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Discurso vazio: as expressões

que poucos sabem o que


significam
Algumas expressões popularizadas no meio educacional são usadas hoje com
um sentido muito diferente do que tinham originalmente, mostrando que
muitos educadores estão se apoiando em ideias frágeis

A fala dos educadores brasileiros nunca esteve tão afiada. Conceitos importantes da Pedagogia e
as práticas de sala de aula mais valorizadas hoje estão na ponta da língua e ajudam a definir o
trabalho docente. Não é preciso estar entre grandes mestres para ouvir citações de Paulo Freire
(1921-1997), como a importância de "focar a realidade do aluno" durante o planejamento, ou
sobre o construtivismo - a necessidade de "levantar o conhecimento prévio" da turma.

No entanto, conforme a conversa avança, percebe-se que, na média, ela está calcada num
discurso vazio. O resultado é a transformação de idéias consagradas - como formar cidadãos -
em jargões que perderam o significado original. Esse conceito, difundido com a
redemocratização do país, relacionava-se à necessidade de as pessoas terem um preparo que
lhes permitisse atuar na sociedade - incluído aí saber ler e escrever e os demais conteúdos do
currículo.

Hoje, o sentido de cidadania propagado em muitos projetos está relacionado apenas a ações de
preservação ambiental ou de cunho social - como se socializar o conhecimento construído pela
humanidade, ou seja, ensinar, já não fosse tarefa suficiente para a escola. "Os professores usam
essas expressões sem refletir sobre elas e sem compreender em que se baseiam", ressalta
Raymundo de Lima, professor do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade
Estadual de Maringá (UEM) e estudioso do discurso docente.

Essa realidade revela, mais uma vez, a precariedade da formação dos educadores, que se
ressentem por não terem um conhecimento pedagógico adequado. "Eles buscam um referencial
teórico, mas, como não conseguem se aprimorar, acabam fazendo no dia-a-dia um trabalho
intuitivo e equivocado", afirma Andrea Rapoport, doutora em Psicologia do Desenvolvimento
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A conclusão é resultado de uma pesquisa
realizada por ela para identificar os referenciais citados pelos docentes. "Grande parcela dos que
afirmam se basear em determinadas correntes pedagógicas ou pensadores deixa o discurso cair
por terra quando precisa justificar essas escolhas", analisa Andrea.
Muitas das expressões que estão na boca dos educadores não surgiram do nada. Ao contrário,
exprimem conceitos importantíssimos. Separadas dos contextos históricos e teóricos em que
foram criadas, no entanto, elas acabaram sendo banalizadas. Hoje, é difícil encontrar um
professor que não afirme fazer uma avaliação formativa. Porém quantos realmente sabem como
ela deve ser realizada e para que servem seus resultados?

Diante disso, a proposta desta reportagem é contribuir para colocar um fim nesse blablablá da
Educação, ajudando a deixar as frases-prontas de lado e a se aprofundar no verdadeiro
significado das idéias por trás delas - a princípio, tão ricas. Selecionamos dez expressões
populares no Magistério atualmente e mostramos de onde elas provêm, seu sentido original e
como foram distorcidas. Essa leitura é apenas um ponto de partida para o desafio, que requer
muito estudo. Mas o fim do discurso vazio certamente virá acompanhado de um impacto
positivo na qualidade das aulas.

"Aprender brincando"

Conceito original: Uma das maneiras de adquirir conhecimento, possibilitada por


diferentes atividades, mas não essencial.

Conceito distorcido: Única maneira de adquirir conhecimento, possibilitada por diferentes


atividades, e principal motivação para o estudo.
Origem
O aprender brincando surgiu em reação a antigas práticas escolares. Até a década de 1960, eram
comuns os castigos físicos e as propostas de ensino que não consideravam os conhecimentos de
crianças e jovens nem se preocupavam em envolvê-los em desafios que fizessem sentido para
eles.

