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São Paulo
2010
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São Paulo
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Área de concentração:
Data da defesa:
Resultado:_______________________________________________
BANCA EXAMINADORA:
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos ANJOS por fazerem parte de mais uma caminhada acadêmica de
minha vida:
RESUMO
Um grande avanço das políticas públicas no Brasil foi considerar a educação infantil (0 a 5
anos) como primeira etapa da educação básica e incluir as antigas creches no sistema
municipal de educação, tratando assim o cuidar e educar como conceitos indissociáveis. Com
este avanço, surgiu a preocupação com a formação dos professores que atuam na educação
infantil e, também, a necessidade da elaboração de programas de políticas públicas para a
formação docente. Nesse contexto, passei a observar o Projeto Especial de Ação e o Programa
a Rede em rede: formação continuada na Educação Infantil, o fazer docente no cotidiano
escolar da Educação Infantil e encontrei, dentre muitas questões, uma de grande relevância:
como a formação continuada dos docentes da Educação Infantil tem contribuído para a
atualização da prática pedagógica? Os objetivos da pesquisa são analisar a atuação do projeto
e programa educacional no cotidiano escolar, na Educação Infantil, identificar a presença, na
prática docente, das intenções das políticas de formação de professores, e analisar a avaliação
dos professores sobre as políticas de formação docente, propostas pela Prefeitura Municipal
de São Paulo. Os procedimentos metodológicos são a abordagem quantitativa, aplicação de
questionário para 21 professores e 02 gestores e a abordagem qualitativa, entrevista semi-
estrutural, com a participação de 03 professores e análise documental, no período de 2005 a
2008 da unidade escolar. O Coordenador Pedagógico precisa considerar que o professor é um
ser único, complexo, com decisões próprias, que transforma e é transformado pelo outro. Os
novos conhecimentos pedagógicos poderão fazer parte da prática docente quando forem
articulados com as reais necessidades e desejos dos professores. O importante é garantir que o
Coordenador Pedagógico tenha momentos destinados para o acompanhamento da prática
docente, assim como os momentos de acompanhamento de formação continuada, em horários
coletivos. Neste sentido, o Coordenador Pedagógico terá maior proximidade das ações
pedagógicas do professor, das dúvidas, inquietações, necessidades pedagógicas, enfim terá a
oportunidade de realizar uma intervenção individual. Isto poderá contribuir para o avanço da
prática docente.
ABSTRACT
A major advance of the public policies in Brazil was to consider the early childhood
education (0 to 5 yeas) as the first stage of basic education, and include day care centers in the
municipal sistem of education, this way treating the care and education as inseperable
concepts. With this advance, apperead the concern about the training of teachers working in
early childhood education and, also, the necessity of developing public policy programs for
teacher training. In this context, I started to observe the network of the Special Action Project
and the Network Project: continued formation in kindergarten, the work of teachers daily in
early childhood education and I found, among many issues, one of great importance: how the
continued formation of teachers of early childhood education has contributed to the updating
of the pedagogical practice? The objectives of this research are to analyze the performance of
both the project and educational program in the school routine, in Kindergarten, in due to
identify the presence, in the teaching practice, of the policies for teacher education intentions,
and to analyze the teacher evaluation on teacher education policies, proposed by the
Municipality of São Paulo. The methodological procedures are quantitative approach,
questionnaire to 21 teachers and 02 administrators, and qualitative approach, semi-structural
interview, with the participation of 03 teachers and documentary analysis, over the period
from 2005 to 2008 of the school unit. The Pedagogical Coordinator needs to consider that the
teacher is unique, complex, with his own decisions, that transforms and is transformed by
others. The new pedagogical knowledge may become a part of the teaching practice when
they become articulated with the real needs and desires of teachers. The important issue is to
ensure that the Academic Coordinator has moments destined to follow the teaching practice,
as well as the moments of tracking continuing education, at collective times. Therefore, the
academic coordinator will have greater proximity of the teacher's pedagogical actions, doubts,
concerns, educational needs, in other words, will have the opportunity to perform an
individual intervention. This may contribute to the advance of teaching.
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................................... 7
ABSTRACT .............................................................................................................................. 8
1. INTRODUÇÃO
Após ter sido aprovada e classificada no concurso público realizado pela Prefeitura
Municipal de São Paulo (PMSP), nos cargos de Profº Titular de Educação Infantil e Profº
Adjunto de Ensino Fundamental I, em 2000, fui convocada a tomar posse dos cargos citados,
tendo que me despedir do meu primeiro emprego.
Em meados de 2002, estava sendo convocada a tomar posse do meu segundo cargo
de Profº Titular de Educação Infantil e exonerando-me do cargo de Profº Adjunto de Ensino
Fundamental I, atuando integralmente na Educação Infantil.
Foi neste contato direto com a formação de professores, “Projeto Especial de Ação”
e o “Programa A Rede em rede: a Formação Continuada na Educação Infantil” que surgiram
dúvidas as quais me dispus a pesquisar.
O Projeto Pedagógico foi previsto na LDB, Lei n. 9.394/96, no art.12, inciso I: “os
estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino,
terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica. Neste sentido, o Projeto
Pedagógico tem a finalidade de dar autonomia às unidades escolares. Cada escola por meio do
P.P descreve sua história, caracteriza a comunidade local, define as necessidades pedagógicas,
os métodos de ensino-aprendizagem e avaliação, enfim constrói sua própria identidade.
Assim, a escola tem a autonomia para refletir sobre sua intencionalidade educativa.
Entende-se por autonomia da escola quando: “Ela concebe sua proposta pedagógica
ou projeto pedagógico e tem autonomia para executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma nova
atitude de liderança, no sentido de refletir sobre as finalidades sociopolíticas e culturais da
escola”. (Veiga, 2003, p.15)
VI- Planejar ações para a garantia do trabalho coletivo docente e para a promoção da
integração dos profissionais que compõem a Equipe Técnica da Unidade
Educacional;
Quando o professor utiliza o método tradicional para ensinar as crianças, ele oferece
pouca oportunidade da criança de vivenciar esses momentos lúdicos e significativos de
aprendizagem na Educação Infantil.
Muitos educadores que trabalham com crianças pequenas costumam valorizar ações
copiadas de modelos escolares tradicionais nas tarefas cotidianas que lhes propõem:
atividades dirigidas usando apenas papel, tinta e lápis. Eles conhecem apenas o
modelo de organização do ambiente para ações centradas no professor e por ele
controladas e acreditam que elas têm maior resultado pedagógico. A concepção
descrita corresponde a fragmentos de um modelo de educação escolar construído no
passado para orientar o ensino de crianças mais velhas e de adolescentes. Ela
persiste no imaginário e orienta a prática de muitos professores, que desconhecem
outras formas mais adequadas de organizar situações de vivência, aprendizagem e
desenvolvimento para as crianças pequenas (...). (A Rede em rede: a formação
continuada na Educação Infantil, 2007, p. 34)
De acordo com Freire (1997, p.32), faz parte da natureza do professor a participação
ativa no processo de formação docente:
Para Cervo, Bervian e Silva (2007, p.75) o problema da pesquisa “é uma questão que
envolve intrinsecamente uma dificuldade teórica ou prática, para a qual se deve encontrar uma
solução”. Marconi e Lakatos (2003, p. 127) definem o problema como “um enunciado
explicativo de forma clara, compreensível e operacional, cujo melhor modo de solução ou é
uma pesquisa ou pode ser resolvido por meio científico”. Severino (2002, p. 184) define: “os
limites da problematização devem ser determinados, pois não se pode tratar de tudo ao
mesmo tempo e sob os mais diversos aspectos”.
Severino (2002, p. 161) relata: “(...) o autor deve enunciar suas hipóteses: a tese
propriamente dita, ou hipótese geral, é a idéia central que o trabalho se propõe demonstrar”.
1.3 Objetivos
Objetivos são metas ou alvos a serem alcançados; sua clara definição orienta o
trabalho do pesquisador e permite obter melhores resultados. Uma forma de estabelecer os
objetivos é desdobrá-los em gerais e específicos (COOPER; SCHINDLER, 2003). Essa
estratégia permite maior clareza ao pesquisador e contribui na organização e realização do
trabalho de pesquisa.
c) Analisar a avaliação dos professores sobre o “Projeto Especial de Ação”, proposta pela
unidade escolar e o “Programa A Rede em rede: a Formação Continuada na
Educação Infantil”, proposta pela Secretaria Municipal de Educação, nos últimos
quatro anos;
1.5 Estrutura do Trabalho
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Katz e Goffin (1990) Medina Revilla (1993) afirmam que essas vulnerabilidades
física, emocional, social são acentuadas na literatura da área como um fato de diferenciação
da profissão.
Com a integração dos CEIs e EMEIs, tem-se a primeira etapa da Educação Básica
chamada Educação Infantil. A partir desta integração, os CEIs passaram a deixar de ser o
local apenas de cuidar da criança e as EMEIs o local de educá-la. Ambas as instituições de
Educação Infantil cuidam e educam simultaneamente. Hoje, o desafio que se propõe a
Educação Infantil é de redefinir o conceito de cuidar e educar:
Cuidar da criança é uma ação complexa que envolve diferentes fazeres, gestos,
precauções, atenção, olhares. Refere-se a planejar situações que ofereçam à criança
acolhimento, atenção, estímulo, desafio, de modo que ela satisfaça suas necessidades
de diversos tipos e aprenda a fazê-lo de forma cada vez mais autônoma.
Já educar a criança é criar condições para ela apropriar-se de formas de agir e de
significações presentes em seu meio social, formas estas que a levam a constituir-se
como um sujeito histórico. Ao fazê-lo, a criança desenvolve sua afetividade,
motricidade, imaginação, raciocínio, motricidade, imaginação, raciocínio e
linguagem, formando um auto conceito positivo em relação a si mesma. (Tempos e
espaços para a infância e suas linguagens nos CEIs, Creches e EMEIs da cidade de
São Paulo, 2006, p.18-19)
Vale expor que as críticas aos cursos superiores são pertinentes, pois não basta
transmitir teoria e deixar que o aluno do ensino superior, que está longe da prática, faça a
correspondência entre a teoria e a prática pedagógica. Faz-se necessário que os estudantes se
aproximem do cotidiano, ao qual pretende atuar e significá-lo. Para tanto, é imprescindível
que disciplinas pedagógicas e científicas estejam juntas no decorrer do curso superior e não
hierarquicamente, privilegiando as disciplinas pedagógicas. Essa concepção de formação
inicial é antiga e dificulta os profissionais da infância serem de fato pesquisadores da prática
pedagógica.
Para Schön (1990) & Zeichner (1993) formar o professor pesquisador significa
garantir uma estrutura curricular que priorize a investigação. Muitos acreditam que basta
introduzir a prática reflexiva para garantir a pesquisa.
Portanto, tanto a prática reflexiva como a investigação desta prática reflexiva são
exigências para atender ao novo perfil profissional.
Desse modo, o professor na formação inicial se sente sozinho, sem poder contar com
parceiros mais experientes para realizar a “ponte” teoria e prática, ou seja, sem vivenciar
momentos de reflexões coletivas e individuais, o que dificulta a reflexão e tematização da
prática pedagógica. Isto causa empobrecimento na formação profissional.
22
Para viabilizar novo perfil profissional, é necessário que o docente aprenda a estudar,
pesquisar, a produzir conhecimento coletivamente e individualmente. O ensino superior
poderá contribuir para este desafio, refletindo e mudando o currículo, ou seja, colocando
como ponte para ajudar o profissional a articular à teoria com a prática, assim evitando
lacunas pedagógicas. Além disso, a Universidade poderá, também, enriquecer a formação
inicial, integrando um currículo articulado com a formação continuada do docente
estabelecendo, então, a parceria com a escola.
Segundo Bruno & Almeida (2008, p.91): “entendemos que formação inicial e
continuada seja um continuum”. Neste sentido, a formação continuada precisa basear-se na
perspectiva do desenvolvimento profissional do crescimento, ou seja, na investigação e
reflexão contínua sobre a prática pedagógica. Nesta perspectiva, o professor é sujeito da
formação e a avaliação das necessidades pedagógicas é realizada em conjunto: professores,
gestores e avaliadores de programas de formação.
Furlanetto (2003, p.8) comenta: “(...) percebe o professor exercendo uma atividade
multifacetada e complexa, não busca reparar uma inadequação, mas sim favorecer a maior
expansão do docente”.
Neste sentido, a formação continuada não busca apenas reparar lacunas da formação
inicial, mas construir conhecimento a partir da reflexão da prática pedagógica.
Diante disso, ela propõe uma formação em contexto e descreve como o docente se
desenvolve ao longo da vida profissional por meio do modelo ecológico (2002, p. 51):
uma rede de interações, por exemplo, salas de aulas, professores. Os exossitemas são arena de
situações (contextos) que ocorrem nas inter-relações dos sujeitos em desenvolvimento, por
exemplo, o contexto administrativo de funcionamento da escola. O macrossistema refere-se às
crenças, valores, hábitos, formas de agir desses sujeitos que afetam as atividades e relações e
interações aos níveis mais próximos do microssitema e do mesossitema.
(...) para que haja uma mudança significativa num sistema que favoreça a prática de
professores criativos, interessados, investigadores, é preciso que se provoque
mudanças em toda a hierarquia do sistema. Ou seja, é preciso criar espaços de
formação dentro do sistema que interajam entre si e que envolvam os diferentes
níveis.
(...) é essencial que a escola interatue com os contextos à sua volta, é importante que
a escola interatue com instituições de formação, especialistas em educação,
movimentos pedagógicos, associações profissionais de professores, associações
sindicais de professores, redes de escolas, projetos de professores.
Além disso, a unidade escolar pode estabelecer parcerias com a unidade básica de
saúde do bairro em que está inserida, assistentes sociais, conselho tutelar etc. A troca de
conhecimento desses órgãos com a escola é importante para o crescimento profissional dos
docentes.
(...) ele refere-se ao fato de que o adulto é responsável pela sua própria educação. O
verdadeiro adulto não se contenta em ser mero repetidor de cultura, mas deseja
produzir cultura e faz isso a partir de seu próprio desenvolvimento. Ao expandir-se
no contato com o outro, transforma-se e transforma o outro.
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As matrizes pedagógicas podem ser compreendidas como nichos, nos quais são
gestados e guardados os registros sensoriais, emocionais, cognitivos e simbólicos
vividos pelos sujeitos ao transitarem nos espaços intersubjetivos, onde se constela o
arquétipo do Mestre-Aprendiz. (Furlanetto, 2003, p.32)
Além disso, durante a formação continuada o professor precisa atuar como sujeito
consciente do papel de educador. Para isso, é importante a relação dialogal entre professor e
Coordenador Pedagógico:
Freire (2003, p.68) ensina que: “(...) somente o diálogo comunica. E quando os dois
pólos do diálogo se ligam assim, com amor, com esperança, com fé no próximo, se fazem
críticos na procura de algo se produz uma relação de “empatia” entre ambos. Só ali há
comunicação”.
As Leis do Trabalho (1943) previa a instalação de berçários nas empresas com mais
de 30 mulheres empregadas, no entanto, a determinação dessa Lei foi descumprida.
O conceito dos propósitos proclamados e reais foi estabelecido por Teixeira (1962, p.
92):
29
Com este avanço surgiram as preocupações com a formação dos profissionais que
atuam na educação infantil e a necessidade de elaboração de Programas de Políticas Públicas
para a formação docente.
Uma das principais mudanças introduzidas pela LDB foi a concepção educacional
que deve preponderar para as crianças de até três anos de idade assistidas nas
creches. Até então as instituições que acolhiam essas crianças tinham um papel
principalmente assistencialista: nem tinham, necessariamente, propósitos
educacionais. Tal mudança na Lei provoca a necessidade da formação de
professores de creche.
30
A formação de docentes para essa nova demanda de profissionais ocorreu anos mais
tarde, no Município de São Paulo.
Art. 8º - Para fins de Evolução Funcional, após avaliação final dos PEAs, o Diretor
da Unidade Educacional expedirá atestados, inclusive com a assinatura do
Supervisor Escolar, e desde que cumpridas as seguintes exigências estabelecidas:
I-o Projeto contenha a carga horária mínima de:
-nos CEIs: 108 (cento e oito) horas relógio anuais e que tenha sido coordenado ou
executado no período mínimo de 09 (nove) meses completos;
(...) não para suprir eventuais lacunas na formação inicial, mas para estimular a
renovação de saberes em ambiente de aprendizagem coletiva e auto-motivada.
Em programas de formação continuada, os professores devem ser estimulados a
articular os vários conceitos trabalhados em sua formação anterior ou atual com sua
prática profissional cotidiana. Isso envolve problematizar sua prática, pesquisar
alternativas de ação, sistematizar suas reflexões em várias formas de registro e
reconstruir conhecimentos historicamente elaborados.
O ‘ser social” para Piaget é aquele que consegue relacionar com seus semelhantes
de forma equilibrada. La Taille (1992, p.18):
Para Piaget, essa “marcha para o equilíbrio” tem bases biológicas no sentido de que
é próprio de todo sistema vivo procurar o equilíbrio que lhe permite a adaptação; e
também no sentido em que existem processos de auto-regulação que garantem a
conquista deste equilíbrio. Nesse processo de desenvolvimento são essenciais as
ações do sujeito sobre os objetos, já que é sobre os últimos que se vão construir
conhecimento (...)
Além disso, as relações sociais devem ser baseadas nas relações de cooperação e não
nas relações de coação, ou seja, nas relações precisam ter troca de pontos de vista e controle
mútuo dos argumentos e além de basear-se na dimensão ética (La Taille, 1992), no valor ético
da igualdade, liberdade e democracia.
(...) criança nasce com condições para interagir com parceiros mais experientes-
seus pais, outros familiares, os educadores, outras crianças mais velhas – que lhe
apresentam continuamente novas formas de se relacionar com o mundo a fim de
compreendê-lo e transformá-lo. Ela tem voz própria e deve ser ouvida, pois é
produtora de conhecimento, de cultura e de uma identidade pessoal. Por meio dos
relacionamentos que a criança estabelece, não só com os adultos, mas também com
outras crianças, ela nomeia objetos, imita pessoas ou outros elementos que observou,
traça desenhos, formula perguntas, elabora respostas, constantemente significando o
mundo a sua volta, influenciando-o e sendo influenciada por ele. As experiências
vividas no espaço de Educação Infantil devem possibilitar à criança o encontro de
explicações sobre o que ocorre à sua volta e consigo mesma, enquanto desenvolvem
formas de sentir, pensar e solucionar problemas.
Assim, a criança deixa de ser uma tábua rasa como antes era vista, na concepção
tradicional, o qual o professor era o centralizador do conhecimento e passa a ser protagonista
da aprendizagem, interagindo com o mundo à sua volta.
A criança aprende na interação com o outro, com o ambiente, com o contexto e com
as diversas vivências que este contexto proporciona.
Ele traz o conceito de aprender que vai ao encontro do novo olhar da criança citada
no documento anterior:
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Então, a nova concepção nos remete a uma nova dimensão de professor, aluno e de
ações de ensino:
A família, que antes era distante da escola com participações limitadas, com a nova
proposta pedagógica passa a ser convidada a ser parceira durante toda a caminha da
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A escola não pode mais desconhecer a comunidade onde se encontra. (...) são
conhecidas inúmeras iniciativas de profissionais da educação que mobilizam a
comunidade para participar do processo educacional e do ensino-aprendizagem e
para atividades de preservação do equipamento escolar (edifício, móveis e utensílios
escolares). Elas têm apresentado muito sucesso na melhoria das condições de
funcionamento da escola, inclusive nos resultados pedagógicos referentes à questão
do ensino- aprendizagem.
