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Machado de Assis
** Conto retirado do livro ‘Várias Histórias’ publicado pela primeira vez em 1896.
- dados bibliográficos
- temática e forma das obras
Joaquim Maria Machado de Assis (21 de junho de 1839 — 29 de setembro de 1908) foi
um escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura
nacional. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, cronista,
dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico literário. Testemunhou a mudança
política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e
relator dos eventos político-sociais de sua época.
Sua extensa obra constitui-se de 9 romances e peças teatrais, 200 contos, 5 coletâneas
de poemas e sonetos, e mais de 600 crônicas. Machado de Assis é considerado o
introdutor do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas
(1881). Este romance é incluído ao lado de todas suas produções posteriores, Quincas
Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires, ortodoxamente conhecidas
como pertencentes a sua segunda fase, em que nota-se traços de pessimismo e ironia.
Sua primeira frase literária é constituída de obras como Ressurreição, A Mão e a Luva,
Helena e Iaiá Garcia, onde nota-se as características herdadas do Romantismo, ou
"convencionalismo", como prefere a crítica mais moderna.
Sua obra foi de fundamental importância para as escolas literárias brasileiras do século
XIX e do século XX e surge nos dias de hoje como de grande interesse acadêmico e
público. Em seu tempo de vida, alcançou uma grande fama pelo Brasil, contudo não
desfrutou de popularidade exterior na época. Hoje em dia, é freqüentemente visto como
o escritor brasileiro de produção sem precedentes, de modo que, recentemente, seu
nome e sua obra têm alcançado diversos críticos e admiradores, como Carlos Fuentes,
Susan Sontag, Helen Caldwell e Harold Bloom. Este último posicionou-o entre os 100
maiores gênios da história da literatura, ao lado de autores como Dante, Shakespeare e
Camões.
2) O Conto
3) Sobre o conto
- o que é um apólogo
Apólogo é uma narrativa curta e, como a fábula, tem uma moral. Elas se distinguem
pelas personagens: no apólogo são objetos inanimados (plantas, pedras, rios, relógios,
moedas, estátuas etc.) e na fábula, geralmente, são animais.
Um Apólogo conta a discussão entre a agulha e um novelo de linha para saber quem é
mais importante e faz um trabalho melhor, enquanto a costureira (modista) costura o
vestido de baile da dona da casa (ama), uma baronesa. E no fim, a linha vai ao baile
enquanto a agulha fica triste, escondida dentro da caixinha.
O conto começa “Era uma vez [...]”, expressão que remete o leitor a uma
intemporalidade e a certeza de que os fatos não são relativos ao mundo concreto. Em
seguida, o narrador, na terceira pessoa, nomeia as personagens do enredo: uma agulha
e um novelo de linha, ou seja, seres inanimados, o que já os identificam com o sentido
do título, que diz tratar-se uma história protagonizada por objetos sem vida – apólogo.
Durante a leitura, nós podemos perceber claramente como o autor deixa transparecer a
característica psicológica dos protagonistas e o personagem “o alfinete”, ou seja, o
orgulho, o egoísmo e a vaidade são os sentimentos que estão presentes em todo o
conto. Na verdade, Machado de Assis faz uma crítica social à sociedade burguesa da
época, através dessa “fábula”. E interage com o leitor, de forma irônica, para mostrar a
hipocrisia que há na vida social. Como podemos notar, é típico dele captar os impulsos
contraditórios existentes na humanidade, portanto, torna-se difícil classificar suas
personagens em boas ou más. Mas, a frase final do conto, de alguém que ouvira essa
história – (um professor de melancolia) – “Também tenho servido de agulha a muita
linha ordinária” - faz lembrar um aspecto comum na obra machadiana que é, na busca
por status, as pessoas são usadas como “burro de carga, estepe, degrau” e depois
descartadas, e somente a ganância e o poder dos mais ricos prevalecem.
Machado é conhecido pela sua perspicácia, intelectualidade e habilidade com que
construía seus textos, sua visão futurista o tornava à frente dos autores de sua época,
ele enxergava com os “olhos da alma” (visão realista e psicológica da sociedade), isto é,
ele sempre utilizou a descrição minuciosa em todas as suas obras, e tanto seus romances
quanto suas poesias e contos realistas deixam transparecer a imagem interior da
sociedade mostrando “as duas faces” que habita em cada ser humano.
Esse conto pode ser interpretado como uma representação das várias relações humanas
existentes. Pode referir-se a colegas de trabalho no mesmo nível social ou à pessoas de
níveis sociais diferentes. No texto, o alfinete é o porta-voz da moral da história: existem
pessoas que facilitam a vida de outras, ajudando, abrindo caminhos, e, na hora da
conquista, quem recebe os benefícios é aquela que foi ajudada.
É ainda de notável importância, citarmos a expectativa que se cria quando começa a
discussão entre a agulha e a linha. Afinal, qual das duas é a preferida ou está com a
razão?
Fatores destacados
Um apólogo
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que
vale alguma coisa neste mundo?
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista
ao pé de si, para não andar atrás dela.
Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha
na agulha, e entrou a coser.
E dizia a agulha:
A agulha vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando.
E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic plic-plic da
agulha no pano.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não
menor experiência, murmurou à pobre agulha: