulares de, no mínimo, dois terços das simples].
frações ideais e torna-se, desde logo, Questões Controvertidas em relação ao
obrigatória para os titulares de direito sobre condomínio edilício:
as unidades, ou para quantos sobre elas A convenção pode proibir a entrada de
tenham posse ou detenção. animais?
Parágrafo único. Para ser oponível contra Invocando o art. 1277 é possível vedar a
terceiros, a convenção do condomínio entrada de animais:
deverá ser registrada no Cartório de Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de
Registro de Imóveis. [Ou seja: tanto o ato um prédio tem o direito de fazer cessar as
institutivo quanto a convenção devem ser interferências prejudiciais à segurança, ao
registrados no Cartório de Registro de sossego e à saúde dos que o habitam,
Imóveis. A diferença é que a convenção, provocadas pela utilização de propriedade
mesmo não registrada, vale para os vizinha.
condôminos]. Parágrafo único. Proíbem-se as
Súmula 260 do STJ: A convenção de interferências considerando-se a natureza
condomínio aprovada, ainda que sem da utilização, a localização do prédio,
registro, é eficaz para regular as atendidas as normas que distribuem as
relações entre os condôminos. edificações em zonas, e os limites
Não confundir as matérias obrigatórias do ordinários de tolerância dos moradores da
ato de incorporação com as da convenção. vizinhança.
Estas últimas estão previstas no art. 1334: O STJ entende que toda norma contida na
Art. 1.334. Além das cláusulas referidas no convenção deve ser contida de
art. 1.332 e das que os interessados razoabilidade. Logo, a proibição só deve

124
ser em relação aos animais prejudiciais condômino, ou de alguns deles,
à segurança, sossego e saúde. incumbem a quem delas se serve.
Recebimento de visitas: O condômino em atraso não pode sofrer
As visitas podem ser obrigadas a se interrupção dos serviços, segundo a
identificar se isso estiver disposto nas jurisprudência.
convenções. O condomínio também não pode gerar
Pode-se todavia proibir uma visita com cobranças vexatórias. A lista dos
sentido comercial. É a hipótese do inadimplentes só pode ser trazida no
profissional liberal que resolve atender em balanço contábil.
sua unidade autônoma. Pode-se penhorar bem de família, seja
Culto religioso: legal ou convencional, para o pagamento
A convenção pode proibir culto religioso nas de taxa de condomínio.
partes comuns. Nas unidades autônomas Rateia-se o pagamento do seguro
também pode, mas só se incomodar os obrigatório que deverá ser feito 120 dias
vizinhos. após o habite-se.
Art. 1.346. É obrigatório o seguro de toda a
Roubo, Furto ou Danos a bem particular nas edificação contra o risco de incêndio ou
áreas comuns: destruição, total ou parcial.
Como a relação não é de consumo, o Aplicação de multas:
condomínio não responde por não se Art. 1.336. São deveres do condômino:
aplicar a súmula 130 do STJ. I - contribuir para as despesas do
As exceções são: se a convenção condomínio na proporção das suas
estabelecer a responsabilidade do frações ideais, salvo disposição em
condomínio ou se houver taxa destinada contrário na convenção; (Redação dada
ao pagamento de serviços de pela Lei nº 10.931, de 2004)
segurança (condomínio responde e tem II - não realizar obras que comprometam a
direito regressivo contra a empresa). segurança da edificação;
O locatário não pode participar das III - não alterar a forma e a cor da
reuniões, salvo se participar na qualidade fachada, das partes e esquadrias
de procurador. externas;
IV - dar às suas partes a mesma destinação
Alteração de Fachada: que tem a edificação, e não as utilizar de
Somente se houver unanimidade, já que a maneira prejudicial ao sossego, salubridade
fachada é área comum (art. 10, parágrafo e segurança dos possuidores, ou aos bons
2º da lei 4591/74). costumes.
É diferente da modificação da estrutura da § 1o O condômino que não pagar a sua
fachada (pintura, textura) cujo quorum é de contribuição ficará sujeito aos juros
2/3 (art. 1341, I). moratórios convencionados ou, não sendo
previstos, os de um por cento ao mês e
É impossível haver usucapião de área multa de até dois por cento sobre o débito.
comum, mas pode haver supressio. § 2o O condômino, que não cumprir
Inexistência de direito de preferência para a qualquer dos deveres estabelecidos
alienação de unidade autônoma, nos incisos II a IV, pagará a multa
diferentemente do condomínio comum. prevista no ato constitutivo ou na
convenção, não podendo ela ser
4. Taxa de Condomínio: superior a cinco vezes o valor de suas
Tem natureza de obrigação propter rem contribuições mensais,
(adere à coisa). independentemente das perdas e
O STJ tem permitido a cobrança de danos que se apurarem; não havendo
taxa de condomínio do promitente disposição expressa, caberá à
comprador. assembléia geral, por dois terços no
Os juros de mora são estipulados em mínimo dos condôminos restantes,
percentual não superior a 1% e a multa deliberar sobre a cobrança da multa.
moratória não pode ser superior a 2% do Se a multa não estiver prevista será
valor da taxa. deliberada pela assembléia pelo quorum de
Mesmo os condomínios que já existiam 2/3 dos demais.
antes do NCC estão submetidos ao limite de Art. 1337. O condômino, ou possuidor, que
2% (STJ no REsp 722904). não cumpre reiteradamente com os seus
A taxa será proporcional aos serviços deveres perante o condomínio poderá, por
utilizados. deliberação de três quartos dos
Art. 1.340. As despesas relativas a condôminos restantes, ser constrangido a
partes comuns de uso exclusivo de um pagar multa correspondente até ao