Neste sentido, a escola e a família devem estar unidas num objetivo comum: a
qualidade da escola brasileira, que permeia desde as condições de prédios, materiais escolares
e atendimento ao público, até as questões pedagógicas.
A avaliação que mais deve interessar ao professor é aquela que não compara
diferentes crianças, mas a que compara uma criança com ela mesma, dentro de certo
período de tempo. Para tanto, a observação sistemática do comportamento de cada
criança feita ao longo do período em muitos e diversificados momentos é condição
necessária para se levantar como ela se apropria de modos de agir, sentir e pensar
culturalmente constituídos.
parentes, pessoas que antes davam a segurança para a criança neste momento, é transferido
para a pessoa do educador da infância. Essa transferência de segurança e confiança, para
acontecer com tranqüilidade, demanda um planejamento dos momentos de ingresso dessas
crianças de CEIs, Creches e EMEIs. Para consolidar o vínculo afetivo dos educadores e
crianças e o reconhecimento do ambiente novo como seguro e significativo é necessário que
os professores conheçam a história da criança e seus hábitos e mantenham constantemente o
diálogo com os familiares. Outro desafio para os educadores da infância é proporcionar uma
relação de interação positiva entre as crianças. O educador deve garantir a convivência em
grupo com diferentes faixas etárias, ambiente lúdico e saudável; mediar conflitos e ajudar as
próprias crianças a aprender a resolvê-los com os colegas; estabelecer regras de convivência
com o grupo e sempre que quebradas relembrá-las a todos, assim construindo o vínculo de
amizade e parceria.
(...) o espaço físico das unidades educacionais não se resume apenas à sua
metragem, insolação ou topografia, mas inclui sua possibilidade de atender às
necessidades e às exigências das crianças e dos adultos nos momentos programados
ou imprevistos, individuais ou coletivos, sua condição de cenário para diferentes
atividades. (Orientações Curriculares-Expectativas de Aprendizagens e Orientações
Didáticas para Educação Infantil)
Além disso, esta sala de convivência deve ser um espaço, no qual todos os
protagonistas da aprendizagem desempenhem o papel da ação, da criatividade e da
significação. As crianças devem reconhecer o espaço como seu, com suas marcas, objetos e
trabalhos em exposição constantemente.
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Portanto, o educador da infância não deve pensar as linguagens com o fim em si só,
mas aprender com as crianças a relacioná-las de forma significativa.
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No ano de 2007, foi distribuído aos gestores das Unidades Escolares CEIs e EMEIs-
Supervisores, Diretores e Coordenadores Pedagógicos, do Município de São Paulo, o
documento “A Rede em rede: a Formação Continuada na Educação Infantil- fase 1”. O
documento tem como foco subsidiar o Coordenador Pedagógico durante a formação
continuada com a equipe de formação- os educadores da infância.
O documento Tempos e espaços para a infância e suas linguagens nos CEIs, Creches
e EMEIs da Cidade de São Paulo (2006) menciona que no final de 2005 e início de 2006, por
meio do Secretário de Educação, Dº José Aristodemo Pinotti, declarou que o número de
crianças atendidas pela Secretaria de Educação da Cidade de São Paulo era de cerca de 390
mil crianças, distribuídas nas 1411 Unidades de Educação Infantil: 336 CEIs diretos, 608
CEIs, Creches conveniadas e 467 EMEIs. Segundo DOT-EI (2006), houve um desafio de
elaborar um documento que criasse, ao mesmo tempo, a identidade de um todo (rede) e,
também, incentivasse as características e particularidades de cada contexto (Unidade).
41
Entende-se por projeto: “Como o próprio nome indica, projetar é lançar para frente,
dando sempre a idéia de mudança, de movimento. Projeto representa o laço entre o presente e
o futuro, sendo ele a marca da passagem do presente para o futuro”. Veiga (2001, p. 18)
Além disso, tanto o “Projeto Pedagógico” como o “Projeto Especial de Ação” para
serem eficientes precisam priorizar as reais necessidades da escola e ter as etapas de
elaboração, execução e avaliação bem planejadas. Esse planejamento precisa ser visto como
processo educativo e não como planejamento estático. Segundo Gandin (1991, p.17): “(...)
processo de planejamento é concebido como uma prática que sublinhe a participação, a
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democracia, a libertação. Então o planejamento é uma tarefa vital, união entre vida e técnica
para o bem-estar do homem e da sociedade”.
deverão atingir 108 horas relógio e 9 meses completos, ganharão um ponto para a evolução
funcional, que implicará, futuramente, na melhoria de salário.
que atendem crianças agora de 4 anos a completar tem se organizado para acolher essa nova
demanda?
Esse Projeto Pedagógico deve estar pautado numa nova concepção de infância, na
qual as crianças sejam vistas e atendidas como sujeitos sociais e históricos.
preciso retomar a discussão em torno do currículo para supervisão de que este seria
uma relação de matérias ou conteúdos, e não como algo dinâmico, flexível, que se
transforma em vivências e práticas pedagógicas cotidianas. (Deliberação CME n.
03/2006)
Muitos professores na Educação Infantil não acham que trocar fraldas, dar banho,
acompanhar crianças ao banheiro, acomodá-las em momentos de repouso, orientar
momentos de lanche e/ou almoço, são tarefas educativas. Separam no ser humano,
os aspectos biológico, cultural, cognitivo e afetivo. Esta concepção de cuidado e de
educação está hoje sendo muito questionada na área. ( A Rede em rede-fase 1, 2007,
p.55)
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A criança não pode ser dividida entre o biológico e o cognitivo. O conceito cuidar e
educar devem ser indissociáveis na modalidade de Educação Infantil. Antes da Lei de
Diretrizes e Bases 9394/96 a concepção pedagógica da educação infantil era fragmentada, ou
seja, as creches que atendiam crianças de 0 a 3 anos tinham a função exclusiva de cuidar não
existia neste segmento educacional a preocupação com o conceito de educar. A partir da LDB
as creches passam a fazer parte da primeira etapa da Educação Básica e no Município de São
Paulo, do Sistema Municipal de Educação. Os profissionais que atuam na modalidade da
Educação Infantil passam a ter em suas ações pedagógicas a preocupação tanto com o cuidar
como o educar as crianças.
Portanto, tanto a criança de zero a três anos e meio quanto as de cinco devem ser
acolhidas, respeitando-se suas necessidades biológicas, físicas, emocionais e cognitivas. A
equipe educacional precisa atentar para o novo marco na Educação Infantil, elaborar uma
nova Proposta Pedagógica e levar essas discussões para a formação continuada.
A história nos aponta para mudanças imediatas, pois, sem uma nova concepção
pedagógica, uma atualizada organização do tempo e espaço na Educação Infantil ficará difícil
para os novos ingressantes serem bem acolhidos nas Unidades Escolares, que conservam a
proposta de escolarização, localizada principalmente na última etapa da Educação Infantil.
Lopes, Mendes e Faria, (2006, p. 41) mencionam que planejar o diálogo entre os dois
segmentos é fundamental:
Além disso, outra ação traçada pela unidade escolar para articulação dos dois
segmentos, EMEI e EMEF, foi a proposta de reuniões conjuntas:
3 METODOGIA DA PESQUISA
Idade Nº
29 anos 2
30 anos 3
34 anos 1
37 anos 1
38 anos 2
39 anos 1
40 anos 1
43 anos 1
44 anos 1
Idade não declarada 3
Total 16
Fonte: dados do autor
Outro dado interessante na pesquisa é que grande parte dos entrevistados são do sexo
feminino.
Observe o gráfico:
Sexo
Feminino
Masculino
Não Declararam
Desde a origem das Escolas Normais, foi se traçando o perfil das educadoras da
infância, paradigma cultural que predomina até hoje nas Instituições de Educação Infantil.
Nível de Escolaridade
Ensino Médio
Ensino Superior
Pós-Graduação
De acordo com os dados, nota-se que grande parte dos professores da citada Escola
Municipal de Educação Infantil, localizada na região leste de São Paulo, possuem o ensino
superior completo e estão caminhando para a pós-graduação. Isso mostra o grande avanço da
educação rumo a uma educação de qualidade.
Neste sentido, Kishimoto (2002) relata com base nas fontes: MEC/INEP/SEEC, in
Situação da educação básica no Brasil, que em 1996, os profissionais que atuavam com
crianças de 4 a 6 anos possuíam melhor formação: nível médio (65,7%) e superior (18, 2%),
mas ainda havia leigos com apenas ensino fundamental (16,5%).
Tempo de Magistério Nº
0 a 5 anos 0
5 a 10 anos 4
10 a 15 anos 8
15 a 20 anos 3
20 a 25 anos 1
Total 16
Fonte: dados do autor
Veja tabela:
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Tabela 3: Ano de ingresso e Tempo na Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP). O cálculo foi feito a partir
do ano de ingresso (1988) até o ano base 2008, sendo o último ingresso dos profissionais da Educação, na
PMSP, em 2006.
Acúmulo de Cargo
Acúmulo de Cargo
Não Acúmulo de
Cargo
Esses dados revelam a realidade dos professores do Município de São Paulo, que
trabalham dois turnos nas Escolas Municipais de Educação Infantil, no atendimento de
crianças de 3 anos e meio a 5 anos.
Cada professor opta pela jornada de trabalho, anualmente, conforme a Lei n. 14.660
de 26 de Dezembro de 2007- Estatuto dos Profissionais da Educação Municipal:
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Pensar no docente que trabalha dois turnos no cargo de professor é observar que esse
professor trabalha, no mínimo, 8 horas em sala de aula com as crianças, tanto na Jornada
Básica do Docente (JBD) como na Jornada Especial de Integral do Docente (JEIF), atendendo
aproximadamente 70 crianças por dia. Além dessas horas, há o restante de horas da Jornada
de Trabalho a serem cumpridas, antes ou depois da regência de classe para o cumprimento das
horas atividades ou horas adicionais.
Com 25 horas de trabalho semanal, com as crianças, e mais 15, para a formação
continuada, docentes de pré-escolas trabalham em tempo integral (8 horas diárias) e
contam com a colaboração de auxiliares que dividem as tarefas do dia-a-dia.
(Kishimoto, 2002, p. 170)
O professor do Município de São Paulo trabalha muito mais horas na sala de aula em
regência e sem nenhum auxiliar para ajudá-lo nas tarefas do cotidiano.
Trabalho, não terá horas destinadas à formação continuada, somente as horas atividades. E só
terá a formação continuada, na Jornada de Trabalho, o professor que solicitar a ampliação de
sua Jornada de Trabalho, conforme o inciso IV- do Estatuto dos Profissionais da Educação
Municipal.
No Brasil, o professor trabalha muito mais horas com os alunos e menos horas são
destinadas à formação continuada, o que pode prejudicar a qualidade do ensino, ao se pensar
na importância da formação continuada na carreira do professor e, na sua produção na
formação continuada, após duas jornadas que contemplam 8 horas de regência.
Participação Total
Participação
Parcial
Não Participação
Excelente
Bom
Regular
Não Avaliaram
Por meio desses dados o “Projeto Especial de Ação” é bem avaliado por mais da
metade dos professores pesquisados, porém precisa de algumas alterações. Os pesquisados
relataram o que mudariam no “PEA”:
R1: “Deveria ter curso específico de acordo com o interesse e necessidade dos
professores”.
R2: “Acredito que o PEA precisa ter mais prática sempre com teoria”.
62
R3: “É preciso investir no estudo de autores atuais aproximando a nossa prática com
a pedagogia atual”.
R5: “Ser mais flexível se precisar haver mudanças no projeto; ter palestras,
encontros com outras Unidades Escolares e formação com pessoas especializadas de
fora, ter curso.”
R6: “Que haja mais formações, cursos de acordo com o tema (fora da escola) em
outros espaços e palestras”.
R7: “Eu gostaria de ter um PEA com atividades com envolvimento dos Pais”.
R8: “Que fossem menos referências bibliográficas, porém mais atualizadas, onde o
professor pudesse fazer uma co-seleção com as atividades em sala de aula”.
R10: “No PEA poderíamos incluir visitas a espaços culturais (museus, teatro) e
incluir também maior número de horas destinadas à troca de experiências”.
R11: “Conteúdo”.
De acordo com a natureza do “Projeto Especial de Ação”, observa-se que ele tem por
finalidade atender as necessidades pedagógicas da unidade escolar e ser construído,
anualmente, por toda equipe escolar e comunidade local.
elaborar – decidir que tipo de sociedade e de homem se quer e que tipo de ação
educacional é necessária para isso; verificar a que distância se está deste tipo de ação
e até que ponto se está contribuindo para o resultado final que se pretende; propor
uma série orgânica de ações para diminuir esta dinâmica e para contribuir mais para
o resultado final estabelecido;
executar – agir em conformidade com o que foi proposto;
avaliar – revisar sempre cada um desses momentos e cada uma das ações, bem como
cada um dos documentos derivados.
Neste sentido, observa-se por meio dos relatos dos professores ao avaliarem o
“Projeto Especial de Ação” que o projeto é estático e não dinâmico. Há necessidade de
compreender que o projeto precisa ter um planejamento nas etapas de elaboração, execução e
avaliação. O planejamento precisa ser visto como processo educativo com o envolvimento de
toda comunidade educativa. O projeto não pode ser planejado por poucos e tendo uma porção
de executores. Gandin (1991, p. 14):
Conhece
Não Conhece
Avaliação do Programa
Excelente
Bom
Regular
Não Avaliado
R1: “Colocaria o professor para participar. Virou um telefone sem fio, só com a
participação do Coordenador Pedagógico”.
R3: “Acredito que os professores precisam participar das mesmas formações que os
coordenadores pedagógicos participam”.
R5: “ Todos participarem, porque, em muito dos casos, não chega a informação e a
formação até o professor”.
R6: “Que fosse aberto aos professores e não só, ao grupo gestor".
R10: “Não tenho conhecimento sobre o projeto, de modo que gostaria, então sugiro
que seja direcionado diretamente aos professores”.
R12: “Sinto a necessidade de ter uma programação Rede em Rede que fosse
aplicado para a formação direta do professor em horário de trabalho”.
R15: “Que o programa proporcione formação para o professor com DOT-P e não
apenas para o Coordenador Pedagógico”.
pioneiro em incluir em sua formatação a trio gestor no processo da formação continuada. Essa
ação reforça a importância da articulação da equipe gestora no processo de mudanças de
prática pedagógicas rumo ao ensino de qualidade. A inclusão do trio gestor na formação
continuada trouxe um avanço significativo para educação infantil, na Prefeitura Municipal de
São Paulo.
atualização e socialização da prática, como fazer uso dos tempos e espaços para melhorar o
atendimento das crianças; jogos de raciocínio lógico.
Registro Nº
Diariamente 2
Semanalmente 8
Mensalmente 3
Bimestralmente 0
Semestralmente 3
Total 16
Fonte: dados do autor
Diariamente
Semalmente
Mensalmente
Outros
Um bom registro daquilo que observamos nos possibilita fazer uma boa análise de
um determinado caso. Sem ele, trabalha-se freqüentemente com ouvir dizer, com
preconceitos, com informações muito incompletas. (DOT P-EI, 2007, p. 40)
Uma análise de caso é uma estratégia de formação que requer do leitor o exercício
da capacidade de problematizar, ou seja, de analisar o ocorrido, de pensar sobre as
muitas impressões e sugestões e de tomar consciência de suas dimensões. É uma das
ferramentas básicas do próprio processo de reflexão. (DOT P-EI, 2007, p. 45)
Concepção Pedagógica Nº
Tradicional 0
Construtivismo 1
Sócio-Construtivismo 10
Outros 4
Não respondeu 1
Total 16
Fonte: dados do autor
R2: “O que considero mais significativo foi a troca de experiências com os colegas e
leituras, pois há pouco tempo em casa para fazer leituras técnicas. Fora da escola,
dedico-me a leituras literárias”.
R3: “Sim, porque trouxe temas importantes que têm sempre novos conhecimentos
sobre assuntos já trabalhados”.
R4: “Que o cuidar e educar é uma ação indissociável na educação infantil, melhoria
na questão dos registros e avaliação”.
R8: “Como fazem apenas 3 anos que estou com educação infantil. . Muito do que
faço me foi passado nos PEAs”.
R10: “Basicamente refletir sobre a prática e avaliar os resultados das ações para
planejar os próximos passos da ação educativa”.
R12: “Sim, mas gostaria de estar me atualizando mais, pois me sinto defasada”.
72
No ano de 2005, o “Projeto Especial de Ação”, teve como eixo para estudo a Leitura
de Mundo Alfabetização e letramento. Neste momento, o “Programa A Rede em rede” estava
sendo elaborado pela equipe da Diretoria de Orientação Técnica Pedagógica (DOT-P),
portanto não era estudado no horário coletivo.
Então, no ano de 2007, o “PEA” teve como eixo: A Linguagem do Brincar, o que
facilitou o aprofundamento do tema e a aproximação do “ Programa” aos professores.
Auto-avaliação na Formação
Continuada
Excelente
Bom
Regular
Não Avaliaram
I. Quais são os desafios cotidianos que você tem enfrentado em relação à formação
continuada dos professores?
R2: “Avançar na relação teoria e prática. A formação deve ser cada vez mais para
dar encaminhamentos educacionais a partir de diagnósticos do cotidiano.
75
O diário como forma de reflexão, quando lido com seriedade e respeito, segundo
contrato prévio entre o autor e seu parceiro, pode se tornar um recurso importante
que permite o acesso ao pensamento do professor, fundamental na busca de
estratégias que a ajudem a desestabilizar suas crenças e hipóteses, fazendo-o avançar
além do que já sabe. ( A Rede em rede, 2007, p. 43)
(...) os que atuam com crianças precisam assumir a reflexão sobre a prática, o estudo
crítico das teorias que ajudam a compreender as práticas, criando estratégias de
ação, rechaçando receitas ou manuais. ( Kramer, 2002, p. 129)
Quanto à relação teoria e prática, os gestores precisam elaborar estratégia para que
ocorra a reflexão teoria x prática para o desenvolvimento profissional dos docentes. O registro
é uma boa estratégia para se alcançar esse objetivo.
II. Como você tem percebido a presença da formação continuada (conteúdo) na prática
dos docentes? Comente.
R1: “Muito bom, mudanças com novas estratégias, mais atentas, organizadas, isto
percebe-se com todos os funcionários da U.E.”
R2: “Os conteúdos e reflexões têm sido condizentes com os problemas educacionais
do cotidiano escolar”.
76
III. Você tem sentido dificuldade em lidar, nos horários coletivos, com o “Projeto
Especial de Ação” e o “Programa A Rede em rede: a Formação Continuada na
Educação Infantil? Caso positivo, relate as dificuldades.
V. Nesses últimos quatro anos, como você avalia o “Projeto Especial de Ação”?
R1: “ De qualidade. Momentos ricos que devemos aproveitar o máximo para trocas,
estudos e pesquisa”.
VI. Você tem percebido dificuldades dos professores em lidar com a teoria do “PEA” e
“Programa A Rede em rede”, na prática docente:
R2: “As dificuldades são inerentes ao próprio processo, são dificuldades que
trabalhadas levam ao aprimoramento profissional e educacional”.
O Gestor 1 relata que não observa dificuldade dos professores em lidar com a teoria
do “PEA” e do “Programa” por esses conterem conteúdo compatível ao cotidiano da
Educação Infantil. O Gestor 2 afirma que há dificuldade, porém que ela faz parte do processo
educacional e, se bem trabalhadas, fazem parte do crescimento profissional.
VII. Em relação ao Ensino Fundamental de 9 anos, como você, enquanto gestor, tem
pensado no acolhimento das crianças de 4 anos a completar no cotidiano da EMEI?
R1: “No início foi difícil, mas temos discutido sobre o assunto. Temos que repensar
a forma de melhor acolher esses alunos”.
R2: “Neste ano de 2009, foi um complicador, mas já estamos assimilando a nova
realidade. A redução do número de crianças por classe, nessa faixa etária irá
contribuir bastante para o desenvolvimento do trabalho pedagógico”.
Professora 1: Formação que todos os dias nós estamos com os nossos colegas, com
o coordenador, com o grupo de estudo. Assim, as idéias da gestão e também as
práticas e o estudo que a gente tem que estar fazendo, tem que se atualizar dentro da
nossa área da educação. Então, pra mim isso é educação continuada. Pelo menos
três, quatro vezes por semana estar um grupo fechado, um grupo junto estudando,
trabalhando dentro da escola.
tem que vir buscar essa mudança, ele tem que vir buscar esse estudo. Então eu
procuro, de acordo com os livros que tem aqui na escola, né. Porque infelizmente
nós não temos assim condição de ter acesso a livros, os livros são caros. Então, na
medida do possível, que a prefeitura vai trazendo livros para a escola eu vou
olhando os livros e vou pegando aqueles que eu acho interessante, que convém com
a minha prática, com a necessidade das minhas crianças e aí eu vou lendo em casa,
né. E também no PEA. O PEA é uma formação continuada.
Professora 3: Bom, formação continuada, deixa eu ver como eu posso dizer, é como
uma reciclagem. É o professor estar sempre em busca de novos conhecimentos
porque tudo muda, né. As crianças mudam, a comunidade muda, as famílias mudam,
nós mudamos, né. E é importante esse momento, essa busca, essa formação
continuada pra gente acompanhar essas mudanças, pra estar sempre se atualizando e
acompanhando essas mudanças. E sempre refletindo, melhorando nossa prática.
Professora 1: Bem, vai da gente, do horário da gente, cada professor escolhe o seu
horário e aí a gente forma um grupo. Geralmente são três dias na semana, três,
quatro dias na semana. Nós nos reunimos e estudamos.
Professora 3: Olha, eu percebo assim, que o grupo que está nessa formação, eles
têm mais oportunidade de troca, eles têm mais momentos ali que eles estão juntos,
que eles têm oportunidade de discutir alguns assuntos, até mesmo assim, algumas
dificuldades encontradas. Eles têm essa oportunidade de ta trocando experiência. É
um desabafo também, estar desabafando, falando do seu trabalho, da sua prática, né.
Assim, eu nunca participei. Eu acredito que aconteça isso nesse momento, pelo que
eles falam, eu acredito que seja assim.
Professora 1: A criança que brinca, a criança que se expressa, fala o que pensa, que
se corrige, a criança que constrói, que imagina, a criança que chora; a criança que
nós fomos um dia e crescemos e hoje somos adultos.
desenvolvimento, curioso, que gosta de brincar, que tudo é de bom pra eles. Tudo
eles absorvem, absorvem tudo. Eles sonham, eles viajam. Ah, é muito bonito falar
em criança.[...] Por isso que eu escolhi educação infantil, porque eu viajo junto com
as crianças no mundo da fantasia. Eles são sinceros. São seres assim, que se eles
gostam, eles gostam; se eles não gostam, já falam que não gostam.
A criança é um ser ativo que brinca, que cria, que imagina, que aprende e ensina, que
expressa os sentimentos e que constrói a história. Os professores pesquisados notam essas
características desses pequenos aprendizes. Além disso, ressaltam a identificação que
possuem com a faixa etária e a satisfação em trabalhar na Educação Infantil.
Em sua relação com este mundo, formado pelos costumes, linguagens, valores,
relações humanas e por técnicas, as crianças, desde cedo tentam apreendê-lo e
significá-lo, mediadas, direta ou indiretamente, por parceiros mais experientes
como, por exemplo, o professor, que lhes assegura uma gradativa apropriação da
cultura historicamente constituída. Essa experiência é essencial para que a criança
também possa ser produtora de cultura, manifestando-se por diferentes linguagens. (
Tempos e espaços para a infância e suas linguagens nos CEIs, Creches e EMEIs da
cidade de São Paulo, 2006, p. 11)
Portanto, acredita-se que o professor precisa além de perceber a criança como um ser
ativo precisa, também, perceber-se como o mediador da aprendizagem dos alunos para
facilitar o ensino-aprendizagem dessa criança ativa que convive no nosso cotidiano escolar.
83
Professora 1: Tradicional é o professor que ensina, tem que estar claro na cabeça
dele que ele tem, pode se dizer, uma obrigação de ensinar. O que é o sócio-
construtivista? É o educar levando em conta o meio da criança, o viver dela. Então
eu sou tradicional e construtivista por quê? Porque eu sou consciente que eu estou
aqui pra ensinar. Então o que eu vou ensinar? E aí eu vou elencar o que é importante
pra eu estar ensinando para a minha criança, o que eu vou educar com a minha
criança nas relações do dia-a-dia com o colega, comigo, com outras pessoas da
unidade escolar, com aquilo que ela fala o que aconteceu na casa dela, na rua. Eu
vou estar educando essa criança, mas eu também tenho os momentos de ensinar e
isso eu não posso deixar de lado, que tem que ensinar também. [...] Então eu
considero tradicional, ela tem que me ouvir. Ela tem que estar atenta no que eu estou
fazendo. Ela vai ter o momento dela falar, vai ter o momento de ouvir, vai ter o
momento de construir, de participar da aula. Então, isso eu considero o tradicional,
porque tem que ouvir, se não ouvir fica difícil a gente trocar idéias e conseguir
educar e ensinar ao mesmo tempo. Então, tem que ter uma relação de respeito, de
reciprocidade. [...] Eu perco o controle. Tem professor que trabalha muito bem
assim, deles estarem conversando, brincando ao mesmo tempo, fazendo atividade ao
mesmo tempo, trabalham muito bem. Eu não. É uma coisa por vez. Então, por isso
que eu falo que eu sou tradicional [...]
opinar na rotina, pra participar, pra ir fazer, ajudar a organizar o espaço que ela vai
fazer atividade, que ela vai brincar. Poder ter momentos dela escolher o material que
ela vai utilizar, o brinquedo que ela vai brincar. Qual é a proposta dela? Ela também
tem uma proposta para aquele momento. Então, [...] eu acredito muito nessa
construção do conhecimento da criança e nós aprendendo o tempo todo, um com o
outro, eu com elas. Às vezes você vai com uma proposta e a proposta até muda
porque ela está participando, ela está criando também. Então, na maior parte do
tempo é isso, acredito que me enquadro mais nessa proposta por conta disso. Então,
em relação ao tradicional, aquelas coisas ainda de você trabalhar, não o tempo todo,
eu vou dar um exemplo pra ficar mais concreto: as letras do alfabeto. [...] aquela
necessidade de trabalhar a letra a, a letra b, a letra c. Isso é tradicional porque a
criança não aprende necessariamente assim. [...]
Aprender deve ser uma experiência significativa para a criança e deve também
integrar o que ela já conhece com aquilo que é novo para ela. As experiências,
vivência, saberes e interesses infantis são pontos de partida para que novos
conhecimentos sejam por ela apropriados em situações que lhe despertem o interesse
frente ao inexplorado, ao desconhecido, ajudando-a a descobrir o desejo envolvido
na investigação. ( Tempos e espaços para a infância e suas linguagens nos CEIs,
Creches e EMEIs da cidade de São Paulo, 2006, p. 25-26)
Professora 1: Esse ano eu trabalho na sala 5 que seria a sala de vídeo. Então, esse
ano eu usei muito o vídeo. O primeiro momento é o momento de acolhimento deles,
que eles vão chegando, se cumprimentando, contando as novidades, a sala está
sempre organizada em meia lua. Por quê? Após esse encontro entre eles, as
conversas, tem sempre um vídeo de música, um desenho animado, eles trazem
brinquedos de casa, eles trocam brinquedos entre eles. Terminou esse momento, aí é
o meu momento. Aí parou, eles até sabem, nós vamos fazer a nossa contagem,
quantos meninos, quantas meninas, vou escrever na lousa, vou fazer a leitura do dia.
Toda vez que eu vou passar informação para as crianças, eles vão para o meio da
sala e nós fazemos uma roda. E aí eu faço com todos juntos. Então essa é minha
organização da sala.
85
O espaço físico dessas unidades educacionais não se resume apenas a sua metragem,
insolação, topografia, mas ele precisa tornar-se um ambiente, isto é, ambientar as
crianças e os adultos procurando atender suas necessidades e exigências nos
momentos programados ou imprevistos, individuais ou coletivos. (Tempos e
Espaços, 2006, p. 34)
Segundo Fonseca (2004, p. 215) o aspecto afetivo deve estar presente no ambiente de
aprendizagem:
Professora 1: O tempo já é meio complicado, bastante. Esse ano eu peguei uma sala
rodízio, eu divido uma sala com a colega, então tem que ser tudo meio
cronometrado, não é? Então eu já vejo qual atividade que eu vou dar naquele dia,
como que eu vou dar aquela atividade. Então é tudo assim bem no horário certinho.
Então vamos fazer leitura? Bom, tem o acolhimento, eles vão fazer a troca e já vão
ficar mais ou menos uns vinte minutos ali na conversa entre eles. Vou passar
informações, conversar com eles o que aconteceu no dia em casa, no final de
87
semana, mais uns dez minutinhos. Como é que eu vou dar atividade naquele dia, o
que eles vão fazer – jogo lá mais uns quinze minutos. Eu já sei, mais ou menos,
quanto eles gastam pra fazer a atividade. E a atividade ela já vem, eu não posso dizer
que é uma atividade simples, é uma atividade que eu perceba que a criança consegue
fazer, que vai terminar naquele dia. Uma atividade mais longa, mais complicada, eu
já passo na roda pra eles: hoje nós vamos fazer só a pintura e a colagem e amanhã
nós vamos dar continuidade; então eles já estão acostumados. Desde o vídeo do
primeiro momento que entra na sala, eles nunca vêem um vídeo inteiro, porque não
dá. Então eles sempre sabem: olha, vamos assistir hoje três episódios que fala sobre
isso, aquilo. A gente conversa sobre os três episódios. Amanhã vamos dar
continuidade a esses três episódios. E no dia seguinte eles realmente sabem: Olha
professora a senhora parou em tal capítulo, em tal episódio, aconteceu isso, isso e
isso; e a gente dá continuidade. E a mesma coisa é com a atividade.
Professora 3: É assim, a gente tem uma linha de tempo que é da escola, organizado
na escola, que todos seguem. E eu tenho também a minha rotina, eu tenho o costume
de todos os dias organizar com eles na lousa, aí eles vão falando, a gente vai
colocando, tem uma hora que eu deixo lá assim, tem algumas atividades que eles
escolhem, tem outras coisas que tem que manter que até está na linha de tempo, que
faz parte da rotina, tem as atividades que são fixas, tem aquelas que são
diversificadas, que mudam de um dia pro outro, são flexíveis. Então assim, de
acordo com aquela rotina do dia, a gente chega, vê quem veio, quem não veio. A
gente tem um cartaz de pregas na escola que fica uma lista móvel, tem uma
plaquinha com o nome deles, com a foto bem grandona, e a gente vê quem veio,
quem não veio, quantas crianças vieram. E o que a gente vai fazer hoje? Isso é bom
até pra abaixar a ansiedade deles, dá uma acalmada, eles não ficam toda hora
perguntando o que é que vai fazer. Aí a gente vai lá, escreve, desenha na lousa o que
vai fazer naquele dia, organiza a rotina. E aí, de acordo com essa rotina, aí a gente
organiza a sala, também organiza os espaços, os materiais, conforme essa rotina do
dia.
Professora 1: Olha, nos últimos anos a escola vem recebendo verba pra comprar
material pedagógico, graças a Deus. E isso a escola está fazendo bem, aplicando
bem. Então, todas as salas de aula têm o armário coletivo. No armário coletivo tem
brinquedos para as crianças. E toda vez que chega verba o diretor reúne o conselho,
reúne a gente e faz uma lista de prioridades; o que a gente está precisando. E a gente
ganha esse material. O material fica à disposição nossa e das crianças porque o
armário é aberto, ele é colocado numa altura que dá pra ela pegar. Então a criança
segue a rotina do professor. Se o professor trabalha com brinquedo no primeiro
momento de aula, do acolhimento, ele já sabe. A criança mesmo vai lá e pega. Se é
um determinado dia da semana, a gente já avisa. A gente costuma trabalhar muito
com os brinquedos na sexta-feira, eles trazem os deles e usa o da escola também.
[...] O único problema é assim, eu acho o desperdício dos brinquedos, do material; o
que um cuida o outro não cuida tão bem. [...]
Então assim, eles pegavam mais os brinquedos, ficavam mais soltos. Essa sala que a
gente ta agora não tem tanto brinquedo como a outra tinha, é mais material de
encaixe, brinquedinho de panelinha e tal. E assim, nos momentos de brincar, eles
ficam livres, agora também tem alguns brinquedos novos, aí eles vão lá, escolhem,
brincam. [...]
A Professora 1 relata a importância da verba, que nos últimos quatros anos, são
destinas as unidades escolares para a compra de materiais pedagógicos. A autonomia da
escola em suprir a sua própria necessidade em relação à compra de materiais pedagógicos traz
um avanço para a Rede Municipal de Educação de São Paulo e contribui significativamente
para a qualidade da prática docente. A professora 1 ainda comenta sobre o armário coletivo,
que fica aberto com os materiais diversificados, na altura das crianças para dar-lhes acesso
fácil e autonomia. Nota-se que nesta unidade escolar, há professores que trabalham com os
brinquedos no momento específico do acolhimento e também professores que escolhem um
dia da semana, geralmente, sexta-feira, para envolver as crianças na atividade do brincar.
caderno. Em relação aos brinquedos, permite a autonomia da criança em escolher com quais
brinquedos deseja brincar.
h) Como você tem interagido com os alunos e como é a interação entre eles na sala de
aula?
Professora 3: Ah, a interação se dá o tempo todo né, toda a hora a gente está
interagindo, é até difícil falar com se dá a interação. A interação se dá na hora das
brincadeiras, das atividades, na hora da história, na hora das conversas, das rodas de
conversa. Assim, tem algumas crianças eram bem quietinhas no começo do ano,
tinha criança que nem falava no começo do ano, agora eles estão falando mais, se
socializaram melhor, fizeram muitas amizades. [...] Eles falam muito o tempo todo,
contam tudo que acontece em casa e querem mostrar tudo, um tênis novo, e querem
comentar. Eles vêem falar que foram passear, isso, aquilo. [...] É uma interação que
não acaba nunca, o tempo todo.
91
A criança tem uma maior interação com o professor e os colegas quando o ambiente
é planejado e organizado para este fim. Quando há espaço para a participação das crianças
nas decisões, constantes conversas, combinados, negociações se constrói uma saudável
interação entre todos os protagonistas.
olhão, grandão, eu já sei: Ah, ele ta querendo alguma coisa. E essa semana o Wilson
começou a se afastar, já não está mais tão perto. Ele já está se afastando, já ta indo
pra mais longe. Eu falo: Ah, você ta fugindo da minha cordinha né. E ele já está se
afastando. Então, isso a gente registra. Eu posso não estar registrando naquele
momento, mas já registrei aqui na mente, na memória. Aí chega no final de semana,
numa dia que eu esteja mais tranqüila, eu pego essas atividades, o que aconteceu de
importante e marco.
Professora 2: Olha o registro, às vezes eu consigo registrar na hora. Mas como eles
exigem muito da gente, nossa atenção, né, então eu não consigo, às vezes, registrar
na hora. E, depois que termina, eu registro, pra não se perder. Então eu acho que o
registro é muito importante sim, porque ele é a memória viva do professor, onde o
professor ele vai, ele volta, ele vê o progresso da criança. Só que igual eu falei, a
dificuldade é muito grande. O professor assim, aquele que quer mesmo fazer as
coisas, ele se esforça muito. Porque as crianças tem necessidade da gente e a gente
tem que registrar, e a gente não consegue. Humanamente é impossível. Mas assim
eu vejo como de grande importância. Eu tento registrar todos os momentos que se
destacou, que a gente ta trabalhando algum texto, mas eu gostaria de registrar na
hora, mas muitos casos não é possível ainda.
Professora 3: Então, a gente tem o planejamento que é aquele que a gente faz, no
caso todo ano, semestral, que entrega pra coordenadora, aí assim, eu faço algumas
anotações no meu caderno, tenho a minha rotina e assim, na verdade esse
planejamento que fica com ela a gente pega raramente, vou ser sincera com você. A
gente pega, às vezes anota alguma coisa no caderno. Assim, raramente, poucas vezes
no ano vai lá, recorre a ele, assim, olha o que você já fez, o que você ainda não fez:
Ah, isso aqui eu preciso fazer um pouco mais; olha isso aqui eu coloquei aqui e não
fez. É uma coisa que fica um pouco distante assim, pra falar a verdade. Agora assim,
no dia-a-dia mesmo o que é que eu uso? Anotações no meu caderno, uso muito o
portfólio, gosto muito de trabalhar com portfólio. Eu pego algumas atividades de
desenho, atividade livre, atividade de número, de letra, de nome. Aí nesse portfólio
tem evolução da escrita do nome, tem conhecimento do nome, tem desenho de
história, registro de jogos, de brincadeira. E assim, eu uso muito esse portfólio
também pra conhecer melhor, pra ver como ele está. Eu sento um por um.
Dependendo da atividade é bimestral, dependendo da atividade é mensal. Eu estou
sempre com o portfólio pra lá e pra cá. Eu fico vários dias com o portfólio, aí fico
um período sem, aí já estou com o portfólio na mão seja pra uma atividade ou pra
outra. [...]
organização do ambiente em prol das linguagens facilita o trabalhar com outras linguagens de
menor afinidade e a Professora 3 utiliza o registro para ajudá-la a se policiar em relação a
priorizar uma determinada linguagem.
acontecendo no cotidiano da sua escola. Porque pra eles é passado de uma forma e
pra nós é passado de outra, e acontecendo junto a gente consegue pensar mais em
prol do aluno, na educação do aluno, ensinar para o aluno.
Professora 2: Olha,a gente percebe assim, porque o PEA tem os temas no começo
do ano, a gente tem que trabalhar de acordo com os temas na nossa prática docente.
A única coisa que eu achei de dificuldade foi assim, a gente não pôde estudar textos
a mais do que estava planejando no PEA. Então, eu achava que o PEA tinha que ser
mais flexível porque conforme vai passando o tempo, vai surgindo coisas. As
crianças são vivas, nós vivemos numa constante, vamos se dizer assim, é como se
fosse uma bolha em ebulição. Então assim, vão acontecendo coisas que a gente às
vezes não planejou, que a gente não poderia saber. Porque quando a gente observa
uma criança, a gente não conhece, a gente vai conhecendo durante o ano. Acabou o
final do ano e você ainda não está conhecendo ela. Então, por isso que é importante
o PEA ser mais flexível e ter um pouco essa abertura da gente poder estudar coisas.
Igual, chegar no meio do ano poder estar mudando talvez a bibliografia. Porque
aquilo que a gente planejou, talvez não tenha mais necessidade, já foi satisfeito. E ta
colocando coisas novas. Isso a gente não pôde fazer, porque é fechado. Ah, planejou
no começo do ano, planejou, mandou lá para a DRE, ta planejado, não pode mudar,
tem que dar aquilo que ta lá. Eu acredito que não tinha que ser assim, tinha que ser
flexível e, conforme a nossa possibilidade, poder sim mudar e estudar outros textos.
E o Rede em Rede eu não tive muito contato esse ano. Eu não fiquei sabendo muito
que aconteceu na formação do Rede em Rede. A gente sabe dos livros. Nós lemos os
livros, as orientações curriculares, a partir dos livros e das orientações curriculares a
gente procura trazer aquilo lá para a prática. Mas o Rede em Rede em si, eu acredito
até que o curso deveria ser para os professores também. Porque às vezes o
coordenador, ele vai, mas cada um tem a sua concepção. Então assim, é importante
porque a partir do momento que ele lançou um conhecimento, cada um vai passar do
jeito por ele, porque cada um é uma pessoa. Então eu acho que seria importante abrir
sim para os professores. O professor estar fazendo esse curso.
Professora 3: Com relação à prática a gente percebe que tem algumas coisas que
eles estão estudando lá e estão discutindo, refletindo e eles conseguem levar pra
prática uma ou outra coisa. Mas assim, eu acho que o mais forte é isso mesmo, uma
questão de refletir, de dividir, de trocar experiência, de conversar. Isso também é
muito importante, porque o nosso trabalho é muito humano, precisa muito desse
momento de conversar. E a gente que não participa do projeto, o que eu mais sinto
falta é isso, é uma correria constante. Você não tem um momento de encontrar com
seus parceiros, conversar, trocar experiências ou, muitas vezes, tirar dúvidas. A
gente não se encontra, é muito corrido. Então eu acho que principalmente por isso,
esse momento de troca é muito importante.
A professora 3 que não tem o contato semanal com o “Projeto Especial de Ação” e a
teoria do “Programa A Rede em rede” nota pouca presença da teoria do “PEA” e do
“Programa” na prática dos docentes que lecionam com ela. Ela ressalta a importância dos
momentos coletivos para troca de experiência.
Pesquisadora: Durante esses quatro últimos anos, você observa mudanças de prática nos
professores que realizam a formação continuada, na escola?
Professora 2: Ah, tem, a quantidade de criança. Eu acho que o fator maior que
impede é esse. Porque assim, a teoria eu tenho, eu fiz estudos. Assim, na faculdade
eu senti que faltava ainda conhecimentos, então eu fui buscar, busquei. Fiz uma pós-
graduação em educação infantil. Porque assim, a gente não tem que esperar, a gente
tem que ir atrás. E assim,a única dificuldade que eu encontro é a quantidade de
criança, eu acho que se tivesse um pouco menos de criança, eu conseguiria
desenvolver um trabalho de mais qualidade, porque eu conseguiria atender cada
criança. Porque cada criança tem a sua necessidade. Infelizmente a gente trata um
todo e acaba fazendo um depósito de criança e a escola não é um depósito de
criança, tem quer respeitar cada indivíduo na sua íntegra.
Professora 3: Olha, sempre tem alguma coisa que a gente leva sim da teoria para a
prática, algumas coisas que a gente reflete e muda, a gente tá sempre mudando né,
vai mudando algumas coisas na prática. Agora assim,a gente sabe que não é tudo
que a gente vê na teoria que a gente consegue colocar na prática. Porque assim, a
realidade é bem diferente, às vezes também num ano você consegue e no outro não.
Os alunos são muito diferentes. Geralmente eu tenho duas turmas, eu tenho dois
segundos estágios, eu tenho um num período intermediário e um no período
vespertino e eles são muito diferentes uma turma da outra. Algumas coisas eu
consigo fazer, por exemplo, no vespertino e não consigo fazer no inter. Então assim,
tem coisa que dá, tem coisa que não. Por exemplo, eu tenho uma turma no inter que
é muito difícil, os alunos são muito agressivos, é uma turma muito agitada. Então
assim, esse é um fator complicador. Já a outra turma é uma turma mais tranqüila, dá
pra você estabelecer um diálogo melhor, eles têm mais paciência pra uma atividade
que precisa de mais tempo, eles conseguem esperar. Essa é uma questão. Tem
também algumas coisas assim, que é dificuldade geral, que é ter um número muito
grande de alunos nas salas. É uma dificuldade, assim, quem não gostaria de poder
acompanhar melhor os alunos de poder fazer mais por cada um. Por exemplo, uma
coisa que me aflige muito, que eu acho muito importante: a intervenção individual.
Eu acho muito importante porque assim, tem muita criança que ele aprende sozinho.
[...] Agora, tem criança que não é assim, ele precisa de uma intervenção individual,
ele precisa de uma dica: olha isso tem que fazer assim. E assim, mesmo que ele
tenha facilidade, às vezes, em um lado, para caminhar sozinho, às vezes ele tem
facilidade em uma questão e em outra não. Então assim, em alguma coisa ele precisa
de intervenção, e assim, a gente faz o que a gente pode, a gente procura estar
100
A Professora 3 observa as diferenças de cada criança atendida por ela. Ela relata que
cada criança possui uma necessidade específica e comenta a importância de realizar uma
intervenção individual e ressalta a grande quantidade de criança na sala de aula.
Professora 3: Ah sim, auxilia, é sempre muito bom. Às vezes, até alguma coisa que
você fazia lá há um tempo atrás e não faz mais. Às vezes você começa a ler, olha
que legal, eu fazia isso, agora não faço mais, é importante retomar, fazer de novo.
Sempre, sempre você dá uma acordada pra alguma coisa, reflete. É muito bom, tem
muita coisa que não dá, mas tem muita coisa que dá pra você colocar na prática, que
ajuda, que ajuda a refletir, ajuda a melhorar, ajuda a transformar algumas coisas na
sua prática sim.
101
Professora 1: Nós temos conversado entre nós professoras, só. Nós estamos
preocupadas com o ano que vem. Essas crianças virão com três anos e meio, a
completar quatro. São muito diferentes, meses, um mês já faz diferença, já não é a
mesma criança de quatro anos. Então nós entre as professoras estamos preocupadas:
ah, será que eu pego berçário, será que eu não pego. A escola ainda não propiciou
momentos pra que a gente se organize, nem o espaço, mobiliário, brinquedos
apropriados. Que nem, tudo, não pode ser tão pequeno assim, tem que pensar muito
bem nos brinquedos. Os brinquedos que a escola tem hoje é fácil quebrar a roda de
um carrinho, quebrar uma rodinha e a criança colocar na boca, enfiar no nariz ou no
ouvido. Não que não aconteça com as de quatro anos, mas vai acontecer mais
freqüentemente do que com as de três anos e meio, não é. Então ainda não se
organizaram quanto a isso, mas nós professoras já estamos muito preocupadas,
muito. Primeiro porque vai ser uma sala de 30 e vai ter um único professor. Lá, não
de onde as crianças vêm geralmente é quinze, dezoito crianças, mais ou menos, duas
professoras, nós vamos ser uma professora pra 30. E nós vamos ter que ensinar essa
criança a tirar sua roupa quando sente calor ou colocar a roupa quando sente frio; a
localizar sua mochila, a guardar aquilo lá. Ajudar a colocar o sapato nessa criança,
ajudar a colocar comida no prato, porque aqui é self service e a criança ainda não
tem toda a coordenação pra estar pegando. E são trinta pra ajudar a se servir. Então,
ainda não foi pensado nisso. Espero que no começo do ano a gente tenha esse tempo
pra nos organizar antes dessas crianças começarem realmente.
Professora 2: Olha, pelo que eu observo a escola ela tem se organizado da seguinte
maneira: procurar ter mais colchonete nas salas que as crianças de três anos vão
estar, né; procurar ser um ambiente que tenha poucas cadeiras, que tenha bastante
brinquedos, brinquedos que sejam bem baixinhos pra elas, né. Então é assim, dessa
maneira que eu tenho observado né a organização pra receber essas crianças
pequenas de três anos. Eu acredito que ainda é pouco porque ainda se tem muito
mais a se fazer, tenha que talvez mexer na parte do prédio mesmo, ter um banheiro
mais acessível porque talvez os vasos são grandes, elas têm dificuldade pra usar
vasos grandes, mas é uma coisa assim que é lenta e que se vai caminhando e que
você vai planejando, vai se conversando. Mas eu vejo que assim, a escola tem
procurado nas salas de primeiro estágio deixar menos cadeiras para as crianças
trabalharem mais no chão, colchonetes e brinquedos, é o que eu tenho observado.
Professora 3: Olha, pra fazer a verdade, eu não percebi assim mudança pra receber
essas crianças. Assim, do mesmo jeito que é a sala de primeiro estágio, as crianças
que ainda vão completar quatro anos, que completaram 3 anos no final do ano, tem
102
um mês que completou, aí vem pra EMEI. Assim, na minha opinião não ta
preparado, não ta estruturado pra receber essas crianças. Porque do mesmo jeito que
essa sala que recebe essas crianças, recebe também as crianças de cinco, de seis
anos. [...]
A Professora 2 descreve alguns cuidados que já vem ocorrendo na escola: sala com
colchonetes, menos cadeiras na sala de aula, muitos brinquedos e relata, ainda, a preocupação
com as peças sanitárias, que é incompatível com o tamanho da criança.
Segundo o documento elaborado pela equipe de DOT- EI, a criança deve ser vista
como um ser inteiro:
Dentro de uma visão de educar e cuidar que vê a criança como um ser inteiro que
constrói significados na interação com um ambiente complexo, cheio de facetas,
normas, possibilidades de ação, é preciso desenvolver um olhar que considere a
gestão pedagógica das situações criadas também nesse ambiente. Pouco adianta
implementar práticas que não sejam construídas conceitualmente, no campo das
teorias, e que não sejam apropriadas pelos professores e demais educadores. (A
Rede em rede- fase1, 2007, p. 57)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
“É na formação dos profissionais que vão atuar na educação infantil que está a
chave para uma atuação responsável e competente”. (Fonseca, 2004)
A pesquisa teve como objetivo compreender como as teorias alcançam a prática dos
professores e como os docentes da Rede Municipal de São Paulo aplicam essas teorias na
prática pedagógica.
ano, não garante o bom andamento do “Projeto Especial de Ação”, como relatou um dos
gestores pesquisado.
Além disso, os professores avaliam o “PEA” como sendo um projeto estático e não
dinâmico. O “Projeto” para ser eficiente é necessário planejar as etapas de elaboração,
execução e avaliação com todos os envolvidos. As etapas de planejamento do “Projeto
Especial de Ação” devem ser compreendidas como processo educativo, flexível, dinâmico e
as ações precisam estar voltadas para o projeto maior da unidade educacional, o Projeto
Pedagógico. Esses são alguns ajustes necessários para que o “PEA” seja eficiente.
Esses indicadores vêm ajudar as instituições de Educação Infantil a definir suas prioridades e
traçar caminhos para construir uma proposta pedagógica e social significativa. Observar a
história da Educação Infantil e compará-la aos dias de hoje é perceber o quanto as instituições
que atendem as crianças de 0 a 5 anos avançaram nas dimensões pedagógicas e sociais e o
quanto precisam avançar rumo a uma plena qualidade educacional.
Por fim, pesquisas direcionadas a formação continuada docente são essenciais para
trazer a luz discussões e reflexões sobre a relação teoria e prática pedagógica, fatores que
contribuem para a construção de conhecimento à Educação.
108
6. REFERÊNCIAS
CERISARA, Ana Beatriz. ROCHA, Eloisa Acires Candal. FILHO, João Josué da Silva.
Educação Infantil: uma trajetória de pesquisa e indicações para a avaliação de contextos
educativos. In: OLIVEIRA-FORMOSINHO, Júlia & KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Orgs).
Formação em Contexto: uma estratégia de integração. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2002. p. 41-88.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6.ed. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. 8.ed. São Paulo: Cortez,
2006.
110
______. Paulo. Educação e mudança. 27. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.
GANDIN, Danilo. Planejamento como prática educativa. 6. ed. São Paulo: Loyola, 1991.
GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
KATZ, L.; GOFFIN, S.G. Issues in the preparation of teachers of young children. In:
SPODEK, B.; SARACHO, O. N. (eds.) Yearbook in early childhood education (v.1): Early
childhood teacher preparation. New York: Teachers College, 1990. p. 192-208.
LA TAILLE, Yves de. O Lugar da Interação Social na Concepção de Jean Piaget. In: LA
TAILLE, Yves de. (org). Piaget, Vigotsti, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão.
São Paulo: Summus, 1992.
LARANJEIRA, Maria Inês et al. Referências para a Formação de Professores. In: BICUDO,
Maria Aparecida Viggiani & JUNIOR, CELESTIANO Alves da Silva (Orgs). Formação do
Educador e Avaliação Educacional: formação inicial e contínua. v. 2. São Paulo: Editora
UNESP, 1999. – (Seminários e Debates)
LOPES,K.R.; MENDES, R.P.; FARIA, V.L.B. de.( Org.) Livro de estudo: Módulo IV
Coleção PROINFANTIL. Unidade 2. – Brasília: MEC. Secretaria de educação básica.
Secretaria de Educação a Distância, 2006. 88p.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 5. ed. São
Paulo: Atlas, 2003.
OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. A Formação do Professor de Educação Infantil. In:
IV Congresso Municipal de Educação em São Paulo, Contextos e Protagonistas. 2005. p.
224-226.
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22. ed. versão ampliada
São Paulo: Cortez; Autores Associados, 2002.
______. Perspectivas para reflexão em torno do Projeto Político- Pedagógico. In: VEIGA,
Ilma Passos Alencastro & RESENDE, Lúcia Maria Gonçalves de. (Orgs.) ESCOLA: Espaço
do Projeto Político- Pedagógico. 7.ed. Campinas: Papirus, 2003.
Nome:
(opcional)______________________________________________________________
Idade:_____________________________________________Sexo: F ( ) M ( )
Formação acadêmica:
2º grau-magistério ( ) Ensino superior( )Qual?____________________________
2-Em que ano você ingressou no cargo de Professor de Educação Infantil na Prefeitura
Municipal de São Paulo?
R:____________________________________________________________________
3-Você exerce outro cargo na Prefeitura Municipal de São Paulo ou em outro órgão estadual
ou particular?
( ) sim ( ) não
Qual?__________________________________________________________________
4-Você participa ou participou do Projeto Especial de Ação (PEA) de sua Unidade Escolar ou
em outra Unidade Escolar?
( ) sim ( ) não
5- Em quais anos? Assinale o(s) ano(s) em que você participou do Projeto Especial de Ação
(PEA).
( ) 2005 ( ) 2006 ( ) 2007 ( ) 2008
6-Assinale uma das alternativas abaixo, caso você não participou do Projeto Especial de Ação
nos ano de 2005 a 2008 ou participou parcialmente.
( ) impossibilidade devido acúmulo de cargo;
( ) organização familiar;
( ) outros
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________________7- Nestes
últimos quatro anos, como você avalia o Projeto Especial de Ação de sua Unidade Escolar?
( ) Excelente
( ) Bom
( ) Regular
9-Como você avalia o Programa Rede em rede, na Educação Infantil, proposta pela Secretaria
Municipal da Educação?
( ) Excelente
( ) Bom
( ) Regular
116
10- Quais os assuntos mais significativos que trata o Programa Rede em rede para sua prática docente?
Que assuntos você sugere?
R:___________________________________________________________________________
14-Durante os últimos quatro anos, o que você aprendeu, na formação continuada, na Unidade Escolar
que foi significativo para sua prática docente?
R:________________________________________________________________________
15- O que você mudaria no Projeto Especial de Ação ( metodologia, conteúdo etc) e no Programa
Rede em rede, na Educação Infantil?
Cargo/função:
1-Quais são os desafios cotidianos que você tem enfrentado em relação a formação
continuada dos professores?
R:_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3-Você tem sentido dificuldade em lidar, nos horários coletivos, com o Projeto Especial de
Ação e o Programa A Rede em Rede na formação continuada dos professores? Caso positivo,
relate as dificuldades.
R:_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5- Nestes últimos quatro anos, como você avalia o Projeto Especial de Ação?
R:_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6- Você tem percebido dificuldades dos professores em lidar com a teoria do Projeto Especial
de Ação e o Programa A Rede em Rede, na prática docente? Comente.
R:_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7-Em relação ao Ensino Fundamental de 9 anos, como você, enquanto gestor, tem pensado no
acolhimento das crianças de 4 anos a completar no cotidiano da EMEI?
R:_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
118
Pesquisadora: Muito bem, vamos começar então a pesquisa. Eu gostaria de saber o que você
entende por formação continuada?
Professora 1: Formação que todos os dias nós estamos com os nossos colegas, com o
coordenador, com o grupo de estudo. Assim, as idéias da gestão e também as práticas e o
estudo que a gente tem que estar fazendo, tem que se atualizar dentro da nossa área da
educação. Então, pra mim isso é educação continuada. Pelo menos três, quatro vezes por
semana estar um grupo fechado, um grupo junto estudando, trabalhando dentro da escola.
Professora 1: Bem, vai da gente, do horário da gente, cada professor escolhe o seu horário e
aí a gente forma um grupo. Geralmente são três dias na semana, três, quatro dias na semana.
Nós nos reunimos e estudamos.
Professora 1: A criança que brinca, a criança que se expressa, fala o que pensa, que se
corrige, a criança que constrói, que imagina, a criança que chora; a criança que nós fomos um
dia e crescemos e hoje somos adultos.
Pesquisadora: Muito bem. De acordo com a resposta do questionário, o que você entende por
concepção tradicional-sócio-construtivista?
Professora 1: Tradicional é o professor que ensina, tem que estar claro na cabeça dele que ele
tem, pode se dizer, uma obrigação de ensinar. O que é o sócio-construtivista? É o educar
levando em conta o meio da criança, o viver dela. Então eu sou tradicional e construtivista por
quê? Porque eu sou consciente que eu estou aqui pra ensinar. Então o que eu vou ensinar? E
aí eu vou elencar o que é importante pra eu estar ensinando para a minha criança, o que eu
vou educar com a minha criança nas relações do dia-a-dia com o colega, comigo, com outras
pessoas da unidade escolar, com aquilo que ela fala o que aconteceu na casa dela, na rua. Eu
vou estar educando essa criança, mas eu também tenho os momentos de ensinar e isso eu não
posso deixar de lado, que tem que ensinar também.
Professora 1: Olha, eu gosto de, quando eu vou ensinar algo eu acho que é importante a
criança ela tem que me ouvir, em primeiro lugar. Então eu considero tradicional, ela tem que
me ouvir. Ela tem que estar atenta no que eu estou fazendo. Ela vai ter o momento dela falar,
vai ter o momento de ouvir, vai ter o momento de construir, de participar da aula. Então, isso
eu considero o tradicional, porque tem que ouvir, se não ouvir fica difícil a gente trocar idéias
119
e conseguir educar e ensinar ao mesmo tempo. Então, tem que ter uma relação de respeito, de
reciprocidade.
Professora 1: Dá pra perceber sim, na sócio construtivista. Só que eu acho que fica mais
difícil, acho que a criança fica muito solta e eu Ângela, eu perco o controle. Acho que a minha
maneira de ser, entendeu? Eu perco o controle. Tem professor que trabalha muito bem assim,
deles estarem conversando, brincando ao mesmo tempo, fazendo atividade ao mesmo tempo,
trabalham muito bem. Eu não. É uma coisa por vez. Então, por isso que eu falo que eu sou
tradicional e sócio-construtivista, eu procuro dividir, eu tenho lá minhas tarefas do dia, aquilo
que eu quero, aquilo que eu elenquei de importante, que eu vou planejar, que eu vou trabalhar
com a criança. Então tudo tem que ser organizado, desde o primeiro momento que ela entra na
sala de aula, aquilo que já tem que estar planejado na minha cabeça: a maneira, onde ela vai
sentar, os grupos, a organização das mesas, como que a gente vai estar conversando. Então,
por isso que eu lhe digo que eu sou um pouco tradicional.
Pesquisadora: Muito bem. Então vamos falar um pouquinho disso que você já está relatando
à respeito do espaço. Como tem sido no seu cotidiano da sala de aula a questão do espaço
ambiente?