De fato, o processo de aprendizado nem sempre é fácil, mas resulta em satisfação. A criança
aprende de muitas maneiras e com base em diferentes recursos: convivendo com os colegas, se
comunicando com adultos e descobrindo seus limites em situações formais e informais.

Por que perdeu o sentido


A difusão do "aprender brincando" ocorreu em oposição ao que é apresentado como difícil.
"Passou-se de um extremo a outro, isto é, de uma aprendizagem com sofrimento para a
brincadeira", explica Esther Pillar Grossi, professora e fundadora do Grupo de Estudos Sobre
Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação. A questão é isso ter se tornado a principal forma de
ensinar e uma das motivações intrínsecas ao aprendizado. Desse modo, fica a impressão de que
brincar é essencial para mediar as situações de ensino. "O dito em espanhol 'la letra con sangre
entra' particulariza, para a alfabetização, a idéia de que aprender é algo muito penoso e
desagradável", explica Esther.

No livro Os Jogos e o Lúdico na Aprendizagem Escolar, o professor Lino de Macedo, da


Universidade de São Paulo (USP), afirma que o lúdico deve propor desafios ao estudante e
encaminhá-lo para a construção dos conhecimentos, mas não significa necessariamente algo
agradável na perspectiva de quem faz a atividade. "Se fosse só assim, poderíamos, por exemplo,
vir a ser reféns das crianças ou condenados a praticar coisas engraçadas, mesmo que sem
sentido."

O objetivo da escola é ensinar os conteúdos das diferentes disciplinas, e não necessariamente


proporcionando divertimento o tempo todo. A aprendizagem gera conflito, exige que a criança
fique instigada a buscar respostas a problemas apresentados a ela e levanta dúvidas. O que
precisa trazer prazer é a satisfação de aprender, evoluir e se apropriar do conhecimento. "A
máxima da escola não pode ser aprender brincando porque aprender é difícil - assim como
ensinar", conclui Tereza Perez, diretora do Centro de Educação e Documentação para Ação
Comunitária (Cedac)

"Levantar o conhecimento prévio"

Conceito original: Propor uma atividade para verificar o nível de conhecimento dos
alunos sobre um tema como forma de planejar novas intervenções.

Conceito distorcido: Perguntar o que os alunos já sabem para verificar o nível de


conhecimento deles e registrar o que foi dito.
Origem
A importância do conhecimento prévio - um conjunto de idéias, representações e dados que
servem de sustentação para um novo saber - se desenvolveu a partir da segunda metade do
século 20 com o construtivismo. Nessa concepção, não existe ponto de partida zero sobre o que
se vai ensinar ou aprender. Todos (alunos e professores) sempre sabem alguma coisa, mesmo
que de modo implícito, do tema a ser trabalhado. Investigar o conhecimento, dentro dessa
perspectiva, representa o início da relação entre o ensino e a aprendizagem. "O estudante é
compreendido como alguém que domina algumas coisas e, diante de novas informações que
para ele fazem algum sentido, realiza um esforço para assimilá-las", explica Telma Weisz,
consultora da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, no livro O Diálogo Entre o
Ensino e a Aprendizagem. Ao fazer uma avaliação antes de iniciar um conteúdo, o professor
consegue planejar suas interferências porque tem meios de determinar por onde começar. A
ação nas próximas etapas não fica só intuitiva - é direcionada para "o que" e "como" deve
ensinar.

"Não se trata de um teste, mas de uma situação real de ensino. As atividades indicadas para dar
início a um projeto são aquelas que ativam os saberes das crianças", diz Regina Scarpa,
coordenadora pedagógica de NOVA ESCOLA. Nesse tipo de atividade, cada aluno vai buscar os
dados em seu repertório interno de maneira diferente. "O conhecimento prévio é relativo a cada
um e, por isso, supõe uma investigação caso a caso", completa Macedo, da USP.

