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APOSTILA DE CRIMINOLOGIA
Versão 2.0 em 15-11-2003
Conceito de Criminologia
Jiménez de Asúa:
1
Tratado de Derecho Penal, Buenos Aires, 1950, tomo I, p. 75.
3
Diferenças entre
Direito Penal
e
Criminologia
O Direito Penal sendo uma ciência normativa; é a ciência da repressão social ao
crime, através de regras punitivas que ele mesmo elabora. O seu objeto,
portanto, é o crime como um ente jurídico, e como tal, passível de suas sanções.
A Criminologia é uma ciência causal-explicativa, tem por objeto a incumbência
de não só se preocupar com o crime, mas também de conhecer o criminoso,
montando esquemas de combate à criminalidade.
cabra.
ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS
Francesco Carrara
O mestre de Pisa, que foi, sem dúvida alguma, o artífice da
escola clássica, afirmava:
"O homem deve ser submetido às leis penais por sua natureza moral;
em conseqüência, ninguém pode ser socialmente responsável pelo ato
praticado se moralmente irresponsável." 3
Cesare Lombroso
Nasceu em Verona, em 6 de novembro de 1835, descendente pelo lado
paterno de judeus-espanhóis, expulsos de pátria
pêlos Reis Católicos, em 1492.
Rafael Garofalo
Nasceu em 1852, vindo a falecer em 1934. Publicou o livro
Criminologia em 1884, foi Ministro da Corte de Apelação de
Nápoles. Iniciando-se do Criminoso nato, de Lombroso, imaginou que
houvesse sempre um delito em qualquer lugar ou época.
Do prisma do grande jurista, o ponto de partida seria sociológico.
Apesar de renunciar a uma universalidade absoluta da moral, determina
alguns instintos morais que fazem parte da espécie humana.
15
4
António Moniz Sodré de Aragão - As Três Escolas Penais, 3" ed.. Saraiva, São
Paulo, 1928, pp. 139-140.
16
propriedade.
Fatores econômicos
Cesar Herrero Herrero afirma em seu livro Los delitos económicos, que
"tanto o direito penal como a criminologia tem como parte de seu objeto o
conceito de delito.
O Direito Penal olha através de uma ótica normativa, a criminologia
trata de uma dimensão de maior amplitude".
Continua Herrero afirmando que "haverá delito econômico quando se
trata de uma conduta típica, antijurídica, imputável, culpável e punível,
sob as luzes de uma Lei pertencente ao direito econômico"48.
Niggemeier define delito econômico: "como as infrações penais que se
cometem explorando o prestígio econômico ou social, mediante o abuso
das formas e as possibilidades de configurar os contratos que o direito
vigente oferece, ou abusando dos usos e das razões de vida econômica,
embasados em alta confiança, infrações penais que, de acordo com a
forma que se cometem e as repercussões que têm, são idôneas para
perturbar ou colocar em perigo, acima do prejuízo dos particulares, a vida
e a ordem econômica" 6.
EVOLUÇÃO DA CRIMINOLOGIA
6
Francisco Alonso Pérez - Introducción ao Estudio de Ia Criminología, Editorial
Reus, Madrid, 1999, p. 296.
20
justiça dos injustos". Sustentava que a pena deve significar uma ameaça e
um exemplo. Deve ser também u'a medida de defesa social, mas,
principalmente, contribuir para a regeneração do culpado.
Renascimento e a Criminologia
Civil-, nem os juristas da Idade Média lograram estruturar uma teoria ci-
entífica em matéria criminal, como sistema filosófico (La Sociologia Cri-
minelle, ps. 2 e 3).
Daí afirma-se que os romanos foram gigantes em matéria de Direito
Civil, porém, pigmeus no tocante ao Direito Penal.
Ciências histórico-filosóficas
História do Direito Penal
Filosofia do Direito Penal
Direito Penal Comparado
Ciências causal-explicativas
Antropologia Criminal
Biologia Criminal
Psicologia Criminal
(ESTRESSE)
TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO
Estatística Canadense :
Existe uma questão crucial nas leis sobre controle de armas. Qual o seu
verdadeiro efeito?
