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MEMORIAL

A idéia sob a qual constitui-se a minha tese de doutorado é representativa de uma guinada temática,
metodológica e...temporal. Por tratar-se de uma segunda investida de pesquisa no transcurso de um
mesmo período acadêmico, tal condição remonta a precedente semelhante, por ocasião do processo da
escrita da tese de mestrado, também marcada por um deslocamento do objeto de estudo, o que torna
sintomática a trajetória acadêmica como um todo: mestrado bipartido, doutorado também. Tal padrão
revela algo de significativo à compreensão da natureza da escolha do objeto definitivo de estudo,
inserto que esteja em campo outro de conhecimento - reflexo de uma depuração do desejo de
apropriação de um saber que, por ter incorporado o saber advindo da própria condição de sucessivas
incertezas, resulta, hoje, na robusta sensação de leveza quanto à pertinência e relevância do presente
estudo.

Pois bem, o meu mestrado bipartiu-se no momento exato da consciência de uma inadequação temporal.
Eu vinha repleto da teoria psicanalítica de escola francesa e queria documentar, aprofundar e legitimar,
na academia, uma ferramenta concebida e utilizada em consultório: o uso de fotografias de etapas de
vida de pacientes em análise, como motivadoras da livre associação de idéias, num primeiro momento,
com subseqüente aparato que me caucionasse movimentos de pontuação discursiva e construções
(“interpretações”), num segundo momento, através dessas imagens visuais biográficas, compreendidas
enquanto “biografemas” (dentro de uma inspiração barthesiana), a que chamei “compostos foto-
textuais”, já que, ao longo do processo, seriam legendadas e re-lendadas. Como não houvesse
condições institucionais para um estudo longitudinal, conservei a idéia da importância da imagem na
psicanálise e, relegando tal visada à condição de “notícia” no interior da pesquisa, abandonei essa
visada. Desta, passei a reflexões sobre a questão da imagética na psicanálise que considerava, inclusive,
a inserção cultural judaica de seu fundador, o que resultou num conjunto articulado de ensaios e no
meu primeiro luto pela perda da circunscrição de um objeto de estudo. O segundo viria em bloco – a
perda de um projeto de doutorado completo –, de inspiração abertamente semiótica (longe do
consultório e dos cânones da teoria da técnica psicanalítica) e até interdisciplinar. Tratava-se de
“restituir” ao paciente psiquiátrico, a imagem de uma gestualidade obliterada por condições
medicamentosas e manicomiais. O corpus da pesquisa, para que se preservasse a privacidade dos
pacientes, demandou procedimentos técnicos, sofisticados para a época, e interveniências de natureza
vária impossibilitaram a conclusão desse primeiro doutorado, no momento em que iria à qualificação.
Há que se considerar, como fatores que concorreram para tal, a volumosa carga teórico-discursiva (o
corpo, substrato do gestual dos pacientes, era o “corpo erógeno” e não o anatômico-cinético; a
literatura iria além do saber propriamente psicanalítico, ao contemplar os estudos de M. Foucault, H.
Wallon, G. Deleuze etc.), as condições propriamente institucionais da coleta e tratamento do material,
além das intersecções interdisciplinares (junto à Faculdade de Artes Cênicas da Unicamp, através da
generosa cooperação de seu, então, diretor - Luiz Otávio Burnier, que viria a falecer neste período,
questões objetivas de locação em hospital psiquiátrico e, a questão do tempo! Aqui, o tempo dos
prazos.

Desligado do programa de pós-graduação (à época, ainda havia essa condição, hoje, extinta),
importava-me a recuperação de algumas predileções temáticas ligadas à semiótica discursiva e, em
2003, entrei com um projeto intitulado: “O Sonho: Do Sujeito Absoluto ao Signo Prodigioso – A
Arquitetura do Disfarce”, sob a orientação do meu atual orientador, o mesmo da tese de mestrado.

Tomando à psicanálise apenas a “Die Traumdeutung”, indagava-me sobre as eventuais alterações na


elaboração onírica, numa contemporaneidade profundamente marcada pela pregnância da imagem e
seus novos estatutos. O homem renascentista sonhava da mesma forma e sob a mesma ambiência que o
homem hodierno? Haveria, em seus sonhos, as mesmíssimas operações de deslocamento e
condensação, que permitem a passagem do conteúdo latente ao conteúdo manifesto, à narratividade
onírica, que se poderiam observar no trabalho de elaboração onírica do homem da hipermodernidade?

Movido por problematizações dessa natureza passei à delimitação do corpus da pesquisa e estabeleci,
como corte temporal, o advento das novas mídias, especialmente a fotografia, tal como W. Benjamin a
aborda em seu clássico texto sobre a obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica.

