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INTRODUÇÃO
Como avaliar a Política Estadual de Recursos Hídricos de Mato Grosso, se a Lei Estadual
de Recursos Hídricos n.º 6.945/97 está em fase de implantação? E como avaliar a Lei
Municipal, se esta não tem mobilização alguma até a presente data? Há uma necessidade
de harmonização legislativa, para que haja uma implantação bem sucedida da Política de
Recursos Hídricos, no âmbito federal, estadual e municipal, bem como a necessidade de
adesão e de comprometimento da população com os termos desta legislação e formas de
garantir a sua implementação. Poderia ser efetuada a devida avaliação dos critérios
sugeridos, mas com certeza algumas análises aos critérios adotados seriam falhas. Por
este motivo, deixamos em aberto a Lei Estadual de Mato Grosso e a Municipal de Cuiabá
para futuros ensaios ou artigos.
Ensaio apresentado na disciplina de Instrumentos Econômicos de Gestão Ambiental I, do curso de mestrado em Gestão
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Este ensaio tem o objetivo de revisar a Lei Federal n.º 9.433/97, percorrendo um caminho
pelos conceitos de Instrumentos de Política Ambiental e aos critérios de avaliação desses
instrumentos. Seguindo um breve relato das experiências jurídicas pregressas às atuais
das Leis das Águas no Brasil, enfatizando a Lei Federal em questão. Avaliando a Lei de
Política Nacional de Recursos Hídricos n. º 9.433/97, conforme os oito critérios principais
de políticas públicas (eficácia, eficiência, motivação, custo administrativo, aceitação
política, eqüidade, interferência nas decisões privadas e confiabilidade), com bases nas
considerações de Baumol e Oates (1979), Field (1995) E Jacobs (1991).
Na área econômica não poderia ser diferente, temos vários conceitos existentes, vamos
abordar apenas alguns: segundo Jacobs (1995), os recursos renováveis são como contas
poupança, no caso dos recursos hídricos, enquanto a taxa de uso (gastos) não excede a
taxa de regeneração (juro) o estoque de recurso é mantido constante. A capacidade
ambiental do recurso é mantida – e a sustentabilidade é alcançada.
Estes instrumentos de política ambiental devem ser escolhidos para que se possam
alcançar os padrões estabelecidos. A imposição de padrões de atuação o meio ambiente
se dá através da legislação e da regulamentação, que devem procurar o nível ótimo de
poluição a fim de maximizar o bem-estar. Mas o nível ótimo é de difícil mensuração, e os
legisladores e regulamentadores costumam se pautar em níveis aceitáveis de poluição,
cujo máximo é estabelecido em critérios médicos e/ou sanitários. Todavia, em alguns
casos, os padrões finais fixados através da negociação e/ou critérios econômicos auxiliam
a regulamentação das Leis. (Serôa da Motta, 1989, em Bellia, 1996, p.192).
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Serôa da Motta (op cit) adverte que a regulamentação requer informações específicas
sobre os benefícios e os custos da poluição e seu controle, os quais são de difícil
mensuração. A esta advertência acrescentamos que sua aplicabilidade é limitada no
espaço, a regiões homogêneas, pois, é fácil imaginar, as capacidades ambientais de
reciclagem de poluentes variam enormemente, dependendo dos volumes dos rios, da
circulação atmosférica, da composição química anterior (background), etc.
Conforme Serôa da Motta (op cit), também as contínuas revisões dos padrões,
objetivando altruisticamente melhor ajustá-los, obrigaria as firmas a manterem gastos
constantes com equipamentos e mudanças de processos, introduzindo ineficiência
produtivas que podem chegar ao inaceitável pela sociedade. Em geral, os padrões
estabelecidos sofrem ataques por não se referirem às capacidades de suporte
ambientais, nem se preocuparem com os custos de suas conseqüências.
O instrumento utilizado neste ensaio foi o de Comando e Controle (CC), que consiste em
regulamentações limitando níveis de emissões de poluentes ou, ainda, especificações
obrigatórias para equipamentos ou processos produtivos 1, buscando estimular um
comportamento considerado ambiental e socialmente adequado. Componente básico do
CC, o padrão ambiental é um nível estabelecido de desempenho que se aplica através do
instrumento legal. Assim, um padrão ambiental é um nível que nunca deve ser
ultrapassado por um determinado poluente, um padrão de emissão corresponde à taxa
máxima de emissões legalmente permitida (Field, 1996) e um padrão tecnológico
determina a técnica ou prática que devem adotar os poluidores potenciais.
Almeida (1998) diz que a discussão sobre avaliação de instrumento de política ambiental
no Brasil é ainda muito fraca. De certa forma, faltam mecanismos internos e externos para
conter a degradação ambiental. Vivemos em um país de abundância em recursos
naturais, onde não houve a preocupação de sermos preparados para a preservação do
meio ambiente. Estamos atravessando um momento de transição entre o velho e o novo
paradigma, o da preservação ou não do nosso ecossistema, e por existir essa dúvida é
que a legislação precisa ser concisa e atuante. De outra forma não estaremos motivados
a desenvolver uma economia sem degradar o meio ambiente.
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CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO
Diversos são as classificações dos Instrumentos das Políticas de Gestão
Ambiental, serão apresentados uns breves relatos dos critérios para os Instrumentos de
Comando e Controle2, baseados nas considerações de Baumol e Oates (1979), Field
(1995) e Jacobs (1991). Os critérios de eficácia, eficiência, motivação, custo
administrativos, aceitação política, eqüidade, mínimo de interferência e confiabilidade
serão analisados e descritos com referência na Lei Federal n.º 9.433/97, de Política
Nacional de Recurso Hídricos.
