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Faculdade de Tecnologia
Departamento de Engenharia Florestal
Brasília, 2005
Universidade de Brasília
Faculdade de Tecnologia
Departamento de Engenharia Florestal
Menção:_______
Banca Examinadora
___________________________
Ildeu Soares Martins, Doutor
Orientador
___________________________
Rosana de Carvalho Cristo Martins, Doutora
Co-Orientadora
___________________________
Manoel Cláudio da Silva Júnior, PhD
Membro da Banca
Brasília, 01/07/2005
Agradecimentos
Dedicatória
Vaclav Havel
(Ex-Presidente da República Checa)
RESUMO
1- Introdução........................................................................................................... 1
2- Revisão de Literatura...................................................................................... 7
2.1 As florestas e o sagrado ........................................................................ 7
2.1.1 Árvores Simbólicas ......................................................................... 7
2.1.2 Crenças e Cultos das Árvores..................................................... 15
2.1.3 Florestas Sagradas ......................................................................... 19
2.1.4 Êxtase Vegetal: as Seivas Mágicas ........................................... 22
2.2 Ayahuasca: o vinho da floresta ........................................................... 24
2.2.1 Origens ................................................................................................ 24
2.2.2 Igrejas Atuais..................................................................................... 33
2.2.3 A Ayahuasca e a Legalidade........................................................ 39
2.2.4 Alquimia vegetal..................................................................... 44
2.3 Consciência ecológica .................................................................. 46
2.4 Conexões ocultas .......................................................................... 52
3- Material e métodos............................................................................... 57
4- Resultado e discussão ........................................................................ 60
5- Conclusões ........................................................................................... 68
6- Recomendações e sugestões............................................................. 70
7- Referências Bibliográficas .................................................................. 72
8- Anexos
(Anexo 1) Parecer do Confen de 1986
(Anexo 2) Ata da 5ª Reunião do Confen
(Anexo 3) Resolução 004/2004 do Conad
(Anexo 4) Carta de Princípios para o uso da ayahuasca
(Anexo 5) Registro de Plantio de B. caapi e P. viridis
(Anexo 6) Autorização para exploração de PMFS
(Plano de Manejo Florestal Sustentável)
(Anexo 7) Autorização para Transporte de Produto Florestal (ATPF)
(Anexo 8) Questionário Aplicado em Campo
1
1 – INTRODUÇÃO
Buda define a floresta como “um organismo especial de bondade e benevolência infinitas
que não faz nenhuma exigência para o seu sustento e espalha generosamente os frutos de sua
atividade vital. Ela fornece proteção a todos os seres e oferece sombra até mesmo ao lenhador
que a destrói.”
Todos dependem de alguma forma da benevolência das árvores. Além de embelezarem a
paisagem elas servem como lar para muitos seres. São elas que ajudam a regular o clima e a
conter a erosão que mata o solo. Quimicamente transduzem1 a energia solar e fixam carbono. São
fonte de alimento e remédios. Existem muitas funções para elas. Até mesmo aqueles que estão
cegos pela ambição, delas se beneficiam pois são a fonte de matéria-prima para a confecção do
papel moeda.
Muitos povos da antiguidade prosperaram devido ao uso da madeira. Seu valor era
comparado às vezes como o do ouro. Na Mesopotâmia, durante o reinado de Naramsin
(aproximadamente 2254-2218 a.C.), as ordens para saquear as cidades priorizava a busca por
madeiras.
A devastação das florestas em várias civilizações alcançou índices tão altos que
acarretaram medidas para a preservação deste recurso. Hamurabi (1792-1750 a.C.), assustado
com a devastação elaborou a seguinte sentença: “se eu constatar dano feito a um galho sequer
[...], não tolerarei que o culpado por esse crime continue vivo”.A pena de morte para quem
cortasse uma árvore também existia no direito de países como Roma, França, Itália e Alemanha.
Roma e Egito propulsaram seu desenvolvimento com o uso da madeira. Da mesma forma,
quando este recurso tornou-se escasso seus impérios decaíram. Em Roma, grandes áreas
florestais deram espaço para ovelhas e agricultura. Mesmo naquela época existiam pessoas
capazes de prever os danos causados pelo desmatamento, mas poucos davam-lhes crédito.
Percebe-se uma similaridade dos problemas ambientais antigos com os atuais. A diferença
é que hoje a destruição é mais fácil e potente.
Alguns povos antigos estabeleciam um contato sagrado com a floresta. Ela serviu de
templo ao ar livre e local de retiro espiritual para sábios. Esta relação também ajudava na
1
Transformar um tipo de energia em outra. Neste caso, converter a energia luminosa do sol em energia química.
2
preservação destes lugares. Acreditava-se que as matas eram morada dos deuses e por eles
protegidas.
Existia a crença de que se certas áreas florestais fossem molestadas recairia sobre os
homens a maldição dos deuses, na forma de prejuízo na agricultura ou doenças. É interessante
notar o reflexo desta crença nos dias atuais: quando o desmatamento avança muito nas áreas
silvestres aparecem novas epidemias e a terra é lixiviada. Mesmo sem possuir o conhecimento
científico de hoje, intuitivamente alguns homens sabiam que o uso desordenado dos recursos da
natureza não era uma atitude ‘natural’.
Observando a atitude do homem que destruiu muito de suas florestas, como é o caso da
Europa que possuía imensas extensões de áreas silvestres, e continua a destruir, conclui-se que
ainda persiste no homem um antigo hábito destrutivo.
O que falta então para que sejam tomadas as medidas equilibradoras que garantirão a
existência dos recursos naturais para as gerações futuras? Pode-se supor que o conhecimento
científico e os recursos financeiros sejam suficientes para trabalhar o desenvolvimento
sustentável. Mas os fatos mostram que ainda falta algo. Pois um dos países mais ricos do mundo
e que já foi até a lua recusou-se em colocar seu nome no Protocolo de Quioto2.
Qual seria o fator capaz de fazer o ser humano preservar a natureza e sua espécie? O que
dizer de mais consciência no manejo e uso dos recursos naturais e que o homem conheça mais
sua casa através da ecologia e a administre através da economia. Ele deve se desapegar dos
antigos paradigmas, pois são estes que dão suporte para as decisões dos homens que detêm o
poder e os atos resultantes, em sua maioria, mostram que eles não tratam bem de sua Oikos3 e dos
seres residentes deste mesmo lugar.
Os astronautas que foram à lua tiveram experiências capazes de mudar suas vidas. Não
apenas pelo privilégio reservado à poucos de pisar no solo lunar, mas um privilégio maior,
enxergar a Terra do espaço. Estes homens, imbuídos de uma missão essencialmente científica
puderam dar pequenos passos para além das fronteiras da mente. Trazendo novas idéias para um
novo paradigma.
O astronauta James Irwin disse: “a Terra nos recorda uma árvore de Natal dependurada no
fundo negro do universo. Quanto mais nos afastamos dela, tanto mais vai diminuindo seu
2
O protocolo de Quioto é um documento feito no Japão em 1998. Nele, vários países concordam em diminuir a
emissão de gases poluentes na atmosfera com o intuito de não alterar as condições climáticas planetárias.
3
Casa em grego e raiz das palavras ecologia e economia.
3
tamanho. Até finalmente ser reduzida a uma pequena bola, a mais bela que se possa imaginar.
Aquele objeto vivo tão belo e tão caloroso parece frágil e delicado. Contempla-lo muda a pessoa,
pois ela começa a apreciar a criação de Deus e a descobrir o amor de Deus”. Outro astronauta,
Gene Cernan, ao contemplar a Terra sentia-se “[...] interiormente, obrigado a louvar a Deus. Deus
deve existir por ter criado aquilo que eu tinha o privilégio de contemplar”.
Um dos objetivos deste trabalho é abordar uma nova consciência que começa a surgir nos
seres humanos. Ela vem unindo uma visão holística4 e espiritual com a ecologia. Pode-se chamá-
la consciência ecológica. Como eixo indispensável de discussão, será tratada também sua relação
com a engenharia florestal.
4
Do grego Holos (o Todo). Esta é uma perspectiva que engloba todas as partes interconectando-as num todo
indivisível.
4
Outro tema que objetiva enriquecer a literatura das ciências florestais é a etnobotânica.
São poucos os trabalhos científicos que abordam este tema e mais escassos ainda são os que
tratam da sacralidade da floresta.
Muitos textos sagrados antigos construíram relações entre o homem e as árvores. Seja em
suas simbologias e mitologias ou na relação direta em que certa árvore era considerada como a
manifestação de alguma deidade. Em certos casos, imensas florestas eram consagradas à um deus
específico.
Esta relação entre o homem e a árvore assumia posições em que aquele se confundia com
esta. Foi por isto que um dos grandes filósofos, Platão, expressou este pensamento: “o homem é
uma planta invertida, cujas raízes se estendem para o Céu e cujos ramos mergulham na Terra”. A
antiga Índia deixou um legado cultural riquíssimo. Num de seus ramos do sistema de Yoga5
(Hatha Yoga) existe uma posição (ásana) do corpo humano que tenta imitar uma árvore. Esta
posição chama-se vriksha-asana6. Enquanto o praticante realiza esta posição, ele imagina que
seus pés são raízes, as pernas um tronco e os braços e cabeça os galhos de uma árvore.
5
Em termos gerais yoga são técnicas mentais e físicas que buscam trazer equilíbrio interior e união com Deus.
6
Vriksha em sânscrito (língua antiga da Índia) significa árvore.
5
7
Palavra de origem quíchua que significa ‘cipó dos espíritos’.
8
Relativo a ayahuasca.
6
2 – REVISÃO DE LITERATURA
A concepção de uso que a maioria das pessoas possuem para atribuir a uma árvore limita-
se aos produtos ‘palpáveis’ que ela pode oferecer. Citando alguns: frutos, folhas, cascas e raízes
para remédios naturais, sementes para propagação ou adornos, óleos, resinas; em outro campo
servem como embelezadoras de ambientes para paisagistas ou plataforma de diversões infantis.
Sua madeira pode ser usada para construção civil, naval e como combustível. Para esgotar esta
lista é necessário conhecer muitas culturas e costumes mundiais.
Dependendo da interação e objetivo de estudo, novas abordagens podem se agregar a
multifuncionalidade de uma árvore. Para um ecologista ela se afigura como um ‘microcosmo’,
pois além da sombra produzida relevante para o estudo do cientista, seus galhos acolhem animais
vertebrados, invertebrados e até outras espécies do reino vegetal.
Sua representatividade como indivíduo possui importância que extrapola os limites de seu
organismo, principalmente quando muitas árvores estão juntas formando as florestas. Influenciam
a área que ocupam e a das regiões vizinhas nos processos: climáticos, do fluxo aquático de micro-
bacias, de erosão, e de lixiviação.
Nas florestas puderam ser encontrados os primeiros habitantes dependentes dos recursos
oferecidos pela natureza: o índio. Durante as descobertas de novas terras, o homem civilizado o
encontrou, e muitas vezes chamava-o também de selvagem.
O termo selvagem possui um significado ambíguo referente à agressividade e à selva
(THOMAS, 1983). Então os selvagens que viviam nas florestas, como os índios, foram os
primeiros homens a conviver com os seres chamados ‘árvores’. Dentro da cosmologia dos
silvícolas, lendas atribuíam nomes e valores culturais para as árvores que agora viviam como
integrantes do cotidiano das tribos.
Aborígines de várias regiões do mundo tiveram seu contato com as árvores e a viam como
um ser. Mesmo recebendo denominações diferentes, referentes a cada idioma, o objetivo de
8
denominar ‘algo de superfície áspera, geralmente de grande estatura, com ramificações e bordas
superiores verdes’ com palavras de seu dialeto que signifiquem ‘árvore’, parece ser algo de fácil
compreensão, pois o homem da cidade também tem seu termo ‘árvore’. Porém, o desenho de uma
árvore (com suas estruturas e partes) e mais suas funções fisiológicas podem formar um símbolo
para explicar ou comparar situações e idéias de natureza não vegetal.