125
quíntuplo do valor atribuído à A propriedade, então, ao ser desmembrada
contribuição para as despesas deve continuar atendendo a função social.
condominiais, conforme a gravidade das Logo todo direito real na coisa alheia tem
faltas e a reiteração, independentemente que cumprir uma função social.
das perdas e danos que se apurem. Os direitos reais, como um todo, não são
Parágrafo único. O condômino ou possuidor exercidos sobre as coisas, mas perante as
que, por seu reiterado comportamento anti- pessoas.
social, gerar incompatibilidade de Os direitos reais na coisa alheia só se
convivência com os demais justificam se eles cumprem papel social
condôminos ou possuidores, poderá ser para as pessoas, ou seja, na colisão entre a
constrangido a pagar multa correspondente proteção da coisa e da pessoa prevalece a
ao décuplo do valor atribuído à proteção da pessoa. Isto é a função social.
contribuição para as despesas Ou seja, não se pode exercer direito real na
condominiais, até ulterior deliberação da coisa alheia com sacrifício da proteção da
assembléia. pessoa, ainda que seja para proteger a
Cristiano defende a possibilidade de coisa.
exclusão do condômino incompatível por O bem de família, por exemplo, limita a
meio de decisão judicial por abuso de proteção dos direitos reais, inclusive, os da
direito. coisa alheia.
O STF entende que toda e qualquer Os três propósitos do direito real na coisa
multa depende do devido processo alheia são: permitir que 3º também tenho
legal, mesmo essas aplicadas pelo o gozo da coisa; garantir o crédito de um
condomínio, entre particulares. 3º; ou garantir que o 3º adquira a coisa.
[Multas de condomínio: Como todo direito real é caracterizado pela
Alteração de fachada, cor ou esquadrias: 5 taxatividade só existe direito real no art.
condomínios, por 2/3 dos demais. 1225 do CC.
Reiteração nessas irregularidades: 5 Modo de instituição de um direito real na
condomínios, por 3/4 dos demais. coisa alheia: se o bem for móvel o modo é a
Convívio anti-social: 10 condomínios. tradição; se for imóvel, o modo será o
Abuso de direito: exclusão, por decisão registro público.
judicial, segundo o Professor].
2. Direito Real na Coisa Alheia de Aquisição:
Aula 12 Promessa Irretratável de Compra e Venda:
Data: 03/01/08 Todo direito real na coisa alheia é por sua
natureza limitado por ser parcela do direito
Direitos Reais na Coisa Alheia: de propriedade para um fim específico.
1. Introdução: O de aquisição é limitado porque sua
Os poderes da propriedade são finalidade é permitir que aquele que
reconhecidos de forma ampla a seu titular. promete comprar tenha o direito de ser
Os poderes são: uso, gozo, livre disposição dono.
e reivindicação. Estes quatro poderes fazem O CC/1916 não conheceu este direito, pois,
que a propriedade seja o mais amplo dos seguindo a tradição do direito romano,
direitos subjetivos. entendeu que toda relação obrigacional não
Cada um destes poderes pode ser pode implicar efeitos reais. Ou seja,
desmembrado. entendia que o contrato só possui efeitos
Os poderes que compõem o direito de entre as partes.
propriedade podem ser desmembrado e ao A natureza obrigacional da promessa de
desmembrar-se surge o direito real na coisa compra e venda fragilizava este
alheia. instrumento contratual na medida em que
O direito real na coisa alheia surge da os efeitos produzidos somente alcançavam
possibilidade de fracionamento dos poderes as partes sob o ponto de vista obrigacional.
da propriedade, concedendo a terceiros Tendo em vista esta situação o governo
parcelas dos poderes do titular. elaborou o Decreto-lei 58/1937para conferir
O direito real na coisa alheia não abala natureza real a promessa de compra e
o caráter exclusivo da propriedade, venda. Assim, com este decreto houve um
que aduz que somente uma pessoa elastecimento do rol dos direitos reais e
pode deter todos os direitos de uma mutação da natureza da promessa de
propriedade. compra e venda (conferiu eficácia real a um
A condição do direito de propriedade é o contrato).
cumprimento da função social. Na sequência veio a lei 6766/69 que cuidou
A propriedade que não cumpre função do parcelamento dos solos urbanos e
social não merece proteção.