Por que perdeu o sentido


Ao longo dos anos, os professores reconheceram a importância de investigar o que crianças e
jovens já sabem antes de começar o trabalho sobre um novo tema. No entanto, mesmo sem ter
aprendido exatamente como fazer isso, muitos deles passaram a utilizar a expressão em seu dia-
a-dia. Em certos casos, eles até fazem uma avaliação inicial e registram comentários, mas não
utilizam esses dados para planejar as aulas ou pensar sobre as intervenções que necessitam ser
feitas em classe.

É preciso ter clareza também que não é perguntando o que o aluno já sabe sobre um assunto que
se faz o levantamento do conhecimento prévio, mesmo porque nem sempre é fácil para ele
verbalizar as informações quando é questionado. Além disso, cada conteúdo de ensino requer
uma forma de abordagem. Não adianta questionar sobre temas já dominados nem ser tão
desafiador a ponto de a turma não conseguir sequer entender a proposta. Outro equívoco é
considerar que tudo o que foi trabalhado foi aprendido e, por isso, é possível seguir adiante.
Conhecimento prévio não pode ser confundido com pré-requisito, exigência de aprendizagem
que todos devem possuir como base para a experiência seguinte.

"Formar cidadãos"
Conceito original: Objetivo da escola que se baseia no ensino dos conteúdos curriculares
com a finalidade de preparar pessoas bem informadas e críticas.

Conceito distorcido: Objetivo da escola que se baseia em ações sociais e de


preservação do meio ambiente com a finalidade de preparar pessoas conscientes de seu
papel na comunidade.

Origem
A frase começou a se popularizar entre os professores em meados da década de 1980 como
conseqüência da redemocratização brasileira. "O surgimento do sujeito crítico, criativo e
participativo se deu, institucionalmente, com o renascimento da autonomia do país após a
ditadura", afirma Maria de Lourdes Ferreira, docente da Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e do Mucuri, em Minas Gerais, e autora de diversos trabalhos sobre o tema. A
Constituição de 1988 define cidadania como um dos princípios básicos da vida e ressalta que as
instituições sociais, dentre elas a escola, precisam estar comprometidas com a formação cidadã.
Cerca de dez anos depois, o papel da escola nesse processo foi descrito nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), que se definem como meio de garantir que "a Educação possa
atuar, decisivamente, no processo de construção da cidadania".

Cabe à escola, portanto, formar pessoas bem informadas, críticas, criativas e capazes de avaliar
sua condição socioeconômica, dimensionar sua participação histórica e atuar decisivamente na
sociedade e na economia. E isso se faz quando todos os professores cumprirem o dever de
ensinar os conteúdos curriculares, a começar por ler e escrever.

Por que perdeu o sentido


Além das instituições de ensino, participam de forma fundamental na construção da cidadania o
governo, as organizações sociais e a família. Interpretações equivocadas sobre a função de cada
uma dessas instâncias na formação do cidadão levaram a uma descaracterização do papel da
Educação. Outro fator decisivo para a deturpação da idéia foi a falta de um currículo definido
em cada rede - detalhando o que ensinar em cada série e disciplina -, o que tem levado muitas
escolas a trabalhar sem uma proposta pedagógica clara e objetiva. Para completar, muitos
professores não fazem um planejamento focado nos conteúdos de cada área.

No livro Escola e Cidadania, o sociólogo suíço Philippe Perrenoud provoca: "De que serve
aprender princípios cívicos ou detalhes da organização do Estado quando não se consegue ler o
texto de uma lei?" Para o educador, a formação da cidadania passa pela "construção de meios
intelectuais, de saberes e de competências que são fontes de autonomia, de capacidade de se
expressar, de negociar, de mudar o mundo".

