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Sumário
1. Introdução
2. Conceitos Básicos
3.1 Dividendos
3.2 Juros
3.3 Juros sobre o Capital Próprio
3.4 Ganhos de Capital
3.5 Prejuízos Fiscais
3.6 Depreciação
3.7 Avaliação de Estoques
3.8 Alíquotas do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas
3.9 Outros Tributos Pagos pelas Empresas
4. Investimento Doméstico
CONCLUSÃO
Referências Bibliográficas
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 1
1. Introdução
Em artigo 1 recente, o professor Ives Gandra Martins afirma ser a carga tributária
nacional nos últimos anos. A crítica, que é compartilhada por outros elementos da
Este estudo concentra-se na tributação dos lucros das empresas e em sua relação
relevantes. Críticas à tributação dos lucros são freqüentes, tanto no Brasil como em
tributação de lucros distantes das práticas internacionais pode criar para estes
1
Gandra, Ives “Carga Tributária Insuportável”. Notícias Forenses, agosto/2004.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 2
das expectativas, se considerados os últimos dez anos. Para que o Brasil possa
crescer, são requeridos investimentos de vulto, que não podem prescindir do auxílio
públicas.
para o estudo dos efeitos dos sistemas de tributação sobre o investimento doméstico
aplicabilidade do modelo ao Brasil é viável, uma vez que este utiliza equações e
OCDE tenha deixado claro que minúcias e particularidades dos diferentes regimes
2
OECD Staff . “Taxing Profits in a Global Economy” – OCDE, Paris, 1991.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 3
Objetivos
• Contribuir para o debate sobre o modo mais apropriado de tributar o lucro das
Organização
próprio (JCP), que recebem tratamento tributário semelhante ao dos juros pagos por
no tratamento tributário dos dividendos, dos juros, dos ganhos de capital; e como
dos itens abrangidos. Essas duas seções encerram o delineamento descritivo dos
utilizado pela OCDE para calcular a cunha fiscal que incide sobre o custo do capital
demais. Para tornar o sistema tributário neutro, ou seja, para que este dê o mesmo
nove taxas de retorno mínimas exigíveis antes da tributação devem ser iguais.
Dessa forma, a análise inicia-se com a definição de parâmetros do caso básico para,
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 5
revisar os benefícios da dedução dos juros sobre o capital próprio, tendo em vista
utilizadas.
Escopo e Limitações
lucro das mesmas. Isto não quer dizer que as pequenas empresas e outros tipos de
complexidade intrínseca dos sistemas de tributação reais não pode ser totalmente
formalizada matematicamente, fato admitido pela OCDE. Quanto aos tributos, o foco
recai sobre o Imposto de Renda, tanto das pessoas jurídicas (IRPJ), como das
pessoas físicas (IRPF), seja ele retido na fonte (IRRF) ou não. No caso de pessoas
o Lucro (CSLL) é também mencionada pela sua estreita ligação com o imposto de
social, apesar de também influenciar decisões sobre investimentos, não serão objeto
desta análise.
Receita Governamental – este estudo não leva em conta o impacto das medidas
obtidos;
estão sendo abordadas. Todavia, acredita-se que, a partir dos resultados aqui
atribuídos pela OCDE foram utilizados para cálculo das taxas de retorno ao
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 7
realizados por ano, a razão média entre juros sobre o capital próprio e os
2. Conceitos Básicos
Os primeiros estudos sobre o assunto tiveram por base o tratamento tributário típico
após a sua apuração contábil e os dividendos pagos aos acionistas são novamente
tributados. Daí a alegação de dupla tributação, que teria efeitos negativos sobre o
capital dos acionistas. Em extrema síntese, este era o raciocínio dos economistas
que seria a fonte de financiamento preferida pelas empresas, pois os juros pagos a
Dessa forma, os estudiosos previam que, no longo prazo, muitas empresas iriam à
3
A definição de sistema clássico, bem como de outros termos utilizados neste relatório podem ser consultadas
no relatório da OCDE (“Taxing Profits in a Global Economy”).