126
confirmou a eficácia real da promessa de logo não precisa ter a mesma forma do
compra e venda. contrato que se prometeu (ambos são
Atualmente, o NCC acabou com as principais).
discussões porque os arts. 1417 e 1418 A promessa de compra e venda pode ser
confirmaram que a promessa de compra e celebrada por escritura pública ou particular
venda tem natureza de direito real. e seu descumprimento gera execução
Uma vez adimplida a obrigação do específica, qual seja adjudicação
promitente comprador, o promitente compulsória.
vendedor está obrigado a lhe transferir a A promessa de compra e venda é sui
propriedade sob pena de adjudicação generis porque apesar da natureza
compulsória. obrigacional produzirá efeitos típicos de
O promitente vendedor pode vender a direito real.
coisa para outra pessoa, mas quem Efeitos da promessa de compra e venda:
comprar terá que respeitar o conferir posse ao promitente
promitente comprador, pois este adquirente e conferir ao promitente
passou a ter direito erga omnes. adquirente o direito a adjudicação
Desde o DL 58/37 que a promessa de compulsória na forma do art. 15 do DL
compra e venda passou a ter possibilidade 58/37 (exceto a existência de cláusula de
de ter cláusula de arrependimento, quando arrependimento).
esta existir não terá efeitos reais. O direito de adjudicação compulsória
A existência de cláusula de não se condiciona ao registro do
arrependimento desnatura o direito contrato.
real de aquisição. Súmula 239 do STJ: O direito à adjudicação
O STF então editou a súmula 166: É compulsória não se condiciona ao registro
inadmissível o arrependimento no do compromisso de compra e venda no
compromisso de compra e venda sujeito ao cartório de imóveis.
regime do Dec.-Lei 58, de 10.12.1937. A posse é precária [consentida pelo
Depois a lei de parcelamento vem e diz que proprietário], logo não gera usucapião
todo imóvel loteado, objeto de uma enquanto precária.
promessa de compra e venda, gera direito O modelo brasileiro de promessa de compra
real, pois a cláusula de retrato será nula de e venda seguiu o sistema italiano, baseado
pleno direito. Ou seja, toda promessa de no romano, e ela por si só não gera direito a
compra e venda sobre imóvel loteado gera propriedade. É um direito de adquirir a
sempre direito real. coisa, mas não há propriedade, que só
[Hoje, o quadro é o seguinte: se o imóvel ocorre com a celebração do segundo
for loteado, é nula qualquer cláusula de contrato.
arrependimento. Se não for, aplica-se o CC, Caso o segundo contrato não seja
e é possível a cláusula de arrependimento, celebrado, a propriedade só surge com a
desde que expressa e não abusiva. Nessa adjudicação compulsória.
hipótese, não haverá direito real]. A promessa de compra e venda celebrada
Art. 1.417. Mediante promessa de compra e entre as partes é oponível a terceiros, na
venda, em que se não pactuou medida em que terceiros passam a estar
arrependimento, celebrada por submetidos ao direito real de aquisição do
instrumento público ou particular, e promitente comprador.
registrada no Cartório de Registro de Súmula 84 do STJ: É admissível a
Imóveis, adquire o promitente comprador oposição de embargos de terceiro
direito real à aquisição do imóvel. [Para fundados em alegação de posse
conferir direito real, a promessa de compra advinda do compromisso de compra e
e venda tem de ser registrada. Pode ser venda de imóvel, ainda que desprovido
instrumento público ou particular, qualquer do registro.
que seja o valor, mesmo sendo imóvel]. Para estes embargos de terceiro é preciso
A fiscalização do loteamento e que ele já esteja na posse. É a função social
parcelamento do solo incumbe ao Ministério da posse.
Público, inclusive a inexistência de cláusula Se o promitente deixar de pagar, a rescisão
de retrato. da promessa de compra e venda depende
Aplicam-se a promessa de compra e venda da constituição em mora do devedor. Se o
as regras do contrato preliminar (art. 462 e imóvel for loteado, a notificação terá o
seguintes do CC). prazo de 30 dias; se não loteado, o prazo
O contrato preliminar é um contrato com será de 15 dias.
existência própria pelo qual as partes se Súmula 76 do STJ: A falta de registro do
comprometem a celebrar um outro compromisso de compra e venda de
contrato. É principal e não acessório, imóvel não dispensa a prévia

127
interpelação para constituir em mora o integralidade do patrimônio do
devedor. devedor. [Portanto, titular de direito
Cláusula eventualmente dispondo sobre a real de garantia não é credor
perda de todas as parcelas pagas é nula em privilegiado].
virtude dos arts. 51 do CDC e 413 do CC. O contrato que institui a garantia não pode
O STJ é pacífico em reconhecer [nesse caso] estabelecer que a coisa ficará com o credor
o direito do promitente vendedor ao caso a obrigação não seja adimplida. O
valor do aluguel, uma vez que o credor só tem direito a excutir a coisa, ou
promitente comprador estava na posse seja, de levar a coisa a praça ou leilão.
do bem. Veda-se assim o pacto comissório.
Questões Polêmicas: Havendo inadimplemento, o devedor
É necessária a outorga do cônjuge do poderá ofertar a coisa em dação em
promitente vendedor, salvo se casado pagamento porque esta se opera após o
sob o regime da separação convencional inadimplemento. Enquanto pacto
(art. 1647 do CC), mas não se exige a do comissório é anterior ao inadimplemento.
promitente comprador. [É exatamente O DL 7066 regulamentou a execução
como na compra e venda]. extrajudicial para as hipotecas sobre
A celebração da promessa de compra e imóveis do sistema financeiro de habitação,
venda caracteriza justo título para a sendo nula de pleno direito a cláusula
usucapião depois de cumprida a comissória.
obrigação do promitente comprador. O exequente antes da arrematação tem
[Antes, não existe usucapião, pois a posse é direito a adjudicação. Isto não fere a
precária]. vedação ao pacto comissório. [Afinal, na
O STJ vem reconhecendo a legitimidade adjudicação, recebe-se a coisa pelo valor
do promitente comprador para ajuizar que ela realmente tem, consoante
ação possessória e reivindicatória avaliação judicial. Já no pacto comissório,
(REsp 5941/DF). simplesmente se recebe a coisa como
O STJ não admite nem possessória nem pagamento por uma obrigação, sem que
reivindicatória do promitente vendedor haja dação em pagamento].
contra o comprador se não o constituir
em mora (REsp 166.459/SP). 3.1 Requisitos para Constrição do Direito
Real de Garantia:
3. Teoria Geral dos Direitos Reais de a) Subjetivos:
Garantia: − Capacidade do devedor: pois a
Os direitos reais de garantia nascem da garantia implica embaraço patrimonial.
evolução do direito obrigacional. Bem pertencente a incapaz só pode
Toda relação obrigacional passou a ser ser dado em garantia depois de
garantida pelo patrimônio, passando a não ouvido o MP;
haver responsabilidade pessoal. − Titularidade do bem: Todavia, o CC
Toda obrigação para ser cumprida permite a garantia dada em bem de 3º
comporta uma garantia a ser prestada pelo quando este aquiescer ou quando se dá
devedor. garantia em bem que se pretende
As garantias obrigacionais podem ser adquirir (a eficácia da garantia depende
fidejussórias (pessoal, prestada por terceiro de futura aquisição da coisa);
– aval ou fiança) ou reais (constrição de um − Outorga do cônjuge, salvo se casado
direito real na coisa alheia – penhor, pelo regime de separação convencional;
hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária). − Se o bem dado em garantia é
Todo direito real na coisa alheia tem condominial (comum e não edilício),
natureza acessória: cumprida a obrigação, a garantia dependerá de todos os
ele se extingue. condôminos;
A finalidade do direito real na coisa alheia O falido não pode dar bem em
de garantia é o adimplemento da relação garantia. Toda garantia prestada depois do
obrigacional, impedindo, portanto, que o termo legal da falência, fixado em
credor do direito real possa extrair frutos sentença, tem uma presunção absoluta de
[em regra]. fraude.
Todo direito real de garantia pressupõe O ascendente pode prestar garantia
uma obrigação pré-existente e a coisa fica independentemente da aquiescência
vinculada ao cumprimento obrigacional. dos descendentes.
Na garantia decorrente de um direito A súmula 308 do STJ flexibilizou os
real, o credor só tem direito sobre requisitos subjetivos dos direitos reais de
aquele bem, diferente do credor garantia: A hipoteca firmada entre a
privilegiado, que tem direito sobre a construtora e o agente financeiro, anterior

