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Miscelânea
O Globo (RJ) - 20/08/2005

ADEUS, ÉTICA
CLÁUDIO WEBER ABRAMO
Um dos benefícios que a crise do mensalão poderá trazer aos
A presença do nome
costumes brasileiros será a desmoralização do discurso pretensamente adeus, ética numa
"ético". Tal discurso, que respondeu por parte ponderável (não a única, matéria não significa
necessariamente que
bem entendido) da ascensão do Partido dos Trabalhadores, penetrou essa pessoa ou empresa
em diversas outras áreas além da política, notadamente a empresarial. esteja envolvida em
algum caso como
A crise também tem exibido a tendência de algumas organizações da acusada de corrupção,
mas apenas que é
sociedade civil, comprometidas de forma aberta ou mais geralmente mencionada.
sub-reptícia com o PT, de empregarem o discurso "ético" para tentar
desviar a atenção dos atos de corrupção que originam caixas dois (tanto Preste atenção em
possíveis homonimias:
desse partido quanto de qualquer outro), apontando em vez disso para verifique pelo contexto da
alvos distantes. O preferido é o modelo de financiamento eleitoral. Esse notícia se o nome
mencionado no texto
específico discurso "ético" tem às vezes recorrido à extraordinária corresponde realmente ao
proposição de que, como "todo mundo faz", então não se deve buscar o que está sendo
procurado, e não a outra
esclarecimento de atos concretos praticados por pessoas, grupos ou pessoa ou empresa com o
partidos concretamente dados. mesmo nome.

Corrupção, agressões a direitos humanos, ofensas ao meio ambiente


e qualquer outra transgressão a valores não acontecem porque valores não estejam presentes,
mas porque as condições objetivas em que se dá a atividade humana (institucional ou
empresarial) propiciam a oportunidade para que ocorram. É a ocasião que faz o ladrão.
Caso exortações à "ética" tivessem algum efeito material sobre o comportamento humano,
então a maior parte dos malfeitos que nos assolam não ocorreria. Isso não significa dizer que
valores morais não existam, ou que não devam ser transmitidos de pessoa a pessoa, de geração
a geração. Mas quer dizer que não é pelo discurso que isso se faz, e sim pela ação.
Ação foi o que faltou ao presidente Lula. Na prática, em dois anos e meio seu governo fez
pouquíssimo para combater a corrupção, esmerando-se na retórica. No discurso que proferiu na
Praça dos Três Poderes, no dia da posse, o presidente disse que seria "implacável contra a
corrupção". No final de 2003, o então ministro José Dirceu cunhou a frase "este governo não
rouba e não deixa roubar". O bordão tem sido repetido várias vezes pelo ex-ministro. Delúbio
Soares, o coletor do caixa dois, também o empregou.
Enquanto o discurso enveredava por aí, e iniciativas mais concretas limitavam-se à
Controladoria-Geral da União e a alguns movimentos no sentido de combater a lavagem de
dinheiro (frustradas, diga-se), o governo Lula se eximia de tomar providências para combater as
causas estruturais da corrupção. Apesar de ter assinado em 2002 um compromisso público com a
Transparência Brasil, de adotar um programa estratégico de combate à corrupção e de ter
incluído a meta em seu programa oficial de governo, nunca o fez.
A corrupção nasce de fragilidades institucionais e da ineficiência da gestão administrativa do
Estado nos três poderes e nas três esferas, federal, estadual e municipal. Elas estão na ausência
de uma regulamentação do direito constitucional do acesso à informação detida pelo Estado, na
liberdade de nomeação de pessoas para ocupar cargos de confiança, na forma de confecção do
Orçamento e no fato de ele não ser obrigatório, na debilidade e descoordenação dos

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Deu no Jornal http://www.deunojornal.org.br/materia.php?mat=51630&pl=adeus,%...

mecanismos de acompanhamento e controle da gestão, nas condições adversas para o


monitoramento social e numa multidão de outros fatores objetivos.
Tais causas não se transformam movidas por discursos "éticos" do presidente da República
ou de qualquer outro, mas por iniciativas concretas. Embora enfraquecido politicamente, nunca é
tarde para o governo começar a atacar as raízes da corrupção, por meio da proposição de
medidas legislativas e da implantação de programas de modernização administrativa da máquina
pública. O presidente ainda pode fazer isso se disser adeus à "ética" e aos conselheiros que o
induzem a insistir nisso (vide o pronunciamento presidencial da última sexta-feira) e voltar-se
para a transformação concreta das condições em que a corrupção se dá. Se fizer isso, poderá
imprimir melhor feição ao restante de seu mandato.

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