Mais vidas serão salvas ou perdidas? Elas deterão o crime ou o
encorajarão? Para providenciar uma resposta mais empírica, foi realizado
um estudo sobre uma lei de controle de armas, - a permissão para o
porte de arma oculta, ou seja -sem ser visível.
Trinta e um Estados Americanos deram aos seus cidadãos o direito de
portar armas caso não possuíssem ficha criminal ou historia de doença
mental. O professor John R. Lott Jr., ( University of Chicago Law School)
juntamente com David Mustard ( graduado em economia pela University
of Chicago), analisaram as estatísticas criminais do FBI num total de
3.054 Condados Americanos entre 1977 e 1992. Os achados foram
33
dramáticos.
O estudo mostrou que os Estados reduziram os assassinatos em 8,5%, os
estupros em 5%; os assaltos à mão armada em 7% e os roubos com
armas em 3%. Se esses Estados tivessem aprovado essa lei antes,
teriam evitado 1570 assassinatos, 4.177 estupros; 60000 assaltos à mão
armada e 12000 roubos.
Conceito de Crimonogênese
Quanto à intenção
Quanto à materialidade
Quanto ao sujeito
Quanto ao objeto
libidinosas;
m) de lesa-pátria: os crimes de alta traição, quando atentam contra a segurança e
a soberania nacionais, por meio de inteligência com potências inimigas, durante o
estado de guerra ou greve convulsão social;
n) pluriofensivos: são aqueles que ofendem a mais de um bem jurídico tutelado
pela lei penal, como o roubo.
Quanto à conduta
a) conexos: são aqueles praticados -1) ao mesmo tempo, por diversas pessoas
reunidas; 2) em conseqüência de um pacto previamente estabelecido, embora o delito
seja perpetrado em diferentes tempos e lugares; 3) como meio de execução de outros,
ou como expediente para procurar a impunidade; 4) quanto têm com outra infração
uma estreita interdependência, ou nexo de tal natureza que se torna impossível
apreciá-Ios isoladamente, cindindo a prova;
b) de concurso facultativo ou simplesmente co-autoria: são os crimes em que a
participação de dois ou mais agentes não constitui elemento fundamental para
configuração do delito;
c) de concurso necessário: são os crimes que exigem para a sua configuração o
concurso de duas ou mais pessoas, quer dizer, a própria descrição típica exige o
concurso, como nos crimes coletivos (caso da quadrilha OU bando) ou nos bilaterais,
sendo que nestes uma das pessoas pode não ser culpável, como nos crimes de
adultério e bigamia.
Acontece que ali é uma região de intenso trânsito rodoviário, despertando assim
os olhares daqueles que circulam, em automóveis e ônibus, podendo desse modo
revelar admiração por aquelas novas construções, obra de determinado político, sem
considerar as inconveniências acima apontadas.
Ora, o que o bom senso e a coerência recomendavam era um entrosamento entre
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Por outro lado, os países mais desenvolvidos possuem leis severas, no que diz
respeito aos motoristas que tenham tomado bebidas alcoólicas. Na Alemanha, por
exemplo, é considerada como infração grave e embriaguez no volante. Bastam 2
copos de cerveja, apenas, para que o motorista seja considerado alcoolizado e, no
caso, a medida tomada é a cassação imediata e, na maioria das vezes, definitiva, da
carteira de motorista.
No Brasil, há um misto de sentimentalismo e escrúpulo, no que diz respeito à
cassação da carteira de habilitação, ora sob a alegação de que isso representaria a
perda do emprego, ora sob o fundamento de que o trânsito implica num risco
razoável. Com isso, um mesmo infrator ocasiona sucessivos desastres, causando
lesões corporais e morte, e enquanto responde aos processos, continua de posse de
duas carteira, sem ser molestado, ensejando novos desastres, provocados pelos que
denominamos "bandidos do volante" (Comentários ao Código de Processo Civil, art.
275, vol. I).
O emprego do álcool, como combustível automobilístico, trouxe novos
complicadores em relação à poluição ambiental, como veremos adiante, ao que se
soma ao fato de o motorista dirigir embriagado. É que, de acordo com a estimativa
duma Delegacia Especializada em Acidentes de Trânsito, cerca de metade dos
motoristas paulistanos, homens e mulheres, dirigem seus carros em estado de
embriaguez.