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 8
bancarrota, acarretando o colapso do sistema. Dar isenção aos dividendos era vista,
portanto, como medida importante para que não houvesse tratamento diferenciado
entre as fontes de financiamento empresarial. Esta posição doutrinária foi mais tarde
contestada pelos adeptos da nova visão, que acreditavam que a isenção dos
deixaram claro que esta hipótese seria aplicada somente às corporações maduras,
Os conceitos defendidos pela antiga e pela nova visão serviram para que os países
mobilidade do capital tornou-se muito mais intensa. Países que adotassem regimes
pessoa física que, em geral, é formalizado na sua declaração de ajuste. Tal crédito
tem por base o imposto retido na fonte sobre os dividendos. No segundo caso, a
busca-se fazer com que a soma do imposto pago pela empresa com os impostos
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 9
presentes na maior parte dos países da OCDE, existem ainda outros sistemas, de
menor projeção entre as grandes economias. O Brasil, por exemplo, optou por dar
isenção total aos dividendos4 e ainda introduziu os chamados juros sobre o capital
comanda, ainda, que não haja distinção entre o investidor doméstico e o estrangeiro.
Como a isenção não é condicionada ao imposto pago pelas empresas, ela não
diferenciadas, a soma do imposto pago pela empresa com os impostos retidos sobre
capital sobre o total dos rendimentos. No sistema de isenção total, não há este
alíquota básica do capital sobre o total dos rendimentos. Neste caso, mesmo com a
4
Grécia e Holanda, no âmbito da OCDE, também isentam totalmente os dividendos.
5
Esta posição é reafirmada pela OCDE quanto aos sistemas de isenção total de dividendos.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 10
com a nova visão, essa política não encorajaria o aporte de capital nas companhias
avaliada numericamente.
A Lei Nr. 9249/95 criou também uma nova espécie tributária: os juros sobre o capital
da base de cálculo do imposto de renda das pessoas jurídicas e podem ser pagos
desde que haja lucros suficientes no exercício ou lucros retidos. Sobre o pagamento
Observe que se o acionista for outra empresa, o imposto pago poderá ser deduzido
da retenção que incidir sobre os juros sobre o capital próprio pagos aos seus
brasileiras e estrangeiras, uma vez que empresas estrangeiras não poderiam efetuar
É possível que uma das intenções do legislador, ao criar os JCP, foi permitir, à
empréstimos. De fato, antes da criação dos JCP, somente os juros eram dedutíveis,
porém, após a publicação da Lei Nr. 9249/95, a remuneração dos sócios também
passou a gozar do mesmo tratamento legal, por meio dos JCP. Se antes tal fato era
o baixo nível de investimentos privados, era de se esperar que, com a lei, o cenário
se modificasse. Este estudo, porém, não aprofunda esta questão, mas busca
tornado idêntico aos dos juros de empréstimos ou em que extensão são eles
divergentes. Na seção 4, prossegue-se com esta análise, sob a ótica dos números.
JCP pagos aos acionistas da base de cálculo do IRPJ, sendo que sobre aqueles
simples. Imagine que a empresa obtenha lucro de 100 reais no primeiro ano e
Nesse caso, ela terá que atualizar o valor da remuneração dos sócios, utilizando as
utilizando, por exemplo, a taxa de juros de 10% a.a., os acionistas teriam que
receber 16,50 reais no ano seguinte. Ocorre que se a empresa decidir pagar esse
valor, ela terá que reter 15% a título de imposto. Dessa forma, ou a empresa escolhe
anterior.
uma política muito atrativa. Suponha que a empresa não obteve lucro no exercício,
mas possui suficientes lucros retidos para pagar aos acionistas o mesmo que eles
receberam no ano anterior. Os diretores poderão, então, utilizar os JCP. Além disso,
os JCP permitem aos dirigentes de empresas maior flexibilidade gerencial, pois seu
pagamento está livre das amarras legais que cercam o pagamento de dividendos.