Professora 1: Esse ano eu trabalho na sala 5 que seria a sala de vídeo. Então esse ano eu usei
muito o vídeo, bastante. Então, o primeiro momento é o momento de acolhimento deles, que
eles vão chegando, se cumprimentando, contando as novidades; então a sala está sempre
organizada em meia lua, sempre em meia lua. Por quê? Após esse encontro entre eles, as
conversas entre eles, tem sempre lá um vídeo de música, um desenho animado, eles trazem
brinquedos de casa, eles trocam brinquedos entre eles. Terminou esse momento, aí é o meu
momento. Aí parou, eles até sabem, nós vamos fazer a nossa contagem, quantos meninos,
quantas meninas, vou escrever na lousa, vou fazer a leitura do dia. Toda vez que eu vou
passar informação para as crianças, eles vão para o meio da sala e nós fazemos uma roda. E aí
eu faço com todos juntos. Então essa é minha organização da sala.
Pesquisadora: Muito bem. E a questão do tempo, como você planeja o tempo no dia a dia?
Professora 1: O tempo já é meio complicado, bastante. Esse ano eu peguei uma sala rodízio,
eu divido uma sala com a colega, então tem que ser tudo meio cronometrado, não é? Então eu
já venho qual atividade que eu vou dar naquele dia, como que eu vou dar aquela atividade.
Então é tudo assim bem no horário certinho. Então vamos fazer leitura? Bom, tem o
acolhimento, eles vão fazer a troca e já vão ficar mais ou menos uns vinte minutos ali na
conversa entre eles. Vou passar informações, conversar com eles o que aconteceu no dia em
casa, no final de semana, mais uns dez minutinhos. Como é que eu vou dar atividade naquele
dia, o que eles vão fazer – jogo lá mais uns quinze minutos. Eu já sei, mais ou menos, quanto
eles gastam pra fazer a atividade. E a atividade ela já vem, eu não posso dizer que é uma
atividade simples, é uma atividade que eu perceba que a criança consegue fazer, que vai
terminar naquele dia. Uma atividade mais longa, mais complicada, eu já passo na roda pra
eles: hoje nós vamos fazer só a pintura e a colagem e amanhã nós vamos dar continuidade;
então eles já estão acostumados. Desde o vídeo do primeiro momento que entra na sala, eles
120
nunca vêem um vídeo inteiro, porque não dá. Então eles sempre sabem: olha, vamos assistir
hoje três episódios que fala sobre isso, aquilo. A gente conversa sobre os três episódios.
Amanhã vamos dar continuidade a esses três episódios. E no dia seguinte eles realmente
sabem: Olha professora a senhora parou em tal capítulo, em tal episódio, aconteceu isso, isso
e isso; e a gente dá continuidade. E a mesma coisa é com a atividade.
Professora 1: Então, nós temos a nossa linha de tempo, dentro da nossa linha de tempo nós
temos o nosso horário de parque, nosso horário de informática, temos o horário do
acolhimento e a troca das salas de aula e o horário pra você fazer atividade em sala. Então,
por exemplo, na segunda feira eu tenho parque grande; de quinta-feira eu tenho informática. E
a gente já se organiza dentro do horário da escola, já faço minha organização, meu
planejamento dentro do horário da escola.
Pesquisadora: Muito bem. A questão dos materiais. Como são organizados os materiais na
sala de aula? Como está a organização desses materiais? Como é o uso dos materiais dentro
da sala de aula? Me descreva um pouquinho esses materiais na sala de aula com vocês.
Professora 1: Olha, nos últimos anos a escola vem recebendo verba pra comprar material
pedagógico, graças a Deus. E isso a escola está fazendo bem, aplicando bem. Então, todas as
salas de aula tem o armário coletivo. Tem o armário coletivo e tem brinquedos para as
crianças. E toda vez que chega verba o diretor reúne o conselho, reúne a gente e a gente faz
uma lista de prioridades; o que a gente está precisando? E a gente ganha esse material. O
material fica à disposição nossa e das crianças porque o armário é aberto, ele é colocado numa
altura que dá pra ela pegar. Então a criança segue a rotina do professor. Se o professor
trabalha com brinquedo no primeiro momento de aula, do acolhimento, ele já sabe. A criança
mesmo vai lá e pega. Se é um determinado dia da semana, a gente já avisa. A gente costuma
trabalhar muito com os brinquedos na sexta-feira, eles trazem os deles e usa o da escola
também. Então eles já sabem, eles vão lá, abrem, pegam os brinquedos. Eu distribuo os
brinquedos nas mesinhas, diversos brinquedos diferentes pra que eles possam estar trocando.
Então, isso, graças a Deus, melhorou muito. O único problema é assim, eu acho o desperdiço
dos brinquedos, do material; o que um cuida o outro não cuida tão bem. Porque a gente
precisa estar orientando as crianças. Não é? A gente precisa estar orientando as crianças,
aquele brinquedo é de todos, não é só dele. Ele vai brincar com o colega, ele vai brincar com
colegas de outras turmas. E se ele estragar, nem ele, nem os outros vão ter. Então, o que um
cuida, outros não cuidam. E aí estraga rápido, fácil e a gente vê o dinheiro ir embora.
Pesquisadora: Você me relatou agora sobre o brincar, que você tem um dia, na sexta-feira do
brincar. É isso mesmo?
Professora 1: É isso mesmo. Na sexta-feira eles trazem brinquedo de casa. Eles já estão
sabendo que aquele dia eles podem dividir o brinquedo deles, os pais já sabem disso, eu já
aviso desde as primeiras reuniões. Como eu aviso que eu vou trabalhar com leituras, eu aviso
que eles podem trazer brinquedos sim, e eu deixo livre os brinquedos, não precisa ser só na
sexta-feira. Na sexta-feira é que fica mais livre, mais tranqüilo pra eles. Se eles quiserem
trazer na segunda, ele traz, só que no momento da atividade ele sabe que vai ter que guardar.
121
No momento da roda de conversa, aquele brinquedo não vai poder estar lá na roda, a não ser
que ele seja o objeto da conversa. Mas na sexta é livre, é dele. Então a gente usa o brinquedo,
o imaginar, mas na sexta. Fora isso a gente brinca bastante no parque também. Eles podem
estar trazendo brinquedos de casa que eles possam utilizar no parque. Aí fica livre pra eles,
fora as brincadeiras dirigidas.
Pesquisadora: Muito bem. E como é a interação do aluno com você na sala de aula, nos
outros espaços da escola, na sala de informática, no parque. Como ocorre essa interação? Com
aluno x aluno também, como ocorre?
Professora 1: Olha, eu e os alunos eu posso dizer que às vezes eu me sinto mãe deles. Me
sinto mãe. Por quê? Ao mesmo tempo que eu estou lá ensinando, mostrando pra ele o que ele
pode fazer, o que ele não pode fazer, ao mesmo tempo ele tem uma relação muito carinhosa
comigo. As crianças comigo,elas não têm medo. Elas não têm medo de falar porque tá
chorando, porque não quer vir na escola. Se aconteceu alguma coisa na casa dela, ela chega e
conta naturalmente. E no momento que eu quero a atenção dela, ela me respeita também.
Quando ela chega e fala: Tia. E é o momento dela falar ‘tia’, tudo bem, mas quando é o
momento de falar ‘Pro’ é ‘Pro’. Então eu sou professora e sou tia também. Então, nós temos
uma relação muito boa, com as minhas crianças. Entre eles também porque eu peguei esse ano
duas turmas muito boas. Eu posso dizer que eles quase não se batem. Toda criança briga, bate,
isso é normal, mas essa é uma turma boa, uma turma que está sempre chegando, conversando:
Olha Pro, o meu coleguinha não quer dar o brinquedo pra mim. Aí eu falo: Então vamos lá. O
que nós vamos fazer? Negocia com ele. O que você tem que você possa trocar no momento
com ele? Aí ele vai lá, ele tenta. Às vezes dá certo, às vezes ele vem chateado e diz que não
deu certo. Aí eu falo: Ah, então hoje ele não quer. A gente tem que respeitar o amigo. Ele não
quer trocar. Então você vai brincar com outro amigo, com outros colegas, quem sabe depois
você volta a conversar com ele. E eles conversam entre eles. Eles são uma geração boa essas
duas turmas.
Pesquisadora: Muito bem. E a questão do registro. Como você tem registrado sua prática
pedagógica? Porque no questionário você relata que você reflete diariamente sobre a prática e
o registro você faz semanalmente. Como é essa questão do registro e dessa reflexão da
prática?
Professora 1: Bom, o registro. Eu pego um dia da semana que eu esteja mais tranqüila, sem
grupo de estudo, normalmente é no meu horário de (...). Pego as atividades, aquilo que eu fiz
durante a semana, porque eu dou atividade pra criança, e quando acontece algo que eu acho
que é importante, eu registro na própria atividade da criança. Por exemplo, eu tenho um
aluno, o Jonas, que ele tem muito medo de papel. Fala pra ele: Agora nós vamos pintar. Mas
acaba a palavra ‘pintar’ ele já fala: Eu não. Eu não quelo, eu não quelo, eu não quelo. É assim
que ele fala, né. Ele tem muito medo. E essa semana ele fez a atividade. Tranqüilo. Foi lá,
pegou, veio mostrar se tava bonito. Aí eu falei: Ah, mas eu acho que ta faltando alguma coisa.
Você não acha que ta faltando? Ele falou: É mesmo. Voltou, completou. Aí eu anotei: Hoje
Jonas conseguiu fazer a atividade sem negar aquilo que ele tava sentindo. Então eu marco ali
o que aconteceu naquele dia que eu achei que foi importante. Porque nem tudo é importante.
Muitas coisas a gente registra aqui na nossa cabeça e no nosso coração. Às vezes a gente está
lá no parque, sentado, observando, eles estão lá brincando e de repente você vê uma criança
conversar com a outra e você acha interessante aquilo que eles estão conversando, aí você
122
marca; às vezes não. Por quê? Porque aquela criança, suponhamos, tem o Wilson, o Wilson
ele nunca brincou, ele fica perto, fala com os olhos; eu sempre digo: O Wilson fala com os
olhos. Quando ele me olha com aquele olhão, grandão, eu já sei: Ah, ele ta querendo alguma
coisa. E essa semana o Wilson começou a se afastar, já não está mais tão perto. Ele já está se
afastando, já ta indo pra mais longe. Eu falo: Ah, você ta fugindo da minha cordinha né. E ele
já está se afastando. Então, isso a gente registra. Eu posso não estar registrando naquele
momento, mas já registrei aqui na mente, na memória. Aí chega no final de semana, numa dia
que eu esteja mais tranqüila, eu pego essas atividades, o que aconteceu de importante e marco.
fazer. E é uma sala boa pra estar trabalhando linguagem matemática, mas ela não está
organizada pra isso, só ta colocado o computador lá. Então não foi pensado na organização
dela, pra estar aproveitando o espaço. O espaço pra você trabalhar brincadeiras dirigidas,
brincadeiras cantadas; nós não temos. Que seria o pátio, só que o pátio, nós temos muitas
refeições, e as refeições ocupam totalmente o pátio. Então, como é que você vai brincar de
cantar ali com as crianças? Vai brincar de roda com a criança? Vai fazer um jogo ali com a
criança. Não dá. Vai competir com mais três salas que estão almoçando? Aí você vai pára o
pátio externo, no pátio externo o professor não tem voz e a criança se distrai. Ela não
consegue ouvir as suas comandas em determinadas brincadeiras. Então, isso já é uma
linguagem que fica prejudicada.
Professora 1: Dá pra desenvolver, desde que você tenha a sala de aula o tempo todo pra você.
Como eu disse pra você, a minha sala é uma sala rodízio. Então eu fico uma hora e meia só
nela, nessa sala. Então, essa uma hora e meia eu tenho aproveitado pra fazer rodas de
conversa, as leituras e as atividades dentro da leitura e escrita. Aí eu dou jogos matemáticos
na informática. Algumas brincadeiras, quando a escola está mais tranqüila, que é possível
estar fazendo, eu faço durante a semana, mas não é garantido.
Professora 1: Eles deveriam acontecer juntos. Essa gestão colocou o Rede em Rede para o
grupo gestor e eles deveriam estar passando essa formação para os professores. Como eu
sempre digo pra as minhas colegas: virou um telefone sem fio. Porque cada um entende de
uma maneira e tem uma concepção de entender aquilo que está sendo passado. Deveria estar
acontecendo junto. O que grupo gestor viu, participou e viveu teria que estar sendo passado
para os professores no mesmo tom, levando à reflexão e à discussão. Mas isso não acontece,
por quê? Porque existem outras prioridades dentro da escola, que julgam prioridades, e que
para o professor que está na sala de aula, não é. Porque a nossa realidade é diferente da quem
ta fora. Porque quem ta fora tem outro olhar, e quem está ali dentro com as crianças, a gente
sente certas necessidades que, como eu posso dizer, que pra outras pessoas, eles não acham
que são importantes.
segundo estágio, então eu tive mais facilidade nessa sala com as minhas crianças, porque a
maioria já tem vídeo-game em casa, tem computador ou o computador do tio, da tia. Então foi
mais fácil. Agora, eu fico imaginando o professor de primeiro estágio. Um dia dessa semana
me colocaram quinze alunos de primeiro estágio na minha sala porque a professora faltou. Eu
fui dar minha saída na sala de informática. As crianças ligavam e desligavam o botão direto,
arrancaram até o mouse do computador. E as minhas crianças ficaram: Professora ele ta
arrancando; professora ele vai...; professora... Eu entrei em pânico. Então eu fico imaginando,
essa professora precisa de alguém lá com ela, porque enquanto ela ta li pegando na mãozinha
de um, mostrando como se faz, os outros estão completamente soltos. Então ela precisa de
ajuda. O professor, por exemplo, quando ele está numa roda de conversa, ele está discutindo
alguma coisa com as crianças; nem todas as crianças ouvem como deveriam ouvir. As
crianças de hoje são muito ativas, muito criativas, são agressivas também. Então muitas saem.
Saem fora da roda, saem fora da roda, morde o outro, chuta o outro; não é? E o professor,
muitas vezes, tem dia que ele ta bem, tem dia que ele não ta bem. Ele precisa de alguém ali
pra falar: professor eu vou dar uma mão, eu vou levar essa criança pra tomar uma água, pra
dar uma volta, vamos conversar pra que você possa dar continuidade. Porque às vezes é uma e
o restante da turma ta envolvido. E quando você tira essa criança, fala: vou tirar essa criança
pra dar uma voltinha, pra você respirar; logo ti trazem ela de volta, como se ela fosse um
problema pra eles, mas e para o professor? É problema ou não? Como que é? Eu costumo
dizer que o aluno é da escola, os alunos são de todos da escola, então todos têm que estar
envolvidos no ensinar e educar desse aluno. Então, por isso que eu digo: esse Rede em Rede
que fala do brincar, das linguagens, das múltiplas linguagens, tem que ser passado para o
professor, numa forma dele repensar sua prática e dele procurar alternativas pra tentar
amenizar os problemas da sala de aula. Mas nem sempre, devido às prioridades que acham
que é mais importante: “Hoje vamos fazer um estudo de tal autor, vamos ler tal revista. Não,
tá aqui, tá na bibliografia, tem que ler isso. E eu tô com um problema lá na minha sala que tá
me engasgando, de um aluno que se enfiou debaixo de uma mesa com o coleguinha, aquilo tá
me engasgando, mas aquilo não é pra ser discutido agora, não é agora. Agora tem que ler tal
revista, página tal”. Aquilo agora não é pra ver. Entendeu? “Ah, tal dia é dia da prática”. Mas
eu quero hoje, porque hoje eu vivi esse problema. Hoje eu não sei o que eu vou fazer com
esse problema. Por que a minha aluna ta se enfiando debaixo da mesa com o coleguinha? O
que eu faço? No que os meus colegas podem me ajudar? Que dicas podem dar? O que esse
Rede em Rede formador passou para esse grupo gestor? Dicas que a gente possa tá
trabalhando isso. Então por isso que às vezes eu acho que não está conectado.
Professora 1: Como eu disse pra você, o Rede em Rede virou um telefone sem fio, cada um
passa o que entende. O que entende do brincar, o que entende de determinada linguagem, o
que entende de acolhimento. Eu vou dar um exemplo pra você: foi falado do acolhimento pra
todo o grupo da escola ‘vamos mudar, vamos mudar, tem que acolher a criança’. Pra mim,
acolher é a todo momento, eu não preciso ter hora para acolher meu aluno. Não tem que ser:
ah, tal hora é hora de acolhimento. Pra mim todo momento eu tô acolhendo meu aluno. Então
essa visão que a gente precisa saber, porque eu tô fora e eu não sei. Será que eu tô certa? Será
que eu tô errada? O que tâ acontecendo? Porque passaram pra gente que é de uma
determinada forma. ‘Olha, vamos acolher, vamos montar um horário. Qual seu horário de
acolhimento?’ E eu tenho que marcar na minha rotina o meu horário de acolhimento e tem
que ser cronometrado o horário de acolhimento, mas eu não vejo acolhimento dessa forma.
Acolhimento tem que acontecer na sala de aula por quê? O acolhimento pode acontecer desde
o primeiro momento que eu abro o portão para a criança, na maneira que eu tô recebendo ela.
Por que eu não posso acolher minha criança cantando no pátio, dançando? Tem que ser na
sala de aula porque falaram que tem que ser na sala de aula. Então, essa maneira de passar que
é duvidosa. Esse Rede em Rede tem que ser também para o professor e o professor junto com
o grupo gestor, pra que os dois possam fazer um reflexão do que está acontecendo no
cotidiano da sua escola. Porque pra eles é passado de uma forma e pra nós é passado de outra,
e acontecendo junto a gente consegue pensar mais em prol do aluno, na educação do aluno,
ensinar para o aluno.
Pesquisadora: Muito bem. Você percebe, professora, a diferença entre a sua prática docente
em relação ao professor que não fez ou não faz a formação continuada?
Pesquisadora: Bom. Existem fatores que ainda impedem a aplicação da proposta do PEA, do
Projeto Especial de Ação, na sua prática pedagógica?
Pesquisadora E existem fatores que têm auxiliado a proposta do Projeto Especial de Ação da
unidade e do Programa A Rede em rede, na prática pedagógica?
Professora 1: Olha, o que tem auxiliado, como eu falei, são as verbas, que estão comprando
muitos brinquedos, materiais pra gente, né. A gente pede, eles logo estão providenciando
esses materiais- isso ajuda bastante; o próprio grupo de formação ajuda bastante esse
programa, eu creio que só.
Pesquisadora: Muito bem. Como a unidade escolar está se organizando para atender as
crianças de quatro anos a completar. São crianças novinhas que estão chegando, como que
vocês têm se organizado em relação a tempo, a espaço, mobiliário? Vocês têm conversado
sobre isso no coletivo? Como vocês têm se organizado?