Conforme uma pesquisa realizada no Brasil, intitulada "A Influência do Etanol nas
Atividades Psicomotoras Envolvidas no Ato de Dirigir Veículos", constatou-se que o
álcool é rapidamente absorvido pelo aparelho gastrintestinal- cerca de 90% - em uma
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hora. Sua solubilidade alta na água permite a passagem rápida por qualquer
membrana humana e, uma vez diluído no sangue, entra imediatamente em contato
com o cérebro. A princípio a pessoa entra num estado de excitação e, logo após, vem
a depressão, quando, segundo Kalant, ocorre "uma diminuição da reação de alerta e a
atividade dos centros regulatórios autônomos adquire um padrão bastante
aproximado do estado de sono". Ou seja, começou a surgir os sintomas do sono, com
a perda da capacidade de concentração e dispersão dos sentidos.
São os seguintes os distúrbios causados pela ingestão excessiva de bebidas
alcoólicas: visuais, sonolência patológica, reflexos retardados, hipoglicemia severa e
disritmias epileptiformes, na crise de abstinência de álcool.
Diante desse quadro é que se pode avaliar a extensão da impostoria e o descabido
regozijo da fala ministerial, ou seja, o teor dos discursos pro nunciados por ocasião da
solenidade de comemoração do alcance da meta de produção de 10,7 bilhões de litros
de álcool e da comercialização do milionésimo veículo a álcool, no Brasil (Publicação
da Comissão Executiva Nacional do Álcool- Secretaria Executiva, Brasília, 19.09.1983).
O que se escamoteou, nessa ocasião, foi a verdade acerca da poluição causada ao
meio ambiente, principalmente com o lançamento do vinhoto (resíduo da cana-de-
açúcar, com elevado teor tóxico) em nossos rios, ocasionando a destruição da fauna
aquática, com igual reflexo nos oceanos; o agravamento da dívida externa, pois essas
empresas automobilísticas remeterão, com esse aumento de produção de veículos,
mais dividendos, juros e royalties para as suas matrizes no exterior, e assim por
diante, resultando mais esfomeação e miséria para as camadas sociais carentes de
nosso povo.
Em Israel, por exemplo, no que diz respeito à severidade das leis de trânsito, há
um critério para a perda da carteira de habilitação: basta que o motorista some 8
pontos em inftações cometidas. Para o excesso de velocidade a punição é 1 mês sem
licença. Andar sem seguro são 8 pontos - e um juiz decide o tempo de cassação. O
motorista surpreendido sem documentos tem o prazo de 24 horas para apresentá-los.
Sendo alguém que estava suspenso, temporariamente, a perda é às vezes duplicada
de 1 para 3 anos.
Quanto ao Brasil, com o advento do Código de Trânsito Brasileiro (Lei n° 9.503, de
23.09.1997), adotaram-se regras similares.
Na Itália, no caso de grave responsabilidade pessoal em acidente de trânsito com
vítimas fatais, a carteira pode ser cassada, provisoriamente, até uma decisão judicial
(Vida e Saúde, SP, 1984).
Enquanto se observa esse quadro, em relação ao transporte individual, o setor de
transportes coletivos de tração elétrica, como convém ao Brasil, se encontra em
completo abandono. .
No capítulo intitulado O Delírio do Automóvel, do livro que publicou, o engenheiro
Renê Fernandes Schoppa demonstra, com argumentos e fatos irrespondíveis, o
absurdo da política de expansão da indústria automobilística, mesmo em relação aos
EUA, acarretando um elevado custo social, com a aplicação de recursos em planos
viários elitistas, para facilitar o transporte individual, poluição ambiental, e danos à
saúde pública (Para Onde Caminham Nossas Ferrovias? ps. 87 e segs.).