Esse esvaziamento da função primeira da escola gerou uma série de atividades sem foco na
aprendizagem que, supostamente, têm o objetivo de despertar a cidadania e provocar a
conscientização de crianças e jovens. Dentre essas situações têm destaque as campanhas e os
projetos sobre meio ambiente, diversidade cultural e violência. "É enorme o número de projetos
enviados ao Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 com o objetivo de despertar a consciência
ambiental e o respeito pelas diferenças com a justificativa pura e simples de que são importantes
para a formação do cidadão", conta Regina Scarpa. O que os alunos aprendem, efetivamente, ao
fim de um trabalho desses? Se a proposta apresentada é recolher material reciclável, a turma vai
aprender a recolher material reciclável, e o objetivo de um projeto não pode ser só esse.

"Ter uma turma heterogênea"

Conceito original: Comandar uma classe em que os alunos apresentam diferentes níveis
de conhecimento, o que faz com que avancem por meio de atividades diversificadas.

Conceito distorcido: Comandar uma classe problemática em que os alunos apresentam


diferentes níveis de conhecimento, razão pela qual alguns deles não avançam.
Origem
Com a criação dos grupos escolares, logo após a proclamação da República, no fim do século 19,
surgiu o que se convencionou chamar de turmas homogêneas. O conceito se encaixa numa
antiquada corrente pedagógica que trabalha para um único perfil de aluno e pressupõe que
existe uma turma com características semelhantes e, portanto, homogênea. Os exercícios de
repetição eram a única estratégia de ensino, fazendo parecer que todos os estudantes tinham o
mesmo desempenho e ritmo de aprendizagem. Afinal, eles seguiam modelos e apenas uma
resposta era correta. A partir da década de 1930, a Educação passou a acolher as preocupações
da Psicologia quanto às diferenças entre os indivíduos e a usar situações-problema. Lev
Vygotsky (1896-1934) escreveu em A Formação Social da Mente que o educador deve ter uma
estratégia diferenciada para cada criança porque elas não sabem igualmente o mesmo conteúdo
nem aprendem de uma só maneira. Já na década de 1990, a ampliação do atendimento escolar
fez chegar à sala de aula crianças de classes sociais menos favorecidas, o que deixou mais clara
essa heterogeneidade.

Por que perdeu o sentido


A mudança na forma de ensinar e a universalização do Ensino Fundamental acabaram,
definitivamente, com a ilusão da homogeneidade. Ao mesmo tempo, a expressão "turmas
heterogêneas" passou a ser usada como uma das explicações para o fato de alguns não
avançarem nos conteúdos. O conhecimento dos alunos pode não corresponder ao esperado para
a série, mas essa variedade de níveis em uma turma tem de ser usada de forma produtiva. "A
troca de saberes entre os pares deve ser buscada: o desafio é encarar cada um na sua
individualidade e promover a interação entre as diferentes habilidades a favor da
aprendizagem", explica Lino de Macedo. Nos trabalhos em grupo, quem domina conteúdos e
procedimentos diversos pode confrontar hipóteses, compartilhar estratégias e colaborar com os
colegas.

"Aumentar a autoestima"

Conceito original: Consequência de um trabalho baseado no ensino dos conteúdos e na


necessidade de cada aluno.

Conceito distorcido: Objetivo de todo trabalho feito em classe, conquistado por meio de
elogios e de premiações a cada aluno.
Origem
A expressão se popularizou com a universalização do Ensino Fundamental, nos anos 1990,
quando muitos dos estudantes de baixa renda que ingressaram na escola tinham dificuldade na
alfabetização e na aprendizagem das várias disciplinas. Professores creditavam isso à baixa
auto-estima gerada pela pobreza. A idéia é equivocada e preconceituosa, como provam diversos
estudos. A auto-estima não é determinada pelo nível socioeconômico ou cultural. "O que leva a
uma maior valorização pessoal é aprender", afirma Beatriz Cardoso, diretora do Cedac.

Por que perdeu o sentido


Com o objetivo de aumentar a auto-estima das crianças, instituições do terceiro setor passaram
a oferecer programas culturais e as escolas a propor atividades que não têm um foco claro na
aprendizagem dos conteúdos. Ao mesmo tempo, premiações e elogios viraram moda. "Pensar
que a garotada precisa de afago e estrelinhas mostra um distanciamento do que é essencial na
Educação, que é promover conhecimento", completa Beatriz.