Para Guénon (1962) “[...] o simbolismo nos parece especialmente adaptado às exigências
da natureza humana, que não é puramente intelectual e tem necessidade de uma base sensível
para elevar-se às esferas superiores”. O processo de conceder um significado para um signo
possui algumas variações. Por exemplo, o termo ‘enraizar’ normalmente refere-se às funções
fisiológicas de uma planta, ou ainda aos processos de aprofundamento de um conceito ou
comportamento numa pessoa. O simbolismo, que resulta da interação entre signo e significado,
principalmente nas tradições religiosas e culturais, tem como intuito facilitar o entendimento dos
iniciantes ou ocultar verdades dos não preparados ao conhecimento delas.
Os povos antigos, principalmente os paleorientais9, tradicionalmente religiosos, legaram
para a posteridade conceitos de como o universo é e como este se relaciona com o homem. Um
dos principais era de que existia um centro para o universo, ligando as três regiões cósmicas. Este
ponto poderia estar em qualquer lugar da Terra e assumia por exemplo, as formas de: “Árvore do
Mundo”, “Montanha Cósmica (na qual aparecia no topo uma grande árvore)”, “Pilar Central”,
“Umbigo do Mundo” e de templos e cidades que possuíam nomes de “Vínculo entre o Céu e a
Terra” e “Casa da Base do Céu e da Terra”. E destes símbolos o mais propagado para representar
o centro e ligar as três regiões é a Árvore Cósmica (ELIADE, 1991).
Este simbolismo da árvore seria a ligação e a forma de contato entre os três planos
cósmicos: Céu, Terra e Inferno (SCHLESINGER, 1995). As raízes subterrâneas representavam
os mundos inferiores, o tronco era o mundo visível comum e os galhos estavam nos mundos
superiores. A crença dos antigos orientais era que suas cidades estavam erigidas no centro do
mundo. Como a capital do soberano chinês perfeito que deveria estar próxima à Kieou-mou (Pau
Erguido), a árvore milagrosa que ligava os três planos e as Nove Nascentes aos Nove Céus10
(ELIADE, 1991,1993).
9
Antigos habitantes do oriente.
10
Elementos da mitologia chinesa.
9
11
Fraxinus sp.
10
originam muitos rios. Yggdrasil simboliza a vida no universo. Seus frutos eram homens e seus
galhos abrigavam animais: quatro veados representando os quatro ventos, um esquilo, uma cobra
e a Águia de Odin. Estes dois últimos animais lutam entre si. A serpente Nidhögg tenta derrubar
Yggdrasil e a águia lhe impede. O conflito representa a disputa entre o bem e o mal.
A lenda conta que Odin sofreu durante nove dias e morreu, sendo regenerado cego
fisicamente, mas presenteado pelos deuses com a ‘visão divina’. No dia de Ragnarok o gigante de
fogo Surt incendiará Yggdrasil, esta deverá sobreviver e abrigar os destinados a repovoar o
planeta.
Dentre os textos antigos hinduístas e de rituais xamânicos, várias passagens retratam a
interação entre um homem e uma árvore real que assumia a identidade da Árvore Cósmica. Ao
derrubá-la, preces lhe eram oferecidas como se realmente os participantes estivessem perante
aquele símbolo. Certas passagens retratam a iniciação do xamã subindo numa árvore ritualística
qualquer e isto representava a subida na própria Árvore Cósmica. Deste modo, podia o homem
alcançar o céu (ELIADE, 1991). Noutras tradições, para chegar à Árvore Cósmica, o aspirante
precisava ‘renascer’, passando por uma purificação (CREWS, 2003).
11
Ashvatta (força creadora do cosmos), a eterna árvore simbólica, tem suas raízes, a fonte
primeira, firmadas nas alturas, no Ser Supremo, e seus ramos se desdobram para baixo
pelo mundo ‘creado’12, em incessante mutação, quem isto compreende conhece o
universo.
Este esquema representa a origem (raiz) celeste da criação e o mundo material (galhos). A
seiva que passa pelo ‘tronco’ tem forma de luz (vida) e alcança toda as coisas como o próprio sol.
Esta idéia é reforçada por um dos termos que designa a Árvore do Mundo que na língua sânscrita,
falada em tempos antigos da Índia, é Nyagrodha. Seu significado expressa a idéia de ‘crescer
para baixo’ (GUENÓN, 1962). No Céu, também estavam as raízes da Árvore da Felicidade do
Islã (SCHLESINGER, 1995).
A Árvore da Vida é outra aparição mitológica variante deste elemento. A bibliografia
disponível, no campo antropológico, histórico e religioso, não apresenta uma distinção bem
definida entre os termos empregados como ‘Árvore Cósmica’, ‘Árvore do Mundo’ e ‘Árvore da
Vida’. Possível é observar uma tênue diferença ao se referir à ‘Árvore Cósmica’ enquanto
12
O termo ‘creado’ é utilizado pelo professor Huberto Rohden (tradutor da versão do Bhagavad Gîtâ utilizada neste
trabalho), o qual é explicado por ele mesmo em todos os seus livros: “a substituição da tradicional palavra latina
crear pelo neologismo moderno criar é aceitável em nível de cultura primária, porque favorece a alfabetização e
dispensa esforço mental – mas não aceitável em nível de cultura superior, porque deturpa o pensamento. Crear é a
manifestação da Essência em forma de existência – criar é a transição de uma existência para outra existência. O
Poder Infinito é o creador do Universo – um fazendeiro é criador de gado. Há entre os homens gênios creadores,
embora não sejam talvez criadores. A conhecida lei de Lavoisier diz que ‘na natureza nada se crea e nada se aniquila,
tudo se transforma’, se grafarmos ‘nada se crea’, esta lei está certa mas se escrevermos ‘nada se cria’, ela resulta
totalmente falsa. Por isto, preferimos a verdade e clareza do pensamento a quaisquer convenções acadêmicos”.
12
representação do universo. Mas dependendo de como os termos são inseridos em cada contexto,
podem assumir semelhança de significados.
Nos mais variados tipos de ‘Céus e Paraísos’ existentes nas religiões aparece a ‘Árvore da
Vida’. Sua função comum é ser a fonte da Vida (SCHLESINGER, 1995). O ocidente a conhece,
pois está presente na difundida Bíblia Cristã. Em seu primeiro livro (Gênesis), é mencionado
estando no Jardim do Éden (‘local repleto de belas árvores’), junto com a ‘árvore da ciência do
bem e do mal’:
Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden, do lado do oriente, e colocou nele
o homem que havia criado. O Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores, de
aspecto agradável; e de frutos bons para comer; e a árvore da vida, no meio do jardim, e a
árvore da ciência do bem e do mal. (Gênesis 2, 8,9).
Já no último capítulo, Revelação (Apocalipse cap. 22, vers. 2-3), aparece com
características para curar as nações:
Mostrou-me então o anjo um rio de água viva, resplandecente como cristal de rocha,
saindo do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da avenida e às duas margens do rio,
achava-se uma árvore da vida, que produz doze frutos, dando cada mês um fruto, servindo
as folhas da árvore para curar as nações.
Qual é a melhor recepção, esta ou da árvore de Zacum? Sabei que estabelecemos como
prova para os iníquos. Em verdade é uma árvore que cresce no fundo do inferno. Seus
13
ramos frutíferos parecem cabeças de demônios, que os réprobos13 comerão e com eles
fartarão seus pandulhos14.
Buda alcançou a iluminação sob a árvore Bo ou Bodhi, uma figueira (Ficus religiosa).
Quando uma espécie arbórea representa um símbolo superior todos indivíduos da mesma espécie
13
Indivíduo mal, ruim, perverso.
14
Barriga.
14
na Terra são respeitados como tais (SCHLESINGER, 1995). No centro do paraíso hindu, Jambu-
dvipa, cresce a Árvore da Vida e do Conhecimento Jambu que tem como frutos elefantes
(FORLONG, 1964).
A semelhança nos mitos da Árvore da Vida é a crença que ela concedia o dom da vida, a
longevidade e a imortalidade. Heróis lendários tentaram conquistar seus benefícios , mas no
caminho várias provas e dificuldades eram enfrentadas. Gilgamesh, herói babilônico, que após
vencer obstáculos e se apoderar de tal Árvore a perdeu por astúcia de uma serpente (ELIADE,
1993); semelhantemente ao episódio de Adão e Eva.
O Antigo Testamento bíblico (a Torá), livro partilhado tanto pelos judeus quanto pelos
cristãos, apresenta uma passagem (Êxodo cap. 25, vers. 31-37) na qual Deus manda Moisés fazer
um candelabro (a Menorá), tendo sete braços e feito em ouro. Essa é uma das expressões da
Árvore da Vida na religião judaica (RAMOS, 2001). Porém a mais difundida, alcançando mesmo
os não judeus, é a descrita na Cabala15. Nela, a representação aparece como o diagrama abaixo,
contendo as dez sefirot16que são os canais para a manifestação da energia de Ein Sof , ou Deus,
no mundo dos homens. (PROPHET, 2004).
15
Termo que significa Tradição.
16
Termo que significa dizer ou luzes brilhantes.
15
[...] O homem nessas épocas primárias viu nas árvores forças sobrenaturais, como sua
aparente morte no outono e seu ressurgimento na primavera, características que deram
expressões simbólicas de poderes divinos, dos quais o homem sentia-se dependente, já que
da árvore recebia muito do que necessitava diariamente, enxergando nela o quadro sagrado
de seu próprio ser. Esse convencimento formou nas antigas civilizações a origem de antigas
mitologias e para muitos uma fé, fé que em algumas novas gerações é manifestada pelo
homem, regando a árvore ou ajoelhando-se diante dela (IMAÑA ENCINAS, 1990).
Alguns destes mitos referem-se à origem do homem. Para os mongóis, a raça celestial
vinha de uma árvore atingida por um raio de luz divina e os índios norte americanos, Sioux,
criam que o primeiro homem e a primeira mulher eram duas árvores que foram mordidas por uma
cobra (FORLONG, 1964).
Quando o umbigo de um recém-nascido caía, na tradição dos Maoris17 era costume
colocá-lo junto de uma árvore, recentemente plantada, para esta ser um tohu oranga, ou o signo
da vida para a criança. Em tempos não muito remotos, árvores antigas também representavam
famílias, passando por várias gerações. Quando um novo membro da família nascia, um novo
espécime era plantado. Até a saúde da planta podia estar relacionada com a saúde de seus donos.
17
Povo antigo da Nova Zelândia.
16
Fazer de um vegetal um parente é um costume comum no oriente, sobretudo na Índia onde alguns
ritos literalmente casam um homem ou uma mulher com uma árvore. Na cerimônia a pessoa
ficava até horas com a mão encostada no tronco (FRAZER, 1982).
Várias formas de poder eram atribuídas às plantas, como o de conceder fertilidade e
proteção às mulheres. Algumas tatuavam galhos, troncos e raízes no abdômen para atrair a
gestação desejada e na África a Kigelia africana, com seus frutos parecendo o órgão sexual
masculino, estava relacionada com a fertilidade e mulheres lactantes amarravam fitas coloridas
em seus galhos para a proteção da criança (CREWS, 2003; SÈNE, 2003 ).
O animismo18, influência forte no modo de pensar dos antigos, permeava as relações com
a natureza. A vida estava em todos objetos da paisagem e certos componentes da natureza eram
tratados como seres humanos.
Nas ilhas Molucas19, os habitantes consideravam o craveiro-da-índia (Syzygium
aromaticum (L.) Merr. et Perry) como se fosse uma mulher grávida: não podia ser assustado com
barulhos para não perder os frutos ou para que estes não caíssem prematuramente. O costume
japonês responsável pela garantia de produção de frutos era ameaçar algumas frutíferas com
palavras rudes do tipo “se você não produzir frutos na próxima safra vou te cortar” (FRAZER,
1982, 1960).
O homem também temia a floresta. A palavra ‘pânico’, de origem latina, refere-se ao deus
grego Pã, morador das florestas. O barulho produzido nas matas assustava os transeuntes que
atribuíam o som desagradável a Pã (ENCYCLOPEDIA AMERICANA [s/d]).