A "DELINQÜÊNCIA JUVENIL"
Segundo Nélson Hungria, o Código Penal de 1940, não dá uma definição positiva
da responsabilidade, sob o ponto de vista jurídico-penal, limitando-se a declarar os
casos em que esta se considera excluída, assim se expressando: "Por dedução a
58
Como se sabe, segundo a sistemática adotada pelo nosso Código Penal de 1940, a
responsabilidade só deixa de existir quando inteiramente suprimidas no agente, ao
tempo da ação ou omissão, a capacidade de entendimento ético-jurídico ou a
capacidade de adequada determinação da vontade ou de autogoverno. Tal supressão,
porém, está indeclinavelmente condicionada a certas causas biológicas: "doença
mental", "desenvolvimento mental incompleto ou retardado" e "embriaguez fortuita e
completa". Foi, assim, adotado o método chamado misto ou biopsicológico, devendo
notar-se, entretanto, que o Código faz uma exceção a essa regra quando trata dos
menores de 18 anos, pois, nesta hipótese a causa biológica (imaturidade) basta, por si
só, irrestritamente, sem qualquer indagação psicológica, para excluir a
responsabilidade penal, como sustenta Nélson Hungria (Comentários ao Código Penal,
voI. I, Tomo 2°, ps. 314 e segs.).
Na realidade, o critério adotado pelo nosso Código Penal de 1940 tem origens e
explicações de natureza psicológicas, eis que, qualquer que seja o momento em que
surpreendemos o germe humano, desde a sua fecundação, até adquirir o caráter de
embrião (aos dez dias) ou de feto (aos dois meses), nele podem obter-se
experimentalmente dois tipos de reação: locais e globais, reações essas que,
progressivamente, adquirem um caráter unitário e intelectual, base das reações
psíquicas, cujo aparecimento se dá incontestavelmente pelo sexto mês do
desenvolvimento intra-uterino, coincidindo com a viabilidade do feto. Em suma, há
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seres humanos um peso morto, uma carga inútil e nociva ao meio social em que
vivem. Paradoxalmente, esse mesmo meio social - através de seus órgãos punitivos -
acaba de liquidá-Ios, moral e fisicamente, nos seus estabelecimentos prisionais: as
mundialmente conhecidas "casas de horrores".
Imaturidade penal
Estabeleceu o art. 23, do nosso Código Penal de 1940 que, os menores de dezoito
anos são penalmente irresponsáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na
legislação especial, preceito esse reproduzido no art. 228 da Constituição de 1988.
. A legislação especial em causa consistiu em diplomas legais específicos, que se
sucederam até a vigência da Lei n° 8.069, de 13.07.1990-Estatuto da Criança e do
Adolescente -, que dispõe, dentre outras medidas, sobre a assistência, proteção,
vigilância, vida e saúde dos mesmos.
Como se vê, pelos princípios acima expostos, a imaturidade individual e individual-
sociai"do psiquismo das crianças e adolescentes constitui causa de exclusão ou
atenuação da imputabilidade, matéria essa que tem recebido as soluções mais
diversas através dos tempos: a equiparação penal do menor ao adulto, a exclusão da
pena para as primeiras idades, ou a sua atenuação subordinada ou não ao critério dos
discemimentos. "Hoje, o pensamento fundamental em referência à chamada
criminalidade dos menores, é que ela não constitui matéria do Direito punitivo, mas de
um regime tutelar" (AníbalBruno - Direito Penal, I, Tomo 2°, ps. 163 e segs.).
Versando sobre o tema, salienta Ga1dino Siqueira que, "no homem a noção do
justo surge mais cedo do que a noção do útil", aduzindo o seguinte:
"A lei civil mesmo tem em tanta conta este fato de observação, que declara o
menor responsável pelos seus delitos ou quase-delitos civis, ainda que lhe seja
permitido anular suas obrigações convencionais, desde que prove ter sido lesado.
Daí por que a maioridade penal é fixada antes da maioridade civil nas
diferentes legislações" (cf. Direito Penal Brasileiro, p. 354, vaI. I, 1932).
Contudo, cumpre lembrar que a experiência legislativa brasileira adotou, no
passado, o critério de responsabilidade penal aquém dos dezoito anos, como veremos
adiante.
o nosso Código Penal de 1890 estabeleceu em seu art. 27, que não são
criminosos, dentre outros, os menores de nove anos completos, e os maiores de nove
e menores de 14, "que obrarem sem discemimento" (§§ 1° e 2°).