6
Afirmação com base nos dados extraídos de
http://www.receita.fazenda.gov.br/Historico/Arrecadacao/JRemuneratorios/Default.htm, página visitada em
20/05/2004.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 13
No primeiro caso, o Brasil, como a maioria dos países da OCDE, permite deduzir
segundo caso, é preciso lembrar que os ganhos de capital são tributados somente
casos, essas facilidades parecem tornar estas opções atrativas, mas a questão está
Alguns dos tópicos aqui explorados serão úteis nas seções seguintes. O exame de
como esses aspectos são tratados pelos países da OCDE é necessário para
3.1 Dividendos
3.2 Juros
Tal como a maioria dos países da OCDE, o Brasil admite a dedutibilidade dos juros
De forma semelhante aos juros comuns, os juros sobre o capital próprio devem
sofrer retenção de 15% e podem ser deduzidos. A diferença é que, neste caso, não
7
Lei nº 9.532, de 1997, art. 35; RIR/1999, arts. 729 e 730, III; IN SRF nº 15, de 2001, art. 6º, XXII.
8
RIR art. 702 e 703.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 15
outros permitem isenção total ou parcial, em função do tempo em que o ativo foi
2005. Até então, a alíquota mais usual para esses casos tem sido de 20%.
compensados com lucros futuros. Entretanto, o Brasil impõe um limite de 30% por
exercício fiscal. Por outro lado, alguns países admitem a compensação com lucros
3.6 Depreciação
Dois métodos são usuais: o método linear (L) e o método do declínio balanceado
Normativa SRF 162/98 estabelece as taxas que devem ser usadas, definidas por
admitida no Brasil, desde que a utilização dos ativos exceda o seu uso típico ou,
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 17
outras.
Enquanto alguns países admitem a tributação dos lucros das empresas por mais de
alíquota estatutária é de 15%, a mesma aplicável aos ganhos de capital e aos juros.
Entretanto, um adicional de 10% é aplicável toda vez que os lucros excedem R$ 240
mil no ano ou fração. Isto faz com que a alíquota efetiva média suba para cerca de
alíquotas efetivas médias utilizadas na área da OCDE. Note que a alíquota brasileira
9
FIFO – primeiro que entra é o primeiro que sai. LIFO – último que entra é o primeiro que sai.
10
É também admissível avaliar estoques utilizando preço menos margem.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 18
tributos possam ter influência sobre as decisões de investimentos, eles não serão
abordados aqui.
4. Investimento Doméstico
retorno mínima exigível antes do tributo (P) e da taxa de retorno pós-tributo (S) de
é também calculada (cunha fiscal). Essas variáveis são computadas para diferentes
Assume-se que um investidor doméstico não iria financiar um novo projeto a menos
que este oferecesse um retorno superior ao que poderia ser obtido no mercado
S = 1 + i ( 1 – m) - 1 (1)
1+π
renda incidente sobre os juros. Assume-se que o investidor deseje obter pelo menos
S qualquer que seja o investimento. A incidência de tributos irá fazer com que haja
uma taxa P, antes da tributação, tal que se obtenha a taxa S, após a tributação. Em
geral, P deverá ser maior que S, pois os tributos aumentam o custo do capital, a
menos que se trate de uma atividade subsidiada. Assim, o investidor deve olhar para
a taxa de retorno real mínima exigível antes dos tributos (P) para decidir se o
antes da tributação, então se houver uma opção que pague 8%, esta será aceita.