Uma das referências bibliográficas mais ricas, sobre o culto das árvores, é a encontrada
nos livros de James George Frazer (1960, 1982) sendo muito citadas por outros sérios
pesquisadores. A extensão de seus livros, além de cobrirem um número enorme de páginas,
descrevem as minúcias de crenças e costumes relacionados com o mundo vegetal desde tempos
antigos e nas mais diversas regiões. Seguem-se mais alguns exemplos deste professor que detém
vários títulos como o de ‘Doutor honoris causa da Universidade de Paris’:
• O respeito e o temor, sentidos em relação à floresta, cresciam mais quando as árvores
eram dotadas de alma ou espírito e derrubá-las não era uma tarefa simples. Na África, os
18
Crença que atribui uma alma aos animais, à coisas e fenômenos da natureza.
19
Indonésia.
17
Wanica, consideram o coqueiro como uma mãe, pois este lhes dava a vida e comida.
Cortá-lo era considerado matricídio.
• Existia também na Europa antiga a crença de que as árvores sentiam dor. Os cortes eram
feitos com cuidados cirúrgicos e acreditava-se que quando se cortava um carvalho, podia-
se ouvi-lo gritar de dor a quilômetros de distância.
• Em muitos povos, as árvores eram vistas como a casa de alguns espíritos e existia o medo
de que se recaísse alguma maldição sobre quem cortasse uma. Os nativos da Indochina,
quando sob comando dos franceses, tinham que derrubar alguns bosques. Antes de
usarem seus machados, pediam desculpas para as árvores dizendo que só estavam
cumprindo ordens e que os verdadeiros responsáveis eram os seus chefes estrangeiros e
pediam para os espíritos encontrarem outra morada. O cuidado com tais espíritos era tanto
que até a madeira utilizada em construções deveria estar no mesmo sentido da árvore.
Este tipo de crença era compartilhado por outras regiões como na África e onde existiam
muitas extensões de floresta, sempre restavam algumas árvores para que os espíritos pudessem
ter uma casa e não se zangassem com os indivíduos da tribo. Muitas vezes os sacerdotes eram
consultados antes de qualquer intervenção na floresta. Oferendas e sacrifícios, inclusive
humanos, realizavam-se para aplacar a ira dos espíritos habitantes das matas ou se conseguir
favores. Na Tailândia, ofereciam-se orações pedindo a permanência dos espíritos nas árvores que
seriam transformadas em canoa, numa espécie de bênção (ENCYCLOPEDIA AMERICANA,
[s/d]).
A magia que permeava principalmente as antigas relações homem-natureza aparentemente
não possuía limites. Todas as construções de mitos, ritos e crenças se originavam numa
infinidade de formas (tão grande quanto o número de espécies conhecidas em cada época).
Se uma árvore fosse considerada com propriedades mágicas sua madeira conservaria estas
características. Nesta concepção, a madeira era utilizada para moldar imagens de deuses, cálices,
cetros, etc (HUGHES, 1984 apud CHANDRAN, GADGIL, 2005). Muitas espécies possuíam este
valor sobrenatural, participando de rituais e consagrando santuários. Uma espécie muito
valorizada durante a história da Europa é o carvalho.
O carvalho (Quercus sp.) era respeitado pelos gregos e séculos não apagaram sua
opulência podendo ser encontrado, no século XIX, em rituais da Igreja na Rússia (FRAZER,
1982). Os Arcadianos diziam ser originados desta árvore e que as abelhas que voavam nas copas
18
Certas árvores possuíam ligações diretas com os deuses. Algumas, segundo a mitologia,
eram deuses transformados em plantas como forma de castigo ou prêmio. A tabela abaixo mostra
exemplos da ligação entre certas espécies e a relação com sua deidade:
O costume de sábios indianos de todas as épocas era viver nas florestas, onde a vida
austera que buscavam podia ser encontrada. As árvores eram símbolo de paciência e tolerância e
sob elas estavam os melhores lugares para que os mestres pudessem passar seus ensinamentos
para os discípulos (PRIME, 1996).
Parte da tradição religiosa envolvendo o reino vegetal e o homem ainda resiste em alguns
países. Rituais pedindo bênçãos e de agradecimentos podem ser notados em regiões agrícolas. Na
Europa comemora-se o ‘1° de maio’, neste dia passeia-se nos bosques, jovens cantam e passam
de casa em casa recebendo vinho e plantando mudas. No dia 23 de abril (dia de São Jorge), há
uma procissão em que a figura principal é a personagem ‘Jorge Verde’. Estes rituais estão ligados
à chegada da primavera e à fertilidade (FRAZER, 1982; ELIADE 1993).
Além destes costumes, outra expressão religiosa liga-se ao culto da árvore e ainda pode
ser observada. As Florestas Sagradas são santuários que resistiram ao tempo e ao homem, por
serem consagradas aos deuses.
antigos e até hoje possuem presença significante nos registros histórico-culturais do homem
moderno.
Registros apresentam a árvore como um dos pontos originários de adoração. Segundo
Elíade (1949) “os mais arcaicos ‘lugares sagrados’ de que temos conhecimento constituem [...]
um microcosmo: paisagem de pedras, de águas e de árvores”. Os antigos santuários possuíam
como um de seus elementos a árvore, como ocorria na Ásia e na Grécia.
Assim as florestas e bosques foram utilizados para adorações e dedicados aos deuses. Sua
importância sacra poderia ser adquirida quando o ancestral de uma tribo parou sob a sombra das
árvores para um descanso ou até mesmo quando um patriarca desapareceu sob as copas das
árvores; um grupo de árvores também poderia ser escolhido como um local de culto e para
oferecer orações aos antepassados tribais (SÉNE, 2003).
A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)
reconhece a existência de florestas sagradas em regiões mundiais como: Austrália, Kênia,
Filipinas e Líbano (CREWS, 2003). Mas o país com maior índice destes bosques sacros é a Índia.
Segundo Swamy et al. (2003) dados indicam a existência de milhares de florestas sagradas em
seu solo e estas podem ser consagradas a deuses com forma de serpente, encarnações de Vishnu20,
Amman (deusa da fertilidade), etc.
Nas florestas de Uttara Kannada (Índia) derrubar árvores é um tabu e até mesmo usar
folhas e galhos mortos do chão destes bosques sagrados só é permitido se não existirem outras
alternativas (CHANDRAN & GADGIL, [s.d.] ).
Na tradição religiosa hindu, as florestas possuem relevância na formação das vilas.
Segundo Prime (1996) existem estes três tipos de florestas para os hindus:
• Shivan: um tipo de floresta que permite manejo e extrativismo.
• Maha vana: local que deveria permanecer intacto como santuário natural.
• Tapovan: refúgio dos sábios, onde apenas a presença deles nas florestas era capaz de deter
ações antiecológicas até de monarcas.
As florestas sagradas não se limitam a sua importância social, religiosa e cultural. Por
terem sido preservadas da ação antrópica puderam permanecer intactas, apresentando espécies
vegetais e animais que são encontradas apenas nelas (CHANDRAN & GADGIL, [s.d.] ).
O número de florestas sagradas existente hoje é menor que o apresentado no passado, pois
quando países como a Índia foram invadidos por culturas diferentes da sua, muitas destas
florestas foram destruídas ( SWAMY et al., 2003).
As florestas apresentam seu valor sacro quando dedicadas aos deuses e ao servirem como
local de adoração. Para os cientistas, a denotação sagrada é pouco usada para referir-se às
florestas, mas a valoração pelos homens da ciência é próxima ao valor dado por aqueles que
20
Deidade do hinduímo.
22
enxergam o lado sacro das selvas. Sabe-se que o clima, umidade, erosão, fotossíntese e outros
processos importantes para a humanidade possuem influência das árvores.
O homem com seu gênio inquieto, que indaga e tenta desvendar as facetas do mundo
natural, buscou conhecer a floresta em suas minúcias. Porém, ela afigura como um universo:
impossível de ser conhecida por um único homem e com meandros tão obscuros que poderiam se
enquadrar como mágicos.
Expedições de várias partes do mundo se aventuraram pelas mais diversas florestas do
globo. Nenhuma conseguiu trazer a descrição completa deste ambiente. Ainda hoje espécies
novas são descobertas, tanto animais quanto vegetais, e não se pode dizer que a lista de novidades
se esgotou.
Cientistas das mais diversas áreas vêem florestas como um imenso laboratório. Coletam
as substâncias produzidas pelos vegetais como se estivessem na busca da pedra filosofal.
Acreditam que nestas seivas, óleos, resinas, etc., podem estar a cura para diversos males
orgânicos do homem. Um dos aspectos negativos desta incursão é a motivação destas indústrias
que nem sempre é filantrópica e dá abertura para a biopirataria.
Mesmo com muita tecnologia e conhecimento científico, o homem não conseguiu
conhecer todos os segredos das plantas e necessitou da ajuda dos silvícolas para seus estudos.
Estes simples habitantes, apenas com sua relação íntima com a floresta e muita naturalidade,
conseguiam extrair remédios para suas tribos.
Nas divisões das castas indígenas aparece a figura do pajé. Dos vários povos rústicos que
se tem conhecimento, em poucos não há a presença de um feiticeiro ou xamã. Esta classe de
homens era conhecedora de mistérios da natureza e tinham poderes de cura. Algumas doenças,
para eles, não eram de causas naturais; originavam-se no mundo dos espíritos. E para curar estas
doenças psíquicas (e as naturais) os índios utilizavam métodos para alterar suas consciências (que
também proporcionavam suas visões místicas).
23
Antigos são os veículos que o Homo sapiens vem utilizando para alcançar estágios
alterados de consciência. Este tipo de transe buscado por diversas tradições, possui diversos
mecanismos endógenos para sua manifestação: oração, mantras, meditação, jejuns, vigília,
mortificação, exercícios corporais, respiração, entre outros. Estas práticas buscam um contato
com a realidade espiritual. Mas os xamãs possuem um meio exógeno para alcançar o êxtase:
plantas e substâncias que produzem alterações de consciência (ZULUAGA, 2002). A própria
mitologia da “Árvore da Vida” já remetia-se á existência de um licor especial que dela era
extraído: o soma, haoma ou amrita - bebida da imortalidade (GUÉNON, 1962).
O soma também era uma bebida da antiga Índia, originada no céu, e comparava-se com a
ambrosia dos gregos (BLAVATSK, 1892). Não existe certeza quanto ao nome das espécies
utilizadas na preparação do soma, devido à extinção desta expressão cultural dos antigos hindus,
mas segundo Forlong (1964) e Blavatsk (1892) elas podem ser: Asclepias acida ou Sarcostoma
viminales.
24
Muitas plantas foram (e algumas ainda são) usadas em rituais de natureza xamânica. Um
dos autores que contribuiu para mostrar este mundo foi Carlos Castaneda. No seu livro “Erva do
Diabo” ele conta suas experiências com um índio mexicano, Dom Juan, que lhe ministrou o
peiote (Lophophora williansii) a datura (Datura inoxia) e um cogumelo (possivelmente o Psilobe
mexicana). Segundo este autor “[...] Desde antes do seu contato com os europeus, os índios
americanos já conheciam as propriedades alucinógenas destas três plantas. Devido as suas
propriedades, elas tem sido vastamente empregadas para o prazer, para curas, para feitiçaria e
para atingir estados de Êxtase” (CASTANEDA, 1997).
Seguem-se alguns exemplos de outras plantas que eram utilizadas para fins medicinais e
espirituais:
• Os escandinavos usavam as flores da bétula (Betula alba) na preparação de uma bebida
mágica e suas folhas tratavam males infantis (FORLONG,1964).
• Os druídas utilizavam o visco (Viscus album), uma planta parasítica, quando crescia nos
carvalhos (o que era um acontecimento raro). Outra bebida mágica se extraia desta planta
e chamava-se “cura-tudo”, podendo neutralizar o efeito de qualquer veneno
(FORLONG,1964).
• Os cogumelos: Amanita muscaria na Ásia e América Norte; e o Caviceps purpurea pelos
pré-socráticos da antiga Grécia (ZULUAGA, 2002).