Por sua vez, o art. 30, do mesmo diploma legal, dispôs que "os maiores de nove
anos e menores de 14, qlie tiverem obrado com discemimento, serão recolhidos a
estabelecimentos disciplinares industriais, pelo tempo que ao juiz parecer, contanto
que o recolhimento não exceda à idade de 17 anos".
Comentando o citado art. 27, do Código Penal brasileiro de 1890, salientou Oscar
de Macedo Soares que o critério de idade, adotado pelo Códi. go Criminal do Império
(1830) e pelo referido Código de 1890, teve como fonte de inspiração o direito
romano, que distinguia as três classes: infantes (até os 7 anos), impuberes (dos 7 aos
14 anos), minores (dos 14 aos 18 ou aos 21 anos).
Em suma, segundo o referido Código, em se tratando de menores de 9 a 14 anos,
que obrarem sem discernimento, a irresponsabilidade é plena; quanto àqueles, da
mesma idade, que obrarem com discernimento, a irresponsabilidade é semiplena, e
por isso determinava o Código fossem recolhidos a estabelecimentos industriais,
disciplinares, pelo tempo que o juiz determinasse, contanto que dito recolhimento não
excedesse a idade de 17 anos (Código Penal da República dos Estados Unidos do
Brasil, 3a ed., p. 34).
Por seu turno, a Consolidação das Leis Penais (Decreto n° 22.213, de 14.12.1933),
que vigorou até a entrada em vigor do Código Penal de 1940, dispôs em seu art. 27
que não são criminosos, dentre outros, os menores de 14 anos (§ 1°), enquanto o art.
30, do mesmo diploma punitivo, estabeleceu que "os menores de 18 anos,
abandonados e delinqüentes, ficam submetidos ao regime estabelecido pelo Decreto
n° l7.943-A, de 12.10.1927" (Código de Menores). .
Versando sobre a matéria, escreveu Francisco Pereira de Bulhões Carvalho, que
em relação aos menores infratores da lei penal de 14 a 18 anos, o Código de Menores,
de 1927, determinou "um verdadeiro sistema penal próprio, isto é, aplicação de
sanção penal relativamente indeterminada, correspondente à prática do delito e a ser
cumprida em reformatório ou estabelecimento anexo a penitenciária de adulto" (Di-
reito do Menor, p. 34).
Como seres humanos, embora com tenra idade, as crianças são também
suscetíveis de degenerescência, seja por fatores ou causas hereditárias, genéticas,
biológicas, sociais, econômicas, psicológicas, familiares, que podem exercer influência
maléfica sobre aquelas, a ponto de transformá-Ias em verdadeiros monstros, entes
perversos, insensíveis, cruéis, torpes, assassinos, sangüinários.
Daí a expressão criança-monstro, cujos casos concretos são conhecidos desde a
Antigüidade, constituindo objeto de estudos psiquiátricos (cr. Philip Solomon e Vemon
D. Patch, Manual de Psiquiatria, ps.530 e segs.; Arthur Ramos, A Criança Problema, ps.
31 e segs.).
Seja como for, o tema em apreço relaciona-se à problemática de natureza
psicológica, concemente ao discemimento e inteligência, que devem servir de
fundamento para a fixação da idade de responsabilidade penal.
adiante.
Cabe lembrar ainda que, de acordo com os estudos sobre o assunto, o menor ou
maior quociente de inteligência, assim como o fenômeno do indi-" víduo superdotado
não resultam da hereditariedade, constituindo sim características individuais, da
mesma forma, por exemplo, como os dotes vocais, a bela voz, o talento artístico.
De acordo com os dados coligidos por César Barros Leal, a idade fixada para efeito
de responsabilidade penal, nos diversos países, dentre outros selecionados, é a
seguinte: Haiti - 14 anos; Índia, Paquistão, Honduras, EI Salvador, Iraque-15 anos;
Birmânia, Filipinas, Ceilão, Hong-Rong, Bélgica, Nicarágua, Israel- 16 anos; Malásia,
Polônia, Grécia, Costa Rica - 17 anos; Brasil, Tailândia, Áustria, Luxemburgo,
Dinamarca, Finlândia, França, Suíça, Iugoslávia, Peru, Uruguai, Turquia - 18 anos; EUA
- há variação de critérios nos diversos Estados-Membros da Federação, entre
16,17,18,19 e 21 anos (ob. e loco cits.).
