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SOCIAIS
Resumo: Este artigo tem como objeto de análise a pesquisa científica e a ideologia em
ciências sociais, justificando-se pela relevância em compreender que independentemente
da pesquisa científica se evidenciar no campo das ciências sociais ou das ciências
naturais, esta se encontra imersa em um universo de significações, o que lhe atribui à
influência das ideologias, impossibilitando a neutralidade da investigação científica,
caracterizando-a, portanto, como um mito. Sendo assim, tem como objetivos refletir
sobre questões que delimitam a pseudoneutralidade do pesquisador e a construção de
referenciais específicos para as áreas distintas da pesquisa. Trata-se de uma pesquisa
bibliográfica, a partir da qual é possível alcançar um maior aprofundamento dentro da
temática em questão, compreendendo-a qualitativamente, apontando para a necessidade
de entender que independentemente de ser ciência natural ou ciência social, preservadas
as suas peculiaridades, a produção científica é um mecanismo de aproximações da
verdade e de compreensão da realidade na qual se está inserido, no intuito de uma busca
constante, de um caminho a ser percorrido no sentido de construção e reconstrução do
conhecimento, uma vez que não é apenas o investigador que dá sentido ao seu trabalho
intelectual, mas os seres humanos, os grupos e a sociedade como um todo que agregam
significado e intencionalidade às suas ações e às suas construções.
Introdução
Objetivos
Diante da perspectiva acima exposta, este trabalho tem como objetivo realizar algumas
reflexões sobre o pesquisador e a pesquisa científica na área das ciências sociais, mais
centrado nas questões que delimitam a neutralidade do investigador, o método e a
cientificidade para a pesquisa. O presente trabalho abordará ainda dentro do item
neutralidade, a subjetividade ideológica que reveste o meio no qual o cientista se insere
incorporando muitas vezes o objeto estudado.
Metodologia
Para tal, parte-se de fundamentação teórica que aborda o conflito entre ciências naturais e
ciências sociais, evidenciando desta forma não um abismo entre ambas, mas a
especificidade que remete o olhar do pesquisador a uma melhor compreensão da ciência,
a qual foi possível ao longo da história da humanidade, graças ao surgimento da escrita,
que possibilitou o posterior desenvolvimento e aperfeiçoamento da ciência até chegar à
esfera atual. Trata-se, deste modo, de uma análise qualitativa que busca compreender as
especificidades das ciências naturais e das ciências sociais, ao mesmo tempo remete a
contradição entre conhecimento e a tendência imposta pelas leis do mercado, atendendo
puramente os interesses do capital.
Resultados
As pesquisas na área da Sociologia durante um determinado tempo, estiveram relegadas
ao campo das ciências naturais, onde procurava-se fazer dela uma ciência exata como a
Biologia e a Física, na qual a subjetividade do pesquisador pudesse dar espaço à
neutralidade acadêmica, onde fosse possível isolar categorias de fenômenos, uma
exposição de qualquer doutrina à ciência. Esta forma de se compreender a pesquisa em
ciências sociais é o que podemos chamar de Sociologia científica, baseada nas premissas
do positivismo de Augusto Conte, seu fundador, corrente que tem suas bases no
Idealismo Filosófico ou Idealismo Subjetivo, cujo início está nos séculos XVI, XVII e
XVII, com Bacon, Hobbes e Hume.
O conhecimento científico para o positivismo parte do real, dos fatos tal como se
apresentam. Assim, o conhecimento para esta linha é sempre certo, não admitindo
conjecturas, tendo um grau forte de precisão e desvinculando-se do conhecimento
especulativo. É também Augusto Conte o fundador do que para a época - século XIX -,
era considerada uma nova ciência - a Sociologia -, a qual compreende a sociedade
enquanto um sistema governado por leis que são imutáveis em si mesmas e que são desta
forma independentes das vontades individuais ou coletivas. A sociologia positivista é
também uma concepção identificável na Sociologia de Durkheim, onde este busca de
forma efetiva a neutralidade do pesquisador, considerando os fatos sociais como meras
coisas.