Professora 1: Nós temos conversado entre nós professoras, só. Nós estamos preocupadas
com o ano que vem. Essas crianças virão com três anos e meio, a completar quatro. São muito
diferentes, meses, um mês já faz diferença, já não é a mesma criança de quatro anos. Então
nós entre as professoras estamos preocupadas: ah, será que eu pego berçário, será que eu não
pego. A escola ainda não propiciou momentos pra que a gente se organize, nem o espaço,
mobiliário, brinquedos apropriados. Que nem, tudo, não pode ser tão pequeno assim, tem que
pensar muito bem nos brinquedos. Os brinquedos que a escola tem hoje é fácil quebrar a roda
de um carrinho, quebrar uma rodinha e a criança colocar na boca, enfiar no nariz ou no
ouvido. Não que não aconteça com as de quatro anos, mas vai acontecer mais freqüentemente
do que com as de três anos e meio, não é. Então ainda não se organizaram quanto a isso, mas
nós professoras já estamos muito preocupadas, muito. Primeiro porque vai ser uma sala de 30
e vai ter um único professor. Lá, não de onde as crianças vêm geralmente é quinze, dezoito
crianças, mais ou menos, duas professoras, nós vamos ser uma professora pra 30. E nós
vamos ter que ensinar essa criança a tirar sua roupa quando sente calor ou colocar a roupa
quando sente frio; a localizar sua mochila, a guardar aquilo lá. Ajudar a colocar o sapato nessa
criança, ajudar a colocar comida no prato, porque aqui é self service e a criança ainda não tem
toda a coordenação pra estar pegando. E são trinta pra ajudar a se servir. Então, ainda não foi
pensado nisso. Espero que no começo do ano a gente tenha esse tempo pra nos organizar
antes dessas crianças começarem realmente.
Professora 2: O que eu entendo por formação continuada é aquele estudo que o professor tem
depois da sua formação, da sua graduação ou outro tipo de formação e convém com a sua
prática. Então ele tem a prática, e através da sua prática, dos seus problemas, das dificuldades
que ele vai tendo no dia-a-dia ele vai estudar, vai procurar teorias que o auxiliem nessa
formação continuada. Essa formação continuada pode se dar na escola, como fora da escola
também através de cursos, através de uma pós- graduação, através de leituras que o professor
faz em casa. Eu, no meu caso, eu tento sempre procurar. Eu sempre procuro assim, estar
lendo, porque eu acredito assim, que nós professores, nós nunca deveremos deixar de estudar.
Porque assim, nós sempre recebemos uma criança nova, de um contexto novo, uma criança
que vem de uma época, de uma sociedade diferente daquela que talvez nós estudamos; da
minha formação mesmo, há dez anos atrás. Uma criança que cada vez mais com a tecnologia,
ela vai mudando. Então, o professor também tem que vir buscar essa mudança, ele tem que
vir buscar esse estudo. Então eu procuro, de acordo com os livros que tem aqui na escola, né.
Porque infelizmente nós não temos assim condição de ter acesso a livros, os livros são caros.
Então, na medida do possível, que a prefeitura vai trazendo livros para a escola eu vou
olhando os livros e vou pegando aqueles que eu acho interessante, que convém com a minha
prática, com a necessidade das minhas crianças e aí eu vou lendo em casa, né. E também no
PEA. A PEA é uma formação continuada.
Professora 2: Como eu já tinha falado né, isso acontece no PEA. É o momento onde nós nos
reunimos. Ai foi muito interessante ter o PEA aqui na escola porque nós dividimos da
seguinte maneira: na terça-feira a gente pega pra estudo. Na quarta-feira nós pegamos para a
prática. Através do estudo que a gente tinha estudado na terça-feira, a gente pegava a quarta
pra fazer a prática da sala de aula. E depois da reflexão, do texto que a gente tinha lido e da
prática na quarta, na quinta a gente replanejava. Assim, essa formação continuada dentro da
escola já se dá no PEA e nas reuniões pedagógicas também. Porque nas reuniões pedagógicas
é o momento que a gente pára, a gente reflete. Porque nas reuniões pedagógicas é um número
maior, é praticamente a escola inteira, então você tem contato com outros professores, de
outros turnos que você não tem no PEA. Então, é muito interessante por isso, deveria até ter
mais encontros desse tipo.
eu viajo junto com as crianças no mundo da fantasia. Eles são sinceros. São seres assim, que
se eles gostam, eles gostam; se eles não gostam, já falam que não gostam.
Professora 2: O sócio-construtivista, o pai de tudo isso, vamos falar que é Vygotsky. Então,
ele fala que a criança vai interagir com o meio e conforme o meio ela vai estar construindo a
sua aprendizagem. Então eu acredito que sócio-construtivista é o meio. O que o meio oferece
pra essa criança pra ela ta pegando, experimentando, vivenciando. Então, conforme esse meio
que ela tem à sua disposição, ela vai tá aprendendo e desenvolvendo a sua aprendizagem.
Pesquisadora: Muito bem. Agora, como tem sido no seu cotidiano de sala de aula a
organização do espaço e ambiente?
Professora 2: Olha, nós temos aqui na unidade, em todas as unidades de EMEI papel, giz,
lápis de cor, canetinha, a lousa, brinquedos. Então, o espaço ele é organizado de maneira bem
diversificada, conforme a atividade a criança pode escolher o material que ela quer, eu não
determino o material que vai ser usado, só em alguns momentos em que há necessidade. Mas
assim, quando vai fazer um registro, eu geralmente deixo vários tipos de materiais à
disposição, elas abrem o armário, o armário é delas, elas abrem, elas pegam o que elas
querem: borracha, lápis, tesoura, cola, né. E assim, na sala de aula uma coisa fixa são os
brinquedos, então elas costumam brincar, elas fazem do jeito que elas querem, depois elas
guardam, algumas crianças têm dificuldade para guardar, a gente tem que estar reforçando,
falando. Mas eu tenho que deixar assim, o material que nós temos, na medida do possível, à
disposição delas. Até o rádio, nós temos um rádio, eu deixo elas manusear, elas colocam o
CD que nós vamos usar.
Pesquisadora: Em relação aos brinquedos, você pode descrever quais os tipos de brinquedos
que existem na sala de aula dentro do armário?
Professora 2: Os brinquedos são o monta tudo, são aqueles cubinhos que encaixa, são os
brinquedos, eu não sei o nome pra dizer, mas é um quadradinho que vai construindo
quadrados; ele é muito bonitinho, eles adoram. Jogos, nós temos bola, nós temos bambolê,
corda, temos brinquedos de faz de conta. Então são esses brinquedos.
129
Pesquisadora: Muito bem. E a questão do tempo, como você tem organizado o tempo na sala
de aula, na unidade. Como tem sido esse tempo?
Professora 2: Eu não costumo cronometrar o tempo porque a gente tem que respeitar o tempo
da criança. Então, o que é que eu faço? Desde o começo nós fizemos uma rotina com as
crianças, então o nosso lanche é às nove horas, né. Então, a gente até às nove horas a gente
desenvolve atividade de leitura, das de registro, às vezes, alguma atividade de recorte e
colagem. Depois das nove horas a gente vai pra área externa, faz uma atividade de bola,
brinca no parque e brincadeira de faz de conta. Então assim, eu não tenho tempo
cronometrado, mas nós temos essa rotina. Primeiramente a gente faz uma atividade na sala de
aula, faz uma atividade de teatro, alguma coisa desse tipo e depois do lanche uma atividade
externa ou o faz de conta.
Pesquisadora: Quanto aos materiais utilizados, você até já relatou. Quer falar mais alguma
coisa sobre os materiais?
Professora 2: Não. Eu não falo o cantinho. Eu falo mesmo de ter um telão e o professor ter o
computador. Porque, às vezes, a gente quer mostrar uma imagem para a criança, tipo dia da
informática, aí vai lá mostrar essa imagem, o computador. Porque eles trabalham por temas,
temas diversificados, então, às vezes, eu precisava mostrar uma imagem, aí eu não tenho
como mostrar a imagem. Aí, às vezes, um vídeo, igual, sobre a água, eu tive que esperar o dia
tal, pra ir lá tá levando. Porque assim, você quer levar um material pra sala de aula, às vezes
não têm pessoas pra ta ajudando levar, porque cada professora tem sua turma, a sua
atribuição. Eu não posso deixar as crianças sozinhas, mesmo pra organizar esse material.
Então eu acho assim, ainda é um sonho meu que a EMEI tenha ainda a informática. Porque eu
falo assim, ter um telão, o professor ter um computador, aí joga lá na internet, aí aparece a
imagem, as crianças ficam vendo o telão. Isso é maravilhoso. E também é um sonho meu que
tenha poucas crianças, menos número. Eu acredito que o ideal seria 20, 25 crianças por sala,
porque tendo muita criança dificulta muito o trabalho. Eu percebo que o dia que vem menos
crianças, eu consigo atender melhor, individualmente, cada criança tem a sua necessidade.
Agora, quando vem muita criança,eles ficam agitados, o espaço é pequeno e eu não consigo
atender cada um, né. Eu sinto essa dificuldade.
Pesquisadora: Como você vê essa questão do cantinho? A organização dos cantinhos na sala
de aula?
Professora 2: Olha, eu vejo muito bem. Só que a dificuldade que eu tenho ainda pra esses
cantinhos é por causa do número de crianças, né. Por ser muita criança, às vezes, eu não
130
consigo fazer essa organização. Porque assim, pra você ter o cantinho, você precisa que as
crianças entendam que, como aquele cantinho ta cheio, ela tem que procurar outro cantinho,
mas também que aquela criança que está naquela cantinho também tem que rodiziar. Porque é
esse o objetivo do cantinho. Então, tem toda uma metodologia pra fazer com que as crianças
rodiziem todos os cantinhos, quase todos os dias. Só que pra isso precisaria ter um pouco
menos de crianças, facilitaria muito o trabalho. Então, eu vejo assim, quando eu trabalho com
o cantinho, eu trabalho com o cantinho quase todos os dias, às vezes. Mas quando eu trabalho
com o cantinho, eu vejo a dificuldade que eu tenho das crianças entenderem que ela tem que
sair daquele cantinho que elas gostam muito, mas que também tem que ir para outro cantinho.
E também a dificuldade que eu tenho de atender um cantinho. Porque eu gostaria de cada dia
estar atendendo uma criança especificamente, observando, registrando, mas por ser muita
criança,a gente não consegue.
Pesquisadora: Em relação ao registro. Como tem sido o registro, na sua prática pedagógica?
Professora 2: Olha o registro, às vezes eu consigo registrar na hora. Mas como assim, eles
exigem muito da gente, nossa atenção, né, então eu não consigo, às vezes, registrar na hora. E,
depois que termina, eu registro, pra não se perder. Então eu acho que o registro é muito
importante sim, porque ele é a memória viva do professor, onde o professor ele vai, ele volta,
ele vê o progresso da criança. Só que igual eu falei, a dificuldade é muito grande. O professor
assim, aquele que quer mesmo fazer as coisas, ele se esforça muito. Porque as crianças tem
necessidade da gente e a gente tem que registrar, e a gente não consegue. Humanamente é
impossível. Mas assim eu vejo como de grande importância. Eu tento registrar todos os
momentos que se destacou, que a gente ta trabalhando algum texto, mas eu gostaria de
registrar na hora, mas muitos casos não é possível ainda.
Professora 2: Olha,a gente percebe assim, porque o PEA tem os temas no começo do ano, a
gente tem que trabalhar de acordo com os temas na nossa prática docente. E o Rede em Rede
eu não tive muito contato esse ano. Eu não fiquei sabendo muito o que aconteceu na formação
do Rede em Rede. A gente sabe dos livros. Nós lemos os livros, as orientações curriculares, a
partir dos livros e das orientações curriculares a gente procura trazer aquilo lá para a prática.
Mas o Rede em Rede em si, eu acredito até que o o curso deveria ser para os professores
também. Porque às vezes o coordenador, ele vai, mas cada um tem a sua concepção. Então
assim, é importante porque a partir do momento que ele lançou um conhecimento, cada um
vai passar do jeito por ele, porque cada um é uma pessoa. Então eu acho que seria importante
abrir sim para os professores. O professor estar fazendo esse curso.
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Pesquisadora: Você percebe diferença na sua prática docente em relação à prática docente do
professor que não realiza a formação continuada no horário coletivo?
Professora 2: Olha, sinceramente, eu não tenho observado isso. Porque os professores aqui
na EMEI provavelmente eles dobram e eles fazem PEA no outro turno. Então assim, eu não
tenho observado essa diferença. Mas em outros momentos, em outros anos, a gente vê a
diferença sim, porque o professor que faz o PEA, ele está interagindo mais na escola, ele ta
sabendo mais do assunto, ele ta vendo o que a escola tá trabalhando, é um conjunto. Agora, o
professor que não faz o PEA é um professor mais desinformado. Não por mal, mas é porque
assim, as coisas acontecem no PEA: as informações, as decisões. Então eu acho assim, que o
professor fica um pouco, eu tenho experiência por mim, quando eu não fazia o PEA, eu ficava
um pouco assim fora da escola. Parece que você trabalha sozinho. Então eu acho muito
importante a realização do PEA sim.
Professora 2: Não, eu não tenho dificuldade não, porque a gente procura no PEA trabalhar a
nossa realidade. A única coisa que eu achei de dificuldade foi assim, a gente não pôde estudar
textos a mais do que estava planejando no PEA. Então, eu achava que o PEA tinha que ser
mais flexível porque conforme vai passando o tempo, vai surgindo coisas. As crianças são
vivas, nós vivemos numa constante, vamos se dizer assim, é como se fosse uma bolha em
ebulição. Então assim, vão acontecendo coisas que a gente às vezes não planejou, que a gente
não poderia saber. Porque quando a gente observa uma criança, a gente não conhece, a gente
vai conhecendo durante o ano. Acabou o final do ano e você ainda não está conhecendo ela.
Então, por isso que é importante o PEA ser mais flexível e ter um pouco essa abertura da
gente poder estudar coisas. Igual, chegar no meio do ano poder estar mudando talvez a
bibliografia. Porque aquilo que a gente planejou, talvez não tenha mais necessidade, já foi
satisfeito. E ta colocando coisas novas. Isso a gente não pôde fazer, porque é fechado. Ah,
planejou no começo do ano, planejou, mandou lá para a DRE, ta planejado, não pode mudar,
tem que dar aquilo que ta lá. Eu acredito que não tinha que ser assim, tinha que ser flexível e,
conforme a nossa possibilidade, poder sim mudar e estudar outros textos.
Pesquisadora: Muito bem. Existem fatores que ainda impedem a aplicação das propostas
teóricas, na sua prática pedagógica?
Professora 2: Ah, tem, a quantidade de criança. Eu acho que o fator maior que impede é esse.
Porque assim, a teoria eu tenho, eu fiz estudos. Assim, na faculdade eu senti que faltava ainda
conhecimentos, então eu fui buscar, busquei. Fiz uma pós-graduação em educação infantil.
Porque assim, a gente não tem que esperar, a gente tem que ir atrás. E assim,a única
dificuldade que eu encontro é a quantidade de criança, eu acho que se tivesse um pouco
menos de criança, eu conseguiria desenvolver um trabalho de mais qualidade, porque eu
conseguiria atender cada criança. Porque cada criança tem a sua necessidade. Infelizmente a
gente trata um todo e acaba fazendo um depósito de criança e a escola não é um depósito de
criança, tem quer respeitar cada indivíduo na sua íntegra.
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Pesquisadora: Em relação a essa mesma pergunta, existem fatores que auxiliam na aplicação
dessas propostas na prática docente?
Professora 2: Sim, o fator é o da gente acompanhar mesmo, a gente poder estar discutindo as
nossas dificuldades, a coordenadora, o diretor, a gestão estar junto com a gente tentando
solucionar os nossos problemas. A gente também junto com os pais. Eu acho que a
comunidade é muito importante, você caminhar junto com a comunidade porque nas reuniões
eu sempre converso com os pais, nós somos uma parceria e nós vamos caminhar juntos. Nós
estamos aqui pra ajudar no desenvolvimento dos filhos de vocês e eu quero fazer o que eu
puder, então vamos caminhar juntos. Então eu sempre procuro assim, se eu estou com alguma
dificuldade, conversar com os pais, talvez até fazer uma reunião extraordinária, que não
estava no calendário. Porque é um conjunto e a gente tem que procurar sempre parcerias.
Pesquisadora: Muito bem, em relação ao ensino fundamental de nove anos. Nós sabemos
que vamos receber crianças de quatro anos a completar na educação infantil, nas EMEI’s.
Como você e toda a equipe têm se organizado a esse respeito? Ou não tem se organizado
ainda a esse respeito?
Professora 2: Olha, pelo que eu observo a escola ela tem se organizado da seguinte maneira:
procurar ter mais colchonete nas salas que as crianças de três anos vão estar, né; procurar ser
um ambiente que tenha poucas cadeiras, que tenha bastante brinquedos, brinquedos que sejam
bem baixinhos pra elas, né. Então é assim, dessa maneira que eu tenho observado né a
organização pra receber essas crianças pequenas de três anos. Eu acredito que ainda é pouco
porque ainda se tem muito mais a se fazer, tenha que talvez mexer na parte do prédio mesmo,
ter um banheiro mais acessível porque talvez os vasos são grandes, elas têm dificuldade pra
usar vasos grandes, mas é uma coisa assim que é lenta e que se vai caminhando e que você vai
planejando, vai se conversando. Mas eu vejo que assim, a escola tem procurado nas salas de
primeiro estágio deixar menos cadeiras para as crianças trabalharem mais no chão,
colchonetes e brinquedos, é o que eu tenho observado.
Professora 2: Bom, a minha preocupação grande na educação infantil é que as escolas agora
estão recebendo as crianças seis horas, meio-período, ou um turno integral como se diz. E
assim, o CEU ainda é um espaço que é muito rico em diversidade, são vários espaços que tem
teatro, tem piscina, tem a pista de skate, tem várias quadras. Então, a criança fica seis horas
ali, ela tem acesso a várias coisas. Mas uma criança que fica seis horas numa EMEI a minha
preocupação é que vira um depósito de criança. Porque assim, a EMEI tem aquele espaço
restrito dela. Ela ainda não tem assim teatro, ela não tem espaços. Então essa criança vai ficar
estressada, o professor vai ficar estressado e o que essa criança vai estar absorvendo? Às
vezes vai estar absorvendo coisas boas, às vezes vai estar vivendo um momento de stress,
assim, como se fosse um orfanato, né, uma coisa muito fechada. Então me preocupa muito
isso. Eu acredito sim que a criança poderia ficar seis horas na escola, mas quando tem
condições. Qual a qualidade que está se oferecendo pra essa criança? Porque a criança, ela
aprende tudo. Então, que tipo de cidadãos nós queremos pra oferecermos coisas boas para as
crianças? Então eu acredito assim, que precisa se pensar nisso, porque infelizmente nossos
órgãos públicos, eles têm uma visão teórica, eles não estão aqui na prática, eles não estão
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vivenciando o que a gente ta vivenciando, e a gente que somos o ponto chave, são as crianças,
e o professor está ali vendo as dificuldades das crianças. Então tem que se pensar bem pra não
virar um depósito as escolas de educação infantil, que não tem todos esses espaços
diversificados.
Pesquisadora: Será que em relação a uma mudança do tempo, do espaço, uma outra
organização dessa escola ajudaria a organizar e a acolher bem essas crianças que virão?
Professora 2: Olha, eu acredito que toda EMEI deveria ter, eu sei que é impossível, mas eu
acho que toda EMEI tinha que ter sim um espaço de teatro, piscina, pra que essa criança que
ficasse dentro da EMEI ela fosse nesses espaços. Sabe? Porque infelizmente falar que a gente
vai se organizar, a gente se organiza, mas acaba caindo na mesma.