128
ou posterior à celebração da promessa de O penhor se não registrado no cartório de
compra e venda, não tem eficácia perante títulos e documentos só possui efeitos entre
os adquirentes do imóvel. as partes.
O fundamento da súmula 308 é a função Art. 1.431. Constitui-se o penhor pela
social do contrato ao proteger o terceiro transferência efetiva da posse que, em
lesado. O contrato celebrado entre duas garantia do débito ao credor ou a quem o
partes prejudica terceiros. represente, faz o devedor, ou alguém por
ele, de uma coisa móvel, suscetível de
b) Objetivos: alienação.
Pode ser dada em garantia toda e qualquer Parágrafo único. No penhor rural, industrial,
coisa que possa ser livremente alienada. mercantil e de veículos, as coisas
O bem de família convencional não pode empenhadas continuam em poder do
jamais ser dado em garantia [Seria devedor, que as deve guardar e conservar.
comportamento contraditório]. Já o bem de Espécies:
família legal pode, mas apenas para Convencional: É aquele instituído
garantir dívidas em proveito da própria voluntariamente sobre qualquer bem
família [Nessa hipótese, a própria lei prevê móvel.
a possibilidade de o bem ser levado a hasta
pública]. Especial (rural, industrial, de direitos e de
Os imóveis financiados também não podem veículos)
ser dados em garantia (DL 8618/46) -Rural: Pode ser pecuário ou agrícola. É
durante o financiamento. especial, pois existe sobre bens típicos da
Coisa alheia pode ser dada em garantia agricultura ou da pecuária.
quando ocorrer a aquisição superveniente Só se constitui o penhor rural pela simples
desta coisa (art. 1420 do CC). celebração, não se exigindo a tradição.
Excepcionalmente, o penhor rual pode
c) Formais: incidir sobre bens imóveis por acessão
A garantia em regra se dá pela tradição ou natural (plantações por exemplo) e
registro, pois ambas as formas geram pertenças.
publicidade na instituição da garantia. O penhor rural exige o registro no
Exige-se também a especialização, ou seja, cartório de imóveis para valer perante
a descrição pormenorizada da dívida e terceiros.
da garantia. Caso a safra anterior seja insuficiente o
Art. 1.424. Os contratos de penhor, penhor rural abrange também a safra
anticrese ou hipoteca declararão, sob pena seguinte. E quando incidir sobre animais
de não terem eficácia: estes só poderão ser alienados com
I - o valor do crédito, sua estimação, ou autorização do credor pignoratício.
valor máximo; Art. 1.438. Constitui-se o penhor rural
II - o prazo fixado para pagamento; mediante instrumento público ou
III - a taxa dos juros, se houver; particular, registrado no Cartório de
IV - o bem dado em garantia com as suas Registro de Imóveis da circunscrição em
especificações. que estiverem situadas as coisas
Faltando especialização ou publicidade empenhadas.
desnatura-se a garantia e o credor Parágrafo único. Prometendo pagar em
passa a ser tratado como dinheiro a dívida, que garante com penhor
quirografário. rural, o devedor poderá emitir, em favor do
Constituída regularmente a garantia credor, cédula rural pignoratícia, na
confere-se ao credor real sequela, forma determinada em lei especial.
oponibilidade erga omnes e indivisibilidade. O STJ no Resp 12507/RS assentou o
Indivisibilidade significa não admitir entendimento que o penhor rural não
remição (pagamento) parcial. A garantia pode ser equiparado a depósito [apesar
somente cessa pela quitação integral da de o devedor ficar com os bens
obrigação. empenhados. Vigora interpretação
restritiva].
Penhor: Prazo máximo do penhor rural é de 3 anos
É direito real de garantia sobre bens móveis para o agrícola e 4 anos para o pecuário.
que exige a efetiva transferência para a
posse do credor. - Industrial ou Mercantil:
É um contrato real, pois a tradição é Incide sobre bens da indústria (em regra
fundamental para se constituir o penhor. bens imóveis por força artificial).
Dispensa tradição e exige registro no
cartório de imóveis. A dívida fica garantida