Segundo Aron:
Desta forma, é preciso considerar o objeto das ciências sociais tal como este o é de fato,
ou seja, considerando todas as suas especificidades conjuntamente com o seu caráter
histórico, permeado pelo seu contínuo aperfeiçoamento e por sua “consciência social”.
Não podemos redimensionar a pesquisa em ciências sociais de forma a
compartamentalizá-la, tirando dela o seu caráter histórico, as pesquisas nesta área não são
compartimentos separados, individualizados, sem interação com o social, ou nas palavras
da própria Minayo,
Wilhelm Dilthey é um dos filósofos neokantianos que reagiram ao cientificismo, para ele,
“enquanto as ciências naturais tratam apenas do mundo exterior, as sociais têm que levar
em conta as relações entre o mundo interior, refletido na cultura, e o exterior” (DILTHEY
apud NOGUEIRA, 1979, p. 12). Não observamos aqui uma ênfase determinista entre as
ciências naturais e humanas, mas sim, uma postura sociológica que busca uma adequação
quanto ao “significado”, ou seja, objetiva-se a coerência para com o objeto de estudo das
ciências humanas. Assim, pode-se dizer que “se o positivismo, de um lado, têm
favorecido a corrente cientificista ou naturalista, de outro, perspectivas filosóficas como a
existencialista, a fenomenologia e a dialética têm mostrado maior afinidade com a
corrente humanística” (NOGUEIRA, 1979, p. 14).
A pesquisa em ciências sociais tem o objetivo de compreender o homem e suas inter-
relações sociais no nível de complexidade que se apresenta, o olhar do pesquisador neste
sentido é profundo e busca enxergar aquilo que num primeiro momento não lhe é
possível, ou seja, o que está presente nas entrelinhas destas relações sociais, buscando ir
além da interpretação dada pela sociedade.
Pautado na questão da neutralidade científica, Durkheim em sua sociologia embasada nas
ciências naturais, chamará de ideologia todo conhecimento da sociedade que não respeite
os critérios de objetividade.
Conclusões
O âmago da explicação passa a ser a luta de classes. Observa-se que a produção científica
acompanha as fases históricas do desenvolvimento das classes sociais, “não existe ciência
pura de um lado e a ideologia de outro. Existem diferentes pontos de vista científicos que
estão vinculados a diferentes pontos de vista de classe” (LÖWY, 2002, p. 104). Por outro
lado, o conhecimento científico não pode restringir-se ao embate entre as diferentes
classes sociais e aos seus interesses.
Fazer ciência é fazer tentativas de conhecimento da verdade. A pesquisa científica é um
constante e dinâmico processo que se aproxima da verdade, é isto que caracteriza o
conhecimento científico como conhecimento verdadeiro, “a verdade absoluta jamais será
conhecida, todo o processo de conhecimento é um processo de acercamento, de
aproximação à verdade. Dentro do conhecimento científico há níveis maiores ou menores
de aproximação da verdade” (LÖWY, 2002, p. 110). Quando mencionamos o termo
ciência, na verdade estamos dizendo processo de aproximação e ao mesmo tempo
processo de produção de conhecimento, que busca incessantemente a verdade sem os
possíveis elementos que a ocultam (ideologias), independente de ser ciência natural ou
ciência social preservada as suas peculiaridades, não no intuito de remetê-las a pólos
totalmente contrários, mas de se pautar em critérios específicos de cada área, ainda assim,
tanto em uma como em outra, a produção científica é a produção de aproximações da
verdade.
Referências bibliográficas
LÖWY, Michael. Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista.
São Paulo: Cortez, 2002.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa Social. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
NOGUEIRA, Oracy. O objeto das ciências humanas. In: Pesquisa social, projeto e
planejamento. Hirano, Sedi (Org.). São Paulo: T. A. Queiroz, 1979.