"Fazer avaliação formativa"

Conceito original: Utilizar vários instrumentos de verificação da aprendizagem como


forma de analisar o nível de conhecimento da classe e planejar estratégias de ensino.

Conceito distorcido: Observar a aprendizagem como forma de classificar os alunos.


Origem
A avaliação formativa enfoca o papel do estudante, a aprendizagem e a necessidade de o
educador repensar o trabalho para melhorá-lo. A prática surge da preocupação com o processo
de aprendizagem e não só com o produto ou com as notas como ponto final da aprendizagem.
Testes, análises de relatórios, provas, apresentações orais, comentários ou produção de textos se
aplicam também à perspectiva tradicional de ensino. "O que diferencia as duas é o que se faz
com os dados: enquanto no jeito tradicional os exames são classificatórios, na avaliação
formativa eles servem para redirecionar o trabalho docente para permitir que cada um avance
em seu ritmo", diz Cipriano Luckesi, da Faculdade de Educação da Universidade Federal da
Bahia.

Por que perdeu o sentido


Cientes de que é necessário ficar constantemente atentos a todo o percurso de aprendizagem, os
professores começaram a empregar a observação como estratégia do que passaram a chamar de
avaliação formativa. Além de não utilizarem o resultado dessa análise para redirecionar a
prática, deixam de lado as provas e outros instrumentos de verificação da aprendizagem. A
razão é o fato de as notas não serem mais tão valorizadas como a única função da avaliação. O
resultado disso é que não conseguem mensurar quanto as turmas avançaram na aprendizagem
de cada conteúdo. "A avaliação só tem sentido se visa como ponto de partida e de chegada o
processo pedagógico", dizem Delia Lerner e Alicia Palacios de Pizani no livro A Aprendizagem
da Língua Escrita na Escola.

"Trabalhar a interdisciplinaridade"
Conceito original: Relacionar os conteúdos das diversas áreas quando isso for
necessário para a compreensão de um conceito, sem esquecer as características das
didáticas específicas de cada uma delas.

Conceito distorcido: Relacionar os conteúdos das diversas áreas em todos os projetos


propostos aos alunos.

Origem
O conceito de interdisciplinaridade surgiu no fim da década de 1960, na França e na Itália, e
logo chegou aos Estados Unidos. Nessa época, os universitários lutavam contra a fragmentação
das áreas e sua especialização, buscando a aproximação do currículo aos temas políticos e
sociais. O discurso chegou ao Brasil e foi impulsionado pelos "temas geradores", conceito
apresentado por Paulo Freire no livro Pedagogia do Oprimido, de 1968. De acordo com ele, a
intenção era propor aos indivíduos dimensões significativas de sua realidade, cuja análise crítica
lhes possibilitasse reconhecer a interação entre as partes. Dessa forma, eles poderiam
compreender melhor o mundo e atuar nele de forma consciente e participativa. Freire diz ser
indispensável ter, antes, a visão total do contexto para, depois, separar seus elementos. Com
esse isolamento, é possível voltar com mais clareza ao todo analisado.

No Ensino Fundamental, um trabalho interdisciplinar é aquele em que se estuda um tema


integrando disciplinas com a intenção de que o conhecimento seja global e tenha significado
para a garotada. Ele deve ser bem delimitado e permitir que haja o diálogo entre os conteúdos
estudados para que os saberes sejam aprofundados. "O conhecimento é interdisciplinar. Ele é
formado por fatos, conceitos e procedimentos relativos a áreas diferentes", diz Tereza Perez, do
Cedac.

Por que perdeu o sentido


A idéia começou a ser valorizada e a ganhar adeptos por todo o país com o passar dos anos. Na
década de 1990, quando Freire assumiu a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, ela
chegou a muitas escolas paulistanas. No entanto, não foi sempre bem aplicada. Em primeiro
lugar porque nem todo bom projeto necessita ser interdisciplinar, como muitos acreditam.
Alguns conteúdos são bem ensinados em apenas uma área, não precisando de interação com as
demais.