129
pela emissão de uma cédula que cumpre a pelas despesas ou consumo que aí tiverem
função da tradição. feito;
O penhor industrial pode incidir também II - o dono do prédio rústico ou urbano,
sobre matérias primas. [Os penhores sobre os bens móveis que o rendeiro ou
especiais são casos excepcionais em que se inquilino tiver guarnecendo o mesmo
admite o empenho de bens imóveis.] prédio, pelos aluguéis ou rendas.
O Dec. 18257/1828 institui o penhor legal
- Penhor de Direitos: em face dos artistas e dos auxiliares
É uma caução de título de crédito. O cênicos sobre os materiais da peça.
devedor dá em garantia um título de O Dec. 4191/42 institui também o penhor
crédito que tenha. legal em face do locador industrial pelos
A grande característica é a circulação. Logo, maquinários de indústrias.
somente pode haver este penhor se o Penhor legal não precisa de nenhum ato de
crédito estiver representado por um título. vontade.
Este penhor se dará mediante registro no Todo penhor legal exige homologação
cartório de títulos e documentos. judicial cujo prazo é omisso no CPC (art.
É possível o penhor de direitos inclusive em 874 só fala imediatamente).
função de uma pluralidade de credores. Navios e aeronaves, embora sejam
Art. 1.452. Constitui-se o penhor de direito bens móveis, não são objeto de
mediante instrumento público ou particular, penhor, e sim de hipoteca.
registrado no Registro de Títulos e
Documentos. Aula
Parágrafo único. O titular de direito Data: 06/01/08
empenhado deverá entregar ao credor
pignoratício os documentos comprobatórios Direitos Reais em Garantia. Continuação:
desse direito, salvo se tiver interesse 1. Anticrese:
legítimo em conservá-los. A anticrese sempre foi muito criticada pela
[No penhor de direitos, há tradição. Os doutrina, pois ela não torna um bem
únicos penhores em que não há tradição afetado ao cumprimento de uma obrigação
são o rural, o industrial ou mercantil e o de mas incide sobre um bem que produz
veículos, sendo que somente no de veículos frutos.
o devedor é considerado um fiel depositário Ou seja, o credor vai recebendo os frutos e
(prisão civil)]. vai diminuindo o débito do devedor, sendo
primeiro diminuídos os juros.
− Penhor de Veículos: Dispensa a Concretamente falando a anticrese é uma
tradição que será feita mediante verdadeira imputação ao pagamento, pois o
anotação no órgão responsável. devedor irá imputar um pagamento a
Art. 1.461. Podem ser objeto de penhor os determinado credor.
veículos empregados em qualquer espécie A anticrese não impede a constituição
de transporte ou condução. de outra garantia. O credor anticrético só
Este penhor exige o seguro particular poderá receber os frutos da coisa. [Mas o
como condição para o seu registro. bem poderá ser também hipotecado, por
O prazo máximo é de 2 anos prorrogável exemplo, inclusive em favor de outro
por igual período. credor].
Se o veículo for alienado implica A garantia anticrética perdurará por no
vencimento antecipado da dívida. máximo 15 anos (art. 1423). Depois de 15
Este penhor é o único que gera anos ele virará credor quirografário.
depósito, pois o devedor pignoratício Art. 1.423. O credor anticrético tem direito
fica obrigado a guardar a coisa em a reter em seu poder o bem, enquanto a
favor de seu credor. dívida não for paga; extingue-se esse
direito decorridos quinze anos da data de
Legal sua constituição.
É o mais comum. Confere garantia a O devedor anticrético pode exigir a
determinados credores por força de lei. prestação de contas do credor.
Art. 1.467. São credores pignoratícios, O credor anticrético pode excutir a coisa
independentemente de convenção: para tirar os frutos, mas de nenhum modo
I - os hospedeiros, ou fornecedores de para receber o valor correspondente à
pousada ou alimento, sobre as bagagens, coisa.
móveis, jóias ou dinheiro que os seus
consumidores ou fregueses tiverem consigo 2. Hipoteca:
nas respectivas casas ou estabelecimentos, A hipoteca é direito real de garantia sobre
bem imóvel.

130
O bem fica afetado ao cumprimento da § 1o A hipoteca dos navios e das aeronaves
obrigação, sem exigir a tradição para o reger-se-á pelo disposto em lei especial.
credor. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº
O contrato de hipoteca vale entre as partes 11.481, de 2007)
mesmo sem registro. O registro é para a § 2o Os direitos de garantia instituídos nas
validade perante terceiros. hipóteses dos incisos IX e X do caput deste
Será nula, por abusividade, toda e qualquer artigo ficam limitados à duração da
cláusula que limite o exercício do direito de concessão ou direito de superfície, caso
propriedade pelo devedor hipotecário. tenham sido transferidos por período
Aquele que adquirir o bem tem que determinado. (Incluído pela Lei nº 11.481,
respeitar a hipoteca já existente. de 2007)
Art. 1.475. É nula a cláusula que proíbe ao As hipotecas de navio e aeronave serão
proprietário alienar imóvel hipotecado. disciplinadas em lei especial.
Parágrafo único. Pode convencionar-se que Obs. Os direitos hereditários, apesar de
vencerá o crédito hipotecário, se o imóvel bens imóveis, não podem ser objeto de
for alienado. hipoteca.
A hipoteca é indivisível, ou seja, só se Os imóveis gravados com cláusulas
extingue com o cumprimento total da restritivas também não podem ser objetos
obrigação. Enquanto isto não ocorrer o bem de hipoteca.
se encontra afetado integralmente pelo O fato de o CC permitir a hipoteca de navios
cumprimento da dívida. e aeronaves, não transformou estes bens
A hipoteca não impede que o devedor que em imóveis.
está com a posse dos bens retire os frutos A hipoteca não abrange benfeitorias e
da coisa, exceto se além da hipoteca acessões, salvo se foi instituída
também existir uma anticrese sobre o bem. especificamente sobre elas.
Art. 1.478. Se o devedor da obrigação Do mesmo modo a hipoteca também não
garantida pela primeira hipoteca não se abarca as pertenças (bem com função
oferecer, no vencimento, para pagá-la, o própria que se acopla a outro onde mantém
credor da segunda pode promover-lhe a a sua função).
extinção, consignando a importância e É possível instituir hipoteca sobre bens
citando o primeiro credor para recebê-la e o condominiais, seja o comum ou edilício.
devedor para pagá-la; se este não pagar, o Lembrando que para incidir sobre a
segundo credor, efetuando o pagamento, se integralidade do bem é necessário o
sub-rogará nos direitos da hipoteca consentimento de todos.
anterior, sem prejuízo dos que lhe A hipoteca de incapaz necessita da
competirem contra o devedor comum. representação, autorização judicial e da
Parágrafo único. Se o primeiro credor ouvida do MP.
estiver promovendo a execução da Todo incapaz deve preferencialmente
hipoteca, o credor da segunda depositará a cumprir suas obrigações com bens móveis.
importância do débito e as despesas A hipoteca sobre bem de incapaz é uma
judiciais. medida extrema. O art. 1691 disciplina a
A hipoteca pode recair sobre partes de um matéria:
bem divisível. Art. 1.691. Não podem os pais alienar, ou
Objeto da hipoteca: gravar de ônus real os imóveis dos filhos,
Art. 1.473. Podem ser objeto de hipoteca: nem contrair, em nome deles, obrigações
I - os imóveis e os acessórios dos imóveis que ultrapassem os limites da simples
conjuntamente com eles; administração, salvo por necessidade ou
II - o domínio direto; evidente interesse da prole, mediante
III - o domínio útil; prévia autorização do juiz.
IV - as estradas de ferro; Parágrafo único. Podem pleitear a
V - os recursos naturais a que se refere o declaração de nulidade dos atos previstos
art. 1.230, independentemente do solo neste artigo:
onde se acham; I - os filhos;
VI - os navios; II - os herdeiros;
VII - as aeronaves. III - o representante legal.
VIII - o direito de uso especial para fins É possível hipoteca sobre bem de família?
de moradia; (Incluído pela Lei nº 11.481, No que tange ao bem de família legal há a
de 2007) proteção do patrimônio mínimo do devedor
IX - o direito real de uso; (Incluído pela (mínimo necessário para viver com
Lei nº 11.481, de 2007) dignidade).
X - a propriedade superficiária. (Incluído Já o convencional há a proteção de 1/3 do
pela Lei nº 11.481, de 2007) patrimônio líquido do devedor.

131
O art. 1715 estabelece as exceções do bem V - ao credor sobre o imóvel arrematado,
de família convencional e só se refere a para garantia do pagamento do restante do
taxas condominiais, e tributos. preço da arrematação.
Art. 1.715. O bem de família é isento de O inciso II combinado com o art. 1523, I do
execução por dívidas posteriores à sua CC estabelece a hipoteca legal.
instituição, salvo as que provierem de Todas as hipóteses de hipoteca legal
tributos relativos ao prédio, ou de despesas dependem de especialização judicial da
de condomínio. hipoteca, ou seja, da homologação cujo
Parágrafo único. No caso de execução pelas procedimento é o de jurisdição voluntária
dívidas referidas neste artigo, o saldo (especialização de hipoteca legal).
existente será aplicado em outro prédio, Os bens do tutor estão hipotecados
como bem de família, ou em títulos da legalmente em nome do tutelado que
dívida pública, para sustento familiar, salvo depende de especialização. Todavia, o art.
se motivos relevantes aconselharem outra 37 do ECA e o NCC permitem que o juiz
solução, a critério do juiz. dispense a especialização da hipoteca que
Já as exceções do bem de família legal poderá ficar em um segundo momento,
estão no art. 3º da lei 8009/90: é possível a como os demais casos de hipoteca legal.
penhora do bem de família legal para O direito brasileiro admite a hipoteca
pagamento de uma hipoteca. através de uma cédula. Esta tem como
Ou seja, é possível instituir uma hipoteca finalidade a facilitação da circulação do
sobre um bem de família legal, mas não crédito.
sobre bem de família convencional. Hipoteca de 2º grau: A constituição de uma
Assim, a extensão da limitação do bem de hipoteca não impede a instituição de outras
família convencional é maior do que o de garantias.
bem de família legal. O credor hipotecário de 2º grau só poderá
Se um bem que for executado para pagar excutir a coisa depois de que o credor de 1º
dívida hipotecária tiver, também, dívidas de tiver feito.
condomínio, estas seguirão a coisa, por Isto permite uma ordem sucessiva de
serem obrigações propter rem. credores, não impedindo que o credor de
grau mais remoto venha a remir o credor de
Espécies de Hipoteca: grau mais próximo com o objetivo de
a) Convencional: impedir o vencimento antecipado de
O próprio titular garante uma obrigação todas as obrigações. [Isso porque vence
dando seu bem imóvel em garantia. antecipadamente a obrigação antecipada
Não é necessário que a obrigação seja nova por garantia hipotecária, se o bem for
para se firmar a hipoteca. excutido].
Exige sempre o registro para ter eficácia O prazo de perempção da hipoteca
perante terceiros. convencional é de 20 anos.

b) Judicial: 3. Alienação Fiduciária:


Constituída por ato judicial. Só haverá Ela nasceu com o objetivo de permitir a
hipoteca judicial no caso de sentença circulação de riquezas. Sua origem está no
condenatória após o trânsito em julgado. direito grego e romano.
Através da alienação permite-se uma ampla
c) Legal: garantia ao credor já que o devedor
Ocorre nos casos previstos em lei. transfere para o credor fiduciário a própria
Art. 1.489. A lei confere hipoteca: titularidade da coisa.
I - às pessoas de direito público interno (art. A alienação fiduciária cria hipótese típica de
41) sobre os imóveis pertencentes aos propriedade resolúvel, não exigindo a
encarregados da cobrança, guarda ou tradição.
administração dos respectivos fundos e Poderá incidir sobre bens móveis e imóveis.
rendas; O CC remete à legislação especial a
II - aos filhos, sobre os imóveis do pai ou da alienação fiduciária de bens imóveis que
mãe que passar a outras núpcias, antes de está disciplinada na lei 9514/98.
fazer o inventário do casal anterior; A alienação fiduciária é um caso
III - ao ofendido, ou aos seus herdeiros, excepcional, em que é possível a
sobre os imóveis do delinqüente, para cláusula comissória. Uma vez não
satisfação do dano causado pelo delito e cumprida a obrigação, o credor pode exigir
pagamento das despesas judiciais; que lhe seja entregue a coisa, pois esta
IV - ao co-herdeiro, para garantia do seu coisa já lhe pertence. É a lei 10931/04, art.
quinhão ou torna da partilha, sobre o 67 que permite isso.
imóvel adjudicado ao herdeiro reponente;