Mediante alguns critérios mais ou menos especificados, e, na tentativa de abarcar áreas fundamentais
de saber e produção humanos, selecionei a filosofia, a literatura e as artes visuais (visualidade) como
campos, no interior dos quais, cotejaria os relatos de sonhos de sujeitos que produziram suas obras,
respectivamente, antes (R. Descartes), M.de Cervantes e F. de Goya e, depois do corte temporal
estabelecido, portanto, correlativamente: J.P.Sartre, F. Kafka e S. Kubrick.

O arcabouço teórico-metodológico previa questões atinentes à narrativa, como substrato material do


relato onírico, à História, como ferramenta de análise a perpassar todo o material a ser colhido e, como
não poderia deixar de ser, à própria questão da constituição do sujeito, esquematizada, aqui, a partir das
seguintes premissas emblemáticas: “Penso, logo existo”; “Existo, logo penso”; Penso onde ‘não existo’
“e” Existo onde ‘não penso’ “. Respectivamente, tais premissas corresponderiam: ao primado da razão,
no Cogito cartesiano (a essência precede a existência); à inversão existencialista (Sartre – a existência
precede a essência) e, às duas últimas, o território do sonho (o ser pensante constituído onde não possui
existência positiva, onde se vê sendo visto) e o território do inconsciente, sobre o qual, Lacan
afirma:”A primeira inscrição do sujeito é feita em relação a um sistema simbólico que preexiste a ele e
que o condiciona desde antes de seu nascimento”. Portanto, atravessando todo o projeto, uma teoria
sobre o inconsciente (de natureza psicanalítica), uma teoria sobre a narrativa, de natureza semiótico-
discursiva e uma teoria sobre a História a informar a perspectiva de análise do material onírico colhido.

Como esta última tinha, na figura da Profa Dra Olgária Matos (USP), que, juntamente com o Prof.Dr.
Paulo Sérgio Pinheiro(USP também) referendaram o projeto junto á FAPESP, submeti o projeto à
apreciação dela que, na ocasião, mostrou-se não só interessada na perspectiva adotada, como também
me escreveu enfatizando a importância de se aprofundar questões sobre o estatuto da imagem, em
especial, no campo psicanalítico.

O projeto original continha ainda dois campos – música e política. Foram retirados quando, na intenção
de reverter favoravelmente argumentos do parecerista da FAPESP que, via reducionismo precário e
argumentação confusa, houvera denegado a aprovação do projeto, sob (uma das) alegações de que este
estaria “inventando um novo tipo de História”, respondi elucidando que se tratava de método indicativo
e que, por razões de exeqüidade, estava subtraindo 40% do corpus da pesquisa. Tal recurso mostrou-se
inócuo, de vez que, a resposta que recebi, meses depois, apenas com um carimbo protocolar “de
balcão”, sumariamente “denegava’ novamente a solicitação de bolsa. Tínhamos, meu orientador e eu,
um cronograma que previa, após o período inicial do doutorado, solicitar bolsa no exterior, expediente
que nos parecia imprescindível à coleta dos relatos oníricos em fontes primárias em alguns países da
União Européia.

Não obstante, com a divulgação na internet (fóruns e salas de discussão na web) do resumo do projeto,
com as buscas cada vez mais refinadas e os retornos sinalizando empenho na cooperação, cumpri os
créditos necessários, fiz o exame de proficiência e colhia, em seminários, palestras e encontros com
filósofos, psicanalistas, escritores (o início do doutorado em 2003 coincidiu com a iniciativa do Espaço
Cultural, dos cafés filosóficos, dos módulos temáticos, etc., oportunidades, fora das capitais como São
Paulo, Rio, Porto Alegre, Brasília) para encontrar pessoalmente interlocutores especialistas, intelectuais
de diferentes áreas, o que me possibilitou estabelecer uma rede de contatos, até então, virtuais)
subsídios de várias fontes, textos, indicações de pesquisa, referências bibliográficas, quase todos, ao
tempo em sinalizavam perspectivas favoráveis, surpresos também com a envergadura da pesquisa,
ainda que eu ponderasse sobre a hipótese de um mergulho na obra de cada um dos sujeitos abarcados
pela investigação sobre cuja parcimônia, deixava claro, incidiria, exclusivamente, sobre suas produções
oníricas, a serem coletadas e tratadas como narrativas, ainda que, posteriormente, verificadas sob a
ótica dos mecanismos psicanalítico-lingüísticos (“metaforonímicos”, para Lacan) que me permitiriam
cotejá-los, campo a campo, sob o critério do corte temporal pré-estabelecido. Pois bem, esta malha de
estratégias de coleta quase nada resultou – nada dos sonhos de Sartre (ou quase nada, posto que
excluído qualquer viés de fonte secundária), muito menos de Goya; estranhamente (por tão
contemporâneo!) de Kubrick. Consegui o sonho de Descartes sobre o cogito e, junto às instituições
cervantinas, absolutamente nada.