Professora 2: Porque o professor acaba caminhando sozinho, porque joga muita coisa pra
cima do professor, e acaba que o professor que tem que organizar os espaços, tem que fazer
rodízio, às vezes o rodízio não dá certo e acaba ficando naquela mesma. Então, eu acredito
que se tivesse uma biblioteca, uma piscina, um teatro. E fora assim, que a criança também vai
estar saindo fora daquele espaço da sala de aula. Porque o mundo não acontece na sala de
aula, o mundo acontece lá fora. Sabe? A criança precisava ir num parque, precisava ter ônibus
pra levar essas crianças pra passear. As crianças só ficam na escola porque não tem um
ônibus, não tem um passeio, porque não tem ônibus. A educação é gratuita, então não se pode
cobrar, mas também não se oferece nada. E a criança acaba ficando dentro da escola e o
mundo não acontece só dentro da escola. Eu tenho experiência por mim, quando eu era
criança, os meus pais não saíam comigo, então todos os passeios, tudo que eu conheci foi
graças à escola. Entendeu? Meus pais tinham que trabalhar, meus pais não trabalhavam
comigo, então se a escola não passeasse comigo eu não ia conhecer... Eu conheci quando era
pequena os parques de Santo André, eu conheci os teatros, isso em 1985. Eu vejo as crianças
de hoje dentro da escola, presas, gente. Isso não deve acontecer. Isso é uma coisa boa porque
a criança, ela aprende com a experiência, com a vivência. Não é verdade? Como a criança vai
vivenciar se ela tem só isso? Ela precisa experimentar o que ta aí fora, igual o teatro, a
estrutura de um teatro, a estrutura de um cinema. Porque a sala de vídeo não é cinema, sala de
vídeo não é teatro. Ah, o teatro vem na escola. Gente, teatro é você ir ao teatro. Piscina é você
ir à piscina. A criança tem direito de tudo isso. Essa criança é mais carente, ela não tem acesso
a isso. Se a gente não oferecer que experiência ela vai ter de infância? Que lembrança que ela
vai ter da EMEI? Só das brincadeiras lá do parque, das brincadeiras com a professora, das
brincadeiras com as outras crianças. Eu acho que é muito pobre, eu acho que tem muita coisa
pra se fazer para as coisas melhorarem.
Pesquisadora: Muito bem. Obrigada. Professora como você tem interagido com os seus
alunos e como é a interação entre eles na sala de aula?
combinou, os alunos vêem: professora fulano fez isso, o que a gente vai fazer? A gente
procura assim, esse relacionamento é muito bom. Eu não tenho dificuldade nenhuma com
nenhuma criança. E as crianças também, a gente observa isso né, a minha sala teve pouco esse
negócio de violência, uma criança agredir a outra. Eu procuro sempre falar pra eles que a
gente precisa conversar, resolver com diálogo. Aí você assim observa que apesar das crianças
se dividirem entre meninos e meninas, eles dividem a sala, um lado fica as meninas e do outro
lado os meninos, mas eles brincam, na hora de brincar, eles tentam brincar um pouco juntos.
Então assim, você bem essa interação.
Pesquisadora: Muito bem. Em relação ao que você havia comentado à respeito da graduação
e da pós graduação. Você poderia estar comentando pra gente esse momento?
Professora 2: Sim. Eu tenho observado, por ter ido por várias escolas, que o professor que fez
só a graduação há muito tempo atrás, ele ainda trabalha com aquele tipo tradicional. Sabe? De
você traçar o caminho que leva o pintinho ao milho. Sabe? Ou senão você copiar o ba-be-bi-
bo-bu sem uma contextualização. Você vê que a escola ficou há cem, trezentos anos atrás. É
muito interessante até, é engraçado você vê isso, porque assim, a minha realidade é diferente
dessa, então eu achei até interessante. Nossa! Justamente porque os professores aqui
trabalhavam com EMEF, então você que o professor que trabalha com EMEF parece que tem
até um jeito de querer que a criança de educação infantil também seja de EMEF. É assim, é
triste, mas é curioso de você observar isso, porque é fora da minha realidade. Então assim, eu
acho que é muito importante sim, até a prefeitura estar incentivando os professores a fazer
uma pós-graduação, fazer uma pós-graduação numa faculdade boa também, né, não em
qualquer faculdade. Porque a gente, infelizmente, temos aí à distância. Isso não. Uma coisa
presencial, uma coisa que o professor realmente aprendesse mesmo e trouxesse, isso seria
ótimo. É de grande importância mesmo para o professor ele procurar a sua formação
continuada. E é pra sempre isso. Não adianta falar: ah estudei, agora acabou. Não terminou,
porque a criança, ela não é terminável. O ser humano não é um ser acabado, ele é um ser
sempre em condição de mudança.
Pesquisadora: Eu quero agradecer a sua participação, professora. Foi de grande valia essa
entrevista. Professora muito obrigada.
Professora 2: De nada.
135
Professora 3: Bom, formação continuada, deixa eu ver como eu posso dizer, é como uma
reciclagem. É o professor estar sempre em busca de novos conhecimentos porque tudo muda,
né. As crianças mudam, a comunidade muda, as famílias mudam, nós mudamos, né. E é
importante esse momento, essa busca, essa formação continuada pra gente acompanhar essas
mudanças, pra estar sempre se atualizando e acompanhando essas mudanças. E sempre
refletindo, melhorando nossa prática.
Pesquisadora: Você se sente, você declara no questionário que você não realiza a formação
continuada devido ao acúmulo de cargo. Você sente que é uma perda na sua formação?
Professora 3: Ah, sim, é uma perda. É que pra mim realmente fica muito difícil pelo acúmulo
de cargo. Mas se não fosse essa questão, com certeza eu faria sim.
Pesquisadora: Em relação ainda à formação continuada, em que momento você localiza essa
formação continuada na unidade escolar?
Professora 3: Olha, eu percebo assim, que o grupo que está nessa formação eles assim, eles
têm mais oportunidade de troca, eles têm mais momentos ali que eles estão juntos, que eles
têm oportunidade de discutir alguns assuntos, até mesmo assim, algumas dificuldades
encontradas. Eles têm essa oportunidade de ta trocando experiência. É uma desabafo também,
estar desabafando, falando do seu trabalho, da sua prática, né. Assim, eu nunca participei. Eu
acredito que aconteça isso nesse momento, pelo que eles falam, eu acredito que seja assim.
Professora 3: Agora assim, você perguntou também com relação à teoria e a prática, né, ou
ainda não? Com relação à prática a gente percebe que tem algumas coisas que eles estão
estudando lá e estão discutindo, refletindo e eles conseguem levar pra prática uma ou outra
coisa. Mas assim, eu acho que o mais forte é isso mesmo, uma questão de refletir, de dividir,
de trocar experiência, de conversar. Isso também é muito importante, porque o nosso trabalho
é muito humano, precisa muito desse momento de conversar. E a gente que não participa do
projeto, o que eu mais sinto falta é isso, é uma correria constante. Você não tem um momento
de encontrar com seus parceiros, conversar, trocar experiências ou, muitas vezes, tirar
dúvidas. A gente não se encontra, é muito corrido. Então eu acho que principalmente por isso,
esse momento de troca é muito importante.
Professora 3: Ah, eu acho assim, é muito importante esse momento da criança – a infância,
principalmente essa idade que a gente trabalha, até os seis anos, é assim, é idade de formação
de personalidade mesmo. Eu acho muito importante, e assim, muito gostosa essa fase, essa
idade. A gente percebe que eles gostam de vir pra escola, eles gostam de tudo que acontece
aqui, as mães sempre comentam: ah dia que não tem aula, ele reclama ou fala que sente
saudade. Eles falam o que eles fazem aqui. Então assim, é muito gostoso, a gente trabalha
136
muitas linguagens, o brincar, o desenho, a música. Você vê que tudo isso... é história. Então
toda proposta que você traz, tudo que você vai fazer, ainda ta naquela fase gostosa; eles
curtindo, gostando, ficando felizes. E a gente sabe assim que esse momento da educação
infantil, é importante porque assim, a gente sabe que é nesse momento que ele aprende a lidar
com o outro, a socializar, a dividir, a conhecer a escola, conhecer a rotina, conhecer os
materiais, a se conhecer, a se formar, formar sua identidade, se conhecer melhor. Então assim,
eu acho maravilhosa essa fase, muito importante. E assim, muito bom poder ter essa
oportunidade de trabalhar com essa fase.
Pesquisadora: Muito bem. De acordo com o seu questionário, você se declara sócio-
construtivista. O que é essa concepção pra você? O que você pode falar sobre essa
concepções?
Pesquisadora: Em relação a concepção tradicional o que você sente presente, na sua prática?
Professora 3: Então, em relação ao tradicional aquelas coisas assim ainda de você trabalhar,
não o tempo todo, eu vou dar um exemplo pra ficar mais concreto: as letras do alfabeto. Eu
trabalho muito bingo de letras, lista de nomes, plaquinha dos alunos, vários tipos de jogos, a
gente faz brincadeiras na lousa, alfabeto móvel. Só que ainda tem aquelas atividades de você
trabalhar a letra a, letra b, nem que seja vinculada com uma música, vinculada com uma
história, mas você tem ainda, às vezes, aquela necessidade de trabalhar a letra a, a letra b, a
letra c. Isso é tradicional porque a criança não aprende necessariamente assim. Eu tenho
portfólio do que eu faço com eles, você vê que mesmo se você trabalhou mais, enfocou mais
o ‘a’ ou o ‘b’ e o ‘c’, mas ele aprendeu foi o ‘x’, o ‘z’ porque tem no nome dele ou porque
tem algum programa que ele viu aquela letra. Então você sabe que não é assim que ele
aprende. Mas acho que até assim, pelo grupo, pelo ambiente que você ta, você acaba ainda
estando um pouquinha presa nisso.
137
Pesquisadora: Muito bem. Em relação ao seu cotidiano em sala de aula, como você tem
organizado o espaço e o ambiente para o acolhimento dessas crianças?
Professora 3: Então, o espaço a gente está sempre mudando, o espaço ambiente, eu gosto
muito de fazer atividade diversificada, eu tenho muito isso na minha rotina, eu organizo com
eles esses momentos.
Pesquisadora: Após é o tempo, eu vou te perguntar. Mas se você já quiser falar do espaço e
do tempo, pode ficar à vontade.
Professora 3: Ah, então tá bom. Então eu já vou falar também do tempo. É assim, a gente
tem uma linha de tempo que é da escola, organizado na escola, que todos seguem. E eu tenho
também a minha rotina, eu tenho o costume de todos os dias organizar com eles na lousa, aí
eles vão falando, a gente vai colocando, tem uma hora que eu deixo lá assim, tem algumas
atividades que eles escolhem, tem outras coisas que tem que manter que até ta na linha de
tempo, que faz parte da rotina, tem as atividades que são fixas, tem aquelas que são
diversificadas, que mudam de um dia pro outro, são flexíveis. Então assim, de acordo com
aquela rotina do dia, a gente chega, vê quem veio, quem não veio. A gente tem um cartaz de
pregas na escola que fica uma lista móvel, tem uma plaquinha com o nome deles, com a foto
bem grandona, e a gente vê quem veio, quem não veio, quantas crianças vieram. E o que a
gente vai fazer hoje? Isso é bom até pra abaixar a ansiedade deles, dá uma acalmada, eles não
ficam toda hora perguntando o que é que vai fazer. Aí a gente vai lá, escreve, desenha na
lousa o que vai fazer naquele dia, organiza a rotina. E aí, de acordo com essa rotina, aí a gente
organiza a sala, também organiza os espaços, os materiais, conforme essa rotina do dia. Eles
ajudam muito na organização dos espaços, todos os dias pra fazer as atividades, como
principalmente pra depois também organizar tudo no lugar de novo. E é bem legal, porque
assim, tinha muita coisa que eles não tinham o costume de fazer, guardar as coisas cada uma
no seu lugar, cuidar dos seus materiais, cuidar dos espaços da sala. Que nem, a gente tem o
cantinho da leitura, onde ficam os livrinhos. Aí, no começo dava muito trabalho, eles
pegavam os livros e deixavam os livros jogados na sala inteira, não vou dizer que não
acontece de ter um livro ou outro, mas assim, a gente trabalhou muito essa questão de tomar
cuidado com o livro de colocar no lugar. É assim também com os brinquedos, com os
materiais.
Pesquisadora: Você tocou no assunto de cantinhos, você organiza o seu espaço através de
cantinhos?
Professora 3: Em alguns momentos da rotina. Todo dia tem um momento assim que a gente
faz um momento diversificado, não é cantinho fixo. Eu até já trabalhei outra época com
cantinho fixo, mas no momento tem assim o da leitura que é fixo, tem o cantinho que ficam os
brinquedos, mas assim, a gente organiza naquele momento da atividade diversificada a gente
organiza os cantinhos conforme as atividades daquele dia.
Pesquisadora: Muito bem. E a questão das atividades, você até já falou um pouquinho sobre
as atividades que você tem feito, tem passado pra eles. E em relação ao planejamento, à
execução, avaliação. Como tem ocorrido essas atividades?
Professora 3: Então, a gente tem o planejamento que é aquele que a gente faz, no caso todo
ano, semestral, que entrega pra coordenadora, aí assim, eu faço algumas anotações no meu
caderno, tenho a minha rotina e assim, na verdade esse planejamento que fica com ela a gente
pega raramente, vou ser sincera com você. A gente pega, às vezes anota alguma coisa no
caderno. Assim, raramente, poucas vezes no ano vai lá, recorre a ele, assim, olha o que você
já fez, o que você ainda não fez: Ah, isso aqui eu preciso fazer um pouco mais; olha isso aqui
eu coloquei aqui e não fez. É uma coisa que fica um pouco distante assim, pra falar a verdade.
Agora assim, no dia-a-dia mesmo o que é que eu uso? Anotações no meu caderno, uso muito
o portfólio, gosto muito de trabalhar com portfólio. Eu pego algumas atividades de desenho,
atividade livre, atividade de número, de letra, de nome. Aí nesse portfólio tem evolução da
escrita do nome, tem conhecimento do nome, tem desenho de história, registro de jogos, de
brincadeira. E assim, eu uso muito esse portfólio também pra conhecer melhor, pra ver como
ele está. Eu sento um por um. Dependendo da atividade é bimestral, dependendo da atividade
é mensal. Eu estou sempre com o portfólio pra lá e pra cá. Eu fico vários dias com o portfólio,
aí fico um período sem, aí já estou com o portfólio na mão seja pra uma atividade ou pra
outra. Aí pra que eu uso esse portfólio? Tem alguns dados que eu faço uma tabulação no meu
caderno, vejo aquilo que eu preciso tomar mais cuidado, vejo até aquilo que eu preciso dar
uma mudada, aquilo que não está dando muito certo, aquilo que está sendo legal continuar.
Até citando de novo aquela questão das letras, é legal fazer portfólio por que você vê...
Assim, por exemplo, na questão das letras, posso dizer que a maioria das crianças aprendem
mais assim de forma lúdica, com jogos, com brincadeiras, com trabalhar a letra do nome do
amigo, a letra do próprio nome, aquela lista móvel, e outras listas que a gente faz. Só que tem
algumas crianças que ainda ajuda muito essa coisa da seqüência. É legal você fazer portfólio
pra você conhecer melhor, você vê que uma coisa é importante, mas a outra também é. É
importante trabalhar de um jeito lúdico, mas é importante também trabalhar algumas coisas
assim como a seqüência, porque tem criança que precisa muito disso, essa coisa mais
concreta, mais palpável. E é legal também até pra você conhecer melhor a criança. Como
você senta com cada um, então você pega algumas falas deles, o jeito que ele... Porque assim,
no começo do ano ele fica muito assim, um pouquinho apreensivo pra fazer as atividades,
porque não é uma atividade que ta todo mundo fazendo junto, ta só você e ele. Depois eles
vão se soltando melhor, eles começam até a gostar, é incrível. Eles ficam: professora vamos
fazer aquela atividade da letra lá de novo. Eles perguntam o nome das letras. Ou falam: aquela
do número. E eles sentem faltam, eles perguntam, como é individual, eles não vêem a hora de
chegar a vez deles. Você vê que pra eles é um desafio. E eu acho muito legal trabalhar com
portfólio, que é uma coisa muito completa. Eu acho legal o professor ter o registro dele, é
legal também, só que é muito pessoal, é muito dele. Então ele faz do jeito dele, ele lê, ele
reflete, só que assim, a criança não tem acesso a isso, a mãe da criança não tem acesso; agora
o portfólio eles vêem. Eu até faço questão de anotar pra mãe deles saber que ele aprendeu a
letra. Aí no outro mês, por exemplo, auto-retrato, era assim no começo do ano, agora é assim.
A letra do nome era assim, agora é assim; tem a evolução. Eles falam: Pro eu escrevia meu
nome assim, antes, lembra? Assim, é legal porque é uma coisa que eles estão vendo, estão
acompanhando a evolução deles. A mãe também, eu apresento o portfólio, ela vê. É legal que
até no ano seguinte. Eu tenho criança aqui no terceiro estágio, que era minha o ano passado,
no segundo estágio. Um dia teve umas alunas minhas do ano passado que viram eu fazendo
esse portfólio com um aluno meu desse ano, logo no começo desse ano. E tinha uma aluna
139
minha que eu perguntei o nome da letra e ela só sabia a letra X do alfabeto. Aí ela falou: esse
é o X. Aí eu falei: você sabe mais alguma? Ela: Não. Aí as minhas alunas ouviram: Pro
lembra que o ano passado aconteceu isso comigo? A primeira vez que você fez essa atividade
eu também só sabia a letra X, agora Pro eu sei todas as letras do alfabeto. Quando você
entregou essa atividade pra gente levar pra casa, faltava algumas ainda pra circular que eu não
sabia, agora eu já sei todas, eu circulei todas. Então assim, você vê que é importante pra eles.
Entendeu? E assim, depois que eles vão evoluindo, você vê que assim, eles se sentem bem,
eles se sentem mais à vontade, mais tranqüilo pra fazer. Acho que até a questão da alto-estima
deles. Porque incentiva né. É muito bom. E assim, eu uso muito, até pra rever alguns
trabalhos meus. E é isso. Entendeu?
Pesquisadora: Muito bem. Em relação aos materiais, você quer falar mais alguma coisa em
relação aos materiais. Como são organizados os materiais na sua sala de aula, em relação aos
brinquedos também. Como é isso, a presença dos materiais no cotidiano?