132
O que se transfere ao credor é a posse O sistema garante ao devedor fiduciante a
indireta e a propriedade resolúvel. purgação da mora antes do credor rescindir
Cláusula contratual que transfere a alguém o contrato e requerer o bem em 5 dias da
a posse por força de um contrato é notificação.
chamada de constituto possessório. [O Antes o devedor só tinha direito a
indivíduo transfere a propriedade, mas purgar a mora se já tivesse pagado
continua com a posse direta. A alienação 40%, mas hoje este direito independe
fiduciária é um exemplo de cláusula do valor já pago, fazendo com que a
constituti]. súmula 284 do STF tenha perdido o
Não havendo cumprimento da obrigação o objeto com o advento da lei 10931/04, art.
credor poderá reaver a coisa através da 56.
busca e apreensão e da reintegração de É preciso notificar para constituir em mora,
posse. mas não é preciso identificar o valor da
O STJ não admite alienação fiduciária dívida.
sobre bens fungíveis, uma vez que Súmula 245 do STJ: A notificação destinada
podem ser substituídos por outro de igual a comprovar a mora nas dívidas garantidas
espécie, qualidade e quantidade, tendo-se por alienação fiduciária dispensa a
na prática um contrato de mútuo (REsp indicação do valor do débito.
19915-8). Segundo a lei, caracterizada a mora, o
É possível dar em alienação fiduciária bem credor poderá converter a busca e
cuja propriedade já era do devedor. É a apreensão em ação de depósito para os
súmula 28 do STJ: O Contrato de alienação bens móveis (art. 4º, DL 911/69). Esta
fiduciária em garantia pode ter por objeto conversão objetivava viabilizar a prisão civil
bem que já integrava o patrimônio do do devedor infiel.
devedor. Só que no RE 466343- SP o STF, cujo
A alienação é um contrato escrito, não julgamento não foi concluído (está 7 X 0),
precisando necessariamente de escritura. concordando com o STJ e com a doutrina
Todavia, deverá estar sempre registrado brasileira, declarou a
[para valer contra terceiros]. inconstitucionalidade deste dispositivo
A súmula 92 do STJ dispõe: A terceiro de por conta da recepção do Pacto de São
boa-fé não é oponível a alienação fiduciária José da Costa Rica.
não anotada no certificado de registro do
veículo automotor.
Súmula 489 do STF: A compra e venda de Aula 8
automóvel não prevalece contra terceiros, Data:
de boa-fé, se o contrato não foi transcrito
no registro de títulos e documentos. Juros:
[Trata-se de um contrato de transferência 1. Legais:
de propriedade. Naturalmente, no caso dos São aqueles que decorrem da aplicação da
imóveis, a transferência só seria válida lei.
contra terceiros caso registrada no Cartório
de Registro de Imóveis. A novidade é que 2. Convencionais:
também na hipótese dos bens móveis a São aqueles que decorrem da autonomia da
transferência precisa ser registrada no vontade.
Cartório de Títulos e Documentos para
operar seus efeitos. Afinal, não houve 3. Compensatórios:
tradição, e a transferência de propriedade Decorrem da guarda dos recursos nas mãos
tem de ser exteriorizada de alguma forma do devedor. É o “preço do dinheiro”.
para valer].
A alienação fiduciária torna o objeto 4. Moratórios:
impenhorável para o devedor e para o Decorrem da mora.
credor. É possível apenas a penhora do
crédito, não do bem que o garante. 5. Forma de Contagem:
A jurisprudência vem admitindo a Estas 4 espécies de juros podem ser
instituição de consórcio como credora contadas de forma simples ou composta.
fiduciária. A forma composta é chamada de juros
Admite-se cessão de posição sobre juros ou juros exponenciais
contratual na alienação fiduciária. (anatocismo).
O credor pode ceder independente da
aquiescência do devedor, mas a cessão 6 Juros Legais Moratórios:
da posição do devedor depende da
aquiescência do credor.