Percentualmente, a variação de idade, nos diferentes países, é a seguinte: 14 anos
(0,5%),15 anos (8,0%),16 anos (13,0%),17 anos (19,0%), 18 anos (55,0%), 19 anos
(0,5%) e 21 anos (4,0%).
Como vimos anteriormente, de acordo com Nélson Hungria, nosso legislador não
"cuidou da maior ou menor precocidade psíquica" dos menores de dezoito anos,
simplesmente "declarou-os por presunção absoluta, desprovidos das condições da
responsabilidade penal, isto é, o entendimento ético-jurídico e a faculdade de auto
governo" (Comentários ao Código Penal, art. 23, voI. 2°, 1955).
Acontece que, de acordo com os estudos e as conclusões da Psicologia, o
desenvolvimento da inteligência no indivíduo se desenrola até aos 15 anos, ou mais
geralmente aos 13 Y2 anos, após o que conta somente o crescimento da experiência e
da educação (cf. J. Alves Garcia, Psicopatologia Forense, ps. 91 e 93).
Quer dizer, aos 15 anos o indivíduo já se encontra com suficientes discernimento e
inteligência para se desencumbir das tarefas lhe propõe a existência, inclusive o
entendimento ético-jurídico, a faculdade de autogoverno, enfim a capacidade para
entendimento acerca dos atos ilícitos penais.
Em face das considerações acima expostas e da realidade brasileira, toma-se
imperiosa a reflexão acerca da fixação da idade em quatorze anos, para efeito de
responsabilidade penal, como ressaltamos na Indicação n° 187/1995, oferecida ao
Instituto dos Advogados Brasileiros.
Isso se justifica em face da incontrolável violência, por parte dos menores de 15
anos no Brasil, e dos elevados indices de infrações penais por eles praticadas; por
outro lado, os mesmos competem ombro a ombro, em matéria de ferocidade, com os
delinqüentes adultos, no que diz respeito aos sangrentos motins e rebeliões, ocorridos
nos estabelecimentos correcionais, conforme o noticiário divulgado pelos meios de
comunicação social, freqüentemente, resultando daí várias mortes.
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face dos princípios que regem o ordenamento jurídico pátrio, nessa esfera (Da
Responsabilidade Civil, voI. lI, p. 445).
Recorrendo-se à opinião de Nélson Hungria, verifica-se que nosso Código Penal de
1940 não previu "a hipótese de superveniência da morte da vítima, conseqüente ao
efetivo contágio. Como resolver tal hipótese? Se o agente procedeu com dolo de
perigo ou dolo de dano, o fato ser-lhe-á imputado a título de "lesão corporal seguida
de morte" ou "homicídio preterintencional" (art. 129, § 1°). Se o antecedente, porém,
era simplesmente culposo, responderá por homicídio culposo (art. 121, § 3°)"
(Comentários ao Código Penal, voI. V, p. 396).
Até que ponto a falta de condições higiênicas essenciais, a promiscuidade sexual,
debilitamento orgânico, estresse e outros aspectos, são responsáveis pelos elevados
índices de incidência da AIDS, nos diversos países?
Segundo dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde, a China, por
exemplo, com mais de um bilhão de habitantes, não registrava casos de AIDS, salvo os
de 13 estrangeiros, lá residentes, que se encontravam então sob tratamento,
hospitalizados (Jornal do Brasil, 02.03.1988).
Prossegue:
"O amor nasceu com a violência. Nas florestas da humanidade primitiva, o macho
impunha-se, violentamente, à fêmea esquiva e possuía-a pela força. E só a lenta e
tormentosa elevação moral, de geração para geração, do Oriente místico até a Grécia
bela, até a poderosa Roma, conseguiu purificar e imprimir uma certa delicadeza ao
sentimento do amor, no qual, porém, palpita sempre, bem viva, a recordação
nostálgica da violência primitiva" (Discursos de Defesa, ps. 12 e 22).