Dentre estas plantas conhecidas para fins religiosos surge um chá de origem amazônica,
que merece destaque por ainda ser usado pelo homem moderno; a Ayahuasca. Segundo Labate
(2002): “a ayahuasca consiste geralmente na infusão do cipó Banisteriopsis caapi e da folha
Psychotria viridis, à qual se podem acrescentar ainda diversas plantas”. A Ayahuasca será tema
de mais detalhadas discussões no próximo capítulo.
2.2.1 Origens
Um dos mistérios que acompanham o uso da Ayahuasca é o de como estas duas plantas
(Banisteriopsis caapi e Psychotria viridis) que compõem o chá, se encontraram num universo
que possui, praticamente, infinitas possibilidades de combinações vegetais.
25
Outro mistério que instiga a mente dos pesquisadores é a data e o local onde se obtiveram
as primeiras quantidades do chá. Para Milanez (1993) a união das duas plantas foi realizada por
Salomão e remonta ao início da civilização humana. Para Guerra (1976) os incas usavam o chá.
Na determinação da primeira aparição do chá, alguns artefatos arqueológicos – vasos de
cerâmica e estátuas – dão indícios que o chá era usado na Amazônia Equatoriana provavelmente
no período de 1500-2000 a.C. (NARANJO, 1979, 1986 apud METZNER, 2002).
encontrada no Brasil, só que com nome diferente. Neste novo local o nome tinha origem incaica:
Ayahuasca - vinho dos mortos (SCHULTES, 1968).
Os povos indígenas são pontos de referência quanto ao uso deste chá. Os xamãs
utilizavam o caapi como um meio de comunicação entre o mundo espiritual e o material e servia
ainda como fator de coesão do grupo. As tribos Kaxinauá, Sharanawa, Marubo e Ashaninka são
alguns exemplos das que utilizam o chá e o nome dado ao cipó e à bebida por cada uma delas
varia muito. Citando alguns poucos: nixipae, dunuan isun, oni kamarampi, etc (LUZ, 2002).
O costume indígena de beber a Ayahuasca incorporou-se nos rituais dos curandeiros ou
vegetalistas. Este contato cultural aconteceu quando os caucheiros21 encontraram populações
ribeirinhas da região amazônica já condicionadas por culturas estranhas às suas. Os países
envolvidos neste movimento foram: Brasil, Peru e Bolívia. E a época, final do século XIX e
início do século XX, coincide com o primeiro ciclo da borracha (LUNA, 2002).
Além da ayahuasca, os curandeiros podem usar outras plantas como o tabaco (Nicotiana
tabacum), outras espécies do gênero Banisteriopis (B. inebrans, B. quitensis e B. rusbiana),
banhos de ervas, chás, etc. Os curandeiros crêem que ao beberem a ayahuasca podem entrar em
contato com uma realidade diferente da normal, proporcionando comunicações com espíritos
(bons ou ruins). Para eles, a causa das doenças pode ser espiritual e por meio de exorcismos
conseguem curar os enfermos (De RIOS, 1972).
Para chegar aos centros urbanos da atualidade, a ayahuasca passou antes, também, pelas
mãos dos seringueiros. Devido à grande migração ocorrida no primeiro ciclo da borracha, vinda
do nordeste, os seringueiros tiveram contato com os índios e nativos amazônicos. Estas etnias se
“cruzaram” formando famílias mistas. Segundo Franco e Conceição (1999) “é quase certo que a
apresentação da ayahuasca aos seringueiros deu-se nesse contexto de proximidade e contato com
as populações indígenas”.
Na preparação do chá os dois elementos principais são o cipó (Banisteriopsis caapi) e a
folha (Psychotria viridis) fervidos na água. Em algumas tradições outros elementos podem ser
usados na decocção. A descrição dos dois elementos da ayahuasca é feito abaixo.
I – O cipó
21
Caucheiro é o nome dado às pessoas que extraem um tipo de látex do caucho (Castilloa elastica).
27
Existe uma descrição botânica sobre o cipó no próprio livro de Spruce (1970)22:
Descrição: Liana inchada nas juntas. Folhas opostas, 21,3 x 11 (cm), ovais
acuminadas, apiculadas – agudas, finas, lisas na parte superior, pilosas na parte
22
Tradução feita do original de Spruce (1970).
28
Pode-se obter algumas informações adicionais sobre o cipó em Gates (1970): pertence à
família Malpiguiaceae. Sua origem não é conhecida, mas povos indígenas da Amazônia
brasileira, Equador, Bolívia, Peru e Colômbia cultivam esta espécie; além das encontradas
naturalmente. Este gênero está distribuído por quase toda a América do Sul e possui espécies que
podem ser encontradas no cerrado e Rio de Janeiro. Possuem formas que variam de cipó,
trepadeira, arbustos à pequenas árvores.
29
II – A folha
A luz23 encontrada no chá é proveniente da folha Psychotria viridis.
São raros os trabalhos científicos apresentando descrições botânicas sobre estas duas
espécies. Mais difícil é encontrar estes dados sobre a planta da família das Rubiáceas, da qual se
extraem as folhas.
Os autores Rivier e Lindgreen (1972) citam em seu artigo, uma descrição feita por Del
Castillo (1962)24, em sua tese, e eles se referem à descrição como sendo uma das espécies do
gênero Psychotria, utilizadas no chá:
23
Os principais grupos que bebem o chá acreditam que, essencialmente, ele possui dois atributos divinos: a ‘força’
(vinda do cipó) e a ‘luz’ (vinda da folha).
30
24
Tradução do original de Del Castillo (1962).
31
Da união do cipó (B. caapi) e da folha (P. viridis) surge o chá Ayahuasca. Os diversos
grupos que utilizam esta bebida possuem suas formas diferentes de prepará-lo, podendo ser
usados tempo de cozimento e quantidade de material diferentemente em cada ocasião.
Após os primeiros estudos sobre o tema em pauta, que abordavam os aspectos botânicos e
antropológicos, surgiram os pesquisadores da química buscando decifrar os elementos
constituintes do chá e as chaves de sua atuação no organismo humano.
Figura 14 – Desenho feito por um xamã sobre uma visão proporcionada pela
ayahuasca
32
1. Ayahuasca e o sobrenatural
Para receber orientação divina e comunicação com os espíritos animadores das plantas
ou receber um espírito protetor especial.
b. Adivinhação
Adivinhar se estranhos estão chegando; descobrir onde estão seus inimigos e quais são
seus planos; descobrir se suas mulheres são infiéis; ver o futuro claramente.
c. Feitiçaria
Causar doenças em outros por meios psíquicos; prevenção contra maldade alheia.
25
Neurotransmissor presente em várias áreas do sistema nervoso central. Regula uma multiplicidade de funções
mentais.
33
na Psychotria viridis e que se for administrado isoladamente por via oral é inativada
pelas enzimas monoaminoxidases (MAO) existentes no corpo humano. A Ayahuasca,
sendo assim, só é ativa por ser uma mistura das duas plantas, na qual os componentes
beta-carbolínicos no Banisteriopsis caapi possuem um forte efeito inibidor das MAO,
permitindo que a DMT permaneça ativa no organismo humano (LIMA, 2004).
À Ayahuasca ainda são atribuídos outros efeitos psíquicos e também visões26. Para Luna
(1983) os vegetais deste chá são “plantas professoras”. Para Castaneda (1997), segundo seu
mestre Dom Juan, plantas como a datura e o peiote eram aliados. Acredita-se numa ‘vida
consciente’ destas plantas de poder.
Uma das características de muita beleza que a Ayahuasca pode proporcionar aos grupos
que a utilizam é um encontro com a essência cultural do grupo e uma visão real da natureza e da
vida. Outro ponto importante de se ressaltar é que parte das experiências vividas por quem bebe o
chá não podem ser descritas pois estão além das palavras (LUZ, 2002).
26
Visões como: cobras, répteis, símbolos, jaguares, figuras religiosas, pessoas sábias, paisagens naturais são
descritas por Shanon (2002).
27
Palavra derivada de ayahuasca utilizada para se referir aos que a utilizam.
28
Por exemplo: junção da Umbanda com o Cristianismo.
29
Referente ao Espiritismo codificado por Allan Kardec.
30
Uma corrente filosófica-religiosa.
31
Ordem milenar de natureza mística.
34
linhas principais das igrejas ayahuasqueiras brasileiras são: O Santo Daime, a Barquinha e a
União do Vegetal (LABATE, 2002).
Estas linhas possuem fundadores diferentes, bem como rituais e costumes específicos.
Dissidências destes troncos principais (Santo Daime, Barquinha e União do Vegetal) são
encontradas, formando grupos distintos destes eixos, mas levando consigo a denominação e
traços ritualísticos semelhantes aos utilizados no grupo do qual partiram.
Além das três religiões ayahuasqueiras mais conhecidas, Lima (2004) cita o surgimento
de uma quarta: o Centro de Cultura Cósmica, Suprema Luz, Paz e Amor. Serão feitas breves
descrições sobre estas religiões.
I – Santo Daime32
Esta é a primeira religião fundada no Brasil (Rio Branco – Acre), no ano de 1930, pelo
maranhense Raimundo Irineu Serra. Este descendente de escravos, de alta estatura, chegou ao
Acre em 1912, para fazer parte do grupo de extração de látex (CEMIN, 2002; LIMA, 2004).
32
A palavra Santo Daime é utilizada para denominar esta religião ayahuasqueira e também para referir-se a
ayahuasca. Sendo comum usar somente “Daime” para referir-se à bebida. Este nome é a junção do verbo ‘dar’ mais o
pronome ‘me’ (Dai-me = Daime).
35
Ao chegar no Acre ficou sabendo de uma bebida preparada com cipó “jagube”33 e a folha
“rainha”34 e utilizada pelos índios dentro das matas. Interessou-se e foi conhecê-la. Após bebê-la,
a visão de um ser feminino lhe apareceu, denominando-se Clara. Mais posteriormente esta figura
associou-se à Nossa Senhora da Conceição e passou a ser chamada também de “Rainha da
Floresta”. Clara conduziu Mestre Irineu35 até Bolívia e Peru, onde pôde aprender com índios algo
mais sobre a bebida. Mais duas figuras fantásticas lhe aparecem: Rei Ahyusscar e Don Pizon.
Então Mestre Irineu começou a receber os moldes ritualísticos da doutrina do Santo Daime e as
instruções materializadas por meio dos cânticos denominados Hinos36 (JACOUD, 1975 apud LA
ROQUE, 2002).
33
No Santo Daime chama-se o cipó Banisteripsis caapi de jagube.
34
No Santo Daime o arbusto Psychotria viridis é chamado de rainha.
35
Forma respeitosa utilizada para se referir ao fundador desta doutrina.
36
Os hinos são cânticos religiosos utilizados no ritual do Santo Daime.
36
Os trabalhos37, de um modo geral, ocorrem nas igrejas onde os hinários38 são cantados na
forma de bailado39 ou sentado. Alto Santo ou CICLU (Centro de Iluminação Cristã Luz
Universal) são nomes usados para se referir à linha fundada pelo M. Irineu, que morreu no ano de
1971. “Após a morte do fundador, um grupo de adeptos (CEFLURIS – Centro Eclético da
Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra) se expandiu para a maioria das capitais brasileiras
e para alguns países como, por exemplo, a Holanda e a Espanha, países estes onde o uso
ritualizado da ayahuasca é, atualmente, legalizado” (SANTOS, 2004).
O CEFLURIS, uma das dissidências do Alto Santo, foi comandado pelo Sr. Sebastião
Mota de Melo (Padrinho Sebastião) que morreu em 1990, passando-se o comando para seu filho
Alfredo Gregório de Melo.
“Atualmente no Brasil existem além dos sete centros que se autodenominam como sendo
diretamente ligados à origem CICLU, outras 42 igrejas associadas do CEFLURIS e pelo menos
mais 10 grupos independentes. Além de cerca de 30 grupos no exterior sob a bandeira do Santo
Daime” (LIMA, 2004).