133
Os arts. 389 e 395 dispõem sobre as aplicável a taxa SELIC, para os juros
conseqüências do descumprimento das moratórios legais.
obrigações. O art. 1º da lei de usura diz que essa lei se
Art. 389. Não cumprida a obrigação, aplica a quaisquer contratos. E na lei de
responde o devedor por perdas e danos, usura há uma limitação aos juros
mais juros e atualização monetária segundo moratórios a 1% ao mês, embora a CF não
índices oficiais regularmente estabelecidos, mais limite.
e honorários de advogado. Os juros de mora só podem ser
Art. 395. Responde o devedor pelos contados a partir da citação inicial.
prejuízos a que sua mora der causa, mais Obs.: Nas desapropriações, os juros
juros, atualização dos valores monetários são contados a partir do trânsito em
segundo índices oficiais regularmente julgado.
estabelecidos, e honorários de advogado.
Parágrafo único. Se a prestação, devido à 8. Juros Legais Compensatórios:
mora, se tornar inútil ao credor, este poderá Por exemplo, estes juros podem ser
enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e aplicados em razão do contrato de
danos. mandato.
Estes honorários não são de sucumbência e Decorre da compensação de um capital.
sim em decorrência de direito material.
Ainda que não haja nada convencionado, 9. Juros Convencionais compensatórios:
haverá juros em razão da mora. A lei de usura diz que esses juros só podem
Art. 406. Quando os juros moratórios não ser cobrados em até o dobro da taxa legal,
forem convencionados, ou o forem sem ou seja, 2% ao mês.
taxa estipulada, ou quando provierem de
determinação da lei, serão fixados segundo [Juros moratórios legais: 1% (art. 161, § 1º –
a taxa que estiver em vigor para a mora do majoritária) ou SELIC (art. 406 –
pagamento de impostos devidos à Fazenda minoritária).
Nacional. Juros moratórios convencionais: no máximo
[Esse dispositivo levaria a crer que se aplica 1% (lei da usura – sem controvérsia).
a taxa SELIC para reger os juros moratórios. Juros compensatórios legais: são os que a
Entretanto, essa taxa não é adequada, pois lei dispuser.
abrange, além dos juros, também a Juros compensatórios convencionais: no
correção monetária, o que geraria um bis in máximo 2% (lei da usura – é o dobro – sem
idem. Por isso, entende-se que os juros controvérsia)].
legais moratórios são sempre de 1% ao
mês, independentemente da taxa SELIC,
por força do art. 161, § 1º, do CC]. 10. Tabela Price
A taxa do art. 406 é a do art. 161, parágrafo Apesar do sistema vedar o sistema de juros
1º. É a posição majoritária, uma vez que a capitalizáveis, a tabela price adotou este
taxa SELIC também engloba correção sistema.
monetária e é estabelecida pelo CTN que Súmula 121 do STF: É vedada a
tem status de lei complementar: capitalização de juros, ainda que
Art. 161. O crédito não integralmente pago expressamente convencionada.
no vencimento é acrescido de juros de Nos outros lugares a tabela price é
mora, seja qual for o motivo determinante conhecida como sistema de juros
da falta, sem prejuízo da imposição das compostos.
penalidades cabíveis e da aplicação de A doutrina matemática afirma que essa
quaisquer medidas de garantia previstas tabela possui juros compostos.
nesta Lei ou em lei tributária. Metade das decisões dos tribunais
§ 1º Se a lei não dispuser de modo diverso, declaram a ilegalidade desta tabela.
os juros de mora são calculados à taxa de O STJ, em 2005, já declarou também a
um por cento ao mês. ilegalidade desta tabela alegando
§ 2º O disposto neste artigo não se aplica anatocismo, vedado pela lei de usura.
na pendência de consulta formulada pelo Ultimamente o STJ vem alegando que
devedor dentro do prazo legal para se trata de questão de fato e não
pagamento do crédito. examina o mérito dos RESPs a respeito
da tabela price, com fulcro na sua súmula
7. Convencionais Moratórios: nº 7.
São estabelecidos pelas partes.
É conveniente estabelecer juros 11. Agentes Financeiros:
convencionais, pois não se pode descartar a Limites de juros:
existência da interpretação que entende

134
Os bancos não são regidos pela lei da Esta correção se dá a partir do
usura, e sim pela lei 4595/64 que no art. vencimento e de acordo com os índices
9º estabelece limites: limitar a taxa dos oficiais. [Diferente dos juros de mora,
juros é competência do Conselho Monetário que incidem a partir da citação inicial
Nacional (Banco Central). (não do vencimento) e conforme os
O Banco Central baixou uma resolução limites legais (não conforme os índices
dispondo que está permitida a taxa de juros oficiais)].
de acordo com as taxas de mercado. É possível estipular uma correção
Ou seja, a lei diz que o Conselho monetária independentemente da mora. É a
deverá limitar e este, contrariamente, correção monetária compensatória
liberou a taxa de juros. (tem-se que observar o contrato – no de
Outrossim, os Tribunais estão dando locação, por exemplo, só pode ser feita uma
validade a esta resolução. vez por ano).
No sentido da lei 4595/64 está a súmula Em regra não se pode vincular a correção
596 do STF: As disposições do Decreto monetária a nenhuma moeda estrangeira
22.626 de 1933 não se aplicam às em face do art. 318 do CC:
taxas de juros e aos outros encargos Art. 318. São nulas as convenções de
cobrados nas operações realizadas por pagamento em ouro ou em moeda
instituições públicas ou privadas, que estrangeira, bem como para compensar a
integram o sistema financeiro diferença entre o valor desta e o da moeda
nacional. nacional, excetuados os casos previstos na
Com o advento da Constituição Federal de legislação especial.
1988 a competência da matéria de crédito
(financeira) é exclusiva da União.
Como o Congresso Nacional foi omisso, os
Tribunais continuam emprestando validade
a lei 4595/64. E por isto os bancos cobram
as taxas que bem entendem.
Juros compostos:
As instituições financeiras não poderiam
capitalizar juros, e a elas se aplicava a
súmula 121.
Ocorre que uma Medida Provisória na 17ª
edição que tratava, originariamente, do
orçamento da União, liberou esta
capitalização de juros.
Medida provisória, todavia, não pode
regulamentar o sistema financeiro, uma
vez que o art. 192 da CF restringe sua
regulamentação a edição de lei
complementar.
O STJ hoje empresta validade a medida
provisória sem adentrar no mérito da
constitucionalidade da medida
provisória. Mas tal assunto está em
discussão no STF.
A LC 95/98 dispõe que qualquer ato
normativo não pode ter matéria estranha
ao seu conteúdo. Todavia esta MP inseriu
este dispositivo estranho à matéria que
tratava. É mais um motivo para sua
inconstitucionalidade.

12. Correção Monetária:


A correção monetária não é um plus. A idéia
é a atualização do valor da moeda.
Havendo mora, independentemente de
qualquer coisa, há correção monetária.
É uma conseqüência do art.389 do CC.
Em razão da mora se pagam juros e
correção monetária.

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