Sob a ótica fascinante da arte, do canto e da literatura, escreve Ferri:
"A Cavalheira Rusticana passou do fraco êxito do conto aos triunfos
dum drama onde se sucedem rapidamente, em cenas emocionantes, o abandono da
amorosa, o adultério, o duelo de morte, onde um marido vinga a sua honra e um
amante paga com a vida a vileza do abandono e a sua boa sorte, onde enfim, os
principais personagens são criminosos passionais.
E o triunfo toma-se uma apoteose universal da arte italiana quando Mascagni
empresta a essas paixões, mas ou menos criminosas, a mágica beleza da sua música
nervosa é inspirada" (Os Criminosos na Arte e na Literatura, p. 86).
Assim, o cérebro da mulher não foi criado "para" ser o que tem sido e somente
isso. Podemos dizer que a sua organização cerebral está de acordo com o tipo de
civilização existente, as necessidades e aspirações femininas verificadas até agora,
com ilimitadas possibilidades de transformação, conclui Tito Lívio de Castro (A Mulher
e a Sociogenia).
Como se vê, trata-se duma visão acerca da mulher, afinada com os fundamentos
do darwinismo social.
alimentícias).
Desse modo, a luta pela sobrevivência e o crescente desenvolvimento capitalista
impeliram a mulher à participação direta na produção social, através da grande
indústria mecanizada, que acelerou o processo de ascensão e independência das
operárias, ampliando-Ihes as perspectivas e criando novas condições de existência,
infinitamente superiores ao confinamento patriarcal e artesanal, pré-capitalista (Lênin
- O Socialismo e a Emancipação da Mulher, Rio, 1956).
Por outro lado, como observa Alexandra Kollontai, a monogamia, o amor livre, as
uniões temporárias e a própria liberdade opcional de ser mãe solteira, sem que isso
seja necessário unir-se ao homem pelo casamento, são formas de existência que
coexistirão no futuro, pois, afinal, a mulher passou a ver no prazer, na variação sexual
descomprometida, como o homem, a maneira válida e espontânea de se satisfazer; o
mais deve constituir-se de trabalho e êxito profissional. De resto, o amor e o prazer
sexual não são tudo na vida (A Nova Mulher e a Moral Sexual, ps. 69 e segs.).
São curiosos, no entanto, certos aspectos legais, com relação ao comportamento
psicossomático feminino.
O Código Penal cubano, por exemplo, prevê a hipótese de que a menstruação
possa representar um fator de agressividade feminina, nos crimes contra a pessoa,
constituindo assim uma atenuante da pena.
Por outro lado, o estado puerperal, segundo o Código Penal brasileiro, de 1940,
pode determinar a alteração do psiquismo da mulher normal, ensejando situações,
teoricamente consideradas como "transitória conturbação da consciência", ou "loucura
emotiva", cabendo ao juiz invocar o parecer dos peritos-médicos, a fim de que estes
informem se a infanticida, ainda que isenta de taras psicopáticas, francas ou latentes,
teve a contribuir para o seu ato criminoso as desordens fisicas e psíquicas derivadas
do parto (Nélson Hungria - Comentários ao Código Penal, art. 123, vol. V, ps. 233 e
segs.).
Argélia 4% Itália 9% Bélgica 13% Alemanha 15% França 17% Inglaterra 24%
Naturalmente, sob uma nova ordem social, sem a influência negativa desse
conjunto de fatores, acima examinados, a conduta feminina terá outro sentido a
direção, pois até então, como afirmou Afrânio Peixoto, a civilização fez da mulher
máquina de prazer: a mulher vadia, a cavalo de corrida, os gatos peludos e os
cãezinhos de luxo; e, somente numa sociedade onde todos trabalhem e sejam
remunerados apenas pelo seu trabalho, não haverá tempo a perder, nem riqueza a
acumular, e assim:
"O homem amará a mulher, simplesmente, decentemente, sem luxo, sem punhal,
sem perversões, sem morfina, sem revólveres, sem adultérios, sem profanações, sem
crimes passionais. Será uma função da vida, como as outras (...)" (Criminologia, p.
121).
