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apresentadas em anexo.
VEJA – O senhor denuncia a falta de preparo militar dos governantes, mas, como
diplomata, acaba de ser muito bem-sucedido ao negociar com a França uma
solução pacífica para a guerra entre Florença e Pisa. Afinal, o que é melhor:
negociar ou pegar em armas?
VEJA – Muitas vezes, nessa tentativa de fazer o certo, os governantes passam por
cima da Constituição. Funciona?
VEJA – Há, nas universidades de hoje, modelos teóricos de sociedades mais justas
e igualitárias. O senhor acredita que a humanidade construirá um mundo melhor?
MAQUIAVEL – Se, nos inícios da república cristã, a religião tivesse permanecido fiel
aos princípios de seu fundador, os Estados e as repúblicas da cristandade seriam
mais unidos e bem mais felizes. Não há melhor indício de seu declínio do que o fato
de que os povos mais próximos da Igreja de Roma, líder da nossa religião, é que
são os menos religiosos. A ponto de que, se confrontarmos os princípios que
presidiram a sua criação e o uso que é feito deles hoje, julgaremos próxima a hora
da sua ruína ou da calamidade.
MAQUIAVEL – Em virtude dos maus exemplos que lhe vêm de Roma, a Itália
perdeu toda a devoção e todo o sentimento religioso, o que dá origem a uma
infinidade de desregramentos e de desordens: porque, assim como a presença da
religião pressupõe todo tipo de bem, sua ausência dá a entender o contrário. Nós
temos portanto, nós, italianos, uma primeira dívida para com a Igreja e os padres:
a de termos perdido todo o sentimento religioso e de nos termos tornado maus.
Mas nós lhe devemos outra coisa, ainda mais importante, e que é a segunda das
causas de nossa ruína: terem mantido e manterem sempre o nosso país dividido.
MAQUIAVEL – Jamais país algum viveu unido e próspero se não foi submetido
inteiramente, como a França e a Espanha, a um só governo: república ou
monarquia. E, se a Itália não chegou a isso e não se encontra igualmente unida sob
a autoridade de uma só república ou de um só príncipe, a única responsável é a
Igreja. Ela conseguiu instalar-se na península e aí deteve um poder temporal. Mas,
por um lado, ela não foi nem bastante poderosa nem bastante hábil para impor sua
supremacia e assegurar-se da soberania; e, por outro, nunca foi tão fraca a ponto
de que o temor de perder o seu domínio temporal a dissuadisse de chamar uma
potência estrangeira em seu socorro contra um outro Estado italiano que se
tornara, na sua opinião, poderoso demais.
MAQUIAVEL – É preciso fazer todo o mal de uma só vez a fim de que, provado em
menos tempo, pareça menos amargo, e o bem pouco a pouco, a fim de que seja
mais bem saboreado.
O último príncipe
“Não pedi, não divulguei informações. Neste momento que sou alvo de maldades,
minha permanência no Ministério da Fazenda não é mais possível.”
Antonio Palocci