Este grupo fundado em 22 de julho de 1961 por José Gabriel da Costa, baiano de Feira
de Santana, também possui relações com o fluxo migratório nordestino para a extração do látex
na região norte. O período é o da 2ª Guerra Mundial que demandava borracha como matéria-
prima para os aliados. Em 1943 José Gabriel da Costa chegou nos seringais amazônicos e desistiu
de trabalhar neles em 1950, quando se mudou para Porto Velho. Em 1959, de volta aos seringais,
conhece a ayahuasca. E no ano de 1961 nasce a União do Vegetal (BRISSAC, 2002).
A origem da UDV também contém elementos que fogem aos fatos comuns. As passagens
são contadas pelo próprio Mestre Gabriel40, em cassetes antigos, numa narrativa intitulada
“História da Hoasca”. Esta gravação inclui detalhes de como o primeiro chá foi preparado há
37
Trabalho refere-se ao ritual utilizando a ayahuasca no Santo Daime.
38
Hinário é um conjunto de hinos religiosos de uma pessoa.
39
O bailado é uma forma de dança sagrada.
40
Forma respeitosa usada para se referir ao fundador desta doutrina.
37
milhares de anos, quando Salomão une duas plantas, o mariri41 e a chacrona42 que nasceram,
respectivamente, nos túmulos dos personagens Tiuaco e Hoasca43 (ANDRADE, 2002).
As sessões44 se realizam com as pessoas sentadas, onde uma fica como dirigente45
respondendo perguntas, autorizando participantes a entoarem chamadas46, etc. É comum ouvir
músicas populares do Brasil, dos mais diversos gêneros e épocas. O conteúdo destas remetem à
imagens construtivas e belas.
A UDV fundada por José Gabriel da Costa possui como nome de registro, perante a
justiça, Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (CEBUDV); em 1988 esta instituição
apresentava em torno de 70 núcleos e 7000 sócios membros em todo o Brasil (BRISSAC, 2002).
Da igreja original desmembraram-se 2 grupos que também se intitulam UDV possuindo seus
próprios dirigentes (ANDRADE, 2002).
III – Barquinha
Barquinha é o nome usado para designar a “Centro Espírita e Culto Oração Casa de Jesus
Fonte de Luz”; religião ayahuasqueira fundada em 1945 por Daniel Pereira de Mattos. Daniel,
antes de fundar a igreja, era boêmio e numa das vezes que estava sob efeito do álcool teve suas
primeiras visões espirituais indicando sua missão. Ele conheceu a ayahuasca pelas mãos de
Raimundo Irineu Serra quando se tratava de uma enfermidade (ARAÚJO, 2002).
A barquinha criada por Mestre Daniel47 possui muitos elementos em seu ritual que
lembram o mar (marinheiro, barco, comandante, etc.), influência de sua passagem em escola de
aprendiz de marinheiro. Nas reuniões cantam-se lindas melodias chamadas de ‘salmos’
(ARAÚJO, 2002).
Como a morte de Frei Daniel em 1958, o senhor Antônio Geraldo assumiu por
aproximadamente 20 anos a liderança do “Centro Espírita e Culto Oração Casa Jesus Fonte de
41
Na União do Vegetal o cipó Banisteriopsis caapi é chamado de mariri.
42
Chacrona é o nome utilizado para designar o arbusto Psychotria viridis na União do Vegetal.
43
Hoasca é o nome da personagem do mito que dá origem ao chá e também como é chamada a ayahuasca no âmbito
da União do Vegetal. Para referir-se ao chá pode-se usar somente a palavra Vegetal.
44
Sessão é nome do ritual da UDV.
45
O dirigente de um ritual com ayahuasca é sempre uma pessoa experiente, com considerável tempo na igreja.
46
As chamadas são cânticos sagrados que ocorrem nas sessões da UDV.
47
Forma respeitosa usada para se referir ao fundador desta doutrina, também chamado de Frei Daniel.
38
Luz”, saindo depois para fundar sua própria igreja (LIMA, 2004). Pelo trabalho de Balzer (2002)
pode-se constatar a existência de mais três igrejas independentes originadas do tronco principal.
Esta igreja é a mais recente e talvez a única do gênero (focalizando sua estrutura e
montagem ritualística). Fundada por Francisco Souza de Almeida aos 20 dias de maio de 1990 no
estado do Mato Grosso.
Mestre Francisco48, além de conviver com o Mestre Irineu (do qual recebeu a ayahuasca
pela primeira vez) durante 11 anos (1960-1971), teve contatos pessoais e significativos com
Padrinho Sebastião (fundador do CEFLURIS), Mestre Gabriel (fundador da União do Vegetal) e
Mestre Antônio Geraldo (dirigente da Barquinha). Em suas passagens pela floresta conheceu
também parte do trabalho xamânico realizado com a bebida ayahuasca.
48
Forma respeitosa usada para se referir ao fundador desta doutrina.
39
O uso ritualístico da ayahuasca sempre fora encoberto por uma névoa, responsável por
deturpações, preconceitos e tabus que formaram a visão de grande parte da população sobre o uso
deste chá sagrado. A véu que encobre a verdade sobre o assunto tem suas origens no
desconhecimento do que é a ayahuasca.
A polêmica sobre a utilização do chá em rituais começou a se formar logo no início do
funcionamento das primeiras igrejas urbanas. Com certa razão, a população cobrava das
autoridades governamentais explicações e posicionamento sobre aquele tipo de manifestação
religiosa que não se enquadrava nos moldes tradicionais de culto espiritual. Iniciou-se deste então
um processo de pesquisas e estudos para comprovar a autenticidade e inofencividade do uso da
ayahuasca num contexto religioso.
49
Para se referir aos elementos (chá, plantas e sessões) desta religião ayahuasqueira pode-se usar tanto os termos do
Santo Daime quanto da UDV.
40
Art. 5º, inciso VI) é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas
liturgias.
50
O termo ayahuasqueiro é usado com referência àquele que bebe o chá.
51
Ficou constatado que existem muitos aspectos envolvidos no uso do ritual da ayahuasca, tais como “sociológicos,
antropológicos, psicológicos, químicos, médicos e da saúde”.
52
Esta informação foi noticiada no Jornal Nacional (Rede Globo) no dia 8 de novembro de 2004.
41
uso da ayahuasca. O novo documento ressalta o já decidido nas resoluções e decisões anteriores e
institui um Grupo Multidisciplinar de Trabalho que agora contará com 6 participantes das igrejas
ayahuasqueiras. Um novo campo será explorado em caráter experimental que é o uso terapêutico
da ayahuasca.
Outro documento relevante é a “Carta de Princípios para o uso da Ayahuasca” (anexo 4)
onde os grupos que utilizam o chá, apoiados pelo CONFEN, assinaram este conjunto de diretrizes
onde acordaram sobre certos comportamentos quanto ao uso do chá. Por exemplo:
• Não comercializar o chá;
• Utilizar somente a ayahuasca sem misturar com outras substâncias que sejam proscritas;
• Os menores só beberão o chá com autorização dos pais;
• Fica assegurado o plantio das espécies vegetais usadas na preparação da bebida, pois o
habitat natural destas espécies é alvo de depredação, etc.
viridis, com fins religiosos, encontra respaldo no art. 56 da Instrução Normativa 004/2002 do
53
Toma-se o Acre como exemplo pois ele é o berço das religiões ayahuasqueiras. Cada estado pode ter sua
legislação específica para a extração do cipó e das folhas do arbusto.
42
IBAMA54. Ela não trata diretamente do uso religioso, mas abrange este tipo de extrativismo (o de
produtos não madeireiros).
Para extração do cipó e das folhas do arbusto, as igrejas podem registrar um plantio de
ambas as espécies, em área definida, perante o IBAMA, provando assim que estão realizando a
reposição florestal. Podem solicitar a retirada do material em áreas florestais que serão
derrubadas ou queimadas.
Sumariamente o processo é o seguinte55:
1. a igreja pede que seja registrado um documento de reposição florestal no IBAMA, onde
aparecem a localidade e a quantidade de mudas plantadas (Anexo 5).
2. após o IBAMA protocolar e processar o documento anterior, é expedida uma autorização
(Anexo 6) para a extração destas espécies, pois a reposição já foi realizada.
3. após a colheita do cipó e das folhas a igreja requerente recebe a Autorização para
Transporte de Produto Florestal (ATPF) (Anexo 7).
54
Art. 56 - A exploração de produtos não-madeireiros realizada por populações agro-extrativistas tradicionais fica
isenta da apresentação de plano de manejo, até a expedição de normas específicas por parte do IBAMA.
55
Os anexos referidos desta lista são documentos reais do processo descrito e pertencem ao “Centro de Cultura
Cósmica Suprema Luz, Paz e Amor”.
56
Ver www.idacefluris.org.br/institucional/apresent.htm
43
57
ver www.udv.org,br/portugues/area_verde/links/link_para_1/principios_e_objetivos.html
44
Distante das visões pessoais emitidas por leigos sobre o chá, intitulando-o muitas vezes
como “droga”, estão os benefícios alcançados por participantes de rituais ayahuasqueiros. Desde
os xamãs peruanos com seus ícaros58 aos centros urbanos não são raros casos de curas relatados
em depoimentos. Segundo Mckenna (2002), a ayahuasca é “não tóxica e terapeuticamente útil
para a medicina” e possui “potencial de cura”.
Estas curas podem alcançar níveis psicológicos59 e os dependentes químicos. Na cidade
de Tarapoto (Peru), o médico francês Jacques Mabit dirige o Centro Takiwasi60 que une o
xamanismo amazônico (com a ayahuasca) e as técnicas contemporâneas de medicina no
tratamento de toxicômanos.
Seguindo o mesmo tipo de trabalho realizado com a ayahuasca e dependentes químicos,
um vitorioso exemplo é o da igreja daimista61 “Centro Eclético e Espiritual, Sanidade, Gratidão e
Doação ‘Céu Sagrado’ ” localizado em Sorocaba – SP. A proporção alcançada de cura entre
dependentes químicos é tão grande que em agosto de 2004, rendeu à igreja “Céu Sagrado” o
“Prêmio Darcy Ribeiro”62, recebido na Câmara Municipal de Sorocaba, por atividades
filantrópicas. Os próprios profissionais da rede publica, em certos casos, encaminham pacientes
diretamente para esta igreja (PROENÇA, 2004).
Os efeitos psíquicos provocados pelo chá63, em última análise, não devem ser vistos como
o único fim almejado por quem utilizada ayahuasca. Existem as influências causados por quem
bebe o chá sobre a sociedade. O grupo de trabalho instituído pela resolução Nº 04/85 do
Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN64), num de seus trabalhos de campo em igrejas do
Santo Daime e UDV constatou em seu relatório65 que:
58
Ícaros são os cânticos dos xamãs curadores em seus rituais.
59
Vários relatos podem ser encontrados em Metzner (2002).
60
Ver www.takiwasi.com e MABIT (2002).
61
O termo daimista refere-se ao uso do Santo Daime (bebida) por uma organização ou pessoas.
62
Este prêmio é concedido pelo instituto de mesmo nome, “Darcy Ribeiro”, para a entidade que mais se destaca no
campo cultural e filantrópico de cada ano.
63
Ver exemplos de De Rios (1972) nas páginas 32 e 33 deste trabalho e Grob (2002).
64
Foi este grupo de trabalho que forneceu informações de campo para a formulação do parecer de 31 de janeiro de
1986 do CONFEN (Conselho Federal de Entorpecentes). Ver página 40.
65
Parte deste relatório está em União do Vegetal (1989).
45
• Findas as cerimônias, todos de uma maneira aparentemente normal e ordeira voltam aos
seus lares. Os seguidores das seitas parecem ser pessoas tranqüilas e felizes. Muitas
atribuem reorganizações familiares, retorno de interesse no trabalho, encontro consigo
próprio e com Deus, etc, através da religião e do chá.
• O efeito observado provavelmente é devido não somente ao chá, mas ao ambiente como
um todo, às músicas, e danças66 concomitantes, etc.
66
O relator deste parecer referia-se ao bailado, pos o termo danças retira um pouco da sacralidade e ordem do ritual.
Tal equívoco deve-se, provavelmente, à inexperiência.
67
Estes possuem virtudes de liderança e carisma que os fazem reconhecidos como pessoas de bem e éticas. Além das
mensagens proferidas pelos dirigentes atuais de cada religião ayahuasqueira (que usa ayahuasca), existem registros
de ensinamentos a palestras dos fundadores já falecidos. Quando não escritos por eles próprios ou gravados em
cassetes, foram (e são) transmitidas oralmente pelos contemporâneos que conviveram com estes sábios homens.
Muitos destes testemunhos foram transformados em livros.
46
A ecologia68 é uma das pautas mais destacadas nos assuntos mundiais. Abrange escalas
globais, como a Amazônia, e vai descendo níveis geográficos e sociais até alcançar um córrego
ameaçado por grileiros69. Mesmo sendo um ramo científico, a ecologia possui um significado nas
mentes mais humildes.
Em 1866, o cientista alemão Ernest Haeckel uniu duas palavras gregas oikos, que
significa casa, e logos, que significa estudo, cunhando a palavra ecologia que, por sua vez,
significa o estudo da casa.
O sistematizador e o colecionador, da época de Haeckel, viam cada ser vivo como peças
individuais. A nova ciência ecológica que surgia considerava os seres como um todo, observando
também a vida dos organismos (AGUESSE, 1972). Parece que houve uma evolução do foco na
natureza, antes via-se as partes passando-se então à visão dos ecossistemas. A própria ecologia
vem evoluindo desde sua aparição como ciência e principalmente quando este termo alcançou
popularidade o que se deu, segundo Acot (1990), em 1970.
A ecologia pode ser definida em sentido estrito como o “estudo da estrutura e função da
natureza. Deve ser perfeitamente compreendido que a humanidade faz parte da natureza, desde
que estamos usando a palavra natureza para incluir todo o mundo vivente” (ODUM, 1975).
A ecologia deixou de ser apenas uma ferramenta de trabalho operada pelo homem para
estudar os animais e as plantas. Hoje existem vários segmentos onde a ecologia está inserida:
ecologia humana, antropologia ecológica, ecologia social, ecologismo, psicoecologia, economia
ecológica, etc.
Uma das lentes pela qual a ecologia passou a usar para observar a natureza é a ética.
“Temos aí uma boa possibilidade de aproximar os termos ética e ecologia. Êthos significa
inicialmente casa e oikos também. Aliás, é esclarecedor para nosso trabalho que o primeiro tenha
passado posteriormente a significar caráter” (DUARTE, 1983).
Unindo a ética e a ecologia surge a “ecologia profunda”, na década de 1970, criada pelo
filósofo norueguês Arne Naess. Contrariando a “ecologia superficial” que visa a proteção da
68
A palavra ecologia é usada, neste trabalho, no seu sentido mais amplo, não se referindo especificamente (nem
desvalorizando) seu sentido puramente acadêmico.
69
Aqueles que se intitulam donos de terras utilizando falsas escrituras.
47
natureza apenas para não se esgotar a matéria prima da economia, a “ecologia profunda” ressalta
o respeito pela vida e pelo valor que cada organismo intrinsecamente possui, independente do
valor que o homem lhe atribui (AVELINE, 1999).
O que acontece atualmente são provas de que o homem não vem respeitando a natureza. É
possível observar através dos meios de comunicação (cada vez mais rápidos e abrangentes) a
destruição constante do planeta Terra. Queimada em florestas, despejo de lixo industrial em rios,
desmatamento de áreas virgens para estabelecer monoculturas ou gado, acidentes ambientais em
larga escala, poluição, comércio de animais silvestres, etc. Mas pelo menos, “estes são os fatos
que estão por trás da tomada de consciência ecológica” (MOSER, 1992). Consciência ecológica é
uma expressão que vem ganhando espaço para além da literatura especificamente ambiental.
Para Capra (1982) a palavra “consciência” (formadora da expressão consciência
ecológica) é usada em varias disciplinas como a psicologia, a filosofia, a física, a neurociência, a
arte e nas tradições místicas. A maioria das concepções existentes, acerca da palavra, parece se
opor em duas correntes que podem ser compatíveis. São elas:
1. Ocidental: onde a consciência surge num determinado ponto de evolução biológica.
2. Mística: nesta corrente a consciência é um estado puro ligado ao divino, de natureza
espiritual.
Seguindo estas definições, pode-se inferir que a consciência ecológica aborda os aspectos
comum e abstrato da relação do homem com a natureza. Nestas relações pode-se incluir a
responsabilidade70 e uma tênue ligação com o planeta chamado Terra. Pois “[...] todas as coisas
estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo” (SEATTLE, 1954).
Vários autores definiram ou trataram, segundo suas ciências ou culturas, a idéia da
consciência ecológica. Alguns exemplos são:
• “[...] a consciência ecológica está intimamente ligada à preservação do meio ambiente”
(SIRVINSKAS, 2005).
• “[...] não podemos desconhecer nem subestimar os elementos religiosos que integram –
mesmo veladamente – nossa consciência ecológica e nosso comportamento com o Meio
Ambiente” (COIMBRA, 2002).
70
Responsabilidade é um dos significados de consciência, segundo Ferreira (1986).
48
71
Doutrina religiosa que tem como fundador Sidarta Gautama, o Buda.
72
Segmento filosófico-religioso fundado por Lao-Tsé que busca um caminho (Tao) de equilíbrio entre as duas
energias presentes no universo: ying e yang.
73
James E. Lovelock abrange minuciosamente os fatos que sustentam a sua hipótese, em suas publicações, com o
auxílio de Lynn Margullis que é microbiológa.
74
Palavra originada do grego kubernetes = timoneiro. Refere-se à capacidade de uma organismo ou máquina manter-
se num rumo ótimo mediante circunstâncias mutáveis para alcançar um objetivo. Por exemplo: um homem que se
capacita em manter o equilíbrio num barco na água. A cibernética seria o “jogo de corpo” (rumo ótimo); o balanço
da embarcação as “circunstâncias mutáveis”; e manter-se em pé o “objetivo”.
49
Esta concepção da Terra como a Grande Mãe e Pacha Mama, por sua imensa
fecundidade, era adotada por antigas civilizações (BOFF, 1995). Mas durante o progresso da
ciência foi sendo esquecida.
Francis Bacon, no século XVI, foi um dos iniciadores da mudança da forma de ver a
Terra. Antes, ela era uma mãe nutridora, de natureza orgânica, e com os pensamentos de Bacon
passou a ser vista como uma máquina. Descartes e Newton também contribuíram para realçar
esta visão mecânica do mundo. Para Descartes, os organismos (vegetal e animal) eram simples
máquinas. Newton já observava o mundo sob a ótica da física mecânica (que obedecia a leis
imutáveis), e o cosmos também seria uma grande máquina. Porém, a contribuição destes
pensadores é de muita importância para a ciência atual, pois baseando-se em sua doutrina foram
possíveis viagens espaciais (CAPRA, 1982).
Com o esquecimento da essência viva do planeta houve um distanciamento entre o
homem e a natureza. E para Merchant (1989) a imagem materna da Terra (vista como um
50
organismo vivo nutridor) era o que a protegia de degradação, pois ninguém iria destruir sua
própria mãe.
O homem, então esquecido de ‘Gaia’ e obcecado pelo dinheiro, veio ferindo a Terra até os
dias de hoje, formando uma cenário de destruição tão amplo e conhecido que dispensa
descrições.
Não obstante, a ‘hipótese de gaia’ vem ressurgindo tanto na mente dos filósofos e
cientistas como nas mentes das pessoas simples ou das mais variadas formações. Um exemplo é a
afirmação do professor de Direito, Edis Milaré (2004):
A Terra não é simples litosfera coberta, em parte pela hidrosfera e envolta pela
atmosfera. Ela é um gigantesco organismo vivo, de uma vida sui generis75, em que a
biosfera é somente parcela representativa. O maravilhoso fenômeno da vida
planetária é algo transcendente. Por isso requer os cuidados de uma ética apropriada:
a ética da Vida que não se limite à consideração parcial da biosfera, mas busque
alcançar dimensões planetárias e cósmicas.
Observa-se o surgimento de uma visão mundial, propiciada pela física moderna, em que a
“concepção mecanicista” é transcendida. Esta nova visão pode ser caracterizada pelas palavras
orgânica, holística e ecológica (CAPRA, 1982).
A consciência ecológica é formada por palavras que cada vez mais agregam para si novos
sentidos. Sendo assim, a consciência ecológica é uma expressão maleável.
Um dos grandes ecólogos mundiais, Eugene P. Odum, propôs uma “nova ecologia” onde
o “holismo”76 estaria na ciência e tecnologia. Não seria uma interdisciplina, mas uma disciplina
integrativa com abrangência nos campos da economia e da política (ODUM, 1977).
Esta visão holística possui um papel importante na ciência atual e a transdisciplinaridade
que pode envolvê-la foi ressaltada num documento chamado ‘Declaração de Veneza’77,
organizado pela UNESCO78, em seu terceiro ponto:
75
Expressão do latim que significa: peculiar (FERREIRA, 1986).
76
O holismo, do grego holos = o todo, é uma concepção de abrangência, onde, por exemplo, uma ciência conteria
uma parte de todas as outras ciência. Tudo estaria conectado e relacionado.
77
A Declaração de Veneza é um documento escrito por vários pensadores e cientistas mundiais em Veneza, entre os
dias 3 e 7 de março de 1986. Foi organizado pela UNESCO com a colaboração da Fundação Giorgio Cini. Pode ser
encontrada em Brandão (1991).
78
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
51
Num primeiro exame, é possível considerar todos estes elementos distintos entre si:
engenharia florestal, o sagrado, a ayahuasca e a consciência ecológica. Porém, uma observação
minuciosa e uma abordagem holística poderão iluminar as conexões ocultas que ligam estes
temas.
A abordagem holística é um dos princípios básicos do Programa Nacional de Floresta79 da
FAO (Food and Agriculture Organization). Também relacionada com a ONU (Organização das
Nações Unidas), a Agenda 2180, em seu capítulo 11 (Combate ao Desflorestamento81), ressalta a
proteção das florestas em seus valores ambientais, sociais e espirituais.
Sob esta perspectiva, a ciência florestal pode ser enriquecida com o holismo ou a
multidisciplinaridade e convida à reflexão sobre o caráter espiritual ou sagrado que as formações
florestais podem ter.
Alguns dos pioneiros escritores sobre a ciência florestal brasileira, possuíam a percepção
de “algo a mais” presente nas florestas. É o que sugere Pereira (1950) numa de suas definições de
floresta, encontrada na obra “Direito Florestal Brasileiro”:
O direito pela floresta não se continha nos puros limites da administração leiga. O
reconhecimento de sua importância, a perfeita verificação dos imensos benefícios que
ele traz ao Homem e a todos seres animados, elevou a floresta a um dos maiores dons
concedidos pela natureza. Encheu de admiração os seus espectadores, maravilhados
com a milagrosa influencia da mesma, na formação dos alimentos, do vestuário, dos
utensílios, da habitação, de tudo enfim que é indispensável à vida. Tão poderoso fator
para a sobrevivência da Humanidade não poderia deixar de ser uma “Força Divina” e
como tal merecedora de culto e de templos em que se fosse devidamente adorada.
79
Conferir www.fao.org/forestry/site/3067/en (Acesso em 13/06/2005).
80
A Agenda 21 é o fruto de uma das maiores reuniões mundiais (179 países), a “Cúpula da Terra”, no Rio de Janeiro
em 1992.
81
Capítulo 11 (11.13 (b) ).
53
82
Este “Centro do Mundo” é como o exposto por Elíade (1991, 1993)
83
Tudo que se relaciona com a floresta, se não diretamente, indiretamente pode ser relevante para a engenharia
florestal.
84
No site oficial da FAO está disponível em meio eletrônico o livro “Desarollo de productos florestales no
madereros em América Latina y el Caribe”. Conferir www.fao.org/docrep/t2360s/2360s00.htm e
www.fao.org///docrep/t2360s/t2360s04.htm (Acesso em 13/06/2005).
85
Esta primeira idéia seria um espaço físico apenas para daimistas.
86
O novo objetivo que é o Parque, agora torna-se um ponto de encontro para todas as religiões e visitantes, sendo
considerado um espaço ecumênico.
87
Jaraguá significa “Senhor dos Vales”. Referência à topografia da região.
54
88
Os ayahuasqueiros das metrópoles consideram a viagem para a floresta como uma peregrinação espiritual. É como
se a Amazônia fosse uma “Meca”.
89
Os hinários são um conjunto de hinos (a manifestação musical sagrada do Santo Daime).
90
As músicas, selecionadas dentre o repertório da música popular brasileira, são o veículo de transmissão de algumas
mensagens e ocorrem em religiões ayahuasqueiras como a UDV.
55
Quando penso no futuro do nosso planeta Mamãe Terra, ela trata bem seus filhos
Fatalmente eu me lembro dessa gente tão careta Mas os filhos, não ligam importância
Que não ta nem aí pro que pode acontecer Dá o alimento, dá as curas, dá a força
Que tudo quer pra si e não quer nem saber E tanta beleza para apreciar
E o que será das crianças e de toda evolução
E o que fará a ciência contra essa corrosão Aprecie tudo o que ela oferece
Ecologistas sim, imediatistas não E a nós entrega com todo vosso amor
E como controlar toda essa poluição Respire fundo e preste mais atenção
Veja o que você joga pelo chão
Revolução, sem choro nem guerra
Evolução, paz, vida e amor na terra Muitos se dizem filho da floresta
Mas bem poucos a ela têm amor
Me sinto indispensável como tantos, e você Até lixo lhe atiram sem respeito
Tentando com a canção atrair a sua atenção Porque não ouvem o canto do beija-flor
Fazer um mundo novo sem fome, sem corrupção
Unindo nosso desejo numa só intenção Pra merecer esta morada é preciso
Precisamos salvar as florestas e a Amazônia Ter respeito e viver em harmonia
E proteger sua vida contra a devastação Educação, humildade, gratidão
É o pulmão da Terra, equilíbrio, proteção Porque tudo é sagrado, meu irmão
E como controlar toda essa poluição...
Lá no céu, o Sol, a Lua e as estrelas
Não dá mais pra esperar, não dá mais pra seguir É Deus em tudo e em todo o lugar
Tanto faz norte ou sul, a verdade está aí Deus no vento, Deus na Terra, Deus no Mar
É preciso salvar o planeta azul... Pra todos nós, louvar e respeitar.
Baby Consuelo e Nando Chagas – Ora pro nobis Hino 3 do Hinário “Fluente Luz Universal”
do Padrinho José Ricardo.
56
Uma pessoa com consciência ecológica91 muitas vezes pode agir (e contribuir) como um
engenheiro florestal. Em sua formação, este profissional, adquiriu conhecimentos de como
preservar o solo, as águas, as florestas, o ambiente e a necessidade de plantar árvores92. Este tipo
de atitude perante a natureza não é exclusiva dos profissionais da área ambiental e nem de
participantes de religiões ou filosofias específicas. Qualquer pessoa pode desenvolver este senso;
esta consciência ecológica.
O termo ‘engenharia’ significa: “arte de aplicar conhecimentos científicos e empíricos e
certas habilitações específicas à criação de estruturas, dispositivos e processos que se utilizam
para converter recursos naturais em formas adequadas ao atendimento das necessidades
humanas” (FERREIRA, 1986). O engenheiro florestal usa o conhecimento para extrair dos
recursos florestais produtos e serviços para a humanidade. Sendo assim, munidos de uma
consciência ecológica, as operações realizadas na floresta poderiam produzir menos impacto para
o meio ambiente e conseqüentemente menos repercussões negativas para o homem e menos
desperdício dos recursos naturais que são lentamente renovados e ameaçam extinguir-se.
91
Esta expressão não é apresentada em nenhuma parte deste trabalho como sendo a única para expressar respeito e
reverência pela natureza, bem como o conhecimento científico e ecológico.
92
O conhecimento de um engenheiro florestal também inclui: taxonomia, dendrometria, anatomia vegetal, etc.
57
3 – MATERIAL E MÉTODOS
2ª) Questionário
93
No sentido de dar forma.
94
Todos os questionários foram aplicados pelo autor deste trabalho.
58
2-Você acredita que um viver mais ligado à natureza influencia, positivamente , um contato
religioso para o ser humano ?
3-Para você é possível que a religião ajude o ser humano a proteger a natureza ?
95
De acordo com a característica de pergunta e as respostas obtidas.
96
Sua formatação para aplicação em campo é o anexo 8.
59
“A Consciência Ecológica é uma virtude espiritual, enraizada num sentimento vivo de amor
e respeito entre os seres humanos e a natureza e que vê estas partes intimamente ligadas
formando um só corpo: o planeta Terra.”
5-Você acha que a consciência ecológica pode equilibrar, beneficamente, o convívio do ser
humano com a natureza e com os povos da Terra?
8- Você gostaria de participar de uma cerimônia que utiliza o chá, sem bebê-lo, com o intuito
de conhecer este tipo de reunião?
9- Você sabia que as igrejas sérias são legalizadas e autorizadas à funcionarem pela justiça
governamental brasileira e que existem grupos nos Estados Unidos e na Europa ?
10- Você sabia que existem relatos de curas orgânicas pessoais e de toxicômanos, em níveis
reconhecidos por autoridades competentes ?
97
Estas duas palavras são usadas como sinônimos; foi citada mais de uma possibilidade para abranger melhor o
conhecimento das pessoas.
60
4 – RESULTADO E DISCUSSÃO
Parte dos objetivo foi alcançada na revisão de literatura. Já o questionário será analisado
na seqüência das perguntas e de acordo com as respostas (em porcentagem) que podem ser
observadas nas figuras 19 e 20. A figura 19 mostra o resultado da pesquisa considerando os dois
grupos (aleatório e ayahuasqueiro) como um só e será chamado ‘Análise Geral’, sua
peculiaridade está na seqüência das perguntas que será até a de número 6 (pois este tipo de
análise não foi muito compatível com as perguntas de 7 a 10)98.
A figura 20 mostra a ‘Análise Específica’ tratando os dois grupos (aleatório e
ayahuasqueiro) separadamente. Em ambas as figuras o eixo Y representa as porcentagens e o eixo
X representa as perguntas (que estão representadas pela letra ‘P’ seguida do número
correspondente à questão).
98
As perguntas 7 a 10 são voltadas para o tema ‘ayahuasca’ e como um dos grupos é ligado diretamente com o tema
uma análise geral pode ser tendenciosa.
61
Análise Geral: Para a maioria dos entrevistados (86%) a floresta é sagrada. Este valor
99
sacro também foi reconhecido na Eco-92 , mostrando que esta valoração ambiental existe em
níveis relevantes entre os seres humanos.
99
Ver página 52.
100
Em:<http:www.idacefluris.org.br/institucional/apresent.htm> acesso em: 04 de junho 2005.
62
Pergunta 2: “Você acredita que um viver mais ligado à natureza influencia, positivamente , um
contato religioso para o ser humano ?”
Pergunta 3: “Para você é possível que a religião ajude o ser humano a proteger a natureza ?”
Análise Geral: A maioria dos entrevistados (87%) creditou à religião um fator ecologista.
Para Elíade (1971)102 “[...] a vida religiosa consiste precisamente no exaltar da solidariedade do
homem com a vida e a Natureza”.
Religiões mundiais possuem em suas raízes considerações importantes sobre a relação
homem-natureza. Eis alguns exemplos:
• Certas leis do Islã são baseadas no Al Corão. Passagens deste livro sagrado
reforçam que os elementos dos reinos vegetal e animal são seres viventes; seres
criados por Allah (Deus), assim como os humanos. E todos seres devem ser
respeitados (MASRI, 1997). O profeta Maomé (A Paz esteja com Ele)103 em
101
Em:<http:www.udv.org.br/portugues/area_verde/index.html> acesso em:04 de junho de 2005.
102
Esta citação de Mircea Eliade está em Schwarz et al. (1993).
103
Uma das expressões usadas em forma de respeito ao se referir ao principal profeta do islamismo.
63
sábias palavras mostra a unidade da criação: “Todo aquele que é bom para as
criaturas de Deus, é bom para consigo mesmo104“.
• Prime (1996) mostra que os hindus também possuem uma perspectiva ecológica
sobre a natureza. Para eles, a prosperidade e felicidade são o resultado da
harmonia religiosa entre o homem e a natureza. O mesmo autor declara: “viver em
harmonia com a natureza, demonstrar amor para com todas criaturas, nunca
maltratar um ser vivente, regozijar-se na Beleza de uma vida natural de
simplicidade: esta era a prática religiosa de Krishna105”.
• É interessante notar que o calendário judaico traz algumas festas que podem ser
consideradas ecológicas. Uma delas, descrita por Wainer (1996), é o “Ano Novo
das Árvores”. Esta comemoração anual ocorre em Tu Bishvat (15 de Shvat), o que
equivale a data aproximada de 15 de janeiro no calendário cristão. Neste dia são
plantadas muitas árvores, especialmente pelas crianças.
• O cristianismo ecológico é fortemente influenciado pelo exemplo de São
Francisco de Assis e pela mensagem de amor universal trazida por Cristo.
Análise Específica: Talvez por terem a floresta como sagrada e por serem adeptos de uma
religião ligada à natureza, os ayahuasqueiros possuam um sentimento de proteção ao
mundo natural. Estes fatos podem ter influenciado uma maior associação entre religião e
ecologismo no grupo ayahuasqueiro (98%) que no grupo aleatório (76%).
Mesmo distantes da floresta, os ayahuasqueiros urbanos estão fortemente vinculados à ela
e preocupam-se em preservar todo esse mundo encantado (CHAPUIS, 2002).
Pergunta 4: “A Consciência Ecológica é uma virtude espiritual, enraizada num sentimento vivo
de amor e respeito entre os seres humanos e a natureza e que vê estas partes intimamente
ligadas formando um só corpo: o planeta Terra”. Esta é uma boa definição de consciência
ecológica ?
104
Citação encontrada em Masri(1997).
105
Deidade principal do hinduísmo.
64
Análise Geral: De todos entrevistados 85% considerou esta uma boa definição de
consciência ecológica. A intenção desta definição foi englobar elementos
(interdependência, interligação, religião e espiritualidade) apresentados por Capra &
Steindl-Rast (1991) ao abordarem o tema; as idéias apresentadas no tópico Consciência
Ecológica deste trabalho; e o amor (por ser um valor difundido nas tradições
espiritualistas).
Análise Específica: O grupo dos ayahuasqueiros concordou plenamente (100%) que esta é
uma boa definição de consciência ecológica; um índice de 30 % a mais que o grupo
aleatório (este registrou 70% de aprovação do conceito apresentado).
A diferença constatada pode estar no fato de que um segmento religioso (qualquer um)
está mais familiarizado com a forma de uso das palavras no conceito que conecta
elementos subjetivos (espiritualidade e amor) com a ecologia enquanto ciência material.
Pergunta 5: “Você acha que a consciência ecológica pode equilibrar, beneficamente, o convívio
do ser humano com a natureza e com os povos da Terra?”
Análise Geral: Esta análise apresentou um resultado quase homogêneo (98%)106 e por isto
dispensou-se a análise específica. A maioria das pessoas entrevistadas acredita que a
consciência ecológica pode ser um meio de minimizar os danos à natureza bem como
diminuir os conflitos entre as nações. A interdependência e a conexão de todos os seres ,
implícitas na consciência ecológica, pode ter influenciado este resultado.
Um dos documentos apresentados pela ONU na Eco-92107 corrobora, ao menos em parte,
com a idéia contida na pergunta 5 do questionário. O documento em seu 25º Princípio diz:
“Paz, desenvolvimento e proteção ao meio ambiente são interdependentes e indivisíveis”.
106
Ou seja, os dois grupos responderam, praticamente em 100%, sim à pergunta.
107
O nome do documento é ‘Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento’ e encontra-se em
Grayson (s/d).
65
Análise Geral: Da mesma forma que na pergunta anterior, as respostas desta pergunta
foram quase homogênea e dispensou-se a análise específica. O amor foi considerado pela
maioria dos entrevistados (96%) como uma das formas de se obter o sucesso na proteção
da natureza e na harmonização dos conflitos humanos108. A causa pode ser que este valor
espiritual é muito difundido nas religiões e filosofias espirituais.
Em seu livro História da Ecologia, Acot (1990) faz um belo ‘casamento’ entre amor e
ecologia:
Na pergunta foi utilizada a palavra amor como uma das formas de harmonizar as
relações do ser humano com seu meio, mas outras virtudes também poderiam ser citadas
como: compaixão, fraternidade, etc. Por serem pouco referenciadas na literatura científica
atual muitos cientistas não reconhecem estas virtudes inerentes à natureza humana e suas
possíveis repercussões positivas em todos os campos da sociedade.
A riqueza das qualidades humanas pode iluminar a ciência com uma nova
perspectiva; somando a sabedoria com a inteligência. Se este novo paradigma se
estabelecer muitos serão os benefícios, inclusive para a engenharia florestal. Pois a
“introdução de uma parcela de humanismo na Engenharia constitui aspecto de
extraordinária importância na atualidade, em face da necessidade cada vez mais imperiosa
de compatibilizar o desenvolvimento tecnológico com a manutenção da qualidade do
ambiente indispensável à sobrevivência e bem-estar da humanidade (BRANCO 1980)”.
Nesta pergunta será analisado apenas o grupo aleatório, pois o grupo ayahuasqueiro é,
obviamente, conhecedor do chá.
108
Conferir a relação entre as perguntas 5 e 6.
66
-Análise Específica: Menos de 50% (mais precisamente 44%) das pessoas entrevistadas
aleatoriamente conheciam a ayahuasca. Os meios de comunicação não abordam com
freqüência o tema das religiões ayahuasqueiras (que não fazem propagandas publicitárias
sobre si mesmas). Mas mesmo assim, Brasília apresenta uma alta concentração de igrejas
ayahuasqueiras e na internet é possível encontrar muito material sobre o assunto109. Esses
fatores são suficientes para informar pelo menos a existência desta prática religiosa.
Pergunta 8: “Você gostaria de participar de uma cerimônia que utiliza o chá, sem bebê-lo, com o
intuito de conhecer este tipo de reunião?”
A Análise Específica do grupo aleatório será realizada com base nos 44% (22 pessoas)
que disseram conhecer a ayahuasca na pergunta anterior (número 7). Para o grupo
ayahuasqueiro a análise foi feita apenas com as pessoas que responderam sim a esta
pergunta (pois houve omissões).
-Análise Específica (grupo aleatório): As poucas divulgações que ocorrem nos meios de
comunicações à respeito da ayahuasca, em sua maioria, são pejorativas ou não espelham a
verdade sobre a essência do tema. Isto pode contribuir para que as pessoas tenham má
impressão sobre o uso ritual deste chá.
Outras possibilidades que podem contribuir para a minoria das pessoas (36,4%) se propor
em conhecer este ritual são as convicções próprias religiosas ou éticas, o que, de modo
algum é degradante para a pessoa.
109
Infelizmente na internet também encontram-se informações distorcidas sobre a ayahuasca.
67
Pergunta 9: “Você sabia que as igrejas sérias são legalizadas e autorizadas à funcionarem pela
justiça governamental brasileira e que existem grupos nos Estados Unidos e na Europa ?”
Análise Específica (grupo aleatório): A maioria das pessoas (63,6%) que conheciam o chá
(do grupo aleatório) já tinha conhecimento sobre o aspecto legal deste ritual perante a
justiça brasileira e da existência de igrejas ayahuasqueiras no exterior.
Pergunta 10: “Você sabia que existem relatos de curas orgânicas pessoais e de toxicômanos,
em níveis reconhecidos por autoridades competentes?”
110
Ver página 41 e anexo 3.
111
Conferir Brito (2002) na bibliografia.
112
Ver página 44.
113
Ver página 44.
68
5 – CONCLUSÕES
Análise Geral: Verificou-se ser razoavelmente conhecido (46%), pelo público aleatório, o
uso ritualístico da ayahuasca. Dentre estas pessoas que sabiam o que era a ayahuasca
poucas (22%) expressaram interesse em conhecer alguma igreja ayahuasqueira e boa parte
(63,6%) era consciente da legalidade desta prática religiosa. Verificou-se também ser
pouco conhecida (40,9%) a utilidade terapêutica do chá.
Análise Específica: este conjunto de perguntas foi específico para o grupo aleatório, mas o
grupo ayahuasqueiro também respondeu a esta seqüência de questões e apresentou maior
incidência de respostas positivas em comparação com o grupo aleatório.
70
6 – RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES
1) De caráter científico:
• A pesquisa iniciada com o presente trabalho mostra direções que podem ser tomadas
para o aprofundamento em certos temas apresentados. Pode-se abordar a consciência
ecológica como um dos meios educacionais para um desenvolvimento sustentável.
• O questionário pode ser aprofundado, aumentado e conter perguntas abertas. O
número de entrevistados pode aumentar criando também novas classes para análise
dos dados como sexo e idade.
• O conceito de consciência ecológica pode ser melhorado incluindo nele elementos
mais explícitos de sustentabilidade , manejo, extrativismo, etc.
• Como forma de enriquecer a formação acadêmica dos universitários poderiam haver
abordagens mais holísticas nas disciplinas.
• Os Engenheiros Florestais em formação poderiam exercitar a criatividade na busca de
‘soluções’ não convencionais. Ou seja, ir por caminhos pouco explorados. Por
exemplo, o que poderia se fazer com a lignina que é descartada dos processos de
fabricação do papel? Será que este composto químico, mesmo sendo complexo, não
poderia ter alguma utilidade? Ou ainda, será que os resíduos madeireiros descartados
pelas grandes serrarias não poderiam se juntar com o plástico (existente em excesso na
Terra) para formar um novo material pra fazer móveis, chapas, etc?
2) De caráter holístico:
• Odum (1988) diz: “Quando o ‘Estudo da Casa’ (Ecologia) e a ‘administração da
casa’ (Economia) puderem fundir-se, e quando a Ética puder ser estendida para
incluir o ambiente, além dos valores humanos, então poderemos realmente ser
otimistas em relação ao futuro da humanidade.” Com este intercâmbio poderiam
formar-se ecolomistas (ecologistas+economistas). Pessoas com a capacidade de
preservar e usufruir ao mesmo tempo dos recursos naturais. Existem muitas
pequenas atitudes do dia-a-dia que contribuiriam para diminuir o desgaste
ambiental como: emitir menos lixo que não seja biodegradável, usar menos
71
plástico, não usar carro quando as distâncias a percorrer forem pequenas, plantar
árvores, menos desperdício de água, etc.
• Uma das citações correntes nas novas abordagens holísticas ambientais é: “Pensar
globalmente. Agir localmente”.
• Contemplar a natureza que está dentro e ao redor de cada ser humano e tentar
perceber a presença da Grande Vida.
72
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SITES CONSULTADOS:
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WWW.SANTODAIME.ORG
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ANEXOS
ANEXO 1
É o parecer – S.M.J.”
ANEXO 2
Publicado no Diário Oficial, Seção 1, N.º: 11467 Em 24 de AGO 1992. (Of. n.º: 157/92)
Às nove e trinta horas (9:30), do dia dois (02) de junho de mil novecentos e noventa e
dois (1992), reuniu-se, na Sala de Reuniões do Edifício Anexo II do Ministério da Justiça,
Brasília – DF, o Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN), em sua Quinta (5ª) Reunião
Ordinária do ano de em curso, sob a Presidência da Dr.ª Ester Kosovski, representante titular
do Ministério da Justiça. Presentes os seguintes membros : CÂNDIDA ROSILDA DE
MELO, Representante Titular do Ministério da Educação; DITA PAULA SNEL DE
OLIVEIRA, Representante do Suplente do Ministério da Educação; ARNALDO MADRUGA
FERNANDES, Representante Titular da Associação Médica Brasileira; ALOÍSIO
ANDRADE FREITAS, Representante Suplente da Associação Médica Brasileira;
UBYRATAN GUIMARÃES CAVALCANTI, Representante Suplente do Ministério da
Justiça; FRANCISCO DA COSTA BAPTISTA NETO, Representante Titular do Ministério
da Justiça; CARLOS CÉSAR CASTELLAR PINTO, Representante Suplente do Ministério
da Justiça; DOMINGOS SÁVIO DO NASCIMENTO ALVES, Representante Suplente do
Ministério da Saúde; WILSON ROBERTO GONZAGA DA COSTA, Representante Titular
do Ministério da Trabalho; MARIA DULCE SILVA BARROS, Representante Titular do
Ministério das Relações Exteriores; ÁLVARO NUNES DE OLIVEIRA, Representante do
Ministério da Economia Fazenda e Planejamento; CECÍLIA ISABEL PETRI, Representante
Suplente do Ministério da Economia Fazenda e Planejamento; SÉRGIO SAKON,
Representante Suplente da Secretaria de Polícia Federal, DOMINGOS BERNADO
GIALLUISI DA SILVA SÁ, Representante Titular Jurista e NÉLIO ROBERTO SEIDL
MACHADO, Representante Suplente Jurista. Contou ainda com a presença da Dr.ª ANA
LÚCIA ROCHA STUDART, Coordenadora Geral de Articulação Setorial e de ADÉLIO
CLAUDIO BASILÉ MARTINS, Assessor daquela Coordenação. A Dr.ª ESTER
KOSOVSKI, deu por aberta a Reunião,...
c) – deve ser organizada comissão mista integrada pelo CONFEN que poderá
convidar assessores, e por representantes de entidades que observam o uso da
ayahuasca em seus ritos com o objetivo de consolidar os princípios e regras básicas,
comuns ás diversas entidades referidas, para fins entre outros, de acompanhamento da
Administração Pública;
CONSIDERANDO que qualquer prática religiosa adotada pela família abrange os deveres e
direitos dos pais "de orientar a criança com relação ao exercício de seus direitos de maneira
acorde com a evolução de sua capacidade" , aí incluída a liberdade de professar a própria
religião e as próprias crenças, observadas as limitações legais ditadas pelos interesses públicos
gerais (cf. Convenção Sobre os Direitos da Criança, ratificada pelo Brasil, promulgada pelo
Decreto nº 99.710, de 21/11/1990, art. 14);
RESOLVE:
04/11/04
7. Esta Carta de Princípios está aberta à adesão por parte de outras entidades usuárias
da Ayahuasca cujo ingresso seja aprovado em reunião plenária, por maioria absoluta.
7.1. Os casos omissos serão também deliberados por maioria absoluta dos signatários da
Carta de Princípios.
ANEXO 5
Questionário
2-Você acredita que um viver mais ligado à natureza influencia, positivamente , um contato religioso para o
ser humano ? sim não
3-Para você é possível que a religião ajude o ser humano a proteger a natureza ?
sim não
“A Consciência Ecológica é uma virtude espiritual, enraizada num sentimento vivo de amor e
respeito entre os seres humanos e a natureza e que vê estas partes intimamente ligadas
formando um só corpo: o planeta Terra.”
5-Você acha que a consciência ecológica pode equilibrar, beneficamente, o convívio do ser humano com a
natureza e com os povos da Terra? sim não
6- Para você, a palavra Amor pode trazer este equilíbrio ? sim não
8- Você gostaria de participar de uma cerimônia que utiliza o chá, sem bebê-lo, com o intuito de conhecer este
tipo de reunião? sim não
9- Você sabia que as igrejas sérias são legalizadas e autorizadas à funcionarem pela justiça governamental
brasileira e que existem grupos nos Estados Unidos e na Europa ?
sim não
10- Você sabia que existem relatos de curas orgânicas pessoais e de toxicômanos, em níveis reconhecidos por
autoridades competentes ? sim não