Eficiência À medida que a crise ambiental fica mais grave, os custos de equacioná-la
aumentam. Ao discutir política ambiental, eficiência significa o balanço entre
os custos marginais de redução e os danos marginais (que quando reduzidos
representarão os benefícios sociais de reduzir a degradação ou a poluição).
Motivação Não fornece incentivo algum, a não ser o de atender os limites impostos pela
legislação e pelos padrões, ou seja, estimular uma redução da
degradação/poluição além do limite superior fixado pela autoridade pública.
Custo Administrativo Elevado, não apenas pelo estabelecimento de legislação e padrões, mas
pelo monitoramento.
Aceitação Política Varia com o tipo e o nível dos padrões estabelecidos; em geral, é preferido
aos impostos/taxas pelo setor produtivo.
Fontes: Desenvolvida com base nas considerações de Baumol e Oates (1979), Field (1995) e Jacobs (1991).
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As outras classificações estão destacadas principalmente em Baumol e Oates (1979,Tabela 15-1, p. 217).
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Os demais critérios dos Instrumentos Voluntários e Instrumentos Econômicos podem ser consultados em Baumol e Oates
(1979), Field (1995) e Jacobs (1991).
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EXPERIÊNCIAS JURÍDICAS PREGRESSAS ÁS ATUAIS
Instituições internacionais, tais como UNESCO e Banco Mundial, têm, em suas diretrizes,
normas com a finalidade de exigir um uso mais adequado de tecnologia e buscar
mecanismos e recursos humanos para o desenvolvimento a nível, nacional e
internacional, da avaliação de recursos hídricos.
O Código das Águas, estabelecido pelo Decreto Federal n.º 24.643, de 10/07/1934,
consubstancia a legislação básica brasileira de águas, sendo o primeiro Código de Águas
no Brasil. Considerado avançado pêlos juristas, na época em que foi promulgado,
necessitando de atualização e principalmente vários ajuste à Constituição Federal de
1988. Uma destas alterações foi a extinção do domínio privado das águas. Todos os
corpos de águas, a partir de outubro de 1988, passaram a ser de domínio público.
Na década de 90 a estrutura institucional criada pela Lei n.º 6.938/81 relativa à Política
Nacional de Meio Ambiente sofreu diversas modificações especificamente relacionadas
ao gerenciamento de recursos hídricos. Em 1995, o então Ministério do Meio Ambiente e
da Amazônia Legal passou a denominar-se Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos
Hídricos e Amazônia Legal e criou, no âmbito de sua estrutura, a Secretaria Nacional de
Recursos Hídricos. A atribuição principal da Secretaria de Recursos Hídricos era o
gerenciamento dos recursos hídricos e a coordenação do Plano Nacional de Recursos
Hídricos.
A exemplo dos novos rumos da gestão ambiental e dos recursos hídricos tomados em
nível mundial, o Brasil, através do Ministério de Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e
da Amazônia Legal, propôs a Lei Federal n.º 9.433, de 08/01/1997, que institui a Política
Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, e dá outras providências.
A Lei das Águas culminou num longo processo de avaliação das experiências de gestão
de recursos hídricos e de formulação de propostas para a melhor gestão das águas.
Sendo um primor em relação aos instrumentos econômicos e de grande valia aos
profissionais da área de recursos hídricos, bem como para a sociedade nacional e
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internacional.
A Lei Federal n.º 9.433/97 trata-se de uma lei atual, avançada e importante para a
ordenação territorial, em seu sentido mais amplo, caracterizada pôr uma descentralização
de ações, contra uma concentração de poder, claramente ressaltados no texto da referida
lei, que proclama os princípios básicos praticados hoje em todos os países que
avançaram na gestão de seus recursos hídricos, quais sejam:
Eficácia – Não se pode pensar em gestão de bacias hidrográficas tendo em vista apenas
os recursos hídricos, pois a abordagem adotada deve integrar os aspectos ambientais,
sociais, econômicos e políticos, com ênfase no primeiro, pois a capacidade ambiental de
dar apoio ao desenvolvimento possui sempre um limite, a partir do qual todos os outros
aspectos serão, inevitavelmente, afetados.
Para atingir os objetivos/as metas estabelecidas com elevado grau de certeza, deve-se
fazer com que o monitoramento das fontes de degradação, lançamento de efluentes e
resíduos sólidos nos recursos hídricos, sejam efetivos e respeitados pelas unidades
poluidoras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS –
Para a implementação efetiva da qualquer política ambiental, são necessários três níveis
de viabilidade: política, econômica-financeira e institucional-administrativa.
Percebe-se que é muito mais fácil o esforço de elaboração do arcabouço jurídico legal do
que o de sua implementação, especialmente na área ambiental que exige enorme apoio
humano, financeiro e técnico. Consequentemente, alternativas à implementação
tradicional reparatória e repressiva, devem ser buscadas com o objetivo de faze-la
eficiente.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L. T. de. Política Ambiental, uma análise econômica. (São Paulo, editora
Unesp-Papirus, 1998).
BAUMOL, William J. e OATES, Wallace E.. Economics, Environmental Policy, and the
Quality of Life. (New Jersey: Prentice-Hall, 1979).
BRASIL. Lei n.º 9.344 de 08 de janeiro de 1997. Dispõe sobre a Política Nacional de
Recursos Hídricos, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e dá outras
providências.
THUROW, L. C. A sociedade de soma zero. (1. Ed. Rio de Janeiro: Record, 1980), p.
223.In: BELLIA, Vítor. Introdução à Economia de Meio Ambiente. (Brasília: IBAMA, 1996).
WORLD BANK. World development report: development and enviroment. (New York :
Oxford University Press, 1992).
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