A relação entre as disciplinas deve aparecer dentro de situações didáticas que realmente
possibilitem a aprendizagem em cada uma delas - e não apenas num formato em que sejam
utilizados conhecimentos já adquiridos. Mostrar um mapa na aula de Matemática, por exemplo,
não é ensinar Geografia, assim como apenas pedir a leitura de um texto de História não é
aprofundar-se na Língua Portuguesa. O trabalho interdisciplinar terá cumprido sua função se o
aluno passar de um estágio de menor conhecimento para outro de maior conhecimento em cada
um dos conteúdos envolvidos.
"Partir do interesse dos alunos"

Conceito original: Considerar a criança e seus interesses como foco do processo


educacional por meio da avaliação do que ela já sabe como forma de levá-la a um nível
maior de conhecimento.

Conceito distorcido: Considerar a criança e seus interesses como foco do processo


educacional e ensinar o que ela está com vontade de aprender.

Origem
A idéia nasceu com a Escola Nova, no início da década de 1930. O movimento é considerado o
mais vigoroso grupo de renovação da Educação do país depois da criação da escola pública
burguesa. Os ideais escolanovistas se popularizam no Brasil pela ação de um grupo de
intelectuais liderados por Anísio Teixeira (1900-1971). "O grupo de Teixeira se opunha à visão
tradicional da escola, na qual cabe ao professor transmitir conhecimentos aos alunos, que
devem permanecer em silêncio e atentos às explicações", explica Raymundo de Lima, da UEM.
Para o movimento, o aumento do poder do estudante era essencial - sua vontade e sua
capacidade de agir, espontaneamente, deveriam substituir a imposição, pelo professor, de
julgamentos prontos. "Essa foi a primeira tentativa no país de diminuir a verborragia dos
mestres em aula e de olhar mais para crianças e jovens", ressalta Lima.

O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova foi lançado em março de 1932 e assinala que a
"nova doutrina, que não considera a função educacional como uma função de superposição ou
de acréscimo (...), transfere para a criança e para o respeito de sua personalidade o eixo da
escola e o centro de gravidade do problema da Educação". Passou-se a considerar o que os
alunos pensam e a entender que eles têm idéias a ser respeitadas.

Por que perdeu o sentido


Apoiados na concepção de que é necessário ter como base o interesse da turma, muitos
educadores passaram a colocar a intencionalidade do ensino e o planejamento prévio em
segundo plano. Essa deturpação foi ganhando espaço a ponto de algumas escolas chegarem a
começar o ano sem determinar quais conteúdos devem ser trabalhados em aula e a orientar o
corpo docente a descobrir primeiro o que a garotada quer estudar para depois se planejar. "A
idéia, em casos como esses, é que alguns temas geradores podem levar a aulas mais
participativas", explica Priscila Monteiro, consultora educacional, formadora de professores e
selecionadora do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10. "O problema é que, sem um
planejamento detalhado e um currículo claro a seguir, a tendência é de perda na qualidade do
ensino", diz ela.

Em didática, são três os pilares do processo de ensino e de aprendizagem: o conteúdo, a maneira


como a criança aprende e o modo como o professor ensina. Na escola tradicional, o foco está no
conteúdo e o mestre é quem domina e transmite seu saber. Com a Escola Nova, houve uma
mudança: a figura central passou a ser o aluno e seus interesses. "Basear-se apenas no que ele
quer aprender, contudo, é uma idéia restritiva, pois cabe à escola trabalhar conteúdos novos e
desconhecidos e que, por isso, não podem ser mencionados naturalmente como uma
curiosidade", ressalta Priscila.