Professora 3: Olha, o material foi assim, no primeiro semestre, o material mesmo -giz, lápis
de cor – o material pra atividade era coletivo. Aí assim, tinha o lado bom, claro, tem um lado
muito bom, você usar o material coletivo, que é assim, você tem o material por mais tempo, aí
sempre acaba que eles ajudam a cuidar, recolher, guardar, organizar. Só que assim, você que
está ali repondo esse material. Então assim, uma boa parte dessa organização está nas suas
mãos, então tem assim uma certa possibilidade do material durar mais tempo, você tem
material pra usar o ano inteiro. No começo eu colocava ainda separado, tinha um potinho só
pra giz, outro só pro lápis de cor, outro só pra canetinha. Aí depois eu falei: Ah, ta muito
limitado isso: é claro que ele só vai usar lápis de cor nessa atividade, porque eu só to dando
lápis de cor, mas ele tem que aprender que se nessa atividade ele precisa usar o lápis de cor,
ele tem que encontrar o lápis de cor no meio dos outros materiais, senão é muito fácil né. Aí
depois eu mudei, coloquei a bandejinha e pus na mesma bandejinha lápis de cor, giz de cera,
canetinha do lado do lápis de escrever, o apontador, borracha. Eu achei ótimo. Ótimo porque
não tinha mais aquela coisa que você usava o apontador elétrico na sala, e eu ficava
apontando; era horrível aquilo. Aí assim, como eles usavam o apontador, eu dava também o
apontador, mas como não era todo dia, direto, eles não sabiam usar, ficavam atrás de mim
também quando precisa apontar, era individual, apontador comum. E eles faziam uma sujeira
porque não estavam acostumados a usar o apontador. Daí eu falei: Chega, acabou. Foi só no
primeiro bimestre aquela coisa muito assim, dependente de mim ainda. Aí foi material
coletivo, mas estava tudo nas mãos deles, foi ótimo, ninguém ficou mais atrás de mim isso,
pra aquilo. E é super-importante, eles tem que aprender a usar o apontador, eles têm que
saber. A maioria ainda tinha quatro, mas já dá pra usar. Entendeu? Ai eles foram aprendendo
até a jogar a casquinha no lixo, tudo, no começo faziam um pouquinho de sujeira, mas depois
rapidinho a gente percebeu que melhorou. Nada de criança ficar andando atrás de mim
procurando apontador com lápis pra apontar. Eles aprenderam a usar. E assim, às vezes
acontecia de uma atividade, não era adequado para aquela atividade usar, por exemplo, giz de
cera e eles usavam; no começo ainda eles usavam, mas depois eles foram aprendendo. Até
quando eles usavam o material errado era bom porque era o momento de você falar: Não, não
dá pra usar giz de cera nessa atividade porque o espaço é pequeno e a ponta do giz de cera é
grande. Explicava o motivo. Entendeu? Mas eles foram aprendendo, foram pegando, foi
muito legal. Eu estava gostando muito dessa forma de usar o material. Aí veio o recesso e
teve aquele problema da gripe A. Aí, depois disso, não pôde mais continuar usando o material
coletivo. Aí veio né, a gente sentou, pensou em algumas coisas. Teve várias orientações assim
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pra não estar usando mais nada coletivo durante um bom tempo. Aí a gente pediu o estojo
para os pais. Aí lá vai eu pegar todo aquele material que estava no coletivo e mais alguns que
eu tinha guardado e a gente dividiu tudo e colocou tudo nos estojos – quem tinha né, quem
não tinha foi dentro de saquinho, de caixinha, alguma coisa pra guardar. Mas foi uma loucura
no começo. Porque assim, eu até acho que eles têm que aprender a usar sim, só que assim,
tem que ir indo gradativamente. Igual, no começo, era separado, aí depois foi junto. Então,
assim, principalmente, por exemplo, terceiro estágio, eu acho que tem que ter porque eles
tem que aprender cada um cuidar do seu, eles tem que aprender a usar o caderno. No segundo
estágio é mais o caderno de desenho eles tem que aprender a seqüência, como é que usa. Eles
usavam muito de trás pra frente, abria em qualquer página, de ponta cabeça. Então eu oriento
muito o uso do caderno. Aí chega no terceiro estágio, se puder ser um caderno com linha, já
melhora. Claro, você não vai dar aquela coisa maçante, é mais pra ele aprender a usar mesmo.
Acho que é importante, acho que até eles gostam; então eles já têm maturidade pra isso . Aí,
voltando lá, foi uma loucura no começo, distribuía o material... E assim, teve muitas mães que
vieram na reunião, entenderam que o material ia ficar na mochila, individual, só que esse
material ia e voltava todos os dias, mas teve várias que não estavam nessa reunião, o material
ia e nunca mais voltava. E aí, como a gente já não tinha muita coisa, tudo que tinha que ficou
individual, aí já não tinha material, e veio recomendação que não podia usar com o amigo, foi
uma loucura. Aí depois sim, eles foram melhorando, até que ficou, continuou o material
individual, eles estão usando o material individual. Foi bem legal porque a maioria das
crianças conseguiu aprender, estão cuidando direitinho, estão usando; assim, um ou outro
ainda precisa de orientação, precisa de ajuda,mas a maioria está se virando muito bem com o
material individual. E eles têm mais autonomia ainda do que tinha, porque ali dentro tem
tudo. E foi legal também essa fase de cada um usar o seu individual. O caderno também, eles
melhoraram bastante o uso do caderno. O brinquedo fica num cantinho da sala, tem assim,
aquelas caixas com os brinquedos. E a gente já teve um momento que o brinquedo, eles iam,
pegavam e brincavam, era o momento que a gente estava em outra sala, antes de acabar o
rodízio e lá tinha baldes, brinquedos grandes, boneca, bichinho de pelúcia. Então assim, eles
pegavam mais os brinquedos, ficavam mais soltos. Essa sala que a gente ta agora não tem
tanto brinquedo como a outra tinha, é mais material de encaixe, brinquedinho de panelinha e
tal. E assim, nos momentos de brincar, eles ficam livres, agora também tem alguns brinquedos
novos, aí eles vão lá, escolhem, brincam. Também deram trabalho pra aprender a arrumar o
armário quando chegaram esses brinquedos novos, arrumar direitinho, tudo separadinho. Eles
estão aprendendo também, eles melhoraram bastante.
Professora 3: Ah, a interação se dá o tempo todo né, toda a hora a gente está interagindo, é
até difícil falar com se dá a interação. A interação se dá na hora das brincadeiras, das
atividades, na hora da história, na hora das conversas, das rodas de conversa. Assim, tem
algumas crianças eram bem quietinhas no começo do ano, tinha criança que nem falava no
começo do ano, agora eles estão falando mais, se socializaram melhor, fizeram muitas
amizades. Assim, criou um vínculo muito grande; assim, a interação é o tempo todo. O que
você quer saber mais pontual?
Pesquisadora: Dessa dinâmica mesmo do aluno, dele como uma criança ativa, que tenha
oportunidade de falar o tempo todo.
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Pesquisadora: Se você dá oportunidade pra ele falar, o seu papel enquanto professora, é
aquela centralizadora ou aquela que ta mediando. Como é isso?
Professora 3: Bom, eles chegam todo dia falando, falando, falando. Eles falam, falam, falam.
Tem hora que tem que parar um pouquinho e falar: Calma. Um de cada vez. Eles falam muito
o tempo todo, contam tudo que acontece em casa e querem mostrar tudo, um tênis novo, e
querem comentar. Eles vêem falar que foram passear, isso, aquilo. Eles falam bastante,
bastante. E é legal que eles falem bastante mesmo. Às vezes, a gente até toma cuidado pra
todo mundo poder falar, respeitar a vez dos outros de falar, a gente faz bastante roda de
conversa também. E assim, o tempo todo eles falam, eles interagem. Na hora da rotina eles
falam, é eles que falam, eles já sabem mais ou menos como funciona a rotina, já faz tempo né,
vem desde lá do começo do ano. E assim, todos os momentos, na hora de brincar na hora de
fazer atividade. É uma interação que não acaba nunca, o tempo todo.
Pesquisadora: Muito bem. Outra pergunta é à respeito da prática docente. Você que não
realiza a formação continuada, você percebe mudança na prática do professor que faz
formação continuada? Você de fora, você percebe mudanças, atitudes?
Professora 3: Olha assim, pra falar a verdade não fica tão claro isso, fica difícil falar até que
ponto foi a formação que ele ta tendo porque tem assim o dia-a-dia dele, a prática que ele já
traz com ele, aquilo que ele vai mudando, não fica muito claro pra mim o que é da prática
dele, o que é da formação que eles estão tendo no gurpo do PEA, o que já era da prática deles.
Pra falar a verdade, não fica tão claro isso. É difícil dizer isso né. Assim, ah, aquele professor
mudou porque está fazendo PEA ou tal. Isso não fica muito claro.
Professora 3: Então, observar mudanças assim, claramente, não. Às vezes, você percebe até
uma ou outra atividade, alguma coisa que ele faz assim que você percebe que está dentro de
algum tema que está sendo estudado dentro do projeto, no PEA. Mas assim, não é uma coisa
assim muito marcante, que fica muito claro, que você percebe muito nitidamente. Você
percebe assim, algumas atitudes assim, em alguns momentos assim. Entendeu?
Professora 3: Olha, sempre tem alguma coisa que a gente leva sim da teoria para a prática,
algumas coisas que a gente reflete e muda, a gente tá sempre mudando né, vai mudando
algumas coisas na prática. Agora assim,a gente sabe que não é tudo que a gente vê na teoria
que a gente consegue colocar na prática. Porque assim, a realidade é bem diferente, às vezes
também num ano você consegue e no outro não. Os alunos são muito diferentes. Geralmente
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eu tenho duas turmas, eu tenho dois segundos estágios, eu tenho um num período
intermediário e um no período vespertino e eles são muito diferentes uma turma da outra.
Algumas coisas eu consigo fazer, por exemplo, no vespertino e não consigo fazer no inter.
Então assim, tem coisa que dá, tem coisa que não. Por exemplo, eu tenho uma turma no inter
que é muito difícil, os alunos são muito agressivos, é uma turma muito agitada. Então assim,
esse é um fator complicador. Já a outra turma é uma turma mais tranqüila, dá pra você
estabelecer um diálogo melhor, eles tem mais paciência pra uma atividade que precisa de mais
tempo, eles conseguem esperar. Essa é uma questão. Tem também algumas coisas assim, que
é dificuldade geral, que é ter um número muito grande de alunos nas salas. É uma dificuldade,
assim, quem não gostaria de poder acompanhar melhor os alunos de poder fazer mais por
cada um. Por exemplo, uma coisa que me aflige muito, que eu acho muito importante: a
intervenção individual. Eu acho muito importante porque assim, tem muita criança que ele
aprende sozinho, ele aprende sozinho, praticamente sozinho, tudo que você oferece pra ele,
ele tira daquilo um aprendizado daquilo, tudo que você trabalha no coletivo, ele consegue
aproveitar. Agora, tem criança que não é assim, ele precisa de uma intervenção individual, ele
precisa de uma dica: olha isso tem que fazer assim. E assim, mesmo que ele tenha facilidade,
às vezes, em um lado, para caminhar sozinho, às vezes ele tem facilidade em uma questão e
em outra não. Então assim, em alguma coisa ele precisa de intervenção, e assim, a gente faz o
que a gente pode, a gente procura estar fazendo essa intervenção, procura estar
acompanhando, procura estar conhecendo cada aluno o máximo que a gente pode. Só que a
gente sabe que se fosse um número menor de aluno, poderia fazer um trabalho bem melhor,
poderia acompanhar bem melhor cada aluno, cada criança. E eles são muito diferentes um do
outro. Então, assim, e todos eles precisam né. Seja numa área ou em outra, seja de um jeito ou
de outro, eles precisam. Então assim, essas e outras coisas que a gente vê na teoria que é
importante, a intervenção individual, então assim, a gente põe em parte isso em prática. Seria
assim, se não tivesse algumas dificuldades teria como colocar muito mais a teoria em prática.
Pesquisadora: Muito bem. Você localiza no seu cotidiano fatores que auxiliam a aplicação
das propostas teóricas, na prática docente?
Professora 3: Ah sim, auxilia, é sempre muito bom. Às vezes, até alguma coisa que você
fazia lá há um tempo atrás e não faz mais. Às vezes você começa a ler, olha que legal, eu fazia
isso, agora não faço mais, é importante retomar, fazer de novo. Sempre, sempre você dá uma
acordada pra alguma coisa, reflete. É muito bom, tem muita coisa que não dá, mas tem muita
coisa que dá pra você colocar na prática, que ajuda, que ajuda a refletir, ajuda a melhorar,
ajuda a transformar algumas coisas na sua prática sim.
Professora 3: Um exemplo. Que nem, eu estava lendo esses dias um livro, eu não prestei
concurso, mas é um dos livros lá que uma professora falou que caiu no concurso. Aí eu tive
oportunidade de pegar esse livro, eu tava dando uma olhada, tava lendo e tava falando dessa
parte do brincar na educação infantil. Eu acho muito importante o brincar, sempre considerei,
tudo. E acredito que é um momento que ele constrói conhecimento, é um momento que eles
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Pesquisadora: Muito bem. Muito obrigada. Em relação às linguagens, você tem conseguido
desenvolver essas múltiplas linguagens da educação infantil com os alunos?
Professora 3: Olha, as linguagens é assim, eu acho importante trabalhar todas elas, trabalho
todas elas, só que tem um momento que a gente acaba priorizando mais uma do que a outra.
O ideal seria todas serem priorizadas sempre. Um exemplo, eu trabalhei muito estória, mas
tem época que você acaba deixando um pouquinho de lado, uma coisa que deveria acontecer
todos os dias. Agora, por exemplo, isso não acontece todos os dias, tem época que eu
conseguia contar histórias todos os dias. Música, muito importante, tem época que a gente
cantava, colocava som, cantava, dançava. No momento, já não é uma coisa que acontece
todos os dias. O que ta acontecendo todos os dias, agora? É que tem época também que a
gente deixa de lado. Muita atividade artística: tinta, cola, tesoura, muito, todos os dias. Então
assim, acontece. Eu acredito que eu trabalho todas as linguagens, só que tem época que eu
acabo priorizando mais uma do que outra. Matemática : tem época que a gente trabalha mais,
trabalha boliche, conta os pontos e faz isso com palitinho. Então, tem época que você percebe
que... A gente tem que tomar muito cuidado. Por isso é importante o registro, estar revendo
sua prática porque, às vezes, por um motivo ou outro, você acaba, numa determinada época
do ano, trabalhando mais uma do que a outra.
Pesquisadora: Nesse momento você falou que ta fixado mais as atividades na arte, no colar.
Qual é o motivo?
Professora 3: Na arte e também, não sei como vocês denominam essa parte assim de ciências
naturais. Por quê? Porque nós estamos às vésperas de uma mostra cultural. E assim, na
verdade esse projeto que eu to desenvolvendo, nós estamos desenvolvendo desde o final do
semestre passado. Só que assim, nós passamos por várias etapas. O nome do nosso projeto
era fundo do mar e assim, as crianças estão bem envolvidas, eles estão gostando muito, os
pais também. Eu fiz oficina com os pais. E assim, a gente passou por momento de pesquisa,
eu trouxe vários livros, trouxe CD também, trouxe filme, as crianças trouxeram. Então assim,
nós assistimos filme, pesquisamos nos livros várias características, vários mistérios. Coisas
que até eu descobri, que eu não sabia, alguns mistérios do fundo do mar, características sobre
vários animais. Então assim, eles curtiram muito, eles até falaram em casa para os pais, nas
últimas duas reuniões de pais, eles comentaram muito que as crianças falam muito sobre
várias coisas que eles estão aprendendo do fundo do mar, dos animais. Teve criança que falou
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que queria morar no fundo do mar, que o fundo do mar é lindo. Eu trouxe também CD Room,
a gente olhou também na sala de informática, brincamos com alguns joguinhos que tinha
nesse CD, todos do fundo do mar. Então assim, a gente passou por esse momento da pesquisa.
Professora 3: Isso. Teve a leitura, a pesquisa, tudo, e teve também o momento de várias
atividades artísticas que a gente veio fazendo no decorrer do ano, não é só agora. Agora nós
estamos finalizando alguns trabalhos, trabalhos de meses já. Mas é que agora a gente está no
final, ta na semana da mostra. Essas coisinhas tem que ser perto mesmo. A gente fez cada
cartaz enorme, se tivesse feito antes não teria onde colocar. Aliás, foi uma dificuldade arrumar
o tamanho da lousa. Então assim, algumas coisas tem que ser mais próximas mesmo, tem
coisas que é difícil até de guardar, que são vários trabalhos que eles fizeram, trabalhos que os
pais fizeram também na nossa oficina, na última reunião de pais. Então, por conta disso, dessa
semana de mostra cultural, a finalização de algum trabalho, a gente acabou priorizando mais
nesses últimos dias essa questão artística mesmo.
Pesquisadora: Muito bem. Em relação ao ensino fundamental de nove anos, vocês estão
recebendo crianças de quatro anos a completar. Como vocês têm se organizado? Vocês têm
discutido isso nos grupos em relação à material, em relação ao mobiliário? Como que isso tem
ocorrido na rotina de vocês?
Professora 3: Olha, pra fazer a verdade, eu não percebi assim mudança pra receber essas
crianças. Assim, do mesmo jeito que é a sala de primeiro estágio, as crianças que ainda vão
completar quatro anos, que completaram 3 anos no final do ano, tem um mês que completou,
aí vem pra EMEI. Assim, na minha opinião não ta preparado, não ta estruturado pra receber
essas crianças. Porque do mesmo jeito que essa sala que recebe essas crianças, recebe também
as crianças de cinco, de seis anos. Entendeu? Não tem muita diferença de uma sala pra outra.
menorzinho. Então assim, eu acho sofrido pra eles e sofrido para o professor. E assim, eu
posso dizer que é sofrido porque eu vivi essa experiência. E assim, eu também peguei uma
turma bem difícil. Porque assim, uma turma de intermediário já é difícil por essas questões
que eu falei, eles têm uma certa dependência de você, você tem que falar de um jeitinho
especial com eles. Eles são muito novinhos. Até a linguagem que você usa, o jeito de falar
com eles tem que ser diferente. E ainda nessa turma que eu peguei experiência foi mais difícil
ainda porque era um grupo bem agitado, tinha muita criança com problema assim de
agressividade. Então foi muito difícil. E assim, realmente não ta preparada a escola, eles são
muito novinhos, essa coisa de mesa, cadeira, isso seria interessante sim, pouquinho tempo da
rotina. Acho que tinha que ter assim mais brinquedos, mais opções de atividades livres,
principalmente fora da sala, talvez um horário de parque diferenciado. E assim, eu nem sei se
cabe dizer, mas reduzir a quantidade de aluno.Gente, não dá, não dá. É muito difícil. Eles
misturam as coisas deles com as coisas das outras crianças. É muita coisa, tem que ajudar,
tem que ensinar muito tudo.Cuidar das coisinhas dele, da roupa, do material. Tem muita
criança que não tem, eles não têm ainda aquela noção de ... Eles sentem vontade ir no
banheiro, ele não pára e vai. Não. Tem muita criança que faz ali na roupa mesmo. E assim,
pra cuidar do material também é muito difícil, tanto o que ele traz na mochila ou mesmo o
material coletivo. Então assim, é muito difícil com essa quantidade de criança. Eu acho que a
escola está longe de estar preparada pra essa idade de aluno. Da experiência que eu tive, e
tudo, eu vejo assim, ta muito longe. É muito difícil.
Pesquisadora: Professora você tem algo pra comentar sobre a educação infantil, sobre a sua
profissão, sua prática? Qualquer coisa que você gostaria de comentar, de abordar nesse
momento?
Professora 3: Eu acho que eu já falei bem geral assim. Eu acho que as perguntas estão bem
legais e bem assim, vários assuntos. Eu tenho a dizer que eu gosto muito do meu trabalho, da
minha profissão. Eu me cobro muito ainda, eu gosto de estar acompanhando. Tem coisa que
eu consigo, tem coisa que eu não consigo, eu sou muito ansiosa. Inclusive hoje me falaram
que eu preciso respirar. Então assim, eu quero fazer tudo assim, bem legal. Eu me preocupo
muito com os alunos, de ver que eles estão aprendendo, que eles estão se sentindo bem, que
eles estão se socializando bem com os outros. E assim, é isso, eu sou muito ansiosa, muito
preocupada. Eu gosto muito do meu trabalho, gosto de ser professora, em especial, professora
de educação infantil, e assim, devo dizer que claro, não são tudo flores, é cansativo também, a
gente passa muita dor de cabeça, fica cansada, principalmente a voz, a garganta. Isso eu sinto
muito. Todo dia à noite eu não consigo nem falar mais quase. É exaustivo, ainda mais com
duas turmas. Eles solicitam a gente o tempo todo, querem a gente o tempo todo, eles sugam o
tempo todo. Então a dificuldade maior é essa, é o cansaço. Muita criança, muitas horas de
trabalho,que é uma opção minha também né. Mas assim, dentro dessa minha opção o mais
difícil é isso – o cansaço. Mas assim, apesar disso é muito gostoso. A gente cria um vinculo
muito grande e é um trabalho muito humano e eu estou feliz, eu estou satisfeita com o meu
trabalho e com a minha profissão.
Pesquisadora: Bom, eu quero agradecer a sua participação na pesquisa, foi de grande valia
para a pesquisa e muito obrigada.
Professora 3: Obrigada você também.