Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
O estudo da literatura e cultura indígena vem ganhando espaço na sala de aula após a Lei nº 11.463,
de 10 de março de 2008, sancionada pelo Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, que
torna “a inclusão obrigatória nos currículos das escolas pública e particular de Nível Fundamental e
Médio, o ensino de História e Cultura do Indígena Brasileiro.”
A cultura indígena é um objeto de estudo passível de muitas dúvidas na assimilação dos conceitos e
práticas pedagógicas, considerando-se a diversidade cultural e as diferentes nações indígenas, com
suas devidas peculiaridades. Assim se faz necessário o entendimento das diferenças de cada tribo,
valores, costumes e representações. É preciso saber o que e como ensinar, e ter o conhecimento
necessário a respeito da cultura das nações indígenas brasileiras.
A festa do moqueado é um ritual de passagem que é realizada quando a menina moça tem a primeira
menstruação e tem esse nome, pois na festa são oferecidas carnes moqueadas, secas em uma grelha
de varas.
A Pesquisa foi realizada a partir da observação de campo, onde foi feita a coleta de cantigas,
histórias e narrativas orais do povo Guajajara, nas Aldeias indígenas de Grajaú – MA. Tomamos
ainda como fundamento livros os de história, obras literárias e ensaísticas do acervo bibliográfico
do orientador, das bibliotecas públicas e particulares, dos artigos de jornais e revistas especializadas.
Durante o período da pesquisa, aguardamos a realização de uma Festa do Moqueado que após ter
sido algumas vezes adiada pelos familiares das meninas-moças foi realizada e coletadas importantes
informações com a ajuda do irmão da Orientanda Aliria Wiuira, o jornalista Aquiles Nairó.
OBJETIVOS
• Objetivo geral
• Objetivos específicos
Sobre a festa do moqueado pedi que ele falasse um pouco como era realizada essa festa, quem em
Guajajara é: Ma’e Ke’e rehe zegar haw. Então ele disse:
Durante a festa observou-se como eram cantadas as músicas, feitas as danças, as pinturas e roupas
usadas pelas meninas. Conseguimos fotografar o momento em que as meninas se preparam para a
festa, momento este que geralmente não é permitida a entrada de pessoas que não sejam as mulheres
parentes das meninas da aldeia: tia, mães ou irmãs mais velhas.
Podemos observar na festa que atualmente existe uma grande inserção de elementos da cultura dos
brancos. As roupas usada pelas meninas, por exemplo, são de tecidos e não de elementos naturais,
como era antigamente. Alguns adornos usados pelas meninas são comprados dos brancos na cidade
mais próxima, como miçangas para fazer os colares que as meninas usam. As pinturas são feitas do
jenipapo e urucum.
O principal usado para acompanhar as músicas instrumento é o maraka.
A festa é iniciada às 16 horas e vai até o amanhecer do outro dia, as meninas trocam de roupa em
um segundo momento da festa, trocam também os adornos da cabeça e os colares de miçangas. No
início da festa, elas usam uma saia vermelha e o resto do corpo todo pintado de jenipapo e um colar
de miçangas vermelhas e brancas, no outro momento elas vestem as saias brancas e um enfeite de
cabelo com penas amarelas cobrindo o rosto e um colar de miçangas brancas.
Na festa, elas são apresentadas aos habitantes como novas mulheres e mães daquela sociedade.
Antigamente a festa era feita para cada menina que entrava na puberdade. Hoje em dia a festa é feita
uma vez por ano com todas as meninas que entram na puberdade nesse período por dois motivos
principais: os gastos para a festa são grandes, sabendo que atualmente eles caçam com espingardas e
pra isso precisam de chumbo e pólvora. O outro motivo é a falta de caça nas reservas indígenas que
estão bem próximas das cidades.
Os preparativos para a festa são muito demorados, assim, os cantadores da aldeia reúnem com as
mães e avós das moças para marcarem o dia da festa. Baseados nesta data, os homens marcam o dia
para caçarem a comida para o moqueado. Na noite anterior à caçada, eles cantam para pedirem
proteção e sorte aos espíritos.
As músicas indígenas cantadas na festa são elementos de importante observação e estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Além de Pero Vaz, em 1557 alguém se preocupou em registrar a música destes brasileiros. Jean de
Léry (VASCONCELOS, 1991) foi o primeiro a descrever profundamente (inclusive fazendo a
primeira transcrição musical) a música dos nossos índios. Ele esteve no Brasil em uma expedição de
protestantes chamada França Antártica.
Em um de seus relatos Léry fala das canções que os nativos cantavam para o Canindé, um
pássaro amarelo muito estimado entre eles e que era encontrado mais nas árvores da aldeia do que
na floresta. Essa música, ele colocou no pentagrama:
Os selvagens, em suas canções, aludem freqüentemente a
essa ave, dizendo e repetindo muitas vezes: canindé-iune,
canindé-iune, he-rauch...” (LÉRY apud VASCONCELOS,
1991, p.14).
Outro fator importante para ser destacado na música indígena no período colonial é a missão
católica Companhia de Jesus que, com seu pensamento de povo e raça superior, vieram impondo
também sua música, pois, segundo eles, a música executada pelos nativos com chocalhos de cabeça
humana, flauta de ossos com urros assustadores e batida dos pés no chão era extremamente
diabólica. Assim os padres jesuítas trataram de iniciar os índios nas artes da música européia,
ensinando o cantochão, cravo, fagote e outros instrumentos que eram aceitos na liturgia e no ouvido
do europeu. Vale ressaltar que a música ensinada pelos padres jesuítas tinha o único objetivo de
catequizar os índios e foi aceita por eles sem nenhuma reserva.
A religião dos Tenetehar a é basicamente o xamanismo sendo o pajé a pessoa de mais
importância nessa área.
Hoje com a autorização dada pela FUNAI para evangelização dos índios, encotramos igrejas
evangélicas nas aldeias o que leva a origem de músicas religiosas na tribo, mas sempre quase
sempre usando elementos da natureza como pássaros, água, sol, céu nas músicas. Assim, hoje,
Alguns indígenas acreditam apenas no poder de um único deus, o Deus Tupã. Já não adoram a
natureza como antes eles acreditavam.
Algumas crenças ainda resistem aos novos conhecimentos inseridos na aldeia, como no trecho
abaixo, na entrevista com o cacique Raimundo Guajajara fala sobre o céu da aldeia:
“Em minha aldeia o céu é assim” (Hereko há pe ywak
nezewê). [...]quando olhamos o céu, enxergamos a anta
e o caminho por onde ela passa. Essa história ainda
continua até os dias de hoje, e nós contamos para as
crianças porque é verdade”.
Entre as músicas cantas na festa podemos citar algumas aqui. Outras músicas encontram-se no CD
quem vai em anexo.
Na Festa do Moqueado não pode ser cantado mais de um animal em cada música, apenas os
pássaros podem ser cantados durante esta festa. Fez também uma lista de animais que não podem
ser cantados tais como: morcego, veado, onça e gavião (este é o único pássaro que não pode ser
cantado). Eles temem os espíritos destes animais que atuam nas pessoas, por isso evitam cantá-los.
A interjeição “rê” está presente em várias músicas cantadas. As músicas citadas abaixo foram
colhidas ou selecionadas junto na Aldeia Guajajara e estão seguidas pela tradução simultânea em
Português.
Tradução em Português
Ei vou cantar ora meus parentes. Sim! Sim! Sim!
Eu vou cantar para as minhas irmãs. Sim!sim! sim!
Eu vou cantar para meus professores. Sim! Sim! Sim!
Depois cantaremos juntos. Sim! Sim! Sim!
Guajajara
Emutym nekáti´m wanupe zariz
Pari rama naku pari
Pari rama naku pari, pari, pari
Português
Acenda o cachimbo para eles vovó e também
Carrega o teu pacará
E carrega o Teu pacará, teu pacará, teu pacará
Guajajara
Azuru wyrá, azuru wyrá,
zane´a ne´a romo rekom
Azuru wyrá azuru wyrá
Português
O papagaio, o papagaio
Voa por cima de nós.
O papagaio, o papagaio
Guajajara
Ezupyhik neruíw támuz
Ezupyhik neruíw támuz
Ywirá´kaun iwyrá´kaun
Português
Pegue sua flecha vovô
Pegue sua flecha vovô
A flecha para caçar, pra guerrear
Música do Pyzu-Pyzu
Guajajara
Pyzu-pyzu irá ka´akurep rekom irá (2x)
Rê, rê, rê
Pyzupyzu irá ka´akurep rekom irá (2x)
Rê, rê, rê,
Netue takwez irá (2x)
Pyzu-pyzu irá káakurep rekom irá (2x)
Pitawá inurumo
Pyzu-pyzu irá káakurep rekom irá (2x)
Tradução
Pyzu-pyzu que habita só, longe de todos no mato (esperando que alguém o encontre)
Hê (interjeição sem tradução)
Pyzu-pyzu que habita só, longe de todos no mato (alguém encontre esse pássaro)
É você, é você, te encontrei, estás como
Pyzu-pyzu sozinha no mato
Bem-te-vi está vendo
Pyzu-pyzu sozinha pelo mato
Entre outras músicas que são cantadas na Festa do Moqueado, podemos citar:
Ararazú (arara azul), Maracapú( maracá, Wyriry( andorinha), Terepoira Kuzán( currupião), Zapú
Kuzan( recongo), wyraó-kuzan( Moça coberta de penas). Estas se encontram no CD.
CONCLUSÃO / COMENTÁRIOS FINAIS
BRAND, Dionne. A Map to the Door of No Return. Canadá: Vintage Canadá Edition, 2002.
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. São Paulo: Global, 2001.
___________. Literatura oral no Brasil. Rio de Janeiro: INL / MEC, 1978.
______. “Identidade e memória na poesia negra de Solano Trindade e Langston Hughes” In:
CORDIVIOLA, Alfredo, SANTOS, Derivaldo e VALDENICE, Cabral (org.). As marcas da letra:
Sujeito e escrita na teoria literária. João Pessoa: Idéia, 2004.
______. “Literatura afrobrasileira: memória e cantigas do Bumba-meu-boi do Piauí”. In: LIMA,
Solimar Oliveira (org.) Sertão negro: escravidão e africanidades no Piauí. Rio de Janeiro:
Brooklink; Teresina: Matizes, 2008.
MENDES (de Oliveira), Noé. Folclore Brasileiro Piauí. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor
Chaves, 1999.