Por outro lado, se um investimento pagar 4% antes da tributação, este deverá ser
descartado se a taxa mínima exigível (P) for 5%. Nesse contexto, todos os
Um certo projeto empresarial teria que oferecer uma taxa de retorno superior a P
para ser atrativo. Por outro lado, quanto mais elevada for a taxa P, mais difícil será a
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 20
assume-se que não existe o imposto sobre a renda das pessoas físicas (IRPF) nem
“caso básico”. Isto tem por objetivo dar ao leitor maior familiaridade com o método.
i. A taxa de juros nominal (i) – Esta está sendo tomada a 16%11. Entretanto, nas
simulações está sendo também utilizada uma taxa real de 5% para facilitar a
ii. A Alíquota do IRPJ (τ) – esta é assumida a 25%, pois embora o Brasil possua
adicional do IR faz com que as alíquotas efetivas sejam mais elevadas (na
iii. A Taxa de Inflação (π) – tomada como 4.5%, segundo o modelo da OCDE e
11
Definida pelo Banco Central do Brasil em maio de 2004.
12
Fonte: www.fazenda.gov.br, página visitada em 9 de junho de 2004.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 21
Esta taxa é calculada de acordo com o modelo de King-Fullerton para cada tipo de
companhia terá que se capitalizar a uma taxa pelo menos igual à taxa de juros do
mercado, pois, do contrário, melhor para o investidor é que o capital fique no banco
retidos ou de dividendos, esta taxa não sofre alterações e permanece igual à taxa de
juros.
Nota-se que o fato de ser possível deduzir os juros da base de cálculo do IRPJ faz
com que a empresa possa tomar emprestado a juros, pagando uma taxa inferior ao
Como o Brasil utiliza apenas o método linear, a fórmula para o valor atual que
Assim, tem-se:
Tab. 1 – Valor Atual dos Encargos de Depreciação (A) – Caso Básico (sem IRPF e IRRF)
Máquinas Edificações
Aporte Endividament Endividament
Lucros de o Lucros Aporte de o
Retidos capital Retidos capital
0.140 0.140 0.158 0.071 0.071 0.088
definidos pela OCDE. A proporção de estoques avaliados pelo FIFO (ν) foi assumida
Tab. 2 – Taxa de Retorno Mínima Exigível Antes da Tributação do IR – Caso Básico (%)
Máquinas Edificações Estoques
Lucros Retidos 14.4 14.5 16.1
Aporte de Capital 14.4 14.5 16.1
Endividamento 9.6 9.5 11.0
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 23
mais penalizado.
Os pesos permitem o cálculo de uma taxa P que represente todas as nove taxas da
tabela anterior em um único número, que pode ser utilizado na comparação entre
aplicados pela OCDE. Assim, utilizou-se 50% para máquinas, 28% para edificações
Tab. 3 – Taxa de Retorno Mínima Exigível antes da Tributação (Média) – Caso Básico (%)
Máquinas Edificações Estoques Média Pond.
Lucros Retidos 14.4 14.5 16.1 14.8
Aporte de 14.4 14.5 16.1 14.8
Capital
Endividamento 9.6 9.5 11.0 9.9
Média 12.7 12.8 14.3 13.1
Ponderada
13
Para obter mais detalhes a respeito das limitações inerentes ao uso de pesos, favor consultar a seção C do
capítulo 4 da publicação da OCDE “Taxing Profits in a Global Economy”, Paris, 1991.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 24
seção, eles serão considerados de forma a obter uma aproximação mais realista do
custo do capital associado ao sistema tributário no Brasil. Ao fazer isto, nota-se que
a emissão de novas ações e a reaplicação dos lucros retidos deixam de ter o mesmo
S = 8.7%.
A alíquota estatutária do IR sobre juros domésticos foi tida como 15%. O cálculo
levou ao encontro de uma taxa S elevada ou pelo menos mais elevada que qualquer
outra taxa encontrada na OCDE, em 1991. Este resultado é coerente, dado que o
Brasil busca elevar a taxa de juros para atrair capitais externos, dos quais depende
para financiar-se. Por outro lado, isto implica em taxas P ainda maiores que S. Esta
Brasil, pois qualquer investimento que valha a pena irá requerer altas taxas de
investimento, uma vez que a taxa S é muito elevada. Indo mais além, tais incentivos
teriam por efeito a criação de distorções econômicas que seriam ainda mais visíveis
quando os juros baixassem. No entanto, uma vez que estes permanecem altos,
muitos setores continuam lutando por vantagens tributárias isoladas, mesmo que a
Endividamento: ρ’ = (1 - τ) i (2)
z = 7.2%.
