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POR QUE A HISTÓRIA POLITICA?


René Rémond

Apresentação

O conferencista que tenho a honra e a alegria de saudar neste momento é um dos


intelectuais mais representativos de seu país. Professor emérito da Universidade de Paris
X-Nanterre e presidente da Fondation Nationale des Sciences Politiques, René Rémond
representa duas instituições de ensino e pesquisa das mais ilustres e famosas. A
primeira, Nanterre, da qual foi doyen e presidente, esteve vinculada, desde o seu
nascedouro, ao movimento de modernização das universidades francesas no final da
década dos 60. A segunda, herdeira, em certa medida, de uma outra aspiração de
modernidade e pioneirismo, tendo à frente o grande Leroy Beaulieu - a Ecole Libre des
Sciences Politiques - hoje, após novos caminhos, é o maior centro formador e irradiador
do pensamento social e político da França, celeiro de seus melhores talentos.
Na sua primeira mocidade, marcada pela guerra e por tantos conflitos internos,
foi René Rémond militante da juventude católica, assim como o foram vários de seus
amigos e futuros companheiros de profissão no ensino e na pesquisa. Normalien da Rue
d'Ulm, agrégé en histoire, professor universitário, revelou-se, desde cedo, um arguto
observador de seu tempo, cidadão voltado para os problemas de seu próprio mundo,
analista isento e competente, mas, também, um inovador nas luminosas sínteses da
história política recente francesa. Um dos primeiros livros que escreveu - e talvez o
primeiro - foi, em 1954, A direita na França (La droite en France, de la Première
Restauration à la V République), reeditada pela terceira vez em 1968 em dois volumes.
Em 1959, saia a primeira edição da sua Histoire des Etats-Unis, cujo tema foi retomado
em 1963, mas já sob a ótica da opinião pública francesa entre 1815 e 1852.
Nessa mesma data, publicou pela Armand Colin Les catholiques, le comunisme
et les crises, além de ter dirigido várias obras coletivas, na mesma época e sempre na
mesma editora: Atlas historique de la France contemporaine, Forces religieuses et
attitudes politiques en France depuis 1945, Léon Blum, chef de gouvernement, Le
gouvernement de Viahy et la révolution nationale, este último em 1972. Ainda no final
dos anos 60, escreveu La vie politique en France, em dois volumes (1789-1848 e
1848-1879) com quatro anos de intervalo entre os dois. Em 1974, fomos brindados com
a publicação do livro Introduction à l'histoire de notre temps, Editions du Seuil, em três
volumes, destinados a um público de maior alcance, não especialista, resultado de um
curso por ele ministrado aos alunos iniciantes no Institut d'Etudes Politiques. Trata-se de
uma síntese lúcida e experiente da história mundial, embora fortemente centrada na
Europa, entre 1750 e 1970, e cujo maior mérito creio que reside nas primeiras páginas
de Avertissement nas quais René Rémond nos leva a participar de suas dúvidas e de suas
certezas, espécie de profissão de fé do historiador da política e da sociedade do mundo
contemporâneo.
Em 1974, quando o livro foi editado, a historiografia francesa ainda trazia as
marcas predominantes da herança de Bloch e Febvre, passando pelos economistas como
Ernest Labrousse, marxistas como Pierre Vilar, ou o ecletismo da longa duração - la
longue durée, as estruturas em seu movimento muito lento - de Fernand Braudel.
Também já se prenunciavam as orientações de uma história nova - la nouvelle histoire -
de múltiplas facetas, hoje predominantes nas salas de aula e nas listas editoriais.

Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 7, n. 13, 1994, p. 7-19.


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Naquele momento, René Rémond expressa a necessidade de reafirmar a importância da
conjuntura, de reencontrar o papel do acontecimento e a influência das individualidades,
reabilitando, em suma, o fortuito e o singular. A história política, praticamente
descartada pelo movimento historiográfico renovador dos anos 30 e 40, do tão
conhecido grupo dos Annales, historiografia essa que se apregoava econômica,
demográfica, eminentemente agrária, voltada para as análises estruturais e regionais,
também não parecia reencontrar um lugar que lhe fosse próprio, com o destaque que
merecia, na nova história. Tratava-se e trata-se de uma história que passara a favorecer
pequenos pedaços do passado, aspectos de um cotidiano nem sempre relevante, embora
curioso, por vezes original e até mesmo ponderável. Já aí René Rémond protestava e
advertia, afirmando:
"É um falso dilema este de quererem nos encerrar em certas escolas - a
alternativa entre o reconhecimento de um determinismo da história
ordenada a realizar um único fim, ou a sua dissolução numa infinidade de
situações sem rima nem razão. Para não se deixar reduzir à lógica de
nossos sistemas de pensamento e de interpretação, a experiência histórica
não escapa da nacionalidade. Pode-se admitir que, assim sendo, a história
apresenta algumas grandes diretrizes e que os processos pelos quais se
manifestam e se efetuam comportam, a cada momento, uma pluralidade
de combinações."

E conclui: "a realidade social é mais rica, mais variada, complexa do que a
imagem simplificada que propõem todos os sistemas de explicação."
Outros livros de René Rémond vieram enriquecer a historiografia francesa mais
recentemente: em 1982, volta a um dos seus temas prediletos, As direitas na França
(Les droites en Franoe); em 1988, Pour une histoire politique, obra coletiva que
representou uma tomada de posição em defesa da história política, erroneamente
confundida com a histoire événementielle ou histoire bataille, combate esse oportuno e
necessário; em 1991 (A. Fayard), um ensaio bastante abrangente intitulado Notre siècle
(1918-1991) e, finalmente, em 1993 (Calmar-Lévy) La politique n'est plus ce qu'elle
était, que reflete a França convulsionada dos últimos vinte anos. Crise ou mudança
profunda do curso da história? História, como a francesa, marcada pelo conflito, pelo
embate, pelas oposições acirradas. Afinal de contas, indaga e argumenta: o que
aconteceu com a esquerda e com a direita? E conclui, com mais uma pergunta: a França
será ainda a França? (La Franoe est-elle toujours la France?)
Mas é a René Rémond que cabe a palavra e a nós o privilégio de ouvi-Ia. O
nosso historiador, cientista político e cidadão, é um analista consumado dos
acontecimentos, isto é, da conjuntura, dos fatos quentes saídos do forno, dos dados
eleitorais como eles se expressam nas urnas, participante assíduo dos programas
políticos na televisão, sobretudo France 2, aquele que há vários anos, uma vintena ou
mais, ausculta a opinião pública, tece comentários, tira conclusões e, também, faz
opinião pública. A René Rémond, nossa modesta saudação e a homenagem de nossa
admiração.

Rio de Janeiro, 14 de setembro de 1993


Maria Yedda Leite Linhares
Professora Emérita da UFRJ
Historiadora

Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 7, n. 13, 1994, p. 7-19.

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