Tal era minha inventividade diante de tão adversas tentativas que, numa palestra do escritor e
antropólogo Valter Sinka (UFRJ), no momento em que este analisava a segunda parte de “Don
Quixote”, cheguei a indagá-lo sobre a legitimidade metodológica de se tomar a Parte II da obra de
Cervantes (oniróide e alucinatória como a percebíamos) como um equivalente de produção onírica. A
resposta, em público, foi afirmativa, acrescida da advertência de que não havia a menor garantia sobre
a que lugar epistemológico tal recurso poderia conduzir a pesquisa...

Tive acesso a inúmeros acervos virtuais, escrevi para a seção da Biblioteca Nacional da França onde
haveria maior probabilidade de encontrar em obras raras, em correspondência epistolar e fosse qual
fosse a indicação de links , de pistas – absolutamente nada. E como, na ocasião marcada por essa
vacuidade de material, de contatos, de perspectivas de qualquer natureza, resolvera concorrer
(apresentando artigos e , especialmente, crônicas, algumas em prosa poética ou “proesia” que publicava
regularmente em minha coluna “Cotidiano” na revista “Showroom”, publicação segmentada, desde
2001, com o episódio do ataque às torres do “WTC”) a uma vaga na Oficina de Criação Literária
oferecida pelo escritor e ensaísta Nelson de Oliveira (“Geração 90 – Manuscritos de Internet”; “Treze”;
“O Século Oculto”, etc.) sob a curadoria do escritor e cineasta João Silvério Trevisan, e assim,
produzindo textos (poesia, sonetos, crônicas) semanalmente sabatinados por cerca de trinta colegas,
escritores ou não, tomei consciência de algo fundante em mim, da ordem do desejo: minha inclinação à
literatura que remontava aos meus dezesseis anos, quando venci um concurso literário com premiação.
A Faculdade de Psicologia, os “cartéis” de supervisão e discussão de leituras e casos clínicos e mesmo
os seminários que coordenei em minha clínica, como o “França – História das Idéias” (com a presença
da amiga Hilda Hilst, Carlos Vogt, Luiz Eduardo Soares, à época, professor de antropologia no IFCH e
outros, ligados à psicanálise e a semiologia de escola francesa) e tudo que concorreu à deriva da
literatura, retornou, re-pediu minhas mais profundas intensidades sublimatórias; meu investimento e
mergulho plenos na escrita não acadêmica. Não por acaso, por ter encontrado (do corpus claudicante)
apenas uma boa recolha dos relatos oníricos de Kafka (“Franz Kafka – Sonhos” e “Franz Kafka –
Narrativas do Espólio”), passei a notar a tessitura de suas narrativas breves; passei a escrever contos
breves e, destes, ao desafio (via Borges, Calvino, Cortázar, Poe e...Augusto Monterroso) à escrita
sistemática de microcontos radicalmente breves: dez palavras. Seria este o momento de uma guinada
sob cujos reflexos, contemporizamos, meu orientador e eu, sobre o impasse metodológico a que
chegara o projeto inicial que demandava, a esta altura, um incursão em universidade européia e mais
uns cinco anos de doutorado.

Engavetado o projeto, obtive a extensão do prazo para a defesa (prevista para Fevereiro deste 2008)
junto ao coordenador da pós-graduação (até porque mostrou-se sensível ao arrazoado que a ele
dirigimos e não havia antecedente algum de afastamento por licença em todo meu transcurso
acadêmico) e inaugurei uma nova pesquisa. Do objeto de estudo anterior, da metodologia, da
bibliográfia restou, curiosamente, apenas a categoria freudiana da condensação, que, se antes servira-
me para a desmontagem das narrativas oníricas, agora projetava-se como mecanismo de construção das
narrativas breves com suas elipses e economia textual.

Ainda assim, numa primeira aproximação, convoquei as categorias lacanianas de tempo lógico (que
regia a interrupção do discurso do paciente no momento exato de uma angústia...) e até da idéia
lacaniana da parole pleine com a qual pretendia dar conta do que, no momento, entendo por epifania,
tomada à James Joyce e, o que muito pouco me importa agora, retomada por Lacan no Seminário
“Sinthome”...

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