É claro que o interesse que as turmas têm por determinados assuntos deve ser considerado. No
entanto, é preciso ter como base os conhecimentos didáticos específicos para planejar a
abordagem e as intervenções a fazer. O grande desafio hoje é desenvolver a sensibilidade para
propor situações-problema desafiadoras que despertem a atenção de todos.
"Desenvolver a criatividade"
Conceito original: Levar o estudante a propor diferentes soluções para um problema com
base em informações sobre o tema.

Conceito distorcido: Levar o estudante a realizar atividades do jeito que ele preferir.

Origem
A valorização da criatividade como uma capacidade humana que deve ser estimulada começou a
ocorrer no começo da década de 1950, com a mudança de conceitos vigentes até então. "Nesse
período, muitos acreditavam que a inteligência era uma dimensão relativamente fácil de ser
medida e a criatividade era um atributo de poucos privilegiados", explica Eunice Soriano de
Alencar, da Universidade Católica de Brasília. Uma série de pesquisas realizadas, sobretudo nos
Estados Unidos, mostrou que não é possível medir a inteligência de maneira satisfatória e que,
na realidade, ser criativo é algo inato a todo ser humano.

A partir dos anos 1980, dezenas de livros sobre o tema foram publicados, revelando que um
ambiente livre e propício à inventividade ajuda a desenvolver essa capacidade. Com as
mudanças tecnológicas e sociais do mundo contemporâneo, estimular o lado criativo das
pessoas passou a ser vital e a escola acabou vista como uma das principais responsáveis por esse
trabalho. "Estar preparado para solucionar problemas de forma criativa é algo indispensável no
cenário deste novo milênio, em que inovar é uma palavra de ordem", acredita Eunice.

Por que perdeu o sentido


Considerando a importância de desenvolver a criatividade da turma, muitos professores
passaram a propor atividades sem um conteúdo claro de aprendizagem e a justificar seu objetivo
como sendo o de estimulá-la. O problema disso é que o objetivo da escola é ensinar conteúdos
específicos, o que pode ser foco de avaliação para determinar se a turma avançou ou não - o que
é mais difícil de ser feito quando falamos de um conceito como a criatividade. Além disso, é
importante ressaltar que não se pode desenvolver a capacidade de criar lançando mão de
qualquer tipo de trabalho e que ninguém inventa algo de maneira espontânea.

Os alunos necessitam de um repertório amplo para que consigam desenvolver essa capacidade
com autonomia. Não é a inspiração que importa, mas o empenho e o trabalho realizado.
"Criatividade é a capacidade de fazer relações entre os conhecimentos. Assim como só se
aprende algo novo com base no que já conhecemos, só é possível criar com base em nosso
conhecimento prévio sobre um assunto", explica Monique Deheinzelin, orientadora de projetos
curriculares, formadora de professores e autora de diversos livros sobre o tema.

Cabe à escola, portanto, dar oportunidades para todos desenvolverem seu percurso criador,
promovendo a flexibilidade, a abertura ao novo, a habilidade de propor soluções inovadoras
para problemas diversos e a coragem para enfrentar o inesperado. O educador pode trabalhar
atividades que não sejam tão fechadas a ponto de permitir somente uma resposta e nem tão
abertas para que qualquer coisa possa ser aceita. "Pedir trabalhos com um produto final já
conhecido ou propor atividades mecânicas e repetitivas, como colocar as crianças para pintar
um desenho pronto, não leva ninguém a ser mais criativo", explica Monique. Para isso, é preciso
propor ações transformadoras, por meio das quais sejam mobilizados novos saberes.

"Focar a realidade do aluno"


Conceito original: Considerar o saber trazido pelos alunos como um ponto de partida e
sempre apresentar a eles novos conhecimentos.

Conceito distorcido: Basear-se somente no saber trazido pelos alunos como parâmetro
para determinar o que lhes interessa aprender.

Origem
A idéia foi muito propagada por Paulo Freire, que valorizava a presença do saber dos estudantes
das camadas populares na sala de aula. Ele propunha que, com uma pesquisa prévia do universo
dos termos falados pelos educandos, fossem selecionados alguns - as chamadas palavras
geradoras - para que propiciassem a formação de outros e também funcionassem como ponto de
partida para que a turma compreendesse o mundo e organizasse seu pensamento a respeito
dele. Ou seja, Freire sempre destacou a necessidade de ultrapassar as fronteiras da realidade
mostrada pelas palavras. Tanto que ele defendia a Educação como prática de liberdade e dizia
que "o povo tem o direito não só de saber melhor o que já sabe mas também saber o que ainda
não sabe". Por isso, defendia que é importante ampliar e aprofundar o conhecimento sempre.

Por que perdeu o sentido


Muitos professores trabalham concentrados somente no meio em que vivem os estudantes e
acabam por simplificar o pensamento freireano, julgando que isso facilita o aprendizado.
Acreditam que é preciso tomar como base só o que já é conhecido. Então, ensinam primeiro o
conceito de bairro para depois apresentar o de cidade, estado e país, por exemplo. Como se a
lógica de compreensão dos conceitos estivesse atrelada à maior ou à menor proximidade física e
como se fosse possível mensurar a complexidade desses conceitos baseando-se nas dimensões
geográficas. "Não se aprende somente com base no que temos à nossa volta, no que é
considerado 'concreto' e no que os adultos consideram simples", afirma Roberta Panico, do
Cedac.

Outra crença que criou raízes no pensamento dos educadores é que a realidade é o limite do que
deve ser ensinado. O professor não pode decidir não trabalhar conceitos relativos ao sertão
porque leciona em uma região litorânea. "O mal provocado por essa atitude é a condenação do
aluno à estagnação. Com isso, a escola deixa de cumprir seu papel", diz Vera Barreto,
coordenadora do Vereda - Centro de Estudos em Educação. Entrar em contato com o diferente
permite analisar a realidade com mais riqueza porque oferece fontes para comparação.

Ir além do que já é conhecido também garante o cumprimento do que sugerem os PCNs, já que
o cotidiano de um estudante que é filho de operários da construção civil, por exemplo, não tem
vínculos com a sociedade da Grécia antiga, tema presente nas aulas de História. "Se o professor
ficar focado somente no local, não terá como abordar todos os conteúdos", completa Vera.

Quer saber mais?

BIBLIOGRAFIA
A Aprendizagem da Língua Escrita na Escola, Delia Lerner e Alicia Palacios de Pizani, 104 págs., Ed.
Artmed, tel. 0800-703-3444 (edição esgotada)
A Formação Social da Mente, Lev Vygotsky, 224 págs., Ed. Martins Fontes, tel. (11) 3241-3677, 39,80 reais
Avaliação da Aprendizagem Escolar, Cipriano Carlos Luckesi, 182 págs., Ed. Cortez, tel. (11) 3611-9616, 25
reais
Construtivismo: A Poética das Transformações, Monique Deheinzelin, 142 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115-
152, 20 reais
Criatividade e Educação de Superdotados, Eunice Soariano de Alencar, 232 págs., Ed. Vozes, tel. (11) 3105-
7144, 37,20 reais
Escola e Cidadania, Philippe Perrenoud, 184 págs., Ed. Artmed, 42 reais
Interdisciplinaridade: História, Teoria e Pesquisa, Ivani Fazenda, 144 págs., Ed. Papirus, tel. (19) 3272-4500,
32,50 reais
O Diálogo Entre o Ensino e a Aprendizagem, Telma Weisz, 136 págs., Ed. Ática, 34,90 reais
O Ensino de Matemática Hoje, Patricia Sadowsky, 112 págs., Ed. Ática, 24,90 reais
Os Jogos e o Lúdico na Aprendizagem Escolar, Lino de Macedo e outros, 110 págs., Ed. Artmed, 28 reais
Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire, 213 págs., Ed. Paz e Terra, tel. (11) 3337-8399, 35 reais

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