Endividamento: ρ’ = (1 - τ) i = 12%
Note que este não sofreu alteração após a introdução de tributação na fonte e na
Tab. 4 – Valor Atual dos Encargos de Depreciação (A), incluindo tributação na fonte e na PF
Máquinas Edificações
Lucros Aporte de Endividamento Lucros Aporte de Endividamento
Retidos Capital Retidos Capital
0.147 0.152 0.158 0.077 0.082 0.088
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 27
Passo 4: Cálculo de P
Utilizando os mesmo pesos que os da seção 4.1, isto é, 50% para máquinas, 28%
para endividamento, 10% para aporte de capital e 55% para retenções, tem-se:
Tab. 6: Taxa Mínima Exigível p/ Investimentos antes da Tributação – P -, com pesos (%)
Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros Retidos 12.3% 12.4% 13.9% 12.7%
Aporte de Capital 11.1% 11.1% 12.6% 11.4%
Endividamento 9.6% 9.5% 11.0% 9.9%
Média Ponderada 11.2% 11.2% 12.8% 11.6%
é que agora a empresa está sendo desonerada, pois parte da tributação irá recair
sobre as pessoas físicas. Mesmo assim, ainda se trata de uma taxa elevada. Se o
novas ações e, por último, pela reaplicação dos lucros retidos. Quanto à preferência
de S = 8.7%:
A média das diferenças resultou em 2.9%, que é mais alta que a média geral dos
países da OCDE (2.3%). Apesar disto, não se trata de um valor muito discrepante.
4.3 Simulações
A. Reduzindo os Juros
As altas taxas de juros no Brasil podem evitar a fuga de capitais externos e ajudar a
manter a inflação sob controle, mas elas também elevam as taxas S e P, dificultando
o investimento real. Nas expressões anteriores, a taxa de juros nominal foi de 16% e
a inflação prevista como 4.5%, resultando em uma taxa de juros reais de 11%, que é
duas vezes maior que a taxa de 5% usada pela OCDE. Se o Brasil pudesse reduzir
Estes resultados sugerem que a redução das taxas de juros seria benéfica ao
investimento real no Brasil. De fato, após um longo período em que foram praticadas
taxas de juros muito elevadas14, este ano o Banco Central começou a reduzir os
Alguns críticos sugerem que os dividendos sejam novamente tributados. Para eles, a
aconteceria com o custo do capital se fosse adotada uma tributação na fonte de 15%
sobre os dividendos:
14
As taxas de juros nominais chegaram a atingir 26% a.a.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 30
aporte de capital mediante emissão de novas ações torna-se uma alternativa menos
empresarial.
Deve ser considerado que nos cálculos até então, τ foi assumido como sendo 25%,
lucros das empresas. Uma vez que se exige também que todas as empresas
tributação sobre as empresas é realmente maior que 25% e, para efeito deste
trabalho, a simulação com uma alíquota efetiva de 30% pretende dar uma idéia mais
realista dessa situação. O anexo “A” indica como essas alíquotas foram estimadas.