Lembra Julita Lemgruber que, quando se discutem temas, acerca dos índices de
criminalidade, meios de combater a violência, situação penitenciária:, as pessoas
parecem visualizar antes o homem criminoso, o homem preso, enquanto que a figura
da mulher criminosa e da presidiária não costuma preocupar tanto, ou sequer vir à
baila, embora a questão tenha a sua especificidade.
Nesse contexto, é significativo o fato de os dados relacionados à distribuição de
inquéritos policiais ou processos criminais, não indicarem os protagonistas dos
mesmos, isto é, se são homens ou mulheres.
Contudo, tomando-se o ano de 1976 como ponto de referência, observa-se que na
época havia no Rio de Janeiro 310 mulheres e 8.511 homens, recolhidos nos diversos
estabelecimentos prisionais do Sistema Penitenciário, seja cumprindo pena ou
aguardando julgamento, o que então significava uma proporção de 3,5% mulheres e
96,5% homens para o total de detentos.
Considerando-se, em termos totais, a distribuição da população masculina e da
feminina na época, verifica-se uma flagrante discrepância, em matéria de percentuais
sobre criminalidade, ou seja, para uma população de 5.249.000 homens e 5.455.000
mulheres (isto é, 49% homens e 51% mulheres), a proporção de 3,5% mulheres e
96,5% homens, respectivamente, acima indicada, causa impressão ( Criminalidade
Feminina, in Rev. da OAB-RJ, Ano VI, voI. VIII, 1980, ps. 28 e segs.).
Para Lombroso, as mulheres seriam organicamente mais conservadoras do que os
homens, devido sobretudo à imobilidade do óvulo, comparada à mobilidade do
espermatozóide; mais passivas, tenderiam menos ao crime do que os homens.
Por seu turno, Freud entendia que o crime feminino representa uma rebelião
contra o natural papel biológico da mulher e evidencia um "complexo de
masculinidade".
Entretanto, em 1950, Otto Pollack surge com uma nova idéia: a mulher é tão
criminosa quanto o homem; a diferença nas taxas de criminalidade reflete, tão-
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somente, o fato de que os crimes cometidos por mulheres são em geral menos
detectáveis do que aqueles cometidos por homens. Ademais, mesmo quando
descobertos, os crimes femininos são menos freqüentemente relatados às autoridades
e, quando relatados, há menor chance de que as mulheres sejam levadas a tribunais e
consideradas culpadas, não oferecendo, porém, o mencionado autor, dados
estatísticos confiáveis, para a comprovação de suas assertivas.
Estudos mais recentes, entretanto, trouxeram à baixa fatores sócio-estruturais,
com argumentos e dados plausíveis.
Em geral, sustenta-se que as mulheres cometem menos crimes porque o seu estilo
de vida apresenta-Ihes menos oportunidades para delinqüir: mais afeitas às lides
domésticas e menos expostas às pressões econômicas, já que a responsabilidade pela
obtenção de recursos necessários à manutenção da família tende a recair mais sobre
os homens, as mulheres estão menos sujeitas ao crime. Além disso, verificou-se
também que na faixa de idade em que, hipoteticamente, as mulheres estariam
ocupadas com os cuidados de seus filhos menores, há menor incidência na prática de
delitos.
Nessa ordem de idéias, as análises das tendências verificadas nas taxas de
criminalidade nos últimos anos parecem indicar que, à medida que há maior
participação feminina na força de trabalho e maior igualdade juridico-política entre os
sexos, a participação da mulher nas estatísticas criminais tende a crescer. Nos Estados
Unidos, por exemplo, entre 1960 e 1972, o número de detenções para mulheres
aumentou três vezes mais rapidamente do que para os homens. No Canadá, essas
detenções duplicaram, num período de nove anos. Na Índia, o número de presidiárias
quadruplicou entre 1962 e 1965. No Brasil, entre 1957 e 1971, as condenações de
mulheres cresceram duas vezes mais rapidamente do que as de homens, e,
paralelamente, a participação da mulher brasileira na população economicamente
ativa passa de 14,7% em 1950, para 17,9% em 1960, e finalmente, 21,0% em 1970
(Julita Lemgruber - ob. e 10c. cits., ps. 30 e 31).