Finalmente, para tornar ainda mais real a simulação, as tabelas a seguir utilizam a
Como se vê, o aumento das alíquotas privilegiaria o endividamento ainda mais e não
De acordo com a OCDE, o efeito de uma inflação mais elevada seria difícil de prever
Nota-se que uma taxa de inflação de 10% teria um efeito positivo sobre o custo do
dessa política. A explicação é que uma inflação elevada teria o efeito de reduzir os
Até então, assumiu-se que todas os estoques seriam avaliados pelo FIFO. Todavia,
no Brasil a avaliação pode dar-se também pelo custo médio ou preço menos lucro
marginal. Como o uso do FIFO leva à indexação dos estoques, é razoável que as
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 33
empresas o evitem, buscando reduzir sua obrigação tributária. Supôs-se que 20%
Tab. 19: Cunha Fiscal (P – S) com τ = 30%, r = 5% e 20% de estoques pelo FIFO
Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros Retidos 2.4% 2.2% 2.4% 2.3%
Aporte de Capital 1.4% 1.2% 1.4% 1.3%
Endividamento 0.1% -0.2% -0.1% 0.0%
Média Ponderada 1.5% 1.3% 1.4% 1.4%
investimento dos diversos tipos de ativos. Estoques não teriam mais o pior retorno.
necessário colher dados de forma a obter a real proporção de utilização do FIFO nas
Muitos países não tributam os ganhos de capital sobre lucros retidos como um
aumento no valor das ações. Outros o fazem, porém somente se o ativo for vendido
expansões utilizando lucros retidos. Nesse contexto, promover a isenção dos ganhos
tabelas anteriores mostraram que os lucros retidos seriam a opção menos favorecida
Tab. 21: Cunha Fiscal (P – S) com τ = 30%, r = 5%, 20% FIFO and z = 0
Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros Retidos 1.9% 1.7% 1.9% 1.9%
Aporte de Capital 1.9% 1.7% 1.9% 1.9%
Endividamento 0.1% -0.2% -0.1% 0.0%
Média Ponderada 1.3% 1.0% 1.2% 1.2%
Além de baixar a diferença média ponderada entre P e S, esta política faria com que
reter lucros ou emitir novas ações fossem opções equivalentes, isto é, o sistema
continuaria a ser a melhor opção financeira. Relembra-se que não está sendo
logo, inferior a boa parte das alíquotas praticadas nos países da OCDE.15 Se o Brasil
Assim, elevar a carga tributária sobre os juros a uma alíquota de 30% e, ao mesmo
tempo, dar isenção total aos ganhos de capital e aos dividendos eliminariam as
15
Alíquotas sobre juros na OVDE: EUA (média) 28%, Reino Unido (média) 22%, Suíça 30.8%, Suécia 30%,
Espanha 31.5%, Luxemburgo 24%, Grécia 25% para residentes.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 36
Obviamente que os valores de P ficaram mais altos, mas, novamente, não haveria
entre P e S cresceram também, mas, ainda assim, a cunha fiscal média é menor que
os 3.4% da tabela 15. Uma pequena divergência aparece, no entanto, entre os tipos
de ativos. Para resolver este problema, uma das possibilidades seria a adoção do
LIFO como método legal de avaliação de estoques, assumindo que a maioria das
capital. Assim, é possível utilizar o modelo para estudo dos JCP, verificando-se se
renda e posterior tributação na fonte a 15%. Para efeito didático, chama-se JCP
tipo1 os JCP que estiverem de acordo com a situação descrita. Assim, haveria duas
Portanto, torna-se necessário conhecer a razão entre a soma dos valores atribuídos
a estas duas espécies para o cálculo da alíquota efetiva, utilizada nas equações do
modelo. Não sendo conhecida esta razão, assume-se, por simplicidade, que o efeito
Por outro lado, se os JCP forem pagos com base em lucros acumulados, eles
podem ser tratados como ganhos de capital realizados, tributados na fonte a 15% e
também dedutíveis. Chama-se a isto JCP tipo2. Quando os JCP tipo 2 são pagos
contra o patrimônio líquido, pode-se assumir que o efeito conjunto é dado por um
aumento na razão de realização dos ganhos de capital (α), de 10% para, por
exemplo, 30%.17
16
Este valor é estimado da seguinte forma: suponha que existam apenas duas empresas no mercado A e B.
Ambas tiveram lucro de $100 no exercício, mas A pagou $15 em dividendos e B, $15 em JCP tipo 1. Os
dividendos de A são isentos, mas B deverá reter $2,25. A razão entre a soma dos tributos retidos ( zero mais
$2,25) e a soma da remuneração dos sócios de A e B ($30) fornece exatamente 7,5%.
17
Valor aleatório. O cálculo efetivo precisaria de maiores dados.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 38
Ressalte-se que, em ambos os casos, a dedução dos JCP acarretará uma redução
nas bases tributáveis. Este efeito é simulado no modelo pela redução da alíquota
Endividamento: ρ’ = (1 - τ) i = 11.2%
nominais a 16% e a razão dos estoques avaliados pelo FIFO igual a 100%, tem-se:
18
Se a empresa paga os JCP, ela poderá deduzi-los da base de cálculo do imposto de renda. Se esta base for de
100, supondo $15 pagos a título de JCP, a nova base tributável sobre a qual incidirá a alíquota efetiva de 30% do
IRPJ mais CSLL será de $85. Logo, o valor dos tributos será de $25,50 e a alíquota efetiva resultará da divisão
deste número pela base $100. Obviamente, esta é uma aproximação simplista e não considera as razões entre os
valores efetivamente pagos a título de dividendos, ganhos de capital e JCP. Todavia, o refinamento do cálculo
levaria a alíquotas entre 25,5% e 30%, não alterando os resultados substancialmente.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 39
Estes resultados apresentam-se ligeiramente superiores aos que foram obtidos nas
tabelas 14 e 15, mas resta claro que os JCP, da forma como foram modelados, não
CONCLUSÃO
recursos por meio de emissão de novas ações. Além disso, o custo de investir em
estoques é, na média, maior que nos outros dois tipos de ativos, quais sejam
estas e as taxas pós-tributo (S) são, em geral, maiores que aquelas registradas na
Além disso, não se trata de uma política de uso comum em outros países, fato que
formulação de políticas. Por esta razão, seria importante rever tais hipóteses,
II. Estudar a hipótese de reduzir ainda mais ou eliminar a tributação sobre os ganhos
de capital que resultem da valorização das ações, desde que esses ativos não
sejam alienados durante dois anos ou mais. Isto funcionaria como um incentivo
para que as empresas financiassem novos projetos com os lucros retidos que,
notar que a maioria dos países da OCDE tributa os juros a alíquotas superiores a
estímulo ao investimento, uma vez que as cunhas fiscais seriam menores que as
IV. Estudar a hipótese de elevar a alíquota do IRPJ para algo em torno de 30% e, ao
trazer benefício ao investimento e, por isto, deve ser reavaliada. A isenção dos
tributação econômica possa ser atingida. É certo que alguns outros países optaram
sistema de créditos faz com que a migração, a priori, não valha à pena, ainda mais
9); no entanto, este não é exatamente um tópico de política tributária e, por isto, não
será explorado aqui. Sobre a inflação, enquanto o Brasil puder mantê-la sob controle
19
Com a globalização da economia mundial, tornam-se ainda mais importantes a transparência e a simplicidade.
O sistema tributário brasileiro, sempre que possível, deve adotar mecanismos e regras próximas às dos países
exportadores de capital.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 42
alterações necessárias.
Referências Bibliográficas
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setembro de 2004.
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Mutti, J. “Foreign Direct Investment and Tax Competition”. Washington, DC: Institute
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Sorensen, Peter B. “Changing Views of the Corporate Income Tax”. National Tax
Journal, vol. 48, junho/1995, pp.279-94.
1
dados sobre número de empresas e receita do IRPJ foram obtidos de:
http://www.receita.fazenda.gov.br/Historico/EstTributarios/dipj2000/Sintese.htm, visitado em 09 de
junho de 2004.
A2
Obs: Considerou-se a base da CSLL com sendo a base tributável, neste caso.